Nij e Doj !



Nij e Doj !


Debatendo-se, aterrorizados, eles gritaram por ajuda enquanto a areia movediça os sugava para baixo. Já tinham sido tragados até a altura do peito. Logo desapareceriam sob a superfície verde e traiçoeira que agora sabiam ser apenas uma fina camada de alguma planta aquática lodosa.
As frutas e gravetos que Harry carregava haviam se espalhado e afundado sem deixar pistas, mas o grande pedaço de madeira que ele encontrara ainda flutuava na superfície da areia movediça entre os três amigos desesperados. "Ele flutua por ser grande e plano", Harry pensou em meio ao pânico. "Está flutuando onde nada mais flutuaria. "
Ouviu-se um grito, e ele viu, correndo da pequena cabana branca, dois vultos gorduchos e grisalhos carregando uma longa vara. A ajuda estava a caminho. Mas, quando chegasse, seria muito tarde. Tarde demais.
A menos que...
Harry estendeu a mão para o pedaço de madeira plano e não conseguiu mais do que tocá-lo com a ponta dos dedos.
— Jasmine! Rony! — ele gritou. — Segurem-se nesse pedaço de madeira. Nas pontas, com delicadeza. Tentem se esticar e esparramar-se, como se estivessem nadando.
Os companheiros o ouviram e obedeceram. Em alguns instantes, os três amigos estavam estendidos ao redor do pedaço de madeira como pétalas de uma flor gigantesca ou os raios de uma roda. No alto do ombro de Jasmine, Filli guinchava aterrorizado, agarrando-se aos cabelos delas com suas patas minúsculas.
Eles não estavam mais afundando. A madeira quase os mantinha numa posição segura, mas por quanto tempo esse equilíbrio iria durar? Se um deles fosse dominado pelo pânico, se o pedaço de madeira se inclinasse para um lado ou outro, deslizaria para baixo da areia movediça, eles afundariam com ele e estariam perdidos.
— A ajuda está chegando! — Harry gemeu. — Fiquem firmes.
Ele não ousou erguer a cabeça para olhar as duas pessoas para que o movimento não perturbasse o equilíbrio. Mas podia ouvir seus gritos entrecortados. Agora, eles estavam muito próximos.
"Oh, depressa", ele implorou em pensamento. "Por favor, corram!" Ele os escutou chegar à beira da areia movediça, mas não compreendia o que diziam, pois falavam uma língua desconhecida. Contudo, as suas vozes indicavam urgência. Estava claro que queriam ajudar.
— Acserf enrac! — dizia o homem, ofegante.
— Radnufa exied a oãn! — respondeu a mulher. — Íad a-erit!
A areia movediça então se agitou e encrespou. Harry agarrou-se ao seu pedaço de madeira e gritou. O limo esverdeado e a areia cobriram-lhe a boca e o nariz... Então, ele sentiu algo segurá-lo pelas costas, curvando-se sob seus braços, levantando-o e puxando-o para a frente.
Engasgando e cuspindo, ele abriu os olhos. O que quer que fosse que o estava segurando — talvez um enorme gancho de metal — estava preso à ponta de uma longa vara de madeira. Jasmine e Rony também estavam agarrados à vara. Como ele, estavam sendo lentamente içados para terra firme pelos dois velhos que lutavam em conjunto, grunhindo com o esforço.
Não havia nada que os três amigos pudessem fazer para se ajudar. O avanço era exasperadoramente lento. A areia movediça sugava-lhes os corpos, detendo o avanço. Mas os dois velhinhos não desistiam. De rostos afogueados, eles suavam e bufavam, e puxavam a vara com todas as suas forças.
Finalmente, Harry viu Jasmine e Rony sendo libertados das garras da areia. Com um horrível som de aspiração, ela os liberou, e eles caíram juntos no solo seco — molhados, sujos e cobertos de limo.
Momentos depois, chegou a vez dele. Seu corpo saltou da lama para o chão como uma rolha saída da garrafa — tão repentinamente que os dois velhos caíram sentados para trás com força. Ofegantes, eles se abraçaram e riram.
Harry permaneceu deitado, arfando no solo, balbuciando palavras de alívio e agradecimento. O gancho que lhe salvara a vida pressionava-lhe as costas, mas ele não se importou. Constatou que ainda estava agarrado ao pedaço de madeira e riu. Por mais velho e áspero que fosse, também tinha desempenhado o seu papel no resgate. Satisfeito por não tê-lo perdido na areia, Harry sentou-se e olhou ao redor.
Os dois velhos estavam se erguendo e conversavam animadamente entre si.
— Sovlas oãtse sele! — gritou a velha mulher.
— Sovlas e soãs! — o companheiro concordou.
— O que estão falando? — Jasmine murmurou. — Não entendo uma palavra do que dizem.
Harry olhou para a companheira, que estava com uma expressão ameaçadora.
— Não faça essa cara feia para eles, Jasmine — ele sussurrou, depressa. — Eles salvaram a nossa vida.
— Eles quase acabaram com ela, com aquela placa idiota que nos mandou entrar — ela disparou, zangada. — Não sei por que devo me mostrar agradecida.
— Talvez, não tenham sido eles que colocaram a placa — Rony deduziu com calma. — Talvez, ela tenha estado ali há muito mais tempo que eles. Ela parecia muito velha, quebrada e maltratada.
De repente, um pensamento terrível passou pela cabeça de Harry. Ele olhou para o pedaço de madeira que segurava nas mãos. Ele, também, parecia muito velho e tinha as bordas recortadas como se tivesse sido quebrado e separado de um pedaço maior, há muito tempo.
Lentamente, ele limpou o musgo que ainda estava preso a um dos lados. Seu rosto ficou vermelho e quente como fogo quando as palavras e letras desbotadas começaram a se tornar visíveis.

