O vermelho dos seus olhos



CAPÍTULO 8: O Vermelho de seus Olhos

26 de Outubro de 1996 – Sábado – Primeiro dia de lua cheia


O final da Avaliação de Habilidades Básicas de Waracnac ia chegando e a maioria dos alunos parecia ir razoavelmente bem. Os alunos se reuniram perto do lago para comentar como haviam se saído nas provas teóricas e práticas. Havia grande entusiasmo nos membros da AD, mesmo entre aqueles que tinham se assustado com a presença de um dementador no circuito, pois acharam o confronto com o Gato Preto muito mais enigmático e interessante.

Alguns contavam como tinham sabido diferenciar a criatura de si mesmos pelo brilho negro nos olhos. Outros estavam testando feitiços não verbais com tanto afinco(como o caso de Hermione) que não tinham realmente achado difícil vencer a batalha e nem perceberam a propriedade de cópia de feitiços do Animal. Havia ainda aqueles que, depois do Dementador, ficaram receosos do que viria a seguir e acertaram a cópia com feitiços mais potentes e ficaram desacordados, com furúnculos nos braços, dentes enormes, e alguns ferimentos leves, que tiveram de ser tratados rapidamente na enfermaria.

Mas repercussão da “Batalha contra Você Mesmo” ficou ainda maior quando alunos mais novos correram em direção aos sextanistas, alguns bastante alterados, narrando a retirada de Draco Malfoy da clareira do Gato Preto pela professora, acompanhado pelo diretor da Sonserina que o levou até a enfermaria. Alguns dos alunos que haviam passado na enfermaria para receberem atendimentos leves diziam que ele tinha as vestes sujas de sangue e um ferimento mal cicatrizado no peito.

Embora a prova tenha terminado logo antes do almoço, Acácia teve que deixar a desmontagem do circuito para depois, uma vez que teve de acompanhar Draco à enfermaria, conversar com Dumbledore sobre o ocorrido e mandar uma coruja aos pais de Draco. Enquanto fazia tudo isso, deixou o percurso isolado com um feitiço anti-curiosos. Harry, Rony e Hermione a seguiram durante todo o dia, despistando o máximo possível, fazendo turnos de vigia e usando a capa da invisibilidade sempre que necessário.

Não foi surpresa alguma a chegada de um furioso Lucius Malfoy no fim da tarde. E ele não se incomodou em procurar o Diretor. Foi diretamente até a sala da professora Waracnac.

Acácia estava em sua mesa placidamente e separava alguns papéis sobre a mesa. Harry, que estava num dos cantos da sala, sob a capa, sabia se tratarem dos testes escritos que eles fizeram pela manhã. Ela estava-os separando por ordem alfabética e começando as correções. Quando Snape deixara o aposento, meia hora mais cedo, Harry o viu argüi-la sobre a desmontagem do percurso. Ela simplesmente respondera:

-Lucius chegar aqui, é somente uma questão de tempo, Severus. Melhor que ele saiba onde me encontrar ou ficará ainda mais arrogante e insuportável, se existe a possibilidade.

Harry ficara imensamente satisfeito com a afirmação da madrinha. Ao menos alguma coisa ela sabia notar: A imbecilidade de um Malfoy.

O chefe da família Malfoy não se dignou a bater na porta. Adentrou na sala de Waracnac com extrema pompa e um olhar gelado que congelaria o inferno. Mas ele não esperava encontrar o mesmo gelo na pessoa à sua frente.

- Waracnac. – deu um sorriso levemente enjoado – Achei que sua idéia de felicidade encaixava-se em enfiar-se em um buraco na Bélgica ou em qualquer desses paisezinhos sem importância onde ninguém pudesse te encontrar. Deveria ter ficado por lá. O que a faz pensar que pode sujeitar meu herdeiro a tratamento de tal forma revoltante?

- Sente-se, Sr. Malfoy. – ela ofereceu-lhe a cadeira de forma cortês. – Como vê, minhas perspectivas de vida mudaram um pouco desde o dia em que recebi meu distintivo de monitora.

Lucius se sentou contrariado. Olhou à sua volta, medindo com os olhos todo o escritório de Waracnac, seu olhar parando mais demoradamente sob o pôster dos mais perigosos bruxos das trevas de todos os tempos.

Acácia esperou-o voltar sua atenção a ela antes de retomar sua fala.

-Creio que o Sr. Malfoy não veio a Hogwarts para traçar meu perfil de carreira, me engano?

- A professora deve explicações quanto à sua conduta com os alunos desta escola em sua dita “Prova de habilidades Básicas”. O que ocorreu com meu filho é somente um dos casos. Posso mandar uma carta ao Conselho Estudantil pedindo seu afastamento baseada na convicção de que sua presença nessa escola como professora é um risco a integridade física e moral dos estudantes. – ele sorriu maldosamente.

- Entendo seu ponto de vista Senhor Malfoy. – Harry achou que ela parecia levemente com sono, talvez entediada. – Porém, devo dizer que seu filho feriu-se única e exclusivamente por sua própria inépcia na execução da prova. Constava claramente nas instruções da prova escrita – e Acácia pegou um dos pergaminhos da prova escrita à sua frente, sobre a mesa e começou a citar o conteúdo do pergaminho:

Os alunos prestes a realizar a prova prática deverão observar os seguintes itens:

1. Não é permitido o uso de Maldições Imperdoáveis dentro do percurso, bem como quaisquer outros feitiços que visem o ferimento, morte ou extinção de quaisquer criaturas.
2. As criaturas postadas no percurso tem o único objetivo de testar a habilidade dos alunos, portanto o aluno que investir sobre elas de forma nociva e perigosa perderá pontos devido a sua conduta.
3. Em caso de desistência, receio ou medo do aluno, a professora, que acompanhará o teste via aérea intervirá em auxílio e a desempenho do aluno no teste será avaliada até o ponto de desistência.


- No Terceiro item, que fala da sua intervenção, Waracnac. O que você fez para impedir meu filho de ser atingido por um feitiço quase-letal? Isso é mais que motivo para sua “resignação” do cargo. – o Sorriso no rosto de Sr. Malfoy teimava em não esmorecer.

-Tanto você quanto eu sabemos que um feitiço lançado às pressas só pode ser identificado por terceiros pela cromaticidade no momento que o mesmo atinge seu oponente. Fiz o que devia ser feito. Cancelei o feitiço, tratei o ferimento e o tirei da prova.

-Posso fazer com que qualquer tribunal a condene por inaptidão didática e danos materiais. – Lucius se levantou e fez que ia dar às costas à professora.


Antes que ele pudesse dar um passo, Acácia se pronunciou branda, como se observasse um espécime de bactéria muito curioso:
-Não viria me ver se não estivesse interessado em negociar. Diga-me sua proposta e poderei pensar no meu posicionamento.

