Sombras do Céu



Quando liberdade ainda era uma palavra pouco usada, a democracia ainda não existia e os mais antigos deuses ainda reinavam, é nesse tempo que se passa nossa historia...




O vento ainda soprava quando a tempestade de areia passou, uma mulher suficientemente corajosa pôs a cabeça para fora, saindo por um breve tempo da segurança de sua frágil casa.

- Está ficando cada vez pior Orik! Não posso continuar com isso! – ela falou para o homem que estava sentado a sua frente, ele mostrava uma feição tranqüila enquanto tentava acalmar a agitada criança em seus braços.

- Camponeses mulher, é isso que somos, como pretende lutar contra essas devastações? – ele perguntou sem se abalar enquanto a criança ainda esperneava em seus braços.

- Você fala e age como se esperar a morte fosse a coisa mais natural do mundo – ela esbravejou enquanto pegava a criança e cuidadosamente a enlaçava em seus braços, a mesma parou de chorar pouco depois de sentir o calor da mãe.

- E não é? Não é pra isso que viemos a esse mundo? Para que possamos atender a vontade dos grandes deuses e partimos quando eles acharem que não somos mais necessários?

- São eles não é? Os deuses que estão fazendo isso! Castigando nossa cidade, nossos amigos por algo que eles não fizeram – o tom na voz da mulher mudou e agora ela mirava tristonha a paisagem de areia pela sua janela.

- E nos também não minha velha, também não fizemos nada – seu olhar caiu pra o pequeno menino que agora brincava no chão, se divertindo ao tentar se equilibrar sobre os próprios pés.

- Temos que ir Orik, pra um lugar bem longe daqui, ate um lugar onde os deuses não nos achem – disse a mulher enquanto ajudava o menino se por de pé novamente depois da breve queda.

- E esse lugar existe mulher? – ele perguntou mostrando pela primeira vez que compartilhava com a dor da esposa.

- Vamos cria-lo se preciso Orik, e lá seremos felizes, eu, você e nosso lindo menino – ela disse sorrindo tristonha enquanto via mais uma vez uma das façanhas de seu filho.

O menino agora cansado de tentar alcançar o sofá a pé simplesmente levantou vôo e flutuou delicadamente ate almofada mais próxima onde pousou contente, batendo palminhas alegres. Os lindos olhinhos amarelos felinos brilhavam na mesma alegria que o garoto esbanjava e quando esses olhos se cravaram em si ela encarou de perto o motivo que a fazia temer por sua segurança.



Cobriu o nariz com o pano com uma experiência rígida, o vento forte empurrava seu corpo para trás enquanto ele teimava em leva-lo de volta para frente, aquela briga entre poderes somente fazia o corpo do monge e seus companheiros ficarem inclinados durante a jornada.

Não entendia o que estava acontecendo ultimamente, as tempestades de areia estavam ficando cada vez mais freqüentes e continuar a viagem daquele jeito tava sendo mais difícil do que esperava, talvez o melhor fosse desistir e acampar naquele lugar mesmo, mas depois de pensar melhor viu que acampar também seria impossível, o mais provável é que as barracas fossem levadas pelo vento e eles continuassem no meio daquela ventania infernal, agora com a certeza de que não tinham mais nem um lugar onde pudessem passar a próxima noite.

Conseguiu andar mais uns passos com grande esforço e quase foi o chão quando não encontrou a barreira com a qual lutava a pouco, já que os ventos fortes havia parado de repente,ficou assustado com tamanha mudança de maneira tão repentina, mas recuperado do susto olhou para trás para verificar se todos os seus companheiros estavam bem, na verdade olhava mais especificadamente para Taliane, queria ter certeza que ela e o pequeno embrulho agitado que carregava estavam bem, mas o olhar aterrorizado que a mulher usava pra encara-lo o fez ficar confuso, olhou para si próprio em busca de algo fora de comum ou perigoso em suas vestes, mas nada encontrou, olhou novamente para Taliane e percebeu finalmente que o olhar que ela dispensava não ia para ele e sim para algo atrás dele, virou-se a procura do que deixara a mulher naquele estado e imediatamente o choque varreu seu corpo deixando-o petrificado.

