Boas e más noticias.



N/A: Aqui vai o meu rápido muito obrigado a todos que estão acompanhando essa fic e mandando comentários. Valeu povo!

Capitulo 2: Boas e más noticias.

A noite já caía, cobrindo o céu com seu manto estrelado... Enquanto uma brisa fresca soprava pelos longos e negros cabelos de um preocupado homem, que observava pela janela o monótono movimento dos últimos trouxas chegando em suas casas. Aquele dia não havia sido nada fácil, mas nem se comparava com a noite anterior. Era realmente difícil acreditar em como as coisas agora estavam tão calmas.

Voltou, então, sua atenção para o interior daquele quarto onde se encontrava. Ao seu lado direito, deitada e aninhada aos lençóis de algodão, encontrava-se a razão de todas as suas preocupações naquele momento. Aproximou-se um pouco dela e acariciou sua face. Ela parecia tão tranqüila, imersa em um sono inocente, alheia a todas as coisas terríveis que haviam lhe acontecido a menos de vinte e quatro horas atrás. Parecia não ter nenhuma preocupação, e ele ficaria feliz se pudesse evitar que, ao acordar, ela tivesse que enfrentar a dura realidade a sua volta.

Sentou-se em uma cadeira ao lado de sua cama e passou nervosamente as mãos pelos cabelos. Não seria nada fácil contar-lhe tudo o que havia ocorrido, e queria não ter de fazer isso sozinho. Curiosamente suas preces pareciam estar sendo ouvidas, logo a porta se abriu e por ela entrava um rosto conhecido e amigo. Este parecia tão cansado quanto ele, e por um momento o moreno teve a impressão de que seu amigo havia adquirido muitos novos fios brancos sobre a sua vasta cabeleira castanha, e suas costumeiras olheiras estavam ainda mais profundas. Ele o cumprimentou com um sorriso cansado, que foi igualmente correspondido, e logo depois o recém chegado já começava a lhe fazer perguntas sobre o estado da garota ali adormecida.

-Então, ela ainda não acordou? - Ele perguntou sentando-se na beira da cama e retirando-lhe uma mecha de cabelo do rosto.

-Ainda não! Mas é compreensivo, depois de tudo pelo que ela passou... Acho até bom que durma bastante para se recuperar bem. E depois, não precisamos ter pressa em lhe contar tudo o que aconteceu.

-Você tem razão quanto ao descanso, mas não acho bom adiarmos a verdade. Ela tem de saber e aprender a lidar com isso.

-Eu sei. - Ele levantou-se e começou a andar inquieto pelo quarto, enquanto continuava seu desabafo. - Mas é que ela é tão frágil... Não vai suportar tudo isso. Sei que ela se faz de durona mais eu a conheço bem, ela não vai suportar. Vai pirar!

-Temos que confiar nela. Você vai ver, no fundo ela é mais forte e preparada até do que nós.

-Não concordo. Ela é apenas uma garota, não está pronta para...

No entanto ele não terminou, ao invés disso arregalou os olhos e caminho depressa para a cama, dando um leve susto em seu amigo, mas este logo entendeu o que acontecera.

-Estavam falando de mim? Bom, espero que sejam coisas boas pelo menos.

Ela forçou um sorriso, mais isso pareceu lhe causar dor, pois em seguida seu rosto se contorceu em uma careta. Os dois homens apenas sorriram em resposta, felizes de verem que ela finalmente havia acordado, e parecia estar de bom humor.

-Olá, preguiçosa! Finalmente resolveu acordar, não é?

O moreno, que havia voltado a se sentar na cadeira, agora fazia uma brincadeira com ela, enquanto afagava carinhosamente seus cabelos. No entanto ela não respondera. Seu olhar havia se perdido, estava vidrado, fitando algum ponto no teto do quarto. Ela parecia estar fazendo algum esforço para pensar ou recordar de algo. Logo sua expressão mudou, parecia muito aflita e eles perceberam que ela finalmente começava a se lembrar dos acontecimentos da noite passada. Ela tentou se levantar, mais foi impedida pelos dois homens que a mantiveram deitada.

-Hei! Vai com calma garota, você ainda esta muito fraca. Precisa de repouso.

Aconselhou o homem de olhar cansado, enquanto a fitava piedosamente com um sorriso fraco, que não alcançava seus olhos.

-Não! Eu preciso encontrá-la!!! Eu... eu preciso......

Ela tinha os olhos marejados, estava agora começando a entrar em desespero, se esforçando pra levantar. No entanto esse esforço acabou lhe causando uma tontura e ela teve de se dar por vencida. Foi nesse momento que eles aproveitaram para tentar acalmá-la.

