As novidades da Toca



Aquele ano havia sido muito difícil para Harry. O mais difícil de todos. A perda de Sirius ainda era uma fenda que seu coração talvez nunca preenchesse. Toda aquela angústia, a vontade de gritar, de se ver livre de todos, de não ter que presenciar seus amigos olhando com expressões de pena, tudo que ele não precisava sentir o perseguia dia após dia, sufocando-o. Todos os antigos problemas – Cho, Malfoy, Snape – pareciam nada perto de tudo aquilo.

Talvez a morte fosse um alento. Ele poderia ver seus pais, Sirius e encontrar um pouco de paz. Nem mesmo seus amigos Rony e Hermione poderiam reanima-lo, ele nem mesmo queria estudar em Hogwarts. Não com o ódio que ainda sentia por Dumbledore “Por que ele deixou que Sirius morresse, por quê?”.

Para Harry, Sirius permaneceria vivo, mesmo que apenas em seus pensamentos. Algo ainda o fazia pensar que ele ainda estava vivo em pessoa, estava apenas perdido, escondido... Se ele realmente havia morrido, afinal “o que significa aquele véu? Por que ele não pôde voltar?”. Tudo isso e ele ainda tinha que suportar o mau-humor e o desprezo dos Dursley. Pelo menos agora eles não o incomodavam, fingiam que ele não existia, e era muito mais fácil para ele dessa maneira do que ter que controlar mais um sentimento, se desgastar mais uma vez.

Hermione e Rony passaram boa parte das férias mandando cartas, perguntando como ele estava. Ele também recebeu várias outras, dessa vez de pessoas que diziam que sempre acreditaram nele quando ele alertou sobre a volta do Lorde Voldemort, e ele estava aliviado em saber que agora ele não era um louco, faminto por atenção, para a comunidade bruxa. Ele não respondeu nenhuma delas, afinal era óbvio como ainda se sentia. E para seus melhores amigos, ele não queria demonstrar fraqueza, dizendo que estava triste. Ir para Toca, que antes era seu grande alívio nas férias, agora representava ter que conversar, rir e ele não queria nada disso. Simplesmente não conseguia.

Faltava uma semana para que as férias terminassem e Harry recebeu uma carta de Rony.

Cara, cadê você?

Se você não quer responder nossas cartas, tudo bem. Mas amanhã nós vamos te buscar. Tenho muitas novidades para contar, e preciso da sua ajuda também.


Rony

A possibilidade de ir para a Toca agora já não era tão ruim, o fato de haver novidades o animou um pouco. Mas depois ele sentiu a mesma angústia dos últimos dias, afinal ele não sabia quais eram as notícias, elas poderiam ser ruins. Voldemort poderia estar tramando algo, e era muito estranho que Harry não tivesse sentido nenhuma dor na cicatriz ultimamente, afinal o Lorde das Trevas havia sido derrotado mais uma vez. “Talvez as aulas de Oclumência tenham servido para alguma coisa”, pensou. Mas a verdade é que ele ainda estava anestesiado pelos últimos acontecimentos e sua mente estava realmente vazia. Não havia nada mais que ele pudesse usar contra Harry. Não restava mais nada para ser tirado dele.
***

-Vamos Harry, se apresse! Você ainda não arrumou a mala? Não recebeu minha carta? O que há com você?

- Nada. Não tem nada comigo, respondeu Harry sem energia, desejando que Rony se calasse só por um instante.

-Você deve estar brincando, você está meio... Meio verde! Você está bem, cara?

-Vou ficar melhor quando eu ouvir só a sua respiração.

- Foi mal... Vou te esperar lá embaixo.


Harry se arrependia de falar assim com Rony, mas ele simplesmente não conseguia ser diferente. O que ele menos precisava era alguém fazendo perguntas, embora gostasse da preocupação do amigo.

Harry desceu e o Sr .Weasley e o Rony o aguardavam constrangidos sob os olhares inquisidores dos Dursley. Saiu sem nem se despedir, e ouviu um suspiro da tia Petúnia ao cruzar a porta:

-Enfim, o ar vai ficar respirável!

-Por mim esse garoto não voltaria mais aqui, não é filhote? – falou o Sr. Dursley, olhando com aquela cara patética para Duda, que assentiu, com uma boca que mal cabia a comida que havia dentro dela.


Durante a viagem, Harry permaneceu calado. Rony às vezes se virava na tentativa de falar algo com aquela expressão de que iria contar uma grande novidade, mas ele nem se mexia, e Rony voltava à sua posição anterior, sem graça. Enfim, resolveu:

-Você não vai ficar assim o dia inteiro, vai?

-Assim, como?

-Assim, calado. O que aconteceu na casa dos Dursley? Está sentido dor na cicatriz? Ou é sobre o S...

E Harry o fuzilou com o olhar. Estava claro que Sirius era um assunto proibido.

-Tudo bem, cara. Não vou falar mais nada. Mas queria tanto conversar com você e não sei se posso. Você está desse jeito e...

-Pode falar! - agora Harry forçava uma expressão de interesse, que não convenceu muito Rony.

-Não, tudo bem. Quando a gente chegar, você vai ver.

-Ok.

Depois de algum tempo, enfim chegaram. Hermione saiu correndo lá de dentro com Gina atrás e pulou no pescoço de Harry:

-Que saudade! Como você está? Você está pálido! Vem, tem muita coisa pra comer lá dentro.

Mas Harry estava absolutamente bobo com o que acabara de ver. Olhava de Rony para Hermione, de Hermione para Rony sem conseguir dizer uma palavra que fosse.

-Olá, Harry!

E Harry mal notou que Gina o cumprimentava, e apenas assentiu com a cabeça. Estava com os olhos fixos nela, em Hermione.

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