Como se fosse a primeira vez



Capítulo IV

“Eu fui um idiota Harry! Eu a beijei! Será que você não entende isso?” – Rony aparecera no meio da noite, onde Harry estava hospedado.

Ao abrir a porta, Harry levara um susto. Achava que fosse algum Comensal, ou algo parecido. Tinha acabado de pegar no sono. A noite tinha sido dura, ele iria demorar pra esquecer o acontecido.

Estava começando a sonhar novamente com uma garotinha ruiva. Era a cara de sua mãe.

“Rony? É você?” – os olhos semifechados. Não agüentava mais olhar fixamente pra qualquer canto que fosse.

O ruivo entrara no quarto, e sentara de qualquer jeito, numa poltrona macia, ao lado da cama.

“Desculpa, eu não queria chegar em casa desse jeito, eu... Eu tava precisando conversar”.

Harry olhou pra cima. Vagamente via um esboço de Rony...

“O que você fez?” – esfregou os olhos com as mãos.

“Eu avancei o sinal, eu fui um idiota, eu me aproveitei que ela estava bêbada...” – disse coisas desconexas.

“Rony, você bebeu? Assaltou alguém?”

“NÃO!” – disse atordoado – “Eu beijei a Vicky! Na boca!”

“E?” – Harry estava demasiado com sono para distinguir uma barata de um elefante.

Rony expirou.

“Eu não sei cara, não sei o que vou fazer... Ela nunca mais vai olhar na minha cara”.

“Humm...” – Harry continuava de pé. Sentira que se deitasse na cama, desmaiaria.

Rony falava, falava, falava...

Se Harry entendera alguma palavra, era outra história.

A única coisa em que conseguia pensar, era na imagem da ruivinha se balançando. Aquele sonho vinha se repetindo com muita freqüência.

Mais ou menos uma hora depois...

“É isso cara... Se não tivesse você, eu não ia poder desabafar com ninguém”.

Harry acordara assustado...

“Anh? Que houve?” – sentiu uma mão firme batendo em suas costas.

“Eu já vou”.– Rony respondeu cabisbaixo.

“Ah! Certo... Desculpe cara”.

“Não, tudo bem, é sério mesmo. Pelo menos eu desabafei tudo o que tava engasgado aqui. Valeu mesmo”.

“Certo, me encontra amanhã no Beco. Eu vou dar uma entrevista pra Luna. A gente se fala melhor lá”.

“Certo, que horas?”

“À tarde... Depois do almoço. Me encontra na Florean Fortescue”.

“Certo”.– Rony abriu a porta do quarto, e saiu.

Harry ficara jogado ali mesmo, na poltrona, morrendo de sono.

Nem ao menos se perguntara como Rony conseguira subir, sem ter sido avisado.

Na manhã seguinte...

Hermione acordou com pancadas na porta. Eram batidas apressadas. Victorya praticamente gritava do lado de fora. Parecia extremamente nervosa...

Hermione levantara da cama com cara de tédio, e logo que abrira a porta, levara um susto.

“Vicky! Seus olhos estão inchados!” – ela passou o braço ao redor da amiga. – “Entre”.

Estava morrendo de dor de cabeça. Na noite anterior, quando chegara em casa, apenas pediu a Mary para preparar um chá e levar ao seu quarto, pra tomar antes de dormir. Tomara uma ducha fria para acalmar os ânimos, e vestira a camisola. Nunca tivera uma noite tão atordoada.

Nem vira quando Vicky chegara em casa, mas sabia que Rony devia estar distraindo-a. Nunca em sua existência vira Victorya tão arrasada. O cabelo, no dia anterior ruivo e liso, agora estava levemente ondulado e desbotado.

“O que houve?” – perguntou um pouco desanimada, sentando-se ao lado dela, em sua cama.

Victorya demorou um pouco pra responder. O cabelo jogado pra frente grudava nas lágrimas que persistiam em escorrer.

Hermione deu um estalo. Até então, não lembrava mais da noite anterior, da cena de beijos e amassos de Thomas e sua mulher, Amanda.

Ela segurou o rosto de Victorya com as duas mãos, afastando o cabelo de seus olhos. Os olhos, antes castanho-esverdeados, estavam negros e opacos. Tinha uma expressão de desespero no rosto.

“Me diz... Fala”.– Hermione a abraçou, a fazendo encostar sua cabeça em seu colo.

Mesmo chorando continuava bela...

“Eu... o Rony... Não queria, o Thomas!” – dizia, soluçando, palavras desconexas.

“Calma Vicky, calma.” – Hermione lembrou-se da vez em que Victorya fora traída por Sean, na época em que ainda não eram amigas, e Victorya estava jogada numa grande cama de colchão da’água, cheia de papéis de chocolate espalhados por cima dela, chorando, em um quarto rosa, em sua antiga irmandade, na flor de seus dezessete anos.

Tinha a impressão, de que aquela ali em seu colo, era a mesma garota insegura de anos atrás.

Victorya respirou fundo, agarrou firme uma das almofadas de Hermione, e encostou-se ao dossel da cama.

“O Rony me beijou, oras!” – disse completamente envergonhada, escondendo o rosto pálido, por entre a almofada.

Hermione não estava muito bem, ou tinha acabado de escutar àquilo que conseguira entender...?

“E eu, monstro que sou, cedi! Eu também o beijei, eu não relutei, só no começo, mas... Eu fui uma cachorra desumana! Ai, como eu sou burra! O Rony não merecia isso, e eu sou uma completa egoísta que não pensa nem no próprio noivo! Imagine o que o Thomas vai pensar de mim! Por Merlin! O que eu fiz? Ele não merecia isso, droga!” – desatou a falar, descontrolada, dando tapas na própria cara.

“Hey!” – Hermione a segurou, mesmo não conseguindo raciocinar direito. – “Como isso aconteceu?” – perguntou de forma maternal. Ela não conseguia entender como uma coisa daquela poderia ter acontecido.

“O quê? Como nos beijamos?” – perguntou confusa, olhando Hermione como se fosse uma completa estranha. Por um momento se perguntou o que estava fazendo ali, sentada naquela cama, se ela, era mesmo ela.

Lágrimas desesperadas corriam livres pela sua face, e ela lutava constantemente para secá-las.

“Não! Quero dizer... sim! Opps... Você está me deixando confusa! Eu quero saber do Rony? Ele beijou você?” – parecia descrente.

“Sim..., sabe, eu o convenci de dar uma volta por Hogsmead, nós achamos um showbar e entramos... Eu bebi um pouco, mas ale só tomou um gole do sidecar dele. Depois nós saímos e fomos dar uma volta pelo vilarejo, ai nós paramos pra conversar... Eu não lembro sobre o que, mas sei que ele começou a me olhar de um jeito estranho, sabe, ninguém nunca tinha olhado pra mim daquela maneira, nem mesmo o Thomas, e... Bom, você já sabe o resto.” – resumiu cabisbaixa – “E eu nem desconfiava que ele gostava de mim... Uma coisa dessas não dá pra imaginar! Nós éramos amigos, entende?”

Hermione parecia pensativa...

Rony deveria ter mesmo um motivo muito forte para tal vingança contra Thomas... Não que não devesse fazer isso, como amigo, mas Hermione tinha mesmo achado estranha sua ação... Coitado! Como será que estaria ele naquele momento? Devia estar sofrendo como um cão, e a Vicky então? Imagina quando soubesse da traição de Thomas? Ela o mataria, ou SE mataria. Na verdade era com que ela mais se preocupava.

Ta certo que ela não era O exemplo de amante, mas certamente se perguntava desde quando Rony estava gostando de Victorya...

“Eu juro...” – pausou – “Eu nem sei o que dizer amiga. Quero dizer... Acho que vocês dois não devem se punir pelo que fizeram. Isso foi um acidente!”

“Eu sei Hermione, mas o Thomas não vai me perdoar nunca... E pela parte do Rony eu não tenho muita certeza se foi realmente um acidente, quero dizer... ele me olhava de um jeito estranho. Ele parece me amar, oras!” – disse cabisbaixa, mas não mais chorando – “Eu sou um completo desastre”.– continuou, abraçada com a almofada.

Hermione a observava, como se nunca a tivesse conhecido. Parecia uma criança, vestida com aquela camisola rosa, do Mickey abraçando a Minney. Parecia uma das camisolas de sua filha, mas em tamanho maior.

Hermione calou-se, e também se encostou à cama, abraçando Victorya, e apoiando sua cabeça com a dela.

