Nostalgia



Capítulo 9 – Nostalgia



 The Beatles - Here comes the sun




A cabeça dela encontrava-se recostada na janela do avião. Uma moça muito bonita, de longos cabelos castanhos e cacheados, que agora se encontravam por sobre o rosto da garota. Rosto este, aliás, que parecia ser de uma boneca de porcelana; raríssima. Mas que agora dormia tranquilamente, já que havia saído de madrugada de seu apartamento para viajar à Londres. Sua boca, entreaberta, fazia com que o vidro da janela ficasse embaçado levemente.

Até que um aviso vindo em alto e bom som da aeromoça, dizendo que logo pousariam, despertou-a de seu leve sono. E após colocar o cinto e espreguiçar-se, um sorriso formou-se em seus lábios rosados. Logo estaria de volta à sua terra-natal! E com essa volta, reencontraria grandes amigos que deixara por lá há anos. Há 8 anos. Como será que todos estavam? Será que a receberiam bem, depois de tanto tempo sem notícias? E como estaria o seu melhor amigo e sua antiga paixão adolescente? Estaria bem? Estaria solteiro, namorando ou até mesmo... Casado? Eram tantas perguntas! Mas nenhuma fora respondida a tempo, pois o avião acabara de pousar e sua ansiosidade em sair dali e reencontrar seus amigos era muito grande.

Após pegar as suas malas e descer a escada rolante, Hermione correu com dificuldade até a saída do aeroporto de Londres Heathrow. Sempre tumultuado, lembrara Hermione. E, com os olhos fechados, aspirou com vontade o ar; o ar da Inglaterra, do Reino Unido. E aquele cheiro, juntamente com a umidade quase que constante do vento, era extremamente convidativo à garota. “Um sinal de boas vindas”, pensara.

Chamou um táxi e, após colocar com bastante dificuldade todas as suas bagagens no porta-malas do carro, sentou-se no banco traseiro e indicou o endereço da casa de seus pais. Estava abandonada há anos, já que seus pais mudaram-se juntamente com ela para a França. Lembrara-se que a última vez em que passara o natal em Londres fora a 5 anos atrás, quando tinha 20 anos; agora, com 25, as lembranças daquele natal pareciam ser tão distantes... Como se tivessem ocorrido há tanto tempo que nem seria capaz de se lembrar com clareza. As únicas lembranças que lhe vinham com uma clareza absurda eram as dos 17 anos que havia morado ali; e as dos 7 anos que passara naquele internato, Hogwarts, juntamente com seus dois amigos: Harry e Rony.

Foi quando olhou para a janela do carro e percebeu que o taxista já havia percorrido com rapidez os 24 km que os separavam da cidade londrina; passou a admirar Londres e ver lugares que, para ela, davam uma enorme nostalgia: o Palácio de Buckingham, o London Eye, o Big Ben, o Parlamento, o Palácio de Westminster... Aquilo tudo lhe remetia às lembranças do que havia vivido naquela cidade. Cidade que amava. E uma chuva rápida começou a cair, para a sua alegria. Lá em Paris, não era tão costumeiro chover como em Londres; e este era somente um dos muitos motivos para Hermione gostar tanto de sua cidade: ela amava aquelas chuvas repentinas e, por muitas vezes, rápidas e até mesmo contínuas. E do mesmo modo como se surpreendera com a rapidez do taxista em ter atravessado 24 km, surpreendeu-se novamente por logo ela haver chegado em sua casa. Em sua antiga casa.

Olhando o relógio, percebera que ele percorrera tudo aquilo em uma hora em meia. Estranhou, mas logo riu consigo mesma. “Devia estar tão absorta em minhas lembranças e tão admirada com Londres que nem percebi o tempo passar!”, pensou. Então, pagou o taxista pela corrida e ainda lhe dera um extra por tê-la ajudado com as malas, que estavam incrivelmente pesadas. E olhou, impressionada, a frente daquela casa em que morou durante 17 anos: a pintura, azul clara, continuava ali, apesar de estar descascada em alguns locais; as janelas de vidro continuavam intactas e sem nada quebrado, mas muito empoeiradas; o jardim de sua casa, antes muito bem cuidado, bonito e com a grama bem aparada, parecia mais um matagal ressecado; as pedras laranja que iam de encontro à porta da frente, fazendo uma espécie de trilha até lá, estavam com pequenas rachaduras.

