Corra Rony, corra



Eu vou me casar, Hermione







Capítulo Nove – Corra Rony, corra






Antes de entrar na sala, Hermione lançou um olhar de desagrado a Macoy que se percebeu ou não, é difícil dizer. Percy abriu a porta num gesto exagerado que lembrava fortemente uma garça, e entrou na frente, sendo seguido por Hermione e o chefe da liga com os duendes.



“Esfrie a cabeça Hermione... esfrie a cabeça... pense somente nos duendes, só nessa reunião... esqueça assuntos pequenos, concentre-se apenas nisso daqui...”.



No meio da sala, iluminada por velas flutuantes, havia uma grande mesa retangular e sentado na ponta dela, um duende de olhos brilhantes, gorro marrom, roupas elegantes e ar de poucos amigos. Mas isso não surpreendeu Hermione de forma alguma. Estava acostumada com os duendes, que apesar de serem a espécie mais encrenqueira do mundo mágico, sempre tentavam aparentar aos bruxos um ar de superioridade e competência. Encarando aquele duende com maior atenção, Hermione percebeu que sua pose era por demais arrogante, era quase como se soubesse algo que ela não sabia. E não teve nenhuma dúvida. Aquele duende era duende de Gringotes.



- Boa tarde, senhores – cumprimentou o duende sem fazer o mínimo esforço de esconder seu desprezo.



- Boa tarde – Percy devolveu o cumprimento, animado, como se estivesse falando com sua filha mais nova.



Hermione se aproximou, fazendo um leve aceno com a cabeça. Puxou uma das pesadas cadeiras de mogno e sentou-se, à direita do duende. Percy por sua vez, acomodou-se do lado esquerdo. Macoy limitou-se a ficar em pé, mais perto da porta. “É melhor que fique por lá mesmo, esse assunto não é dele. Vamos ver agora quem irá cuidar da situação...”.



- Muito bem, Sr. Lubrico – começou Hermione abrindo a pasta devagar e retirando dela um antigo relatório sobre a invasão de um duende à casa de Draco Malfoy – eu sou Hermione Granger, a chefe do Departamento de Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas.



- Sei quem é – falou o Lubrico, ríspido.



- Claro que sabe – ela voltou os olhos para o pergaminho mesmo sabendo que não havia muita informação que pudesse ser utilizada ali. “Por que é que não fiz um plano escrito para essa reunião? Ah, claro... eu estava vomitando e desmaiando...”– mas da última vez que conversei com seu povo, o líder não era você.



- Sou o líder agora.



Hermione ergueu os olhos e encarou o duende por leves instantes. Já conversara com muitos deles durante seu tempo de serviço no departamento, uma vez um duende até colocou uma bombinha em um de seus sapatos e ela teve de ficar uma semana no St. Mungus com as pernas pra cima, mas aquele duende era um fato inédito. Ele parecia saber muito bem o que queria. Bem até demais.



- Por acaso, é de Gringotes? – ela perguntou tentando parecer casual.



- Isso lá tem importância! – reclamou Percy do outro lado – Sr. Lubrico, viemos aqui dizer que não há a mínima, a mais remota possibilidade... quero dizer, o Ministério chegou a conclusão...



- Responda-me, Sr. Lubrico – Hermione repetiu a pergunta e Percy bufou de raiva – é de Gringotes?



- Me avisaram que a senhorita era muito perspicaz para uma reles bruxa, Srta. Granger – disse o duende num sorriso maldoso – sim, eu sou o supervisor-chefe do Banco Gringotes.



Hermione não sabia se ficava ou não feliz com a resposta. Duendes que possuíam alto cargo em Gringotes raramente se envolviam em revoltas menos importantes. A não ser que envolvesse muito ouro, o que não parecia ser o caso.



- Sr. Lubrico, eu aviso que se não pararem imediatamente com os ataques ao Mundo Mágico eu pessoalmente irei...



- Você pessoalmente irá fazer o que? – perguntou Lubrico interrompendo Percy, que imediatamente pareceu mais interessado nos próprios dedos.



A cabeça de Hermione estava a mil. Teve de fazer um esforço sobre-humano para pensar em alguma coisa. Por que não tinha ficado em casa para preparar melhor a reunião? Não, ela tinha de ter tido aquela idéia maluca. Tinha que ter ido atrás de Rony! “Esqueça...”.



- Devo dizer que essa “pequena” divergência entre bruxos e duendes, está tomando proporções que são desnecessárias – ela olhou para o relatório somente para dar a impressão de que sabia o que estava fazendo – duendes têm invadido casas bruxas, o que é contra a cláusula de paz entre os seres mágicos. Duendes têm invadido casas trouxas, o que não é só preocupante como quebra a maior lei da magia. O senhor tem idéia de quantos trouxas tiveram de ter suas memórias alteradas?



- Confesso que estou condoído – falou o duende com ironia.



- Uma loja de bombas dirigida por um duende é um projeto inaceitável ao Ministério – disse Percy.



- Percy, quem está conduzindo essa reunião? – perguntou Hermione olhando incisivamente para o ruivo.



- Estou fazendo isso para o seu bem. Não estaria te vigiando se tivesse ficado quieta dentro do seu escritório...



“Eu deveria... eu deveria dar-lhe um tabefe agora, ah, deveria sim! – pensou Hermione com selvageria – mas confesso que errei nos últimos dias... mas eu vou consertar isso, vou sim...”.



- Sr. Lubrico, o Departamento de Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas está disposto a negociar – ela deu uma pausa para pensar – sei que os bruxos acabaram pegando certa parte dos lucros dos duendes no Banco Gringotes nos últimos meses.



- Ah – começou Lubrico, os olhos brilhando mais do que nunca – então confessa que os bruxos têm levado vantagem nisso? Quebraram um contrato antigo, onde duendes e bruxos deveriam dividir igualmente os lucros. Esperava que ficássemos parados?



- Esperava que o banco entrasse em greve, conhecendo a história do seu povo.



- O ouro senhorita, acima de todas as circunstâncias, jamais deverá parar de circular. Estamos só querendo um novo negócio no Beco Diagonal.



- Uma loja de bombas? – perguntou Hermione erguendo a sobrancelha esquerda.



- É um negócio de lucro – completou o duende – e precisamos de mais ouro....



- A situação entre duendes e bruxos está insustentável. E compreendo seu ponto de vista. Mas isso não é desculpa para o que fizeram. Há pergaminhos e mais pergaminhos com denúncias bruxas e trouxas sobre ataques de duendes. Como disse, estamos abertos a negociações – Hermione respirou fundo para dizer – que tal o acordo de que os lucros do Banco Gringotes voltarem a serem como antes em troca da paz entre bruxos e duendes?



- Você ficou louca? – berrou Percy se levantando da cadeira.



- O que você quer, Percy? – Hermione também se levantou, lívida – uma revolta de duendes? Quer lojas saqueadas, bruxos reféns, velhas penduradas de cabeça pra baixo num poste?



- Eu vou dizer o que o Ministério não quer – disse o ruivo parando a cada palavra – pagar um bando de duendes e deixar que uma garotinha irresponsável comande um de seus departamentos!



