CAPÍTULO 13



Aos dezessete anos, a minha vida mudou para sempre.
Ao caminhar pelas ruas de Beaufort quarenta anos mais tarde, recordando aquele ano da minha vida, lembro me de tudo tão intensamente como se ainda estivesse a desenrolar se diante dos meus olhos.
Lembro me de Gina a responder afirmativamente à minha pergunta ansiosa e de como ambos começamos a chorar. Lembro me de falar com Arthur e com os meus pais, explicando lhes o que precisava de fazer. Pensaram que só queria fazê lo por Gina, e os três tentaram dissuadir me, especialmente quando perceberam que Gina tinha dito que sim. O que eles não compreendiam, e tive de tornar isso claro, era que eu precisava de o fazer por mim.
Estava apaixonado por ela, tão profundamente apaixonado que não me importava que ela estivesse doente. Não me importava que não fôssemos ter muito tempo juntos. Nada disso tinha qualquer importância para mim. A única coisa que importava era fazer o que o meu coração me dizia que estava certo. Na minha mente, era a primeira vez que Deus falara diretamente comigo e tinha a certeza de que eu não iria desobedecer.
Sei que alguns de vós podem interrogar se se eu não estaria a fazer aquilo por compaixão. Alguns dos mais cínicos podem até interrogar se se eu não o teria feito porque, em qualquer caso, ela iria morrer em breve, e eu não me estaria a comprometer muito. A resposta a ambas as perguntas é não. Teria casado com Gina Weasley independentemente do que acontecesse no futuro. Teria casado com Gina Weasley se o milagre por que estava a rezar se tivesse, de súbito, realizado. Sabia disso no momento em que a pedi em casamento, e ainda o sei hoje.
Gina era mais do que a mulher que eu amava. Naquele ano, Gina ajudou me a tornar me o homem que sou hoje. Com a sua mão firme, mostrou me como era importante ajudar os outros; com a sua paciência e generosidade mostrou me o verdadeiro sentido da vida. A sua alegria e otimismo, mesmo na doença, foi a coisa mais admirável que alguma vez testemunhei.
Fomos casados por Arthur na igreja Batista, o meu pai ao meu lado como padrinho. Isso foi outra coisa que ela fez. No Sul, é tradição ter o nosso pai a nosso lado, mas para mim aquela tradição não teria tido muito significado antes de Gina entrar na minha vida. Gina aproximara me novamente do meu pai; de uma maneira ou de outra tinha também conseguido sarar algumas das feridas entre as nossas famílias. Depois do que ele tinha feito por mim e por Gina, sabia que, afinal, o meu pai era alguém com quem poderia sempre contar e com o passar dos anos a nossa relação continuou a fortalecer se até à sua morte.
Gina também me ensinou o valor do perdão e o poder de transformação que ele proporcionava. Percebi isso no dia em que Rony e Hermione foram a casa dela. Gina não guardava qualquer rancor. Vivia a sua vida de acordo com os ensinamentos da Bíblia.
Gina não foi apenas o anjo que salvou Tom Thornton, foi o anjo que nos salvou a todos.