- É, muita coisa tem de ser feita por aqui! – Comentara Hermione, colocando com dificuldade a chave dentro da fechadura enferrujada. Contanto, após abrir a porta que rangeu de modo estranhamente incômodo, sua surpresa fora maior. Tudo continuava intacto ali em sua casa. Empoeirado, mas intacto. Exatamente como havia deixado anos atrás. As cortinas eram as mesmas, os móveis eram os mesmos, os aparelhos eletrônicos eram os mesmos, os retratos e pinturas penduradas na parede também eram os mesmos... Hermione passava por tudo aquilo tocando levemente com os dedos. E a cada toque, uma lembrança remota, que logo se tornava clara demais, passava por sua mente, fazendo-a sorrir.

Olhou os retratos: em um deles, via-se bebê, muito sorridente e banguela; em outra, estava engatinhando; em mais outra, estava em seu aniversário de 3 anos, ao lado de seus pais que mostravam sorrisos incrivelmente brancos e perfeitos; numa que encontrava-se ao redor de uma enorme moldura, estava com 6 anos nos Alpes Suíços, esquiando; n’outra, via-se com 9 anos em seu aniversário, novamente ao lado de seus pais.

Mas o retrato que mais lhe chamou a atenção era uma enorme, que se encontrava acima da lareira e tomava um grande espaço ali: eram três fotos em uma, mescladas de uma forma muito bonita. Na primeira, estavam ela, Rony e Harry com 11 anos, sorridentes na Estação de King Cross com as vestimentas de Hogwarts; na segunda, estavam os três novamente, com 14 anos, na Copa Mundial de Futebol, fazendo caretas engraçadas; e na terceira, estavam os três vestidos formalmente, no baile de formatura em Hogwarts, aos 17 anos. Em todos aqueles momentos, estivera feliz. E sempre ao lado deles, de seus amigos de infância, tão fiéis e unidos. Suspirara ao pensar em como conseguira sobreviver tanto tempo sem a presença tão agradável deles.

Lembrou-se, então, de Charlie. Tinha que ligar para ele, avisando que havia chegado bem em Londres e de que estava com saudade dele. Muita. “Tenho que colocar uma foto de Charlie aqui. É a única que falta para completar!” pensara mais uma vez. Desde a primeira vez que o vira, ele se tornara o mundo para ela. Adorável e lindo eram as primeiras palavras que ela usaria para descrevê-lo. “Ele iria adorar estar aqui, ao meu lado, e conhecer Londres!” pensara novamente.

Desanuviando e parando de pensar em Charlie por alguns instantes, subira as escadas. A madeira rangia à medida que ela subia, fato que a impressionou, já que antes ela não soltava rangidos quando morava por lá. E o assoalho também, notara. Então, percebera que os papéis de parede em sua casa (papéis que ela adorava, só pra notificar) eram os mesmos e não estavam danificados:

- Bem, melhor assim. Menos uma coisa para reparar! – E foi em direção a uma porta que ficava no final do corredor. Ao abrir, tossiu levemente devido à poeira que o local possuía. Era o seu quarto e continuava do mesmo jeito que havia deixado: as duas e enormes estantes de aço continuavam com os seus livros prediletos e muito bem organizados; seu guarda-roupa branco, agora vazio; sua cama de casal, feita de pinho, que continuava do mesmo jeito e com as mesmas fronhas e colchas; um aparelho de som, muito moderno na época, perto de sua cama; e por fim, seus dois criados-mudos, que continham em cima um abajur, canetas, papéis e mais um porta-retrato dela, só que com uma foto sua ao lado de Gina Weasley, sua melhor amiga na adolescência. Na foto, ela estava com 16 anos e Gina com 15, abraçadas e sorrindo no dormitório das meninas em Hogwarts. Ao olhar tudo aquilo, um enorme sorriso formou-se em seu rosto, apesar da poeira que o local continha lhe dar acessos de tosse.

