Reconsiderando Decisões



“Oi” – foi ela quem disse, talvez porque não conseguiria falar nada mais comprido ou mais significativo do que isso. Ele apenas moveu os lábios em resposta, dizendo a mesma coisa, olhar para ela parecia mais interessante, isso porque tudo o que ele menos esperava encontrar ao chegar no hotel era ela. Pelo menos agora, que ele finalmente conseguira esquecê-la, lê-se por esquecê-la parar se pegar pensando nela com tanta freqüência e parar de torcer para encontrá-la sempre que visitava algum lugar público, ele conseguira reduzir isso a praticamente nada no ultimo ano... E agora ela aparece do nada em sua frente. Definitivamente ainda não estava preparado para um reencontro.

“Eu... Vou... Pro... Meu quarto” – ela disse ainda que gaguejando acordando-o do transe, depois de acabar a frase lembrou-se do diploma “Mas essa não é a melhor hora para falar disso” – pensou em seguida. Ela não se moveu apesar de afirmar que ia para o quarto. O único que pareceu perceber essa incoerência foi o carregador de malas.

“A senhorita quer que eu a acompanhe até o quarto? Caso não saiba onde fica posso acompanhá-la...” – disse o funcionário querendo mostrar-se prestativo.

“Não, não é necessário, obrigada!” – ela disse lembrando de se mover. Sentiu-se um pouco idiota, mas nem se importou muito. Estava ocupada demais se importando com a presença dele e se justificando por isso “Eu só to me sentindo assim porque faz muito tempo que não o vejo. É absolutamente normal!” – disse aquela conhecida voz dentro de sua cabeça. Mas dessa vez, outra voz interior decidiu replicá-la. “Você não se sentiu assim quando reviu Rony”. – Então concluiu que estava ficando louca, nunca antes mantivera uma conversa consigo mesma e muito menos com opiniões opostas...

“Eu te acompanho” – foi a vez dele de falar – “Estamos em quartos vizinhos, afinal!”.

“Ah, é, que coincidência!” – disse ela no caminho para a escadaria, ele apenas fez que sim. O resto do caminho foi feito em silêncio. Ele pensou em perguntar o que ela fazia por lá, quanto tempo ficaria, se estava solteira, casada, viúva, comprometida, se sentia falta dele... Tudo passou pela cabeça feito um flash e ele não falou nada. Mais tarde concluiu que se manteve em silêncio por saber que as perguntas gerariam respostas grandes, que não deveriam ser discutidas naquele exato instante. Apenas o subconsciente do garoto sabia que ele não perguntou nada porque não queria estragar o momento mágico daquele reencontro, além de temer cada uma das respostas dela. E ela por sua vez, não estava conseguindo pensar. Nem muito menos juntar palavras e formular a pergunta sobre o bendito diploma. O diploma podia esperar até o dia seguinte... Chegaram aos respectivos quartos.

“Boa noite” – ele disse, simplesmente.

“Amanhã... A gente precisa conversar” – ela disse.

“Eu sei” – ele respondeu. Claro que precisariam conversar, e não seriam conversas simples. Certamente acabariam em discussão. Mas os dois, ao menos, curtiram aqueles míseros minutos de paz.

---

Ela acordou tarde no dia seguinte. Tivera algumas dificuldades para pegar no sono no dia anterior então perdera a hora. Olhou para o relógio e não conseguiu se lembrar quando foi a ultima vez que acordara às dez horas da manhã. Decidiu se apressar para o café da manhã que acabaria em meia hora. Tomou banho, vestiu roupas trouxas (se desfizera de todas as bruxas), só quando entrou no banho que se lembrou do dia anterior. Teria que falar com Harry. Sentiu um frio na barriga, não sabia exatamente se aquilo era bom ou ruim. “Como se falar com o Harry tivesse alguma coisa de especial” – disse a voz responsável, que foi logo rebatida pela segunda voz “E você sabe que tem muito de especial!”. Ela saiu do banho decidida a não pensar mais nisso e impedir que a segunda voz se manifestasse novamente.

