Capítulo 4



Marisa abriu os olhos e viu o quarto todo iluminado.Piscou diversas vezes,procurando coordenar as idéias.Lembrou-se de James.Sentou-se chorando,mas procurou esconder as lágrimas ao ver Gabriel aos pés da cama,observando-a.
- Oh! - suspirou, encolhendo-se.
- Não fique assim!
Marisa mordeu os lábios e olhou novamente para Gabriel.
- E James? Alguma noticia?
Ele balançou a cabeça,devagar,procurando esconder a própria emoção.
Marisa sentiu o corpo pesado.Procurou relaxar e cobriu o rosto com as mãos para evitar a claridade.
- Por que ninguém consegue encontrá-lo?
- Mas eles vão achá-lo,não se preocupe.
Por entre os dedos,ela o viu aproximar-se e sentar ao seu lado.Gabriel tocou a pele pálida e macia de seus braços com as mãos e tranquilizou-a:
- Quando não se tem noticia é sinal de que tudo está bem.
Era um clichê,mas que continha uma certa verdade.E enquanto não tivessem noticias de James poderiam ter esperança de encontrá-lo e terminar com aquela tragédia.Marisa agarrava-se a qualquer fio de esperança.
Havia um jornal aos pés da cama,Gabriel pegou-o e abriu-o diante dela sobre a colcha.
- Eles devem ter obtido essas informações com as pessoas com quem você morava.
Na primeira página havia uma foto de James.Marisa olhou-a e não conseguiu impedir as lágrimas que lhe corriam pelo rosto.Lembrou-se do dia que tirava a fotografia e a careta enorme que o filho tinha feito,seguro pela mão de Sally,que procurava mantê-lo quieto.Na foto,James sorria,com a cabecinha jogada para trás,o corpinho rechonchudo vestido com um macacão branco com elefantes coloridos aplicados nos joelhos.
- Ele se parece com você, Gabriel - Apesar de não ter nascido em berço de outro, com a mãe tendo mesmo que controlar muito bem os gastos, James sabia o que queria e procurava obter o que desejava,da mesma maneira que o pai.
- É mesmo? - A emoção parecia tomar conta dele,olhava a foto procurando enxergar a semelhança.
- A cor dele é diferente, mas o formato do rosto,o modo como ele olha...me lembra...- Marisa não conseguia mais segurar as lágrimas.
- A imprensa colheu informações detalhadas sobre vocês. - Gabriel estava irritado com a matéria publicada logo abaixo da foto - Isso pode despertar interesse de todo tipo.O seqüestro de uma criança é sempre noticia,mas o de meu filho é "sensacional"para eles.
- Alguém pode reconhecê-lo. - Marisa pensou em voz alta - Vendo a foto alguém pode lembrar-se de alguma coisa - A foto tinha que ajudar.Ele estava em algum lugar.Alguém devia tê-lo visto.
-Como é que você pôde mantê-lo longe de mim todo esse tempo?Afinal de contas,ele também é meu filho.Como você fez uma coisa dessas?
Os lábios dela tremiam.Eram tantos os motivos para esconder o nascimento de James.Não queria voltar para Gabriel.Abominava a idéia de ser transformada numa boneca de luxo novamente e sabia que,se Gabriel soubesse do filho, ia querê-lo e ela não ia aceitar separar-se de James.Ele moveria céus e terras para apossar-se do filho.
Tudo que Marisa tinha amado havia sido arrancado de suas mãos.Decidiu que James seria só dela e não queria perdê-lo!
- Por que você nunca fala comigo! - Gabriel fitava-a profundamente. -Toda vez que faço uma pergunta, você me olha com esses seus olhos muito azuis,mas eles não me respondem.Um dia achei que ia descobrir o que havia por trás deles,mas ainda não consegui.Você me desafia sempre.Nunca tentou se aproximar de mim,manteve sempre uma distância e nunca permitiu que eu me aproximasse,não foi assim,Marisa?