Percebendo que logo contrairia alguma doença respiratória se continuasse naquele quarto (e naquela casa), desceu rapidamente as escadas e saiu apressada de sua antiga residência. “Tenho que fazer uma limpeza e algumas reformas nessa casa urgentemente!”, pensara Hermione, após tossir novamente. Mas, e agora? Onde iria ficar? Até que se lembrou de um lugar muito aconchegável, onde sempre se sentia bem. Onde sempre se sentia em casa, em família.

E este lugar era “A toca”.


* * * * * * * *


“É, acho que agora ficou melhor!”, pensava Gina, enquanto terminava de pentear sua franja lisa para o lado esquerdo. Contrastava muito bem com o seu cabelo curto, na altura dos ombros, e repicado nas pontas. O suéter vinho que usava combinava perfeitamente com os seus cabelos ruivos, que estavam num vermelho quase assemelhado ao sangue; a calça jeans e a bota preta completavam o visual; nada de maquiagem, exceto pelo brilho que ressaltava os lábios vermelhos e provocantes de Gina. “Um visual muito bonito e não muito chamativo para quem vai às compras”, pensara novamente, dando mais uma olhada no espelho. Até que uma voz chamou lá de baixo, na sala, com certa irritação:

- Anda logo, Gina! São 10: 30h e quero chegar em casa antes do almoço! Se você continuar nessa rapidez, vou chegar depois do jantar! – Reclamava Luna, já arrumada e impaciente, batendo o pé variadas vezes no chão enquanto esperava Gina.

- Eu já vou, sua agoniada! Aff... – Gina respondera de seu quarto, terminando de colocar um brinco na orelha esquerda.

- Você diz isso há mais de meia hora!Vamos logo, Gina! É pra hoje! Aliás, é pra ontem, vamos! – Gritava Luna, impaciente.

- Gina, você não está escutando a Luna, não?! DESÇA DAÍ AGORA!!! – Berrara Molly, assustando Luna devido ao grito ter se ecoado pela casa inteira. E voltando-se para Luna com um sorriso, dissera-lhe tranquilamente:

- Não se preocupe, ela irá descer num instante! – E voltou para a cozinha, para terminar de cozinhar o almoço. E dito e feito, Gina aparecera segundos depois de Molly tê-la gritado. Luna, com uma cara de poucos amigos, dissera:

- Até que enfim, hein, Gina?! Pensei que não fosse mais sair de lá!

- Que exagero, Luna! E ainda por cima, mamãe gritou daquele jeito que eu odeio...

- Sabia que ‘cê só tinha descido por causa disso. Senão eu ainda ia estar aqui, te esperando, enquanto você ia ficar fazendo cera e...

- Blá, blá, blá... Pára de falar e vamos logo! Depois sou eu quem fica fazendo cera! – Reclamara Gina, divertida. Luna, então, pegou a bolsa que estava em cima do sofá e retrucara:

- Tá bom, tá bom. Mas que você demorou, demorou! – E Gina, ouvindo isso, sorrira debochadamente, enquanto Luna lhe mostrava a língua. Mas a campainha e soou e Gina, estranhando por não estar à espera de uma visita, fora atender. Quando abriu, viu uma mulher muito bonita, de belos cabelos castanhos e ondulados, usando uns óculos escuros, que indagara:

- Gina?

Aquela voz lhe era familiar. A própria pessoa lhe era familiar, mas havia algo nela que não a fazia reconhecê-la. Gina, parando de pensar, afirmara:

- Sim, sou eu. Você me é familiar, mas... Desculpe-me, não estou te reconhecendo.

- Já devia esperar por isso... – Dissera a mulher, com um sorriso torto - Deve ser porque passei muitos anos fora daqui. Mas somos grandes amigas.

Aquela voz lhe era muito familiar. Gina sabia que era inglesa, mas o seu sotaque estava levemente modificado, talvez devido aos anos que passara fora. E, ao ouvi-la falar, lembrou-se de Fleur, mulher de seu irmão Gui. E lembrou-se que Fleur é francesa. Logo, aquela mulher vinha da França.