“Agora eu vou ver ele durante o café da manhã, então eu falo do diploma, ele me entrega e eu volto ainda hoje para casa” – decidiu-se, alem do mais não seria necessário perguntar nada, além disso. Eles nem amigos eram mais. Puxar assunto poderia até parecer intromissão de sua parte.

Saiu do quarto, tomou café e nem sinal dele, “Deve ter acordado mais cedo” – lamentou. Então, decidiu ir dar uma volta pela região em busca de algo para fazer. Dessa vez, andou um pouco mais que da última e acabou encontrando uma loja especial: Genialidades Weasley – “Nossa, isso ainda existe!” – entrou para conferir.

“Hermione?” – ouviu chamarem, ao virar para conferir deu de cara com Fred Weasley. De todas as pessoas que já reencontrara, Fred era o que estava mais diferente. Não irreconhecível, é claro, mas um tanto quanto diferente, e na hora ela não entendeu o porquê.

“Fred! Eu estava passando por aqui quando vi a loja! Decidi entrar... Mas e aí como vão as coisas?” – perguntou descontraída, afinal, lembrava-se de que todas as conversas com os gêmeos eram descontraídas.

“Que bom. Comigo está tudo bem, e você?” – respondeu menos entusiasmado do que ela esperava. – “Mamãe me disse que você foi jantar lá em casa, eu infelizmente não pude ir”.

“Foi uma pena” – disse ela observando alguns produtos que Fred se prontificou a mostrar.

“Ah, isso aqui é um visor extensivo. Serve para ver através de paredes, eu fiz depois do sucesso das orelhas extensíveis!” – ele mostrou os objetos que lembravam óculos fundo de garrafa, tinha em diversas cores. – “E isso aqui é a bola quebra-reverte, ótima para momentos de raiva, assim que ela quebra alguma coisa a conserta automaticamente meia hora depois, foi a primeira invenção aqui da loja que agradou tanto os filhos quanto os pais”.

“Eu imagino!” – disse Hermione – “Mas e o George, onde está?” – foi o suficiente para Fred fechar a cara, Hermione só então se lembrou que a professora Minerva dissera que ele foi morto em combate. “Que fora!” – pensou absolutamente constrangida.

“O Fred morreu...”.

“Ah, me desculpe!” – ela disse sinceramente.

“Tudo bem, você não tinha como saber mesmo, estava tão longe...” – ele disse, ela sabia da morte, Minerva a contara, mas decidiu não comentar nada e abafar seu esquecimento, apenas o abraçou. – “Foi horrível, Mione, e eu só notei quando nós voltamos do combate” – Hermione e Fred tinham ficado mais amigos antes de ela decidir abandonar a magia, pois costumavam dividir algumas missões importantes. – “Eu nem sei ao certo como ele morreu”.

“Eu sinto muito, muito mesmo” – disse a garota com lágrimas nos olhos – “Isso foi logo depois de eu ir embora?”.

“Foi dias depois, chegamos a pensar em te avisar, mas ninguém sabia como”. – ela de repente o soltou:

“Foi na missão na casa do Lúcio? Em que se pretendia achar as pistas para chegar ao esconderijo do Dumbledore?” – perguntou a garota com a voz demonstrando preocupação, Fred confirmou, ela se soltou do abraço.

“Ele foi pra me cobrir! Eu tava escalada pra essa missão, Fred!” – ela disse começando a chorar – “Eu tava escalada, mas eu não tive a decência de ir embora só depois de tê-la cumprido!”.

“Hermione, pelo amor, não se culpe! Ninguém te culpou...” – ele a acalmou.

