Azkaban, meu pesadelo...

Azkaban, meu pesadelo...



Sobre as serras londrinas, por entre as florestas e os animais silvestres, caia um sombrio entardecer naquele dia. As matas estavam caladas, sem um único grilo, canto de pássaro... Nada. O sol não era o costumeiro vermelho de paixão, como antigamente. Tinha um tom claro, porém, um claro fraco, um sol apagado. O crepúsculo inspirava tristeza e calmaria, uma calmaria deprimente.



Os ventos vindos do leste eram frios e úmidos. Batia nas copas das árvores, espantando as folhas já secas. Os ventos anunciavam a forte presença do inverno. Logo, alguns animais estariam em suas tocas, num sono profundo, que os tomaria conta durante toda a estação. Esses mesmos ventos, que tiravam as folhas das árvores, batiam com força contra as janelas da Toca, em especial, na janela da caçula da família, a menina, que tão cedo, havia aprendido a sofrer, e a quem o destino reservava algo de especial. A garota Gina.



Ela estava deitada, sobre um tapete velho, vermelho, com algumas figuras, aos prantos incessantes. Mesmo depois de três dias, não conseguia se conformar, em saber que enquanto estava quente e protegida em sua casa, seu pai estava passando frio e até fome, nas celas sombrias de Azkaban, sob os efeitos dos terríveis dementadores e dos ventos frios de inverno.



Gemia e chorava, o dia inteiro, trancada em seu quarto. Comia apenas uma vez por dia. Não muita coisa. Apenas um pedaço de pão e um copo d’água. Quando muito, um pouco de sopa, para se aquecer e se proteger do frio.



Jogada no tapete, já não tinha mais lágrimas para derramar. Sua voz já estava fraca. Apenas se ia, deitada, de um lado para o outro, o cabelo esparramado sobre o chão e sobre o rosto. Lábios úmidos, olhos secos e roupa amassada, eram suas características neste instante.



-Pai, meu pai- gemia sem parar, agarrada ao tapete –Por que, meu pai? Eu daria tudo para tirar você daí, agora. Minha alma, qualquer coisa.



Neste instante, alguém bate na porta, cautelosamente, para poder não incomodar Gina.



-Gina, posso entrar?- perguntou –Sou eu, o Rony.



-Vá embora - ela gemeu.



Desobedecendo-a, ele executou um alorromora, conseguindo abrir a porta, e entrou, vendo uma Gina acabada. Correu, e se ajoelhou no tapete, colocando a cabeça de sua irmã caçula, sobre seu colo, e tirou o cabelo de sua face.



-Gina, você está terrível. Está pálida. Precisa comer algo para se recompor - disse preocupado.



-Eu tentei, Rony, eu tentei - disse baixo.



-Eu sei, Gin.



-Depois que o DiGregio desapareceu, eu tentei arranjar um emprego, para poder pagar um novo... - ela disse tentando se recompor – um novo advogado, mas ninguém queria empregar a filha de um presidiário.



-Eu, Fred e Jorge, iremos cuidar disso.



-O dinheiro de vocês num dá para contratar um advogado que consiga tirar papai da cadeia.



-Você não precisa se preocupar, Gin - falou atencioso.



-Ron, é o meu pai.



-Nosso pai. Eu já disse que você não precisa se preocupar. Basta você ficar aqui, e fazer companhia para mamãe.



-Eu não consigo ficar aqui sem fazer nada, enquanto vocês trabalham para conseguir tirar nosso pai daquele lugar.



-Não te preocupas, que tudo dará certo - disse com um sorriso reconfortante.



-Jura? - choramingou.



-Juro.



-Obrigado Ron - disse dando um forte e caloroso abraço no irmão.



-Não por isso - ele disse fazendo, finalmente, florescer um pequeno sorriso no rosto da menina – Agora vá trocar de roupa e depois desça para comer alguma coisa, está bem?



-Está bem - ela falou.



-Então, vou para a cozinha - disse se retirando do aposente calmamente – Até.



