Tudo se aprende...trabalhando.



Photobucket


-Caderno de esportes?

-É.

-Mas você merece coisa bem melhor! – exclamou Rachel estupefata brincando com a comida no prato chique do restaurante.

-Eu sei Rachel. Mas a Winelmina falou que se eu me saísse bem nesse emprego, eu poderia ser promovida. E eu não vejo nada de errado em trabalhar no caderno de esportes.

-O caderno de esportes é legal. É a Rachel que põe defeito em tudo.

-Cavalcanti, quem pediu sua opinião, hein?

Era sempre assim.
Se Rachel Roberts e Júlio Cavalcanti estivessem no mesmo lugar haveria brigas. Júlio era o melhor amigo de Evelyn e também trabalhava no jornal, no Caderno de Entretenimento. E até hoje Evelyn pensava porque os dois vivem implicando um com o outro.

-Parem os dois! Eu consegui um emprego finalmente!

-E o Joe já sabe? – continuou Rachel lançando um frio olhar para Júlio.

-Sabe de quê? Que eu consegui um emprego?

-Não, que você vai trabalhar no caderno de esportes e vai ver todo dia jogadores altos, ricos e gostosões?

-Não, eu não contei pra ele ainda. Mas eu não vou falar assim, desse jeito.

-Ah, você vai tirar a parte mais legal e emocionante, já sei! – se lamentou a amiga - Ele vai ter um treco quando souber.

-Nem me lembre.

O restaurante já estava vazio e a hora de almoço dos três estava quase acabando.

-Eu acho melhor irmos andando. A Eve não pode chegar atrasado no seu 1º dia.

Os três se levantaram, pagaram a conta, e saíram do restaurante andando pelas ruas da ensolarada Londres.

-Amanhã é sábado! Que tal irmos tomar um sol no Clube? –falou Rachel em um tom distraído.

-Não posso Rachel... Eu acho que amanhã eu vou ficar com o Joe.

-Mas você fica sempre com ele no final de semana!

-É natura Rachel... Afinal ele é o namorado dela. – opinou o moreno.

-Você e essa sua mania de ficar se intrometendo nas conversas alheias. Da um tempo Cavalcanti!

-O Júlio ta certo. Ele é meu namorado! É muito normal eu passar o final de semana com ele. – respondeu Evelyn cansada, ela sabia que a amiga já ia começar a critica-lo.

-Eu não sei como você agüenta... O Joe é um chiclete! Não larga do seu pé nunca! Se fosse comigo eu já tinha dispensando há muito tempo.

-Rachel! Não fala assim dele! Eu já te disse. – respirou profundamente e tentou se acalmar - Se você não parar vamos acabar brigando.

-É um instinto incontrolável o dessa mulher. - Rachel lançou um olhar fuzilador para Júlio - Está bem, não esta mais aqui quem falou. – disse derrotado.

O resto da tarde foi bem tranqüilo para Evelyn.
Tranqüilo não.
Muito bom.

Ela tinha uma sala própria. Evelyn quase chorou ao ver seu nome em inscrições douradas na porta de sua sala. Aquilo era tudo com que ela sonhava.
Não era um ótimo cargo, mas um cargo que abriria muitas portas na sua futura carreira. Afinal ela era uma estagiaria, mas tinha sua própria sala!
Sentou-se na sua mais nova cadeira e contemplou o céu de Londres: certamente nunca esteve tão bonito como agora.

O telefone toca.

-Alô? – murmurou ansiosa, seu primeiro telefonema.

-Srta O’Conell aqui é Alice sua assistente.

-Você será minha assistente? – perguntou descaradamente se lembrando da ruiva simpática que a tinha levado para a sala do Sr Jake Evans.

-Por enquanto. Até pegar o jeito da coisa. – respondeu docemente pela linha telefônica.

-Ah. E você pode me chamar de Evelyn sem problemas.

-Está bem, Evelyn... Domingo teremos uma reunião.

-Domingo?

-Exatamente.

-Eu trabalho aos domingos? – perguntou muito confusa. Joe iria mata-la.