-Agora escute querida! - O moreno voltava a afagar-lhe os cabelos. - Não precisa se preocupar com nada, tudo vai ficar bem.

-Mas ela....

Ele não deixou que a garota terminasse, apenas tocou de leve com os dedos os próprios lábios, como que pedindo silêncio, e em seguida, com um gesto de cabeça, indicou uma segunda cama, do seu lado esquerdo. A garota pareceu não entender a principio, mas depois com uma certa ajuda do outro homem - que estava sentado a sua frente na cama -, ela conseguiu se erguer um pouco e então viu, incrédula e com os olhos se enchendo ainda mais d'água, a figura de uma mulher profundamente adormecida, e com uma faixa sobre os olhos, mas aparentemente bem. Ela voltou-se para o moreno, visivelmente confusa, e quase sem forças. Já com algumas lágrimas rolando por seu rosto, ela balbuciou.

-Mas... como?

-Se você se comprometer em repousar e tentar ficar calma, prometo que nós lhe explicaremos tudo. - Ele sugeriu e esperou que ela respondesse, o que fez com um gesto positivo com a cabeça. - Muito bem. O que aconteceu é que graças aquele nosso informante... - nesse ponto o moreno fez uma careta e pareceu ficar bastante irritado, mas procurou se controlar e continuou - ...nós descobrimos as intenções de Voldemort, em atacar a ilha. Infelizmente não conseguimos ser rápidos o bastante para nos reunir e chegar lá a tempo de evitarmos todo aquele massacre. Mas enfim, conseguimos chegar a tempo para salvá-la [i]dele.....[/i]

-Foi realmente muita sorte. Se tivéssemos chegado apenas alguns minutos atrasados... Nem quero pensar no que lhes teria acontecido. Mas em todo caso, assim que chegamos lá, eu fui procurar por ela, e ele por você. - Este fez um movimento com a cabeça indicando o moreno, que diante deste gesto agarrou firme as mãos da garota e lhe abriu um grande sorriso. Ele parecia ansioso em não a deixar escapar de perto dele, e ela não pode deixar de sorrir em retribuição. - Então, quando cheguei na sala de meditações eu a encontrei sendo torturada por Voldemort. Felizmente ele não notou a minha presença até já ser tarde. Coloquei uma proteção, e lancei uma bomba incandescente que o segou temporariamente, mas por um tempo suficiente para que eu pudesse a tirar de lá.

-E eu sempre vou lhe ser grato por isso meu amigo.

O moreno lançou um olhar bastante significativo ao seu companheiro, demonstrando no brilho de seus olhos, toda a sua gratidão.

-Depois disso, Voldemort ficou um pouco atordoado e bateu em retirada. - Ele continuou o seu relato, percebendo que o amigo não parecia disposto a prosseguir com a explicação. -Depois de garantir que ela estava segura, fui à procura de vocês e os encontrei já voltando ao templo. Não tem idéia do susto que levei quando a vi desacordada, menina. Por um momento pensei que havia acontecido o pior. Só depois percebi que você estava apenas adormecida.

Mas uma vez ele acariciou a face da menina, retirando-lhe um dos cachos que insistia em lhe cair pelo rosto. Agora a jovem parecia um pouco mais calma. Enxugou com as costas das mãos as lágrimas que havia derramado, e se deixou afundar um pouco mais na cama. Ainda estava muito confusa e suas lembranças da noite anterior ainda não estavam muito claras. Mas parecia que o cansaço e o sono começavam a lhe voltar, e ela não pôde evitar que seus olhos se fechassem. No entanto, subitamente ela se ergueu. Sua face mais transtornada que nunca, e as lágrimas retornando ao seu rosto. Com a voz quase inaudível e embargada pelo choro ela perguntou:

-E os outros? Minha Deusa, eu vi tantos caírem mortos!!! Tantos... - Por um momento a voz dela sumiu de vez. Parecia que suas lembranças estavam voltando com tudo, de uma só vez, a deixando extremamente transtornada. Só agora ela se dava conta, realmente, de tudo o que havia acontecido. Quando ela finalmente reencontrou a voz, esta estava carregada de angustia, sofrimento e dor. E ela já não mais sussurrava e sim gritava em desespero à medida que todo o seu corpo tremia, e o sangue parecia lhe escapar da face. - Ele o matou!!! Por Merlin, agora eu me lembro! Ele o matou, e eu estava lá... mas não pude fazer nada pra impedir! Não pude impedir! Foi tudo tão rápido! Não... por que? Por que isso tinha que acontecer? O que eu vou fazer agora? O que?