Ela queria dizer que tinha medo,medo de que ele se cansasse dela.Não queria se arriscar a sofrer se entregando totalmente.
Acreditava que ele tinha se casado com ela num momento de paixão,mas nunca acreditou que essa paixão fosse profunda ou que tivesse futuro.Paixões violentas tendem a se desgastar.Marisa não podia se arriscar e confiar no amor de Gabriel.
- Você ao menos não poderia ter me avisado que estava bem? - Gabriel perguntou,ainda segurando seus braços com dedos fortes. - Tem alguma idéia do que passei quando voltei e descobri que você tinha,simplesmente desaparecido?Varri Londres à sua procura.Coloquei detetives em todos os lugares que consegui imaginar.Você,por acaso,mudou de nome?
- Não. - Isso não tinha lhe ocorrido.Sentia-se tão segura no anonimato de um subúrbio de Londres que nem pensou nesse detalhe.Havia tantas pessoas que viviam ao seu redor,um verdadeiro mar de criaturas desconhecidas que se sentiu bem escondida,segura como uma árvore no meio da floresta.Sabia que Gabriel não a descobriria.Quantas pessoas em Londres se chamavam Radley? Como ela previra,Gabriel tinha suspeitado que ela mudaria de nome para permanecer no anonimato.
Ele observava o perfil de Marisa.
- Você parece mais velha.
-Estou mais velha.
- Diferente.
- Tive uma criança,isso muda a mulher . - Era mais do que uma simples mudança física.James tinha alterado o mundo todo ao seu redor.O amor fazia esses milagres.Era como um caleidoscópio que a cada sacudida misturava as peças do jogo da vida,modificando-o,formando um novo e lindo padrão.
- E eu? - ele perguntou,asperamente - Estou diferente por acaso? Também estou dois anos mais velho.Vou fazer quarenta enquanto você,apenas vinte e quatro.
Marisa nunca havia se preocupado com a idade dele,isso não fazia a menor diferença para ela.Pouco se importaria se eles tivessem a mesma idade, o importante é que pudesse acreditar que ele a amava e sempre a amaria.
Mas essa segurança ela não conseguia ter.
- E durante esses dois anos eu tinha um filho e não sabia!
Ela lembrou de seu primeiro filho e olhou para Gabriel, com tristeza.
-Sinto muito pelo seu outro filho e pela sua esposa.Sempre quis dizer quanto sentia,mas nunca consegui.
- Pensei que você tivesse ciúme.Tinha?
-Não. - Depois acrescentou - Pelo menos acho que não.Você nunca falou nada sobre ela ou sobre o menino.
- Não queria envolver você em meu passado.Ia fazer com que a nossa diferença de idade parecesse ainda maior.
- Pensei que você não comentava por ser doloroso.
- Não é que eu goste de me lembrar.Dolores e eu nos amávamos quando nos casamos,mas depois de dois anos ela começou a sair com outros homens.Não gostava da Europa.Só se sentia a vontade na América do Sul,onde nasceu e cresceu e onde tinha uma vida social intensa.Passávamos muito tempo separados.Quando tínhamos um ano de casados,Paul nasceu, mas tive muito pouco contato com ele.Dolores ficava com o filho o tempo todo.Ele tinha uma babá,mas a mãe não o largava, e por isso eu quase não o conhecia. - Fez uma pausa - Ele tinha apenas seis anos quando morreu.
O corpo de Marisa chegou a curvar-se de tanta dor que sentiu com essas últimas palavras.Empalideceu violentamente e Gabriel tomou-a nos braços.
- Não...nós vamos encontrar James.Não fique assim, por favor.
Ela se sentia tão fraca e desamparada que deixou-se ficar encostada no peito de Gabriel.Ouviu o bater firme e regular do coração em seu peito e sentiu seus lábios beijando-lhe as têmporas.
- Estou com tanto medo...
- Eu sei. - Ele passava a mão suavemente pelas costas de Marisa,esquentando,com o calor da palma de sua mão,seu corpo abandonado e quase inerte.
