Azedume



Sentado em sua mesa, Snape “divertia-se” corrigindo alguns manuscritos sobre a poção do morto vivo. Sua sala estava escura, e uma bacia de pedra repousava sobre sua mesa. Hoje seria mais uma de suas aulas com Potter. Ele realmente estava se cansando da falta de empenho do garoto. Ele recomendara vária vezes para que garoto estudasse oclumência, e que fechasse sua mente antes de dormir, mas falar com Potter era o mesmo que tentar argumentar comum trasgo.
Ele olhou no relógio. E pensou que poderia corrigir mais alguns trabalhos antes de começar a colocar algumas lembranças na penseira.
Pegou aleatoriamente um pergaminho para corrigir.
- Hunmf... - Um suspiro cansado vibrou sua garganta.
“Fred...Um dos gêmeos” – pensou ele.
“Esses dois só se enterneçam pelas minhas aulas quando eu falo sobre venenos, e reações adversas de ingredientes.” – pensou Severo – “Essas pestes mostram talento por poção apenas quando estas possuem efeitos como cabeça inchada, pintas rosas no traseiro, ou crescimento de um terceiro braço” – Concluiu Snape com uma irritação fingida. Na verdade antes ele não achava muita graça nas brincadeiras dos gêmeos, mas desde que os garotos explodiram uma caixa inteira de fogos filibusteiros na cara da desprezível nova diretora de Hogwarts, ele não pode deixar de admira-los um pouquinho. Soltou um sorriso indulgente para a sala vazia ao se lembrar da cara de desespero de Umbridge ao pedir-lhe ajuda para eliminar os fogos. Na ocasião, ao invés de ajudar, para desespero de Umbridge, ele maleficamente fez um feitiço para que os fogos se multiplicassem e durassem mais ainda. A diretora chamou-o de imprestável, e ele simplesmente disse que não poderia fazer nada, ou senão os fogos se multiplicariam mais ainda. Na verdade, qualquer um dos professores poderia ter feito os fogos desaparecerem do um simples feitiço, mas ao invés disso, todos haviam concordado mudamente que o melhor era deixar que Hogwarts virasse um circo.
Certo que ninguém veria sua cara de aprovação, para com o par de grifinórios, ele recostou-se na cadeira e puxou o relógio novamente.
Já tinha dado a hora do encontro com Potter. Na verdade ele já estava alguns minutos atrasado. Snape decidiu então começar a colocar os pensamentos na penseira. Quando estava retirando o terceiro fino fio de lembrança de sua cabeça, ele ouviu a porta abrindo com um ranger agudo ás suas costas.
- Você está atrasado Potter.- Disse o professor friamente. E deixou cair a ultima lembrança dentro do recipiente. Virando-se para o garoto disse:
- Então, praticou?
- Sim senhor – Respondeu o garoto. Mas Snape pode perceber, só de olhar para fisionomia de Harry, que ele estava mentindo deslavada e descaradamente. Então ele disse suavemente:
- Bom, logo saberemos não é? – e com um sorriso maquinal continuou - Varinha na mão Potter.
O garoto tomou sua posição de sempre, enfrente a Snape, porém com a escrivaninha entre os dois.
Snape podia ver no rosto de Harry a aversão por ele transparente. Isso não era bom, pois mostrava que Potter estava despreparado para a aula. Ele viu no rosto do garoto ansiedade e raiva, e se sentiu curioso para saber quem alem dele mesmo, conseguia deixar Potter em um estado tão lastimável de irritação. Era óbvio que ele havia sido contrariado a poucos minutos. Então, sentiu que sua curiosidade iria ser saciada com as lembranças recentes do garoto e pediu para que ele se preparasse.
- Quando eu contar três então – disse snape sem presa.
A porta abriu-se com força, e Snape viu o rosto branco de Draco curioso com a cena. Para despistar disse:
- Tudo bem, Draco. Potter está aqui para fazer uma aula de reforço de Poções.
- Eu não sabia – Disse Draco mal ocultando sua satisfação em ver Harry tendo que tomar aulas de reforço.
- Bom, Draco, que foi? – Perguntou Snape satisfeito com a felicidade do garoto, pois com isso ele havia despistado a atenção dele ao verdadeiro motivo do encontro dele com Potter. Draco não podia saber o que estava acontecendo naquela sala, pois poderia muito bem contar ao próprio pai sobre Snape, dessa forma o plano de Dumbledore para proteger Harry das investidas do Lord das trevas estaria acabado.
