ALEMÃES



“É o apanhador que sempre acaba aleijado pelos adversários”, frase dita por Simas Finnigan, no livro “Harry Potter e a Pedra Filosofal”, antes da primeira partida de quadribol de Harry.






Harry estava realmente cansado. O ritmo dos treinos físicos havia diminuído nos últimos dias, mas os artilheiros ensaiavam várias vezes as jogadas de ataque e ele havia disparado com a sua vassoura centenas de vezes atrás do pomo. Embora já estivesse acostumado à posição de artilheiro e gostasse imensamente de marcar gols, estava se sentindo muito bem de volta à posição de apanhador, que o havia revelado para o qudribol. Entretanto, a repetição constante das manobras deixara o jogador dos Cannons realmente extenuado naquele dia. Nos próximos dois dias as exigências seriam menores, pois estavam na antevéspera do jogo contra a Alemanha.

O craque dos Cannons havia também ficado bastante encabulado quando Cho Chang, sua reserva imediata, admitiu para a imprensa que não havia ninguém na posição melhor do que Harry.

- Ela só diz isso porque ainda gosta de você – disse Gina de maneira levemente enciumada na noite anterior, quando os dois recolheram-se para dormir.

- Por que eles podem dormir juntos? – perguntou tolamente o batedor Darius Thompson. Estava menos agressivo com o casal, mas ainda conseguia ser bem desagradável quando queria.

- Por que eles são casados, seu idiota – respondeu Wilson rolando os olhos, como sempre fazia quando o companheiro de posição e de clube fazia um dos seus comentários inconvenientes.

- Se você quiser vir para o meu quarto mais tarde, eu deixo você bem relaxado, querido – zombou dele Dell Walker.

- Ora, seu...

- Olhe o linguajar, benzinho... – disse o preparador físico de maneira afetada – Você não quer fazer várias flexões e dar voltas correndo em torno do campo, não é mesmo?

Dell Walker adorava provocar o batedor grandadlhão, o que divertia a todos. Independentemente dos seus modos “delicados”, não havia dúvida que o seu trabalho era muito sério. A única coisa que incomodava Harry era o fato do Sr. Walker insistir em ajeitar os seus cabelos rebeldes...

Ele ainda ria da cara de sonso de Thompson, sentado de maneira relaxada na poltrona confortável da sala de TV do Golden Hotel, quando viu Draco Malfoy entrar com ar contrariado no recinto. O loiro veio andando diretamente na sua direção.

- Preciso que você venha comigo resolver um assunto, Harry – disse o presidente dos Cannons.

- Ei, isso não pode esperar? – falou Gina, colocando-se protetoramente ao lado do esposo – Estamos a dois dias da partida contra a Alemanha.

- Bem que eu gostaria, Gina – declarou Draco com pesar – O problema é que pessoas idiotas não possuem nenhum senso de oportunidade. Pensando bem... Venha conosco! Você consegue ser mais intimidante do que o Harry.
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Era uma mulher negra, alta, com uns quarenta e tantos anos de idade. Não seria feia se não parecesse tão antipática e se não vestisse umas roupas absolutamente espalhafatosas, mesmo para uma bruxa. E se não exalasse arrogância por todos os poros! E decididamente ela se parecia com alguém conhecido dos jogadores.

- Quem são esses garotos?- perguntou para Draco, olhando de maneira depreciativa para Gina e para Harry.

- Garotos? – indignou-se Gina.

- Esse é o Sr. Potter, a quem a senhora insistiu tanto em incomodar – retrucou Draco friamente – E a sua esposa. Gina Potter.

- Por Merlin! Só tem crianças mandando nesse time! – disse a mulher por entre dentes.

- Criança é a... – ia dizendo Gina, mas Harry tocou no seu braço e abanou a cabeça, como que dizendo que não valia a pena discutir com uma bruxa tão chata.

- Escute aqui, Sra. York – sibilou Draco Malfoy – Eu já agüentei muito da senhora. Vamos direto ao assunto.

- Quando Harold Oldman disse que eu teria que negociar com um bando de adolescentes eu não acreditei... – respondeu de maneira afetada a Sra. York.

- Harold Oldman? – perguntaram Gina e Harry, surpresos e ao mesmo tempo.