- James é tão pequenino...
- Pss! - Com a boca Gabriel percorreu os cabelos dela, respirando profundamente.Marisa estava tão absorta em sua dor que não percebia as emoções daquele homem a seu lado.Todo seu corpo tremia entre os braços de Gabriel.
Gabriel era tão forte.De cada parte de seu corpo transpirava uma certeza, o que há algum tempo a tinha atemorizado, mas agora, nesse momento de fraqueza, a fazia sentir-se mais segura.
As batidas do coração dele tinham se alterado.Estavam cada vez mais rápidas,e a mão ia e vinha suave e irregularmente em suas costas.Sentiu a boca de Gabriel beijando-lhe a orelha delicadamente.
- Você é tão pequena e delicada, parece que vai se partir em duas se não se tocar em você com cuidado.Foi a primeira coisa que me chamou a atenção em você...sua fragilidade.Sempre quis segurar você assim e saber que era minha.
Aquelas palavras,murmuradas em seu ouvido,conseguiram quebrar o clima de conforto e segurança que as caricias de Gabriel lhe davam.Afastou-se dele abruptamente,corando e retirando suas mãos de cima dela.
- Não faça isso!
O rosto de Gabriel endureceu de raiva.Seus olhos faiscaram, a boca endureceu-se.
- Não me empurre dessa maneira!
- Não quero que você me toque!
A raiva tomou conta de Gabriel com o corpo tenso,olhou-a com rancor.
- Sua pestinha,não consigo entender o que você quer! Deixou-me quase louco durante dois anos,imaginando onde você estava,com quem você estava e o que estaria acontecendo com você,para depois me dizer com a maior tranqüilidade, que não quer que eu toque em você! Deveria matá-la!
Ela acreditou no que ouviu.A raiva dele era tanta que dava para sentir seu sangue fervendo,fazendo suas mãos tremer.
Sem querer demonstrar medo,levantou ligeiramente o queixo em desafio:
- Você me trouxe para cá.Eu não queria vir e não vou ficar.E também não quero suas mãos em cima de mim!
- Isso é mau.... porque vai ter que agüentar minhas mãos em cima de você e além disso vai ter que gostar!
As mãos que a agarraram tinham uma força capaz de anular qualquer resquício de coragem que ainda lhe restasse.Ofegante,Gabriel puxou-a para si e seus lábios esmagaram o dela.Um beijo punitivo,amargo,sem o menor prazer,que serviu apenas para machucá-la.Com uma das mãos ele mantinha a cabeça de Marisa para trás,segurando os cabelos loiros, o que lhe permitia possuir plenamente sua boca.
Marisa não tinha a menor chance de escapar.Aquela fúria a fazia lembrar-se da triste noite em que a raiva de Gabriel tinha chegado ao limite máximo e ele a tinha atingido, deixando-a depois sozinha e aos prantos.Aquelas erupções descontroladas de Gabriel tinham sempre sido um enigma para Marisa.Não sabia como lutar contra elas e não conseguia entendê-las.Em sua fantasia sobre o amor não cabiam essas explosões de um desejo que não pode ser negado.
Respirando pesadamente,ele levantou a cabeça.Seus olhos cinzentos mergulharam nos dela.
- Você me forçou a isso.Não suporto que me rejeite.Será que você é tão cega a ponto de não enxergar o que faz comigo?
Sua boca tremia,estava quente e úmida dos lábios de Marisa.
Gabriel fechou os olhos.
- Oh,meu Deus,sinto muito...não queria fazer nada disso.Perdi o controle.Você me levou à loucura! Ter você nos braços novamente,tocar em você,sentir o perfume da sua pele, para depois você me empurrar e me afastar de você.Centenas de vezes eu acordei, durante esses dois anos com sonhos como esse...e senti vontade de arrebentar tudo que estava a minha frente.
- Você me machucou - Marisa murmurou,tocando os lábios com os dedos.
- Desculpe...Marisa...
