Enfim, sós



Harry Potter estava sentado em sua cama no dormitório masculino da torre da Grifinória, sozinho, quando uma garota de cabelos castanhos entrou. Ela era realmente muito bonita, ou pelo menos mudara bastante desde o seu primeiro ano em Hogwarts. Harry só reparara naquilo agora. Hermione Granger andou para perto dele, tímida, os polegares girando nas mãos juntas sobre a barriga.
- Harry... – chamou ela, com a voz tão baixa e rouca que parecia mais um cochicho – eu preciso conversar com alguém.
Harry a fitou com seus belos olhos verdes detrás dos óculos de lentes finas, e apalpou o colchão ao lado dele, pedindo para Hermione se sentar. A garota assim o fez.
- há algumas semanas... – começou ela, tímida - Eu conheci garotas. Garotas que viviam em um mundo totalmente diferente do nosso. Mas eu não sabia no que estava me metendo. O mundo delas é vazio. É uma gigantesca sala sem portas e nem janelas, com papel de parede, piso e teto brancos como a neve. E eu mergulhei fundo nesse mundo. Apaixonei-me pela pessoa errada, falei mal de pessoas que amo e me tornei uma criatura monstruosa por dentro. Eu não sou mais eu Harry. Eu sou um monstro. Por favor, me ajude á matar a Imperadora que existe em mim – Hermione desmoronou em lagrimas, e sem dizer nada, mas com o olhar piedoso e compreensivo, Harry a abraçou. E ali eles ficaram, no silencio do dormitório, até que ele disse:
- Hermione, todos nós cometemos erros. E se um dia nos arrependemos de algum, é mais do que nossa obrigação pedir perdão por eles.
Hermione sorriu para o amigo. Harry era como um irmão para ela. O rosto do rapaz ainda estava com marcas vermelhas dos arranhões de Gina.
Harry e Hermione puderam, enfim, colocar a conversa em dia. Mas nem tocaram no nome de Rony.
A tarde de sábado caía sobre o castelo. O clima de desentendimento ainda pairava no lugar. Hermione saiu da presença de Harry e foi para os jardins de Hogwarts. Andando cabisbaixa e com os braços cruzados, seus olhos encontraram um rapaz de cabelos muito loiros de costas para ela, sentando em uma grande rocha á beira do lago negro. Hermione se aproximou cautelosa, mas as pedrinhas na terra rangiam abaixo de seus pés, e Draco Malfoy virara-se para ver quem era o recém-chegado.
- ah, é você – disse ele, sem admiração, virando-se novamente para contemplar a superfície cristalina do lago.
- é, acho que sou eu – disse Hermione, mas pareceu que dissera para si mesma, pois Draco não estava lhe prestando a devida atenção. Ela descruzou os braços e se sentou ao lado dele. Malfoy pareceu não gostar da atitude.
- precisamos conversar – disse ela, começando a admirar também as ondas que iam e vinham.
- sobre o que? Lamento, mas maquiagens e garotos não são o meu forte – respondeu Draco, sarcasticamente.
- não seja idiota! Eu vim em missão de paz!
- então fale! Sou todo ouvidos.
- está chateado comigo?
- nenhum pouco.
- então porque está me tratando assim?
- porque é assim que pessoas como você, merecem ser tratadas.
- uma vez me disse que sempre seria educado com garotas como eu.
- eu estava enganado sobre você. Você não é a garota que eu pensei que fosse.
- como?
- você é uma Imperadora, Granger. Eu não gosto das Imperadoras! Sabe por quê? Porque elas manipulam pessoas! Falam mal de gente querida! Inventam mentiras absurdas e são infiéis com seus parceiros! Foi por isso que deixei a Parkinson, e é por isso que estou deixando você agora!
- eu era como elas! Agora não sou mais! Draco, por favor, tenta me compreender – os olhos de Hermione se encheram de lágrimas, e sua voz tremia. Draco não manifestava um pingo de compaixão.
- se o tal Diário de Todo Mundo não viesse á tona, você ainda seria uma delas.
- o que eu tenho que fazer pra você perceber que eu sou diferente?
- mostre que não é como elas! Lave sua alma para Hogwarts, Granger! Eu sei que você ainda deve desculpas á alguém! – Draco se levantou, e deixou Hermione sozinha. Andou apressado para dentro do castelo, e desapareceu pelo portal de pedra. Hermione desmoronou novamente em lágrimas, e começou a revirar a mente atrás da pessoa a que Draco se referia. E não demorou muito: Hermione devia desculpas á Hagrid.

Escondidas atrás de uma volumosa moita verde, Phoenix e Cicci ouviram toda a conversa. Estava na hora de agir!
- o que vamos fazer Phoenix? – perguntou Cicci à amiga.
- vamos mandar uma coruja ao St. Mungus!