- Oh, não! – Exclamara Gina, com os olhos marejados e emocionando-se – N-Na- Não pode ser... – Gaguejou Gina, assustada. Não podia ser ela... Podia?

- Gina, o que foi? Quem é que tá aí na porta? – Perguntou Luna, se postando ao lado de Gina com uma cara curiosa. E viu a bela mulher que estava porta, notando que aos pés dela encontravam-se malas enormes. E a achou muito familiar também.

- Luna? É você? – Perguntou a mulher, abrindo um sorriso de orelha a orelha.

- Você me conhece? – Perguntou Luna, agora mais curiosa.

- Muito bem, até! Estudamos no mesmo internato. – E a mulher olhou então para Gina, que estava com os olhos assustados e cheios d’água. Perguntou:

- Você está bem?

- Es-estou...

- Ainda não sabe quem eu sou? – Insistiu a mulher, ansiosa. Gina, então, lembrou-se mais uma vez de que a única amiga que possuía fora e na França era...

- Mi-Mione? – Após ouvir isso, a mulher balançou a cabeça, afirmando, e tirou os óculos escuros, revelando seus olhos castanhos. Um enorme sorriso de alegria e lágrimas de felicidade compunham seu rosto. Luna e Gina, alegres em revê-la, foram abraçá-la, as duas também se debulhando em lágrimas de felicidade:

- Demorou pra cair a ficha, hein, Gina? – Brincara Hermione

- Você se mudou há tanto tempo e nunca mais mandou notícias... Por isso custei a acreditar que fosse você! – Respondera Gina, sorridente

- Sem contar que você mudou muito! Tá muito bonita! Só o jeitão intelectual e sério que continua o mesmo! – Falara Luna, de um modo divertido, fazendo Hermione sorrir. Logo, aquele abraço acabou e Hermione perguntou:

- Vai me convidar pra entrar ou vamos ficar aqui fora mesmo?

- Oh, desculpa! Fiquei sem reação! Entre, entre! – Dissera Gina, alegre, dando passagem para Hermione. Foi quando prestou atenção no chão e nas malas que estavam ali – Pelo visto, você trouxe Paris toda pra Londres, não? Essas malas são enormes!

- Também não é pra tanto, né? É que resolvi me mudar definitivamente pra Londres. – Respondeu Hermione, séria. Luna, estranhando aquilo, perguntou:

- Mas... Você já... Você já construiu uma carreira bem sólida por lá, Mione! Ou eu estou errada?

- Não, Luna! Está certíssima. Já tenho meu próprio apartamento, tenho um ótimo trabalho numa das melhores clínicas do país, sou bastante requisitada, recebo um salário bem gordo... Não tenho muito do que reclamar com relação a isso. – Respondia Hermione, enquanto carregava uma mala para dentro da Toca. Gina, intrigada, indagou:

- Então... Qual o motivo da mudança definitiva?

- Existe um momento em sua vida em que tudo muda drasticamente. Eu somente estou fazendo com que essa mudança não seja tão dolorosa para mim. – Respondeu Hermione, tornando suas feições alegres em tristes, repentinamente. E isso não passou despercebido para Luna e Gina, que não haviam entendido muito bem a explicação de Hermione. Resolveram, então, mudar de assunto e passaram a ajudá-la a carregar as malas:

- Nossa, Hermione! Acho que você não tá trazendo Paris pra Londres, não! Está trazendo a França toda pra Londres, isso sim! – Exagerou Luna, carregando com dificuldade uma enorme mala vermelha. O comentário fez Hermione rir e Gina, por sua vez, retrucara:

- Ah, pára de reclamar, Luna! Desde manhãzinha que você só reclama, puxa! Tá pesado, mas nem tanto. – E após dizer isso, Gina colocara os malotes que carregava em cima do sofá e gritara no mesmo tom que sua mãe fizera há poucos minutos:

- MAMÃE, OLHA SÓ QUEM TÁ AQUI!