Estava bem mais aliviado. Sempre sentira como se tivesse o compromisso de cuidar de Gina a todo custa, mais até do que os outros irmãos. Talvez fosse porque era sua mais nova e única irmã, ou porque tinha convivido mais tempo com ela do que os outros, em Hogwarts. Sabia que se algo acontecesse a ela nunca se perdoaria. A achava fraca e indefesa, talvez fosse essa, a razão de sua super proteção.



Ao chegar na cozinha, onde sua mãe estava a cozinhar, sentou-se numa cadeira á mesa e pegou um pedaço de pão para comer.



-Como está a Gina, filho? - perguntou Molly preocupada.



-Muito mal, mãe - ele disse engolindo um pedaço do pão – Quando cheguei no quarto ela estava gemendo jogada no tapete do quarto. Mal conseguia falar de tão fraca.



-É - ela disse tentando conter o choro - Dos sete ela sempre foi a mais apegada ao pai.



-Eu conversei um pouco com ela. Consegui convencê-la a comer um pouco para não ficar tão fraca.



-Graças - ela disse levantando as mãos pro céu – Eu não agüento ver a minha filha naquela angústia. Só Deus sabe o aperto que se passa em meu coração ao vê-la daquele jeito.



-Daqui a pouco ela deve estar descendo.



-Ah bom. Farei uma sopa para ela.



-Garanto que lhe será oportuno.



-Vou prepará-la agora - ela disse, indo em direção as prateleiras, e pegou alguns potes e saches.



Minutos depois da conversa, quando a Sra. Weasley já começava a preparar a sopa, a campainha da casa toca um vez.



-Rony, você pode ver quem é para mim, por favor?



-Claro - ele disse saindo da cozinha,



Chegou à sala, onde abriu a porta, para ver uma cena que o deixou espantado e furioso ao mesmo tempo. Fechou a porta rapidamente, mas esta se abriu sozinha, agora.



Em sua porta estavam parados um homem loiro, de cabelo comprido e rosto fino, e um rapaz do mesmo jeito, a não ser por uns 3 ou 4 centímetros mais baixo. Eles eram Lúcio e Draco Malfoy. Estavam trajados de preto. Os cabelos se tornavam ainda mais loiros com a luz do sol.



-Boa tarde, Weasley - falou Lúcio cordialmente.



-O que faz aqui? - disse Rony ameaçador.



-Viemos tratar de um assunto, com um integrante de sua família.



-Saia já daqui.



-Acredite, não gostamos de estar na sua pocilga - falou Draco, com uma expressão de nojo.



-Malfoy, se você não calar essa merda da sua boca, eu juro...



Molly vinha chegando neste exato momento.



-Quem é, Rony? - mas ficou paralisada quando os viu -Os Malfoy?



-Boa tarde, Molly.



-O que você quer aqui? - disse com uma expressão mais dura.



-Não vai nos convidar a entrar?



Contrariada, acenou para que adentrassem á casa, afinal, sempre se orgulhou de sua educação, mesmo que os ali presentes não merecessem nenhuma.



-Obrigado - ele disse entrando, e se sentou numa poltrona. Draco fez o mesmo.



-Deviam fazer uma limpeza geral, aqui - disse Draco olhando para os lados –Demolir tudo seria um bom começo.



A Sra. Weasley ignorou o comentário e se dirigiu para Lúcio.



-Diga logo o que quer e vá embora.



-Muito obrigado pela sua hospitalidade - ele falou irônico –Bem... elfos domésticos são criaturas imprestáveis...



-Aonde isso me inclui? - ela perguntou.



-Como eu ia falando antes de você me interromper, os elfos domésticos são criaturas imprestáveis, e acontece que eles não estão dando conta do serviço na minha casa.



-Malfoy - ela disse – Vá direto ao assunto. Acho que você não veio aqui para fazer as unhas e conversar sobre elfos.



-Evidentemente. Eles estão cada vez mais desleixados, e eu tive uma idéia repentina. Talvez, uma ajuda humana faria melhoras surpreendentes na arrumação da minha “casa”.



Ao ouvir aquilo, a ficha de Rony havia caído, e ele começara a entender.



-Você está querendo que minha mãe vá trabalhar na sua casa, Malfoy?



