O Número 3



capítulo 4

Jamais se sentira assim antes, um misto de decepção e tristeza embrulhavam-lhe o estômago de modo que não conseguia mais pensar em nada que não fosse o seu dia perfeito e como ele teve absolutamente nenhum traço de perfeição, seria essa sua maravilhosa e esperada vida de adulta? Seus pensamentos foram interrompidos assim que chegou ao começo do corredor onde se encontrava o seu quarto, alguém batera a porta do número 3 com violência, mas não pode ver mais do que a sombra do bruxo que fez isso. Ao entrar no número quatro teve a impressão de que o bruxo hospedado a frente chutava os móveis “já não está satisfeito pelo barulho com a porta? Também precisa quebrar seu quarto? Alorromora”, a porta se abriu e ela pode observar que seu quarto parecia estar exatamente como ela deixara pela manhã, a não ser por bichento que agora estava aconchegado entre os lençóis da cama, já morava ali por três dias e em nenhum deles aquele lugar pareceu tão seu quando aquela noite, nunca sentira tanta falta de estar ali, deve ser porque desde que se mudou não passou um dia inteiro lá, ficava com os Weasley e Harry. Jogou-se na cama ao lado de bichento, o dia que tivera fez com que perdesse a fome completamente, só o que queria, o que precisava, era dormir, dormir e esquecer o dia de hoje nem que fosse em seus sonhos, só sabia que não queria voltar e viver esse dia nunca mais. De um modo geral Bichento ajudou-a, parecia que sabia que ela não tivera um dia bom, pois se deitou em sua barriga ronronando, e pela primeira vez desde o almoço ela riu, fez carinho em bichento e fechou os olhos, ouviu o coração acelerado de seu gato, mas ainda assim se sentiu bem, estava em casa. Bum... Bum... Bum... Abriu os olhos, antes mesmo que chegasse a dormir um estrondo no quarto á frente a fez despertar, tentou não prestar atenção no barulho, queria pensar que tivera sido apenas uma impressão e tornou a fechar os olhos. O rosto de Rony não saia de sua mente, sem querer começou a chorar, levantou-se pra escrever uma carta e tornou a ouvir barulhos vindos do número 3, parecia que estavam arremessando coisas na parede. Por que alguém estaria tão nervoso no quarto da frente? Ela que passara o dia todo com Malfoy, “e olhe que isso não é fácil”, não estava quebrando seu quarto. Preocupou-se, e se quem quer que fosse neste quarto estivesse brigando? E se fosse um comensal da morte? “Não seja boba Hermione, todos os comensais conhecidos estão em Azkaban, não deve ser nada de mais!”. Agora algo caiu no chão com violência, bichento, que ainda estava deitado na cama, deu um salto e foi pra perto da dona. Não havia explicação cabível, por mais que pensasse não via motivos para alguém estar quebrando um quarto do Caldeirão Furado! Bum... Bum... Bum... Será que os outros hóspedes não estavam ouvindo? Precisava ir até lá, alguém poderia estar morrendo neste momento, não podia mais esperar um só segundo, nem dava tempo de pedir ajuda. Estava decidido. Abriu a porta do seu quarto e deu dois passos até chegar a porta em frente, tomou coragem e, com a varinha apontada para a fechadura, mentalizou “alorromora” mas a porta não destrancou estava enfeitiçada para não responder àquele feitiço, realmente algo estranho estava acontecendo. Ouviu mais barulhos, deduziu que eram chutes, “em quê? Em quem?”, e seu nervosismo aumentou quando tudo silenciou, precisava fazer algo rápido. Novamente apontou a varinha para a porta “bombarda”, e esta explodiu com violência, revelando o garoto alto de rosto pálido e cabelos extremamente loiros, estava no meio do cômodo com uma caixa nas mãos e se assustou com a explosão da porta, lançou um olhar fulminante para Hermione. - “Estupefaça” – Gritou a garota sem pensar duas vezes, fazendo Malfoy voar e bater na parede, deixando a caixa cair quebrando alguns objetos que haviam dentro, dentre eles