- Nossa, o que foi Ginny? Quem é que... Hermione? Hermione, é você mesmo, minha filha?! – Perguntou Molly, alegre ao ver aquela moça tão bonita e tão séria ali, na sala de sua casa. Contanto, logo o jeito sério da moça abrandou, que foi ao encontro da Srª. Weasley, abrindo os braços:

- Sou eu mesma. Será que é tão difícil de acreditar nisso?! – E Molly, ao ouvir aquilo, abriu um enorme sorriso e abraçou-a.

- Oh, minha filha, sentimos tanta saudade sua... Nunca mais mandou notícias! – E ao sair daquele abraço tão caloroso, Molly passou a reparar em Hermione – Está maior, mais bonita, elegante... Mas muito magra, minha filha! O que você andou comendo por lá, hein?! Foram aquelas lesmas e queijo mofado, não foram?

Ao ouvirem isso, as meninas não puderam deixar de rir abertamente. E após a insistência de Molly Weasley, Hermione foi comer um prato bem reforçado na cozinha. As meninas, abandonando a idéia de irem às compras, decidiram acompanhar Hermione e comerem, também. E enquanto comiam, conversavam sobre a viagem dela. Depois, as três foram para o quarto de Ginny, enquanto relembravam os momentos que haviam passado juntas em Hogwarts. Passaram-se horas e horas, e as três não paravam de conversarem e rirem. Em pouco tempo, Hermione já estava a par de tudo o que tinha acontecido enquanto esteve fora, e Luna e Gina também já sabiam das aventuras e peripécias de Hermione em Paris. Até que Luna olhou as horas em seu relógio de pulso e assustou-se:

- Caramba, já são 18: 15h! Tenho que me arrumar pra jantar com o Neville!

- Ah, tudo bem, pode ir. A gente se vê amanhã e você conta o que de tão importante ele quer te dizer! – Falou Gina, com um sorriso contido e sincero.

- Ainda não me acostumei com a idéia de que você e Neville estão namorando. E há três anos, ainda por cima! – Comentou Hermione.

- Não esquenta. Eu também não havia me acostumado com a idéia no começo. – Respondera de modo bem divertido Luna, que continuava com seu distraído e lunático de sempre – Mas espero que a situação de namorados avance logo para algo mais sério. Não dá pra viver só de namoro.

- É o que nós esperamos também, né, Hermione? – Desejara Gina, voltando-se para Hermione, que consentiu com a pergunta dela – Agora, vá pro seu jantar, você já está atrasada pra se arrumar.

- Bem, até logo! E sorte pra você em sua mudança para Londres, Mione! – Despediu-se Luna, abraçando as duas amigas e saindo do quarto de Gina apressadamente. Hermione, então, tomou coragem e perguntou uma coisa que estava louca para saber:

- Ginny?

- Hum...? – Resmungou Gina, um tanto quanto desinteressada, procurando alguma coisa no seu telefone celular.

- Talvez você ache estranho eu estar falando disso com você só agora, mas é que eu queria ter essa conversa a sós com você. Só nos duas.

- Manda. – Pediu Gina, ainda desinteressada, procurando algo no telefone celular.

- É relacionado ao seu casamento com o Harry.

No mesmo instante que Hermione dissera o nome de Harry, Gina deixou o celular cair. Ela notara a surpresa e o susto que perpassou pelos olhos da ruiva. Sentiu-se culpada e foi pegar o celular, que estava debaixo da cama e levemente arranhado na carcaça. Entregou a Gina, desculpando-se:

- Desculpa, eu... Eu não sabia que isso ainda te afetava tanto. Podemos falar disso depois, quando você...

- Não precisa se desculpar. Este assunto não me afeta nem um pouco – Cortou Gina secamente e procurando fazer a sua feição se tornar a mais neutra possível – Podemos falar disso quando quiser.

- Então, o quê te assustou tanto?

- O nome dele. Não escuto o nome dele há 2 anos e meio. Proibi que o pronunciassem aqui em casa. Evito ao máximo qualquer assunto relacionado a ele. Por isso o espanto. – Respondera Gina, sendo sincera desta vez – Mas... O que você quer saber sobre isso, exatamente?

