A carta de Dumbledore



O café da manhã na casa dos Weasley era sempre muito agitado, havia sempre muita gente para lá e para cá, conversando alto, fazendo brincadeiras. Mas aquela manhã estava sendo muito diferente. Parecia haver uma interrogação no rosto de todos, na tentativa de concluir algo sobre a noite anterior.


Harry estava abatido, cansado. Se todos naquela casa não tiveram uma boa noite, ele foi aquele que teve a pior de todas. Estava com cara de poucos amigos, com o rosto enterrado no prato, tentando ser o mais claro possível ao sinalizar que não queria falar nada sobre o acontecido. Mas Gina não se conteve:


- Você está melhor hoje, Harry? – todos levantaram as cabeças e olharam para a garota, espantados com o seu atrevimento. Mas o bruxo não respondeu, apenas fez que sim com a cabeça.


Gina estava visivelmente chateada. Como ele poderia trata-la daquela maneira depois do que tinha acontecido entre os dois? Vai ver era por isso que não havia dado certo com a Cho, ele era muito frio, parecia não haver sentimentos dentro dele. Hermione apenas olhou para ela com empatia, ressentida pela indiferença de Harry.


Depois de todos terminarem a refeição, cada um ia se levantando para retornar aos seus quartos, quando Fawkes, a belíssima fênix de Dumbledore, chegou trazendo um pergaminho endereçado a Molly e Arthur Weasley. Todos ficaram extremamente curiosos para saber o conteúdo da carta, mas Molly foi extremamente firme:


- Vocês voltem para os seus quartos, não tem nada aqui para vocês. E, Harry, depois nós conversaremos.


Todos ficaram loucos para bisbilhotar o que Dumbledore havia escrito. Afinal, para que todo aquele mistério? Harry foi o único que não se abalou com a chegada de Fawkes. Ainda era latente em sua mente o dia em que ele praticamente destruiu a sala do diretor de Hogwarts, e o seu ressentimento ainda não desaparecera por completo. Se aquela carta era realmente sobre ele, e pelo que a senhora Weasley falou, era sim, toda a preocupação do velho bruxo por ele não o tocava mais. Se ele quisesse realmente a sua felicidade e a sua paz, certamente não teria escondido coisas tão importantes, e que foram decisivas para a morte do padrinho. Apesar da curiosidade, todos subiram resignados para os aposentos.


***


- Harry, eu poderia falar com você? – perguntou Gina, tentando ser o mais gentil possível.


- Gina, eu... – o garoto conseguiu fazer a cara mais desanimada que alguém jamais tivera a proeza de fazer - Se é pra falar sobre o que aconteceu ontem, será que você poderia esperar um pouco, estou muito cansado...


- Clar..


Gina foi bruscamente interrompida por Hermione, que se intrometeu na conversa:


- Harry, pára de fugir das coisas! Você acha que é assim que tudo se resolve, adiando sempre? Você não pode brincar com os sentimentos das pessoas, quem você acha que é? Só porque você é popular, acha que pode falar assim com a Gina?


- Calma Mione, não foi nada, disse Gina, sem graça, tentando fazer com que a amiga parasse e se acalmasse.


Harry até acordou da letargia em que estava até o momento. E, por causa de sua surpresa pela reação da amiga, “Essa Hermione eu não conheço”, não conseguiu emitir uma palavra que fosse.


- Você também é muito boba, Gina. Não pode aceitar que ele te trate assim.


- Mas Mione, eu entendo, a noite não foi fácil – agora se virou para Harry – Não tem problema, quando você se sentir melhor, a gente conversa. Vem Mione.


A ruiva arrastava Hermione pelo corredor, enquanto ela ainda olhava furiosa para um Harry completamente surpreso e sem graça. “Mas o que eu fiz?”