-Não exatamente sua mãe, Weasley - falou Draco no momento em que Gina descia as escadas, já arrumada. Malfoy apontou em sua direção - Na verdade, seria ela.



-Gina? Vocês vieram aqui para pedir que Gina trabalhe na casa de vocês, como elfa, ou seja lá o que for?



-Agora você conseguiu raciocinar, Weasley - disse Draco, fazendo Gina ouvir a conversa.



-Eu ouvi direito? - ela perguntou – Vocês dois querem que eu trabalhe na casa de vocês?



-Você ouviu muito bem, Srta. Weasley.



-E porque diabos eu faria isso?



-Bem... eu sou muito bem influenciado.



-Não entendo o que quer dizer.



Ele foi até ela, e começou a falar-lhe ao ouvido, a rodiando.



-Eu poderia tirar uma certa pessoa, de uma certa prisão.



-Eu duvido muito que você, Lúcio Malfoy, tem interesse em tirar meu pai da cadeia.



-Bem... Isso eu não tenho mesmo, mas eu cumpro com a minha palavra. Sempre. E estou lhe prometendo, não, jurando, que se você for trabalhar na Mansão Malfoy por três meses, arrumando, lavando, limpando... Seu pai sairia num estalo dos meus dedos, de Azkaban.



-Ainda não entendo porque você faria isso.



Lúcio deu uma risada, e começou a andar em movimentos circulares.



-Não vou enganar-lhe. Apenas porque sou Lúcio Malfoy. E Lúcio Malfoy sempre tem todos os seus caprichos realizados. Nada me faria mais feliz, que poder humilhar alguém da família de Arthur... E... Parabéns. Você foi escolhida para esse papel. Não está orgulhosa?



-Você é simplesmente desprezível, Malfoy.



-Obrigado pela parte que me toca.



-Ora seu... - disse Rony, indo para cima dele, até Gina fez um sinal para ele parar.



-Sei que está incerta. Não precisa responder agora. Se aceitar, vá direto à minha casa. Estarei lhe esperando. Mas lembre-se do seu pai, naquelas celas imundas, passando fria, e até fome - ele disse dando uma pequena risada. – Bem, já vou indo.



Ele fez um sinal para Draco seguir-lhe, e em seguida foi embora, dando um pequeno tchau.



-Ele é um ser ignóbil, Gina. Você não precisa fazer isso. Eu, Fred e Jorge cuidaremos de tudo - disse Rony.



-Não sei, Rony. Preciso consultar o papai.



-Gina. Seu pai está preso - disse a Sra. Weasley.



-Se Azkaban não vai até Gina Weasley, Gina Weasley vai até Azkaban.







Gina pousou com sua vassoura, na mesma árvore onde pousara dias atrás, perto do apartamento de Harry, a deixando invisível aos trouxas. Ela se dirigiu à portaria, parando e falando com o porteiro.



-Sou Gina Weasley. Vim falar com o senhor Harry Potter.



O senhor falou pelo interfone e depois a deixou entrar no prédio.



Lá estava ela... Depois de um escândalo armado, agora estava sentada na poltrona do Harry para lhe pedir um favor. Ou era muito corajosa ou muito cara-de-pau.



-Fale logo Gina. O que você quer aqui comigo?



-Na verdade... Eu vim lhe pedir um favor, Harry.



-Depois de todos aquele escândalo naquele dia, você ainda tem coragem de olhar na minha cara e me pedir um favor, Gina?



-Eu sei que eu agi mal, Harry...



-Não. Você não sabe que agiu mal. Eu sei que você agiu mal - ele dizia gritando com ela.



-Harry, eu sei o que fiz. Mas é sério. Preciso muito de sua ajuda - então ela contou todo a história da visita dos Malfoy à sua casa.



-E então? Como posso ajudá-la?



-Eu preciso que me empreste a sua capa de invisibilidade para poder entrar em Azkaban sem ser percebida e falar com o meu pai.



-Gina, você está louca? Não pode entrar em Azkaban. É perigoso. Você nem sabe onde fica.



-Agora sei.