CUIDADO ! //////
DE AREIA MOVE/////////
NÃO ////////



Mentalmente, encaixou aquele pedaço de madeira à placa do outro lado da areia movediça.
CUIDADO! /FOSSO
DE AREIA MOVE/DIÇA.
NÃO / ENTRE


Em silêncio, ergueu o pedaço de madeira para que Jasmine e Rony pudessem ler as palavras. Eles arregalaram os olhos e gemeram ao perceber o erro que haviam cometido e que quase os levara à morte.
Os dois velhos aproximaram-se deles. Quando eles, também, viram o pedaço de placa quebrada, soltaram uma exclamação e pareceram chocados.
— Mariv sele! — a mulher gritou.
— Maibas oãn sele! Satoidi! — grunhiu o homem. Ele tomou o pedaço de placa das mãos de Harry e sacudiu a cabeça. Então, apontou para o outro lado da areia movediça e fez movimentos, como se estivesse quebrando algo com as mãos.
Harry assentiu com um gesto.
— Sim, a placa de advertência estava quebrada — ele disse, embora soubesse que eles não podiam compreendê-lo. — Fomos tolos por não perceber isso e por termos sido apressados demais.
— A placa está quebrada há anos — murmurou Jasmine, ainda zangada. — O pedaço que caiu está coberto de musgo. Eles deveriam saber. E por que há um sino pendurado na árvore?
— Se há um poço de areia movediça ao redor do terreno deles, talvez eles saiam raramente — Rony murmurou. — Se for esse o caso, como poderiam saber o que acontece lá fora?
A velha mulher sorriu para Harry, um sorriso doce e feliz. Suas bochechas eram rosadas, os olhos, azuis e cintilantes, e ela usava um longo vestido azul. O avental era branco e os cabelos grisalhos estavam presos em um coque na nuca.
Harry retribuiu o sorriso. Ela lhe lembrava uma figura que vira num dos velhos livros de história que havia na estante de sua casa. Ele se sentia bem e seguro só de olhar para ela. O mesmo ocorria com o velhinho. Seu rosto era bondoso e feliz. A careca no alto da cabeça era circundada por cabelos grisalhos e, acima da boca, havia um vasto bigode.
— Nij — a mulher informou, dando tapinhas no peito e curvando-se levemente. Então ela empurrou o velho para a frente. — Doj — apresentou, dando-lhe uma palmadinha.
Harry percebeu que ela estava lhes dizendo seus nomes.
— Harry — ele disse, em troca, apontando para si mesmo. Em seguida, estendeu a mão para Jasmine e Rony e também os apresentou.
A cada apresentação, Nij e Doj se curvaram e sorriram. Eles apontaram a pequena casa branca e, com gestos, mostraram que os três companheiros poderiam se lavar e beber alguma coisa, olhando para o trio com olhar interrogador.
— Mas claro — apressou-se Rony, assentindo com vigor. — Obrigado. Vocês são gentis.
— Emof moc somatse — disse Doj, dando-lhe tapinhas nas costas. Ele e Nij riram com vontade como se tivessem dito algo muito engraçado e começaram a caminhar juntos até a casa.
— Você está se esquecendo do pequeno ralad? — perguntou Jasmine em voz baixa enquanto seguiam o casal. — Ele vai acordar e descobrir que partimos. Talvez procure por nós. E se ele também cair na areia movediça?
— Duvido que ele tente nos achar — Rony replicou com calma, dando de ombros. — Ele vai estar ansioso demais para voltar para casa. Embora os ralads sempre viajem para trabalhar em suas construções, detestam afastar-se de Raladin por muito tempo.
Como a garota se deixou ficar para trás e olhava por cima do ombro, a voz dele mostrou irritação.
— Venha, Jasmine! — ele ordenou. — Vão pensar que você gosta de ficar molhada e coberta de limo.
Harry mal ouvia. Ele andava cada vez mais depressa à medida que se aproximava da casinha branca com a chaminé fumegante e o jardim florido. Lar, o seu coração lhe dizia. Amigos. Aqui você pode descansar. Aqui você vai ficar em segurança.
Barda caminhava ao lado dele, tão ansioso quanto Harry para chegar à casa acolhedora e usufruir o conforto de seu interior.
Jasmine os seguia de perto, com Filli aninhado perto de seus cabelos. Ela ainda tinha a testa franzida. Se Harry ou Rony tivessem prestado atenção nela, ouvido suas dúvidas e suspeitas, eles teriam retardado os passos.
Mas nenhum deles fez isso. E só se deram conta do erro que cometeram depois que a porta verde se fechou atrás deles.


N/A: Capitulo 6 postado...

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