A cor sumiu momentaneamente das faces de Hermione, que devolveu:



- Então vou deixar claro o que eu também não quero: eu não quero mais trabalhar nesse seu Ministério! Porque enquanto ele estiver lotado de homens patéticos como você Percy, o mundo mágico só vai andar para trás!



Os dois se encararam por cima da mesa durante alguns segundos mais. O ar estava incrivelmente tenso e até mesmo Macoy, perto da porta, estava apreensivo.



- As portas estão sempre abertas – sussurrou Percy entre dentes.



“Eu não acredito. Acabei de me demitir! Estou ficando louca? Tudo isso por causa desse idiota do Percy? Não posso acreditar que joguei a única coisa que me restava para o alto... não, não, eu me recuso a acreditar... as cosias não eram para serem assim. Não era para ser assim!”.



- Trato feito.



Os pensamentos de Hermione foram interrompidos pela voz do duende que havia se levantado de sua cadeira e vinha atravessando a sala. Hermione já ia se virar para responder quando percebeu que as palavras não eram dirigidas a ela, e sim a Terrance Macoy.



- Mas o que...? – não conseguiu completar a frase. Era impressão sua ou Macoy estava entregando um saco de cheio de ouro para Lubrico? Alucinação, tinha que ser... não era possível, sequer imaginável...



- Estupefaça! – gritou Macoy levando a varinha.



E no outro segundo, Percy Weasley estava caído no chão.



- Agora Srta. Granger, somos só eu e você... pagará o que me deve.



* * *




“As pessoas poderiam parar de olhar por um instante? Não tem nada de novo por aqui”.



Mas na verdade tinha sim. O caso era que Harry Potter descia a rua do Beco Diagonal como se sua vida dependesse disso. Atitudes estranhas vindas de Harry já nem eram mais tão comentadas, o mundo mágico parecia ter se acostumado à sua singularidade... mas o que fazia as pessoas colarem os narizes nas vitrines das lojas para ver direito o que estava acontecendo era outra coisa. Harry Potter estava descendo a rua do Beco Diagonal como se sua vida dependesse disso enquanto gritava feito um maluco, o nome de uma mulher!



Isso sim era motivo de comentário.



- Está vendo? – falou uma mulher de olhos agudos. Brigava por um espaço melhor na vitrina da Floreios e Borrões – esse garoto Harry Potter, sempre achei que ele fazia coisas esquisitas...



- E não é verdade? – concordou uma mulher próxima que tinha voz de periquito – nunca perde a oportunidade de aparecer... é só acontecer alguma coisa que já vem ele querendo salvar o mundo. Mas que rapaz mais aparecido! Lembram-se daquele caso com o Você-sabe-quem? Ele era manchete em tudo quanto é revista... e quando finalmente derrotou o homem? Era maçante ver o rosto dele em tudo quanto é coisa... exibido, é isso que ele é. Só porque fez uma coisinha a toa, acha que tem direito de ser celebridade...



- Mas vocês não sabem do pior – uma terceira se intrometeu na conversa – dizem por aí que ele tem namorada... e esta aí gritando o nome de outra mulher.



Um murmúrio percorreu a aglomeração da livraria.



- Sim, acho que já li alguma coisa a respeito no Semanário das Bruxas – disse a mulher com voz de periquito – mas que mau caráter! Só porque salvou o mundo umas cinco vezes, se tornou o maior auror de todos os tempos, tem poderes extraordinários e foi capa da Que Bruxo? mais de dezessete vezes, acha que pode sair galinhando por aí?



- Mas isso não é nada, minha querida – voltou a falar a mulher de olhos agudos – essa tal namorada dele, na verdade nem era namorada dele... ela era namorada do amigo dele! Ele roubou a namorada do outro... – as outras mulheres fizeram um oh enquanto ela prosseguia, sorrindo – pois é. Tem mania de grandeza. Acha que tudo tem que ser dele.



- Esses homens não prestam. É só ver uma loira mais bonita que já saem por aí correndo e berrando por ela... francamente! Que papelão!



- Mas tem um boato que ele nem está mais com essa namorada. Ela o viu na cama dela com outra mulher, uma italiana... então, a moça ficou com raiva, pediu um tempo no namoro e se mandou para a Austrália com o pai. Pobrezinha, deve ter sofrido muito...



- Já ouvi dizer que ele é gay e que finge gostar de mulher.



- E nem é tão bonito assim... aquela cicatriz parece que divide a cabeça dele ao meio.



- E se você reparar, os olhos não são simétricos.



- E aquele óculos está fora de moda...



- Odeio esse garoto metido. Só por que estamos trancadas numa loja, com duendes tramando alguma coisa perigosa lá fora, ele acha que pode nos salvar?



- Tomara que um duende arranque a cabeça dele – finalizou a terceira mulher – assim não teremos mais que vê-lo.



E as outras duas acenaram em concordância.



- Nádia! – berrava Harry consciente dos olhares sobre ele – Nádia! Nádia!



Ele a alcançou pouco depois. Ser magro, baixo demais para idade e ter passado mais de dez anos fugindo de Duda sempre tivera suas vantagens. Harry ainda conseguia levar a melhor nas corridas. Segurou a loira pelos ombros e fez com que ela se virasse para ele. Gostaria de não ter feito isso. O estado de Nádia era de dar pena.



- Por que? – lamentava ela. O rosto todo envolvido numa expressão de dor, os olhos inchados e lágrimas lavando o rosto inteiro. Como se tivesse sido condenada à morte – só um bilhete... por que ele fez isso comigo? Me diga, você é o melhor amigo dele... por que o meu Rony me deixou desse jeito?



Harry engoliu seco, mas antes que pudesse falar qualquer coisa, Nádia continuou:



- As coisas pareciam certas... até virmos para a Inglaterra e então, minha vida virou de cabeça pra baixo... apareceram um monte de coisas que jamais tinha imaginado. Pessoas...



Pela primeira vez, Harry encarou Nádia pelo outro lado. Ele sempre tinha dito que Rony precisava ir correndo atrás de Hermione, mas agora, que ele finalmente tinha feito isso, a atitude não parecia mais tão certa assim. Era justo deixar Nádia daquele jeito? A noiva que praticamente já estava na beira do altar ser abandonada com um bilhete escrito “eu sinto muito”? Harry se sentia culpado de certa forma.



Nádia deixou-se cair no chão. Odiava parecer fraca diante dos outros. Todos já a chamavam de idiota. Ela sabia. Até mesmo Rony fazia cara feia cada vez que ela dizia algo errado, apesar de dissimular. Mas era preciso acertar sempre? Ninguém era perfeito e ela não queria ser. Só queria ser feliz ao lado do homem que amava. Ver a vida desmoronar em menos de dois dias por causa de lembranças de escola? Talvez tivesse sido um pouquinho demais para ela.



- Escuta Nádia, eu entendo como você deve estar se sentindo – Harry falou, sem graça. Não gostava de dar conselhos para as pessoas, era péssimo nisso. “Rony, eu ainda te mato por ter me deixado nessa situação!” – não é certo sair correndo desse jeito. Ainda tem duendes aqui, e como você mesma disse, eles estão tramando alguma coisa perigosa.