-Não posso deixar que você faça essa loucura.



-Harry, eu farei isso com ou sem a capa. Mas se eu for sem ela, me pegarão, e o culpado seria você.



-Mas...



-Mas nada. Então? Vai emprestá-la?



Ele relutou, mas finalmente aceitou. Foi buscá-la, e em seguida a entregou.



-Tome muito cuidado com ela. Com ela e com você.



-Eu tomarei - disse saindo. Quando ia fechar a porta, falou:



-Harry!



-Que é?



-Obrigada.









Já estava longe da cidade. Voava muito alto, na parte serrana de Londres. Já não havia mais luzes, barulhos ou civilização. A cada quilometro voado, as árvores ficavam mais tenebrosas. As únicas luzes existentes eram as dos olhos malignos das corujas, refletindo a lua cheia. O frio já a tomava conta. Uma pequena neblina encobria o chão e o horizonte.



Já voava por mais de uma hora, com uma mão no cabo da vassoura e a outra na capa de invisibilidade de Harry. Não precisaria voar por muito tempo agora. Sabia que Azkaban estava perto. Suas mãos começavam a tremer, e o seu coração palpitava cada vez mais devagar, lhe gerando uma certa agonia, que não soube explicar.



A luz que lhe dava mera iluminação começava a cessar. Afastou as madeixas de seu cabelo ruivo da face e olhou para o céu. As estrelas, que antes brilhavam fortes agora estavam fracas. As nuvens, agora, encobriam a lua, deixando para Gina, uma visão escassa do lugar.



-Não, por favor - dizia ela, para que as nuvens saíssem do meio da lua. Mas por pura casmurrice, elas não saíram.



Achou que talvez fosse melhor descer e continuar o resto do caminho a pé. Deu um impulso na vassoura e aterrissou num campo. Desceu de um pulo da vassoura, e a pôs atrás de uma árvore. Ela pegou a capa de invisibilidade e a cobriu de modo que não aparecesse nem um pé para ser visto.



Não esperou nada. Pegou sua varinha e a pôs deitada na palma da mão e em seguida ordenou:



-Me oriente - a varinha que estava na sua mão começou a flutuar, girando rapidamente, até que, enfim, parou de girar e apontou para a direção da frente de Gina. Ela guardou novamente a varinha no bolso e foi para seu norte, demasiadamente rápido, com passos ligeiros e longos, porém, vacilantes. Não poderia encontrar nenhum dementador no seu caminho, ou estaria perdida. Ela conseguia dar conta de um, dois ou talvez três dementadores. Mas sabia que os que guardavam Azkaban eram muito mais, e mais perversos do que os que guardavam Hogwarts em seu terceiro ano. Quando Sirius Black havia fugido da prisão.



O caminho agora era curto. Olhou por entres as árvores, e a imagem que via era por demais tenebrosa. Havia um grande castelo, negro e mal acabado. As poucas janelas que tinha estavam com uma fumaça negra em forma de grades. Ficava rodeado por um lago. Em volta do castelo, por todos os lados haviam dementadores. A atmosfera era sinistra. Parecia que nada envolta tinha vida. As árvores não tinham folhas e os galhos estavam entortados. O céu era negro, mas não o negro normal da noite. As nuvens que eram um negro sujo. Deveria ser assim também durantes os dias. Tudo era desse jeito em um raio de mais ou menos um quilômetro e meio.



Estava totalmente amedrontada. Lembrava-se muito bem do seu 2º ano. Nem a câmara secreta era tão sinistra e má. Vendo isso, agora, a poderia achar até bastante acolhedora. Hesitava em ir até lá, mas já havia ido longe demais. Não podia ser vacilante agora.



Continuou caminhando, agora mais cuidadosa, sempre encoberta pela capa de Harry. Não conseguia deixar de sentir pavor e agonia, por mais que quisesse. Teria falar com seu pai. Isso é... Se ele conseguisse falar, de tão desditoso que era em ir para aquele inferno bruxo. O amava muito. Mas agora estava em duvida se conseguiria ficar lá no lugar dele. Qualquer pessoa pensaria o mesmo.