“Mas foi minha culpa, Fred!” – ela chorava compulsivamente agora, Fred a levou para a sala dele, para que não chamasse a atenção das pessoas na loja – “Foi minha culpa!” – ela disse lá dentro novamente, o choro era também porque finalmente caíra a ficha de todas as mortes. George não fora o único. Lupin, Dumbledore e Neville também estavam mortos, e agora não tinha nada que ela podia fazer.

“Toma um copo de água, Mione”. – ele a ofereceu, ela aceitou.

“Desculpa por isso tudo, Fred” – ela pediu referindo-se ao ataque de choro e ao abandono da missão.

“Não precisa se desculpar, Mione” – ele disse educadamente – “Mas vamos falar sobre outro assunto... O que te trouxe aqui depois de tantos anos? Alias, como é a sua vida lá entre os trouxas?” – perguntou interessado, Hermione respondeu o de sempre, sobre o emprego, o noivo, o diploma e Harry...

“Eu o encontrei ontem, mas eu não consegui pedir o diploma. Mas eu pretendo pedir hoje” – contou a garota decidida.

“Ah, o Harry já voltou do trabalho?”.

“Já. E ta no meu hotel, olha a coincidência!” – disse divertida antes de perguntar mais uma vez de que se tratava o tão misterioso trabalho de Harry, Fred disse que não sabia ao certo, coisa que ela duvidou. – “E como estão as coisas por aqui?”.

“Está tudo bem. A loja continua indo bem, já teve momentos ruins, mas agora até que estamos vendendo bastante. É isso que me sustenta, a Gina também trabalha aqui enquanto não termina o curso para curandeira e não pode trabalhar. O Rony trabalha no ministério, Percy também, mas está super afastado de nós, coisa que não é muito diferente de quando você ainda estava aqui”.

“Achei que vocês tivessem feito as pazes” – disse antes de notar que já passava da hora do almoço. “Fred eu preciso ir embora”.

“Ah, antes disso deixa eu te convidar! Hoje eu vou organizar uma festa aqui à noite. O salão no andar de cima é grande, então às sextas eu costumo chamar os amigos para virem pra cá. Venha se você puder”.

“Ah, eu venho sim, Fred. Muito obrigada pelo convite”. – disse antes de se despedir e ir para o hotel.

---

Harry Potter estava sentado em uma mesinha quadrada de dois lugares no hotel onde tanto ele quanto Hermione estavam hospedados, comia tranqüilamente sua salada. Ela reparou nisso tudo assim que adentrou o refeitório. “Vou me sentar com ele e pedir logo esse diploma infeliz” – foi até lá.

“Ola Harry. Posso me sentar aqui?”. – pediu já se sentando na cadeira em frente a ele, com um sorriso cínico, apenas para disfarçar a timidez.

“O que importa a minha resposta? Você já ta sentada”. – ele disse, seco.

“Se você quiser, eu posso me levantar” – disse fazendo um doce, porém ele segurou o braço dela, impedindo-a de levantar – “Eu jamais expulsaria uma dama da minha mesa, Granger”.

O toque dele fez ela se arrepiar. “Lógico, isso só aconteceu porque eu não esperava” – a voz sensata justificou e ela não deu vez para a segunda voz, a que pensava besteiras. Apenas agradeceu o consentimento dele e começou a explicar o motivo de sua volta – ainda que ele não tivesse perguntado.

“Bem, desde que eu fui embora tenho me dedicado a uma nova carreira, a de administradora de empresas. Há dois anos quando me formei da faculdade fui fazer estágio em uma empresa na qual hoje eu sou sub-diretora. Aliás, só serei se conseguir deixar minha documentação escolar em dia. E para isso eu preciso do meu diploma”.

“Interessante” – ele disse, apenas, continuando a comer, mostrando-se indiferente, Hermione chegou a pensar que ele não ouvira palavra alguma que dissera.

“E o meu diploma esta com você, que eu saiba”. – continuou, já que ele não falara nada mais.

“Hum, e daí?” – ela não se lembrava desse traço da personalidade dele: fazer-se de bobo. Talvez porque ele não era assim há seis anos atrás.