- Eu sei – murmurou Nádia se levantando, pegando a varinha caída e segurando o que parecia ser uma caixa, mais firmemente – mas nós precisamos encontrar Rony. Eu... eu preciso falar com ele.



- É melhor que você vá embora. Eu vou me juntar aos aurores, a Sra. Weasley disse que eles estão por aqui.



- Eu não vou embora – disse Nádia com tanta convicção que Harry se assustou – eu preciso falar com Rony. É sério.



- Nádia – Harry falou calmamente – você e Rony terão muito tempo para conversar depois. Agora, nós precisamos ir... esse lugar é perigoso.



- Você não está entendendo. É importante. Eu preciso falar com Rony.



- Eu sei que isso é difícil para você. Você deve estar se sentindo horrível – Harry achou que não deveria ter falado isso, por mais que fosse a realidade, não ajudou muito. O rosto de Nádia se contorceu – Rony não foi legal quando fez isso. Não foi... mas nós precisamos realmente ir agora.



- Eu vou procurar Rony, vou encontra-lo e falar com ele e não será você quem irá me impedir! – berrou Nádia dando as costas a Harry.



- Nádia, espera! – chamou Harry ainda assustado com a moça – eu vou com você. Não pode ir sozinha.



- Eu sei muito bem como lidar com duendes – retrucou a loira – vá procurar os aurores...



- Eu não vou deixar você sozinha!



Nádia não disse nada, apenas começou a andar sem se preocupar se Harry estava ou não seguindo-a. Ela precisava falar com Rony, fosse como fosse.



- Olha só quem não está por aqui, Harry Potter!



Harry se virou para ver quem falara e sorriu.



- Por que não imaginei antes? Seu faro para encontrar encrencas sempre foi mais aguçado que o meu, não é mesmo Harry?



- Acho que sim. Olha só onde fui me meter – brincou Harry.



- No meio de uma revolta dos duendes! Pensei que hoje era seu dia de folga...



- Folga ou não, é sempre bom ver você, Ryan.



Ryan Weinstein fora professor de Harry na escola de aurores. Tática e Teoria, era sua matéria, mas ao contrário do que ensinava, ele era uma caixinha de surpresas. A afinidade entre ambos era intensa, e acabaram se tornando amigos. Trabalharam juntos em grandes casos e Harry se lembrou num sorriso de como Ryan sempre aparecia em horas inesperadas. “Hoje não poderia ser mais diferente...”.



- Nádia, espere – Harry falou para a moça que já estava mais à frente – vamos ouvir o que Ryan tem a dizer, então poderemos pensar melhor no que fazer agora... por favor, espere. Eu também quero ver o Rony, ele é meu amigo. E pode estar em perigo.



Nádia refletiu por alguns instantes e a contragosto, parou. Na verdade, estava começando a ficar assustada, aquela rua estava deserta e quieta demais para uma revolta de duendes...



- Ryan, esta é Nádia Zivojinovich – Harry tratou de apresenta-los rapidamente – ela está comigo. Nádia, este é Ryan Weinstein, auror.



Ryan estendeu a mão para que Nádia apertasse e Harry não conseguiu deixar de rir do sorriso galanteador que o professor lançara à moça:



- Sinto que tenhamos de ser apresentados em hora tão alarmante. Mas acho melhor sairmos daqui, esses duendes estão agindo de forma estranha. Vamos, os outros aurores não estão muito longe.



Um Harry ansioso e uma Nádia desgostosa, seguiram Ryan. O bruxo os levou mais à frente, perto da loja de Madame Malkin.



- Onde vocês estão alojados? Quero dizer, como estão se escondendo sem que os duendes vejam? – perguntou Harry curioso, olhando em volta.



- Essa é mais uma das minhas idéias brilhantes – falou Ryan mexendo num objeto redondo e pequeno, coisa que Harry sabia ser uma espécie de comunicador – foi alarde no Ministério. A rede do Flu está lotada. O número de vassouras e objetos mágicos voadores que têm sido vistos no mundo dos trouxas é impressionante... está dando dor de cabeça essa coisa toda. Todo o pessoal do esquadrão de feitiços está movido em desentalar as pessoas que aparataram sem licença... então nós, aurores, fomos chamados. Mas confesso que só acreditei que a situação era realmente crítica quando vi uma velha pendura num poste e um duende rindo logo abaixo... esse lugar está um inferno, Harry. E é bom ver que você está aqui. Estamos lá em cima.



- Como é que é? – perguntou Harry encarando o homem à sua frente.



- Estamos no telhado, garoto. Essa é minha idéia brilhante.



Ryan mal acabara de pronunciar essas palavras quando uma escada de cordas apareceu do nada. Pronta para leva-los até o telhado.



- Não podemos aparatar – disse Ryan fazendo sinal para que Harry subisse – estamos com dectores de magia espalhados por todo este lugar. Aparatação pode causar interferência... pode parecer loucura, mas um bruxo está por trás disso tudo. Não diria que está no comando, mas ainda assim está envolvido.



Antes de subir a frágil escadinha, Harry olhou para Nádia que sorria de leve. “Até que ela entende realmente de duendes... eles estão recebendo ordens de certa forma...” – pensou Harry agora começando a subir seguido de Nádia e Ryan.



- Vocês fizeram algum contato com os duendes? – perguntou Harry que queria ficar à par da situação.



- Fizemos – respondeu o auror lá de baixo – o líder deles é um duende de Gringotes, de nome Lubrico. Ele disse que se tentássemos fazer qualquer coisa, os funcionários do Ministério que estão lá como reféns serão mortos.



- Mas isso está completamente fora de controle! – exclamou Harry chegando em cima do telhado e ajudando Nádia a subir também.



- Foi por esse motivo que chamaram os aurores, apesar de só nos envolvermos em casos de Magia Negra. Talvez um bruxo das trevas ressentido com o Ministério tenha se aliado aos duendes – disse Ryan se juntando aos outros dois e imediatamente fazendo com que a escada de cordas desaparecesse – esses duendes nunca vão imaginar que estamos aqui.... mas, alguns aurores estão lá embaixo, avisando as pessoas que estão escondidas nas lojas. Venha logo, se quiser ajudar, claro.



- Acho que já sabe a minha resposta – respondeu Harry sorrindo.



- É assim que se fala, garoto. Vou te colocar a par da situação toda... senhorita – ele se dirigiu à Nádia – fique por aqui. Mandarei alguém vir cuidar de você.



Nadia não disse nada. Harry até chegou a duvidar que ela tivesse escutado alguma coisa:



- Ryan, Nádia está comigo... ela é a noiva do meu amigo Rony... ou pelo menos era. Pode deixar que cuido dela. Não tem problema.



Ryan fez cara de quem estava pouco satisfeito, mas prosseguiu em sua explicação:



- Nosso grupo está bom. Zob está cuidando da vigília do esconderijo. Tonks, Martha e Gilbert estão lá embaixo alertando o pessoal. Eu, Scott e Joe estamos cuidando das negociações enquanto Miller monitora qualquer tipo de magia que tenha sido feita.



- Alguma detecção de magia negra? – perguntou Harry.