Oldman era um dos muitos empresários inescrupulosos que haviam surgido no mundo bruxo nos últimos três anos, com a retomada do quadribol, após a guerra. Atravessava negociações entre os clubes e jogadores, prometendo aos atletas dinheiro e contratos fabulosos, o que normalmente era apenas enganação. Mas, com alguma freqüência, conseguia arrancar boas quantidades de galeões dos clubes, que temiam que ele criasse mais problemas.

Havia tentado convencer Draco Malfoy a lhe passar uma procuração para encontrar jogadores de prestígio para os Cannons. Como o loiro negou a sua "ajuda", em represália, havia tentado sem sucesso aliciar atletas do time laranja para outras equipes.

O normalmente tranqüilo Vitor Krum o expulsou da sua casa aos empurrões quando percebeu a intenção do empresário de tirá-lo dos Cannons. Um verdadeiro vigarista, que infelizmente era levado a sério por alguns jogadores, alguns clubes e, principalmente, por mães de jogadores que julgavam que o seu filho era melhor do que qualquer outro atleta em atividade.

- A senhora é mãe do Robby? – perguntou Gina.

Finalmente Harry percebeu com quem a mulher se parecia. Era bastante parecida com Robby York, jovem reserva de Rony, que surpreendentemente havia sido convocado para a seleção de Trinidad e Tobago, que disputava as eliminatórias das Américas para a Copa Mundial dos Estados Unidos.

- É claro que eu sou a mãe de Robert Roberts York – concordou a mulher com arrogância – E estou aqui para tratar dos seus interesses. Na verdade nunca poderia imaginar que o famoso Harry Potter fosse um rapaz mal saído da adolescência.

- É inacreditável! – exclamou Gina.

- Posso saber o que é inacreditável? – quis saber a mulher mais velha.

- Que uma pessoa desagradável como a senhora tenha um filho tão legal – explicou a ruiva. Harry e Draco sufocaram o riso.

- Eu não estou aqui para ser simpática, mocinha – disse a mãe do goleiro reserva.

- Realmente. Suponho que a senhora esteja aqui para nos tirar do sério... – desdenhou a ruiva.
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Finalmente Gina e Harry entenderam o que estava se passando: Robby York havia sido convocado para a seleção de Trinidad e Tobago, embora nunca houvesse colocado os pés naquele país antes. A pequena comunidade bruxa do país caribenho, de resto apaixonada por quadribol como todos os bruxos, tinha sempre dificuldade para montar uma equipe nacional. A solução do ministério mágico local foi declarar trinitino (ou tobaguense) qualquer cidadão de qualquer lugar que possuísse pelo menos um bisavô nascido no país. Bastava o bruxo em questão demonstrar desejo de jogar pela seleção de quadribol da terra dos antepassados.

Ingleses e norte-americanos com origens nas duas ilhas que formavam a nação, sem grandes chances de integrar as seleções de sua terra de nascimento (aonde a disputa era mais acirrada), acabavam na seleção caribenha. Era o caso de York. Neto de trinitinos, havia sido convidado para integrar a seleção da terra dos avós, uma vez que Perry Gilbert, lendário goleiro e capitão do selecionado, havia se acidentado com gravidade numa competição amadora de corridas de vassouras.

York havia se apresentado muito bem no seu primeiro jogo, que terminou com uma surpreendente vitória do país caribenho sobre o favorito Canadá.

Draco percebeu que logo choveriam propostas para o jovem reserva transferir-se para outra equipe. Antecipando-se a isso, o esperto presidente dos Cannons concedeu-lhe um aumento substancial de salário e mais um bônus adicional, como prêmio por sua convocação, além de um novo contrato. Mas isso não parecia suficiente para a ambiciosa e antipática mãe do rapaz.

Convencida pelo empresário Oldman, que ainda não havia esquecido o fato de ter sido ignorado por Draco e agredido por Vitor Krum, a Sra. York achava que o aumento não era suficiente e que seu filho poderia ganhar muito mais, se não fosse nos Cannons, em outro clube do Reino Unido ou do exterior.

- Pelo que o Draco me falou, seu filho teve um bom aumento de salário e ainda recebeu um bônus – constatou Harry, incomodado com o olhar de desdém que a mulher lhe lançava.