A visão a sua frente era simplesmente aterrorizante, uma caravana toda estava caída, carroças despedaçados, cavalos mortos e o pior, homens e mulheres, mortos, a maioria separados de uma parte de seu corpo. Num milésimo de segundo concluiu que aquilo acontecera a pouco tempo, já que o sangue ainda manchava a areia, mas o que mais lhe chamou a atenção era a única parte da areia que não estava suja com destroços ou sangue de alguém, a imagem de um raio estava formada, o Símbolo dos Deuses estava gravado entre aquela destruição, é claro, permitiu-se pensar, por isso aquela tempestade de areia, os deuses não queriam que ninguém se aproximasse do lugar onde estavam cometendo uma atrocidade.

Depois do choque inicial, se permitiu olhar para Taliane, a mulher continuava na mesma posição, mas percebeu que ela apertava ainda mais firmemente o embrulho em seus braços, lembrou-se de como a havia encontrado numa situação semelhante, a caravana em que Taliane e sua família seguia havia sido atacado por ladrões, bandidos, quando Dario e seus companheiros chegaram no lugar não encontraram nenhum sobrevivente, a não ser uma mulher miúda e muito bonita que possuía as vestes rasgadas e chorava e soluçava enquanto abraçava o próprio corpo, a enorme beleza da jovem havia lhe chamado a atenção, ela tinha os cabelos incrivelmente pretos, a pele era bronzeada, a boca carnuda e larga, seu nariz era fino e arrebitado, porem o mais interessante era seus incríveis olhos verdes, muito raros naquela região, era um belo exemplo de mulher e talvez por isso tenha sido deixada viva, mas o seu destino foi pior que a própria morte, humilhada e violentada por todos os saqueadores, a jovem demorou para se recuperar, mas não perdeu a luta, e agora protegia a pequena criança, fruto de seu breve encontro com os homens mais nojentos do deserto.

- Isso com certeza não foi obras de saqueadores – disse voz de Taliane, agora muito perto dele.

- Procurem por sobreviventes – ordenou Dario logo depois de concordar com a mulher ao seu lado.

Imediatamente seus companheiros começaram a varrer o local em busca de um sobrevivente, mas suas esperanças começaram a desaparecer com a mesma velocidade com que o tom avermelhado na areia ia dando lugar a cor normal. A coisa mais perto de um sobrevivente que acharam foi uma ou outra pessoa inteira. Quando já estavam quase desistindo de sua busca desesperada, ouviram um choro infantil, que não vinha da filha de Taliane.

- Pessoal, aqui – gritou um jovem monge, ele estava agachado na areia olhando por debaixo de uma carroça que por algum tipo de milagre permanecera intacta. Com um pouco de esforço conseguiu se enfiar lá dentro e quando saiu carregava junto a seu peito um menino graudo que chorava escandalosamente.

- Pelos Deuses, ele parece ter apenas três anos – ofegou Dario quando pegou o garoto nos braços do outro monge.

- Ele pode ter apenas três anos – sussurrou Taliane chegando mais perto dele – mas eu acho que ele é o motivo de tudo isso – disse ela olhando o redor.

Foi ai que Dario a maneira como os corpos estavam distruibuidos, reunidos ao redor daquela carroça como se a protegessem, mas isso não foi o que mais lhe chamou a atenção, ao lado da carroça havia uma mulher deitada de bruços, era uma das poucas que permanecera inteira, mas isso não era o mais interessante, mas sim o modo como ela estava esticada, como se...como se gastasse seus ultimos esforços pra esconder o menino ali. Aquela com certeza era a mãe dele.

Taliane se aproximou ainda mais e aproximou sua mão trêmula do pescoço do menino onde pendia uma corrente grande feita inteiramente de ouro, virou-a com cuidado e ofegou.

- Dageron – sussurrou ela e pela primeira vez prestou atenção no menino, a primeira coisa que notou foi seus olhos amarelos felinos.



- Dageron, volta já aqui.