Passava agora por um campo de flores. Começava a se sentir seca por dentro. O vento frio lhe batia na face agora. Sentia-se cansada. Decidiu dar uma parada, sentando-se ao chão, encima das flores brancas. A tristeza e desespero a matavam. Não conseguia chorar. Não sabia o que sentia.



Sentiu algo se mexer embaixo de sua mão. A levantou. Viu uma coisa preta. Então olhou para gente. Uma sombra passava pelas flores as fazendo murchar uma por uma.

Olhou então para cima. Havia um dementador por perto. Ela se encolheu na capa e ficou o mais quieta possível. Ele era horrendo. Usava uma capa preta que flutuava, toda rasgada. Se tivesse olhado antes, teria descoberto o que existe por debaixo de sua capa, mas nessa hora era o que menos importava.



Voltou a andar, ainda sob a capa de invisibilidade, após o dementador voltar ao castelo outra vez.



A cada metro andado, o céu ia ficando mais limpo e azul. Parecia ser dia. As plantas ao redor passavam de murchas a um começo de primavera instantâneo. As árvores criavam folhas ricas de seiva do nada, e os caules se ajustavam em sentido vertical. Urubus que voavam eram subitamente substituídos por belos canários. O tenebroso castelo ganhava uma pigmentação branca de limpeza. Tornava-se um castelo de contos de fadas. Por fim, o lago que antes tinham águas escuras estava num tom cristalino. Tudo parecia uma ilusão.



Andou até chegar ao lago. Tentava se lembrar do feitiço de caminhar sobre as águas que Hermione havia lhe ensinado. Sacou a varinha e apontando para a água, exclamou baixinho:



-Soláquos - aparentemente, nada aconteceu. Ela guardou a varinha de volta no bolso.



Gina pôs o pé na água. Vendo que ele ficou na superfície, ela subiu na água e começou a atravessá-la. A sensação era estranha. Seu pé nem afundava nem ficava firme. Era como se estivesse numa cama elástica com uns 8 metros de profundidade.



Estava no meio do caminho, quando uma bolha emergiu na sua frente. Ela olhou para baixo e viu um vulto. Tentou não ligar para isso, e continuou andando. Ao chegar do outro lado percebeu uma coisa. Não havia porta.



Neste instante, ela sentiu algo puxar seu tornozelo, a fazendo entrar na água com toda velocidade, conseguindo agarrar a capa de Harry e traze-la consigo para as águas do lago de Azkaban. A mão que a puxava a soltou. Imediatamente ela fez um feitiço para conseguir respirar debaixo d’água.



O lago, por incrível que parecesse era bonito. Haviam rochas revestidas de pedrinhas preciosas. As algas davam uma harmonia entre a água e os peixes. Algumas conchas estavam depositadas no fundo do lago. Nadavam nas águas cristalinas diversos tipos de peixes, jorpes azuis brilhantes, porprels esmeralda...



Atrás de uma rocha apareciam algumas madeixas de cabelo loiro brilhante. Aos poucos aparecia uma cabeça, um corpo e depois uma bela cauda de peixe de cor verde brilhante. Na cauda haviam algumas barbatanas. Gina reconheceu logo que era uma tritoniana, da família dos sereianos. Era uma bela jovem adulta. Ela acenava para Gina, como se dissesse para segui-la.



Gina, no mesmo momento começou a nadar em sua direção. A tritoniana nadava com destreza, como se deslizasse na água. Seus cabelos ficavam soltos na água, brilhando como uma pérola, e flutuando numa ondulação sublime. Nas laterais do lago podia-se ver a parede de Azkaban. A belíssima paisagem que via na sua frente era de um lago calmo e bonito, com espécies de animais aquáticos que nunca havia visto, mas eram muito bonitos. Alguns tinham três caudas ou dois olhos em cada lado. A água do lago não lhe ardia os olhos, talvez por ser doce, ou por ser tão cristalina.