- É a professora Umbridge, professor, esta precisando de sua ajuda. Encontraram Montague, professor, apareceu entalado num vaso sanitário no quarto andar.
- Como foi que ele se entalou? – perguntou Snape.
- Não sei não senhor, está um pouco atordoado. – falou Draco.
- Muito bem, muito bem. Potter retomaremos a aula amanhã à noite. - Snape se virou e saiu da sala deixando Draco para traz e Harry ainda dentro de sua sala.
Chegando ao quarto andar, encontrou o garoto sentado e entalado no vaso sanitário. Realizou um feitiço para aumentar o sanitário, e com isso pode levantar o garoto de sua situação cômico-deplorável. O garoto parecia atordoado, não falava coisa com coisa. Apenas balbuciava algo como: “armanio”, “armalio”... Snape transfigurou um lenço preto em maca, levitou o garoto para cima desta, e depois levitou a maca para a ala hospitalar. Após deixar o garoto tolo sob os cuidados de madame Pomfrei, ele desceu para sua sala. Havia deixado a penseira lá, e deveria guardá-la, pois esta pertencia à Dumbledore.
Chegou à porta de sua sala, estava exausto. Viu que a porta estava aberta e pensou: “Maldito Potter, saiu e deixou a porta aberta! Garoto inconseqüente!”. Mas ao entrar em sua sala, deparou-se com uma cena que fez gelar seu coração: Harry Potter, o maldito garoto que sobreviveu, estava curvado na penseira se aventurando em uma de suas lembranças!
Ele teve vontade de estrangular o garoto. Mas conteve-se, não podia matar o garoto, não ainda. Ele não sabia até onde Harry havia visitado, então ao invés soltar uma maldição imperdoável, ele olhou por cima dos ombros do moleque, e viu que este estava observando uma das muitas agressões que Tiago infligira contra ele. Viu Lílian, a melhor amiga de Fareeda defendendo-o, e antes que Harry visse algo comprometedor, ele agarrou no braço de Potter com força, e puxou-o para fora da penseira. E lívido de raiva ele perguntou:
- Esta se divertindo? – Viu o pavor nos olhos do infeliz, e sentindo um desejo mórbido em descontar suas amarguras de juventude no filho do garoto que muitas vezes o havia torturado na frente de toda a Hogwarts ele, num gesto de fúria, apertou ainda mais o braço de Potter, e voltou a questionar:
- Então, andou se divertindo Potter?
O garoto estava pálido, e lastimavelmente apavorado, Snape sentiu que o garoto estava prestes a desmaiar. Ele sabia que devia parar. Mas saber que o garoto estivera a pouco tempo se divertindo ao assistir as maldades do próprio pai contra o seu tão odiado professor de poções, fez com que ele tivesse ainda mais raiva do garoto Potter. Ele sentia tanto ou mais raiva do que aquela que algum dia no passado ele havia sentido por Thiago.
- N-não. – Respondeu o garoto desesperado.
- Um Homem divertido o seu pai, não era? – Ele sacudiu o garoto que permanecia pasmado de surpresa.
- Eu... Não...- Tentou explicar-se Harry.
Mas a voz do garoto fez com que Snape sentisse ainda mais ódio. Ele sentia o corpo como um caldeirão com pressão que já estava à muito tempo no fogo. Sentia suas veias latejarem, fervendo de rancor. Sentia que iria explodir. Então, para não grudar no pescoço do garoto e estrangula-lo como um frango, ele arremessou-o para longe. Fazendo com que ele caísse pesadamente no chão da masmorra.
Snape pensou em apagar a mente do garoto com um feitiço tão forte, que o faria passar o resto da vida babando, andando de quatro e roncando como porco pelos cantos. Mas ao invés disso ele se controlou e gritou:
- Você não vai contar à ninguém o que viu!
E novamente Harry balbuciou:
- Não, Claro que... – Mas antes que pudesse continuar, Snape foi tomado por uma nova onda de ódio.
- Fora daqui, fora daqui. Nunca mais quero ver você na minha sala! – Explodiu Snape.
Quando viu Harry saindo da sala ele não conseguiu conter-se, e pegou o primeiro frasco a altura de sua mão e jogou sobre o batente da porta, este explodiu fazendo voar as baratas mortas que continha.