O estado em que ela se encontrava era lamentável. Seu rosto já tão pálido, agora se encontrava inchado e manchado pelas lágrimas. Ela se voltou para o moreno se agarrando a sua blusa, afundando o rosto em seu peito com a respiração ofegante. Este apenas pôde afagar seus cabelos, tentando passar algum conforto. Ele sabia que não seria fácil pra ela suportar todas as perdas que havia sofrido em uma só noite. E à medida que ela ia tomando consciência dos fatos, seu desespero só ia aumentando junto com o choro.

-Eu não sei. Não sei viver sem ele. Por que isso tinha que acontecer? Me diz, por que? Isso não é justo! Por que eu sempre tenho que perder todos que amo? Por que? Que maldição é essa? Isso não é JUSTO!!!! NÃO É!!!!!!!!

Seu grito desesperado soou abafado contra o peito do angustiado homem, que tentava se manter firme diante da dor daquela menina, a quem ele tanto amava. E até mesmo pela sua própria, pois ele também sentia pela perda de seus amigos queridos. Nesse momento ela precisava dele, como jamais em sua vida, e ele estaria lá por ela, sempre.

-Tente se acalmar, querida. Isso não vai te fazer bem.

Aconselhou o outro, tentando conter a própria emoção. Pois ele, assim como o outro, também tinha perdido muitos amigos queridos naquela fatídica noite. Esta, que sempre ficaria marcada em suas vidas, assombrando-os até o fim de seus dias. Mas a garota não parecia disposta a se acalmar, mesmo com as tentativas de consolo de ambos. E eles não a culpavam por isso. Sabiam o quanto ela já havia sofrido, e como todos naquela ilha eram importantes em sua vida, eram sua família. E agora estavam praticamente todos mortos.

-Como quer que eu me acalme? - Agora ela parecia furiosa. Como se o que ele lhe dissera tivesse sido algo extremamente ofensivo. Voltando-se pra ele, ela repetiu indignada. - Como? Me diz! Se a pessoa que eu mais amava morreu diante de mim? Pra me salvar... Como eu posso me acalmar, tentar ficar bem? Eu NÃO VOU ficar bem. - Ela voltou a gritar transtornada, e depois continuou com um fio de voz. - Não sem ele. Eu o quero de volta. Me devolve ele... me devolve, por favor!! -Ela suplicava de forma doentia, ainda agarrada a roupa do moreno, como a uma tabua de salvação, o encarando desesperadamente. Por fim, deixou sua cabeça cair pesadamente sobre seu ombro. No fundo, ela sabia que nem ele, nem ninguém, poderia fazer isso que ela estava pedindo. E o olhar que ele lhe lançou, apenas confirmou a ela que nada poderia ser feito. Ela havia mesmo perdido o grande amor de sua vida.

Sentindo-se agora exausta de tanto chorar, aos poucos ela foi se soltando do moreno, e se encolhendo na cama; abraçando os próprios joelhos e se balançando levemente. Podia-se notar que ela fazia um certo esforço para controlar a respiração, e conter os soluços do choro. O estado em que ela se encontrava era lastimável. E nenhum dos dois homens, que ali se encontravam, tiveram coragem de falar mais alguma coisa. Sendo assim um longo silêncio se seguiu, onde apenas os soluços dela eram ouvidos.


Ela não saberia precisar por quando tempo ficara ali, chorando quietinha. Só sabia que ainda havia muita coisa que ela queria e precisava desabafar. Muitas dúvidas percorriam sua mente. Seu coração estava em pedaços, e se ela não colocasse todas as suas angustias para fora iria acabar enlouquecendo.

-O que vai acontecer comigo agora?

Enfim perguntou, para a surpresa dos dois homens, que já estavam pensando que seria melhor deixá-la sozinha.

-Acho que o certo seria continuar com o planejado.

Respondeu o moreno, hesitante, não querendo parecer incessível.

-Continuar? Mas...mas como? - Ela soluçava involuntariamente, tentando inutilmente conter o choro e erguendo a cabeça para encará-los.

-Vamos levá-la para um lugar mais seguro como havia sido planejado.

Respondeu o outro.

-Não quero ir. - ela respondeu, parecendo extremamente decidida - Não foi isso que planejamos. Não quero ir sem ele.

Os dois se entreolharam apreensivos. Não contavam com essa reação dela, mas teriam de a convencer de qualquer jeito, nem que para isso tivessem que ser duros com ela. Afinal, seria para o seu próprio bem.