Foi nadando, nadando, até que pôde avistar a entrada da prisão bruxa. Em sua frente estavam aglomerados uma dúzia de tritonianos, tão belos como a que seguia até agora. Estavam rodeados de conchas e ostras, embora não houvesse pedras por perto. As algas cercavam o lugar. O primeiro pensamento que veio à cabeça de Gina foi de que eles queriam indicar a entrada do castelo. Ia nadar mais para poder agradecê-los, porém a cada metro nadado as águas passavam de claras para escuras. As algas murchavam e o chão ganhava um tom negro. As águas, antes tão cristalinas como o vidro, agora era escura, e lhe fazia arder os olhos. Podia ver também que para seu horror os peixes viravam meros esqueletos ambulantes. Desconfiada, ela olhou para sua frente. Os belos seres que antes ela via agora ficavam horrendos e assustadores. Seus cabelos iam diminuindo, até virar nenhum. Suas caudas e suas peles iam se rasgando e desaparecendo, dando lugar a ossos, às vezes com alguns pedaços de carne pregadas. Seus dentes eram afiados, e seus olhos eram meras luzes verdes. O belo cenário a sua volta virava um cemitério aquático, com ossos espalhados por todo lado. Provavelmente, de pessoas de Azkaban, que enlouquecidas tentavam fugir.



“Oh, meu Deus! Como sou burra!”, pensou Gina, ao perceber que os tritonianos eram na verdade Kopiolus. Esses seres mágicos tinham o poder de transformar-se em outros seres e deixar o ambiente cheio de ilusões para poder atrair suas presas à morte. Havia caído em uma cilada.



Os Kopiolus começavam a nadar em sua direção. Seus olhos a paralizaram, e não conseguia nadar. Suas pernas e braços congelaram. Sentia-se como se tivesse caído num precipício, porém, por algum motivo estivesse suspensa no ar. Os lábios e unhas estavam roxos. A única coisa que seus olhos conseguiam ver era a luz verde que viam dos olhos da Kopiolus que a havia enganado, que pareciam consumi-la, num beco azul e sem vida. O frio era intenso. Parecia morrer.



No meio da cena presente ela sente o fundo do rio tremer, como ela e tudo que estava ao seu redor. A água da superfície estava agitada. Os ossos de peixes já não nadavam tranqüilamente. Ao contrário, saiam agitados, procurando um lugar para se esconder.



Ela conseguiu o movimento do pescoço, e olhou para o céu. Ele estava num tom esverdeado, e alguns relâmpagos tentavam alcançá-la. O cenário escuro do lago ia se iluminando de uma luz verde, que se concentrava em apenas um lugar. Em Gina. Ela agora ficara envolvida numa redoma dessa luz, que era forte e abstrata. Tudo que tentava se aproximar da luz a qual estava envolta era incinerado. Os ventos fortes do exterior do lago faziam uma forte correnteza que levava tudo que estivesse próximo da ruiva. Ela se assustou quando uma enorme rocha veio em sua direção, mas fez um desvio batendo e se quebrando em pedaços ao chocar na parede do castelo de Azkaban. A redoma começava a se mover em direção à entrada, queimando alguns dos Kopiolus que tentavam se aproximar. Um conseguiu a proeza de pôr a mão dentro da redoma, porém esta foi queimada imediatamente.



Ia se aproximando da entrada, e por onde ela passava rochas iam saindo do caminho e se chocando em algo. Ao chegar na porta de entrada ela viu que o chão do lago estava cheio de pó, e a água estava escura.



Havia água até mais encima, então a redoma a conduziu até a superfície do lago no interior de Azkaban. Ao emergir do lago a redoma levou Gina ao solo, e depois a luz se concentrou num pontinho e então se apagou.



-Droga, estou toda molhada - resmungou baixinho Gina. Passou a mão no corpo e viu que não estava com a capa - Devo ter perdido naquela confusão. Harry vai me matar.



Deu passos lentos para longe do rio e observou o saguão onde estava.



Era um lugar pequeno e sujo. As paredes de pedra eram revestida de lodo e teia de aranha. Emitia um frio, não só de temperatura, mas um sentimento frio. Pendurado nela estava uma placa empoeirada que Gina decidiu olhar. Assoprou para tirar o pó. Era um mapa. Estava escrito “Pavilhões de Azkaban”. Seu pai estava no setor 4. Tudo que precisava fazer era atravessar o setor 3. Seria fácil.