O grito agudo e quase desesperado da pequena Helena só fez o sorriso de Dageron aumentar ainda mais, adorava deixar a pequena furiosa e não se conformava em abusar ela somente uma vez, devia ser a terceira vez que rouba sua boneca favorita apenas pra ver a menina se aborrecer.

Olhou para trás rapidamente e se assustou, ela estava quase o alcançando, deu um suspiro e acelerou, mas de nada adiantou, Helena ainda estava muito perto, esse era o lado ruim de abusar aquela garota, na hora das perseguições, ela sempre levava vantagem, sempre fora mais rápida que Dageron e adorava o provocar por conta disso. Incorfomado, Dageron se perguntou de onde vinha aquela velocidade, como uma menina de 7 anos podia alcançar a ele, um garoto de 10? De onde quer que viesse toda aquela agilidade com certeza não era de Taliane, sua mãe, sua madrinha era linda, mas completamente desajeitada, Dageron se irritou, Helena era a copia da mãe, com os mesmos olhos verdes, pele cor de azeitona, e cabelos lisos e longos, entao porque de todas as coisas que ela podia herdar do pai, herdou logo a velocidade?

Cansado de tentar ganhar aquela corrida, Dageron levantou vôo pousando suavemente em um galho de uma árvore próxima, sabia que aquilo irritaria Helena e sorriu por isso.

- Dageron, isso não vale, você não poder usar suas habilidades! – resmungou ela fazendo bico, zangada.

- Posso saber onde está escrito isso? – os olhos amarelos felinos do menino brilharam alegremente.

- Devolve minha boneca Dageron! – gritou ela, frustrada.

- Não! – Dageron riu.

- Você não deveria me tratar assim - a expressão de Helena mudou, raiva ainda predominava, mas vinha acompanhada de lágrimas – não é assim que se trata as namoradas.

- Quem é minha namorada aqui? Não to vendo!

- Para com isso Dageron, todo mundo sabe que vamos nos casar.

- Vai sonhando – resmungou Dageron, já estava cansado disso, era sempre assim, Helena parecia convicta que iria se casar com ele, quantas vezes ele teria que repetir que ela era muito nova pra ele?

- Brigando de novo crianças? – a voz harmoniosa de sua madrinha o fez abrir um sorriso inconscientemente, era sempre assim, e dessa vez ela parecia ainda mais bonita que antes, suas vestes esvoaçavam ao vento, seus longos cabelos negros presos numa elegante trança jogada por sobre o ombro, os olhos verdes brilhando em diversão, mas também um outro sentimento. Preocupação, talvez?

- O Dageron mamãe, ele roubou a minha boneca de novo! – acusou Helene abraçando a mãe pela cintura. Taliane sorriu para a carinha de pidona da filha, era sempre ela que precisava apaziguar as brigas das crianças depois que elas começavam, e antes de começarem também.

Olhou para Dageron em cima da árvore e sorriu, ele a olhava como se pudesse ver sua alma e em momento nenhum duvidou disso, encarou o afilhado atentamente, perguntando-se qual seria sua expressão depois de ouvir a triste notícia que tinha para lhe dar. Observou como era suave e elegante os movimentos que ele fazia ao descer da árvore calmamente, pousando graciosamente, não conseguiu retribuir o sorriso que ele oferecia para ela já que estava perdida demais analisando sua face. Quando sai para cidade olhavam para ela como se estivesse vendo uma verdadeira deusa, uma raridade por causa de suas características não muito comuns naquela região, imaginou qual seria a reação das pessoas ao deparar-se com Dageron, ele sim era a coisa mais bonita que já tinha visto e muito provavelmente a mais incomum, sua pele era pálida como a mais branca neve, que podia ser comparada a de um vampiro se eles fossem conhecidos naquela época, suas maçãs do rosto eram meio rosadas, e seus lábios pequenos e finos, seus olhos tão amarelos parecia penetrar a alma da pessoa pra qual olhava e seus cabelos tão negros quando o ébano fazia um incrível contraste com sua pele e caia nos seus olhos tão magnificamente quando a água que caia de uma cachoeira, ele era lindo e de certo modo assustador.

