As Três Perguntas



As Três Perguntas

Harry parou, rígido, o coração acelerado, enquanto Jasmine o seguia na curva. Ele a ouviu respirar fundo quando ela, também, viu o que os esperava adiante.
O homem de olhos dourados percebeu a presença deles, mas não se moveu. Apenas ficou ali, à espera. Ele não usava nada além de uma tanga e, no entanto, o vento não o fazia tiritar de frio. Ele estava tão imóvel que, não fosse o fato de estar respirando, poderia ser confundido com uma estátua.
— Ele está enfeitiçado — Jasmine sussurrou, e Kree emitiu um leve som queixoso.
Eles avançaram com cuidado. O homem os observava em silêncio. Quando finalmente pararam à sua frente na beira do abismo terrível, ele ergueu a espada num sinal de advertência.
— Queremos passar, amigo — Rony disse. — Afaste-se.
— Vocês devem responder às minhas perguntas — o homem respondeu com voz baixa e grave. — Se acertarem, poderão passar. Se errarem, terei de matá-los.
— Sob as ordem de quem? — Jasmine quis saber.
— Da feiticeira Belatriz — esclareceu o homem. Sua pele pareceu estremecer ao som desse nome. — Certa vez, tentei enganá-la a fim de salvar um amigo da morte. Agora estou fadado a guardar esta ponte até que a verdade e a mentira se transformem numa coisa só. Quem vai aceitar o meu desafio? — ele indagou, o olhar passando de um a outro.
— Eu — ofereceu-se Jasmine, livrando-se da mão de Rony que a prendia e dando um passo à frente.
A expressão de temor havia desaparecido de seu rosto e fora substituída por outra que Harry não reconheceu de imediato. E, então, surpreso, percebeu que era pena.
— Muito bem. — O homem gigantesco olhou para baixo. No chão havia uma fileira de gravetos: “ I I I I I I I I I I I “.

— Transforme 11 em oito sem excluir nenhum graveto — ele ordenou, ríspido.
Harry sentiu o estômago revirar.
— Essa não é uma pergunta justa! — Rony exclamou. — Não somos mágicos.
— A pergunta foi feita — retrucou o homem sem piscar os olhos dourados. — E deve ser respondida.
Jasmine estivera fitando os gravetos. De repente, agachou-se e começou a movê-los de um lado a outro. Seu corpo ocultava o que fazia e, quando tornou a se levantar, Harry abafou um grito. Ainda havia 11 gravetos, mas lia-se: “ 𮟾 I T � “



— Muito bem, disse o homem, no mesmo tom de voz. — Você pode passar.
Ele se afastou e Jasmine avançou para a ponte. Contudo, quando Harry e Rony tentaram segui-la, ele barrou-lhes a passagem.
— Somente quem responde pode passar — ele avisou.
Jasmine virou-se e observou-os. Kree pairava sobre ela, as asas negras muito abertas. A ponte balançava perigosamente.
— Continue — Rony bradou. — Nós a seguiremos.
Jasmine assentiu, virou-se outra vez e começou a caminhar com leveza na ponte, com tanta indiferença como se estivesse num galho nas Florestas do Silêncio.
— Você falou, portanto a próxima pergunta é sua — o homem de olhos dourados determinou, virando-se para Rony. — Aqui vai: o que um mendigo tem que um rico necessita e os mortos comem?
Seguiu-se o silêncio. Então...
— Nada — Rony respondeu, tranqüilo. — A resposta é: nada.
— Muito bem — tornou o homem. — Você pode passar. E se afastou para o lado.
— Gostaria de esperar o meu companheiro responder sua pergunta — Rony replicou sem se mover. — Então, atravessaremos a ponte juntos.
— Isso não é permitido — disse o homem. Os músculos poderosos de seus braços se enrijeceram levemente sobre a espada curva.
— Vá, Rony — Harry sussurrou. A tensão fazia a sua pele formigar, mas ele tinha certeza de que conseguiria responder à pergunta, fosse ela qual fosse. Jasmine e Rony haviam obtido êxito, e ele estudara muito mais do que eles.
Rony franziu a testa, mas não discutiu mais. Harry observou-o entrar na ponte e atravessá-la devagar, segurando-se com firmeza no corrimão de corda, que rangeu sob seu peso. Os grandes pássaros voejavam ao seu redor, impulsionados pelo vento. Bem abaixo, via-se a trilha fina e sinuosa de um rio cintilante. Mas Rony não olhou para baixo.
— Aqui está a terceira pergunta — apresentou o homem de olhos dourados, voltando ao seu posto. — É comprida, portanto, para ser justo, vou dizê-la duas vezes. Escute com atenção.
Harry ficou atento quando o homem começou a apresentar a pergunta em forma de versos:
Belatriz engole sua comida predileta
Em sua caverna, com a filharada irriquieta:
Hot, Tot, Jin, Jod,
Fie, Fly, Zan, Zod,
Pik, Snik, Lun, Lod
E o temível Ichabod.
Cada criança segura um sapo viscoso.
Em cada sapo, contorcem-se dois vermes, cada qual mais apetitoso;
Em cada verme, cavalgam duas pulgas cheias de coragem.
Quantos vivem na caverna de Belatriz em meio à folhagem?
Harry quase sorriu aliviado. Quantas longas tardes passara realizando somas sob o olhar vigilante da mãe? Ele poderia responder o teste facilmente.
Ajoelhou-se no chão e, quando os versos foram repetidos, fez as contas com cuidado e anotou os números na terra com o dedo.
Havia 13 crianças no total, mais 13 sapos, mais 26 vermes, mais 52 pulgas. Isso somava... 104. Harry verificou a conta duas vezes e abriu a boca para falar. Então, o coração bateu surdamente quando, no último momento, ele percebeu que quase cometera um erro. Havia se esquecido de acrescentar a própria Belatriz!
Quase ofegante por causa do desastre iminente, ele se levantou.
— Cento e cinco — ele disparou.
Os estranhos olhos do homem pareceram faiscar.
— A sua não foi uma boa resposta — ele afirmou. Estendeu a mão com a rapidez de um raio e agarrou Harry pelo braço com punho de aço.
Harry espantou-se e sentiu o calor do pânico subir-lhe ao rosto.
— Mas... a soma está correta — ele gaguejou. — As crianças, os sapos, os vermes e as pulgas... e a própria Belatriz: são 105, no total.
— Sim — o homem concordou. — Mas você esqueceu o prato favorito de Belatriz. Um corvo, engolido vivo. Ele também se encontrava na caverna, vivo em seu estômago. A resposta é 106. A sua não foi uma boa resposta — ele repetiu, erguendo a espada curva. — Prepare-se para morrer.


N/A: Depois de algum tempo finalmente capitulo novo

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