Ao ouvir um barulho de bolha ela se virou para trás. Na superfície do lago na parte interior boiava a capa de invisibilidade. Rapidamente, Gina a pegou e a pôs sobre si. Ficou aliviada, agora estava protegida.



Ao se cobrir com a capa, ela seguiu em frente, abrindo caminho por um corredor escuro. O único barulho que se podia ouvir vinha de gotas de água que caiam do teto úmido para o chão, molhando os pés descalços de Gina, que havia tirado os sapatos para que não pudesse pegar um resfriado, mas agora não lhe parecia ter sido uma boa idéia.



Estava agora cruzando a porta do setor 3. Era um lugar tenebroso. Não era sujo, porém tudo era preto. As paredes de pedra, e tudo muito frio. Havia três dementadores. Não poderia atravessar deste jeito. Devagar, se abaixou e foi se arrastando até o outro lado, sem olhar para nenhum outro canto, a não ser a sua frente. Ao terminar o percurso, andou mais um pouco, até chegar em outro corredor.



Este era seco. As paredes eram feitas de mármore, porém era escaldante. Não haveria uma pessoa que pudesse suportar tocar nele, sem sair com pelo menos a pele da mão queimada. O lugar era abafado e vermelho. Em menos de 2 minutos toda a sua roupa estava seca. Continuou caminhado, até que pôde ver uma porta de metal, e em cima estava escrito “Setor 4”. Ela fez um feitiço de resfriamento na porta, então a abriu, com medo de ser pega por um dementador. Ao abrir, sentiu um vapor invadir o corredor. Incrivelmente, não havia nenhum dementador no recinto. Era um lugar estreito e devia fazer pelo menos uns 50º. Ela entrou no lugar, e foi olhando para cada cela. Ao ver a 5ª achou um homem ruivo, suado e vermelho, caído no chão, de olhos semi-aberto. A cela em que ele estava era simples. Não havia janela, apenas uma cama e quartinho, que devia ser o banheiro. Não havia dúvidas de que aquele era Arthur Weasley.



Gina tirou a capa, e foi em direção à cela.



-Pai! Ai! - exclamou ao toca nas grades pelando de quente.



-Gina - ele disse baixo tentando se arrastar até ela – Água, por favor... Preciso água.



Gina se achava aos prantos ao ver seu pai naquela sauna, passando sede num lugar tão horrível quanto aquele. Ela conjurou um copo e pôs uma água que saiu da varinha, dando ao seu pai.



-Pai, você não precisa se preocupar. Eu vou tirar você daqui.



Ela ouviu a porta de aço se abrir, então deu um beijo molhado na mão de seu pai e se cobriu com a capa. Saiu de fininho olhando seu pai naquele estado.



-Meu Deus! - neste momento, um dementador entrou no lugar. Não sendo bobo, ele logo sentiu a presença da garota e foi segui-la. Gina saiu correndo, dizendo apenas:



-O tirarei daqui. Eu juro!



Ela saiu do setor 4, subindo uma escadaria que encontrou no meio de um corredor. Olhava para trás. Agora em vez de um havia pelo menos meia dúzia de dementadores voando velozmente atrás de si.



“Maldito. Ele avisou aos outros” ela pensava.



Após correr cerca de 16 metros, entrou no setor 5 (ocorrência de uso de feitiços semi-imperdoáveis) e fechou a grande porta de aço. A sala era enorme e fria. Deveria haver em torno de umas 50 celas, enfileiradas lado a lado. Era um setor aparentemente tranqüilo e sereno. Estranho era o fato das celas terem um véu as cobrindo. Não ouvia gritos por entre as celas, mas podia escutar respirações ofegantes, porém muito baixas. O corredor estreito dava o toque final de tenebrosidade.



Ainda sob a capa, ela se abaixou e foi rastejando pelo chão frio. Porém, olhou para o lado. Na cela, ela pôde ver um tecido preto se ondulando no ar. A estranha tristeza a invadiu, e seus lábios ficaram roxos devido ao frio. Parecia congelar, então pôde afirmar com certeza de que aquele lugar era o local de concentração dos dementadores. Deveria ter o nome de setor 5 para enganar os que tentavam fugir de lá.



