A noite inesquecível



- Pode entrar! – disse Molly.


Era Olho-Tonto Moody. Ele estava com uma aparência cansada, mas apesar de sua expressão carrancuda, esforçava-se para ser cordial:


- Como vai, Molly, Hermione! – cumprimentou.


- Estamos... Mais ou menos... Creio que você já saiba do que aconteceu aqui essa noite, disse Molly, lamentando.


- É, tive notícias, sim. Como ele está?


- Acho que está melhor, mas muito fraco. Dumbledore nos disse que ele precisa descansar.


- Ah, sim... Depois de ter tido a mente olvidada... – Moody passava as mãos em seu queixo, refletindo.


- Olvi o quê? – perguntaram as duas, curiosas.


- Olvidada. Quer dizer que foi executado o feitiço Cônscio Veritatem em Harry.


- Puxa, por mais que eu leia todos os livros que posso, desse feitiço eu nunca havia ouvido falar! – indignou-se Hermione.


- É compreensível, querida. Há muito tempo, ele foi considerado um feitiço perigoso e retirado da maioria dos livros existentes sobre magia. Na verdade, ele só existe em um livro... Isso porque apenas os maiores magos, e digo MAIORES MESMO, o fizeram de maneira eficaz.


- Mas, por quê? Pra que ele serve?


Antes que Moody pudesse responder, Dumbledore entrou no escritório e cumprimentou a todos:


- Como vão vocês, Molly e Hermione? – ele tinha um sorriso sereno no rosto.


- Estamos melhor... Dumbledore, - agora a mãe dos ruivos não conseguia conter a curiosidade – Moody estava nos explicando aquela magia que você executou ontem... Do que se trata?


- Muito bem... – O velho mago sentou em sua cadeira, abaixou os olhos, colocou as duas mãos sobre a mesa e continuou – É um feitiço muito antigo, que acredito que vocês já saibam o nome. Pois bem, é uma magia que recupera a consciência verdadeira da pessoa que está sendo possuída por outra mente...


- Mas por que é tão perigosa? E por que não havia sido feita antes em Harry! Provavelmente, teria evitado muitos problemas!– agora Hermione perguntava.


- Bem, ela só é utilizada em último caso, quando aquele que está sendo possuído já não consegue voltar a ser quem era. Mas, se não for muito bem executada, todas as lembranças da pessoa podem ser apagadas e ele jamais se lembrará de quem foi um dia. Além disso, só pode ser usada uma vez. Por isso é tão perigosa.


- Meu Merlin! É realmente arriscado! Como podemos saber que deu certo?


- Só saberemos quando Harry acordar. Infelizmente, teremos que aguardar.


Hermione e Molly ficaram atônitas. E se Harry não se lembrasse mais de nada de sua vida? Então seria um alvo fácil para Voldemort. Era realmente preocupante. Mas uma pessoa naquela casa sabia que ele não havia esquecido nada, e seu nome era Gina Weasley.


***


- Mãe, mãe! A lista dos materiais chegou! – gritava Rony.


Molly ouviu os gritos do garoto e rapidamente saiu do escritório, com Hermione atrás.


- Mesmo, filho? Hum... Acho que hoje não poderemos ir ao Beco Diagonal. Teremos que esperar Harry ficar melhor...


- Claro que sim, mas dá só uma olhada! – Rony entregou o pergaminho para Molly, que lia cada linha, fazendo uma careta.


- Como devem ser caros esses livros! Não se preocupe, encontraremos todos num bom preço, querido.


- Deixe-me ver, Rony, pediu Hermione.


A garota lia os títulos dos livros e seus olhos brilhavam. Não havia alguém que gostasse mais de estudar que a garota.


- Hum, muito interessante. Enfim um livro que valha a pena sobre DCAT! Pelo que eu sei deste, O livro de Defesa Contra Feitiços de Guerra, ele prima pelas aulas práticas!


- Isso mesmo, Hermione! – informou Dumbledore, que saía de seu escritório e ouvia o que ela falava – Acho que agora é o melhor momento para preparar os alunos para uma guerra iminente.


- Quem vai gostar é Harry! – alegrou-se em lembrar. Mas, quem será o professor?


- Acho que isso eu vou deixar que vocês mesmos descubram quando voltarem a Hogwarts!


- Uh, que mistério! – empolgou-se Rony.


O resto do dia foi tranqüilo, sem maiores acontecimentos. Os garotos ficaram fazendo apostas sobre quem seria o próximo professor de DCAT. Gina não saía de perto de Harry nem mesmo para comer, a senhora Weasley precisava levar a refeição para ela no quarto, que observava rindo aquela situação. “Esses dois ainda vão se casar!”, pensava a mãe da ruivinha. Vendo o cansaço da filha, Molly sugeriu:


- Filha, você precisa ir dormir.