- O que nem chega perto do salário daquele Weasley... – disse a Sra. York com desprezo.

- “Aquele Weasley” é considerado um dos melhores goleiros do mundo, é titular da seleção inglesa – explicou Draco, profundamente irritado – E não de uma ilhota que tem que caçar jogadores no exterior para montar um time!

- Por favor, Draco – tentou acalmá-lo Harry. E virando-se para a mãe de Robby York: - Robby ganha hoje um salário que é maior do que o de muitos titulares de sua idade de outras equipes. Não sei o que Oldman disse para a senhora, mas é muito difícil que ele venha a ganhar o mesmo que os Cannons lhe paga. Pelo menos hoje.

- O Sr. Oldman me disse que vocês tentariam me enrolar...

- O Sr. Oldman enrolou a senhora, Sra. York – retrucou Draco – Essa é a especialidade dele.

- Eu julguei que o Senhor Potter pudesse resolver a questão, já que é sócio deste time – disse a mulher, de mau humor – Como eu poderia saber que o grande Harry Potter não passa de um bruxo mal saído da adolescência?

- CHEGA! – berrou Gina, assustando a Sra. York – A senhora está nos ofendendo desde que chegou aqui! A senhora nos julga crianças, mas enquanto a senhora sentava o seu traseiro gordo em alguma cadeira de balanço mágica, eu e meu marido arriscávamos a vida para livrar o mundo mágico de Voldemort e daqueles comensais degenerados. Não diga nada! - interrompeu a ruiva o comentário que a mãe de Robby se preparava para fazer – Não queremos a adoração das pessoas, mas a senhora poderia nos respeitar um pouco mais!

- Eu nunca fui tão ofendida na minha vida... – retrucou a mulher, ainda sobressaltada pelo fato de Gina Potter tê-la colocado no devido lugar, ou pelo fato da ruiva não temer pronunciar o nome de “você-sabe-quem”. Era difícil saber qual das duas coisas a havia mais assustado e surpreendido.

- Pois eu nem comecei! – vociferou a ruiva – Draco é o dono de time mais decente que existe. Se ele fosse diferente nós nem estaríamos tendo essa conversa. Robby é um ótimo rapaz. Duvido que ele saiba que a mãe dele anda ouvindo crápulas como Oldman. Draco não vai aumentar o seu salário nem dispensá-lo do contrato. E isso, acredite a senhora ou não, é para o bem dele mesmo. Ele não tem culpa se a senhora é uma idiota! Vamos, Harry! Precisamos descansar.

A Sra. York provavelmente havia ficado chocada demais para dar uma resposta. Draco aproveitou-se disso:

- Pois, é, Sra. York. A senhora já tem a sua resposta. E aproveite que seu filho recebeu um aumento de salário e compre umas roupas mais discretas...

- Ora, seu... seu... Eu vou processá-lo!

- Eu acho que a senhora não vai não! Eu sou o cara que processa por aqui, sabe? Tente me processar e não sobrará nem mesmo essas roupas horríveis no seu guarda-roupas. Passe bem, senhora. Lembranças ao Robby.
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- Se você tiver um trabalho difícil para fazer ou uma chata para despachar, chame a “super-ruiva”! – brincava Malfoy, como se fosse um locutor de rádio anunciando um comercial.

Estavam de volta à sala de TV, à espera do jantar.

- Coitado do Robby – disse Gina, penalizada – Essa mãe dele é um verdadeiro espírito agourento.

- E esse Oldman? – quis saber Harry – É alguém que merece cuidados?

- Eu cuido do cara se ele nos criar problemas – tranqüilizou-o Draco – Preocupe-se por hora com aqueles brutamontes da Alemanha.
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Após os comerciais anunciando as mais modernas vassouras de corrida do mercado, o rosto simpático e rechonchudo de Marla Donovam apareceu na TV Bruxa desejando bom dia aos telespectadores:

- Hoje trazemos ao nosso programa o batedor e capitão dos Cannons, Toni M’Bea, que irá nos falar sobre as chances da nova seleção da Inglaterra no jogo de amanhã contra a Alemanha. Bom dia, Toni.

- Bom dia, Marla – cumprimentou sorridente o batedor africano.

- Os torcedores ingleses, na sua opinião, podem aguardar otimistas o jogo de amanhã?