Ficaram ali, o que parecia uma eternidade. Estava chovendo, fraco, mas estava. O vento entrava circulando pela janela, batendo em seus rostos. Hermione achou estranho, pois tinha certeza de ter fechado a janela antes de dormir.

Hermione se examinava, até que seus olhos encontraram a tatuagem, que brilhava como nunca.

Lembrara de Harry quando se esbarraram na escada...

I swear that I can go on forever again


Please let me know that my one bad day will end


I will go down as your lover, your friend


Give me your lips and with one kiss we begin


Are you afraid of being alone


Cause I am, I’m lost without you


Are you afraid of leaving tonight


Cause I am, I’m lost without you

Quando seus olhos encontraram os dele, sentiu-se novamente com dezessete anos. Lembrou-se de seus mais íntimos momentos, e como queria que tudo voltasse a ser como antes...

And I miss your laugh your smile


I’ll admit I’m wrong if you tell me


I’m so sick of fights I hate then


Let’s start this again for real

Escutara uma outra batida na porta, só que agora, leve e suave.

“Entre”.– disse desanimada, ainda sonhando acordada com seus breves momentos nostálgicos.

Sorriu ao ver a filha...

“Você chegou meu amor! Vem aqui com a mamãe, vem!” – a pequena correu até a cama, pulando no colo da mãe. Carregava uma varinha de brinquedo em uma das mãos, o que despertou em Hermione uma vaga lembrança da primeira vez em que tocara em uma varinha daquelas... Mal sabia ela que seus próximos anos, num mundo literalmente mágico, seriam tão dolorosos.

Hermione a abraçou como se nunca o tivesse feito. Como se fosse algo que tivessem tirado dela, e ela queria que voltasse novamente a fazer parte de seu corpo. Sua filha era sua alma, a única parte realmente feliz, que sobrara de tanta mentira e sofrimento.

Como era linda, Mya. Extremamente parecida com o pai... “Ai Harry...” – pensava.

Ruth estava à porta. Sorria de orelha a orelha, parecendo extremamente satisfeita.

“Seus pais fizeram questão de nos trazer aqui”.– Ruth sorriu, vendo Amelia abraçando Hermione.

“Meus pais estão aqui?” – Hermione perguntou apreensiva, afagando os fios vermelhos dos cabelos da filha.

“Estão sim. O Senhor Granger queria falar com a senhora...”

Hermione revirou os olhos... Estava realmente cansada e nenhum pouco a fim de descer para falar com os pais...

“Oi tia Vicky”.– Amelia abraçou Victorya. – “Está chorando?” – perguntou, pondo as pequenas mãos sobre o rosto de Victorya. – “Se machucou?” – perguntou angelical.

“Sim Mya. A tia só ta um pouco machucada, mas nada que dê pra ver... Garanto que vai passar logo”.– Hermione respondeu distraída, levantando da cama e procurando sua varinha.

Observava o chão, quando deparara novamente com a tatuagem. Aquilo a estava incomodando...

“Eu vou ficar bem Mya”.– Victorya conseguiu dizer. O nariz congestionado de tanto chorar.

“Eu cuido de você”.– Amelia puxou o cobertor da mãe mais pra perto, e cobriu a tia e a si mesma.

Vira a mãe escorregar a mão sobre o tornozelo; uma marca brilhava ali... Parecia tremer, de tanto piscar.

“Mamãe, o que é isso?” – Amelia pareceu surpresa com a tatuagem da mãe. – “É bonita, eu quero uma também”.

Hermione a observava com certa estranheza...

Victorya desatou a rir, Hermione tinha uma vaga idéia do porquê, mas ainda assim, se assustando.

“Jamais você irá fazer uma dessas Mya”.– disse de costas, virando-se para o espelho... Adorava ficar ali, olhando para si mesma horas e horas.

“Por quê?” – protestou.

“Porque não. Você é muito nova para essas coisas”.

“Eu não to falando agora mãe! Eu to falando quando eu crescer!”.

“Mesmo assim. Você não vai ser tão destrambelhada quanto eu...”

“Anh?” – a garota não entendeu.

“Esqueça essa idéia... Um dia você entenderá”.

Amelia parou pra pensar...

“Um piercing? Deixa Hermione! Tadinha da menina. Você a repreende por tudo!” – Victorya soou sarcástica.

“Isso mãe!” – a menina acreditou.

“Não Mya, a tia ta brincando... Eu já tive um piercing. Dói pra colocar e demora pra fechar...”.

“Onde?”

“Sobrancelha.”

“Hummm... A irmã de uma amiga minha também colocou, mas ela não me disse onde”.– disse aborrecida.

“Eu imagino onde”.– Hermione respondeu.

“Opa”.– Victorya imaginara a mesma coisa que a amiga.

“Pois é Amelia, com uma mãe e uma madrinha dessas, você não vai conseguir muita coisa.” – Hermione sorriu ao encontrar sua varinha ao pé da cama, e ao olhar pra filha, parecendo um anjo, enrolada em meio ao cobertor. – “Dá um beijo na mamãe, que ela já volta.” – inclinou-se e beijou a filha na testa.

Somente saiu quando, com um toque da varinha, trocara de roupa.

“Cuida da tia Vicky.”

Ruth, que observava tudo, também saiu, deixando Victorya e Amelia a sós.

Ficaram ali por mais um bom tempo...

Mya amolecera, deixando a “varinha” cair no chão...

Aquilo parecia magia. Nada soava, tudo propício para um longo dia de sono. Victorya fechara os olhos. Nunca fora tão convidativa uma cama, como naquele momento... Suas pálpebras foram fechando, fechando, até que tudo se apagou.

Gina acordara relativamente mal na manhã seguinte. Draco não fora pra casa, “Saíra pra espairecer” , como dissera à sogra, que sabia exatamente o que estava acontecendo.

Só de imaginar que estava esperando um filho, ainda de outro cara, já a apavorava. Ela não devia ter contado a verdade, afinal não sabia se estava realmente certa do que acontecera... Estava bêbada afinal. Na verdade, ela não deveria ter feito o que fez, isso sim...

Sua cabeça estava pesada, na barriga alguma coisa se revirava, até que sentiu uma vontade danada de sair correndo da cama e ir ao banheiro. Estava passando mal novamente.

Draco não sabia nem onde estava, nem por onde caminhava... Estava andando durante horas e horas e nada parecia ter fim. Até então sua vida ao lado de Gina tinha sido perfeita.

Para ele o céu estava opaco, nada mais tinha vida, e a cabeça estava tão pesada quanto se tivesse bebido vinte copos de Bafo de Dragão.

“É o chifre”.– disse seu subconsciente.

Chutou a lixeira à sua frente, com a ferocidade de um leão. Esfregava as mãos na cabeça, querendo arrancá-la. Gritava silenciosamente, e na verdade sem saber o porquê. Como sem saber o por quê? É CLARO QUE TINHA UM PORQUÊ. Gina, sua mulher estava grávida de outro homem.

O ar se comprimia em seu corpo, ele estava sozinho sem saber onde, nem como chegara ali, mas aquilo exatamente não o interessava.

Não que nunca tivesse saído com outras mulheres enquanto duravam suas “separações”, mas nunca engravidara nenhuma delas...

Não sabia como se sentir exatamente, estava confuso.

Na verdade, nem deixara Gina se explicar, afinal aquilo não tinha explicação... Ou tinha? Nada poderia ser tão perfeito, quanto achava que seu casamento era, afinal quando se brigavam era diferente. E ele só saíra duas vezes, e isso em suas primeiras brigas...

E havia ainda outra questão: Ele nunca poderia imaginar que Gina também saíra com outros...

“Merda!” - gritou, assustando a velhinha que passava, com dois netinhos mais ou menos da idade de seu filho...

Seu filho, Tom, como ficaria?

Ele não poderia saber que sua mãe havia traído seu pai em tais circunstancias e ainda mais engravidado desse mesmo cara, aliás, quem era esse cara?

Chegara no quarto. Estava escuro, frio... não tinha onde se segurar. Aquilo era o vácuo, o deserto, o nada. Conseguia sentir o pó entrando pela janela, que batia sem dó; um batuque ensurdecedor e consecutivo. A cada passo uma lágrima caia. A pior sensação de sua existência. O sangue descia quente pelo nó da garganta.

Lá embaixo, um jardim bonito... duas crianças e uma moça de cabelo roxo? Brincavam... vultos negros circundavam a casa? Aquilo era uma casa?