Com a saída do garoto, ele respirou fundo. Sua respiração era arquejante, como a de alguém que havia corrido vários quilômetros sem parar. Ele travou o maxilar e rangeu os dentes sentindo um muito de ódio, rancor, e tristeza. Ele queria sumir, morrer, matar!!!
Voltou-se para a penseira novamente. Ela ainda estava lá, com suas desventuras rodopiando incansáveis dentro da bacia de pedra. Ele tocou a substancia que rodava prateada com sua varinha, e entrou nos próprios pensamentos, no exato momento em que Harry parara de espiar.
Viu seu corpo jovem de ponta cabeça. As vestes estavam cobrindo o rosto do garoto humilhado. Ele observou Thiago perguntando para a platéia de alunos se alguém gostaria de ver “ranhoso” sem as cuecas encardidas. Viu Evans se distanciando. Seu “EU” jovem estava se debatendo, tentando desesperadamente colocar as vestes para cima. Viu Evans cruzar com uma garota de cabelos cor de chocolate e olhos castanhos avermelhados, e dizer algo para esta. A outra garota aproximou-se da cena vexatória, deu uma cotovelada em Thiago e disse: É assim que você quer conquistar Evans seu idiota?
Ela apontou a varinha para o Snape jovem e no mesmo instante o garoto caiu no chão. Era obvio que ela sabia feitiços mudos. Então, chacoalhando os braços desesperado para cobrir as pernas novamente com as vestes, o jovem Snape viu a garota olha-lo com cara de pena. Sírius se aproximou e disse: olha só “ranhoso”, não se sente orgulhoso? Você é digno de pena de duas belas garotas!
Snape velho observava a cena rancorosamente, enquanto o Snape novo estava realmente desengonçado, e sua fisionomia mostrava uma cara contorcida em uma expressão de fúria e choro contido.
Fareeda deu-lhe as costas e disse à Sírius:
- Sírius, deixe-o, você pode ser meu namorado, Snape pode ser um perdedor digno de pena, mas eu ainda sou monitora, e ainda pertenço à Sonserina, portanto, e principalmente pela segunda razão, eu não devo deixá-lo maltratar ‘Sev’. Se você ou Thiago insistirem com isso, eu irei jogar uma azaração tão forte em Thiago, que ele nunca mais irá falar grosso... Se é que você me entende – disse ela com cara de sádica . E quanto à você, eu farei um feitiço colante tão forte, que você irá fazer parte da decoração do salão principal de Hogwarts por pelo menos três décadas!
- Ai, ai, ai! Que mulher brava! – Disse Sírius com chacota – Ta vendo Thiago, nós escolhemos as mulheres mais bravas do mundo bruxo! – Disse ele, e voltando-se para Hafsa disse:
- Tudo bem minha leoazinha, agente deixa esse saco de ossos banhado em gordura pra lá, não é Thiago? Mas... Agora o que você acha de dar uma volta comigo?

E de repente o dia claro e ensolarado daquela lembrança esvaiu-se, girou, e escureceu para dar lugar a uma outra lembrança.
Agora o Snape adulto estava ao lado do Snape jovem novamente, só que desta vez, na frente da tapeçaria da sala precisa esperando para falar com alguém. De repente ouviu-se risos, e ambos os Snapes observaram um casal vindo de encontro a eles no corredor. O casal não havia notado o jovem Snape, eles estavam engatados num beijo luxurioso. Então o jovem Snape sentiu suas entranhas ferverem, mas se conteve. Ele queria se esconder, Não queria que O casal o visse daquele jeito, então, andou de um lado para o outro, três vezes pedindo um lugar para se esconder. A sala precisa materializou uma porta, ele entrou e encontrou uma verdadeira cidade de objetos que havia sido escondidos lá durante séculos. Sentou-se numa montanha de quiquilharia quando ouviu a porta da sala ranger. Escondeu-se, e viu o casal do corredor entrar. Aparentemente eles haviam pedido um lugar para se esconderem também. Um garoto de cabelos negros e corpo forte, entrou puxando uma garota de cabelos cor de chocolate ondulados e olhos castanho-avermelhados. Severo adulto observava seu eu jovem rangendo os dentes de ciúmes.
O jovem Sírius puxara a garota para um canto e colocara-a sentada sob uma velha mesa mal transfigurada que possuía quatro pés de gazela abaixo do tampo de madeira. Ele tocava-a lascivamente, quando a jovem o interrompeu dizendo:
- Sirius, eu acho que não devemos. Acho que não estou preparada para isso.