Lucius riu. A conversa tinha chegado exatamente onde ele queria. Todo homem tem seu preço.

Harry viu Malfoy retirar um envelope do bolso de suas vestes e o entregar à professora. Acácia o abriu e gastou pouco mais de um minuto para checar seu conteúdo. Como se tratasse com um vendedor qualquer, ela se virou para encarar o Sr. Malfoy:


- Infelizmente, Lucius, não posso dizer que temos um acordo. – Acácia levantou-se se dirigindo até a porta para abri-la.

Malfoy estava lívido.
- Você não durará aqui, Waracnac!


- Está me ameaçando Senhor Malfoy? – Harry viu o punho de Acácia se fechar sobre a varinha no bolso de suas vestes

- Interprete como desejar- Ele olhou-a ferozmente – Com licença, vou ver meu filho.

E com passos firmes e ressentidos deixou a sala sob o olhar aparentemente tranqüilo de Waracnac. Já Harry, aproveitou que a professora começou a guardar as avaliações para continuar a correção mais tarde e deixou a sala para encontrar Rony e Hermione. Acácia não devia demorar a sair para desmanchar o circuito da prova.

***
O trio seguiu Waracnac até o percurso da prova, onde ela cancelou a Barreira Anti-Curiosos o tempo suficiente para ela (e o trio) adentrarem o percurso. Os jovens observavam que Waracnac desfazia o percurso da prova em velocidade surpreendente, como se aqueles itens e obstáculos fossem antigos conhecidos seus, brinquedos de criança.
Logo só restavam o Copycat e o Dementador.

Acácia chegou até a clareira e Harry viu o gato preto novamente. Imediatamente, Harry viu o gato tomar a forma de sua madrinha.

Ela fez uma pequena reverência para sua própria cópia enquanto sacava a própria varinha:

- Não sei quando terei nova oportunidade de enfrentar um autêntico “Copycat”. É uma honra desafiá-lo para um combate.

E finda a reverência, Harry mal pode observar as ações e ouvir as palavras que a madrinha murmurava. Era tudo tão rápido que os garotos não saberiam explicar o que ocorria. Harry a viu conjurar feitiços que jamais imaginara; contra-feitiços complicados, desviar-se com giros de corpo e saltos ágeis. Não importava a cópia. Waracnac lutava contra ela mesma e seus próprios limites. Conjurava esferas de água, que congelava no ar em forma de estalactites e as projetava contra ela mesma e as transmutava em areia. Levitava a areia e montava uma tempestade que, quando a circundava perto demais, era repelida e se tornavam esferas de luz brilhante. Nem se podia dizer que aquilo fosse um treino.
Era um espetáculo. E Harry só vira algo assim no fim do ano anterior. Na luta de Voldemort contra Dumbledore.

Quando ela se deu por cansada, andou em direção a sua cópia entregou a ela o que os três observadores supunham ser comida. No momento seguinte o gato preto estava de volta, devorando avidamente o que quer que fosse.

Ela acarinhou o gato na cabeça.
- Obrigado pelo treino, meu caro. Estou ficando enferrujada.
E colocou nele uma coleira de ouro egípcia cheia de inscrições, que Harry imaginou que seria para ele não se transformar.

Guiou o Copycat para sua gaiola dourada e adentrou um pouco mais no percurso do teste. Era a vez do Dementador.

Ainda meio ofegante do esforço, Harry viu Acácia entrar no alcance do dementador. E ele veio. Postou-se diante dela, a cerca de 20 centímetros de sua face incólume. Ela o encarou, aparentemente sem medo algum.

-Você fez sua parte. Pode tomar seu pagamento.

dem

Com essa ordem, o trio viu abismado o dementador circular a professora Waracnac. Harry sentia o tempo esfriar, mas surpreendentemente, não perdeu a esperança nem a felicidade. Parecia que o dementador concentrava-se exclusivamente em Acácia.

Após alguns segundos ele parou novamente cara a cara com a professora. A mão parecendo apodrecida tocou a testa da mulher e o trio observou nitidamente a névoa avermelhada que parecia deixar os olhos da professora e dirigir-se para os dedos do dementador.

Assim que a névoa desapareceu o dementador se afastou e deixou os terrenos do castelo.

Acácia, em silêncio, voltou aonde deixara a gaiola, do gato e, carregando-a, retornou ao castelo.





***



-O quê exatamente foi aquilo? – Perguntou Rony ainda meio apavorado já de volta ao dormitório da Grifinória.

-Não faço idéia. – Harry disse desanimado se jogando sobre o sofá. – Mas tenho outra razão pra não confiar nela.

-Ela... Ela não quer sentir nada, Harry. O dementador não sugou dela só alegrias, ele sugou quase tudo. – Hermione concluiu. – Você viu como nossos sentimentos não se alteraram...

-Por que alguém iria querer não sentir? –Harry disse sem entender completamente.

Hermione nada disse. Sabia perfeitamente como era querer não sentir nada. Rony a fizera desejar isso tantas vezes! Não querer os momentos felizes para não ter de recordar os desencontros e as tristezas que deles advinham. Não ter que pensar no que podia ser, no que devia ser. Meninos... Eles jamais entenderiam...

Silenciosamente, Hermione subiu para seu dormitório.



***

Snape estava nervoso. Primeiro, passou três noites da semana no laboratório de Waracnac, acompanhando com ela os progressos nas dosagens dos ingredientes e seus efeitos nas cobaias, que morriam aos montes. Pela manhã de Domingo, acordou cedo com uma coruja de Lucius Malfoy, exigindo que ele cuidasse de Draco e procurasse retaliar as ações de Waracnac e ainda, se necessário, depusesse contra ela num processo bruxo.

Depois, Dumbledore o chamara para conversar sobre a repercussão do ataque de Hogsmeade nas forças de Voldemort e seus atuais movimentos. Levantado os dados mais importantes, o velho o pediu para comparecer frente à Ordem da Fênix naquele fim de tarde e dar uma explanada geral dos últimos acontecimentos e movimentações do Lorde das Trevas. Não bastasse, a única pessoa que ele poderia desejar a companhia naquela reunião maçante e cheia de pessoas com quem ele não simpatizava, não iria. Não queria ver ninguém. E ainda por cima ela havia lhe dado a incumbência de devolver o “Copycat” ao Lobisomem.

INFERNO!

Insone, mal humorado e se sentindo um menino de recados.

Foi assim que Severus Snape chegou à reunião dominical da Ordem da Fênix, no Largo Grimauld número 12.