-Agora me escute! - O moreno tinha sua expressão completamente mudada. Estava extremamente sério, não havia mais brilho algum em seus olhos, e sim uma sombra fria e soturna. Diante dela, agora estava um homem duro e determinado, que sabia como ninguém o que era perder pessoas queridas. Ver seus sonhos e planos destruídos e sua liberdade arrancada-lhe injustamente. Não havia mais ternura em seu olhar. E sim uma grande amargura e sofrimento. E isso a fez se sentir extremamente egoísta ao lembrar o triste passado daquele homem a quem ela tanto amava. - Você tem de ir. Sabe disso. Tem muitas coisas em jogo aqui, muitas vidas. Você não quer que todas aquelas pessoas tenham morrido em vão, não é?

Com apenas um movimento negativo de cabeça ela lhe respondeu, sem encarar seus olhos. Então ele continuou.

-E o que acha que vai lhe acontecer se Voldemort a encontrar? Vai ser o fim de tudo pelo que tanto lutamos. Esta entendendo? Você não pode mais voltar para a ilha. Lá não é mais seguro pra você. Então só nos resta seguir em frente com o plano. Ficar aí, sentada e chorando, não vai devolver a vida de nenhum deles ou impedir que ele consiga o que quer. Sei que nada disso é justo, mas agora você terá de ser forte, mais do que nunca.

-Eu sei... Mas eu não quero ir pra lá. - Ela parecia ainda relutante em seguir o plano que durante meses eles haviam orquestrado. E sua expressão havia voltado a ser chorosa. -Será que vocês não entendem? Eu não posso ir. Não depois de tudo o que aconteceu. Eu não conseguiria sem ele... - ela adquirira um olhar tão desesperado que não havia como eles não se sentirem tocados por suas palavras. - E depois tem todos os planos que nós fizemos juntos... para quando fossemos pra lá. E agora ele... ele esta morto. Vocês não entendem? Como eu posso seguir em frente com os planos, se ele fazia parte de todos os meus planos, todos os sonhos que construímos juntos, de como seria estar lá. Juntos.

-Sei que vai ser difícil. Mas você vai conseguir, você é muito forte....


-NÃO!!! Eu não sou forte. - Ela interrompeu o moreno bruscamente - Ele era a minha força. E saber que não vou o ter mais ao meu lado dói muito.

Ela terminou derramando novas lágrimas, e encobrindo os seus olhos com as mãos, os tremores voltando a percorrer todo o seu frágil corpo. O moreno por um instante pensou ter sido duro demais com ela. Talvez fosse melhor lhe dar um tempo pra pensar. Afinal eles ainda tinham muito tempo. E todos aqueles acontecimentos ainda estavam muito recentes. Estava pronto para dizer algo a esse respeito, quando uma voz séria e untuosa ecoou pelo quarto se dirigindo a garota.

-A vida dói. Vá se acostumando com isso. Você já não é mais nenhum bebê, para que todos fiquem passando a mão por sua cabeça. E tem muitas responsabilidades a assumir, para ficar aí se lamentando por fatos que não podem ser mudados. Enxugue essas lágrimas e erga a cabeça. Você não pode se deixar abater por coisas tão pequenas.

Os dois outros homens se levantaram encarando o recém chegado. Este entrara tão sorrateiramente, que os dois nem haviam notado sua presença. Aparentemente ele havia escutado toda a conversa deles, e pelo seu tom de voz e o olhar assassino que dirigiu a eles, podia-se notar que suas presenças ali o desagradava profundamente. O moreno lançou-lhe um olhar que era puro ódio em retribuição, mas este pareceu não se importar com o outro e apenas continuou a caminhar, dando a volta pelo lado oposto da cama e parando ao lado da garota.

-O que está fazendo aqui? - Perguntou o moreno quase em um rosnado. - Não tem o direito de falar assim com ela!

- Em primeiro lugar, o que estou fazendo aqui, é o mesmo que vocês. - Respondeu de forma indiferente, mas sem deixar de mostrar todo o seu desprezo pelo outro. E isso sem tirar os olhos da garota nem só um minuto, sendo que esta também o encarava, sem desviar o olhar. - Em segundo lugar, eu tenho todo o direito de falar com ela como eu quiser. E em terceiro lugar, nada disso é da sua conta.

Concluiu, finalmente encarando os outros dois. Sentindo que o clima ali iria ficar muito pesado, a garota então tomou uma atitude que desgostou profundamente os seus dois companheiros.

-Por favor. Me deixem sozinha com ele!

Ela pediu secando os olhos com as mãos. O moreno ainda quis questionar, mas o outro foi mais sensato e se apressou em concordar.

-Como quiser querida. Estaremos lá em baixo se precisar.

E dizendo essas palavras ele se aproximou dela e lhe deu um carinhoso beijo na testa, gesto este que foi seguido pelo moreno antes de ambos saírem do quarto.