- Não vem com essa não! - Disse o jovem exasperado. – Você veio por que então?
- Você não disse que nós viríamos para cá! – Disse Hafsa irritada.
- Escuta, você prefere que eu conte o que nós fizemos aqui pra todo mundo? – Disse Sírius venenosamente.
- Mas nos não fizemos nada! Eu sou virgem! – Disse a garota encolerizada.
- Vamos lá Hafsa! Eu sei que você quer também! – Disse Sirius, pegando-a pelos seios e empurrando-a para deita-la sobre a mesa.
Ao deitar a garota, Sirius mordeu-a de leve na pele sobre o osso da bacia. Fazendo com que a garota soltasse um gemido abafado. Estimulado pela reação de Hafsa, ele levantou a blusa da garota, que agora segurava a nuca dele contra os próprios seios.
Severo jovem permanecia olhando hipnotizado, sua expressão revelava ódio, mas ao mesmo tempo desejo. Snape mais velho observou a própria figura lembrando-se do que o havia feito sentir esse sentimento tão contraditório, e lembrou-se: Snape jovem estava imaginando-se no lugar de Sírius.
De repente Snape jovem sentiu um par de olhos masculinos olhando-o. Sirius havia percebido sua presença. Mas não havia feito nada contra ele, pelo menos não fisicamente. Vendo a expressão de ódio e desejo de Snape, ele continuou, estava claramente exibindo sua presa à Severo, e dizendo com o olhar: “eu sei que você a quer Ranhento! Mas ela é minha!”.
Sírius, olhando para o jovem Severo, levantou um pouco a saia de Hafsa, abriu a própria calça e por baixo dos panos das vestes dela, ele soube o que Sírius havia feito, pois o rosto da garota estava contorcido num misto de dor e tezão. Quando Sirius engatou num ritmo de vai e vem, ele virou-se e sentou atrás da pilha de porcarias em que ele estava e tentou não ouvir os ruídos.
Após alguns minutos, tempo que pareceu um século, ele ouviu a voz de Sírius pedindo para que Fareeda saísse primeiro para não dar ‘pinta’ para ninguém do que os dois haviam feito. Ele ouviu a porta se fechar, e ouviu os paços de Sírius em sua direção.
O Snape atual estava sentado ao lado de sua imagem mais novo, pois nunca teve coragem de continuar a ver aquela cena inteira. Quando Sirius parou ao lado dele e disse:
- Eu deixei você olhar seboso, porque isso será o máximo que você terá dela: Uma imagem minha deflorando-a!
Observou quando o jovem Snape levantou-se e golpeou o ar com a varinha e murmurou: - Crucio!
Viu Sírius jogar-se no chão, segurando a barriga como se suas entranhas estivessem sendo arrancadas por garras, e permaneceu assim. Naquele momento, pela primeira vez, ele havia conseguido realizar uma maldição imperdoável. Ele havia tentado antes com cobaias, e coelhos. Mas até então sempre falhara. Ele soube que desse momento em diante ele poderia realizar qualquer maldição.
Ele ouviu Sírius implorando, e parou abaixando a varinha. Observou a figura deplorável que à pouco debatia-se no chão. E com a expressão vazia, e sem nenhum remorso ele saiu da sala, deixando-o lá, sem saber quando ele se recuperaria da maldição imperdoável. Sirius apareceu apenas no dia seguinte arrastando-se para a enfermaria e recusando-se a contar o que lhe havia acontecido.
Depois disso a relação dos dois tornou-se insustentável. Severo não esperava mais o ataque para depois se defender. Ele atacava primeiro sem pensar nas conseqüências. Tornou-se frio, não sentia mais nenhum arrependimento de seu atos. Era cada vez mais cruel, e essa característica chamou a atenção do Lorde das trevas. E pela primeira vez, ele foi reconhecido, e o melhor de tudo para ele na época: temido.
A sala de aula materializou-se novamente a sua frente. E ele pode sentir novamente o fel que corria nas veias dele quando mais novo. E lembrou que alguns meses depois ele havia se alistado para ser comensal, e feito a marca negra em seu braço. A marca que o havia condenado à escuridão para o resto da vida. A marca que o afastara ainda mais da mulher que ele amava. A marca que inicialmente foi fuga de uma juventude mal tratada.
Sentido-se mais infeliz e amargurado do que nunca, ele foi ao seu estoque, pegou uma poção de “sono-sem-sonho” e foi para seus aposentos deitar-se.

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