Quase ninguém ergueu os olhos quando Snape entrou. E houve um suspiro de desdém proveniente do final da comprida mesa de carvalho dos Black. Ele reparou a ausência de Remus Lupin, afinal a lua cheia havia começado no dia anterior e só terminaria no dia 2 de novembro. Severus se sentou rapidamente e depositou a gaiola coberta à seu lado direito. Recusou qualquer coisa para comer e, se virando para a cabeceira da mesa, que abrigava Dumbledore, disse:

- Podemos começar? – ele disse com sua habitual voz insossa.

Dumbledore assentiu com um leve movimento de cabeça.

Snape empertigou-se na cadeira e começou seu habitual relatório dos movimentos de Voldemort.

- Como já foi discutido, o Senhor do Escuro perdeu muitos jovens sob seu comando, que fugiram assustados após a repercussão do ataque de Hogsmeade. Estão surpresos de tudo não ser tão fácil quanto parece. – e riu-se cínico. - Mas isso não o intimida nem um pouco. Posso dizer que alianças com os bruxos do continente estão a ponto de serem forjadas e que precisamos urgentemente de neutralizar a ameaça. Parece que as alianças só não se tornaram efetivas porque o ataque à Hogwarts falhou. Os Comensais estão se preparando para um novo movimento onde possam provar seu “poder de fogo”.

- Onde e quando?

- Onde, eu não sei. Estou de fora da operação. Mas o quando eu posso esclarecer. Os planos apontam para a festa de Halloween.

- Então não esperamos outro ataque em Hogwarts?

- Seria mais inteligente abalar outro pilar mágico na Grã-Bretanha. Algum que seja mais frágil. –disse Dumbledore quase sorrindo.

- E se o ataque se desse de uma maneira mais sutil? Não podemos esperar que ele exploda metade da ilha que procura dominar. – completou Tonks.

- Temo pelo ministério. – Kingsley Shackebolt tomou a palavra. - Existem muitos departamentos para que possamos dar conta de tudo o que acontece por lá.



Como previra Snape, a reunião fora maçante e monótona, sem nenhuma novidade real e somente um monte de especulações. Já no final, organizaram turnos de ronda para os representantes da Ordem no Ministério, para que dessem alarme de qualquer atividade estranha nos próximos dias. Snape estava pessimista. O Ministério não tinha controle do que acontecia dentro dele e todos, sem exceção eram suspeitos. Tonks, Kingsley, Arthur não conseguiriam montar guarda em todos os setores. Era uma batalha perdida.



Todos se levantaram e rumaram para a saída. Mas quando faltavam apenas Dumbledore, Snape fechou a porta com um aceno de varinha.

-Tenho um assunto com você.

Dumbledore com uma expressão reprovadora:
-Não podemos tratar disso na escola?

- Prefiro tratar com você aqui. Pode haver algumas providencias de urgência a tomar.
Snape viu que Dumbledore não se opôs e se sentou novamente.

- Apesar de todas as vantagens do ataque de Hogsmeade, houve uma desvantagem. Chamou-se a atenção dele pra única pessoa que matou em combate: Acácia. E como o senhor deve saber, após o ocorrido com Draco Malfoy, Lucius tentou-lhe extorquir informações e agora vai intimar a escola. – e Snape estendeu ao velho homem um pergaminho com a caligrafia de Lucius.

Dumbledore observou com atenção o conteúdo do pergaminho. Então Tom Riddle estava interessado nas pesquisas de Waracnac, não só na atual, mas num histórico de tudo o que ela já havia feito de mais secreto na Bélgica. Isso podia ser perigoso. O velho guardou o pergaminho em suas vestes e voltou-se para o Mestre das Poções.

-Então ele está se movimentando. É questão de tempo até que ele vasculhe sua memória por essas informações. Converse com Acácia e estabeleçam uma importante pesquisa paralela que poderá interessar ao Lorde. Estive pensando se vocês começarem a propor uma poção que torne quem a tomar invulnerável à algum tipo de ataque.

-Isso é praticamente impossível, Diretor.

-Sim. Praticamente. Ele ficará interessado. – o diretor sorriu. – Mais alguma coisa Severus?

Snape estendeu a gaiola acenando ao diretor.
- Lupin está?

-Receio que Remus Lupin esteja pouco disponível para conversas no momento, Severus. Ele está confinado no antigo quarto de bicuço. Apesar da poção de Acônito permitir a ele entendê-lo, seu presente estado impedirá a existência de um diálogo, creio eu.
Snape sorriu com desdém.
- Tanto melhor.


Snape levantou-se e dirigiu-se à porta. Subiu as escadas que levavam ao quarto do Lobisomem de dois em dois degraus. A porta do aposento que deveria ser um sótão estava encostada. Ao entrar no aposento, ele visualizou a silhueta estranha que se sentava prostrada numa cadeira de braços atrás de uma mesinha. Severus caminhou na direção do monstro sem nenhuma sobra de receio. Depositou a gaiola sobre a mesa num gesto calculado.

O lobisomem curvado sobre a mesa ergueu seus grandes olhos amarelos e furiosos para ele.
-Ela me pediu para agradecer em seu nome. – a voz dele transbordava de asco. – Vocês e seus jogos pueris me cansam. Devo chamar um daqueles programas televisivos trouxas que unem casais em conflito?

- RRRRRRRRRRR Ranhoso! – O lobisomem conhecido como Lupin rosnou e se projetou para frente num gesto de ataque. Deu de cara com a varinha de Snape apontada para seu coração. Ele parecia visivelmente ansioso para usá-la. A fera parou ofegante.

Snape tinha Lupin exatamente onde ele queria.
-Agora você vai me escutar. – O professor começou quase que gentilmente, as farpas de ironia atiradas precisamente no alvo - Você é suficientemente estúpido para culpar-me por sua própria falta de bom senso. Tsc... tsc... – Seu ar era de um professor que está super contente por mandar um aluno particularmente chato para uma detenção. - Acha mesmo que eu estou tendo um caso com Waracnac? Acha mesmo que ela teria TEMPO pra vir aqui flertar com você se ela estivesse comigo?

Lupin em sua versão mais assustadora fez nova menção de ataque mas sentiu a varinha de Snape soltar-lhe um Impedimenta do qual Remus não pode escapar.

-Não se preocupe, meu caro, eu me contento com as “Boas lembranças” que tive com ela.

Lupin fez uma cara de indignação, se é que lobisomens conseguem transparecer indignação. E um novo e sonoro rugido da fera se fez ouvir em toda a mansão dos Black

Snape sorriu e aproximou sua varinha da Lupin, e ameaçou-lhe num sussurro meio rosnado:
- Se a magoar de novo, Lobisomem, se arrependerá de ter nascido.

E deixou a sala, batendo a porta atrás de si antes quer o efeito do feitiço passasse.