- Muitas coisas. – Dissera Hermione, olhando profundamente nos olhos de Gina - Você já descobriu o motivo dele ter te aban...

- Não, não descobri ainda. E nem quero descobrir. – Gina cortara novamente, olhando profundamente para Hermione, que estava assustada pela rapidez de Gina em responder a pergunta. Prosseguira:

- E você já tem alguma notícia dele, onde ele está morando, o que está fazen...

- Também não. A última informação que obtive a respeito dele foi que está morando no Canadá desde o dia do casamento. Só. – Mais uma vez, Gina respondera antes mesmo de Hermione terminar a pergunta. Ainda mantinham o contato pelo olhar. “É óbvio que Gina ainda sente alguma coisa por Harry”, pensara Hermione. Continuou, então, com o interrogatório:

- O quê você sentiu quando soube que...

- Dor, raiva, desilusão, decepção, tristeza, solidão... Muita, muita coisa. Mas isso era o que mais sentia e o que mais me corroia por dentro. – Gina parecia saber o que Hermione iria perguntar, como se fosse algo muito previsível. Ou então só queria acabar logo com o assunto. Pelo menos eram essas as explicações mais plausíveis para estar dando respostas tão curtas e rápidas, evitando que Hermione terminasse as perguntas. É, ela sentia alguma coisa por Harry, sim.

- E você ainda sente algu...

- Nada. Decepção, raiva, frustração, talvez. Mas o que eu tinha de bom dele, as lembranças de tudo o que vivemos, isso acabou. Agora é passado e tenho que tocar a minha vida pra frente. E eu tou conseguindo fazer isso muito bem, até. – Respondera Gina, agora demonstrando segurança. Olhava e sorria para Hermione de um modo franco, fazendo com que a castanha desistisse das perguntas, enfim.

- Bem, vamos pra minha casa? – Perguntou Gina, assumindo um ar mais alegre.

- Mas nós já estamos na sua casa. – Respondera Hermione, estranhando a pergunta.

- Não, estou falando da minha casa, que eu comprei. É lá onde vivo, só venho aqui de vez em quando. E então, vamos?

- Vamos! Mas... Você não tinha me contado nada sobre essa casa.

- Ah, desculpa. Acho que é porque eu já não a encaro mais como uma novidade.

- Tranqüilo. – Dissera Hermione, enquanto Gina ligava para alguém. Foram para a sala, e Molly passou a fazer umas perguntas sobre o trabalho de Hermione:

- E então, Hermione, formou-se em quê?

- Medicina. Mais especificamente, na área de Neurologia. – Dissera Hermione, com orgulho.

- Quer dizer que temos uma Neurologista na família? – Brincara Molly, fazendo Hermione corar e sorrir – Não fique assim, minha filha. Apesar de você não ter o nosso sangue, consideramos você como da família, ok?

- Obrigada, Srª. Weasley. Sinto-me honrada com isso.

- Mas, continuando, trabalhava onde?

- Numa das melhores clínicas de lá, St. Marie. Fiz minha fama e hoje sou considerada uma das melhores neurologistas da Europa!

- Que bom, minha filha! Fico contente com isso!

- Sabia que já possuo mestrado? Era muito mais avançada que os outros alunos e consegui ser mestre em muito pouco tempo, aos 24 anos. Agora, estou me preparando para fazer doutorado. – Comentara Hermione, muito mais orgulhosa com seu feito e fazendo Gina e Molly impressionarem-se. Até que uma buzina chamou a atenção das três.

- Ah, deve ser Chris.

- Quem é Chris, Ginny?

- É um taxista, grande amigo meu. É ele quem vai nos levar pra minha casa. Tchau, mamãe!

- Tchau, Srª. Weasley.

- Tchau, minhas filhas. E diga a Chris que mandei lembranças à mulher dele e às crianças. E que apareçam mais vezes por aqui.

- Direi, mamãe, direi. – E, carregando com dificuldade duas malas de Hermione, gritou para o homem que estava dentro do carro – Chris, dá uma ajudinha aqui!