- Não. Mas o Beco Diagonal é um lugar muito mágico, os detectores ficam bem confusos por aqui... mas de qualquer forma, estamos alertas.



- E os reféns, onde estão?



- A revolta parece ter saído do próprio Gringotes, mas sabemos que Lubrico não estava lá na hora. Ele tinha um encontro com funcionários do Ministério na sobre-loja da Patil & Brown. E foram justamente eles os seqüestrados. Mas não é Lubrico quem está com eles lá, ele se reuniu com os outros duendes, não sabemos onde ainda... é o nosso bruxo quem está cuidando deles.



- Como sabem que é um bruxo? Talvez os duendes simplesmente tenham resolvido se organizar...



- Duvido muito, Harry. Além do mais, Lubrico mesmo disse que tinha alguém do “nosso povo” lá acrescentando ainda, muito feliz, que os bruxos não eram assim tão espertos... – explicou Ryan rapidamente – pegamos o nome dos três funcionários do Ministério que estavam envolvidos na reunião: Percy Weasley, conselheiro do Ministro; Terrance Macoy, da ligação com os duendes; e Hermione Granger, chefe do departamento de Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas.



Harry suspirou quando ouviu o nome da amiga. Rony estava certo, então. Ela realmente estava precisando de ajuda.



- Mas não sabemos quem possa ser o tal bruxo envolvido com os duendes. Talvez seja coisa daquele maluco homicida obcecado por Artes das Trevas, o Rost.



- Duvido – falou Harry se lembrando de Gregory Rost, um interno da ala psiquiátrica do St. Mungus que fugira e andava por aí atacando bruxos se intitulando seguidor das trevas – ele é só doido. Não sabe tanto assim de artes das trevas e nem tem inteligência suficiente para fazer alianças com duendes. E um grupo de aurores foi mandado ainda ontem para caçá-lo em Dublin, não duvido nada que amanhã ele já esteja preso. Esse cara é patético!



Ryan fez um sinal em concordância.



- Eu quero ir até a Patil & Brown ver se descubro alguma coisa – sentenciou Harry avaliando a situação – quem sabe as donas da loja não sabem de algo?



- Eu acho que elas já se mandaram - falou Ryan rindo de leve – e é perigoso ir lá, mas sei que por mais que meu discurso seja longo você não vai desistir da idéia.



- E você tem toda razão!



- Eu vou com você – disse o auror chegando na borda do telhado, o que fez a escada de cordas aparecer mais uma vez.



- Então vamos logo – Harry sabia que se Ryan Weinstein tinha alguma coisa parecida com ele, era a teimosia. Os dois se compreendiam muito bem e quando trabalhavam juntos, o resultado sempre era satisfatório. “Será que Rony sabe que Hermione está na Patil & Brown?”.



Desceram a escada em silêncio. Ao tocarem o solo, a escada desapareceu mais uma vez.



- Ah meu Deus! – exclamou Harry batendo na própria testa, em reprovação – esqueci-me da Nádia! Onde ela está?



- Por acaso não seria aquela ali? – Ryan apontou um ponto mais adiante.



- Não acredito que ela desceu primeiro! Vamos atrás dela! Ela não está muito bem da cabeça e pode ser bem capaz de cometer uma loucura!



* * *




“Não faça uma burrice”.



Por que diabos a voz de Harry tinha de ficar se repetindo na cabeça de Rony feito um gravador velho? Era incrivelmente irritante! E só fazia com que o ruivo perdesse a certeza de que fizera a coisa certa. Coisa certa... Provavelmente se alguém chegasse contando para Rony que saíra correndo atrás de um velho amor no meio de uma revolta de duendes, deixando uma bela noiva para trás, se despedido com uma nota de rodapé e correndo um sério risco de levar uma pedrada na cabeça acrescentado de um pé na bunda, ele diria que era um absurdo. Disparate. Asneira. Suspeitaria seriamente da sanidade da pessoa. Em outras palavras, acharia que era burrice.



“Não faça uma burrice”.



Rony anotou mentalmente que se encontrasse Harry lhe daria um soco. Isso considerando que ele sobrevivesse, é claro. Porque agora estava sinceramente preocupado com isso. Agora, que a euforia já havia passado, que o espírito cavaleiro medieval já o havia deixado, que o quadro da situação geral havia voltado... agora, ele se lembrava de que estava no meio de uma revolta de duendes! Por mais quietas que aquelas criaturas estivessem, aquilo ainda era uma revolta. E a possibilidade de ser atacado por um duende não era o que Rony chamaria de agradável. O que ele estava fazendo? Descia a rua tortuosa do Beco Diagonal correndo, mas para onde ele estava realmente indo? Não fazia a menor idéia! Só corria... céus, seria cômico se não fosse trágico. Ah, esqueci. Era burrice.



Derrapando ligeiramente, Rony parou de correr. Aquilo não levaria a nada. Olhou em volta e tudo estava deserto... deserto demais. Não gostava daquele silêncio. Era inquietante e parecia dizer alguma coisa.



“Seria sensato aparatar agora? – Rony se perguntou tirando a varinha das vestes – está querendo fugir, Rony Weasley? Pare já com isso, foi você quem procurou essa encrenca...”.



Talvez ele estivesse finalmente ficando paranóico, mas resolveu que era melhor sair do meio da rua. Entrou num pequeno espaço entre uma loja de doces e uma de ervas que era designado para colocar o lixo, sem se importar muito com o cheiro. Precisava pensar seriamente no que faria.



Voltar para a loja. Por breves instantes Rony achou que fosse uma boa opção, mas daí se lembrou que o que provavelmente teria de enfrentar lá. Quer dizer, ele não fora exatamente justo com aquela história do bilhete não é mesmo? Descartou logo a idéia. Ele já estava ali fora. Era melhor fazer o que queria fazer.



“Ir atrás de Hermione. Mas, onde ela está? Onde se faz reuniões com duendes nesse lugar?”.



Rony ainda não entendia direito o porque fizera aquilo exatamente. Sabia que Hermione era uma bruxa competente (talvez a mais competente de todas) e que provavelmente sabia muito bem lidar com duendes. Mas alguma coisa lhe dizia que havia algo errado. A simples idéia de que Mione poderia estar correndo sério perigo e ele não estaria lá para ajuda-la era simplesmente insuportável. E se acontecesse alguma coisa? Ele jamais iria conseguir conviver com a idéia.



Porque nem mesmo tendo sido rejeitado duas vezes Rony conseguiria esquece-la. Dera-se conta disso ao ficar com Nádia na loja dos irmãos. Por mais que fosse uma mulher interessante, a loira jamais seria como Hermione. E de que adiantava fingir que havia conseguido esquece-la se toda que vez ele fechasse os olhos veria Mione? Se toda vez que ele dormisse sonharia com ela e que mesmo sem saber, mesmo tendo fugido do passado, a lembrança dela ainda permanecia viva dentro dele? Ela não o queria, ele sabia, mas o simples fato de poder protege-la era suficiente para ele.



Pela segunda vez em menos de dois minutos, Rony sentiu uma vontade imensa de socar Harry Potter. Ele estava virando um romântico! “Com aquele papo de mulher para toda a vida.... olha só que você me fez, Harry! Eu estou tendo devaneios românticos! Isso é o fim”.