Seguiu, então, pensativo para o quarto. Como ele tinha problemas! E eram de todas as espécies! Precisava de alguém para desabafar, pra ver se tirava todo aquele peso de suas costas. Rony estava meio chateado com ele, provavelmente não ia querer ficar ouvindo lamúrias. Será que Gina poderia ser essa pessoa? De repente ele percebeu que aquela ruivinha poderia lhe fazer um grande bem. Afinal, desde o último ano, graças à Armada de Dumbledore, teve provas mais do que concretas de que ela era uma pessoa muito confiável. Mas ia esperar as coisas entre ela e Hermione esfriarem, já que ele havia acabado de dispensa-la. “Como eu sou burro!”.


***


- Arthur, venha ler comigo a resposta de Dumbledore.


- Já vou , querida.


Arthur e Molly Weasley,


Fiquei muito intrigado com o que vocês me contaram. Devo admitir que ainda estou estudando o acontecido, não pude concluir nada sobre o assunto. Mas acho que Harry está mesmo precisando de aulas de Oclumência, e dessa vez faço questão de ministra-las. Se não eu, Lupin, que acredito ser excelente para isso. Temo que ele não concorde em se encontrar comigo, pelo menos por enquanto.


A propósito, não se preocupem, acho que nenhum incidente aconteceu na noite passada que pudesse ser atribuída ao Lorde. Mas todo cuidado é pouco. Aguardo vocês e os garotos na sede da Ordem hoje, será mais seguro lá. Voldemort está muito discreto, talvez o pesadelo de Harry seja um sinal para tomarmos cuidado. Não utilizem Pó de Flu. Faço questão que utilizem métodos trouxas para chegarem lá.


Até Mais,


Alvo Dumbledore


- Querido, como iremos para Ordem sem Sirius na casa? Monstro não é confiável. Logo os Comensais e, claro, o Lorde, saberão que estamos lá e dos nossos planos. E por que não podemos usar o Pó de Flu?


- Você tem toda razão em estar preocupada. Mas Dumbledore sabe o que faz.


Não demorou muito para que um outro pergaminho chegasse com a resposta para as perguntas. Parecia que o velho bruxo ouvia conversas de longe:


Arthur e Molly,


Não se preocupe quanto à Ordem e Monstro, já achei uma solução para isso. Apenas vão para lá às cinco da tarde que os explicarei tudo.


Dumbledore


Desconfiada, a mãe dos ruivos olhou para o marido, que também não estava muito confiante.


- Temo pelos garotos, e principalmente por Harry, se lá não for mais seguro.


- Dumbledore jamais arriscaria nossas vidas. Não se preocupe, iremos para lá como ele nos orientou.


* * *


- Me desculpe, Gina. Mas eu não poderia deixar ele te tratar daquele jeito. Com a Cho, eu não me importava tanto, ela não era minha amiga. Mas você é.


- Ah, Mione, acho que não precisava daquela cena. No lugar dele, eu também não ia querer conversar... Você viu como ele estava? Estava acabado. E eu também não estou desesperada. Eu o entendo. Você sabe que eu jamais gostaria de ser um incômodo para Harry e se a gente o pressionar, perco definitivamente as minhas chances!


- É, você tem razão. Me desculpe, de novo. Isso não vai se repetir.


- Eu tô te achando meio nervosa desde que o Harry chegou aqui. Aconteceu alguma coisa?


- Ai, claro que não! Quero que tudo dê certo logo entre vocês... – respondeu Hermione, totalmente sem jeito.


Gina entendeu que havia deixado a amiga em uma saia-justa, então resolveu mudar de assunto.


- Mione, ontem foi tão bom... O beijo dele... É o melhor beijo do mundo! – Gina se deitou na cama, abraçando o travesseiro, com aquela cara que só os apaixonados fazem.


- Isso porque você gosta dele, Gina! Aposto que ele não beija tão bem assim, devolveu Mione, desdenhando.


- Olha, pela minha breve experiência – as duas riram – ele beija muito bem!