- Devolva a Bubi para a Helena e me siga Dageron, Dario quer falar com você – ela disse, mesmo a contra gosta ele jogou a boneca de panos para Helena e seguiu a madrinha, Dario era mais importante do que qualquer briguinha boba que ele podia ter com aquela pirralha mimada.

- Seu estado piorou? – Dageron ousou perguntar quando já estavam em frente a porta que levava ao quarto de Dario. Taliane nada disse, apenas abriu a porta, no momento seguinte Dageron teve sua resposta, Dario parecia tranqüilo, mas parecia estar em frente ao portão do céu também. É, seu estado havia piorado.

- D-Dageron – sorriu Dario virando a cabeça para ver o menino melhor.

Dageron correu para ficar ao lado do velho homem, Dario estendeu sua mão para ele que foi imediatamente apertada pelos dedos pequenos do menino, porem sua pele mal havia tocado a pele do outro homem e uma visão tomou sua mente, era ele mesmo, chorando sobre o tumulo de Dario, e por mais que odiasse aquilo sabia que aquilo iria acontecer mesmo, só esperava que não tão cedo, uma lagrima solitária desceu por seus olhos.

- Não chore pequeno – ele pediu ainda sorrindo – a morte é uma coisa natural, estou preparado.

- Mas eu não – reclamou Dageron – eu não quero que você morra. – o sorriso de Dario pareceu se abrir ainda mais.

- Eu vou sempre estar com você pequeno, aqui – a mão de Dario pousou no coração do menino a sua frente, mas ela logo teve que sair dali, quando seguiu para a boca do velho que naquele momento estava tendo um ataque de tosse. – Acho que meu tempo está acabando, é melhor te contar logo o motivo pelo qual te chamei aqui Dageron.

- Como assim Dario?

- Eu quero falar com você sobre seus poderes Dageron.

- De novo? – perguntou Dageron irritado – você esta morrendo velhote, será que dá para alguma vez na vida você pensar em alguém que não seja eu? – Dario riu, mas logo outro ataque de tosse lhe tomou fazendo-o parar.

- Esse é o Dageron que eu conheço, já estava me perguntando se Taliane trouxe o menino certo – ele sorriu – mas falo serio Dageron, antes de partir preciso que você me prometa que continuara seguindo seu treinamento, controlando seus poderes e o mais importante, mantendo segredo sobre eles?

- Por que isso de repente? Por que tanta preocupação? – perguntou Dageron desconfiado.

- Atravessar paredes, voar, ter visões do futuro, se mover nas sombras, controlar a natureza, capacidade de se curar incrivelmente rápido, você acha mesmo que tudo isso é normal Dageron? – o menino abaixou os olhos, olhando para os pés – exatamente, não é Dag, todos esses poderes não só te tornam especial, te tornam perigoso.

- Perigoso, eu? – perguntou o menino incrédulo – eu sou só uma criança!

- Isso não te torna vulnerável Dag, não você, os deuses já tentaram de matar uma vez e você ainda esta aqui na minha frente e naquela época você ainda era apenas um bebe, imagine o perigo que pode representar para eles quando se tornar um homem adulto?

- Do que está falando Dario?

- Eu menti para você quando disse que você tinha sido deixado na porta do templo quando ainda era um bebe Dag, eu sinto muito para isso, mas eu julgava que você ainda era muito novo para encarar a verdade, nós te achamos quando você tinha apenas três anos de idade, a caravana onde você e sua família viajavam tinha sido destruída e você era o único sobrevivente, sua mãe se sacrificou para salvar você, mas mesmo assim não conseguiu, tinha uma poça de sangue embaixo de você quando te salvamos, mas você parecia inteiro, sem nenhum arranhão, foi apenas dois meses depois que percebemos que você era especial, você se salvou apenas porque podia se curar naquela velocidade impressionante, a morte de seus pais não tinham sido provocados por ladrões normais Dag, e percebemos que se os deuses foram atrás de você uma vez podiam vir de novo, nossa sorte é que eles achavam que você já estava morto, por isso que eles devem continuar a pensar assim Dageron, você não pode contar a ninguém sobre suas habilidades, nunca, mas deve treiná-las, para poder se defender caso eles descubram sobre você.