Já ia bater a cabeça na parede quando ouviu vozes. Vozes estranhas falando depressa em meio a grunhidos. Pela desorganização, só podia ser coisa de duende e como a idéia de ser capturado e pintado de vermelho com tina não-removível não pareceu uma boa opção, Rony se escondeu atrás de uma lata de lixo particularmente grande e fedorenta.



Estava certo. Um grupo de duendes vinha subindo a rua, segurando pedaços de madeira com pregos nas pontas, picaretas e outros objetos igualmente assustadores. Pareciam bastante animados. “Nunca tinha pensado que uma criatura que mal passa a altura dos meus joelhos fosse me causar tanto medo”. Era uma coisa vergonhosa de se admitir, mas era verdade. A expressão daqueles duendes já dizia tudo.



“Olha só onde fui me meter...”.



O bando de duendes foi embora aparentemente sem verificar ruivos escondidos atrás de latas de lixo. Rony suspirou ligeiramente aliviado. E agora? O que faria? Para onde iria? Não fazia idéia... Alguma vez seu pai teria comentado sobre onde eram feitas as reuniões com duendes no Beco Diagonal? Provavelmente não. Tentou se lembrar de todos os discursos de Percy sobre negociações ministeriais. Nada. Pela primeira vez na vida se arrependeu de não ter prestado atenção no irmão mais velho... quem sabe ele não teria dito alguma coisa do gênero entre uma tese de fundo de caldeirão e a fiscalização das varinhas?



Frustrado, Rony achou que era melhor sair daquele lugar imundo se quisesse realmente começar a fazer alguma coisa. Aurores... é, ouvira a mãe falar alguma coisa sobre eles estarem ali. Droga, por que não estava prestando atenção? “Ah claro, estava tendo idéias malucas sobre sair correndo atrás de Mione...”. Decidiu procura-los. Talvez ele pudesse descobrir alguma coisa, e até ajudar, ser o melhor amigo de Harry Potter tinha lá suas vantagens.



Não sem antes verificar uma centena de vezes se não havia mais nenhum duende mal encarado descendo a rua, Rony saiu de seu esconderijo. Varinha ainda em punho, alerta a qualquer sinal. Olhos de águia, ouvidos de raposa, a percepção aguçada de uma...



- Ah! – ele berrou quando sentiu alguma coisa em seu ombro.



- Calma, sou eu.



E isso não o animou nem um pouco. Pelo contrário, só conseguiu deixa-lo mais assustado:



- Nádia? O que você está fazendo aqui?



* * *




O duende Lubrico deixou a sala, fechando a porta com um estalo.



- O que você pensa que está fazendo? – berrou Hermione olhando Percy caído no chão, o braço ainda erguido pra cima, o que dava à cena um ar no mínimo estranho.



- Oras, você não iria querer esse idiota do Percy... eu sei que não. Você não o suporta, assim como eu não o suporto. É um imbecil arrogante e pomposo – falou Macoy com a varinha ainda firme na mão direita.



- Eu vou embora daqui agora mesmo – disse Hermione juntando seus pergaminhos de qualquer jeito e colocando-os na pasta. “Eu sei que vou me arrepender dessa bagunça mais tarde, como vou encontrar minhas coisas pra amanhã? Ah, me esqueci... eu não vou ter emprego amanhã!” – e não pense que vou ficar calada quanto a cena que acabei de ver! Vou agora mesmo ao Ministério fazer uma denúncia, então diga adeus ao seu cargo no meu departamento...



- Seu departamento? Seu departamento? Ah, Hermione, não me faça rir. Aquele departamento nunca foi seu, muito menos agora – prosseguiu Macoy encarando-a felinamente – você está fora. Percy acabou de dizer isso e eu sou testemunha.



- Que eu me lembre nunca te dei permissão para me chamar pelo primeiro nome – falou Hermione deixando toda a raiva que se acumulara nela escapar por aquela frase – agora afaste-se dessa porta, eu tenho uma denúncia para fazer.



Macoy contentou-se em lançar um sorriso maldoso.



- Acha mesmo que vai a algum lugar?



Antes que Hermione pudesse chegar na maçaneta, Macoy enfeitiçou a porta. Ela tentou empurrá-la, mas foi em vão. Imediatamente colocou a mão dentro do casaco em busca da varinha, mas logo se lembrou de que ela não estava ali. “Não acredito nisso! Estava tudo de caso pensando... não devia ter entregado minha varinha! Mas que droga! Essa vida que não faz nada de certo!”.



- Sempre me disseram que você era uma moça inteligente, Hermione – disse Macoy ironicamente – uma espécie de talento brilhante. Pensei que seria mais difícil enganar você... porque com o Percy foi fácil – ele acrescentou indicando o outro estirado no chão – mas a juventude minha cara, é ingênua. Não se lembra da primeira regra na vida de um bruxo? A varinha anda sempre junto... quem disse isso? Ah, foi Alvo Dumbledore! E isso me lembra uma coisa: você é veterana de guerra. Fico me perguntando como conseguiu esquecer de algo tão banal... e nem tente aparatar minha querida, sabe tão bem quanto eu que essas paredes foram revestidas com feitiços anti-aparatação.



Hermione não lembrava de se sentir tão estúpida na vida. “Como eu pude me preocupar tanto com uma coisa tão boba e me esquecer das coisas importantes da minha vida? Meu trabalho e minha carreira?”.



- Não sei o que espera conseguir com isso. Você acabou de subornar um duende na presença de uma das maiores defensoras das criaturas mágicas da atualidade – disse Hermione tentando passar sobriedade enquanto na verdade se dividia entre socar Macoy e jogar-se no chão num ato de desespero; mesmo sabendo que nenhuma dessas alternativas surtiria algum efeito produtivo – com ou sem varinha, um dia vai ter de me deixar sair daqui, então eu vou contar o que fez. Sinceramente, Sr. Macoy, jamais esperaria esse tipo de coisa de alguém da ligação com os duendes... quanto está ganhando por fora?



- Acha mesmo que fiz isso pelo dinheiro? – perguntou Macoy em sua voz estridente.



- E que outro motivo teria?



- Ah, Hermione... você não sabe nada. Pode ser inteligente e brilhante, mas ainda não entende nada da vida! Nada! – gritou o homem, os olhos injetados e o rosto todo contraído em fúria. Assustada, Hermione recuou alguns passos – é uma tola! Tola como todos aqueles boçais de chapéu-coco que te colocaram num cargo que deveria ser meu!



O efeito daquelas palavras ainda pairou alguns segundos no ar. Hermione engoliu um seco sem saber o que dizer. Limitou-se a observar Macoy. “Ele está completamente fora de si!”.



- Eu deveria ser o chefe do Departamento de Controle e Regulamentação das Criaturas Mágicas! – prosseguiu Macoy cuspindo – eu! Eu que trabalhei a minha vida toda naquele lugar, dando meu sangue para aquele Ministério maldito a fim de conseguir ser alguém na vida! Um chefe de departamento! Quando Diggory se aposentou, pensei que era a hora... era o funcionário mais dedicado, exemplar... membro influente do departamento e ainda contava com o apoio desse babaca do Weasley... mas então você apareceu. Assistente do assistente, cargo medíocre... mas você tinha escrito aqueles livros, não é mesmo? Aqueles malditos livros!