-Não, essa será uma exceção. É que domingo é aniversário de um astro do Quadribol. Ele é muito popular e rico. E nós temos que fazer a cobertura da megafesta que ele dará. E quem sabe até conseguir uma entrevista antes, entendeu?

-Sim.

-Então Domingo ás duas horas da tarde. Combinado?

-Sim. – não podia recusar uma proposta dessas, Joe tinha que entender.

-Então até lá.

Evelyn colocou o telefone no gancho.
Parecia que ela teria mesmo que colocar a mão na massa.
Mas ela estaria preparada.
Levantou-se e foi até as persianas de sua sala.
O departamento já estava vazio. Voltou para sua mesa e começou a arrumar suas coisa, quando ouviu batidas na porta.

-Posso entrar?

Evelyn parou. Um homem alto e bonito estava parado a sua porta. Não tinha o visto antes. Passara praticamente o dia todo no departamento e não o vira? Isso era lastimável.

-Eu já estava de saída, mas tudo bem... Você pode entrar - Evelyn encostou-se à sua mesa e o homem entrou em sua sala - Meu nome é Evelyn O’Conell. – disse nervosa, ele era realmente bonito, os olhos âmbar brilhavam e refletiam a luz da lâmpada.

-É, eu sei, é o que esta escrito na porta. - Evelyn lançou um olhar de tédio para o rapaz - Ah... Meu nome é Caco Ricci. Eu sou tipo seu assistente.

-Meu assistente?

-É.

-Mas Alice tinha me dito que ela me ajudaria. – murmurou quase desejando que o telefonema de Alice fosse uma mentira. Espera, ela era comprometida, certo?

-Eu sei, mas é que ela é super ocupada e não vai dar. Já era pra ser eu, mas eu estava de férias na Itália. Acabei de chegar, então o Jake me ligou e disse que era pra eu te ajudar...e aqui estou eu.

Winelmina tinha dito a Evelyn que teria que começar de baixo.
Mas ela iria começar de baixo com estilo!
Já tinha sua própria sala e um assistente bonitão.
Assistente bonitão?
Esses não são pensamentos profissionais.

-Eu vou ser sua chefe? – perguntou observando cada pedaço visível do corpo dele, que era bem definido, e para o incrível cabelo que era castanho muito claro, quase dourado, e meio ondulado, parecia um anjo. Se bem que o seu sorriso safado não comprovava isso.

-Sim... E eu nunca tive uma chefa tão bonita assim. – disse galanteador com uma voz meio rouca, que fez Evelyn ficar vermelha.

-É obrigado, mas eu realmente estou de saída. Até domingo na reunião. – respondeu rapidamente.

Pegou sua bolsa saiu da sala em direção ao elevador.
Apertou o botão do elevador várias vezes como se aquilo fosse o fazer chegar mais rápido.

-Você realmente esta com pressa. Eu disse alguma coisa errada? – perguntou sorrindo maroto, meio safado.

-Ah... Claro que não. É que hoje... É... –Evelyn olhava para o assistente – ...aniversário da minha irmã. É isso.

-Ah.

O elevador chegou e ela entra seguida por ele.
A musica ambiente do elevador nunca fora tão chata assim.
Evelyn estava de braços cruzados olhando para o lado e Caco abrindo um leve sorriso e olhando pra frente.

-Você quer uma carona?

-Carona?

-É.

Ele tinha um tom de normalidade.

-Ah não obrigada. Uma amiga minha me dá carona.

Passam-se segundos.

-Esse elevador está lento. – disse para si mesma, sentindo um certo calor, estava abafado demais lá dentro, ou era só a sua impressão?

-Está como todos os dias.

-Sério?

Evelyn não sabia por que estava se sentindo e agindo assim. Afinal, arrancaria pedaço ser elogiada por outro homem?
Há muito tempo ela não era elogiada. Elogiada desse jeito.
Sem contar as cantadas que levava na rua “A forma que Deus te fez, jogou fora!” e os carros que passavam buzinando.

As portas do elevador se abriram e ela invade o saguão a passos rápidos. O mais rápido que seu salto fino a deixava dar.
Pelo canto do olho via o andar calmo do tal de Caco e o via sorrindo e balançando a cabeça.