uma luminária verde e porta retratos, ao se quebrar a luminária fez um estrondo ainda maior do que os outros. - Enlouqueceu sangue ruim? - Você foi longe de mais Malfoy, não se mexa se não quiser se machucar, invadir um quarto do caldeirão furado e atacar o hóspede dele... O que você pretendia? - Do que você está falando? – Ele parecia ter perdido a paciência, levantou-se, mas não teve coragem de dar um passo se quer, nem de pegar sua varinha. - Não se faça de desentendido, você não me engana... O ministro ficará sabendo desse seu ataque. Onde está o morador daqui? Ele está ferido? – Inesperadamente ele começou a rir, era a ultima coisa que ela imaginaria que ele faria – Responde, o que você fez com ele? Ele está ferido? - Sim... Ele está ferido – Draco Malfoy continuava com aquele sorriso indecifrável no rosto. - O que você fez com ele? Onde ele está? – Sem querer já estava gritando, descontrolada. - Ele está bem... Vai sobreviver. - O que você fez com ele? - Eu? Não fiz nada! Não fui eu quem machucou o hóspede deste quarto. - Você quer que eu acredite? – Ele continuava sorrindo, e Hermione não entendia onde ele queria chegar. - Quero! Quero que você acredite porque é verdade. Não fui eu quem invadiu este quarto, nem fui eu quem machucou o hóspede. - Eu te peguei aqui. Se não foi você, quem foi? – Decidira entrar no jogo de cinismo dele. - Você! – Agora estava ainda mais descarado, olhando-a cinicamente como se realmente tivesse razão, “o que esse garoto pretende? Jogar a culpa pra mim diante do ministro?”, agora ela não conseguia mais se controlar, não conseguia mais participar do jogo dele. - Como se atreve? Você não pode colocar a culpa em mim, eu te flagrei, e o hóspede pode testemunhar a meu favor, a não ser que você o tenha matado. - Nem morto e nem vivo eu testemunharia a favor de uma sangue ruim! – Ele ainda sorria, mas agora com desdém e muito vitorioso. - Seu testemunho não está em questão agora, o ministro vai querer o testemunho do hóspede, onde ele está? - Você está falando com ele. – “O que ele quer dizer com isso? Não pode ser o que estou pensando”. Ainda sem querer entender a verdade ela olhou em volta como se procurasse vestígios de que Malfoy estivesse mentindo, como não pode perceber antes? A cortina verde bordada com fios de prata, a luminária, os móveis finos “muito diferentes dos móveis do meu quarto”, tudo combinava extraordinariamente com tudo, chegou a achar que Draco mandara trazer os móveis do seu quarto na casa dos Malfoy, “ele tem a mansão, o que faria no caldeirão furado?” - É isso mesmo que você deve estar pensando Granger... Eu sou o hóspede daqui. Você invadiu MEU quarto e me atacou, o que o ministro dirá disso? - O quê você está tramando? Este quarto não pode ser... SEU... Pode? - Pode, e é... E o ministro ficará sabendo desse seu ataque, quem será que vai pra Azkaban agora? - A cada palavra a voz de Draco Malfoy foi afastando-se cada vez mais... E mais... E mais... Até que a palavra “Azkaban” ecoasse em sua mente. Os olhos acinzentados de Draco Malfoy ainda permaneciam em sua mente, já havia despertado, mas continuara de olhos fechados “foi só um sonho, ou melhor, um pesadelo horrível”, estava feliz por ter acordado, bichento não estava mais ao seu lado e seu braço ardia inexplicavelmente, abriu os olhos apenas para ver o braço e percebeu que este estava enfaixado, olhou mais atentamente além do braço e viu Draco sentado em uma poltrona, estava extremamente pensativo e comendo feijãozinhos de todos os sabores, fechou os olhos novamente, poderia estar imaginando aquela imagem, tornou a abri-los e continuava no mesmo quarto, agora as coisas não estavam mais quebradas, tudo parecia arrumado, menos sua cabeça que já não conseguia raciocinar direito. Tudo aquilo tinha acontecido ou não? Estar em um quarto decorado de verde, com Draco Malfoy sentado em uma