- Por Merlin, acalme-se. Isso tudo não faz o menor sentido... – falou Hermione se afastando ainda mais daquele homem baixo, magro e que pareceu ainda mais amalucado quando avançou contra ela. A cara mais vermelha do que a de um Weasley nervoso.



- É claro que faz sentido! Você não era ninguém, era sua estréia no Ministério e Diggory deu o cargo a você...



“Ele ficou louco – pensou Hermione desejando ardentemente ter sua varinha por perto – eu tenho que arranjar um jeito de sair daqui! E agora!”.



- E o que sobrou para Terrance Macoy? – prosseguiu ele apertando a varinha ainda com mais força e apontando-a para Hermione – hã? Com o que é que eu fico? Mandado para a ligação com os duendes enquanto a Miss Protetora das Criaturas Mágicas se tornava a chefe! Eu fui esquecido, descartado, depois de ter dado anos da minha vida naquele lugar! Você acabou com a minha carreira e agora, eu acabo com a sua. É o que eu chamo de justiça.



“É o que eu chamo de insanidade” – mas Hermione achou melhor não verbalizar sua opinião, Macoy estava armado e ela não.



- Eu sinto muito – disse ela francamente – deve ter sido horrível, mas não tive culpa. Eu era uma simples...



- Cale a boca! – berrou Macoy, lívido – sempre achei que você fala demais.



Hermione se sentia nauseada com a situação e teve de se controlar para não vomitar em cima de Macoy. Ela precisava sair daquela sala de qualquer jeito. Não queria nem imaginar o que os duendes deveriam estar fazendo àquela hora. E a culpa era dela... toda dela. Se não tivesse se distraído tanto com assuntos pequenos, Percy e Macoy não estariam ali para supervisiona-la. Sim, ela era a única responsável por aquela loucura. “Eu sou a maior desgraça do mundo mágico... consegui em menos de dois dias estragar tudo. Tudo! Se esses duendes se revoltarem agora, terei de carregar o peso das conseqüências o resto da vida... – a expressão de Hermione então passou de susto para absoluto terror – ou talvez não, talvez Macoy esteja tentando me matar!”.



Um frio percorreu-lhe a espinha e Hermione pensou que fosse desmaiar. Observou Macoy brincar com a varinha, sim, ele parecia realmente perigoso. Quem diria... aquele homem pacato e sem graça com quem ela se esbarrava quase todos os dias no Ministério a odiava. Sempre tão educado, pontual e correto, com certeza ele seria uma das últimas pessoas que Hermione suspeitaria de ter problemas psiquiátricos. Sim, porque ele os tinha, não havia dúvida.



“Ah, pelos céus! Eu estraguei a vida de um homem! Indiretamente, mas estraguei... eu sou uma pessoa horrível. Horrível e incompetente...”. Peraí, o que estava fazendo? Ela se esforçara, sempre havia estudado e pesquisado para fazer alguma diferença. Escrevera seus livros, e eles fizeram. Ela merecia o cargo de Chefe de Departamento, não merecia? Era dedicada ao trabalho e... talvez não se dedicasse tanto assim. Se realmente fizesse as coisas do jeito certo, não estaria naquela situação.



“Um único erro pode acabar com toda uma vida”.



Fazia anos que não sentia tanto medo. Desde a época de Voldemort... passou as mãos pela testa sem ao menos perceber e tentou respirar fundo. Não iria se render. Nunca fora uma covarde e não seria agora.



- O que pretende com isso? – ela perguntou usando de todo seu autocontrole – subornar um duende? Só está se afundando...



- É aí que você se engana – Macoy voltou a falar sério, parecia agora mais controlado, mas o brilho sinistro de seus olhos ainda não se apagara – eu confesso que durante muito tempo eu me dei por vencido, Hermione – ela apenas lançou-lhe um olhar duro que o fez rir – você sempre teve a sorte como aliada. Nunca cometia erros e recebia os melhores elogios... parecia não ter jeito de acabar com essa sua festinha cor-de-rosa. Até aquela entrevista no Profeta Diário... não me lembro de ter ficado tão feliz! Estranho como pequenos acontecimentos podem mudar as coisas de ângulo, não é mesmo?



Hermione abriu a boca para responder, mas Macoy a cortou:



- Vi ali a minha chance. Com algum trabalho, poderia dar maior ênfase ao seu fracasso, mas qual não foi a minha surpresa quando você finalmente sumiu do Ministério deixando todo aquele assunto dos duendes pendente? Assunto, que você mesma procurou resolver? Lembra-se, toda aquela história de “o departamento inteiro precisa estar envolvido, não só a ligação com os duendes...”. Parece que você gosta de tirar as coisas dos outros, Hermione... – ele parou um instante para observar o efeito de suas palavras e depois prosseguiu – Percy é claro, ficou desesperado e eu imediatamente me ofereci para ajuda-lo nesse assunto. Ele temia que você sequer viesse, achava que estava envergonhada por conta da entrevista... mas eu sabia que você voltaria, sempre gostou de aparecer...



- Ainda não vejo o que o suborno tem haver com isso – disse Hermione rispidamente.



- Prefiro o termo “acordo”, se não se importa – e riu da própria “piada” – isso foi uma jogada de mestre, devo dizer. Foi um pouco dispendioso, é verdade, mas está valendo a pena. Acabei descobrindo que os duendes de Gringotes estavam um tanto hum, digamos, exaltados por causa do ouro desviado pelos bruxos. Mexi uns pauzinhos aqui e ali, e Lubrico se aliou a mim. Ele e seu grupo têm uma grande ambição... pedi a eles então que se juntassem à revolta da loja de bombas e prometi mais ouro. Eles não puderam recusar...



- Mas minha oferta era praticamente irrecusável! – falou Hermione sem conseguir esconder o nervosismo. Odiava perder, e a idéia de um duende ter preferido fazer acordos com um homem tão baixo quanto Macoy do que com ela, era insuportável – os lucros de Gringotes seriam deles novamente.



- Oh, que lindo! – zombou Macoy – isso é no mínimo meigo. Os duendinhos têm de volta seus lucrinhos... eles gostam de ouro vivo! Eu dei isso a eles, muito até...



- Acha realmente que pode me atingir com isso?



- Se eu acho? Eu tenho certeza. Os duendes revoltosos pela loja de bombas era o seu grande caso. Fracassando nele e já com os últimos furos no Ministério, sua demissão seria certa. Mas eu realmente quis algo grande. Nesse exato momento os duendes estão se revoltando nesse lugar... não vai pegar bem pra sua imagem, não é mesmo? Responsável por uma revolta de duendes... aí sim, fracasso total e sem chance de retorno.



- Como eu já disse, uma hora vou ter que sair daqui, então vou denunciar você – falou Hermione entre dentes.