- Só se for agora! – Falou, enquanto pegava as malas que já estavam do lado de fora da Toca. E fez isso com todas as outras, colocando-as no porta-malas. Até que sentou-se no banco do motorista novamente e viu que Gina e sua amiga estavam sentadas no banco de trás, a espera dele:

- Boa noite!

- Boa noite! – Disseram as duas, em uníssono, enquanto Chris tirava o carro dos arredores da Toca. Gina continuou:

- Mamãe mandou lembranças à Katherine e aos meninos. E disse para aparecerem mais vezes lá em casa.

- Irei aparecer, com certeza. Os meninos adoraram o Jorge! E pra onde vamos, Ginny?

- Pra casa. Ah, e quero que conheça uma grande amiga minha: Hermione Granger, este é Christopher Gallagher. Christopher Gallagher, Hermione Granger.

- Olá, Christopher.

- Pode chamar de Chris, se quiser. Está de mudança, Hermione?

- Estou. Bem, já tenho uma casa aqui na cidade, só que esteve abandonada durante muito tempo e precisa de umas reformas e de uma limpeza. Ah, e de uma dedetização, também!

- Sei bem como é isso. E enquanto isso, vai morar na casa da Gina...

- Isso mesmo. – E foram conversando, se conhecendo, até que chegaram na casa de Ginny. Despediram-se de Chris e Hermione pode, enfim, ver a casa dela. Lilás, pra variar. À primeira vista, parecia ser grande e bem bonita. Possuía um jardim muito bem cuidado, cheio de lírios, tulipas e rosas. E ao entrar, adorou ainda mais o lugar. Era bem espaçoso e a decoração era de muito bom gosto. A sala era aconchegante, com um enorme sofá branco, uma poltrona reclinável da mesma cor e uns três pufs coloridos ao redor; tinha também uma enorme televisão de plasma, com um home theater e vídeo-game ao lado; também tinham um aparelho de som de última geração. Ao redor, estavam fotos de Gina e Rony desde crianças até a idade atual. Olhou, então, para uma foto de Rony: estava com o cabelo bem curtinho, meio que arrepiado, e a barba por fazer. Estava bastante charmoso com o terno azul que trajava na foto. “Encantador, como sempre”, pensara Hermione com um sorrisinho bobo no rosto. Dissera, então, à Gina:

- Muito bonita a sua casa. Muito mesmo.

- Isso é porque você ainda não viu tudo. Mas... Quem é mais bonito, a casa ou o Rony?

- O Rony... – Dissera Hermione, distraidamente, ainda olhando para a foto. Mas, após se dar conta do que dissera, desculpou-se – Oh, não foi isso que eu quis dizer... É que... Que eu...

- Não precisa se desculpar. Eu entendi muito bem o que você quis dizer... – Dissera Gina, risonha, ao ver o embaraço de Hermione – Sabe, ele esteve te esperando durante todo esse tempo.

- Verdade? – Perguntou Hermione, curiosa.

- Verdade. Desde que você se foi, ele só namorou uma única vez com a grudenta da Lilá. Depois, desistiu. Está te esperando, depois de todo esse tempo – Hermione sentiu remorso ao ouvir isso. Ela não o esperou – Ele vai ficar louco de felicidade quanto souber que você está aqui.

- E ele mora aonde? Na Toca?

- Não. Comigo. Dividimos a casa e as contas juntos. Sabe como é, meu salário como jogadora profissional é bom, mas nem tanto. E ele ganha muito bem como engenheiro civil.

- E que horas ele chega? – Perguntou Hermione, ansiosa.

- Geralmente, ele chega tarde. Trabalha muito. Aliás, é o que ele mais tem feito desde que você se mudou. Vamos, não quer conhecer o resto da casa e o seu quarto?