- Sem dúvida a tarefa da Inglaterra é bem mais complicada do que as de Gales e da Escócia – respondeu Toni com simpatia.

Nos dias anteriores, outros convidados discutiram as chances de Gales e da Escócia nas partidas de domingo e todos concordaram que eram compromissos mais fáceis do que o dos ingleses. Gales jogaria contra a Armênia fora de casa e os escoceses receberiam o time de Andorra, países sem tradição de triunfos no esporte mais famoso dos bruxos.

- Mas eu estou otimista – continuou Toni - Falei com os jogadores ontem e eles estão ansiosos para entrar em campo.

- O que podemos esperar dos alemães, Toni? – perguntou Marla.

Desde a realização do debate, no dia da convocação do selecionado inglês de quadribol, M’Bea, de folga dos Cannons, era presença constante nos programas esportivos. Para o desespero e inveja de Bobby Parsons, que a exemplo de Marla comentava os jogos na TV Bruxa, havia uma campanha dos telespectadores para que o africano fosse o comentarista número dois (Marla seria obviamente a número um) durante a cobertura da Copa Mundial.

Toni M’Bea era simpático, articulado e profundo conhecedor das equipes, jogadores e esquemas táticos. Se estivesse disposto a se aposentar dos campos, a TV Bruxa, a Rádio Bruxa e a revista Wizzard Sports lhe ofereceriam imediatamente um emprego como comentarista. Suas aparições haviam aumentado a audiência dos programas de quadribol.

- Batedores muito bons – explicou a respeito do selecionado alemão – E um jogo de artilheiros bem diferente do que estamos acostumados a ver. Nada de dribles e tabelas curtas, como jogam a maioria das equipes da Europa Ocidental e da América Latina.

Enquanto o capitão dos Cannons explicava, um quadro mágico mostrava o esquema tático dos alemães.

- Mittermayer e Waiss, os batedores titulares, darão muito trabalho para as artilheiras da Inglaterra. Hansen, seu artilheiro central costuma efetuar passes longos para Mario Loeder, que costuma jogar pela direita e para Marta Hadler, que joga pela esquerda. Paulus, o goleiro titular é bom, mas é inexperiente. Ainda não está no nível de outros goleiros que a Alemanha já teve no passado.

Enquanto Toni discursava, a TV Bruxa usava recursos mágicos e trouxas para demonstrar num quadro a movimentação dos jogadores, que eram representados por bolinhas com a cor da bandeira alemã. Logo em seguida apareceram jogadas dos atletas mencionados pelo africano.

- E a apanhadora Valéria Hoeness? – questionou a comentarista, referindo-se a apanhadora da equipe germânica, que atuava na milionária Liga Espanhola e havia substituído Vitor Krum no time dos Touros de Pamplona.

- Excelente jogadora – avaliou Toni – Mas, se o meu amigo Harry estiver num bom dia, ela não é páreo para ele. Os ingleses podem ficar tranqüilos quanto a isto.
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O último comentário de Toni M’Bea foi feito no momento em que o selecionado inglês adentrava o restaurante do Golden Hotel, onde uma grande TV de última geração estava ligada e sintonizada no programa esportivo. À passagem de Harry, os hóspedes do hotel aplaudiram de maneira entusiasmada. Um casal de jovens bruxos ricos do interior, em lua de mel em Londres, arriscou alguns versos do “Potter Laranja”, sem imaginar que o jogador odiava o rap composto em sua homenagem no ano anterior e que era interpretado por English Cool J, o mais famoso rapper bruxo da Grã-Bretanha.

- Eu estou apavorado – confessou o Eleito, baixinho, de uma forma que só Gina pudesse ouvir.

- Eu confio em você, Harry – tranqüilizou-o Gina, que não confessou ao marido que também estava apavorada com a estréia na seleção.