Anoiteceu. Hogwarts estava muito silenciosa. Poucos alunos desceram para o jantar. Hermione deitou-se em sua cama, no escuro, e pensava em Draco. E tentava arranjar coragem para ir falar com Hagrid no dia seguinte. Luna e Gina entraram no dormitório. Reviravam alguma coisa dentro de seus malões e logo saíram novamente, fechando a porta com estrépito. Não demorou muito, e o sono veio, e Hermione adormeceu.
Eram cinco da manhã quando ela simplesmente abriu os olhos, e a vontade de dormir se fora. Ainda estava escuro lá fora. Então a menina resolveu esperar amanhecer, lendo um livro qualquer sentada numa das confortáveis poltronas da sala comunal. Mas sem perceber, Hermione adormeceu novamente. Quando despertou, já estava mais do que manhã: meio-dia!
Hermione levantou-se de um salto, correu ao banheiro para fazer a higiene pessoal e colocar os cabelos em ordem. Depois de trocar de roupa, desceu as escadas e correu para fora do castelo, mas ao passar pela porta do Salão Principal, uma multidão dentro dele chamou sua atenção: Cornélio Fudge estava na frente da mesa dos professores, com Dumbledore e mais dois aurores altos e fortes. Não muito longe deles, com as mãos acorrentadas, estava Hagrid, cabisbaixo.
- Eu suplico que o autor da informação contida neste pergaminho – disse Dumbledore com a voz amplificada, segurando uma página do Diário de Todo Mundo escrita por Hermione no alto - se manifeste, e revele ao Ministro que tudo isto não passa de mentiras. Ou Hagrid terá que ser levado para Azkaban até que apareçam provas que o inocentem.
Hermione estava boquiaberta. Seus olhos encontraram Harry, sendo segurado por Rony, ao lado de Gina e Luna com rostos tristes e chorosos. Do outro lado do salão estava Malfoy, e ele olhou para ela. Hermione balançou a cabeça negativamente, fitando aqueles belíssimos olhos azul-cristal, mas ele deu um aceno positivo com a cabeça.
O silencio reinou.
- assim sendo, terei que levá-lo agora, Alvo – afirmou Fudge, dando sinal para os aurores orientarem Hagrid.
Fudge, Hagrid e os dois aurores já iam descendo do púlpito para saírem do castelo, sendo seguidos por um Dumbledore confuso, até que a voz de Hermione ecoou pelas paredes:
- não diretor! Mande-os parar! – gritou Hermione.
A multidão inteira se virara para ver quem dissera aquilo. O mesmo fez Dumbledore, Fudge, os dois aurores e um Hagrid incrédulo.
- fui eu quem escreveu aquilo. É mentira! Tudo mentira! Hagrid não vende ovos de dragões. Nunca vendeu.
Os cochichos entre os alunos que formavam a multidão cortaram o silencio. Fudge fez careta de derrota e ordenou que soltassem Hagrid. Dumbledore pediu para Hermione o acompanhar.
Ao passar por Harry, ela teve uma visão que não gostaria nunca de ter: os quatro amigos olhavam para ela como se estivesse olhando para algo inútil, podre, um cachorro morto. Mas uma onda de conforto e satisfação a invadiu, quando avistou o rosto de Malfoy destacado na multidão. Ele agora parecia estar de bem dela e compreensivo.

Na sala de Dumbledore, Hermione finalmente recebeu a detenção do diretor: iria limpar troféus e tirar o pó de todos os livros da biblioteca por um mês.
- eu perdoei os encontros na masmorra, eu perdoei o Diário de Todo Mundo, mas isto eu não posso admitir! Eu lamento Hermione, mas são as regras. Eu acho que já fui muito bonzinho com a senhorita, e desta vez terei que ser um pouco mais rígido! – disse o velhote, salpicando a superfície lisa da mesa de cuspe. Hermione ouviu tudo, olho no olho, calada. E assim foi. Na segunda feira, durante o almoço, ela já começou á fazer o ordenado. Enquanto Filch a vigiava, sentado em uma bela poltrona com Madame Nora deitada em seu colo, a menina trabalhava.


Pansy Parkinson, por um triz, não morrera. Estava na verdade internada no St. Mungus, com o braço e duas costelas quebradas devido à queda depois de ter sido atingida por aquele balaço acidentalmente. Uma enfermeira gorda, baixinha e idosa entrou no quarto da jovem e lhe entregou um pergaminho amarrado com um barbante rosa (isso ajudou Pansy a reconhecer quem eram as remetentes).
Com um pouco de dificuldade, a garota o desamarrou com o braço bom e os dentes e leu o que estava escrito:

“Pansy! Amor das nossas vidas!
Volte logo! Estamos com problemas!
Draco e Granger estão quase juntos! Precisamos de você!
Agora e já!
Beijinhos.”

~ Phoenix e Cicci.