- Eu sou apenas uma criança – Dageron repetiu, assustado, mas nos seus olhos Dario viu que ele entendia, apenas não queria aceitar.

- Me prometa Dageron, por favor.

- Eu prometo – ele disse olhando para a parede, encarar o velho era doloroso demais.

- Que bom Dag, que bom – e então a mão que segurava a de Dageron amoleceu e os olhos do velho senhor fecharam-se para nunca mais abrir.




Fechou os olhos tentando captar o lugar exato onde sua presa se encontrava, e sorriu quando conseguiu, o animal estava apenas um pouco a sua frente, tinha a respiração arfante e seus olhos giravam doidos na orbita, procurando pelo caçador com evidente medo, sorriu mais uma vez e pulou até o próximo ganho, se aproximando silenciosamente de sua presa, sorriu e quando estava prestes a pular em cima do javali uma flecha lhe acertou no braço.

Arregalou os olhos com aquele ferimento inesperado e antes que pudesse pensar em mais nada teve que se desviar rapidamente de outra flecha, saltou para o outro ganho e virou-se na direção de onde as flechas vinha, apenas pra visualizar o arqueiro, outra flecha muito precisa quase lhe atingiu e o fez perder o equilíbrio e se ele fosse uma pessoa normal teria se machucado seriamente ao cair de tal altura.

- Você está louca? – Dageron vociferou contra Helena – você podia ter me matado! – A mulher pulou da arvore onde estava com toda sua graciosidade e apenas parou de andar quando chegou a sua frente.

- Você não morreria só com isso – ela zombou, Dageron tirou a flecha que ainda estava incrustada no seu braço enquanto encarava a ferida se fechar com velocidade incomparável.

- Por que fez isso? – ele perguntou.

- Você estava atrás da minha caça e com você Dageron eu infelizmente não posso competir, eu só evitei que você chegasse ao javali antes de mim – ela disse sorrindo enquanto guardava e Dageron não pode evitar pensar em como aquele sorriso era lindo, alias tudo em Helena era lindo, desde seus longos cabelos negros até o corpo delgado que atraia os olhares de tantos homens.

- Entao é assim? Não desistiria de sua caça por ninguém ahn? – ele perguntou se consolando.

- Nunca – ela confirmou, Dageron sorriu divertido e se aproximou de Helena.

- Nem por seu futuro marido? – ele perguntou ainda com aquele sorriso nos labios.

- Talvez, pensarei nisso quando o encontrar – ela balançou a cabeça afirmativamente.

- Estranho, há alguns anos eu tinha absoluta certeza que você sabia com quem ia se casar – Dageron falou colando o corpo no de Helena.

- Não sei do que você esta falando – sua voz estava firme, mas o modo com ela parecia não ter coragem de encará-lo estragou tudo.

- Tem certeza? – ele indagou rindo.

- Olha aqui Dageron, não é porque eu tive uma certa paixão infantil por você que significa que ela durou até os dias atuais – ela pareceu recobrar a razão e se afastou dele.

- Eu não tenho tanta certeza ‘futura esposa’ – ela disse gozando com a cara dela.

- Nunca, nunca eu me casarei com você Dageron – ela parecia convencida disso.

- Eu não teria tanta certeza – Dageron riu enquanto via Helena se afastar.

Mal sabia ele como estava certo.




- O que foi amor? – Helena perguntou quando viu o marido entrando no quarto de cabeça baixa e expressão pensativa.

- Não é nada querida – ele tentou sorrir – então? Como vai nosso pequeno? – ele perguntou alisando a barriga incrivelmente grande da mulher

- Ele esta ótimo, chuta mais que plebeu sendo preso* – ela riu – mas não tente mudar de assunto Dageron, você não esta bem e eu quero saber o motivo.

- Eu já disse que não é nada – Dageron disse já se irritando.

- Não faça essa cara pra cima de mim, você sabe que em mim você não põe medo – ela resmungou ainda mais irritada que o esposo. Dageron suspirou derrotado.

- Eu não sei Lene, eu só estou com um mal pressentimento, só isso.