***


Harry passou todo o fim de semana com a visão de Waracnac e o dementador na cabeça. Aquilo era estranho demais, macabro demais. Ela estava escondendo alguma coisa. E como Waracnac não queria sentir, tudo parecia depender dele conseguir tirar a professora insípida do sério. Ele precisava desmascará-la antes que ela pudesse causar algum dano. Ela teria que professar sua lealdade a Dumbledore, ou à Voldemort. Não podia deixar mais ninguém correr riscos por causa de sua profecia. Ele precisava quebrar aquela máscara. Urgente.

Harry passou a tarde de domingo debruçada sobre a cena da Penseira que Waracnac lhe dera. O único momento daquela lembrança em que ela parecia se começar a se alterar era quando seus olhos pareciam emanar um brilho avermelhado, quase o mesmo brilho que ele presenciara ser sugado pelo dementador no dia anterior. Ele tinha que levá-la ao extremo. Mas não sabia como conseguir alterar o humor da madrinha. Muitos haviam tentado. E falhado consecutivamente.

Harry adormeceu ao lado da penseira, ainda pensando na idéia de irritar tanto a madrinha, que a mascara dela se quebrasse.

Nem percebeu que começara a sonhar.


Harry estava na sala de Waracnac. Ela estava imóvel em sua mesa. Seus olhos pareciam vazios e a expressão serena. Somente a visão dela já foi suficiente para deixar Harry irritado.

Ele se aproximou dela perguntando impaciente:
-Quem é você? O que você quer?

As mãos de Harry alcançaram os ombros da madrinha e ele notou que eram gélidos e duros. Pura porcelana.
Harry começou a esmurrar o manequim de Acácia até que ele começasse a apresentar algumas rachaduras.

A medida que as rachaduras cresciam uma luz alaranjada, como fogo, parecia querer sair do manequim inerte. A mão de Harry sangrou de chocar-se contra a porcelana e finalmente um buraco de cerca de um centímetro surgiu na altura do ombro direito. A abertura foi suficiente para produzir um enorme clarão que deixou Harry meio cego e meio zonzo.
E de repente as imagens pareciam voltar a formar-se com nitidez.

Harry percebeu-se em outro aposento, mais sombrio. E parecia também muito mais real que o primeiro sonho. Mal dava pra ver a assombrosa silhueta de olhos viperinos assentada numa espécie de trono. Havia outra figura ajoelhada a seus pés saudando-o.

A respiração de Harry entrecortou-se ao reconhecê-lo.

-Fico satisfeito, Severus, que tenha podido me dar informações tão detalhadas. Espero seus relatórios semanais sobre os progressos das pesquisas que estão ocorrendo em Hogwarts. Faça com ela o que for preciso, minta, tapaceie, manipule, sabote. Mas não deixe-a ter resultados. Enquanto eu tiver o controle, nosso exército será imbatível.

-Milorde, pode contar com minhas informações e lealdade. A arma que a Ordem da Fênix deseja controlar jamais será anulada.

-Por via das dúvidas, Lucius fará o possível para chantageá-la. Receio que ela tenha pouco tempo até que comece a trbalhar para nós, sem nem desconfiar disso.

Snape assentiu sorrindo maldosamente, ainda ajoelhado aos pés de seu mestre.

- Você é, Severus, meu servo mais fiel. Quando tomar o Ministério, terei grandes recompensas para você. Não me esqueço de seus serviços. Não fosse por você, Nunca teria sabido da profecia que me liga a Harry Potter.

Snape levantou-se.

-Sempre foi um prazer, milorde, mantê-lo informado dos movimentos de seus inimigos. Principalmente de pessoas tão irritantes quanto Potter e sua família.

Sem dizer mais Snape deixou o aposento com outra grande reverência.


Harry acordou com a cicatriz fervendo em sua testa. E um sensação de júbilo que ele sabia não ser dele tomou conta de seu ser. Ele sabia que aquilo não tinha sido um sonho.

Era real.


E Snape continuava a serviço de Voldemort.



Sentiu as mãos se fecharem com força enquanto ele formulava uma conclusão mental que o deixava ainda mais furioso:
Fora Snape, seu tão odiado professor de Poções que relatara a profecia responsável pela morte de seus pais ao Lorde das Trevas.
A ferida da perda dos pais que nunca teve a oportunidade de conhecer voltou a sangrar. E em plena madrugada um garoto muito confuso sentiu-se desejando a morte de um professor, uma maneira de vingar sua família. A culpa era dele, por isso ele odiava a Harry e toda sua família.

Como Dumbledore podia confiar tanto em um homem tão sórdido come Severus Snape?

Como sua madrinha podia ser amiga dele?

Foi aí que algo mudou.



Harry sentiu-se feliz de certa maneira. Ele descobrira como tirar a madrinha do sério. Se Waracnac se importasse realmente com sua mãe, a traição de Snape seria a chave para provocá-la.



***



Na segunda feira após o jantar, Harry pegou aquele caldeirão lacrado e se encaminhou até a sala de DCAT. Entrou sem bater. Acácia Waracnac estava em sua mesa corrigindo os testes e não fez nem menção de notá-lo muito embora o garoto tivesse se sentido observado por ela desde que entrara.

- Suas lembranças. – Harry depositou o caldeirão sob a mesa desleixadamente.


Acácia o olhou demoradamente.



- É o suficiente? – seus olhos encararam a madeira da mesa.

-Não. – Harry tentou ao máximo forçar o mesmo tom insensível da professora

- E o que seria? –As mãos da professora se entrelaçaram diante do nariz da mesma.

- Pra você, - Harry forçou o descontrole e começou a gesticular amplamente - NADA! Você estava certa, não acredito que minha mãe pudesse ser sua amiga. Se ela fosse realmente sua amiga, você não a teria traído de modo tão baixo.

- Especificamente, do que você está falando, Harry?

-É POTTER pra você! –o rapazola urrou.

-Você fala igualzinho à sua mãe – ela continuava calma – “Pra você é EVANS, Potter!” – o mundo dá muitas voltas, não é mesmo?

Harry não se intimidou. Sabia por onde seguir. Se conseguisse, matava dois coelhos com uma cajadada. Se ela estivesse mesmo do lado certo, acabaria com aquela amizade idiota de sua madrinha com o “Ranhoso”.

-Se você fosse a melhor amiga da minha mãe, não seria a melhor amiga daquele que foi o responsável pela morte dela! Foi o seu tão grande amigo, Severus Snape , quem contou pra Voldemort da minha profecia. E isso fez com que o senhor do escuro começasse a perseguir meus pais!! ELE foi o causador da morte dela! E você o trata como...

- Snape não faria isso... -ela disse sem se alterar

Harry se aproximou desafiador:

- Pode ler minha mente se quiser, professora.