“E daí é que eu ficaria grata se você pudesse me devolver”. – ela disse impaciente com uma certa ironia.

“Certo, vou pensar no seu caso” – ele disse com uma expressão irritantemente calma e se levantou, ela ficou nervosa e foi atrás dele, o alcançando na sala de estar do hotel.

“Não tem o que pensar! É só me dar o diploma” – disse, ele estava de costas “Não tem a decência de se virar para mim enquanto eu falo” – pensou com raiva e disse. “Um diploma e eu vou embora”. – deixou claro que tudo o que ela queria era o diploma.

Ele lamentou muito ouvir aquela frase. “E se eu não quiser que ela vá embora!” – pensou, mas não disse. Apesar de consciente do que ainda sentia por ela jamais daria o braço a torcer pois também estava extremamente magoado por tudo o que ela fizera, decidiu ser grosso, virou-se de repente e disse, tão calmo quanto antes:

“Eu não quero te devolver ele”. – ela se surpreendeu com a virada repentina dele, a segunda voz de seu pensamento teve que se pronunciar “Caramba, ele ta lindo! Olha o tamanho desse braço! Parece que andou se exercitando...” – balançou a cabeça e disse num tom de voz mais alto: “Que diabos você vai querer com o meu diploma? Ele não tem nenhum tipo de utilidade pra você”.

“Tem sim. Te irritar” – ele sorriu e continuou andando, ela foi atrás.

“Potter, me entrega logo essa porcaria de diploma! Ele é meu, eu mereço ele”.

“Merece nada, pra que você quer o diploma de uma escola bruxa sendo que você largou de vez a magia. Aposto que não sabe fazer mais nenhum feitiço” – disse provocando.

“Mas é lógico que eu sei! E não vem falar que eu não mereço essa coisa porque nós dois sabemos que eu mereço”. – ela referia-se ao grande período em que trabalhara como auror.

“Então por que diabos você não veio buscá-lo naquela maldita formatura há seis anos atrás?” – dessa vez ele se descontrolou, mostrou raiva pela primeira vez.

“Porque eu não pude” – ela bravejou.

“Essa é a Hermione que eu conheço, não se deixa intimidar com uma voz mais alta!” – pensou Harry dando um sorriso de lado quase imperceptível. – “Pois bem, eu vou pensar sobre esse seu caso, quem sabe eu decido devolver seu diploma”.

Ela não respondeu nada, era ridículo o que ele estava fazendo, como ele podia se negar a devolver algo que por direito pertencia a ela. E o pior é que ele não tinha porque ficar com o diploma, não tinha nenhum tipo de utilidade a ele! Harry estava diferente do que ela se lembrava. Muito diferente, mas talvez ela própria também estivesse. “Mas não dessa maneira insuportável!” – pensou, “E irresistível” – completou. Viu a biografia dele em cima de uma cadeira. “Ótima hora para ler e descobrir os podres desse idiota”.

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Harry estava irritado, achou por um tempo que nunca mais fosse rever Hermione. “E por mais insuportável que ela esteja, eu adorei vê-la novamente” – pensou, mas diferente dela, não se justificou. Ele sabia que ainda a amava e lidava com isso o mais normalmente que conseguia. Harry assumia todos os seus atos e sentimentos, coisa de que se orgulhava. Lamentou por ter perdido a calma quando ela citou a formatura. Também não era para menos! Ele lembrava de ter depositado todas as expectativas de revê-la naquela noite, que foi apenas duas semanas depois que ela partiu. No entanto ela nem apareceu e ele passou a noite toda se sentindo desolado. A festa estava sendo dão deprimente que ele bebeu além da conta e isso trouxe conseqüências lamentáveis. Tiraram fotos dele bêbado dançando em cima de mesas e cantando mais alto do que o limite da elegância propunha. E como ele era Harry Potter e não um simples mortal, as fotos foram para o profeta diário.