Gina, então, mostrou o resto da casa para Hermione, que olhava impressionada para tudo. A casa era muito boa e muito grande, com dois quartos, duas suítes e um banheiro. Sem contar na cozinha, na despensa, no escritório e no quintal. Era um sonho. Então, as duas fizeram um lanche, assistiram TV e conversaram por mais um tempo, até que o sono e o cansaço bateram em Hermione. E dormiu ali mesmo, no sofá. Gina não teve coragem de acordá-la e somente pegou um cobertor e cobriu-a. Foi ao seu quarto dormir, cansada de esperar Rony. Já era 22: 15h, logo ele apareceria. E teria uma bela surpresa.


* * * * * * * *

Rony chegara cansado do trabalho. Eram 22: 25h e só queria saber de comer alguma coisa, tomar uma ducha bem quente e dormir. Abrira a porta da casa cuidadosamente e entrou na sala incrivelmente escura. Andou lentamente, procurando não fazer ruído para acordar Gina, que tinha sono leve. Tirou o paletó e foi até a cozinha, onde acendeu a luz. Preparou rapidamente um sanduíche de queijo e presunto, mas quando foi até a sala para comer assistindo à TV, qual não foi sua surpresa ao ver uma mulher ali, deitada, dormindo tranquilamente!

Aproximou-se lentamente dela, e percebeu que era muito bonita. Mas, ao olhar mais detalhadamente o rosto dela, percebeu que ela não era somente muito bonita: ela era Hermione. O grande amor de sua vida.

Quase deixara o sanduíche cair de sua mão, devido ao espanto. Porém, o espanto deu lugar à calma e à felicidade que se instalavam em seu peito. Ela havia voltado! Voltado para Londres! Voltado para ele! Sentiu uma enorme vontade de abraçá-la e enche-la de beijos e carinhos, de dizer o que sentia por ela e o quanto a amava. Mas ela parecia tão frágil e serena dormindo, que não teve coragem de acordá-la. Uma idéia tomou conta de sua cabeça e, para proporcionar mais conforto à ela, pegou-a no colo com cuidado e, vagarosamente, carregou-a até um dos quartos, subindo cada degrau da escada com bastante cautela. Não tirava os olhos dela!

Até que chegou a um dos quartos desocupados e colocou-a confortavelmente na enorme cama que havia ali. Colocou um cobertor ao seu redor e, não resistiu, depositou um beijo na boca da castanha. Um beijo casto, mas cheio de amor. Depois de alguns segundos, sussurrara-lhe no ouvido:

- Boa noite. – E já ia saindo do quarto quando ouviu uma voz preguiçosa chamando-lhe:

- Rony?

Era ótimo ouvir a voz dela novamente. E pronunciando o seu nome, soava-lhe como uma música; uma bela música entorpecente.

- Sim?

- Senti saudades. Muita. – Dissera Hermione preguiçosamente, de olhos fechados. Um sorriso delineava levemente seu rosto. Rony, abrindo um sorriso também, respondera:

- Eu também senti. Muita. Sonhe com os anjos.

- Sonharei com você. – Respondera Hermione, ainda de olhos fechados. Céus, ela não sabia o quanto ouvir aquilo lhe fez bem. E fechou a porta do quarto. Hermione, então, passou a mão direita rapidamente por sua boca rosada. Não acreditara que aquilo havia ocorrido, e sorriu novamente. Já Rony se esquecera do banho e da comida, e fora dormir. Somente o fato de Hermione ter chegado era bom por si só, quanto mais tê-la beijado. Havia ganho o dia, com certeza. Mas agora, o que ele mais queria era dormir. Dormir e sonhar com sua Mione, enquanto o dia de amanhã o aguardava. Com certeza, ele iria amar passar o sábado inteiro ao lado dela; ao lado de Hermione. Com certeza...




* * * * * * * *




N/A: Como vão meus caramelos prediletos? Espero que tenham gostado da volta de Hermione! E do rápido encontro dela com Rony (breve teremos mais e longos encontros deles, aguardem), também. Só vou agradecer aqueles que votaram na fic, pois agora são 16 votos. Obrigada por tudo e por acompanharem minha humilde fic. E pra quem quiser me adicionar no orkut ou no msn, os links tão no resumo. É só avisar que é meu leitor da FeB que eu adiciono!

Carpe Diem

Hannah B. Cintra

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