Acácia se levantou de um salto e apontou a varinha prateada para Harry.

-Legilimens!

Acácia viu a profusão de imagens na mente de Harry. E como o garoto se concentrasse especificamente em uma, o “sonho” que tivera, ela foi direcionada até ela. E lá estava a prova. Fora realmente Severus Snape que escutara a profecia de Trelawney. Por que Dumbledore não lhe contara?

Depois de acessar a lembrança de Harry, Waracnac ficou como petrificada, sem ação. Lentamente a cor foi voltando à suas faces e Harry pode definir a sensação que sentiu ao mirar a professora como medo. Um medo insano do que viu. Embora a face de Waracnac se mantivesse calma como uma nuvem de algodão, seus olhos prenunciavam tempestade. E ele jurou tê-los visto piscar vermelhos.

- Venha comigo, Potter. – e desceu rapidamente rumo às masmorras segurando Harry pelo punho, com força.

A mão o arrastava para o dormitório do professor Snape. O garoto sentia as unhas dela machucarem sua carne através da camisa. Não havia cuidado ou gentileza. Havia ódio. Harry nem viu que a varinha prateada da professora faiscava. Ela parou na porta de Snape e tocou. Severus atendeu vestido com os robes da escola. Tinha uma cara cansada e cheia de olheiras, de quem não dormia direito à muitos dias.

-Boa noite Acá...



Boa Noite


Mais rápido que Harry pudesse notar, Snape foi arremessado contra a parede do fundo do quarto, ocasionando um barulho estalado de várias costelas se quebrando e um grito de dor mal contido pelo professor de poções. Só ai Harry notou que Acácia tinha se transfigurado. Seus olhos faiscavam e seu cabelo voava.

Acácia-Black Widow

HUNTER

I'll embrace the dakness
Step out of the light
Don't want the attention
Just want to fight


Eu abraço as trevas
Desvio meus passos da Luz
Não quero atenção
Só quero lutar


A parede onde Snape estava grudado tinha rachaduras em vários pedaços e um filete de sangue escorria da boca do Comensal.

Who cares about the bloodshed
I just want to feel alive
The thrilling chase, the final hit
It's where I truly thrive


Quem liga para o derramamento de sangue
Só quero me sentir viva
A perseguição emocionante, o golpe final
É onde eu verdadeiramente me desenvolvo


- Diga Severus, POR QUE VOCE ENTREGOU LÍLIAN À ELE???

E com um aceno de varinha, Snape tinha se chocado contra o teto e o chão em dois estrondosos golpes e agora pairava a uma distância de milímetros do rosto de Acácia, ofegante e fraco.

- Você matou nossa melhor e ÚNICA AMIGA!!!

My heart's accelerating
Blood rushing through my veins
The need to kill is so intense
Its driving me insane


Meu coração acelerando
Sangue correndo m minhas veias
A vontade de matar é tão intensa
Está me deixando insana


Snape sussurrava em meio ao sangue que saia de sua boca:

-Acácia... foi um erro... eu posso explicar...

E houve um tapa na face de Severus Snape.
- Você me TRAIU! Contou a ELE sobre as pesquisas!

The bloodlust taking over me
This fierce hunger has no name
Excited eyes now gleaming
A new target spotted for my game


O desejo de sangue me domina
Essa fome feroz não tem nome
Olhos excitados agora lampejam
Um novo alvo marcado para meu jogo


Outro aceno de varinha e o braço esquerdo de Snape estalou fortemente em dois lugares. O professor soltou um gemido de dor que deixou Harry apavorado.

-Disse... o que ele... precisava ouvir.

Lucky me, I found you
The first victim of today
So I'll be the hunter now
And you can be the prey


Minha sorte, achei você
A primeira vítima de hoje
Então, agora, eu serei o caçador
E você pode ser a presa


A insistência dele era inútil. Acácia estava impassível e começou a acariciar o rosto de Snape com as costas de sua mão direita enquanto falava:

- Eu nunca tive tanta vontade de matar alguém Severus Snape, como eu tenho de te matar agora... Devia ter terminado o que comecei à vinte anos...


E sorriu. Um sorriso sincero e mau.


O primeiro sorriso que Harry via de sua madrinha era uma expressão insana de um instinto assassino que parecia totalmente paradoxal de se aplicado em uma pessoa tão estável e fleumática quanto parecia Acácia.

O Mestre de Poções totalmente indefeso, gemeu. Harry percebeu que o professor o olhava com urgência:

- Potter... Não se atreva... olhar os olhos dela...Estupo...re...a

Nesse instante Harry horrorizado viu Acácia beijar Snape nos lábios, um beijo selvagem, urgente, que parecia sugar toda a vida de dentro do professor de poções. Os raios vermelhos que emanavam dos olhos de Acácia pareciam envolvê-lo e, em poucos segundos, o olhar aterrorizado de Snape se perdeu. Ele parecia vazio, totalmente absorto em retribuir aquele beijo intenso, que com certeza lhe custaria a vida.

Harry não acreditava no que via. Sua madrinha, melhor dizendo, uma legítima Viúva-Negra estava matando o Mestre de Poções do modo mais bizarro possível, bem diante de seus olhos. Começou a se sentir subitamente atraído pela situação. Rapidamente, lembrou das palavras de Snape e fechou os olhos com força, agachando-se ao lado da do pequeno móvel com gavetas que ficava perto da porta.

Ouviu o som de vestes se rasgando.

Subitamente, teve ânsia de vômito, mas antes que pudesse torná-lo real, tirou a varinha e, apontando para o lugar onde deviam estar Snape e Waracnac gritou:

Estupore!

ESTUPORE!

ESTUPORE!

Os corpos desacordados de Acácia e Snape tombaram em uníssono.



***


O quarto de Severus Snape estava uma total bagunça. A parede do fundo totalmente rachada soltava pequenos cacos e o pó se espalhava pelo assoalho. A cama de dossel tinha se partido em duas e as colunas que seguravam as cortinas jaziam inúteis no chão. O próprio encontrava-se desacordado com o robe da escola rasgado e sem camisa, o braço que ostentava a Marca Negra dobrava se em lugares e ângulos estranhos. Ele estava deitado sobre o torso quase nu de uma linda mulher de cabelos negros e vestes salpicadas de sangue. Ela também estava desacordada. A única pessoa com uso de suas faculdades mentais naquele aposento era Harry Potter. E ele estava parado de pé diante da porta e olhava a cena com um misto de terror e incredulidade.