Mas mesmo ouvindo a voz tranqüila de Dageron aquilo não acalmou Helena, se Dageron estava com um mau pressentimento era porque de alguma forma as coisas não iam acabar bem.




- CORRE HELENA, VEM! – Dageron gritou puxando a mulher pelo braço. Atrás dele inúmeras explosões ocorriam em diferentes lugares do terreno destruindo tudo aquilo que por anos lutaram para proteger – ENTRA AI VAI! – Ele ordenou empurrando a mulher por uma passagem secreta que levaria diretamente para fora do terreno, o bebe sem seus braços gritava e chorava desesperado.

- Não, não sem você! – as lagrimas de desespero da mulher quase o convenceram, mas se quisesse protegê-los teria que fazer agora.


- Não posso, não enquanto ainda há pessoas aqui – ele deu um sorriso melancólico – vai na frente por favor, eu vou atrasa-los, encontro vocês depois.

- Por que será que eu não acredito nessas palavras Dageron? – ela perguntou ainda chorando.

- Esperem por mim por favor, agora vá e salve nosso filho – ele pediu e mesmo sem querer a mulher acenou afirmativamente.

- Adeus Dageron – ela sussurrou.

- Adeus Helena, adeus Nuriko – ele sussurrou de volta – amo vocês – ele disse depois de depositar um suave beijo na boca da mulher e outro na testa do filho. E foi só quando eles sumiram no túnel escuro que o homem deixou que uma lagrima de despedida rolasse na sua face.

Olhou tristonho pro túnel mais uma vez, o seu adeus, diferente do que Helena dera pra ele, não tinha volta, não era apenas uma breve despedida, sabia que não reencontraria a mulher depois daquela noite – pelo menos não vivo – e se sentia mal por ter lhe dito todas aquelas coisas, tantas esperanças.

Não lembrava como aquilo tinha começado, de repente estavam dormindo tranqüilos em seu quarto e de repente acordaram ao som de uma explosão, e ele nem mesmo tinha tido uma visão sobre aquilo, desde a morte de seu mentor, Dario, ele vinha tomando cuidado pra não deixar que descobrissem sobre eles e seus poderes, e achava que vinha tendo sucesso até então, não sabia como os deuses o tinham achado, ou pior, como tinham descoberto que ele estava vivo.

Mas aquilo não importava, ele decidiu segundos depois que tinha sido acordado tão abruptamente, ele precisava proteger seu filho, ainda tão novo e inocente - desde pequeno sofrera com a realidade que estava sendo perseguido, e que há qualquer momento algum ser supremo poderia vir lhe matar - não queria que o mesmo acontecesse com seu filho, queria dar a ele uma infância normal, livre de preocupações como aquelas, queria que seu filho, fosse antes de nada uma criança, e isso não aconteceriam se os deuses descobrissem sobre sua existência, Dageron e Helena nem mesmo sabiam se o pequeno Nuriko tinha ou não poderes extraordinários como o dele, mas agora isso não importava, os deuses – ele sabia – não iam ligar pra esse fato – pelo menos não antes de mandar um raio acertar a cabeça do bebe.

É claro que não havia pessoas ali ainda, nunca permitiria que pessoas inocentes fossem machucadas devido aos seus próprios problemas, mas realmente tinha que atrasar as entidades, pelo bem do seu filho e da mulher que amava que naquele momento fugiam de tão temível ira, lembrou-se então repentinamente de Dario, como ele ficaria arrasado ao testemunhar tamanha calamidade, a separação de uma família, mas sua consciência estava limpa, sabia que cumprira sua promessa, treinara e se escondera até o fim.

Em frente ao túnel, se preparou para a luta, sentia a aproximação dos deuses, como sentia a leve brisa da primavera em seu rosto, a partir dali ele era o responsável por deixar que eles não se aproximassem mais.

- Muito audacioso, planejando nos parar Dageron? – uma voz grossa e divina falou vinda de uma das sombras a sua frente.