Harry, Gina e Rony eram os jovens que despertavam as esperanças de recobrar o combalido quadribol da seleção da Inglaterra. Desde 1.986 a Inglaterra não disputava uma semifinal de Copa Mundial. A última geração vitoriosa do quadribol inglês foi a dos então jovens Imelda Price, atual reserva de Rony, e do técnico Jerry White. Embora não tivesse batedores no nível de alemães e búlgaros, os torcedores esperavam que as artilheiras da equipe, e, principalmente, o espetacular “Mergulho Potter” recuperassem o orgulho dos ingleses do mais popular esporte bruxo.
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O céu estava claro e fazia um dia bonito, embora um vento muito frio soprasse no estádio dos Cannons. Feitiços foram realizados para ampliar a quantidade de lugares na audiência. Um mês antes da partida os ingressos já estavam esgotados. Um lugar apenas razoável estava sendo vendido por cambistas por até duzentos galeões.

White dava as últimas instruções no vestiário. Angelina Johnson, capitão do time, abraçou um por um os companheiros da equipe antes de entrar em campo para o vôo de saudação à torcida. Até os reservas compareceram para dar uma força. Todos sabiam da importância daquela partida. Angelina puxou a fila dos jogadores. Harry, logo atrás da imponente garota negra, com um frio na barriga entrou no gramado, recebendo, junto com o resto da seleção, a ovação ensurdecedora do público.
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Quase três mil bruxos alemães, que chegaram na Inglaterra via chaves de portal, vassouras e meios trouxas de transporte, aplaudiram entusiasmados a entrada do time alemão em campo. Liderados pelo seu capitão Mittermayer, batedor titular dos Gaviões de Heidelberg, o selecionado germânico pareceu aos ingleses muito imponente e seus jogadores cheios de si nos seus uniformes brancos, com três listras horizontais na frente das camisas de manga comprida, que simbolizavam as cores da bandeira do seu país. Os ingleses jogariam de vermelho. E Rony, o goleiro, inteiramente de negro.

Tancred Duff, o famoso árbitro holandês chamou os capitães.

- ESTAMOS AQUI, CAROS OUVINTES, PARA TRANSMITIR O GRANDE JOGO DA SELEÇÃO DA INGLATERRA CONTRA A ALEMANHA – anunciou Lino Jordan para a Rádio Bruxa, TV Bruxa e para os espectadores do estádio através do sistema mágico de som, desfilando em seguida o nome dos patrocinadores.

- INEGAVELMENTE ESTE É UM DOS JOGOS MAIS AGUARDADOS DA TEMPORADA – opinou Marla Donovan – A OFENSIVIDADE INGLESA CONTRA O RIGOR DEFENSIVO DOS ALEMÃES.

- COMEÇA A PARTIDA!! – gritou Lino Jordan – GINA POTTER COM A GOLES. MARCAÇÃO FORTE DE LOEDER. BALAÇO DE WEISS. GINA BALÇANÇOU, MAS NÃO SOLTOU A GOLES! É ISSO, GAROTA! LANÇOU JOHNSON. ELA FINTA PAULUS... GOOOOOOOOOOOOOL DA INGLATERRA!!!!!!!! GOL DE ANGELINA!!!! DEZ A ZERO PARA A INGLATERRA!

- Essa é a minha garota! – gritou Jorge Weasley feliz, no luxuoso camarote que as Gemialidades Weasley alugaram para toda a família.

Ao lado dele estava seu irmão gêmeo, seu pai, sua mãe, Gui, Fleur e Olívio Wood, que esfregava as mãos nervosamente. Num camarote vizinho, um pouco menor, Toni M’Bea, Helga e Draco aplaudiram o gol da capitã dos Tornados, enquanto Daniel e Owen executavam uma espécie de dança de guerra.

- A gente sofre mais aqui fora do que lá dentro – constatou Olívio, lançando olhares saudosos ao campo de jogo.

Os minutos a seguir, entretanto, não foram muito bons para a seleção da Inglaterra. O artilheiro central, Mathias Hansen, escapava facilmente dos balaços atirados pelos batedores ingleses e seus lançamentos sempre encontravam seus velozes companheiros Loeder e Hadler.

- IMPRESSIONANTE O LANÇAMENTO DE HANSEN PARA MARTA HADLER! – lamentou Lino – MAIS UM GOL DA ALEMANHA.

As artilheiras inglesas, que no período de treinamento haviam apenas ensaiado jogadas ofensivas, não estavam conseguindo se posicionar de maneira a neutralizar os lançamentos longos de Hansen. Em poucos minutos o selecionado germânico marcou trinta a dez, além de Rony ter evitado pelos menos outros dois gols. Para piorar, os batedores Weiss e Mittermayer estavam acertando as artilheiras com precisão. Harry procurava o pomo com um louco, mas passados vinte e cinco minutos de jogo, nem ele nem sua rival, a loira Valéria Hoeness, haviam localizado a bolinha dourada.