Seus membros estavam congelados, mas ela continuou a rastejar no chão daquele lugar, tentando fazer o mínimo barulho.



Por sorte, ela encontrou a porta do outro lado já aberta. Saiu de lá, e depois de rastejar mais alguns metros de distância ela se levantou, recuperando o fôlego e uma parte de sua vida. O corredor em que se achava era aparentemente normal, mas não tinha saída. Teria que passar pelos dementadores para poder sair dali. Com estes pensamentos na cabeça ela se encostou numa parede, apoiando todo seu peso, mas de repente a parede girou, fazendo Gina se espatifar no chão.



-Ai, que droga - ela exclamou.



Se levantou do chão alisando o cotovelo e batendo a poeira da roupa, depois ajeitou a capa de invisibilidade sobre si.



Diferentemente dos outros aposentos, esta sala era preta, mas coberta com um papel de parede de veludo, e era limpa. Não haviam detalhes, mas o que chamava a atenção era uma bola de fumaça verde brilhante no meio. Igual a bola que tinha a protegido no lago dos Kopiolus.



Gina se aproximou da bola, atravessando sua mão na fumaça, que começava a revelar uma imagem no centro. No começo era um simples borrão, mas depois ganhou uma formar mais clara. Ela podia ver perfeitamente... Ela. A imagem era exatamente ela na sala, olhando a bola. Espantada, olhou para os lados tentando encontrar algo que estivesse emitindo aquela imagem, mas não viu nada que pudesse revelar-lhe alguma coisa.



Era algo muito estranho, como se estivesse sendo filmada a todo o tempo, talvez desde quando entrou no campo de Azkaban, por isso que a bola havia a salvado. Por isso que até agora nenhum dementador havia a pego. Mas qual seria o objetivo disso? Quem estaria lhe protegendo? Eram muitas perguntas, mas tinha que desvenda-las depois, porque agora tinha ouvido barulhos vindo do corredor, e começava a sentir-se fraca. No mesmo instante ela tirou a mão da bola e saiu correndo do aposento, pela porta de carvalho que havia no fundo da sala.



Chegou a um saguão enorme sala de pedra preta, totalmente sem iluminação. Era como uma gaiola, porém revestida com paredes. No teto existiam gárgulas fantasmagóricas.



Foi para o centro da sala, e ficou tentando achar alguma porta de saída, mas não achou nenhuma. Não haviam mais dementadores. Talvez os tivesse despistado.



Ouvia uma voz falando algo como “sair... sem...” Olhou para o teto. Era sereno e calmo. Parecia normal, mas então uma mão cheia de garras saiu dele como mágica. Depois outras mais saíram, até revelar um batalhão de dementadores descerem do meio das gárgulas até ela, a cercando. Das paredes, do chão surgiam cada vez mais. Estava horrorizada. Tirou rapidamente a varinha do bolso e começou a dizer “expecto patrounum” na esperança de amedronta-los, porém ela só conseguia se defender e um ou dois.



No meio deles, um conseguiu atravessar o feitiço, em direção à Gina. Ele vinha lentamente, e ela estava cada vez mais convencida de que a morte chegara. O dementador levantou a sua capa preta, e debaixo dela um círculo de sucção foi revelado. Ele tentava sugar a alma de Gina para dentro dele. Não havia mais nada que pudesse fazer. Sentia que agora era a sua hora. Não sabia o que via, Gina só sabia que dentro daquele círculo via a morte, até que o dementador chegou tão perto dela que ela se viu entrando no nada, ou num precipício. Via seu rosto de deformando dentro de um buraco, se via caindo no nada, até ver realmente o nada e um grito agudo invadir-lhe os ouvidos.



N/A:Vou deixar vocês pensando o que aconteceu com a Gina. Ela morreu? O que houve? Agradeço á minha beta Nininha pelo seu trabalho e dedico este capítulo à Dé. Bye

Antonio Costa Lupin

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