Andava contra o vento, queria poder voar. De repente escurecera, uma lua mal formada se condensava, a chamando ao último salto.

Conseguiu sentir o impacto que seu corpo teria com o chão. Cada parte de seus ossos se quebrando. Mas por incrível que parecesse, ela ainda estava ali. Seus músculos ainda correspondiam aos seus nervos. Ao longe a casa, que cada vez mais se aproximava, como num filme... Lembrava vagamente Rose Red... Luzes piscavam, ofuscando, e o cheiro forte exalado pelas damas da noite, só que de dia, invadia suas narinas, tornando aquilo ainda mais instigante e assustador.

Seus pés pareciam flutuar. Uma névoa celestial encobria o quarto. Logo, a Lua que aparecia de claro, foi sumindo atrás de uma mancha negra, tinha a forma de caveira. A caveira que assombrava o mundo bruxo, desde que a força do Lord das Trevas se impôs ao mundo.

A cobra traiçoeira se arrastava pelo céu de manto azul escuro. As estrelas não mais brilhavam, o vento não mais soprava em seu rosto, as damas da noite não mais tinham vida.

Estava ali, parada, apenas vendo o mundo ser destruído. Agora um cheiro pútrido indiscutível de cova de cemitério invadia suas narinas. Suas lágrimas viraram sangue e tudo foi girando, girando, girando...

Não mais estava ali, e sim corria porta adentro da casa... um homem encapuzado havia machucado sua irmã, corria atrás de alguém... Debatera com a porta de um escritório. Agora era dia e a casa luxuosa estava bem iluminada. Colocara a mão na maçaneta e abrira a porta... Um barulho vinha da sala. A trinca da porta da frente tinha quebrado. Aquela mesma névoa que a encobrira no quarto invadia o corredor, e com ela, a escuridão e o cheiro pútrido caminhavam lentamente. O sol não mais batia à medida que a escuridão se aprofundava...

Seu nome ela escutara de longe, aquilo ecoava em sua cabeça...

Era uma movimentação estranha, ela não mais era a Victorya de hoje, sim uma garota de três anos. Ao fundo do escritório, um senhor robusto, sua barba reluzente de tão grisalha, fumava charuto. Tinha uma expressão serena no rosto, que logo mudaria, repentinamente, de modo que uma angústia insana queria fazer seu peito explodir de dor. Victorya partilhava dessa angústia...

Um homem viera por trás e colocara a mão em sua pequena boca, ela queria gritar, mas não conseguia; Era apenas uma loba no corpo de um bebê, uma criança.

Uma mulher, de cabelo roxo, a mesma dos jardins, vinha correndo em meio à escuridão enevoada do corredor, mas parara brutalmente, caindo no chão, num baque surdo.

Tudo passava á sua frente em câmera lenta, até que a pessoa que a segurava firme, nos braços, apontou a varinha diretamente no peito do senhor da poltrona, que estava assustado.

Ela engoliu em seco, sentiu como se o Comensal, sim, era um Comensal, se dissolvesse e entrasse em si...

O gosto de sangue.

A pele.

Sua essência maldita a possuía...

Harry corria apressado. Estava atrasado para sua entrevista com Luna Lovegood. A cada passo que dava, no Beco Diagonal, se tornava mais e mais intransitável. Era cercado por bruxos, crianças, e garotas, que percorriam o Beco Diagonal.

Sentia-se com onze anos de idade, na primeira vez que pisara ali. Mas agora, era diferente. Ele já sabia de sua fama no mundo mágico, agora sendo adorado, ou até mesmo odiado, por uma multidão que invadia os estádios de quadribol. Agora, já não ficava mais abismado pela quantidade de bruxos e bruxas que apinhavam as lojas, e com certeza, sabia muito bem o que era uma vassoura, e a sensação de fazer da sua vida, uma completa aventura.

No auge e fim de sua carreira como jogador, vários fãs o circundavam, pedindo autógrafos e mais autógrafos. Pelo jeito seria difícil chegar a Florean Fortescue a tempo.

Imaginando o por quê da demora, Luna resolvera dar uma volta pelo Beco, e não foi surpresa nenhuma, quando encontrou Harry em meio á uma multidão empolvorosa, afinal, ele, Harry Potter, garantira a vitória de seu time, no último campeonato.

A loura ficara ali, apenas o admirando de braços cruzados, mas não estava sem paciência, pelo contrário, reconhecia o modo com que Harry Potter tratava seus fãs. Disso realmente ele deveria se orgulhar. Isso sim seria um ótimo assunto para sua reportagem, que levantaria um pouco, a “banca” de sua revista: Harry Potter, a lenda viva. No auge da carreira abdica, mas sempre será exemplo para os bruxos de futuras eras.

“Uau”.– nunca vira Harry como homem, pelo contrário, sempre o vira como um garoto frágil, de maior adoração por ter os pais mortos por um psicopata assassino, e inseguro por ser tão assediado, e ter seu sofrimento explorado, além de viver perseguido por um bando de Comensais da Morte, querendo ver sua alma sugada pelos Dementadores. Agora, era notável que estava um homem atraente. Seus cabelos negros, arrepiados, davam um certo ar selvagem e sexy, contrastando som seus olhos verdes-esmeralda, que herdara de sua mãe, e um jeito peculiar de mexer com as mãos que chegava até ser “perturbador”.

Ainda usava óculos, na sua opinião, o que ainda o deixava mais... Mais!

Não se cansava de olhar, e olhar... Sua beleza jamais se perderia, mas logo se pegou pensando em coisas que não deveria, em coisas que não deviam sequer passar por sua mente por um milésimo de segundo...

“Ai Luna, deixa de ser imbecil”.– bateu com a mão na testa, decidindo-se sentar, em frente a uma loja de roupas e acessórios, para esperar Harry, que logo que a viu, deu um jeito qualquer, mas dispensou todo o pessoal.

“Oi, desculpe... Eu prometo que nunca mais chego atrasado”.

Foi só impressão ou ele disse “Eu prometo”, e “Nunca mais chego atrasado?”

Ai, ai... Doce ilusão.

“O que é isso... imagine”.– ela levantou, batendo a cabeça com tudo, no queixo de Harry.

Arregalou os olhos, desesperada.

“Desculpe!” – disse olhando nos olhos do rapaz, que não estava realmente prestando atenção a ela, e sim, à sua dor.

“Hummmm... tchaa bo...” – tentou dizer, de boca fechada.

Luna estava extremamente ruborizada... Lembrava uma menina de quatorze anos.

“Certo... Vamos?” – tentou consertar o estrago.

“Humhum...” – Harry apenas assentiu.

Seguiram ainda chamando muita atenção, mas não precisaram andar muito, para chegar à sorveteria...

Harry, ao sentar numa das cadeiras brancas, enfiara a mão no bolso das vestes de bruxo, e tirara um óculos escuro, na opinião de Luna, ficando extremamente sexy.

Realmente... Aquela entrevista não tinha sido marcada em boa hora...

Luna estava carente, não tinha marido, nem namorado, nem rolo, muito menos ficante...

Não tinha mais família, não tinha filhos e nem um gato de estimação. Vivia para o trabalho, que era a única coisa que realmente a importava.

“Pra que isso? Nem ta sol...” – tentou mudar o assunto de plano.

“Disfarce... entende, não?” – balançou displicente, o cabelo pra trás.

“Harry, Harry, você não ajuda mesmo enh”.– respirou fundo.

“O quê?”

“Hummm, o dia ta muito quente hoje, não?” – corou novamente.

Harry contorceu o rosto um pouco...

“Não”.– disse sem graça.

“Ok... vamos começar...” – deu-se por vencida, deixando Harry mais sem graça do que ela mesma, se é que era possível.

“AAH!” - Victorya acordou assustada, mas não quis mais sair da cama, não estava mais no quarto de Hermione, e sim, no seu.

Seu gato, Rommel, que quase não se fazia ver, estava aconchegado a seu lado, soltando pelo em todo o cobertor. Estava suada, a cama estava quente. Sentia algo arder em seu rosto, como ferida aberta. Tentou tatear para encontrar a varinha, no criado mudo. Estava escuro, e só seus objetos estranhos, herança do avô, parecidos com os que Dumbledore guardava outrora, reluziam na prateleira, em meio aos livros que ali guardava. – “Lumus, ai minha cabeça!” – tentou levantar, mas ainda tonta. Nunca tivera um pesadelo como aquele. Na verdade, era ela mesma... Ela e sua prima Tonks, no dia em que seu avô morreu. No dia em que os comensais o mataram.