- Ah, mãe... Deixe-me dormir aqui essa noite... Eu queria estar aqui quando ele acordasse. Sabe, ele falou meu nome logo cedo!


- MESMO? – Molly estava aliviada, afinal Harry se lembrava de sua vida. Tudo bem, Gina. Meu Merlin, eu jamais permitiria isso, mas é por uma boa causa.


- Aaaaaa, que bom, que bom! – gritou, dando pulinhos de alegria.


- Não vai se alegrando muito não, bonitinha. Você vai dormir na cama do Rony, e você já deve imaginar o quanto ele vai chiar de ter que dormir no chão, não é? Talvez ele nem concorde...


- Ah, não, mãe... Pede pra ele, explica pra ele! – implorava.


- Vou tentar, querida. Mas se ele não aceitar, não posso fazer nada. E também não sei se a Hermione vai gostar de dormir sozinha.


O coração de Gina estava aos pulos coma possibilidade de passar, pela primeira vez, a noite toda com Harry. Ela continuou ali, aguardando que ele acordasse enquanto a mãe saía para ir conversar com Rony. Com a Mione, ela se viraria depois, ela tinha que concordar.


Gina não precisou se esforçar muito para falar com Hermione. Logo depois que Molly deixou o quarto, a bruxa entrou, abrindo a porta cuidadosamente.


- Oi, Gina! – sussurrou.


- Ai, Mione, que bom que você veio, estava mesmo precisando falar com você!


- Mesmo? Vim aqui pra ver como ele estava.


- Está bem, acho que amanhã já deve estar ótimo. Sabe, hoje ele falou meu nome! – contou, empolgada.


- Que bom! – ela sentia uma pontada, mas disfarçou muito bem o desconforto. Você vai ver, isso não vai passar de mais um susto.


- Espero que sim! Hum, Mione... Queria te pedir duas coisas. Primeiro, eu acabei de falar com a minha mãe para dormir aqui e ela deixou, contanto que você não se importasse em dormir sozinha...


- Claro que não me importo, Gina! – apesar de não ter gostado muito da idéia de a ruiva dormir ao lado de Harry, seu coração disparou de alegria. Naquela noite, era essencial que não houvesse ninguém dormindo no mesmo quarto que ela.


- Outra coisa que eu queria pedir é para você ficar aqui uns minutinhos enquanto eu vou ao banheiro. Sabe, há horas estou quase explodindo! – as duas riram muito.


- Claro, pode ir! – seu coração estava disparado como nunca, era tudo que ela precisava.


Hermione ficou olhando ansiosamente Gina sair do quarto. Bastou que a amiga fechasse a porta, ela deu uma olhadela para ver se Harry estava mesmo dormindo e começou procurar nas coisas dele. Tinha que ser rápida, ou alguém chegaria alguém no quarto e a pegaria xeretando.


- Ah, achei!


Era a capa de invisibilidade de Harry. Ela nem mesmo esperou Gina voltar e foi correndo para o seu quarto, muito feliz. Quando chegou, Gina ficou realmente desapontada:


- Nossa, nem me esperou! Eu, hein...


***


A noite caíra e novamente a lua estava esplendorosa, mas não tanto quanto na noite anterior. Todos já haviam jantado e estavam conversando, mas nada muito importante. De vez em quando, Piggy passava pela sala e cruzava o olhar com Hermione, baixando em seguida. Hermione, que também dava suas olhadelas ao elfo, explicava para Molly que não havia problema nenhum em dormir sozinha, ela também poderia ir dormir com Tonks, se não houvesse incômodo. Rony, por sua vez, estava revoltado com a idéia de abrir mão da sua macia cama por causa de um capricho da “Gininha”. Mas acabou concordando, senão ela poderia aprontar um escândalo daqueles.


Todos estavam preocupados com Harry, já fazia um dia inteiro que estava dormindo, não acordara nem para comer. Mas Dumbledore falou que aquilo era natural, depois de dois baques seguidos: Voldemort em sua mente e o Conscius Veritatem. Depois de muita conversa, a maioria seguiu para os seus quartos, exaustos, com a intenção de, dessa vez, ter uma agradável noite de sono.


Rony voltou para o quarto e viu que Gina não arredava dos pés da cama de Harry. Ele até achou aquilo meio engraçado, o que não estava achando muito divertido era dormir no chão. Mas antes que ele pudesse ofendê-la, Gina falou:


- Não se preocupe, Rony. Você não vai precisar dormir fora da cama, eu vou ficar por aqui mesmo.