Bateram na porta e Gabriel levantou-se rapidamente,vociferando,irritado.
- Sim, o que é?
Dudley olhou para ele,impassível.
- Há alguém que quer vê-lo,senhor.
- Agora não, pelo amor de Deus.
Dudley não se mexeu, mas seus olhos eram expressivos.
-Acho que o senhor deveria ir.
- Muito bem. - falou depois de uma pausa.Marisa fitou Dudley com o coração aos pulos.Sentiu que tinha algo a ver com James.
-O que é? - tentou saber.
Dudley calmamente explicou:
- Apenas um senhor que quer falar com o sr.Radley,senhora.É só isso.
Gabriel foi até a porta e ambos desceram.Marisa pulou da cama e procurou um robe.O primeiro que encontrou pendurado no armário era de renda branca com gola e punhos de pele.Colocou-o rapidamente e desceu atrás de Gabriel.
O hall estava vazio.
Apenas se ouvia o som estridente do relógio de parede.Ouviu vozes na biblioteca e parou na porta,sem saber se entrava ou não.Poderia ser um assunto inteiramente comercial.Mas o instinto a advertia que tinha alguma coisa a ver com o desaparecimento de James.
- Quanto eles pedem? - Gabriel perguntava com voz áspera.
-Cinqüenta mil.
- O quê? Só isso?
- Foi o que pensei também,senhor.Curioso,não é? - A outra pessoa dizia.
- Estariam me experimentando?
- Até agora é difícil dizer. Isso também me ocorreu.
- Houve alguma prova de que é verdade? - A voz de Gabriel não estava muito firme. - Foi um telefonema? Sem gravação ou fotos?
- Apenas um telefonema,sem prova de espécie alguma.Se for verdade,mandarão depois a prova e nesse caso o preço também vai subir.
- Exorbitantemente. - Gabriel afirmou.
A outra voz era calma.
- Mas só se for um profissional.Com amadores,nunca se sabe.
- O senhor acha que pode ser um amador?
- É uma forma bastante estranha de agir.Alias,tudo é estranho.Me parece mais um seqüestro por emoção.Só quando souberam quem era a criança é que pensaram em dinheiro.
Marisa estava dura e gelada.Colocou a mão na maçaneta da porta,mas antes que ela se abrisse,Gabriel falou:
- Não quero que isso chegue à minha esposa... ela está em estado de choque.Será que podemos manter essa história longe dos jornais?
Marisa abriu a porta e Gabriel assustou-se ao ver como estava pálida e como seus olhos azuis estavam zangados.
- Eu ouvi. - Olhou para o policial que a observava em silêncio.Tinha um rosto calmo e impassível de quem esconde segredos mas que é bom observador,capaz de num minuto julgar desde um traje até a expressão de um rosto.
- O que foi que aconteceu?
-Houve um telefonema para um jornal - Gabriel respondeu,aproximando-se dela. - Sente,Marisa. - Ele segurou seu braço,não sabendo como ela reagiria.
- James esta bem? Eles disseram se ele está bem? - Olhou para o outro homem,suplicante. - O que foi que eles disseram sobre James?
- Sente,Marisa - Gabriel implorou.
- Deixe-me em paz - estourou, a voz trêmula - O que foi que disseram sobre James? - Ela empurrou Gabriel com os olhos fixos no outro homem.
- Ainda não temos certeza se o telefonema é de um seqüestrador mesmo.Pode ser,mas por outro lado é muito comum recebermos trotes de pessoas que querem apenas tumultuar, e o meu instinto me diz que é disso que se trata.
- Mas se for... - ela começou.
- Se não for trote,vou pagar o resgate - Gabriel interrompeu. - Vamos ter James de volta nem que isso custe meu último centavo.
- É sempre um erro pagar - o policial falou - Depois que recebem uma vez,ficam querendo cada vez mais.
- Não vou colocar em risco a vida do meu filho - Os olhos de Gabriel estavam apertados de raiva.