Calçou a pantufa de pantera cor de rosa que estava aos pés da cama, lançando Rommel, sem querer, ao outro lado do quarto.

“Oh! Desculpe Romm”.– disse, sem muito se importar.

Passou a mão pelo rosto, no lugar em que ardia, e sua mão fora molhada com alguma coisa...

Seguiu rápido até o interruptor, ao lado da porta.

Era sangue.

Correu para o espelho, levando um susto. A testa estava toda ensangüentada, com um corte grande e profundo. O mais estranho era que seu travesseiro não estava molhado nem sujo...

“Droga”.– se atrapalhou, enfiando fios do cabelo desarrumado, dentro do corte...

Correu para o banheiro da suíte. Na verdade não sabia como chegara ao próprio quarto. – “Talvez Hermione tenha me trazido”.– pensou. Olhou para o relógio, largado em cima da pia. Era uma hora da tarde... Ainda não falara com Thomas, e nem trabalhara em sua coluna quinzenal.

Escutara uma batida na porta...

“Entra”.– disse do banheiro, se olhando no espelho e tentando limpar o corte com uma poção preta que fumegava ao tocar a pele. – “Ai! Droga, quem é?”

Ninguém respondeu, porém, levou um susto ao encontrar os olhos azuis de Rony, cravados de forma assustada, em sua testa.

“Rony”.– ela virou relutante para encará-lo. - “O que faz aqui?”

“Victorya! Você está machucada...” – disse preocupado, mas com receio de tocá-la e não suportar...

“Não”.– Victorya virou-se novamente para o espelho, vendo o corte fechar, a pele se regenerando...

Calou-se. Não tinha coragem de encará-lo. Sim, Victorya Hutingdon finalmente ficara sem graça... Ela, justamente ela. Realmente eram novos tempos.

“Vicky... Victorya”.– Rony começou pesaroso. – “Eu, bom... Não vou enrolar. Na verdade, ontem” – Victorya respirou fundo. Não sabia o porquê, mas a cada palavra de Rony sentia a raiva se apoderando de seus corpo. – “eu precisava contar uma coisa pra você. É uma coisa realmente séria”.

Victorya resolveu virar.

“Eu sinceramente não quero saber, e se me der licença eu preciso tomar banho pra trabalhar e encontrar meu noivo”.– disse dura e firme.

“Mas Victorya, eu!”

Vicky bateu com a porta na cara de Rony.

Rony virou de costas, batendo com a nuca na porta do banheiro.

“Eu te amo droga... Só não queria que você sofresse como já sofreu”.

Victorya se olhou no espelho novamente... – “Burra”.– bateu com a mão na própria cara, mas não chorou. Apenas tinha raiva de si mesma... Escutava Rony falando do outro lado da porta, se sentindo culpada por tudo o que estava acontecendo.

Não dava pra escutar muito bem, mas com certeza, levara um susto ao escutar um grito, provavelmente de raiva do outro lado da porta.

Thomas acabara de entrar no quarto de Victorya. O moreno trazia, cinicamente, flores nas mãos, mas fora pego de surpresa, com um soco na cara, vindo do Ruivo que estava no quarto de sua noiva.

Rommel saiu correndo pela porta aberta, assustado, com os pelos arrepiados.

“Rony!” – disse, a boca sangrando, cortada, caído no chão.

“Seu merda!” – Rony chutou-o na barriga, fazendo-o gemer mais ainda.

“Socor – ro!” – disse, cuspindo sangue, morrendo de dor.

“Seu canalha! COMO TEVE CORAGEM... DE ENGANAR VICTORYA... DESSE JEITO?” – disse, em meio a socos e pontapés, ainda chutando-o por onde dava.

Victorya veio correndo do banheiro, a voz confusa e agitada.

“O que está acontecendo aqui? RONY! O QUE VOCÊ FEZ...?” – correu para Thomas, praticamente desmaiado no chão. Não tivera nem tempo de pegar sua varinha pra se defender, muito menos, de se defender com os próprios punhos. – “Thomas, meu amor, fala comigo!” – disse, dando tapinhas leves em seu rosto. – “Você vai ficar bem”.– ajudou-o a encostar-se na cama, olhando para Rony com descrença.

Continuava olhando assustada para Rony, que continuava também, olhando ameaçadoramente por trás dos fios de cabelo, grudados na testa com suor. Tinha empregado toda sua força e raiva ao chutar Thomas... Na verdade, nunca sentira tanta vontade de matar alguém. Queria fazê-lo pagar por todo o tempo que fizera Victorya acreditar que havia amor em seu relacionamento... Pela primeira vez...

Thomas também o encarava. Notou que Rony já sabia de tudo, de tudo mesmo, só que resolveu fingir que não era nada daquilo.

“Esse idiota me atacou”.– fingiu-se de vítima.

Rony ia partir novamente pra cima de Thomas, mas Victorya levantou-se, ficando frente a frente com ele, o impedindo de fazer uma loucura. Seus corpos estavam novamente juntos, mas numa situação tão cheia de improváveis, que acabou cedendo ao pedido silencioso da amada.

“Saia já daqui”.– ela sentiu Rony a olhando como na noite anterior. Ele era o paradoxo em si... Uma hora tão transtornado, em outra completamente apaixonado. Apesar de tudo, sentia que podia confiá-lo. Sentia que estava ali só para protegê-la, mas como poderia? Ele, o ruivo, estava atacando seu noivo, seu amor... Sim, seu amor. Era Thomas quem o tinha ainda...

“Não vou deixá-la sozinha jamais com esse crápula”.– fechou novamente os punhos, os olhos azuis estavam negros de tanta raiva. Seus lábios tremiam de fúria. Victorya sentiu algo estranho no ar.

“O que está acontecendo aqui?” – perguntou temente.

Thomas deixou sair uma exclamação de sua boca, tentando se levantar do chão com certa dificuldade, ou fingindo certa dificuldade.

“Não sei do que esse cara está falando”.– fingiu, quase em desespero. Conhecia Victorya muito bem, para saber que quando ela descobrisse, com certeza ferraria com sua vida. Teria que ter certo cuidado, para Hermione, Rony, e até mesmo Amanda, não contassem.

Victorya olhou de um a outro, quando Hermione entrara no quarto, esmagando o buquê de flores que Thomas havia levado.

Por Victorya, Hermione também estava estranha. Aliás, sentia-se tão estranha quanto à própria situação. Parecia a tal da conspiração...

“Rony, deixe-os”.– Hermione olhou de lado, para Thomas.

“Não. Não a deixarei aqui nem por um segundo, enquanto esse verme não disser toda a verdade”.– cruzou os braços, olhando mortalmente a Thomas, como se depois do que ele fizesse o que o rapaz queria, Rony fosse-o matar.

“Vai sim. Eles precisam conversar. Ela tem o direito”.

Thomas pigarreou, desconfortavelmente, alto.

Hermione voltou-se para ele. – “E você, fora daqui”.

“O quê?” – Vicky exclamou aguda. Hermione, porém, a ignorou.

“Nunca mais pise na minha casa”.

“Hermione, essa casa também é minha! E alguém aqui pode me dizer que porra está acontecendo?” – perguntou nervosa.

Thomas levantou os olhos. Tudo iria de mal à pior.

“Victorya, por favor, vamos sair daqui?” – disse desconfortável.

“Pra quê?”

“Vamos almoçar fora... Preciso falar uma coisa pra você”.

“Vocês estão me deixando preocupada!”

Hermione batia o pé no chão de forma irritada.

“Vá. É melhor Vicky”.– a voz estava mais calma. Hermione temia a reação de Victorya mais que tudo.

Vicky voltou-se para Rony. Sentia-se novamente vulnerável... Ela também tinha algo pra contar a Thomas, por isso, decidiu tomar banho, e sair com o noivo. Mal sabia da chegada dos novos tempos...

“Ruth!” – Mya puxou a babá, que estava de costas, terminando de abrir o vestido da menina, para vesti-la.

“Fale Mya”.

“Por que minha madrinha, meu padrinho, o tio Thomas e a mamãe estão trancados no quarto?”

“Conversa de adulto. Não sei... talvez seja isso mesmo”.– disse a moça, pensativa.

“Ah! O Rommel saiu correndo de lá agora a pouco”.– apontou o corredor, por onde o gato passara.

“Hummm...” – respondeu pouco interessada.

“Você vai comigo e com minha mãe pro Beco?”.

“Não. Vou ficar... Arrumar umas coisas e escrever pra minha tia”.