- Vamos ver em quem eles vão acreditar... – Macoy fingiu pensar um instante – no funcionário responsável e leal ou na mulher que foi taxada de bêbada pelo Profeta Diário e logo depois desapareceu? Eu tenho todo um esquema montado... e esse seu escândalo com o Weasey agora a pouco só veio contribuir. Pelo que conheço dele, te acusará de anarquia, negligência e falta de respeito a um funcionário de alto calão. Eu vou te acusar de acordos “não-oficiais” com os duendes, se é que você me entende...



Era verdade. Querendo ou não, Hermione teve de admitir que Macoy estava certo. Ninguém acreditaria mais nela... não adiantava fazer tudo certo a vida inteira, era errar uma única vez e levar o descrédito consigo para onde quer que fosse. Não era assim que funcionava? “Está tudo acabado... tudo acabado”. Segurou para não chorar, não daria um gosto a mais para Macoy. Mas sentia-se perdida. Tudo que acontecera nos últimos dias pareceu se concentrar em sua mente. Estava sem chão e pela primeira vez na vida, não conseguia encontrar a saída. Porque esta simplesmente não existia.



Olhou para Macoy que sorria, muito satisfeito consigo mesmo, e sentou-se na cadeira mais próxima pensando no que fazer. Talvez pudesse nocauteá-lo, roubar-lhe a varinha, abrir a porta com um feitiço, sair dali, enfrentar os duendes e denunciá-lo ao Ministério. Riu do próprio pensamento. Ela, nocautear alguém? A única pessoa que apanhara dela havia sido Draco Malfoy. Não que isso fosse uma grande vantagem... ele não conseguia ao menos se defender de um duende armado com cosméticos! Patético. Sem contar que Macoy estava alerta, vigiando-a o tempo todo. Quando aquele pesadelo iria acabar?



“Por quanto tempo ele vai me manter presa aqui? O que ele quer? Por que está sentado ali todo calmo e não está fazendo nada?” – eram perguntas sem resposta. E Hermione odiava perguntas sem resposta.



O pior de tudo é que jamais venderia outro livro. Não teria mais nada. Estava arruinada. Fadada a ser sempre lembrada como a mulher que fez acordos ilegais com os duendes. Calúnia! Logo ela... não era possível. Tinha de ter um jeito. “Sempre tem um jeito. Tem que ter”.



O tempo começou a se arrastar... Macoy continuava quieto. Ora brincando com a varinha, ora cantando uma canção de marinheiro. Mas sem nunca, nunca baixar a guarda. Às vezes ela podia ouvir barulhos vindos da ante-sala e julgou que houvesse alguns duendes ali. Vigiando também... aguardando...



Hermione estava chegando em seu limite mental. Não agüentava mais aquilo! Precisava de uma penseira urgentemente para jogar fora tudo aquilo que se avolumava dentro dela... queria gritar! Considerando a situação, a idéia não parecia tão ruim. Quando estava preste a colocar em prática, alguém bateu na porta com uma força impressionante. Macoy praguejou alto, lançou um olhar ameaçador a Hermione e abriu a porta o mais rápido que pode, fechando-a atrás de si e lançando novamente o feitiço.



- Mas o que está acontecendo? – Hermione ficou feliz ao constatar que podia ouvir a conversa, vindo abafada da sala anterior – eu disse claramente que não queria ser interrompido!



- Cala boca seu bruxo imbecil – falou o que parecia ser um duende – você não tem voz nenhuma aqui. Lubrico é quem tem. De qualquer forma, achamos isso aqui e é melhor que tome conta dele...



- Mas que diabos é isso? – gritou Macoy tão alto que Hermione escutou nitidamente – o que vou fazer com isso?



- Não é problema nosso – retrucou o duende.



Houve mais alguns resmungos que Hermione não conseguiu discernir. A apreensão e o medo voltaram com força total. Mas antes que pudesse tomar uma posição, a porta se abriu novamente e Macoy entrou carregando uma coisa...



“Mas isso é completamente impossível”.



E ela ficou dividida. Não sabia se ria ou se chorava da nova situação.



* * *




- Estava procurando você – respondeu a loira com olhar melancólico.



- Hum – fez Rony desejando imensamente ainda estar escondido atrás daquela lata de lixo.



- Eu... eu preciso te dizer uma coisa...



O ruivo encarou o chão, envergonhado. “Acho que Nádia não entendeu o que eu fiz... eu a deixei! Eu fugi da minha responsabilidade!”. Desconcertado, começou a arrepiar os cabelos. Ele não havia esperado por aquela situação. Normalmente quando um cara deixa sua noiva sem maiores explicações ela chora, grita e sai correndo dizendo que nunca mais na vida quer vê-lo. E se essa noiva fosse uma mulher como Nádia, provavelmente escreveria horrores sobre ele em seus artigos só para se divertir. Rony achava que até poderia suportar situações como essa, mas nunca lhe passara pela cabeça que Nádia pudesse ir atrás dele e mais, querer conversar com ele!



Havia algo de errado no mundo. Definitivamente havia. Por que as pessoas (Rony não se descartava dessa lista) andavam fazendo coisas tão absurdas? Harry em seu atual estado de espírito poderia ser escritor daquelas rádio-novelas que sua mãe tanto gostava; já ele próprio, Rony, podia muito bem largar o quadribol e tentar carreira na comédia pastelão; Nádia não agia como uma mulher normal que acara de ser rejeitada; e Hermione... “melhor não pensar nela agora. Já estou suficientemente encrencado por isso!”.



- Nádia, eu... eu – começou Rony meio (leia-se totalmente) sem jeito – isso não estava nos planos, juro que não estava e...



Mas foi interrompido quando Nádia fez sinal para que ele se calasse:



- Vamos sair daqui. Não quero que os duendes e muito menos Harry descubram que estou aqui...



Sem mais cerimônias a loira o puxou para aquele mesmo beco cheio de lixo que estivera a poucos minutos atrás. “Vida desgraçada...” – reclamou Rony se controlando para não chutar um latão cheio de líquido malcheiroso.



- Por que você foi embora daquele jeito? – perguntou Nádia calmamente.



Pronto! Começara o tribunal da inquisição. Rony suspirou e voltou os olhos para a agora ex-noiva. Nádia tinha os cabelos ligeiramente desgrenhados, marcas de lágrimas ainda podiam ser vistas abaixo de seus olhos. Segurava a varinha na mão esquerda e o que pareceu ser uma caixa, na direita. Por alguns instantes Rony se arrependeu do que havia feito.



- Pensando bem, não quero que me responda – falou ela num sorriso que não chegava aos olhos – acho que já sei.



- Eu sinto muito – disse Rony sinceramente.



- Você já disse que sente.



Durante alguns segundos se fez silêncio, interrompido quando duas figuras passaram correndo pela rua.



- Harry e um auror amigo dele – explicou Nádia assim que Rony os viu – estão atrás de mim, provavelmente. Mas eu precisava falar com você e Harry não iria deixar. Você tem um amigo muito teimoso, Rony...



Ele se permitiu rir por alguns instantes.