Chegou à porta e lá estava Rachel na sua BMW prata.
Adiantou-se e abriu a porta do carro. Caco estava parado na porta.

-Até mais. – acenou aliviada por estar perto carro, queria ir embora logo.

-Oi Rachel!

-Oi Caco! Como foi de férias? – sorriu animadamente a morena para ele.

-Ah bem. To voltando a rotina.

-Ah é...

-Ah e parabéns pra sua irmã, Evelyn!

-Ah... Obrigada.

Rachel arqueou as sobrancelhas e olhou interrogativamente para Evelyn.

-Irmã?

-É...a...minha irmã – Evelyn puxou Rachel discretamente para dentro do carro. – Vamos?

-Claro. Tchau Caco!

Ela ligou o carro e começaram a deixar o prédio pra trás.

-Eu estou surpresa com você Eve!

-Com o quê? – perguntou sinceramente.

-Mal chegou e já conquistou um bonitão!

-Rachel! Não é nada disso. Ele é meu assistente.

-Assistente? Caco Ricci seu assistente?

-É.

-Queria eu ter um assistente desses. – murmurou Rachel sonhadoramente enquanto dava longas risadas.

-Ah, cala a boa e dirige! – resmungou com um sorrisinho no canto da boca.

x----x----x

Já se passavam das oito quando Evelyn chegou ao prédio onde morava.
Subiu diretamente para o seu apartamento.
Abriu a bolsa e pegou as chaves. Abriu a porta e deu de cara com o seu aconchegante apartamento.
Joe saiu da cozinha com um avental.
Ele era alto, porte quase atlético, de cabelo liso, castanho e brilhante, com olhos verdes expressivos.

-Por que demorou tanto assim?

-O engarrafamento estava horrível – falou Evelyn jogando sua bolsa no sofá e esticando-se na poltrona vermelha que tanto amava.

-Engarrafamento?

-Sim.

-Eu pensei que você aparataria ou usaria pó-de-flú.

-Na minha sala não tem lareira. E eu acabei vindo de carona com a Rachel mesmo. Passei tanto tempo em casa que quando saio estou esquecendo que posso aparatar.

-Hum. Conseguiu o emprego?

-Consegui! – cantarolou alegre, Joe sorriu e foi ao seu encontro para abraça-la e beija-la.

-Só tem um pequeno detalhe! – sussurrou entre os beijos com uma voz culpada.

-Que detalhe? – Joe interrompeu o beijo e a encarava com seus olhos verdes.

-É que consegui outra vaga, não a que eu pensei que fosse conseguir... – começou nervosa.

-E que vaga você conseguiu? – ela parecia suspeita, ele continuava a encara-la cada vez mais profundamente.

-É... No caderno de esportes. – falou de uma vez, incerta, seria pior se ela ficasse enrolando.

-Você vai trabalhar no caderno de esportes? Com todos aqueles homens? – seu olhar curioso passou em um instante para um furioso, seus olhos verdes flamejavam por dentro. Ele não queria que ela o traísse, e ele cuidaria pessoalmente disso.

-Também existem mulheres esportistas!

-Com tantos cadernos nesse jornal, você tem que ir trabalhar logo nesse? Eu estou de olho em você! – continuou desconfiado, com os olhos ardendo.

-De olho em mim? – perguntou Evelyn, parecia que tinha levado uma bofetada na cara.

-É.

-Joe que tipo de mulher você acha que eu sou? Eu não vou trair você com qualquer um. Eu já estou cansada dessa sua criancice e dessa falta de confiança. Você não confia em mim? Pois eu não vou sair do caderno de esportes. Foi a melhor coisa que me aconteceu. Queira você ou não. E se você esta incomodado com isso, eu só posso lamentar. A porta da rua é serventia da casa! – ela odiava que duvidassem de seus limites, ele estava indo longe demais.

-Você esta me mandando embora? – perguntou tentando controlar a raiva que crescia cada vez mais.

-Entenda como quiser! Eu só não quero mais esse tipo de conversa. Ou você muda ou é melhor acabar por aqui, pra que ninguém se machuque de verdade.

Ela passa por Joe em passos firmes e largos e se tranca no quarto.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.