Amelia sorriu. Tinha uma sensação boa...

Logo que Ruth a ajudara a por o vestido, ela correu para a pequena penteadeira do outro extremo do quarto.

“O que vai fazer menina?” – Ruth sentou desajeitada na cama.

“Colocar uma coisa...” – disse, tentando esconder o que estava pegando.

Logo que pegou o que queria, dentro da gaveta, levou até Ruth para pedir auxilio.

“Me ajuda aqui?” – perguntou, arrumando uma corrente no pescoço, e não deixando Ruth ver o pingente.

“Que mistério é esse garota?”

“Quero fazer uma surpresa pra minha mãe”.– os olhos verdes brilharam feito esmeraldas.

“Ok, pronto”.– Ruth fechou a corrente, tentando ver o pingente por cima da cabeça de Mya. – “Deixe-me ver!!!” – insistiu, fazendo cócegas em Mya.

Amelia virou, rindo, logo, mostrando um pingente delicado... Não dava pra distinguir bem o que era... Parecia runa, ou coisa parecida, mas com certeza era bem bonito.

“Foi sua mãe quem te deu?” – Ruth perguntou curiosa.

“Sim... Meu pai deu a ela, quando fez dezoito anos”.

A ruiva sorriu desconsertada.

“Mya, quem é seu pai?”

A menina arregalou os olhos de súbito. – “Desculpe, não posso falar disso”.– enrugou a testa, da mesma forma que Hermione, quando ficava preocupada.

“Hummm, certo”.

Passaram-se uns cinco minutos, e Hermione estava de volta. A cara um pouco mais aliviada.

“Vamos linda?” – Hermione pausou, ao ver o pingente no pescoço de Mya. – “Você vai usá-lo?” – engoliu em seco.

“Gostou mamãe?” – sorriu animada, achando que tinha feito uma ótima ação.

“Ah! Sim, claro...” – disse meio atordoada. – “Vamos?”

Ruth notara que a patroa ficara estranha.

Hermione decidira ir ao Beco Diagonal. Estava devendo a Mya, uma ida à loja dos Gêmeos Weasleys, Gemialidades Weasley. Resolveu comer qualquer coisa no Caldeirão Furado mesmo, e depois retirar dinheiro no Gringotes para umas compras.

Mya pegou a bolsa de gato e saiu pela porta com a mãe, que estava mais que atordoada...

“Rony! Eu disse pra você! É melhor você ficar calmo. A Victorya sabe se cuidar sabia?” – disse dentro do carro. Como Amelia não podia aparatar, saber dirigir era uma ótima opção.

“Hermione, vai com calma nisso ai”.– Rony não era daqueles que pensavam que uma mulher pode dirigir sem problemas, ainda mais de quando a mulher se tratava de Hermione.

“Hahaha”.– disse, olhando pelo retrovisor. – “Você é absurdamente engraçado”.– riu nervosa. Odiava gracinhas, ou qualquer comentário sobre sua direção. – “Mya, coloca o cinto”.

A menina obedeceu, revirando os olhos.

Rony olhava através da janela do carro, o quarto de Victorya, no terceiro andar da mansão. Ela estava lá, debruçada, como se esperasse que alguém a estivesse admirando.

“Rooony!” – Hermione exclamou. – “Ela não gosta de você”.– disse direta.

Rony arregalou os olhos. – “Uau, você me anima muito assim”.

“Sou realista, pé no chão ué! Ela ama o canalha do Thomas, o que eu posso fazer?” – Hermione viu que Mya prestava atenção. – “Mya, tapa o ouvido”.

“Eu não”.– disse malcriada. Não entendia o porquê de sua mãe xingar o Tio Thomas.

“Já que você é realista e pé no chão, por que vive nessa mentira deslavada?” – se alterou.

Hermione estava perto de um farol; brecou com tudo e olhou nos olhos de Rony.

“O que quer dizer com isso?” – perguntou assustada.

“Você sabe o que eu quero dizer!” – indicou Mya com a cabeça.

Hermione entrou em estado de choque.

“Como você sabe? Digo...” – estava confusa.

“Eu não sou tão débil quanto pareço Mione. Mas pode ficar tranqüila, eu não falo nada...” – concluiu sem paciência.

Hermione ficou calada por um bom tempo. Incrédula. Recusava-se a acreditar que a redoma de vidro em que criara a filha, estava se desfazendo a cada dia... Sentiu que com a volta de Harry, tudo ficaria mais difícil de se esconder.

Apenas saiu do seu transe, quando Mya, sua filha, bateu em seu braço com a varinha de brinquedo. Os carros buzinavam loucamente, atrás de sua blazer.

Rony balançava a cabeça de um lado pro outro, sem paciência.

“O que você vai fazer no Beco Diagonal?” – perguntou Hermione, tentando manter um diálogo civilizado, e ao máximo, longe de Harry.

“Encontrar uma pessoa”.

Hermione ficou desconfiada...

Ficaram mais um bom tempo sem se falar, até ela achar uma vaga ao lado do Caldeirão Furado.

Ficaram ali, por um instante, antes de descer...

“Rony... Desculpe”.– cedeu.

“Tudo bem... Você não tem culpa”.– disse num tom não muito convincente.

Mya já estava indo pra calçada, quando Hermione terminou.

“Ela sabe Rony”.

“Quem sabe de quê?” – disse absorto.

“A Mya sabe do Harry. Ela só não sabe quem é”.

Rony praticamente pulou, no estofado de couro. – “Sabe???”

“Sabe”.– disse com pesar.

“Então por que você não fala logo isso pro Harry? Eu não entendo você Hermione. Vocês poderiam finalmente ser felizes...”

“Você não entende. Eu queria que ele perseguisse os sonhos dele... Eu esperava, sinceramente mais de mim e mais dele... Eu não queria ficar longe do Harry, e sim que ele aprendesse a viver e experimentasse outra vida... Longe de mim, entende?”

“Sinceramente? Não, eu não entendo. Você não deixou escolha e...”

“Mãaaae! Vamos logo!” – Mya bateu no carro.

“Ok, depois a gente conversa”.– Rony disse, e Hermione assentiu com a cabeça.

Draco estava no Caldeirão furado. Não sabia ao certo o porquê, mas sabia que não queria voltar tão cedo pra casa. A essa altura, Gina estaria se debulhando em lágrimas de arrependimento e desgosto, ele sabia. Por mais que tivesse errado, ele tinha a certeza de que ela o amava... Sempre.

O louro não sabia realmente o que fazer, na verdade, ele não conseguia sentir ódio da mulher, mas seu orgulho fora ferido demais para perdoar a conseqüente traição. Lembrava desolada de sua volta com ela, em seus dezessete anos; De quando Tom, seu filho, nasceu; De seus planos para os primeiros filhos; De seu casamento...

Deitou a cabeça no balcão, em meio a dois velhos bruxos que conversavam. Uma vontade incontrolável de fazer algo... Mas estava impotente, de forma que nada podia fazer para mudar seus destinos. Ao menos se Vicky estivesse ali para ajudá-lo a encontrar uma solução... Victorya era sem dúvida uma grande amiga. Sempre o apoiara e confiara. Como queria que estivesse ali...

“Draco?” – levou um susto ao sentir o toque nas mãos de alguém, em seu ombro. Era Hermione...

“Oi”.– respondeu seco, levantando-se rapidamente. Por mais que não brigassem mais por coisas tão mesquinhas e tolas, não conseguia gostar realmente de Hermione, mas do mesmo jeito, a respeitava.

“Você está bem?" – perguntou sem graça, também se sentindo desconfortável.

Mesmo com anos de experiência com todo tipo de gente, ela não conseguia encarar Draco como seu amigo ou marido de sua melhor amiga, e sim, sempre, como Draco Malfoy. Um Malfoy...

“To”.– ao levantar avistou Rony, seu cunhado, logo atrás da amiga de sua mulher. – “Oi Ronald”.– crispou os lábios, de forma costumeira.

“Oi Malfoy. O que faz por aqui, sozinho?” – perguntou, olhando pros lados, desconfiado, como se quisesse farejar cheiro de vagabunda. Nunca confiara em Draco. Não seria agora que mudaria de opinião.

“Não é da sua conta”.– virou todo o copo de cerveja amantegada num gole só, o largando com um baque em cima do balcão, com moedas... Resolveu sair dali, talvez até fosse melhor voltar pra casa.