- Eu precisava falar com você, não podia simplesmente deixar as coisas assim – Rony já ia corta-la para dizer que não podia voltar atrás, mas Nádia continuou – eu amo você. Amei desde que te vi jogar pela primeira vez. E isso só foi crescendo depois de todas as matérias que eu escrevia sobre os Cannons. Você era diferente dos outros jogadores. Era educado, engraçado e não se preocupava tanto com o brilho dos holofotes quanto o resto. Era esse seu diferencial. Mas só me dei conta disso naquela entrevista, lembra-se? No bar Manticora? – Rony fez que sim com a cabeça – as coisas aconteceram rápido entre nós. Rápido demais. Mas saiba que continuo te amando, mesmo depois disso... porque você ainda é especial. Entende?



- Você está errada – disse Rony com firmeza – eu não sou especial. Nunca fui. Não me preocupo com o brilho dos holofotes? – ele deu uma breve risada – não me preocupo porque eles raramente se focam em mim. Eu não sou isso que você diz que sou... sou só o Rony Weasley, o sexto de uma família de sete como você pôde ver.



- Quem está errado é você – prosseguiu Nádia numa voz suave – você é especial. Caso contrário, não teria tanta gente que te ama à sua volta. Acho que sou capaz de perdoar qualquer coisa que você fizer, Rony, porque eu te amo! Eu seria capaz de fazer qualquer coisa para subir no altar com você amanhã. É a coisa que mais me faria feliz na vida – Rony empalidecia a cada palavra que ouvia – eu queria implorar a você agora. Mas seria ridículo...



“Como você pode amar alguém como eu?”. Rony simplesmente não conseguia entender. “Como se eu pudesse realmente falar alguma coisa sobre o assunto...” – acrescentou o ruivo rápido.



- Mas não foi para dizer isso que vim te procurar...



- Não? – perguntou Rony ligeiramente surpreso.



- Na loja, você me perguntou se os duendes tinham um ponto fraco.



- Você disse que não – falou Rony se lembrando.



- Eu menti – Nádia parecia incrivelmente abalada agora – eu menti. Por favor, me desculpe, mas não queria perder você... só agora consigo entender que não se pode perder uma coisa que nunca se teve.



Inesperadamente ela se jogou nos braços de Rony chorando compulsivamente. Um tanto sem jeito, o ruivo respondeu ao abraço sem entender direito o que significava.



- Eu, eu preciso contar isso a você agora... – e abraçando-o mais, inclinou-se mais a fim de estar mais próxima do ouvido do ruivo. Numa voz fraca e baixa, contou a fraqueza dos duendes para depois recomeçar o choro.



Rony a afastou, congelado e incrivelmente surpreso.



- Você me odeia, não odeia? É por isso que está me olhando assim.



- Eu não te odeio, Nádia – disse Rony encarando-a – só não entendo como vou conseguir isso!



Para coroar todas as surpresas do dia, Nádia sorriu e brutalmente empurrou a caixa que trazia para as mãos de Rony.



- Eu te desejo sorte – ela disse sorrindo – Só esconda isso aí por precaução. Vá em direção à loja Patil & Brown, ouvi os aurores dizendo que o pessoal seqüestrado está lá. Eles estão em perigo, seu pressentimento estava certo...



Rony não conseguiu encontrar palavras para agradecer a mulher à sua frente. Balbuciou algumas coisas, mas ela emendou rapidamente:



- Eu sei que você a ama e acho que ela corresponde – Nádia falava com convicção, mas era impossível negar que estava sangrando por dentro - não sei exatamente porque estou fazendo isso... deve ser a coisa certa.



- Me perdoe... – Rony pediu num sussurro.



- Vai – Nádia disse em resposta.



- Mas, e quanto a você?



- Eu vou ficar bem – a loira respirou fundo – vou ajudar os aurores. Sabe, quando morei na Hungria, eu fiz o curso para ser auror.... acho que posso ser útil em alguma coisa.



- Como? – exclamou Rony genuinamente surpreso com a informação – você é auror?



- Mais ou menos, não terminei o curso – ela sorriu, não conseguindo conter o orgulho – preferi ser repórter de esportes. Mas o que você está esperando? Corra Rony, corra!



Ainda rindo sobre como a vida era curiosa, Rony obedeceu.



* * *




Não saberia descrever a alegria de Rony Weasley ao descer a rua do Beco Diagonal pelo que parecia ser a terceira vez. Mas creio que todos já se sentiram assim alguma vez na vida. É aquela sensação feliz e prazerosa. Aquela que todos nós sentimos ao ouvir What a wonderful world do Louis Armstrong. Acho que ele estava exatamente assim.



Mesmo com o rumo estranho daqueles acontecimentos, Rony jamais poderia suspeitar que Nádia seria quem viria ajuda-lo a encontrar Hermione. Seguiu os conselhos dela, porque ao contrário do que a maioria das pessoas pensava, Nádia era mulher esperta e inteligente. Transferiu o conteúdo da caixa para seus dois bolsos e de varinha em punho, rumou rápido para a loja de suas antigas colegas de casa, Parvati e Lilá.



“Eu sei que você a ama e acho que ela corresponde”.



Rony queria acreditar naquelas palavras. Mas sabia que não podia. Se Hermione correspondesse realmente a seus sentimentos, não teria dito aquelas palavras duras na noite anterior. Não o teria rejeitado... Antes que começasse a divagar novamente, Rony apertou o passo. Precisava chegar rápido e pensar no que faria.



Ao avistar a loja pintada nas cores rosa choque e roxo berrante, Rony parou num canto. Havia duendes de guarda lá, evidentemente. O ruivo sorriu ao constatar isso. Um plano inteiro se articulou imediatamente em sua cabeça, como acontecia quando ele montava estratégias de quadribol ou jogava xadrez, e aqueles duendes seriam parte essencial dele. “É melhor ir agora, antes que eles resolvam se revoltar de vez – rezou para que tudo desse certo e colocou um sorriso otimista no rosto – é agora ou nunca!”. Começou a andar em direção a seu alvo com cautela. A varinha firme na mão direita.

Mas a verdade é que Rony parou no meio do caminho. Inesperadamente, algo bem pesado viera ao encontro de sua cabeça.

* * *


N/A: o capítulo demorou bastante para sair, me desculpem. Mas foi realmente difícil escreve-lo. É um capítulo importante, pois esclarece muita coisa e sinto muito porque ele não ficou tão divertido. Ficou super sério, mas acho que era necessário. De qualquer forma, espero que tenham gostado. A interação R/H ficou para o próximo porque sinceramente, ficaria grande demais e sem sentido se colocasse nesse. A fic já está chegando em seu final (felizmente, já tenho grande parte dele escrito).



No próximo capítulo...



Infelizmente a autora não pôde vir escrever essa última nota. Ela está atualmente se escondendo das pedras que irão jogar nela... sim, o que ela fez com Rony foi horrível. Coitado do cara! Como se as coisas já não estivessem complicadas demais para ele sem essa “coisa” voando em direção da cabeça dele.... Mas, a Melissa prometeu que no próximo capítulo as coisas com a Hermione vão finalmente entrar nos eixos e o mais importante: as pessoas irão ouvir o que Harry tem a dizer, vocês vão saber o que tinha dentro do livro que a Nádia abriu (aposto que nem se lembravam mais disso) e o que aconteceu ao coitado do Rony! Pois é, então não percam o próximo capítulo dessa fic doida, ‘Operação Mata Duendes’.

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