Após isso um breve e incomodo silêncio se seguiu. Um ainda mantinha o olhar fixo no outro. Pareciam se examinar mutuamente. Então finalmente o homem - que agora aparentava estar bem mais velho e cansado do que o habitual, pelo que ela pode notar -, resolveu quebrar o silêncio fazendo-lhe uma pergunta, ao mesmo tempo em que se sentava ao seu lado na cama.

-Então... como você está?

Ela cruzou os braços e respondeu rispidamente.

-Típico! Não tinha algo mais original pra me perguntar? Estou decepcionada, esperava mais de você.

Ela terminou frisando em suas palavras irônicas toda a amargura de seu coração. No entanto, o severo olhar que ele lhe lançou foi mais do que suficiente para desarmá-la, fazendo-a se sentir na obrigação de formular uma resposta mais adequada. Ela ainda se surpreendia em como ele conseguia despertar tanto respeito nela. Era praticamente impossível ficar zangada com ele, mas ela sabia que esse sentimento era mutuo. Então, após um longo suspiro, ela recomeçou.

-Estou tão bem quanto poderia estar. - deu de ombros. - Fisicamente eu estou bem, já não sinto tanto os efeitos da cruciatus.

Ao mencionar o nome dessa terrível maldição, por um momento, ela sentiu um novo tremor percorrer todo o seu corpo. Mas soube disfarçar bem essa reação.

-Quanto a isso eu já sabia. Você é forte, e sempre se recupera muito rápido de suas crises. Um simples cruciatus não seria problema pra você. O que quero saber e como você está aqui?

Com o seu indicador ele apontou para a direção do coração da garota, tentando mostrar com o que ele realmente estava preocupado.

-Aqui dentro tá tudo destruído, é claro. Se é isso que você quer saber. Mas me admira muito que o meu estado emocional te preocupe. Afinal não foi você mesmo que disse, "Você não pode se deixar abater por coisas tão pequenas"? Acho que isso também deve ser aplicado aos meus sentimentos, não é?

O rancor em suas palavras era quase palpável, e ela precisava fazer um esforço enorme para não voltar a chorar, não queria que ele a visse chorando de novo. Ele por sua vez pareceu, de certa forma, surpreso com a atitude da garota e tratou de se esforçar em mostrar que as coisas não eram como ela estava dizendo.

-Você sabe que não é bem assim. Sabe que me preocupo com você. Sempre me preocupei...

-É mesmo? Engraçado! Você tem um jeito muito entranho de demonstrar isso!

Agora ela já não conseguia mais controlar o seu tom de voz, que se alterara consideravelmente, demonstrando toda a crescente irritação que se operava nela.

-O que você queria que eu fizesse? - Ele também começava a se irritar. - Queria que eu entrasse correndo pela porta e te colocasse no colo? Dizendo que tudo vai acabar bem, que você tem que ser forte? Não preciso te dizer o que é obvio. As coisas nem sempre vão ficar bem. Daqui pra frente a sua vida não será nada fácil. Pelo contrário. Você ainda vai sofrer muito. Então não me peça pra mentir pra você, pois eu me recuso. Esse é o seu destino e não sou eu e nem ninguém que vai mudar isso. Deveria saber disso melhor do que ninguém. E também sabe que se eu pudesse, se dependesse de mim, você nunca mais derramaria uma só lágrima na sua vida. Mas como eu já disse, a vida não é fácil e dói... dói muito. Mas você é forte. Vai superar tudo isso, e muito mais. E eu vou estar lá, do seu lado sempre que você precisar.

-E onde você esta sempre que eu mais preciso de você? Todas as noites quando eu acordo de mais um pesadelo. Pesadelos estes que me acompanham mesmos acordada. Que me ferem. Que me atormentam e me fazem querer não mais acordar. Onde estava você quando eu mais precisei na minha vida? Quando aquele maldito estava me torturando? Ou quando aquele demônio tirou a vida de Derik bem na minha frente? Me diz! Onde você estava?

O olhar, desesperado e desapontado, que a garota lançou a ele o fez sentir um forte aperto em seu coração. Por mais que não quisesse admitir pra si mesmo, isso o magoava. Não gostava de brigar com ela. Ela era tudo o que ele tinha, e o fato é que lhe doía vê-la sofrer assim. Dizer essas coisas duras, quando na verdade ele queria abraçá-la e protegê-la de todo o mau, de todos no mundo, não era nada fácil pra ele. Mas nesse momento ele precisava ser enérgico, ela teria de superar isso, e o quanto antes melhor. Sabia que isso era o mais correto a fazer, pois nada melhor para fortalecer um coração do que a dor. Todo esse sofrimento a ensinaria a ser mais forte. E era sua obrigação a guiar pelo caminho certo. Mas ela parecia não esta compreendendo o seu gesto. E isso o incomodava muito, não queria que ela guardasse qualquer ressentimento por ele.