- Não posso impedi-lo,senhor.É apenas um conselho,dada minha longa experiência....
- Vamos pagar - Gabriel falou cortando-o,lançando0lhe um olhar decidido que continha uma advertência.
- O quê? - Marisa perguntou, com temor - O que o senhor ia falar.
- Nada. - Gabriel cortou,secamente - Agarre-se á esperança de termos James de volta,não importa o que custe.Dinheiro é irrelevante.
O policial deu de ombros,examinando Marisa rapidamente.
- Como quiser,senhor,mas podemos contar com a sua colaboração?Mesmo que pretenda pagar a importância,queremos ser informados de qualquer aproximação que tentarem fazer.O telefone já está conectado com o nosso monitor.Seja o que for,não esconda nada da gente.Seqüestro é um crime seriíssimo e o senhor estaria encorajando os bandidos a repetirem a façanha se os ajudasse a se saírem bem dessa vez.
- O que ia dizer antes? - Marisa tornou a perguntar. - Alguma coisa sobre sua experiência?
O homem olhou para Gabriel,que fechou os olhos suspirando.
- Pela minha larga experiência,sei que os seqüestradores raramente mantêm suas promessas.
- O que quer dizer? - Ela começou a tremer,sem querer acreditar no que o guarda sugeria com suas meias-palavras.
- Mesmo que os senhores paguem não poderão ter certeza de ter seu filho de volta - Ele tentou falar o mais suavemente possível.
Ela cambaleou,o rosto inteiramente sem cor.Gabriel pegou-a rapidamente nos braços.A cabeça de Marisa caiu pesadamente sobre seu ombro.Gabriel olhou para o policial com furor assassino.
- Por que vocês não podem ficar de boca fechada? - Ele levantou Marisa nos braços e carregou-a para fora da biblioteca,o robe arrastando pelo chão.
Deitou-a na cama e foi buscar um copo de água.Quando ela abriu os olhos ele estava inclinado sobre ela,olhando-a receoso.
- O que vamos fazer Gabriel?
- O que tiver que ser feito. - Sentou-se ao lado dela na cama,passando o braço sob sua cabeça para erguê-la e fazendo com que mechas dos seus cabelos se espalhassem sobre seu braço.
Em pequenos goles,ia fazendo Marisa beber água e ela tossia,quando não conseguia engolir direito.Seu coração batia com força,mas ela se sentia fraca e seus lábios pareciam gelados contra o copo.
-Não vou agüentar se alguma coisa acontecer ao meu pequeno James!
- Sei disso. - Gabriel falou suavemente,tirando o copo de sua boca e colocando-o sobre o criado-mudo.Endireitou o corpo para que ela se recostasse sobre ele,com a cabeça em seu ombro.Acariciava-lhe os cabelos com uma das mãos,o que lhe dava um grande conforto físico,que ela aceitava com ligeiro temor.
- Ele é tudo que eu tenho.
- Vamos trazê-lo de volta para você - prometeu,continuando a acariciar seus cabelos.
- Acho que não conseguiria viver sem ele.
- Como você acha que eu me senti nesses dois anos? - Ele levantou-lhe o queixo com uma das mãos, olhando-a bem fundo nos olhos - Toda manhã eu acordava e me perguntava como seria outro dia sem você.Os dias foram intermináveis e as noites,verdadeiros infernos.
- Sinto muito,eu... não pretendia fazê-lo infeliz.
- Infeliz? Meu Deus,a palavra não chega nem perto do que sentia.Você nunca ligou para mim, não é? Se ligasse,não teria fugido daquela maneira.Por que casou comigo, se não me amava? Foi o dinheiro? Acho que não,porque você não parece se importar com dinheiro.Eu praticamente tive que força-la a aceitar meus presentes.
- Dinheiro não traz felicidade,apenas facilita algumas coisas. - Marisa suspirou,desviando o olhar do dele - É evidente que não me casei com você por dinheiro.
- Por que,então?