- HANSEN COM A GOLES – narrou Jordan – FINTOU BELL, PASSOU POR GINA POTTER. ARREMESSOU... É GOL DA ALEMANHA! ALGUÉM TEM QUE PARAR ESSE SUJEITO! – reclamou o locutor.

A Alemanha abriu um placar de setenta a dez. White pediu tempo. Harry gostava do treinador, mas era óbvio que ele não havia preparado a seleção para o jogo veloz dos artilheiros adversários, que praticamente não driblavam, só passavam a goles uns para os outros em velocidade. E para o jogo duro dos batedores da Alemanha. Quando Loeder marcou o septuagésimo ponto para os alemães e White pediu tempo, Harry viu, que num camarote não muito longe do campo, Toni sinalizava para ele, mandando os batedores acertarem os...

- Não entendi... – disse Harry apenas movendo os lábios. A minoria alemã que ocupava o estádio fazia agora um barulho ensurdecedor.

O africano sacou a sua varinha e escreveu no ar com letras douradas: “O JOGO DOS QUINHENTOS”. Harry fez um sinal de positivo, entendendo o recado.

- Eu tenho uma idéia, White – disse Harry, antes que o treinador começasse a orientar o time em busca da virada no marcador.

Harry não gostava de se apropriar das idéias alheias, mas não havia tempo para explicar. Hansen, o artilheiro que jogava mais recuado estava acabando com a Inglaterra.

- VOCÊ ACHA QUE O WHITE VAI CONSEGUIR ACERTAR A MARCAÇÃO AGORA, MARLA? – questionou um muito preocupado Lino Jordan.

- VAMOS VER, LINO. A VERDADE É QUE DEPOIS DAQUELA JOGADA RÁPIDA NO COMEÇO DA PARTIDA, A INGLATERRA SE PERDEU EM CAMPO. O JOGO RÁPIDO DOS ARTILHEIROS DELES, BASEADOS EM PASSES LONGOS ESTÁ DESESTRUTURANDO A SELEÇÃO DA CASA.

- Então está combinado! – disse Jerry White para os jogadores.

- É a coisa mais maluca que eu já vi na minha vida – resmungou Thompson quando tornava a montar na vassoura.
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Exatamente como os Cannons fizeram no lendário jogo contra os Falcões de Falmouth, no retorno da partida os batedores Wilson e Thompson começaram atacar os batedores adversários. Isso criou um princípio de confusão entre os germânicos, que certamente nunca haviam presenciado esta tática e nem esperavam por ela, e ficaram desconcertados.

Além da tática dos batedores, Gina passou a marcar Hansen pessoalmente, impedindo os seus passes longos. Como não eram tão bons assim nos dribles, o artilheiro e a artilheira que jogavam pelos flancos começaram a voltar mais para receber a goles, o que tornou o ataque dos alemães momentaneamente inoperante. Com dez minutos após o recomeço da partida, a Inglaterra já havia diminuído a diferença. O placar agora marcava setenta a cinqüenta para a Alemanha.

- LÁ VAI KATIA BELL! PASSE PARA GINA POTTER, QUE ENGANA HANSEN, DEVOLVE PARA BELL. É GOOOOOOOL DA INGLATERRA!!! BELL DIMINUI A DIFERENÇA PARA APENAS DEZ PONTOS! É ISSO AÍ GAROTA!!!

Novo pedido de tempo, agora da parte do treinador alemão.

- A PARTIDA AGORA FICOU EMOCIONATE, LINO – dizia a comentarista da TV e Rádio Bruxa – VAMOS VER SE O TÉCNICO DA ALEMANHA MUDA A ESTRATÉGIA!

No retorno ao campo, prestes a montar na sua vassoura, Harry fez um sinal positivo para Toni, que devolveu o sinal, dizendo “boa sorte” e apenas mexendo os lábios, “cuidado”.