Tal como ela tinha desejado, a igreja estava a abarrotar de gente. Estavam mais de duzentos convidados lá dentro, e mais ainda esperavam lá fora, quando nos casamos a 12 de Março de 1959. Porque nos casamos tão em cima da hora, não houve tempo para fazer muitos preparativos, e as pessoas esforçaram se ao máximo para tornar o dia tão especial quanto possível, aparecendo simplesmente para nos apoiar. Vi toda a gente que conhecia Miss Garber, Rony, Hermione, Eddie, Sally, Carey, Cho, até Cedrico e a sua avó e não havia olhos sem lágrimas na igreja quando se começou a ouvir música anunciando a entrada da noiva. Embora Gina estivesse muito fraca e não tivesse saído da cama há duas semanas, ela insistiu em caminhar ao longo da nave da igreja para que o pai a pudesse conduzir ao altar.
É muito importante para mim, Harry dissera. - Faz parte do meu sonho, lembras te?
Embora pensasse que isso seria impossível, concordei acenando com a cabeça. Não podia deixar de admirar a sua fé.
Eu sabia que ela tencionava levar o vestido que tinha usado na Playhouse na noite do espetáculo. Era o único vestido branco disponível assim de repente, embora soubesse que agora lhe ficaria mais largo. Pensava em como Gina iria parecer com o vestido, quando o meu pai, que esperava comigo em frente da assembléia, colocou a mão no meu ombro.
Estou orgulhoso de ti, filho.
Acenei com a cabeça.
Também estou orgulhoso de si, pai.
Era a primeira vez que lhe dizia aquelas palavras.
A minha mãe estava na fila da frente, limpando repetidamente os olhos com o lenço aos primeiros acordes da Marcha Nupcial. As portas abriram se, e vi Gina sentada na sua cadeira de rodas, com uma enfermeira ao lado. Com todas as forças que lhe restavam, Gina levantou se tremula enquanto o pai a apoiava. Em seguida, Gina e Arthur começaram a percorrer lentamente a nave da igreja, enquanto todos na igreja observavam em silêncio e maravilhados. A meio do percurso, Gina pareceu subitamente cansar se. Pararam enquanto ela recuperava o fôlego. Os seus olhos fecharam se, e, por um instante, pensei que ela não fosse capaz de continuar. Sei que não decorreram mais do que dez ou vinte segundos, mas pareceu muito mais tempo. Por fim, ela acenou levemente com a cabeça. Depois, Gina e Arthur começaram de novo a andar, e eu senti o meu coração dilatar se de orgulho.
Aquele tinha sido, lembro me de assim ter pensado, o percurso mais difícil que alguém jamais tivera de realizar.
Em todos os sentidos, um percurso inesquecível.
A enfermeira levou a cadeira de rodas para a frente e Gina e o pai caminhavam na minha direção. Quando ela, por fim, chegou ao pé de mim, ouviram se suspiros de alegria e toda a gente começou espontaneamente a bater palmas. A enfermeira colocou a cadeira de rodas em posição, e Gina sentou se de novo, exausta. Com um sorriso, ajoelhei me para estar ao mesmo nível que ela. O meu pai fez, então, o mesmo.
Arthur, depois de beijar Gina na face, pegou na sua Bíblia para iniciar a cerimônia. Agora, concentrado apenas no serviço religioso, parecia ter abandonado o papel de pai para se ocupar de algo mais distante, onde poderia controlar as suas emoções. No entanto, podia vê lo a lutar ali mesmo à nossa frente. Colocou os óculos na ponta do nariz e abriu a Bíblia, depois olhou para Gina e para mim. Arthur estava muito mais alto do que nós e percebi que ele não tinha previsto que fôssemos ficar a um nível mais baixo. Por um momento, permaneceu de pé, quase confuso, depois, surpreendentemente, decidiu ajoelhar se também.
Arthur começou a cerimônia à maneira tradicional, lendo em seguida a passagem da Bíblia que Gina me mostrara uma vez. Sabendo como ela estava fraca, pensei que ele quisesse pronunciar os votos imediatamente a seguir, mas mais uma vez Arthur me surpreendeu. Olhou para Gina e para mim, depois para a assembléia e de novo para nós, como se à procura das palavras certas.
Aclarou a garganta, e a sua voz elevou se para que todos a pudessem ouvir. Foi isto o que disse:
- Como pai, devia dar a minha filha, mas não sei se sou capaz de o fazer.
A assembléia quedou se silenciosa. Arthur fez me sinal com a cabeça, pedindo me para ser paciente. Gina apertou me a mão em sinal de apoio.
Não posso dar Gina assim como não posso dar o meu coração. Mas o que posso fazer é deixar que outra pessoa partilhe da alegria que ela sempre me deu. Que Deus vos abençoe aos dois.
Foi então que ele pôs de lado a Bíblia. Estendeu os braços, oferecendo me a mão, e eu tomei a, completando o círculo.
Em seguida, conduziu nos através das nossas promessas solenes.
O meu pai entregou me a aliança que a minha mãe me ajudara a escolher, e Gina deu me uma também. Enfiamo las nos dedos. Arthur observou nos enquanto o fazíamos e, quando, por fim, estávamos prontos, declarou nos marido e mulher. Beijei Gina ternamente enquanto a minha mãe começava a chorar, depois segurei a mão de Gina na minha. Diante de Deus e de todos, prometi o meu amor e a minha devoção, na doença e na saúde, e nunca me senti tão bem em relação a coisa alguma.
Aquele foi, lembro me, o momento mais maravilhoso da minha vida.

Passaram se já quarenta anos, e ainda me lembro de tudo o que aconteceu naquele dia. Posso estar mais velho e sensato, posso ter vivido outra vida desde então, mas sei que quando, finalmente, chegar a minha vez, as recordações desse dia serão as imagens finais que flutuarão pela minha mente. Ainda a amo, e nunca deixarei de usar a minha aliança. Em todos estes anos, nunca senti vontade de o fazer.
Respiro fundo, inalando o ar fresco da Primavera. Apesar de Beaufort ter mudado e de eu ter mudado, o ar não mudou. É ainda o mesmo ar da minha infância, o ar dos meus dezessete anos e quando o expiro, volto a ter cinqüenta e sete anos. Mas isso não tem importância. Sorrio ligeiramente, olhando para o céu, sabendo que existe uma coisa que ainda não vos disse: acredito agora que os milagres podem acontecer.

Fim


Essa adaptação é triste, mas a historia nos envolve de tal maneira que é dificil explicar. Bom obrigada a todos que acompanharam, mais uma vez, a adaptação. A outra já está arrumada só não posto ainda porque está com a beta. Bom obrigada novamente e todos e logo logo nos encontraremos novamente.
Bjos.
Prika Potter

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.