- Vai dormir sentada? – perguntou, incrédulo.


- Vou, não quero sair de perto dele nem um minuto!


- Por mim, tudo bem, disse o ruivo, dando de ombros.


Gina revirou os olhos, pensando se alguém tinha um irmão mais chato, ciumento e mole que aquele. Depois, começou a pensar como é que alguém consegue fazer uma lesma agir, porque era isso que ele era em relação à Mione. Gina sabia que ele tinha medo de não ser correspondido, mas “Poxa, todo mundo tem medo de levar um fora! Nem por isso a gente não tenta!”. Estava na hora de dar uma acordada em Rony Weasley, ou a Mione desistiria de esperar o Cinderelo.


- Rony, seja sincero. Por que você não se declara para Mione?


Ela nunca havia visto o irmão tão vermelho. Neste instante, ele e os cabelos estavam exatamente da mesma cor.


- Olha, não precisa ficar com vergonha. Todo mundo sabe... Rony, eu posso te ajudar.


Ele não conseguia dizer uma palavra, estava completamente envergonhado.


- Er... eu pensei em pedir sua ajuda mesmo... – revelou, sem olhar para o rosto da irmã.


- Ai, Rony. Ela só está esperando uma decisão sua, você não percebe?


Rony ficou pensativo. Depois falou:


- Olha, Gina. Eu vou querer a sua ajuda, mas primeiro quero falar com Harry. Ele disse que tinha um plano para...você sabe o quê!


De plano Gina entendia muito bem, deu até um riso contido.


- Tudo bem, quando você quiser, pode me procurar. Mas não demore muito senão ela arruma outro!


- Que outro?


- O que você acha de Vitor Krum? Ele vive mandando cartas MUITO GENTIS pra ela, se é que você me entende.


Rony fez aquela cara de desgosto que todos nós conhecemos e, sem dizer mais nenhuma palavra, deitou-se e fechou os olhos para dormir. Gina, por sua vez, debruçou-se novamente na cama de Harry, e ficou observando o seu rosto, atenta a cada detalhe. Assim permaneceu durante muito tempo, o cansaço já mostrava seus sinais nas dores que sentia nas costas e pernas. Ela ali, sentada desconfortavelmente, e Harry deitado em apenas um pedaço daquela enorme cama, que mais parecia de um rei. Então, ela pensou que não seria má idéia deitar do outro lado da cama, num cantinho. Ninguém jamais saberia, nem mesmo Harry que, pelo acontecido da noite anterior, precisava de algumas horas de descanso sem ninguém o incomodando. Mas ela estava tão exausta que não pensou duas vezes; deitou-se e em instantes, caiu num sono profundo.


Alguns minutos depois, podia-se ouvir uma barriga roncar violentamente. Era a de Harry. A fome era tanta que se ele estivesse morrendo, teria ficado mais alguns minutos vivo só para comer alguma coisa. Estava fraco, mal conseguia mexer os braços, até a luz do luar incomodava seus olhos sensíveis. Devagar, sentou-se na beirada da cama, procurou uns sapatos para descer e procurar algo para comer. Logo ao pé da cama, ele achou um par deles que, por sinal, estavam muito pequenos em seus pés. “Será que eu cresci?”, pensou. Estava realmente atordoado e desceu calçando os sapatos de Gina.


Harry foi muito lentamente em direção à porta, depois às escadas, pelas quais desceu com uma grande dificuldade. Todas as partes do seu corpo doíam. “Calma, você vai conseguir!”, pensava consigo mesmo. Quando chegou na saleta do andar inferior que levava às escadas, vieram flashes do que lhe havia acontecido na noite anterior e seu coração apertou. Ele estava torturando um homem até a morte, estava torturando seu pai, ele conseguia ver nitidamente a imagem dele! Mas, a partir de um certo momento, ele não lembrava mais de nada. Com certeza, Voldemort havia possuído sua mente, queria que ele caísse em uma armadilha e ele não podia mais deixar isso acontecer. Pensar naquilo era muito doloroso, ele estava fraco, a ponto de cair, quando uma criatura o segurou:


- Senhor Potter! O que faz aqui? Deveria estar descansando! – Piggy estava de pé outra vez durante a noite.


Harry revirava os olhos de fraqueza e não sustentava os joelhos. Piggy tentava segurá-lo de todos os modos, levando-o para a cozinha para que lá ele pudesse preparar alguma coisa para o garoto comer.


- Calma, senhor Potter, tome isso.