- Mesmo? O Harry me surpreende. Olha, vamos deixar de papo e vamos bolar alguma coisa pra vocês “conversarem” de novo – Hermione agora levantava a sobrancelha, num sinal de que era muito mais que conversar –, se é que você me entende.


- Você tem algo em mente? – perguntou a ruiva, toda animada.


- Ah, tenho sim. E acho que não tem como não dar certo. Mas acho que vamos precisar do Rony.


***


Harry abriu a porta do quarto e Rony, apesar de não estar nos melhores dias com o amigo, não conseguia disfarçar o quanto estava preocupado. Era aquele silêncio constrangedor, de quando desejamos que o outro ouça os nossos pensamentos. Como Rony decidiu ficar calado, Harry finalmente se manifestou:


- Rony, por que você não me fala sobre aquele assunto?


- Que assunto?


- Ora, que assunto! – Rony sabia ser irritante quando queria – Se eu soubesse, não estaria perguntando.


Rony riu. Harry também. E foi um sorriso de cumplicidade e de desculpas mútuas. Ali desapareceu qualquer mágoa que poderia ter tido até então.


- Harry, desculpe eu ter ficado fazendo jogo duro quando você me perguntou sobre... Ah! Sobre eu gostar da Mione - ele falava sem olhar nos olhos do amigo, envergonhado, batendo um polegar no outro. Mas é que eu estava pensando que... eu... eu não sabia se podia falar com você sobre isso, fiquei com medo que existisse alguma coisa entre vocês - Rony hesitava muito para falar daquelas coisas.


- Eu já te falei o que nós estávamos conversando ontem, mas você não quer acreditar... – Harry agora se continha como nunca para não gritar “Eu sabia, eu sabia que você gostava dela!”.


- Mas não vai pensando que eu estou apaixonaaaaado, porque eu tô só interessado – era incrível como aquelas orelhas conseguiam ficar vermelhas.


- Aham, sei... E como é que você vai falar isso pra ela?


- Bom, não sei se vou falar. Mas eu tenho um plano, e vou precisar da sua ajuda e principalmente da ajuda da Gina.


- Então pode começar a falar.


Os garotos permaneceram por horas bolando o plano perfeito, enquanto num outro quarto não muito longe dali outro também estava sendo minuciosamente arquitetado.


***


- É isso, o que você achou?


- Mione! Se esse plano não der certo, eu simplesmente desisto.


- Ah, não! Essa é uma primeira tentativa. Vou começar a escrever a carta agora!


- Vocês não vão fazer nada, mocinhas. Arrumem suas coisas. Iremos para a Sede da Ordem, ordenou a senhora Weasley, após abrir a porta como um furacão.


-O quê!!! – exclamaram as duas. Sede da Ordem?


- É, Sede da Ordem. Não discutam.


Aquela também tinha sido a reação dos garotos, mas Harry ficou especialmente entristecido. Tudo naquela casa iria lembrar Sirius. Iam ser alguns dias torturantes. A senhora Weasley percebeu a angústia do garoto e lhe disse que ele precisava lidar com aquelas lembranças, pois elas permaneceriam por sua mente por toda a vida. Harry sabia que ela tinha razão, mas não tinha certeza se poderia suporta-las tão cedo. Mas ele não tinha escolha e, durante toda a sua vida, tinha dado provas de sua coragem e força. Não ia ser agora que ele iria fraquejar. Talvez toda aquela história sobre ele e Gina, Rony e Hermione o houvessem animado um pouco, tirando do seu pensamento as coisas que ele perdera e colocando coisas, ou melhor, uma pessoa, que ele poderia ganhar.


Todos começaram a arrumar as coisas, em breve sairiam a caminho da sede.


Ufa, esse capítulo foi realmente difícil de escrever! Espero que estejam gostando! Não hesitem em deixar sugestões, faço questão mesmo. Garanto mais emoções no próximo capítulo. Prometo que também não vou demorar a postar, não mais que dois dias.


Queria mandar um abraço pra todos que estão lendo, brigadão mesmo. Até mais


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