“Mas foi-se o tempo em que eu me descontrolava por causa dela. E seria agradabilíssimo se eu conseguisse fazer o contrário”. – disse alto para si mesmo.

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Eram oito horas da noite e os primeiros convidados de Fred chegaram: eram o senhor e a senhora Weasley, seus pais. Logo em seguida, Rony aparatou com Luna. Nymphadora Tonks, que se tornara amiga de todos desde a guerra, Hagrid e a professora Minerva aparataram por lá também. A conversa estava animada, e o assunto não podia ser outro além da recém-chegada visitante: Hermione Granger.

“Eu particularmente a achei muito distante, não é para menos né, seis anos longe!” – disse Rony.

“Ah, mas isso é porque ela teve que continuar com a vida dela. Rony esperava reencontrar sua melhor amiga bem do jeito como ela era” – disse a senhora Weasley. – “Todos nós mudamos nesses seis anos”.

“Mas ela está bem diferente, sim” – opinou a professora Minerva – “Acho que essa visita vai trazer conseqüências positivas para a vida dela!”.

“Sem dúvidas!” – disse o senhor Weasley – “Mas alguém entendeu por que ela foi embora daquele jeito há seis anos atrás? Eu nunca entendi isso direito”.

“Fugir da guerra não era do perfil da Hermione, deve ter acontecido alguma outra coisa que a moveu a isso!” – disse Tonks – “Quem deve saber sobre isso é o Harry, eles devem ter tido uma conversa antes de ela ir”.

“Tivemos, mas não esclareceu nada” – disse Harry assustando a todos, ele aparatara sem chamar a atenção e vinha acompanhando a conversa há algum tempo. Gina viera com ele.

“Gente, eu achei a Hermione tão igual! A gente conversou normalmente e eu até a convidei para vir aqui hoje” – disse Fred.

“O que?” – foi Harry quem exclamou – “Se me permitem opinar, ela só esta aqui por causa do diploma, não tem interesse nenhum em se mostrar sociável ou se redimir pelos erros do passado. Ela está muito mais fria”. – disse Harry, crítico.

“Eu também senti isso” – disse Rony. – “Eu e Harry que éramos amigos dela podemos dizer melhor, gente”.

“Acho que a convivência entre os trouxas deixou-a assim, fria” – disse Fred – “Aliás, ela se mostrou bem sensível quando eu falei sobre a morte do George, até se culpou por isso”.

“Isso também não é típico da velha Hermione” – disse Gina. – “Ela não é do tipo de se lamentar depois que a coisa já aconteceu”.

“Eu realmente não sei o que se passa com ela” – disse Rony – “Só sei que ela está bem diferente da amiga de que eu lembrava”.

“Ela perdeu todo o tipo de intimidade que tinha com vocês, garotos. Por isso que vocês estão achando-a tão diferente”. – concluiu a professora Minerva.

O assunto não evoluiu muito mais que isso, levantaram mais diferenças entre a Hermione de agora e a de antes, como as roupas tipicamente bruxas, o cabelo obviamente com alguma química que o deixava mais liso, o nível social, pois ela aparentava estar mais bem de vida do que no passado. Quando já cogitavam a hipótese de ela nem aparecer, ela chegou. Muito bem vestida (se estivesse numa reunião trouxa), usava uma blusa preta justa que mostrava a boa forma da garota, uma calça jeans de cintura baixa e tonalidade clara e um escarpim preto de salto alto.

“Até que enfim, hein!” – disse Fred indo cumprimentar a amiga – “Achamos que não viria”.

“Ah, demorei para achar um meio de transporte e acabei vindo a pé” – confessou a garota indo cumprimentar os presentes, parou em Tonks. “Quanto tempo! Desde a guerra!”.

“Pois é... Você está ótima” – disse a auror simpática. Hermione retribuiu os elogios com educação.