Ele apenas não respondeu, juntou sua mão e começou a fazer uma prece, não uma tipo de oração, mas um encantamento poderoso, um feitiço que tinha descoberto há pouco tempo na biblioteca do templo, ali descrevia-o apenas como um mantra de proteção usada antigamente, mas Dageron tinha a impressão que aquilo funcionário com ele da maneira descrita no livro, afinal, de todos os poderes que tinha, o melhor e mais poderoso – e o único que Helena não tinha conhecimento – era a sua magia.

- Rezando Dageron? Pra que Deus? Todos estão aqui hoje pra te matar! – uma voz feminina disse sarcástica, mas nem mesmo isso podia interferia na forma divina como ela soava.

Novamente Dageron apenas ignorou, não poderia deixar de se concentrar, iria fazer aquilo, mesmo sabendo que aquele era seu fim, morreria ali hoje, mas não seria morto pelos Deuses, não demorou muito e uma luz dourado o circulou por completo, estava acontecendo...

- Ele esta fazendo alguma coisa! Impeça-o! – uma outra voz exclamou irritada, mas podia-se sentir uma pontada de medo ali, Dageron quase sorriu, era para ter medo mesmo.

- Ele não fará nada que possa nos machucar! – a mesma voz feminina disse indiferente.

Oh não, ele não queria machucar os Deuses, longe disso, ele só queria fugir daquilo, daquele fardo que carregava desde criança, mas queria ao mesmo tempo imortalizar seus poderes, e de uma forma que eles nunca seriam extintos, e era exatamente isso que ele estava fazendo.

- Eu não me importo! Eu vou mata-lo, e vou mata-lo agora! - a voz masculina que a pouco estava tão irritadiça exclamou, Dageron viu como a sombra que partia aquela voz levantou um braço e fazia com que uma bola de fogo gigantesca aparecesse ali. Ele mirou e lançou...

Mas já era tarde demais.

O ritual estava completo, de repente a luz dourada que envolvia Dageron soltou-se do seu corpo e se dividiu em varias menores, que logo subiram em direção ao céu e depois tomaram direções diferentes – uma estranhamente se dividiu novamente ao alcançar o céu - descendo novamente para a terra como milhares de estrelas cadentes, mas nenhum Deus pode reparar naquele estranho fenômeno, já que a bola de fogo atingira o lugar onde Dageron estava naquele exato momento, fazendo uma pesada parede de fumaça impedir a visão do homem.

Quando finalmente a especa nuvem de fumaça desapareceu não existia mais Dageron e eles sorriram satisfeitos com o aparente trabalho bem feito, se tivessem olhado pro céu naquele momento e visto as lindas luzes douradas teriam percebido onde Dageron realmente tinha ido parar.




- ELE SE MATOU? – Rony perguntou totalmente assustado enquanto levantava da cadeira em que estivera sentado durante todo o tempo em que Harry contara a historia de Dageron.

- Tecnicamente falando – Harry afirmou – o feitiço que Dageron usou era um feitiço de repartição de essência, ou alma, como preferir, e ele exigia um sacrifício, a própria vida do Dageron, ele sabia disso enquanto realizava o ritual.

- Por que ele fez isso? – perguntou Hermione que permanecera calada desde que Harry havia os levado para aquela estranha sala.

- Pensei que tinha deixado claro isso, Dageron não queria que os deuses perseguissem seu filho e ao mesmo tempo queria se livrar se sua própria perseguição, o feitiço que ele realizou lhe proporcionou isso, os deuses nunca nem mesmo incomodaram sua família.

- Mas o que isso tem haver conosco? Com as coisas estranhas que nos fizemos há algumas horas? – ela tornou a perguntar.

- Exatamente tudo Hermione, Dageron foi o primeiro daquele que nos chamamos de ‘Sombras’, pessoas que vivem sempre a beira da sociedade, tentando viver uma vida normal, mesmo sabendo que saibam que isso nunca poderá acontecer, pessoas com poderes especiais que o guardam apenas para si com medo que eles sejam descobertos, pessoas que todos sabem que existem, mas que são ignoradas pelo tipo de gente que preferi se manter cega a realidade, pessoas como nós Hermione.

- Você também? – Rony perguntou chocado quando finalmente entendeu o que Harry quis dizer.