-Você esta sendo injusta comigo. - Por um momento ela teve a impressão de haver um fio de arrependimento e tristeza no tom de voz que ele, agora, usava. E estava certa. - Acha que eu queria que as coisas acabassem assim? Acha que eu gosto de te ver sofrendo, que não me importo com os seus sentimentos? Pensei que me conhecesse o suficiente pra saber que isso não é verdade!

Agora definitivamente ela podia ver a tristeza estampada nos, sempre tão inexpressivos, olhos daquele homem. O que lhe causou um certo arrependimento, pela forma dura em que ela o julgou. Mas ainda assim ela estava magoada e ferida de mais, e esperava que pelo menos dessa vez ele expusesse o que realmente estava sentindo, que lhe desse seu apoio, e colocou toda essa sua frustração em palavras.

-Eu sei. E é por isso que me dói tanto a sua indiferença. Por que eu sei que no fundo ela é só fachada. E isso me magoa, por que num momento como esse, quando eu mais preciso de você, tudo o que parece lhe importa é esconder de todos que por de baixo dessa couraça dura e fria, há um coração bondoso que se importa com as outras pessoas- ela fez uma pausa tentando se acalmar. A muito tempo que ela queria lhe dizer todas essas palavras, mas nunca criara coragem. No entanto, agora ela sentia que precisava falar tudo, tinha que por pra fora. Mesmo que isso à machuca-se tanto quanto a ele-. Eu compreendo que seja difícil pra você permitir que se aproximem. Mais comigo era diferente. Sempre foi. Você era verdadeiro comigo, e eu até não me importava em ter esse lado seu só pra mim, me sentia especial. Mas agora, depois que ela se foi, você....Ah, você se fechou até pra mim, me afastou de você. E eu, eu precisava tanto de você naquela época, foi tão difícil pra mim perde-los. Ainda preciso de você. Eu não quero perder você também.

Pronto. Todo o seu esforço em ficar firme, tinha ido por água a baixo, junto com as suas teimosas lágrimas que agora mais uma vez rolavam por seu rosto. Mas apesar do descontrole da menino o homem manteve a mesma postura fria e indiferente de sempre, por mais que por dentro se sentisse tocado pelas palavras dela.

-Vamos, não chore. Isso não vai te ajudar em nada.

-Eu sei. Sei o que você está fazendo. Não sou nenhuma idiota. Eu entendo que não me adianta nada chorar, que isso não vai mudar o fato de que eu sempre vou estar sozinha, que ele nunca vai me deixar em paz e que eu já devia estar acostumada. Sei que o importante agora é manter a cabeça fria, ser objetiva. Mas eu não consigo negar pra mim mesma que eu estou sofrendo, que estou arrasada. Não consigo encontrar essa força que todos vivem dizendo que há dentro de mim. É como se estivessem falando de outra pessoa, entende?

Mais uma vez ela procurou refúgio em suas mãos para ocultar suas lágrimas. Enquanto isso, o até então severo homem com quem ela discutira, passava pelo seu próprio conflito interno. Por um lado ele sabia que devia a deixar superar aquilo tudo sozinha, para aprender a lidar com a dor. Mas pelo outro, sentia uma forte necessidade de protegê-la, de abraçá-la e tentar lhe passar algum conforto, como ele sabia que ela estava precisando. E como a muito tempo, assim como ela dissera, ele havia deixado de fazer. Por fim ele tomou a única atitude que atenderia a seus ambos impulsos.

Com certa relutância ele se inclinou um pouco sobre ela, e afagou levemente seus longos cabelos, que formavam uma bela e vasta cascata cacheada, emoldurando o seu frágil e pálido rosto de menina. A garota pareceu surpresa diante desse repentino contato, e ergueu a cabeça. Seus olhares se cruzaram, e ela pode sentir o mesmo conforto de quando era criança, e ele afagava os seus cabelos até ela adormecer, após mais um de seus terríveis pesadelos. Em seguida ele levou uma das mãos a um de seus bolsos internos da capa que estava usando, e de lá tirou uma barra de chocolate realmente grande.

-Tome! Coma isso, vai se sentir melhor.

-Nem uma tonelada de chocolate seria capaz de me fazer sentir melhor.

Ela retrucou enxugando o rosto e já pegando a barra e a desembrulhando.

-Você não deve estar nada bem mesmo, pra falar assim de chocolate!

-Por Merlin! Isso foi uma piada?