O genial batedor de Uganda conhecia muito bem os alemães. Já os havia enfrentado tanto nos clubes que atuara quanto na sua seleção nacional. Embora não fossem violentos por natureza, poderiam fazer o jogo ficar muito violento se quisessem. Tinha certeza que a partir de agora os artilheiros iriam jogar duro na marcação às artilheiras inglesas e os batedores iriam despejar a sua artilharia pesada sobre Harry, fazendo de tudo para impedir que o rapaz apanhasse o pomo.

- AI!!!! ESSA DOEU! AQUELE TRASGO DO WEISS ACERTOU UM BALAÇO BEM NO PEITO DE HARRY POTTER – indignou-se Lino.

- MAS ELE CONTINUA FIRME NA VASSOURA! – observou Marla.

Duff, o árbitro, de passagem por Harry, perguntou se ele precisava de tempo. Harry acenou que não. “Esses alemães iam ver uma coisa!”, pensou o apanhador com raiva. O balaço havia sido disparado apenas para intimidá-lo. Ele se acostumara com esse tipo de tática quando havia jogado pelos Trasgos Diagonais como apanhador.

Os artilheiros alemães agora marcavam duro as artilheiras inglesas. Tão duro que Kátia Bell quase caiu da vassoura, acertada por Loeder num tranco proposital. A garota gemeu de dor. Embora ela tenha dito que não havia nada, o encontrão certamente a machucara. O juiz holandês anotou a penalidade para a Inglaterra.

- GINA POTTER VAI COBRAR A PENALIDADE PARA A INGLATERRA – anunciou Lino – QUE ARREMESSO! É GOOOOOOOL DA INGLATERRA! EMPATADOS EM SETENTA PONTOS! QUE PARTIDA!!!

Com mais de duas horas de jogo, entretanto, os alemães passaram de novo à frente, anotando cento e trinta a cento e vinte. Os torcedores alemães faziam uma senhora algazarra. Os batedores ingleses enfim pareciam cansados e os alemães passaram a acertar de novo os artilheiros, mas sem se esquecer do apanhador. Harry não se lembrava de um jogo onde fosse acertado por balaços tantas vezes.

Quando o cronômetro do estádio apontava duas horas e dez minutos de jogo e os dois técnicos pensavam em pedir mais um tempo para descansar os respectivos times ELE apareceu. O pomo. Um dos mais velozes já vistos nas partidas dos últimos anos. E o pior é que estava mais próximo da apanhadora Hoeness.Antes que a jogadora se desse conta da proximidade, Harry, que sempre era capaz de perceber a aparição da bolinha, rumou na direção desta como um raio. Os torcedores perceberam. Hoeness percebeu. Os batedores alemães também, infelizmente.

Mittermayer, voando muito rápido, chegou primeiro que Thompson num balaço que Wilson havia afastado. O capitão alemão arremessou com toda a força possível na direção de Mergulho Potter. Concentrado como estava na captura do pomo, este não teve tempo de se desviar do torpedo que voou em sua direção, explodindo no seu ombro.

Com os dentes cerrados pela dor do choque, mas ainda voando em direção à bolinha dourada, Harry percebeu que estava à frente da apanhadora adversária. Colocando a vassoura praticamente na posição vertical, voando para baixo, ele esticou o braço direito para a apanhada consagradora. Nesse momento um outro balaço, desta vez atirado por Weiss acertou-o exatamente no braço estendido. Os torcedores prenderam a respiração e o craque da Inglaterra pensou ter ouvido algo se quebrando. Sem pensar, sem planejar, ele encolheu o braço ferido e inerte e voou para o lado, bloqueando Hoeness com o corpo. A apanhadora não parou e nem Harry imaginou que ele fosse parar. O choque no ombro machucado o fez involuntariamente gritar de dor e pontinhos coloridos brincaram na sua frente.

Manobrando a vassoura, usando apenas o movimento das pernas e o arranque do corpo, o apanhador inglês, num sensacional giro acrobático, apanhou o pomo, que já se afastava, com a mão esquerda. Felizmente estava a menos de dois metros do chão, pois o movimento o atirou da vassoura e o derrubou de lado no gramado. Com os olhos fechados, dolorido demais para olhar para qualquer lugar, pôde ouvir o grito da torcida e os primeiros acordes do “Potter Laranja” transmitidos pelos alto-falantes do estádio. “Ganhamos!”, pensou feliz, antes de perder os sentidos.














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