“É sim”.– Rony atravessou a mesa que estava à sua frente, impedindo o contato direto entre ele e Draco. – “A partir do momento que você ferrou com a minha irmã, eu tenho muito a ver com o que você faz ou deixa de fazer”.– cruzou os braços.

Draco riu de canto... Estava ficando louco ou aquilo era uma piada?

“Está rindo do quê?” – Rony voltou-se novamente para Draco, cada vez mais agressivo.

“Você trata sua irmã como se ela fosse uma criança. Santa, pura, imaculada, já notou? Pois fique sabendo que a sua irmãzinha...” – aproximou-se mais, falando quase num sussurro para só Rony ouvir. Respirou fundo, arrumou a capa, colocando a carteira no bolso e desaparatou. – “Passar bem”.

Rony deu um soco no ar... Queria escutar uma coisinha vinda da bica de Draco, sobre Gina...

Ta certo. Ele parecia ser um ótimo pai para Tom e amar Gina de forma que sua existência não conseguia entender, mas algo com certeza estava errado desta vez.

Rony olhou de Hermione para o resto do bar, que para um fim de semana sem nada especial estava bem cheio.

“O que deu nele?”

“Vai saber... Talvez ele e Gina tenham brigado. Eu sinceramente não tenho nada conta o Draco. Nada mesmo” – Rony arregalara os olhos com a observação de Hermione. – “É sério Ron! Eu já tive, e muito, mas com certeza não tenho motivos para ter mais... Pense bem: ele faz a sua irmã feliz. Os dois se dão super bem e é isso. Ponto... Não adianta ficar remoendo coisas do passado”.– Hermione pegou novamente na mão da filha, seguindo com os dois para o fundo do bar.

Rony bateu com a varinha cinco vezes em uns tijolos encardidos do pequeno depósito de lixo... Sim, era o que aquilo parecia, abrindo passagem do tamanho suficientemente grande para os três passarem.

“Mione”.– Rony ria tolamente.

“O quê?”.

“Há vezes que eu consigo acreditar que você é normal. Quem vê pensa que sua vida é um primor de organização... Cuide-se”.

Hermione ignorou a provocação...

“Você vai almoçar conosco ou não?” – perguntou distraída com a filha, que parecia estar querendo mostrar alguma coisa.

“Na verdade não. Vou dar uma volta e depois encontrar uma... pessoa”.– caminhavam enquanto isso.

Hermione cruzou os braços, enrugando a testa de forma bem peculiar...

“Que pessoa? Não me diz que é a Amanda...”

Rony pareceu se assustar ao nome de sua ex ser mencionado.

“Não... Não é a Amanda”.

“Fala!” – perguntou estranhamente curiosa. Ou ela estava enganada, ou o amigo escondia algo dela.

“Não é ninguém, eu juro. Coisas de trabalho”.– mentiu, anotando em sua mente que ainda naquele dia teria de falar com Amanda.

“Ok...” – disse, não muito convencida, o abraçando. – “Apareça e se cuida”.

“Certo”.– retribuiu o abraço, como nunca tinha feito antes.

Talvez só agora sabia reconhecer o quanto aquela mulher era forte, pra suportar tanta dor.

Quando virou para falar com a filha, Hermione levou um susto. Amelia, não estava lá.

“Mya?!” – Hermione olhou para a loja da frente, pra de trás... Para o começo do Beco Diagonal, nada.

Rony, que fora pego de surpresa, também olhava em volta.

Muitas coisas passaram pela mente de Hermione.

“Rony, cadê minha filha?” – seus olhos estavam embaçados, se perdiam na multidão, nada. Nada de Amelia.

“Não sei... Ela estava aqui”.– apontou para o lado esquerdo de Hermione, parecendo até um pouco idiota.

“EU SEI! Eu sei... cadê minha filha? Por Merlin Rony, EU QUERO A MINHA FILHA!” – chamou a atenção de quem conseguira ouvir seus berros. Até mesmo quem estava dentro das lojas, saíram para ver o que estava acontecendo.

Uma senhora que passou, olhou a morena e perguntou discretamente... : “Você é Hermione Granger?” – crispou as sobrancelhas.

“Sim senhora...” – chorou, virando pro outro lado. – “Eu quero a minha menina Rony! “– soluçou – “Faça algo pelo amor de Merlin, me ajude.” – abraçou Rony com mais força do que ele poderia suportar...

“Hermione, se acalme”.– virou-se às lojas, procurando a garota de cabelos flamejantes.

“NÃO! EU NÃO QUERO ME ACALMAR, EU QUERO A MINHA FILHA!!! NÃO, NÃO, NÃAAOOOOO...” – começou a rodar, e rodar, e rodar, sentindo a pressão descer. Olhava cada rosto, cada criança, cada gesto ao seu redor... Nada de Mya. Ela daria tudo para ter sua filha de volta.

Ela corria, parava, voltava, andava, perdida, olhando de um lado para o outro, enquanto Rony também a ajudava a procurar por sua filha dentro de lojas e até mesmo, em meio aos duendes do Gringotes.

“Rony, e se Mya foi raptada?” – suas pernas quase cederam, ao imaginar o que poderiam estar fazendo com sua filha.

Rony parou à frente dela, a abraçando...

“Se acalme, tudo vai se ajeitar”.

“Só isso?” – Harry se divertia. Luna se atrapalhou muito no meio da entrevista, que já tinha acabado. Era muito divertida a loura, apesar de ser um pouco tímida e desastrada.

“Só...” – corou novamente. Lembrava Gina, quando mais nova.

Harry deu uma colherada no sorvete. Adorava tomar sorvete no frio, ainda mais se fosse tão bom quanto o da Florean... Era dessas coisas que sentia mais falta... Além de sentir uma tremenda dor, por estar tão longe de Hermione, seus amigos, e até Sirius, que estava aprofundado num caso de investigação ultra-secreto, no Departamento de Mistérios.

Agora que ia trabalhar na chefia das Ligas Britânica e Irlandesa de Quadribol, ficaria mais próximo até de seu padrinho...

“E você?”

“Eu? Eu o quê?” – Luna se assustou, deixando os óculos com aros vermelhos cair. Logo quando ia colocá-lo novamente, Harry segurou-a pelos pulsos. Se um dia perguntassem a ela, qual o maior choque de sua vida, fora aquele.

“Não faça isso”.– Harry a via como se fosse a primeira vez. – “Você fica bonita sem óculos”.– sorriu, outra vez, a deixando constrangida. – “Não fique envergonhada. Você deve aceitar os elogios quando são realmente verdadeiros... Acredite”.

Luna quase desmaiou. Ela, Luna Lovegood, recebendo um elogio de HARRY POTTER! Seu sonho de consumo desde que terminaram o quinto ano. Ou aquilo era um sonho, ou uma piada de muito mau gosto.

Harry notou o quanto foi indiscreto. O que ela estaria achando? Que ele, Harry Potter, estava dando em cima dela? Pobre Di-lua.

“Hummm... desculpe”.– se recompôs, ajeitando-se na cadeira. – “Mas se fosse você, nunca mais usaria este óculos. Tem olhos lindos.” – disse sincera e totalmente sem segundas intenções. Havia tempos que não se sentia tão à-vontade com uma pessoa, como estava naquele momento.

“Eu não to acostumada com elogios”.– disse, sem olhar nos olhos do rapaz.

“Nem de seu namorado?”

“Quem seria o louco?” – revirou os olhos, como se aquilo fosse óbvio, oras! Era claro que ela não tinha namorado. – “Eu não tenho namorado”.

“Como não?” – ela jurava que se não o conhecesse ia dar na cara dele. Se fosse outro iria achar que era zombaria e ofensa.

“Ninguém me quer, oras... E bem, eu não sou atraente, não sou bonita, sou uma chata, vivo pro meu trabalho e pra conseguir manter o Pasquim de pé, o que é muito, mas muito difícil... E ainda tem meu cachorro, ele precisa de mim!” – sentiu-se uma idiota por estar se abrindo com Harry daquela forma. – “Desculpe, você nem tem nada a ver com isso e eu to choramingando aqui com você!”

“Fui eu quem tocou no assunto, mas eu te entendo...”

“Entende?”

“Sim, entendo. Você se fecha como tartaruga, que se esconde no casco”.

Luna pareceu pensar um pouco... Tartaruga? O que ele queria dizer com isso? Que ela era feia, verde e cascuda? O.O

“Anh? Eu sou normal oras! Não posso fazer nada se ninguém se sente atraído por mim.”

“Não pode?” – levantou brevemente a sobrancelha.