Ela fingiu se surpreender. Arrancando dele um leve envergamento de seus lábios, o que incrivelmente parecia ser um sorriso. Ele se repreendeu internamente por ter baixado a guarda, nem que só por um momento, mas não podia negar que estava contente de ver que apesar da recente desavença entre eles ela não parecia ter guardado ressentimento por ele e que aos poucos já começava a recobrar o seu habitual bom humor.

Mais um longo silêncio se fez, enquanto ela comia desanimadamente a barra de chocolate. Vez ou outra ela soltava um suspiro e mais uma lágrima silenciosa rolava por seu rosto.

Era difícil acreditar que uma garota como ela, sempre tão alegre e descontraída, pudesse agora estar tão desanimada e abatida. E tudo isso por culpa do maldito Voldemort. Quantas vidas mais ele arruinaria até que alguém conseguisse dete-lo?

-Você também acha que é melhor que eu siga com o planejado?

Subitamente ela perguntou, quebrando o silêncio que havia se instalado entre eles.

-Essa é a melhor coisa a se fazer.

Ele respondeu com o seu usual tom autoritário.

-Mas eu não quero ir pra lá sozinha. Não conheço ninguém lá. Não é justo que eu tenha sempre que ficar longe das pessoas que amo.

-A vida não é justa. Mas se o problema é solidão, não se preocupe. Você poderá fazer muitas novas amizades por lá, onde tem muita gente de sua idade.

-Mas eu não quero fazer novas amizades.

-Como assim? - Ele ergueu uma das sobrancelhas, evidenciando a sua confusão - Você não acabou de dizer que não quer ficar sozinha? Como diz agora que não quer fazer novas amizades?

-Eu só não quero machucar mais ninguém.

Ela respondeu afundando-se mais na cama, e colocando o resto da barra de chocolate em cima do criado mudo.

-Mas você nunca fez nada disso. Não estou te entendendo!

Ele questionou já começando a ficar preocupado.

-O que estou querendo dizer é que eu não vou, e não posso fazer novas amizades. Isso por que já está mais do que óbvio que todos que se aproximam de mim acabam morrendo ou se machucando. Não quero que isso aconteça de novo. Não é justo com as outras pessoas. Eu tenho que carregar sozinha essa maldição, e assumir todas as responsabilidades sobre ela.

-Não diga bobagens, garota! - Ele bradou irritado - Isso que você está dizendo é um absurdo. Não há maldição alguma sobre você. Pelo menos não uma desse tipo.

-Não? Então me explica por que todos sempre morrem, a minha volta?

-Será que não passou pela sua cabeça oca, que seja por que essas pessoas que, supostamente morreram por sua causa, o fizeram porque se preocupavam com você? Por que não queriam que nada de mal acontecesse com você? Como Derik, por exemplo?

-Por isso mesmo. Se eles não se importassem tanto comigo não teriam sacrificado suas vidas por mim.

Ela voltou a se erguer na cama, e derramava novas lágrimas, à medida que sua voz se alterava cada vez mais. Percebendo que essa discussão não os levaria a lugar nenhum, o homem resolveu encerrá-la de uma vez.

-Você é mesmo uma cabeça dura! Não vou mais perder meu tempo discutindo com uma criança. - Mais uma vez ele buscou algo no bolso de sua capa, e entregou a ela. - Termine de comer o seu chocolate e depois tome essa poção pra dormir sem sonhos.

Após dizer isso ele caminhou para a porta e a abriu. No entanto, antes de sair ele deu uma última olhada na garota, e percebeu que esta acabara de tomar toda a poção que ele lhe entregara. Então ele se apressou em dizer algo que ele acreditava que poderia trazer algum conforto a ela. Pois ele tinha idéia dos absurdo que deviam estar se passando por sua cabeça.

-Só mais uma coisa. Lembre-se, nada disso é sua culpa. Cada pessoa deve fazer as suas próprias escolhas, seguir seus caminhos, e foi isso o que eles fizeram. Escolheram te proteger. Para que outros tivessem chance de ter um futuro melhor. Não desonre a memória e o sacrifício deles se punindo por algo que não estava em suas mãos evitar.

-Eu sei... mas ainda assim, eu devia ter previsto toda essa desgraça. Não é justo que essa maldição me falhe justo quando eu mais preciso dela. Tudo isso poderia ter sido evitado se eu ao menos...

Mas ela não terminou, a poção começara a fazer efeito, e ela fora arrebatada por um profundo sono sem sonhos.