Passaram-se alguns minutos até que ele conseguisse se mover até os dois e checar que ambos estavam respirando. Pensou em chamar o diretor, mas achou que não queria dar explicações sobre o que acontecera lá. Aproximou-se de Snape e puxando-o até o que restava do acolchoado da cama, tentou fazê-lo acordar. Parecia a Harry um pouco mais lógico acordar Snape primeiro, afinal, não era ele o louco irrefreável que quase desintegrou o quarto em pouco menos de 2 minutos, muito embora Harry não esperasse boa coisa quando o mesmo acordasse.

Snape estava muito ferido. Harry sentiu uma pontada de medo ao pensar na possibilidade que seu professor poderia estar fraco demais para acordar. Mas ele o fez alguns minutos depois, e em estado de alerta.

-Potter.. Pegue pra mim... a poção roxa na sala anexa.

Harry andou até a sala e procurou em meio a muitas poções embaladas uma que fosse roxa. Ouviu a voz nervosa se Snape gritar quase sem forças.
- Estúpido... a que está no caldeirão! Duas conchas.

Harry se sentiu tentado a não atendê-lo por ter sido chamado de estúpido. Mas quando ouviu o uivo de dor do professor correu e despejou 2 conchas da poção sobre um cálice e levou pra ele.

Depois de tomar a Poção, Snape levantou-se com dificuldade e com a respiração entrecortada, e foi até sua varinha. Com pequenos acenos e feitiços de reparo, foi aos poucos reconstruindo o aposento até que ele pudesse ser chamado novamente de quarto. Aplicou um mobilicorpus em Acácia e a depositou sobre a cama reconstruída. Vestiu sua camisa e consertou seu robe. E conjurou ataduras para seu braço quebrado, que deveria ser levado à madame Pomfrey. Em seguida voltou ao seu estoque e bebeu o conteúdo de mais umas duas ou três poções que Harry supôs serem pra recobrar a energia que a professora sugara dele. Depois olhou com desdém para Harry e disse quase sorrindo apesar da dificuldade:

- Vamos amarrá-la na cama e vendá-la. – afirmou fraco - Temos que amansar a fera. – e olhou raivoso para Potter enquanto tossia sangue – Você começou isso. Será que tem coragem pra terminar?

Sem dizer palavra Harry ajudou. Fez o feitiço Encarcerous e em pouco tempo Acácia estava totalmente desarmada e não parecia representar perigo para os dois.

Foi Snape quem pegou a varinha:

- Enervate!

Acácia acordou, mas não parecia de maneira nenhuma mais calma do que alguns minutos atrás. Sua voz era sibilante e feroz:

- Abra meus olhos Severus! Eu não terminei com você! Eu... Eu confiei em você! Lílian confiou em você! – ela debatia-se na cama na tentativa de remover a venda.

- Como eu ia dizendo antes de você me interromper tão rudemente... Boa noite Acácia. – ele ajeitou a manga das vertes como se estivesse se arrumando para um passeio dominical - Embora me sinta realmente tentado, (cof) Acácia, eu prefiro olhar pra você quando seu olhos são lindamente azuis. E como não temos muito tempo até que eu ceda à tentação de te libertar, me escute. - E respirou com dificuldade - Evans foi um erro.- Ele completou a sentença de modo taciturno.

- Não ouse pronunciar o nome dela seu...- Acácia se debatia mais.

-Silencio- Snape segurava a varinha apontando-a para o pescoço de Acácia, e com o cotovelo do braço atado e quebrado, pressionava a madrinha de Harry contra o colchão com todas as forças que lhe restavam ao mesmo tempo em que ocultava sua própria careta de dor.

- ME ESCUTE! – e continuou, lívido - Você, mais que ninguém sabe por que diabos eu entrei para os Comensais da Morte! Não foi a melhor escolha. Mas uma vez que se entra nesse jogo, sair ileso não é mais possível. É praxe entre os Comensais desconfiar da lealdade alheia. O Lorde não costuma ser misericordioso em seus castigos, veja o que aconteceu com Régulus. O Senhor do Escuro fica bem parecido com você quando está zangado, às vezes bem pior. – Snape esfregava o braço esquerdo na região da Marca sob as ataduras.

Achei, que relatando aquela profecia não estaria fazendo tão mal, eram SÓ PALAVRAS. Não fazia idéia de que se referia à Evans, e tão pouco sabia que ela morreria por isso. Eu tentei avisá-la. Segui os Potter durante um ano, sempre os indicando a mudar de esconderijo pouco antes de serem atacados, avisei Dumbledore. Mas quando eles fizeram o Feitiço Fidelius perdi o contato. Potter Não confiava em mim, porque isso era muito conveniente e me expulsou de sua casa um mês antes do incidente, com ajuda do idiota do Black. Ele também proibiu Lílian de me mandar corujas, creio que à você também... Foi a última vez que os vi.

Acácia parara de se debater. Seu peito arfava ruidosamente. Snape voltara a tossir e novamente suas mãos estavam sujas de sangue. O Professor de poções tomou fôlego e continuou:

- E quanto às pesquisas, conversei com Dumbledore, ele nos propôs uma distração. Ele não sabe a verdade, não sabe sobre você. Isso não redime o que fiz nem o que ainda vou fazer, mas só posso desfazer um pouco do mal que ele nos causar. Quero vingar Lílian tanto quanto você... – A respiração de Acácia foi acalmando. Harry notou que as vendas sobre os olhos de Acácia formavam grandes manchas molhadas. – Eu fui tão impotente quanto você, Acácia. Lílian também conquistou a minha amizade. E eu também a perdi.

A respiração de Acácia voltava ao normal lentamente, como se o tom insensível de sua tez voltasse aos poucos.

Harry não sabia o que pensar, o que falar. Aquela era sua madrinha de verdade. Abaixo da máscara de porcelana.

Queria estar longe dali.

Queria não ter visto nada daquilo, não se sentir culpado pelo que aconteceu. Mas permaneceu imóvel até que Snape retirou o feitiço silenciador e Acácia murmurou, já em seu tom asséptico usual:

-Severus, me desculpe... Eu quase matei você de novo, não?

Snape olhava muito desconfortável para Potter, como se sentisse nojo dele:

- Não se preocupe, eu realmente mereci, desta vez. Felizmente, o Herói Potter a estuporou a tempo.

-Harry...- ela pareceu se lembrar que o menino presenciara tudo - Ele jamais me aceitará como madrinha depois disso...- disse numa voz calma e impotente - Lílian, por que você tinha que exigir tanto assim de mim?

Harry, totalmente embasbacado abriu a porta , que ele mesmo fechara quando entrara, e saiu lentamente do quarto onde estavam Snape e sua madrinha ainda mirando as duas silhuetas desfiguradas, se amparando uma à outra. Finalmente fechou a porta dos aposentos do Mestre das Poções.


E correu.


Correu como nunca pelos corredores do Castelo até a sala de Waracnac, que ainda estava aberta. Só queria uma coisa lá de dentro. Um caldeirão e uma lembrança.