poltrona à sua frente era uma evidência de que tudo era verdade, por outro lado, ele parecia tão calmo como nunca estaria após tudo que aconteceu, ela não conseguia se lembrar de nada... Nada após Azkaban! “Azkaban... Azkaban... Eu invadi o quarto do Malfoy e o ataquei sem motivos, talvez eu vá para Azkaban... Por que eu ainda estou aqui? O ministro... O ministério... Que horas são? Eu preciso trabalhar”. Tudo parecia não fazer sentido, até que ele a encarou e aqueles olhos voltaram à sua mente. - Pensei que não ia mais acordar. – O garoto falou pausadamente olhando-a fixamente. “Ele está calmo demais, tem alguma coisa errada aqui”. - Por que não me acordou então? - Pra não ter que ouvir a sua voz insuportável naquele momento. – Agora ele olhava a caixa de feijãozinhos de todos os sabores, e continuava a falar de forma pausada, já a estava irritando. - O que aconteceu? – Estava nervosa, estava na cama dele com o braço enfaixado. - Não se lembra? – Voltou a encara-la, uma das sobrancelhas levemente levantadas demonstrando seu desdém e cinismo - Você explodiu minha porta e me atacou, aí nós discutimos, eu te desarmei, você implorou pra eu não fazer nada contigo, pra não te machucar, te azarei e você está desacordada até agora... Ah, enquanto você dormia, eu enviei uma carta para os membros do ministério contando o acontecido e o ministro em pessoa está a caminho. Sua sela em Azkaban está te esperando. Seu coração acelerou tudo era verdade e Malfoy tinha a acusado, o que aconteceria agora, seu coração se encheu de medo e os olhos encheram de lágrimas, depois de tudo que tinha acontecido, a não ser que o ministro não acredite em Draco... E se ela só fosse despedida e não fosse pra Azkaban? Tudo dependeria do supremo tribunal dos bruxos e da possível audiência, ela poderia explicar suas razões... “Ora, e se eu fugir?” tudo invadia sua cabeça de forma desordenada, precisava estudar seu caso, levantou-se da cama pra ir até seu quarto, e Malfoy começou a rir, gargalhava sem controle, o que fez com que seu desespero aumentasse “eu não poderia esperar outra coisa do Malfoy”. - Relaxa Granger, era brincadeira... O ministro não está a caminho, eu não mandei carta alguma. – Ele falava tentando controlar o riso e secando os olhos. - Não teve graça! – Um misto de emoções explodiam dentro dela, raiva do garoto, alívio, dúvida, enquanto ele não parava de rir – Realmente não teve. - Teve! Teve graça sim, você precisava ver sua cara “Oh, será que vou pra Azkaban?” Você precisava ter visto sua cara de medo, medo de mim Granger? – ele debochava. - Não seja ridículo, e me conta o que realmente aconteceu, por que eu estava dormindo aqui, e meu braço... O que aconteceu? Agora eu quero a verdade – Se encararam. - A verdade é que quando eu falei que morava aqui você desmaiou, caiu em cima dos pedaços da minha luminária, cortou o braço, usei o feitiço de levitação pra te levar à minha cama, e coloquei essa faixa no seu braço pra parar de sangrar. Agora você que precisa me dar explicações, você achou mesmo que tinha alguém apanhando aqui ou queria me ver? Fala a verdade, você queria um pretexto pra entrar no meu quarto, já que já tinha me seguido. - Eu não te segui! Nem sabia que você estava aqui, eu moro no número 4, e ouvi seu escândalo... Aliás, por que você estava quebrando suas coisas? E por que está morando aqui? Você tem a mansão, Malfoy. - Eu estava com raiva por uma notícia... E... Ah, Granger, eu não te devo explicações nem satisfações. Ah, agora eu sei porque você desmaiou, ficou emocionada em saber que mora em frente ao meu quarto, não é mesmo? – “Como ele consegue ser tão insuportável?”