Era um grande copo de suco de abóbora que o bruxo tomava todo com muita sede, mas Piggy precisava ajudá-lo, pois ele não tinha forças nem para segurar uma colher.


Depois de algum tempo após tomar o suco, Harry sentia suas energias retornando. Foi quando se deu conta de que estava na cozinha da casa de Dumbledore, de madrugada, com um elfo doméstico o servindo. Mas ele ainda estava fraco, não tinha forças para impedir que a criatura fizesse algo por ele. Na verdade, queria isso. “Hermione que me perdoe”.


- Aqui, senhor Potter. Piggy fez comida para o senhor.


Harry agradeceu apenas como o olhar e um pequeno movimento com a cabeça e comeu como só Rony consegue. Ao terminar, Harry agradeceu a Piggy e já tinhas forças suficientes para voltar ao quarto sem nenhum tipo de ajuda. Foi devagar para que ninguém notasse que estava andando pela casa e ficassem preocupados, fazendo perguntas.


Abriu a porta do quarto lentamente e seu coração disparou: Havia alguém deitado em sua cama.


***


Estava tudo perfeito para Hermione. Já era madrugada, todos dormiam, era o momento ideal para voltar àquela câmara que estava tirando o meu sossego. Colocou a capa de invisibilidade “Dessa vez Piggy não me pega!”, e fez o mesmo caminho do dia anterior. Já no corredor, ordenou:


- Lumus!


Percorreu o caminho sem problemas e quando finalmente chegou à câmara, aquela luz esverdeada continuava a sair por frestas da porta. Ela começou a procurar ali por perto alguma chave, ou qualquer coisa que pudesse fazê-la abrir. Mas é claro que não havia nada; se fosse tão fácil, não estaria tão bem escondido. Ela tentou todas as magias que conhecia, mas a porta nem tremeu.


Quando já ia desistindo de descobrir o que havia detrás daquela porta, ouviu passos rápidos nas suas costas.


***


Harry aproximou-se lentamente da cama, com a mão próxima a sua varinha. Ao chegar mais perto, viu uns cabelos longos e ruivos, mas não podia ser. Só poderia ser um sonho! Gina em seu colchão? Mas o que ela estava fazendo ali? Ele ia, voltava, não sabia se acordava Rony, se acordava Gina, se dormia no chão... Ou se fazia o que seu coração estava implorando.


Ele sentou-se devagar para não acordá-la, fez tudo em câmera lenta. Como era bom saber que ela estava ali, ao seu lado. Quando ele ia encostando a cabeça no travesseiro, Gina deu um solavanco que fez Harry arregalar os olhos. Mas ela apenas se virou e agora estava muito melhor, pois ele podia ver seu rosto, que mais parecia de um anjo. O seu coração era como uma bomba atômica prestes a explodir, ele não tinha a menor idéia de como agir. Mas sentiu que, se ficasse em dúvida mais um minuto, se arrependeria pelo resto da vida.


Harry foi se aproximando dela devagar, quase centímetro a centímetro, até ficar a uma distância em que pudesse sentir sua respiração. Pegou alguns fios de cabelo que estava sobre o rosto dela “Como eram macios!” e os cheirou como se fossem rosas. Ele não ia resistir... Não conseguia, era mais forte que ele... Como ele podia notá-la só agora? Então, encostou seus lábios nos dela docemente, que acordou e retribuiu o beijo apaixonadamente. Os dois ficaram horas ali, se beijando, fazendo carinhos. Não precisavam dizer nada um para o outro, apenas os beijos eram suficientes. Era um momento tão mágico que eles nem lembravam que Rony não estava muito longe dali e aprontaria um escândalo se visse aquela cena. Não estavam preocupados, não poderiam desperdiçar aquela oportunidade única.


Depois de um tempo de carinhos, os dois se sentaram e se abraçaram fortemente. Queriam sentir o calor um do outro, não queriam que aquilo acabasse nunca. Foi então que Harry tirou sua camiseta e delicadamente tirou a de Gina também. Era uma das coisas mais bonitas que podia acontecer entre um homem e uma mulher: a descoberta mútua, a entrega. Harry passava as mãos suavemente nas costas da ruiva, beijando os seus ombros, que fechava os olhos. O que era mais estranho é que era a primeira vez que ela ficava sem uma das roupas na frente de um homem e não tinha vergonha alguma; Harry, por sua vez, surpreendia-se consigo mesmo. Mal tinha coragem de beijar uma garota, agora tinha uma em sua cama e não havia dúvidas ou receio de como agir com ela. Então deitou-se e Gina colocou a cabeça em seu peito, tomando coragem para dizer uma das coisas mais importantes da sua vida.


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