Por mais que tentasse, sua mente ainda não conseguia se desligar dos acontecimentos da noite passada. Aquele estranho pesadelo, os gritos, as mortes, a dor que sentira e aquelas mulheres. Quem seriam elas, e o que Voldemort poderia querer com aquela garota? Fizera-se essa pergunta o dia todo, e não conseguira nenhuma resposta. O jeito seria esperar pela volta de Edwiges, com uma resposta de Dumbledore para a carta que ele enviara. Estava tão ansioso que nem ao menos conseguira ficar esperando em seu quarto. Tinha medo de adormecer e não a ver chegando. Por isso resolveu ficar na sala com seus tios e Duda, após o jantar, ao invés de ir direto para o seu quarto como costumava fazer. Pela cara que seus tios fizeram, eles não pareceram gostar muito dessa novidade, mas para a sorte de Harry também não se opuseram. Sendo assim agora ele se encontrava sentado no chão, encostado na parede, assistindo ao tele jornal, que tio Valter não perdia nunca.

-É preciso estar sempre muito bem informado. Saber o que acontece no mundo é muito importante.

Ele sempre dizia ao mudar de canal, onde Duda estava assistido a mais algum seriado idiota, para o do jornal. É claro que isso causava uma série de reclamações da parte de Duda, mas nesse ponto Valter era irredutível, e Duda acabava tendo que se conformar.

Tia Petúnia estava comentando alguma coisa com Tio Valter, sobre como o presidente dos Estados Unidos havia sido corajoso por finalmente tomar uma atitude contra as autoridades iraquianas, que na verdade eram terroristas fanáticos, na opinião dela. Quando se ouviu um estranho ruído. Todos se calaram, e Harry viu a face de tia Petúnia se contorcer, ao mesmo tempo em que ficava pálida, seu olhar vidrado na janela. Automaticamente Harry voltou seus olhos para essa direção, e então descobriu o que causara tanto terror em sua tia.

Do lado de fora da janela, voando e dando insistentes bicadas no vidro, encontrava-se Edwiges, e um pequeno rolo de pergaminho podia ser notado preso à pata do animal.

Mas do que depressa Harry se levantou, desviou-se de um safanão de Tio Valter, e correu para o seu quarto, sem dar ouvidos aos berros de seus tios.

Quando chegou no quarto Edwiges já estava o esperando, e tratou de voar até ele para fazer sua entrega. Assim que desfez o laço que prendia o pergaminho à pata de sua coruja, Harry se jogou na cama, já não se agüentando de ansiedade, e desenrolou o pergaminho pôndo-se a ler.



"Harry,

Você fez muito bem em me escrever contando sobre esse seu sonho e sobre o que aconteceu depois. Confesso que no momento não tenho idéia do que isso signifique, mas prometo que irei procurar mais informações com respeito a essas dores que você alega ter sentido. Em todo caso, não creio que isso seja algo para você se preocupar no momento. O mesmo vale para o seu sonho. Não se preocupe.

Agora, quanto ao outro assunto, isso sim me preocupa. Não acho prudente que você fique hospedado com essa sua vizinha trouxa. Sendo assim não vejo outra escolha, se não a de lhe permitir passar o resto das férias de verão na casa da família Weasley, como você tanto queria. Por tanto prepare suas coisa. Já avisei a Artur Weasley e ele concordou em te receber em sua casa, e amanhã mesmo alguém estará ai para te buscar, por volta das dez horas da manhã. Esteja preparado.

Atenciosamente,

Alvo Dumbledore"


Harry releu a carta mais duas vezes, antes de perceber as insistentes bicadas que Edwiges lhe desferia na cabeça. Provavelmente para chamar a sua atenção, e cobrar o pagamento que ele lhe prometera pela tarefa cumprida. Mas Harry não se importava com nada disso agora. Nesse momento ele só conseguia pensar na sua inacreditável sorte. Passaria o resto das suas férias na casa dos Weasley, que eram a família mais incrível que ele conhecia, na sua opinião. Mal podia acreditar.

No entanto algo ainda o perturbava. Na carta, Dumbledore havia sido muito vago com relação ao seu sonho, e era exatamente isso o que mais o preocupava. Ele dissera não saber o que tudo aquilo significava, e Harry se surpreendeu por isso. Nunca imaginou que Dumbledore, algum dia, não teria respostas para alguma coisa. Ele podia até ocultar a verdade ou não ter certeza de algo, mas não ter idéia do que aquilo significava, era realmente assustador. Afinal se Dumbledore, que era considerado o maior bruxo da atualidade, não sabia o que estava lhe acontecendo, então a coisa devia ser realmente séria.

Passou mais uma vez os olhos pela carta e esses se prenderam nessas palavras: "Não se preocupe". De fato talvez isso fosse mesmo o melhor a fazer, afinal não adiantaria nada ficar se torturando. Devia deixar essa história de lado, agora ele tinha algo muito melhor no que pensar. Suas férias. Algo lhe dizia que estas férias seriam as melhores de sua vida.


Continua....


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