À Sombra da Morte



Capítulo I
À SOMBRA DA MORTE


Professor Klepstein descansava em sua cama, exausto, porém vitorioso. Era quase meia-noite do dia 24 de dezembro, mas datas festivas nunca lhe foram de muita atração. Lá fora, escutava-se famílias comemorando, sendo felizes e por uma fração de segundos, Klepstein sentiu inveja. À muito que não tinha esta alegria de ter famíliares ao seu redor, de fato à muito que não tinha pessoas ao seu redor. Suas viajens pelo mundo o tornaram solitário, seu sonho o tornou delirante e seu triunfo o tornará famoso, talvez um Deus.

Deus era apenas um conceito, Klepstein queria ser real. Seu maior desejo era mudar a forma como o mundo viveria.. e morreria. Para isso deveria estar sozinho, viver isolado e somente aparecer ao público quando todos já tiverem percebido.

"Como será que eles aceitarão a notícia agora que terminei?" pensou antes de fechar seus olhos.

Klepstein estava escondido em uma casa abandonada, sabia que sua vida corria risco. O quarto era pequeno e mal iluminado, com paredes rachadas e acinzentadas e cartazes de símbolos chineses mal pregados. Na mesa papéis e livros espalhados, alguns cadernos com anotações e uma mochila velha. No canto direito jazia uma cama mógno onde o cientista dormia. Em seu velho e enrugado rosto um sorisso quebrava a tristeza do local, o ar de morte, a sensação de que tudo poderia estar perdido.. mas não desta vez. Klepstein simplesmente sonhava, não na nuvem mais alta ou na estrela mais brilhante, mas em uma sala fria e negra, onde um menino de 10 anos olhava para dois outros presentes.

O jovem Klepstein continuava a olhar para seu pai. O homem se assemelhava muito ao garoto e seus cansados olhos cinzas pareciam afinal felizes. A mulher ao lado, uma morena senhora, sorria para o garoto e com seus braços abertos convidava-o para um abraço. Klepstein continuou parado, analisando o local: uma sala escura, com um tom esverdeado e uma lareira sem chamas. Em frente à lareira duas velhas poltronas e o que parecia ser uma mesa central. Klepstein reconheceu o lugar imediatamente - para sua infelicidade. Os dois adultos ali estavam, esperando pelo afeto do menino, que ao perceber o desejo de seus pais começou a caminhada para o que parecia ser um o momento mais feliz de sua vida.

Ele então parou. Onde lá deveria estar seu pai, jazia somente uma sombra com olhos brancos, que analisavam Klepstein. A sombra soltou uma risada alta e um grito, que Klepstein reconheceu sendo a voz rouca de seu pai, ecoou pelo local. Olhando para o corpo já sem vida estirado no chão, o garoto correu para sua mãe, que agora estava branca. A mesma sombra que havia levado o homem ia agora para a mãe, que simplesmente desapareceu, deixando o menino sozinho. Klepstein olhou para a sala, que agora estava totalmente negra. A lareira estava acesa, com chamas azuis e não havia nenhum móvel restante. Aos poucos o local se desfazia e com medo o garoto fechou os olhos.

Ao abri-los novamente percebeu que estava na rua. O pôr-do-Sol tinha apenas acontecido, porém algumas pessoas ainda estavam fora de suas casas. Klepstein não teve tempo para pensar e simplesmente correu por ajuda e então ele viu a sombra novamente. Klepstein parou, olhou para o local e viu somente corpos estirados no chão. Ele então percebeu que era inútil lutar contra aquela sombra, era inútil lutar contra a MORTE. Sendo o único restante no local, MORTE começou a se aproximar. O fim parecia estar perto e por mais que Klepstein fugisse, a sombra parecia ser mais rápida. Ofegando, Klepstein virou para olhar e ...


"BANG!" Professor Klepstein acordou assustado com o barulho. Teria alguém descoberto seu esconderijo? Ele não tinha tempo para pensar, pegando algumas anotações e a mochila, o professor se adiantou para a janela, porém antes de conseguir atravessar a mesma outro BANG ecoou e a porta do quarto abriu, revelando três encapuzados.

"Parado Dalton" disse o primeiro apontando sua arma para o cientista, "não pretendo machucá-lo, apenas passe as jóias para cá" o encapuzado estendeu sua mão.

"Machucar-me? Não acredito que você ousaria tocar em um fio de meu cabelo." Klepstein parecia seguro do que dizia. Percebendo que não havia a mínima possibilidade para uma fuga, ele simplesmente virou-se para os três humanos à sua frente. "E eu não sei do que você está falando. Jóias? Tenho eu cara de quem sai mundo afora comprando jóias?"

"Klepstein, estou cansado de suas educadas desculpas. Simplesmente passe a jóias." disse o segundo encapuzado com uma voz grossa e estranhamente familiar ao professor. "Não desejo disparar esta arma hoje. Apenas dê-me o que procuro."

"Oh, meu bom senhor, tenho certeza que não possuo o que procuras e ainda ouso dizer que disparar em mim não será de muita ajuda" Klepstein disse calmamente, irritando ainda mais o homem à sua frente. Antes de conseguir prosseguir, o terceiro - e até o momento quieto - encapuzado falou. Sua voz era rouca e ofegante.

"Do momento em que eu o vi, sabia que seu interesse com a morte era perigoso. Os estudantes de Oxford estavam certos, você é um risco para a humanidade, para a criação divina de Deus"

E pela primeira vez - desde que os três homens chegaram -, Klepstein pareceu desconfortável. Escutar aquela última palavra foi como levar um soco na boca. Há muito que não acreditava em Deus. Em fato, odiava o simples possibilidade de existir um ser onipotente que controlava a morte.