“Por que você não aparatou?” – perguntou Harry surgindo do nada em tom de desafio, o que obviamente não a agradou.

“Eu não renovei minha licença” – disse em tom de justificativa.

“Se eu soubesse te acompanhava” – disse ele, ela respondeu que não seria necessário. Os outros só assistiam, alguns juravam ver faíscas saindo dos olhos de ambos.

“Você não pensa em renovar sua licença, Hermione?” – perguntou a professora Minerva – “Nem que seja só pra alguma eventual emergência”.

“Talvez” – disse, antes tinha certeza que nunca mais poria os pés ali, porém respondera tão espontaneamente que se surpreendeu com a própria resposta.

“Nossa Hermione, se há seis anos atrás me dissessem que eu ia te reencontrar assim eu juro que não acreditaria” – foi a senhora Weasley quem disse, Hermione ficou um pouco sem graça, então sorriu de lado.

“Eu também não” – acrescentou Harry com o intuito de provocá-la – “Nunca pensei que minha amiga inteligente ia esquecer até como se aparata”.

“Mas eu não esqueci como se aparata” – disse revoltada, uma coisa que não admitia era que duvidassem de suas capacidades – “Eu só não aparato por causa da ausência da minha licença!”.

“Certas coisas nunca mudam, uma vez certinha, sempre certinha. Incapaz de quebrar regras” – continuou o Harry provocativo, Hermione notou que os olhos dele estavam até brilhantes, “Esse imbecil ta se divertindo com isso!”. Mas ele ainda não tinha acabado –“Mas nesse caso eu realmente acho que você não tem mais a mesma capacidade de antigamente”.

“O que é isso hein? Você ta querendo me irritar, Harry?”

“Estou conseguindo?” – ele replicou.

“Ah, para com isso. Só porque a Hermione perdeu a prática com os feitiços não quer dizer que possamos zoar disso” – disse Rony entrando na provocação.

“Qual é o problema de vocês?” – perguntou Hermione tentando ignorá-los.

“Chega vocês três!” – pediu Hagrid – “Eram tão amigos quando crianças, não sei o que está acontecendo”.

“Foi ela quem começou” – disse Harry, a essa altura ele já tinha bebido algumas cervejas amanteigadas – “Ela que foi embora do nada a seis anos e voltou se achando toda!”.

“É verdade” – foi a vez de Gina concordar – “Tenho que dar razão ao Potter”.

“Ah Gina cala a boca” – mandou Hermione começando a se enfurecer – “Eu não te fiz nada, por que ta entrando na do Harry? Ainda é apaixonadinha por ele?” – e foi com essa frase que ela foi longe demais, afinal, o fato de Gina gostar ou não de Harry nunca foi aberto a discussões apesar de muito conhecido.

“Agora você exagerou!” – quem disse foi Rony.

“Vocês estavam me provocando até agora!” – disse Hermione num misto de culpa e raiva – “Desculpa Fred, eu vou embora, não quero causar mais nenhum problema!” – ela saiu de lá correndo.

Harry, que antes estava ao lado de Gina, foi atrás da garota, isso porque ele se deu conta que fora o real causador daquele constrangimento, afinal provocara Hermione e ele sempre soube que ela não deixava provocações baratas. Ela sempre revidava! E Gina também não precisava se meter na briga dele. Ele queria irritá-la, esta certo, mas não queria a ajuda de ninguém para isso.

“Hermione” – ele chegou perto dela que estava sentada em um sofazinho dentro da loja, que estava fechada.

“Sai daqui, Harry” – ela tava chorando! Não queria chegar a esse ponto.

“Desculpa, eu não queria ir tão longe, só te irritar um pouquinho” – ele falou divertido.

“SAI DAQUI!” – ela berrou – “Não foi nem um pouco engraçado” – ela soluçou umas duas vezes antes de continuar – “Eu sou tão insuportável assim?”.