Pansy leu e releu o papelito várias e várias vezes. Uma onde amarga de uma fúria selvagem brotava em seu peito. Seus dentes rangiam. Os punhos estavam cerrados.
- ENFERMEIRA! – gritou ela.
A velhota baixinha e volumosa voltou para dentro do quarto, assustada.
- o que foi, minha querida? Quer alguma coisa para a dor?
- NÃO! CHAME O DR. FERGUSON! QUERO QUE ELE ME CURE AGORA! LANÇE FEITIÇOS PARA COLAREM OS OSSOS, SEI LÁ!
- não existe magia para colar ossos, meu amor.
- ENTÃO VAI EXISTIR! CHAME O DR. FERGUSON OU AMANHÃ Á ESSA HORA NÃO SERÁ NADA MAIS QUE UMA ENFERMEIRA VELHA E DESEMPREGADA! CHAME O DOUTOR AGORA!
A enfermeira entrou em desespero. Acalmando a paciente descontrolada, ela saiu gingando do quarto, e logo retornou com um médico alto, magro e careca.

Era pôr-do-sol naquele momento em Hogwarts. O crepúsculo dava lugar ao manto escuro da noite que avançava rapidamente. Hermione estava com os braços ardendo de dor enquanto recolocava os pesados livros, mais velhos que a sua bisavó, agora sem poeira, de volta á prateleira. Filch tinha os olhos colados nela. Quando o relógio do pátio badalou as oito da noite, ela foi liberada, pelo zelador carrasco um pouco relutante da parte dele.
Hermione recolheu seus pertences e rumou para a torre da Grifinória. No caminho, enfiou o balde e os panos sujos que trazia, dentro de um armário de vassouras qualquer e seguiu seu rumo. Faltando alguns metros para chegar, no alto de uma das escadas móveis, estava Draco Malfoy, vestido de preto, com os braços cruzados. Parecia estar esperando por ela á muito tempo. Hermione olhou para ele, com os olhos tristonhos feito um cãozinho pidão.
- eu passei no seu teste? – perguntou ela com a voz rouca.
- antes fosse um teste. Eu só queria saber se a Hermione pela qual me apaixonei, ainda estava viva, aí dentro de você.
- e qual é a sua resposta?
- ela nunca morreu.
Hermione deixou seus livros caírem no chão. Ela correu, e pulou em cima dele, dando o melhor abraço do mundo. Deslizou suas mãos cansadas pelos cabelos dourados do jovem, enquanto os braços dele se fechavam em torno dela, e ele beijava seu pescoço. Nenhuma palavra foi trocada. Hermione se colocou bem na frente dele, as testas coladas, olho no olho, um segurando a mão do outro. Os quadros, em suas molduras, se abanavam; outros animavam o amasso com fervorosos gritos.
- vai fundo, meu jovem! – berrou um deles.
- vem comigo. – sussurrou Draco no ouvido de Hermione, e subiram mais escadas, de mãos dadas, até chegarem ao último corredor, e entrarem na sala precisa.
Estava vazia. Não havia nenhum móvel. Com um aceno da varinha, Draco conjurou um rádio que começou á tocar uma musica romântica, bem baixinho. Hermione riu, envergonhada. Draco agarrou os braços de Hermione e os passaram em torno de seu pescoço, enquanto colocou as suas em torno da cintura da menina.
- não se sente mal? – perguntou ela, movimentando-se lentamente conforme a música.
- e porque estaria? – perguntou ele, se surpreendendo com a pergunta.
- de estar com uma sangue-ruim.
- sabe o que eu li uma vez? – Hermione balançou a cabeça, ainda sorrindo, negativamente – que as sangues-ruins são as mais gostosas! – respondeu ele, com um belo sorriso, exibindo seus dentes brancos e perfeitos. Hermione deu mais uma risadinha, e Draco a beijou. Não um beijinho qualquer como o da biblioteca, mas um de tirar o fôlego, saciando toda a vontade que sentira de beijar aquela garota. Aquela garota com a qual sonhara durante todas as suas férias de verão; aquela garota que ele odiava até alguns anos atrás, e que agora ele tinha só para ele. Agora, ele só queria possuí-la e fazê-la feliz para sempre.
O jovem casal permaneceu na sala precisa a noite inteira. Depois da dança, Hermione disse que estava cansada. Draco conjurou um sofá de dois lugares super confortável e uma caixinha de bombons. Eles a comiam enquanto conversavam alegremente, sobre seus sentimentos e, suas briguinhas passadas. Alguns minutos mais tarde, Draco foi pego de surpresa, ao ver que Hermione dormira em seu colo. O garoto acariciou seus belos cabelos lisos e castanhos, sorridente, e ali eles ficaram. A noite inteira. Aquela agradável música ainda ecoava pelo aposento, e assim foi até o dia amanhecer.

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