Mal chegou a seu dormitório, Harry selou o acesso à sua cama com um feitiço. Não queria que ninguém o incomodasse. Suas mãos nervosas pelo choque percorreram as runas que brilharam e revelaram a abertura da tampa da penseira. Sem pensar duas vezes ele tocou o liquido prateado borbulhante.


Estava de volta naquela mesma masmorra cheia de papéis, instrumentos, caldeirões e aranhas. Percorreu os aposentos rapidamente e sentiu a falta de hospitalidade do lugar. Aproximou-se da jovem Acácia que estava sentada junto a alguns papéis. Harry os olhou rapidamente sobre os ombros da madrinha. Eram anotações dela dizendo respeito á formulação da poção do Mata-Cão. Em vários locais do pergaminho, que estava escrito com usual tinta negra, ela adicionara lembretes com tinta cor de sangue. Uma delas dizia: “Provado em março de 1977 por Acácia Waracnac e Remus Lupin na Casa dos Gritos” o dedo indicador esquerdo de Acácia tocou levemente o pergaminho.

TOC. TOC.

Ela se levantou tão de repente, de varinha em punho para atender à porta, que Harry não conseguiu desvencilhar-se dela. Mas quando seu corpo atravessou o da Acácia-lembrança Harry sentiu sua pele arder e uma multidão de sentimentos intensos demais para caberem em uma só pessoa.

Ele não conseguia compreender. Já estivera em lembranças antes, á atravessara outros seres nessas lembranças. Mas a sensação era fria, como a de encostar-se a um fantasma. Porém, a Acácia-lembrança queimava em sentimentos.

Acácia passou por onde Harry estava e olhou pelo visor da porta

-Ahn. É o Senhor, professor... Como conseguiu vir aqui? – Harry aproveitou enquanto Acácia tirava a chave do bolso do avental para abrir a porta e a tocou de leve no ombro. Queria ver se não estava imaginando coisas. Imediatamente, ele for invadido por uma forte ansiedade, saudade e empolgação que não transpareciam em qualquer gesto de Acácia.
Harry teve uma súbita vontade de abraçar Alvo Dumbledore.

- Como estão as pesquisas, Acácia? – Professor Dumbledore começou com seu olhar triste enquanto entrava na sala. Ele abraçou a garota que não se moveu.

Mas Harry sentia em sua mão esquerda, que atravessava o tórax de Acácia, um aperto de angústia e de felicidade ao mesmo tempo. Ela falou de seus progressos de forma calma, mas Harry sentia uma espécie de empolgação e paixão indescritível.

- Você tem tomado as bolhas?

- Ás vezes. Tenho aprendido a me controlar. Aqui é bem tranqüilo, normalmente não tenho problemas. É só não ter emoções muito fortes.- A mão de Harry estremeceu-se. - Mas sempre levo uma comigo no caso de me alterar.

-Então tome-a, não tenho boas notícias. – A seriedade de Dumbledore refletiu os sentimentos represados de Acácia que fizeram o tremor que se concentrava-se na mão de Harry atravessar todo o seu corpo. Aquilo era o sentimento de medo, de um mal presságio.

Ela se sentou após tomar uma das bolhas. Harry percebeu que o tremor continuava, embora tivesse diminuído em cerca de 10 vezes sua intensidade.

- Lupin? – A mão de Harry aqueceu-se levemente.

- Não. Os Potter. Eles foram mortos... por Voldemort... Sinto muito, Acácia. – Dumbledore suspirou. Harry sentiu sua mão queimar violentamente e a retirou de dentro do tórax da Acácia-lembrança. Doía muito, mais do que qualquer dor que Harry já sentira na vida.

Harry viu Acácia pegar a carta de Lílian e encarou Dumbledore esperando que ele desmentisse a notícia.

- O Bebê sobreviveu, Acácia – Dumbledore continuou – ele está em Little Whining agora.

Harry não tinha coragem de tocar a lembrança de Acácia novamente

- Você não devia deixá-lo lá, Dumbledore.- Petúnia é o ser mais desprezível que conheci. Ela vai tratá-lo do mesmo jeito que tratava a irmã ou pior... Sirius é o padrinho dele e...

Quando Dumbledore contou sobre Sirius, Harry teve a certeza de que não era só impressão, ela tinha voltado a se sentar por que realmente se sentia sem forças.

Alvo... Eu o criaria como um filho. –Harry tapou os ouvidos. Sua mão ainda queimava da dor de Waracnac. E parecia que cada palavra dela a fazia latejar dolorosamente. Ele não queria escutar mais nada.

- Você e Lupin não têm condições de criar o menino...
Os dois têm maldições terríveis pra se preocupar. Se o menino viesse pra sua casa... Por que você não poderia mais ficar morando aqui... – ele disse passando os olhos pela masmorra que tinha uma cama improvisada numa das paredes - Você não poderia continuar com a pesquisa, além de por em mais risco ainda a vida dele.

Harry entendeu. Como uma Viúva-Negra e um Lobisomem podiam criar uma criança? A poção do Mata-Cão nem havia sido inventada. Ela precisava ser inventada. Para que pelo menos alguém pudesse se preocupar com o menino.

E é melhor que ele não saiba da nossa existência até que chegue o tempo de ir para Hogwarts. No entanto, você deveria vê-lo pessoalmente quando chegasse a hora. De preferência quando for extremamente seguro para você.

E Harry tocou os cabelos da Acácia lembrança. Nesse instante sentiu um pesar enorme. Uma certeza horrível de que nunca seria seguro para ela. E sua mão queimou novamente e a dor foi tão insuportável que Harry foi jogado no chão da lembrança, à frente de Waracnac, quando Acácia já não suportava mais e ele tão pouco.

-DROGA! MALDITO O DIA EM QUE RECEBI ESSA BOLSA!

Ele viu então os olhos vermelhos de Waracnac de frente. Então tudo pareceu inútil. Não havia vida, nem esperança. Só havia Ela. Ela era o meio, o começo e o fim.

Ela se levantara e fez menção de derrubar todos os vidros de sua mesa de poções quando Dumbledore, sem olhar pra ela segurou-lhe o braço.

Harry demorou até voltar a si.

- Você ainda não tem controle total sobre suas ações, Acácia. O máximo que iria fazer seria matar todos os homens do centro de pesquisa e morrer de exaustão em seguida...

- Mas eu me sinto à parte, impotente, Dumbledore...

- Chegará o dia em que você poderá usar todo o seu poder como arma, Acácia... Enquanto isso, continue se preparando...