“Não, você não é. E é por isso que estamos todos surpresos com você. Você mudou Hermione. E nós preferíamos que você não tivesse mudado”.

“Eu tive que mudar, Harry. Minha vida mudou completamente depois que eu saí daqui. Parece que foi castigo por eu ter abandonado todo mundo. Mas no final eu consegui fazer dar certo”. – ela ainda chorava – “Mas quem se importa não é mesmo?” – então ela aparatou. De repente mesmo. Saiu daquela loja para surgir no hotel. E deixou Harry com um sorrisinho.

“Ela ainda lembra” – falou a si mesmo e depois voltou para a festinha. Estava tudo bem mais calmo por lá e as pessoas dançavam. Mas ele não estava a fim de dançar, se sentou na varanda e ficou lá, olhando para fora enquanto pensava na vida.

“Você ainda gosta dela” – Luna chegou de repente, mas não chegou a assustá-lo.

“Você sempre sabe as coisas, então, pra que te enganar?” – ele respondeu apenas.

“Ela também sente alguma coisa por você ainda, Harry, dá pra perceber” – disse a amiga.

“Sente, sente ódio depois do que eu fiz” – lamentou-se ele.

“Talvez, mas isso está para mudar, o que você fez foi ótimo, você nem sabe o quanto”.

Harry entrou quando a musica diminuiu e foi falar com Gina, pra ver como ela estava.

“Magina, Harry, não me ofendeu, eu só me irritei pela intromissão dela” – disse a garota.

“Ela também se irritou pelo que você falou” – justificou Harry.

“Mas eu só tava sendo sincera!” – disse Gina – “Ta, até reconheço que eu fui errada, mas ela foi também, então ela que venha me pedir desculpas! E se não vier também não faço questão!”.

Ela saiu andando e Harry só conseguiu se culpar pelo que acabara de fazer.

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Assim que aparatou no hotel, Hermione se jogou na cama de casal que tinha em seu quarto. Estava se sentindo péssima. Horrível. Errada. E ela odiava se sentir errada. Decisões erradas eram as coisas que a irritavam mais. E sentia que a decisão de seis anos atrás não fora tão certa quanto ela pensava ter sido. “Eu fui uma covarde, fui embora sem dar explicações! O Harry, não deve ter entendido nada!” – pensou pela primeira vez que o sofrimento dele deveria ter sido tanto quanto o dela, ou maior, porque ele ainda não sabia o porquê do repentino abandono. Nem ela sabia ao certo. Simplesmente se cansou de tudo em um dia. Não agüentava mais ficar todos os dias sabendo que Harry poderia morrer em uma batalha. Não agüentava mais lidar com a culpa de se importar mais com a vida dele do que a de toda a comunidade bruxa. Não agüentava mais não poder ajudar vinte e quatro horas por dia pois ela era apenas uma estudante. Não agüentava mais a pressão dos pais que mandavam-na voltar todos os dias. Queria aproveitar seus dezessete anos de uma maneira menos perigosa. Queria usar seu potencial em uma tarefa que não fosse planejar a morte de alguns ou a sobrevivência de outros. Então foi embora. Sem grandes explicações a ninguém.

Agora ela se recordava de todas as mortes, sabia que o simples fato de estar presente quando elas aconteceram não iria fazer grande diferença, mesmo porque ela não era um auror tão bom assim que impediria todas as mortes, mas só de saber que ela poderia ter dado tudo de si não a faria se sentir a completa inútil que se sentia naquele momento. “E agora não há mais absolutamente nada que eu possa fazer!” – chorou mais.

E o diploma? Qual era a importância daquela porcaria de pedaço de papel que ela já subestimara uma vez perto de todos os amigos que ela estava revendo? Perto das primeiras pessoas que ela considerara amigas. Perto daquele lugar que por mais de seis anos ela considerara como seu lar...

“Amanhã vai ser um longo dia” – falou para sim mesma – “Tenho muitas desculpas a pedir!”.

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