“Não, não posso”.– respondeu sem paciência. Não estava gostando do rumo da conversa. – “Certo”.– disse nervosa. – “Eu falo com você antes de publicar a entrevista. Você vê o que quer que mude, e se quiser incluir mais alguma coisa me manda uma coruja”.– mas não se levantou... Era como se estivesse expulsando o rapaz dali.

Harry entendeu o recado. Agora era a sua vez de constranger-se.

“Ok!” – levantou-se, afastando a cadeira. – “Tchau”.– sorriu tão sem graça quanto ela.

“Tchau”.– Luna nem olhou para sua cara, só observando-o, quando já estava longe, mas ainda em seu campo de vista. Deparou-se com a carteira de Harry, que ele esquecera em cima da mesa, quando insistira em pagar o sorvete, mas agora já era tarde... – “Droga!” – socou a mesa, tentando imaginar se seria muito difícil chegar no hotel onde ele estava hospedado. Teria que ir lá, entregar a carteira...

Estava seguindo pelo Beco Diagonal. Rony, que tinha marcado com ele depois do almoço, ainda não tinha chegado, então, resolveu esperar olhando o estoque da “Artigos para Quadribol”. Estava excitado, ansioso. Algo que não sentia desde adolescente. Sentia a adrenalina correndo por seu corpo, algo extremamente mágico, e inexplicável, que não sabia dizer bem o que era.

Ele podia sentir tudo isso, até que, sem querer, fez algo tropeçar e cair no chão de pedra do Beco. Era uma menina, e ela tinha batido a cabeça no chão.

“Ai!” – gemeu.

Harry ajoelhou-se, para ver se tinha a machucado. Sentiu a coisa completamente inexplicável ficar ainda mais forte. Era uma garota, pequena, de seus cinco, seis anos. – “Você está bem?” – ele a ajudou, ajudando-a a se levantar, e tirando-a do meio do caminho. Encostaram-se a um poste. A garota chorava... – “Machucou?” – perguntou estranhamente preocupado.

“Não”.– disse entre soluços, tentando limpar as lágrimas que escorriam com facilidade.

“O que houve?” – olhou pros lados – “Cadê seus pais?” – Harry agachou-se ao lado da menina, que segurava algum tipo de varinha de brinquedo. Olhou-a nos olhos, que mais se pareciam com os seus.

“Eu me perdi da minha mãe”.

Harry olhou pros lados.

“Calma, não precisa chorar... Shhh! Hey, nós vamos encontrar sua mãe, não se preocupe”.– a menina o pegou de surpresa, o abraçando forte, afagando seus cabelos no rosto do rapaz. – “Como se perdeu de sua mãe?” – pousou a mão, desajeitado, sobre a cabeça da menina.

“Eu vi um gato... correndo da loja de animais... Eu só... queria... aju-ju-dar...” – respondeu, entre soluços, chorando.

“Shh! Calma”.– Harry sentiu vontade de abraçá-la novamente, ainda mais forte... A menina lembrava alguém... Alguém muito familiar.

“Mya!” – a voz de alguém gritava em meio à multidão. Uma voz perdida, sem rumo. Hermione lutava para chegar até a filha. Pisou em vários bruxos e bruxas para poder chegar onde estava sua filha... Ela estava com um homem.

Rony corria logo atrás de Hermione. Perdera-a de vista por um segundo, pois ela corria tanto que era impossível poder acompanhar.

Amelia largou de Harry, que apenas a viu correr em direção a uma mulher. Hermione chorava muito ao enfim, sentir o peso morno novamente de sua filha, em seus braços. Chegou a pensar em seqüestro e até mesmo que a menina estivesse morta.

Mya levantou o rosto para a mãe, sentindo-se completa, mas sem nem ao menos saber o que era aquilo. Sorriu aliviada ao encontrar a mãe novamente.

“Amelia, o que houve? Eu fiquei desesperada! Cansei de te procurar! Nunca mais faça isso, está me ouvindo?” – disse dura, mas aliviada, esquecendo-se até mesmo do rapaz que estava com sua filha.

Hermione beijava a filha desesperada, como se nunca a tivesse por perto.

Mya desceu do colo da mãe. Olhou de Harry a Hermione.

“Eu vi um gato fugindo da loja de animais, e fui atrás, ai esbarrei naquele moço e ele me ajudou”.– Hermione levantou os olhos da filha e olhou novamente pra frente. Pela segunda vez em menos de vinte e quatro horas os dois estavam frente a frente. Deixou a bolsa que segurava, cair no chão. Seus olhos se fixavam em Harry e apenas nele.

Harry pareceu assustado. O que aquela menina tinha a ver com Hermione? Decidiu se aproximar, por mais que aquilo o afetasse.

Ele conseguiu sentir o perfume da mulher que tanto amava, a mais de dez passos à sua frente. Não notara, na noite anterior, o quanto ela estava linda, após anos de separação.

Olhou de Mya para Hermione. Seu rosto em choque...

“Essa é minha mãe”.– sorriu a garotinha, dispersando a atenção dos dois.

“Harry...” – novamente se sentiu sem chão. – “Por que estavam abraçados?” – temeu.

“Oi...” – disse um pouco bobo – “Ela estava com medo e... bem, eu não sabia o que fazer...”

Como mesmo tão frio como parecia ser agora, ele podia ser tão doce? Tão gentil? Será que desconfiara de algo? – ela pensava.

“Eu não sabia que ela era sua filha”.– completou inseguro.

“Vocês se conhecem momy?” – Mya perguntou ingênua, jamais imaginando que aquele era seu pai.

Harry viu a bolsa de Hermione caída no chão e se abaixou pra pegar, ela fazendo o mesmo, mas como fuga, querendo fugir dos olhos verdes que a atormentava e a aquecia de tal forma que seus hormônios chegavam a fazer arder de tanto que queimavam. Encostou novamente naquelas mãos que a cobriam tão voluntariamente e a prendia entre paredes, sempre a convidando para fazer amor. Conseguiu sentir o calor que os corpos emanavam, o resultado de tanto amor ali do lado, pedindo, suplicando uma explicação, pois não entendia tamanho espanto nem da mãe, nem do rapaz.

“Obrigada”.– levantou rapidamente.

“De nada...” – Harry passou as mãos pela nuca, como sempre fazia quanto ficava sem graça.

“Vocês se conhecem mãe?” – perguntou Mya novamente.

Harry observou Mya novamente, cada detalhe, até se deparar com aquele colar... Ele dera aquele mesmo pingente para Hermione, quando ela fizera aniversário de dezoito anos... Lembrava exatamente. Naquela época eles moravam juntos, num apartamento que ela ganhara de presente...

Hermione notou seu olhar.

“Harry!” – exclamou, tentando desviar a atenção do rapaz, mas mesmo assim, não conseguindo.

“Harry! Hermione? Mya?” – Rony crispou a sobrancelha, assustado com a cena.

“Sim Mya, nos conhecemos”.

“Eu e sua mãe... fomos colegas de escola”.– Harry lembrou quem era a menina. Era a mesma que havia sonhado praticamente todas as noites ultimamente. A mesma menina que o chamava de pai.

Harry agachou-se novamente. O coração batendo mais forte, sentiu um elo, antes quebrado, se formando novamente. Ele não precisava que ninguém o confirmasse. Amelia também era sua filha. Por mais que Hermione mentisse... Mas porque ela mentira? Antes de qualquer coisa era isso que ele tinha que descobrir.

Hermione sentiu lágrimas correndo, molhando e salgando seu rosto. Não fez muita questão em esconder o que estava sentindo. Ela sabia que ele sabia... só não sabia o que fazer perante a isso. Virou o rosto para o lado, encarando Rony, que estava cada vez mais embasbacado.

Harry observava o rosto da menina. Era muito parecida com Hermione, com exceção dos olhos e dos cabelos flamejantes. Aqueles olhos sem dúvida eram os seus. Na verdade, lembrava sua mãe, que apenas pôde conhecer por fotos.

Mione sentiu o peito se apertando. O coração estava descompassado. De súbito, agarrou a mão da filha, pegou-a no colo e saiu correndo, quase derrubando Rony no chão.

“Hermione!”

Rony finalmente se aproximou...

“É cara, uau!” – respirou fundo, observando Harry como nunca.

“O que foi?” – disse meio irritado, mas feliz.

“Vocês três aqui... foi estranho”.

“Rony! Você sabia que essa menina era minha filha e não me contou?”