Dumbledore abraçou Acácia novamente. Novamente ela não reagiu. Mas Harry pode entender enquanto era transportado de volta ao presente que a partir daquele dia os olhos estupidamente azuis de Acácia Waracnac tinham perdido uma parte vital de seu brilho.


Ele estava em sua cama empapado em suor. A penseira fechada. Seu braço latejava. E Harry soube que não dormiria aquela noite.

A voz de Acácia ressoava em sua mente:

“...só depois de você expor todos os seus pré-julgamentos e puder colocá-los na balança, aí sim você abrirá um espaço ínfimo, onde eu talvez possa te fazer compreender o meu lado. Que não é o seu... e que jamais será sequer parecido com ele...”


Fim do Capítulo 8

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RESPOSTA AOS COMENTÁRIOS

Kikawicca- Devo dizer que o período "Severo de ser" teve muito a ver com a confeccção deste capítulo, principalmente das imagens. A capa eu sai escaneando e brincando com uns trabalhos meus e aí deu nisso! E a atualização demorou, mas CHEGOU! Agora é bola pra frente!! E OUtra enquete de ilustrações! Tive um baita problema com a descoberta de um furo de roteiro com aquela informação da profecia e tive que ficar buscando ssoluções... isso gastou um tempão! e outro tempão foi pra fazer o SDiálogo "SnapeX Lupin" que inicialmente era pra ser um diálogo, mas depois que eu conferi o calendário lunar de 1996, percebi que nosso lobinho iria estar num estado perigoso no dia do diálogo (Sim, eu sou Obcecada por furos de roteiro e repasso a mesma cena na cabeça mil vezes até decidir que ela está a contento...)

Gabriele Black- Bom! espero que você tenha gostado da ilustração que você votou! Sim, sou eu que as faço. E essa em questão é unicamente manipulação fotográfica no photoshop.quis que ficasse algo entre foto e desenho. Bom... Torcer pra quem é complicado... afinal temos um empasse. Viúvas-negras não costumam ser clementes com os parceiros... quanto ao conteúdo do papel, Deu pra ter uma boa idéia após a conversa do snape com o Dumbly, não? Mas o Lucius ainda vai levar essa picuinha adiante, só pelo prazer de irritar... Eu acabo fazendo piadas sobre os meus momentos críticos. Isso tira a chance de outros fazerem isso por mim e me deixarem desconfortável... ^^ Sei que sou estranha...

Claudiomir - Minhas gripes também são extremamente raras. mas uma desse jeito eu só tive a mais de 10 anos... Agora que já estou boa, deu pra terminar o capítulo beleza, e acho que quebrei novo recorde de páginas! ^^ Você sabe como é, a gente empolga! Snape de Touca... isso vai ficar pra história! o Dia em que me sentir inspirada e particularmente malvada eu ilustro isso! deu pra entender porque a cácia não quer sentir nada, né? Ela tem medo de sair do próprio controle...




Notas da Autora:


Quem será que adivinha qual foi o feitiço que o Draco lançou no Copycat? hahaahahah

E Lucius Malfoy vai aprontar confusão... pode crer....

E, de volta com o Copycat! Espero que tenham gostado da “palhinha” da Acácia em combate sério...

A Hermione realmente entende de sentimentos... Às vezes eu acho que ela devia ter dado aquela “sessão de socos”do Livro 7 BEM ANTES!

Me deu até pena de escrever esse Snape cansado e insone, mas ele, quando se dedica, se dedica. Mas agora também descobrimos porque ele não estoura com a Acácia...

Snape e Lupin... Farpas até não acabar mais... E isso porque o Lobo ficou caladinho! ^^

O Harry é bicho mais enxerido do planeta! Será que ele sabe que quase pôs fim não só na vida do Snape, mas na dele própria e de quaisquer outros garotos que batessem os olhos nela?

O Poema “HUNTER” é uma obra original de Scorpia195, minha amiga no Deviant Art. Ela me autorizou traduzir o poema e postá-lo na minha fanfic! Quem quiser ler mais do trabalho dela é só acessar:

scorpia195.deviantart.com

P/ CLAUDIOMIR: O Gabriel, que gosta de chamar o Joseph de Herói, ia ADORAR essa do “Herói Potter”! rsrsrsrsrs

Bom... Agora descobrimos porque a Acácia tem que ser controlada à base de Poções
Uma legítima Viúva Negra! Dumbledore tem algumas escolhas bem interessantes quando vai escolher o corpo docente... huahuahuahuahau

E também descobrimos porque ela NÃO se jogou nos braços de ninguém até agora... PERAÍ ela se jogou sim! E o pobre do Snape QUASE MORREU no processo! De novo, como ela disse...

Eu costumo seguir o “Cânone”, mas mudei um tanto da parte de por que Snape se juntou aos Comensais e de quando exatamente ele passou a ser um agente duplo. E sim! Eu coloquei Snape como Amigo Adulto de Lilian Evans Potter após sua “conversão” para a Ordem da Fênix. Lógico, que sobre perene desconfiança do Thiago... Maiores explicações sobre isso, no próximo Capítulo!

Outra coisa que tive de mudar, foi a maneira como o Harry descobre que Snape foi a pessoa que escutou a profecia. Por que isso só acontece no final do livro Seis, justo o que eu estou desconsiderando. Espero que a visão-sonho do Potter tenha ficado legal.

E FINALMENTE, o Harry fuçou direito aquela lembrança... BEM FEITO pra ele! Agora quero vê-lo dormir tranqüilo... Pensando bem, quero vê-lo tentar dormir... Consciência pesada é fogo. E não vai ser a única coisa que vai pesar pro lado dele. Ele cutucou a onça com vara MUITO CURTA!



Esperem e verão!

Capítulo 9 – CHUVA DE DETENÇÕES

Deu pra entender do que eu estou falando, né?

Acho que o capítulo nove só vai ao ar assim que eu voltar de férias... então já vou deixar os trechos pra vocês escolherem o que é que vão querer ver ilustrado!


PRÉVIAS

- Potter, parece que você se sente no direito de chegar atrasado às aulas. Isso seria péssimo de ser incentivado. Logo, DETENÇÃO.
***
-Sente-se Harry. – ele esperou que o garoto se acomodasse – Parece que, Acácia já o colocou a par da maldição que ela carrega, não é mesmo? E parece que você descobriu um pouco mais sobre sua mãe e suas amizades também, não é?
***
A foto foi tirada pela mãe de Evans enquanto os três garotos abriam seus presentes de Natal pela manhã.
***
- Quer dizer que seu precioso Lorde procura por mim? – ela olhou fundo nos olhos dele – Ou será que mandou meu suposto amigo para me capturar?
***
- De que lado você está, Severus? -ela o olhou de relance.
-Do lado daquilo que me é caro, Acácia. Fuja.
***

ESCOLHAM 2!! ^^

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