- Não só eu, mas como o Vinicius e a Stella – os dois que ate então tinham ficado calados atrás de Harry mexeram a cabeça cumprimentando-os – todos, todos aqui nessa sala são ‘Sombras’ – ela proferiu e o gato em seu colo miou, se espreguiçando.

- Porem mais importante que isso... – Stella tomou a liberdade de falar – Dageron não foi somente o primeiro sombra do mundo, ele também foi o primeiro bruxo.

- O QUE? – Rony gritou novamente.

- Já deveriam existir bruxos antes dele, sacerdotes dos deuses talvez - Hermione falou naquela sua voz de professora.

- É ai que se engana minha querida, essa historia passa-se muito antes de os primeiros registros começarem a serem guardados, os sacerdotes da época de Dageron era bruxos de araque, apenas pessoas que sabiam fazer truques, como os mágicos trouxas que vemos na televisão.

“Quando Dageron repartiu sua essência ele fez seguido de um pequeno feitiço extra, cada umas das partes da essência que saísse dele entraria no corpo de outras pessoas, e essas pessoas teriam algum de seus poderes, apenas um, mas algo aconteceu de um movo inesperado, a parte da essência que era associada a sua magia se dividiu em outras partes menores e entrou no corpo de mais de uma pessoa, foi assim que nasceram os bruxos.”

“Não se sabe ao certo como essas pequenas partes de essência agiram depois de devidamente alojadas em ‘hospedeiro’, depois da primeira geração de sombras as pessoas ficaram no escuro de como deviam procurar seus companheiros sombras, alguma vezes dois sombras se uniam, mas de sua união nascia uma criança normal, enquanto de um casal normal nascia um sombra. Apenas um tipo de sombra agia de forma diferente, se dois tipos daquele mesmo tipo de poder se uniam, daquela união sempre nascia um outro ser igual, com o mesmos poderes do pai.”

- Os bruxos – concluiu Hermione.

- Exatamente, não se sabe ao certo, porque apenas o pode denominado magia agia daquela forma peculiar, mas foi assim que a raça bruxa cresceu e se tornou o que somos hoje, os bruxos são uma grande comunidade de sombras.

- Mas e os nascidos trouxas? Se bruxos nasciam da união de dois bruxos... – Rony tentava organizar suas idéias.

- Como eu disse, a magia agia de forma diferente, bruxos nasciam não só da união de dois bruxos, mas da união de um bruxo com um ‘normal’, como os trouxas eram chamados na época, e pela primeira vez agindo como as outras partes de essência ela algumas vezes se manifestava em alguns ‘normais’ que nunca nem sequer se envolveram com bruxaria.

- Por que isso? – perguntou Hermione.

- Ninguém sabe – Vinicius explicou – a nossa teoria é que isso se deu ao fato apenas da magia ser o poder que Dageron mais gostava, o que ele achava ser o mais precioso, mais poderoso.

- Entao todos os bruxos são sombras – Rony começou.

- Mas isso não quer dizer que todos os sombras são bruxos – Harry sorriu – temos trouxas com poderes especiais também, as sombras dos sombras, a Sociedade do Céu é incrível.

- Sociedade do Céu? – perguntou Hermione.

- É como o Harry gosta de chamar o ‘conjunto’ daqueles com poderes – Stella explicou.
- Mas isso ainda não explica muita coisa Harry, somos sombras por sermos bruxos, isso já entendemos, mas e nossos outros ‘poderes’? – perguntou Rony.

- Vocês fazem parte da grande maioria da Sociedade do Céu, vocês são os ‘verdadeiros’ sombras, vocês são bruxos com poderes especiais. Vocês meus caros amigos são o que eu gosto de chamar de ‘Sombras do Céu’



N/A: depois de tanto tempo sem um cap eu lhe presenteio com esse, muito curtinho por sinal, mas....considerem meus queridos leitores um presente de natal adiantado só para voces, tentem ignorar os erros, eu estava tao euforica pra postar que nem dei uma segunda olhada, mas logo eu vo tetar postar ele pelo menos revisado, assim como tentarei concertar o erro de todos os outos caps....arg, falei demais, bom, é isso ai e comentem!1

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