- Quando eu era pequena,minha família nunca parou muito tempo num lugar,tudo a minha volta estava sempre mudando.Nunca consegui me sentir presa a um lugar,pertencendo a esse lugar,a alguém ou a alguma coisa.Quando você me pediu em casamento eu sabia que nunca ia me sentir pertencendo a você,que ia ser como quando eu era criança, mas eu não podia lhe falar sobre isso porque você nunca me dava atenção.
- Você nunca me disse nada.Perguntei-lhe um montão de vezes o que havia,mas nunca me respondeu.Você se limitava a olhar-me com esses seus olhos azuis enormes e nunca proferia uma única e maldita palavra.
- Tentei,mas as palavras não saiam.Não conseguia acreditar em você.
- O que quer dizer com não conseguia acreditar em mim? Não podia acreditar que eu amava você? Como é que podia duvidar disso? Estava disposto a lhe dar a lua se você me pedisse.Desde o primeiro minuto em que a vi, você nunca mais saiu da minha cabeça.Nunca mais parei de pensar em você. Acordo de manhã e você é a primeira coisa que me passa pela cabeça.Quando vou para a cama, você é o meu último pensamento antes de dormir.Sonho com você,penso em você,de dia e de noite.Como pôde duvidar do meu amor? Não consigo entender,Marisa!
- Mas até quando isto vai durar? - Marisa chorava,a garganta apertada,dolorida pelo peso de tantas lágrimas reprimidas.
- Até quando? Que pergunta mais boba é essa? Você não se deu ao trabalho de esperar para ver,não foi?
Marisa teve a impressão de que todo seu corpo se endurecia de repente para depois,pouco a pouco,recomeçar a sentir o sangue correr nas veias,pelo corpo inteiro enquanto repetia,várias vezes mentalmente as palavras de Gabriel.Ela nao havia esperado para ver.Com medo de que o amor de Gabriel não durasse,preferiu deixá-lo a viver a amargura de ver seu amor por ela chegar ao fim.
- Você quer dizer que foi por isso que me deixou? - Gabriel perguntou,atônito.Seus olhos e feições cuspiam fogo. - Você então quer me dizer que fugiu por não confiar no meu amor por você?
- Não podia acreditar...
- Meu Deus do céu. - Gabriel murmurava com o braço apertado ao redor dela.Pegou-a pelos ombros sacudindo-a e curvando-se sobre ela,furiosamente. - Sua idiota,mas você está completamente louca.Não podia ao menos me fazer saber do que se tratava,o que havia de errado com você? Em vez disso preferiu me deixar esses dois anos em absoluto tormento por ter resolvido nessa sua cabecinha louca que eu deixaria de amá-la?
- Sinto muito - Estava aterrorizada com a violência do rosto e do tom de sua voz.
- Eu poderia matar você. - Gabriel ameaçou,sacudindo-a ainda com violência.
Apesar de branca e trêmula,não fez nenhum esforço para libertar-se.Limitou-se a observá-lo,aterrorizada.
Durante um momento ele também permaneceu observando o medo nos olhos dela, a palidez de sua pele e o tremor em todo seu corpo.Lutando para controlar-se,apertava os dentes.Soltou-a finalmente e levantou-se,virando-se de costas para ela.
- É uma pena você não ter aparecido nesses dois anos,é uma pena você ter sumido sem uma palavra sequer...mas ...pelo menos agora,você falou.Não há maneira de provar a você que eu a amo ou que vou continuar amando.Acho que você não conhece as coisas mais elementares do amor.Amar envolve confiança,mas sua mente estreita não parece capaz disso - Ele virou e olhou novamente para ela com frieza. - Nunca pensei que eu fosse capaz de deixar de gostar de você,Marisa,mas agora,neste exato momento,acho que é possível - Virou-se e caminhou pelo quarto até a porta,saindo e batendo-a atrás de si.
Marisa ficou perplexa,em silêncio,fitando a porta por onde ele tinha saído e sentindo-se muito mal.

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