. Eles se encararam por um tempo e ela andou rapidamente em direção à porta, Malfoy se postou em sua frente. - Sai da minha frente Malfoy! - Ou você me ataca de novo? O ministro nem sabe de uma e você quer que eu conte outra? - Você vai contar pra ele? - Talvez, ainda estou pensando. - Por favor... Seja prudente, foi um mal entendido. - O que você me dará em troca do meu silêncio? – O garoto chegou bem perto dela, pôde ver de perto seus olhos, cada detalhe, até ouvia sua respiração, “o que ele pretende?”, o empurrou e tentou abrir a porta, “alorromora... Não abre...” - Abra a porta já, ou eu vou explodi-la novamente. - Não será preciso – Ele murmurou alguns feitiços e a porta se abriu – Tente não sonhar comigo, eu sou bom demais pra aparecer nos seus sonhos. - Isso não será problema! – Fechou a porta dele com violência e abriu a sua... Como pode ter sido tão patética? Precisava dormir, ou se atrasaria. Jogou-se na cama e tentou apagar esse dia da mente, precisava que ele nunca tivesse acontecido, sentia uma angústia, Malfoy não poderia contar ao ministro. Revirou na cama, os pensamentos explodindo, aflorando, nem se deu conta do que fazia, e já estava batendo na porta do número 3. - O que você quer? Que desculpa vai inventar agora pra vir me ver? - Eu não consegui dormir... E... – “Se controla Hermione” - O que eu tenho a ver com isso? - Preciso saber se você contará pro ministro o que aconteceu aqui hoje. - Por que eu não contaria? – Aquela expressão tão indecifrável já a estava incomodando, passara o dia olhando para a mesma expressão e ainda não se acostumara. – Você está com medo não está? Acho melhor começar a seguir as minhas regras, se não quiser se dar mal com o ministro... - Eu sabia que não ia adiantar vir aqui, nem sei porque fiz isso. Não se atrase... – Agora seus olhos estavam se enchendo de lágrimas, por desespero, não sabia o que fazer, aquele tinha sido um dos piores dias de sua vida, tudo estava desmoronando, a lágrima quase caía, e antes que isso acontecesse, ela virou as costas pra Draco, não podia deixar que ele a visse daquele jeito, sabia que de qualquer jeito ele contaria, “amanhã serei despedida do ministério, mas só amanhã... Hoje ele não me verá vencida”, levantou a varinha, a porta se abriu, já ia entrar... - Eu não vou contar. – A garota ficou imóvel, frente a sua porta aberta, não se mexeu um milímetro, em si, apenas as lágrimas se mexeram – Não ouviu Granger? Eu não vou contar! Pode dormir tranqüila. - Por que está fazendo isso? – Não se atreveu a olha-lo, não poderia agora, na saberia o que fazer. - Vou te dar mais uma chance – “Como se ele fosse muito piedoso, está armando alguma coisa pra cima de mim, eu preciso descobrir, vou entrar no jogo dele, fingir que não estou desconfiando”. - Decidiu isso assim de uma hora pra outra? - Eu tenho meus motivos, agora pode parar de chorar, se depender de mim, seu empreguinho no ministério está salvo, e sua passagem pra Azkaban não vai ser entregue. - Essa é sua chance de acabar com minha vida, deveria aproveitar. - Terei mais oportunidades de acabar com você – Hermione não respondeu, apenas entrou em seu quarto sem olha-lo, e começou a escrever uma carta pra Rony contando tudo o que tinha acontecido, falando de sua tristeza e agonia, mas apesar de estar distraída com a carta, não conseguia parar de pensar nos motivos que Malfoy teria tido para não contar ao ministro, esta seria a oportunidade perfeita para derruba-la, “como sabia que eu estava chorando?”, era a segunda vez no dia que se sentia patética diante de Draco Malfoy. Após acabar a carta de Rony percebeu que não tinha coruja, precisava guardar a carta pra enviar pela manhã no ministério. Deitou-se em sua cama para dormir pela terceira vez naquela noite, mas dessa vez conseguiu. Bichento não saiu de perto dela, “Você está em minhas mãos Granger... Azkaban...” abriu os olhos... A garota acordou várias vezes durante a noite, vezes por um pesadelo e outras pensando estar atrasada, e por fim o sono completo veio, não acordou mais.

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