"Deus?" perguntou o professor, "Deus criou e Deus destruiu" sua voz estava em um tom elevado. "Se essa criação fosse tão perfeita, morte não existiria. Aliás MORTE foi o maior erro já cometido por alguém.." ele fez uma pausa "mas que pode ser corrigido".

"HERESIA" gritou o terceiro homem. Ele retirou o capuz de sua cabeça e Klepstein pode ver aquele que o ameaçava. Klepstein lembrava muito bem daquele rosto: o grande chefe da Universidade de Oxford e imensamente importante para a Igreja. Lorde Roke, aparentava muito mais velho desde que Klepstein havia deixado a escola para se dedicar ao seu sonho.

"Roke! Não me surpreendo. A serviço da Igreja certo? Não me atrevo à dizer que você esteja aqui à serviço de Deus, pois tenho certeza que um dos mandamentos diz expressamente 'Não Matarás'", a menção de uma passagem Biblíca não afetou o homem que ainda tinha sua arma levantada e o dedo muito próximo do gatilho.

"Lorde Roke, não! Ainda não..." a voz grossa falou novamente "espere até termos a exata localização das jóias."

"Oh! Vossas senhorias não esperam que eu realmente os ajude." Klepstein recuperou a confiança. "Não preciso mais esconder a verdade e certamente o local de esconderijo da jóia continuará sendo uma incógnita" ele pausou por uns instantes continuou a falar. "Por séculos pessoas sofrem com a perda de alguem querido, ou a morte de um familiar. A morte é um erro e como todo erro há uma correção."

"Pare de sonhar" disse a voz grossa, retirando o capuz e revelando-se como Mounsieur Dobson, um famoso empresário, especializado em "assuntos da morte".

"Eu me recordo deste rosto... não nos conhecemos em algum lugar anteriormente?

"China, mais de 20 anos atrás. Você foi meu convidado por uma noite e dizia-se interessado na Lenda das Insígnias Mortais. O erro foi meu, sim todo meu... contar tal lenda para um sujeito como o senhor, foi certamente um grave erro. Recordo-me que na manha seguinte já não estava mais na presença de minha casa."

"Exato, exato. Mounsieur Dobson, eu realmente devo-lhe agradecimentos. Você me ensinou o meio de combater a morte." Klepstein fez uma pausa e com um ar de triunfo continuou. "O maior medo da humanidade, derrotado por um mero mortal."

"Você não vê os problemas que traria se existisse a possibilidade de seu sonho se tornar realidade?" falou o primeiro encapuzado, que Klepstein reconheceu imediatamente sendo seu colega na universidade.

"Alfred?" ao ouvir essas palavras o homem retirou sua máscara "Não conseguiu viver com a inveja. Sempre tentando roubar minhas idéias... não me adimira que você esteje aqui. Antes de responder à sua pergunta" os homens se entreolharam "sim eu vou responder a sua pergunta - eu quero lembrá-los de que o mundo não é mais o mesmo e a morte não é mais benefício."

"Klepstein, seu tempo está acabando. Nós apenas queremos ..." ele foi interrompido por Klepstein.

"Eu não vejo problema algum com a desintegração da morte. Viveriamos para sempre, com as pessoas que amamos ao nosso lado."

"Klepstein, nunca ouviu dizer que a faca sempre tem duas pontas? Não há como desintegrar a morte, professor. Aceite, um dia sua vela se apagará e a morte virá para você, como veio para muitos outros."

"Não, pois a lenda diz..." foi Lorde Roke quem interrompeu desta vez.

"Tolo, você realmente acha que a lenda é verdadeira?"

"Se não fosse, com certeza não teria convidados tão inesperados aqui hoje" Klepstein olhou para o Lorde. "Seu Deus não poderá te ajudar..." mas antes de conseguir terminar sua frase, Roke já tinha puxado o gatilho. O tiro perfurou Professor Klepstein no peito, que com um último sorriso caiu, encarando o chão

* * *


Três comensais rodeavam um ensanguentado bruxo, que estava no chão e aparentemente urrava de dor por dentro. Seus olhos castanhos encaravam Dolohov diretamente nos olhos, que mantinha sua varinha apontada para seu rosto.

"Velho tolo, eu terei o maior prazer de acabar com sua vida miserável depois de conseguir o que quero para o Lorde das Trevas", Dolohov parecia divertir-se com o sofrimento do bruxo.

"Diverta-se o quanto quiser, mas lembre-se que seu Lorde não ficará nada feliz se você voltar com mãos vazias", o Comensal sentiu seu estômago doer ao ouvir essas palavras. Voldemort ficaria furioso se esta operação falhasse.

"Eu quero a memória. Dê-me a memória e eu pouparei a sua vida", Dolohov estava nervoso, seus olhos dilatados e seu rosto pálido. "Não posso falhar, não posso falhar." pensou.

"Prefiro morrer à trair minha família" o bruxo respondeu rispidamente. Ele já estava lá a horas e sentia que o fim estava perto. Ele não temia a morte, não quando seria a morte de apenas um. O bruxo temia as conseqüências, se a informação que possuía em sua penseira fosse descoberta.

"Assim seja... AVADA KEDAVRA" gritou Dolohov. Os outros dois Comensais continuaram intactos enquanto o corpo do bruxo voava alguns metros para trás. Satisfeito por ter usado o feitiço, Dolohov e os outros bruxos desaparataram, instantes antes daquele corpo voltar as respirar e com um longo suspiro abrir os olhos. E o que pareceu ser uma sombra com olhos brancos saiu voando pelo ar.

"Pelas barbas de Merlin..." disse o bruxo.

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