“É claro que não! Ela é sua filha?” – pensou em falar a verdade, mas com certeza Hermione ia ficar puta da vida com ele.

Harry não acreditou muito, mas em todo caso...

“Tenho quase certeza Rony. Sabe...” – Começaram a andar pelo Beco, Harry desistindo de ir atrás de Hermione. – “Eu senti uma coisa especial por aquela menina. Além do mais ela é a minha cara!”

“Não, ela é bonita demais pra ser a sua cara”.– sorriu.

“Cala a boca, eu to falando sério”.– também sorriu. – “mas sabe o que me deixa mais intrigado? É que Hermione vem mentindo pra mi esse tempo todo! Por que ela faria uma coisa dessas? Separar o pai de uma filha... Eu não entendo”.

“Olha Harry”.– Rony colocou uma mão sobre o ombro do amigo. – “Seja o que for, Hermione deve ter um bom motivo... Você não sabe o quanto ela sofre por você, e não vá abrir a boca pra falar que eu disse algo, sabe, Victorya foi a única com quem ela contou...”

“Victorya! É isso. Eu preciso falar com ela!”

“Até parece que ela vai querer falar com você”.– revirou os olhos. - “Não sei bem o porquê, mas ela te odeia”.

“Hummm...” – Harry lembrou-se de quando conheceu a garota. – “Olha por quem você foi se apaixonar!”

“Nem me fale...” – disse desanimado. – “Eu quase matei o ex-noivo dela hoje...”

“É, fala ae...”

Continuaram caminhando, jogando papo fora. Harry pensando em Hermione e Rony em Victorya...

O único ser vivo na casa era D. James Holmes, a governanta. James era uma senhora distinta, vivia pelos caprichos de Narcisa. Para Draco, aquilo não fazia sentido algum... A mulher era paga pra nada, apenas para supervisionar os elfos. Pelo incrível que parecesse ele concordava com Hermione; definitivamente era contra a não remuneração dos elfos. Na verdade, a mansão não fazia sentido, sua mãe não fazia sentido; muito menos os amantes que ela costumava levar pra casa; sua vida não estava fazendo sentido.

“Gina está?” – perguntou desanimado, assustando a Sra. Holmes, que parecia, anteriormente, absorta, observando um quadro abstrato ao som de Summer Love. Draco podia jurar que a qualquer momento ele jogaria o rádio pela janela.

Irritou-se com a música. A música soava estrondosa em seu ouvido. Estava estourando de dor de cabeça.

“A Srta. Gina não desceu a manhã toda. Nem tomou o café que mandei preparar, posto na mesa”.– soou teatralmente preocupada.

“O que quer dizer?” – Draco enrijeceu os músculos, arregalando os olhos em direção à escadaria que levava ao andar de cima, onde ficavam os quartos.

“Não sei, mas acho que ela não está nada bem”.– disse, com um olho no patrão e outro no elfo que limpava a estante.

Draco correu pro andar de cima. Passou por várias portas até chegar ao quarto. Gina não estava lá, o que era de se estranhar, pois a cama estava desarrumada ainda, e a janela estava aberta. Tom, seu filho, também não estava no quarto, como sempre fazia, sendo o quarto dos pais, seu canto favorito da casa, depois, é claro, do armário coberto de pele de grifo, da avó.

“Gina?” – olhou no banheiro, também nada.

Logo, viu a porta do closet aberta. Gina odiava deixar aquela porta aberta, pois “pegava pó”, mas quando chegou à porta, levou um susto tão grande, que seu coração quase disparou. Lá, as roupas não estavam mais. Nada dela restara, nada.

Draco deslizou como Dementador, até a cama. Sentou-se, apoiando a cabeça nas mãos, que insistiam em tremer...

“Gina, o que foi que você fez?” – deitou-se, inconformado... Não podia acreditar que sua mulher o tinha abandonado.

Passou a mão por toda a extensão da cama, até sentir um papel tocar suas mãos. Era uma carta.

Ele abriu o envelope de forma desesperada, querendo poder fazer alguma coisa para reverter àquela situação... Sabia que sem ela ele não poderia sobreviver. Gina o tornara um homem melhor e era pra ela e seu filho que ele vivia. Não poderia suportar a dor da separação.

Se ao menos pudessem o considerar humano, era por causa de Gina. Ela o ensinou a amar e a viver. Sem ela, Draco Malfoy não mais existia.

“Querido Draco,

Nem sei se posso mais te chamar assim... Nem sei se um dia você vai me perdoar. Espero que não pense que você foi usado ontem à noite. Eu queria ao menos poder lembrar que com você eu vivi, me senti amada, fui amada.

Espero que compreenda minha partida, foi para não te ver sofrer... Eu saí de casa com o Tom, que é claro, não sabe de tudo que está acontecendo. Nosso filho está bem, perguntou por você antes de sairmos, ele te ama tanto que nem quero imaginar quando contar o que tenho pra contar a ele.

Está sendo difícil pra eu segurar essa barra, mas decidi viajar. Espero que continue sua vida, leve-a como puder. Acho que não tenho o direito de dizer eu te amo... Essas palavras são pra ser ditas por pessoas nobres àqueles que amam. Eu não fui nobre, nem leal com você, mas do mesmo jeito, te amo tanto quanto em nosso primeiro beijo, nossa primeira vez. Não posso dizer que isso aconteceu por mero acidente, jamais denominaria um filho como um acidente, mas com certeza nada disso foi por querer... Se eu pudesse voltar no tempo e apagar todas as nossas brigas, e pudesse voltar a fazê-lo feliz...

Agora o que eu quero, é que Tom cresça longe de brigas, longe de tudo de podre que eu cavei, eu sei, eu o trouxe comigo porque acho que não ia conseguir sobreviver sem meu filho, sem nosso filho. Ele é parte de você e é ele quem me traz vida, quem me trás força.

Não peço pra você me perdoar, seria ridículo de minha parte fazer algo assim. Você tem todo direito de me punir, eu fui tola e agora carrego o peso da cruz de não poder viver mais com você. Isso não seria certo com nenhum de nós dois, nem com nosso filho, nem com essa criança que vai nascer.

Não vou dizer por enquanto onde estou, mesmo sabendo que você tem direitos sobre o Tom. Por favor, me entenda. Eu só quero dar um tempo pra você e pra mim. Precisamos colocar a cabeça no lugar.

Sendo assim, não tenho mais o que dizer, ao não ser...

Sinto muito.

Desculpe, mas ainda te amo e te amarei pra sempre.

Gina”.

Ao olhar pro lado, dentro do envelope havia duas pombinhas que brilhavam tristes, soando melancolias.

Draco pela primeira vez, há muito tempo, chorou. Um choro seco, afinal um Malfoy nunca chorava...Não sabia realmente o que fazer de sua vida. Agora estava sem rumo e sem esperança. Agarrou-se a uma almofada, esperando que ela também o abraçasse, o acolhesse. Queria ficar ali, pra sempre, pelo menos, enquanto durasse.

Eram sete horas. Harry estava no banheiro, tomando banho. Estava cansado... Lembrava do rosto de Hermione quando encontrara o seu, surpresa. Ao inspirar podia sentir o cheiro doce de sua pele, suas mãos tocando as dela. Sentiu que ela temia, ela o temia... Isso ele não conseguia entender.

Sorriu ao lembrar da suposta filha. Não cansava de imaginar-se brincando com ela no parque em que via nos sonhos. A ruivinha sempre estava no balanço.

Seus pensamentos foram bruscamente interrompidos pela campainha da porta.

“Droga”.– enrolou-se rapidamente em uma toalha e saiu com outra pendurada no pescoço, tentando secar o cabelo. Somente o tórax nu, estava molhado. Pisara descalço no carpete, esperando que fosse o serviço de quarto, que havia pedido há meia hora, mas com certeza estava atrasado.

Abriu a porta rapidamente, logo, tentando fazer força pra fechar...

“Uau garanhão, já me esperando do jeito que eu gosto”.– Lindsay mordeu o lábio inferior.

“Será que eu vou ter que reclamar novamente lá na recepção! Quantas vezes eu já não pedi pra barrarem a passagem de qualquer um que quisesse entrar”.

Lindsay se jogou na poltrona próxima à porta.

“Hey! Eu não sou qualquer uma”.

“Não? É uma vadia que eu contratei pra descobrir coisas pra mim. Tudo bem”.– Harry voltou à cama... Onde estava sua carteira? – “Droga!”

“Que foi?” – ela observava o tórax de Harry por cima dos óculos escuro, que insistia em usar a noite.

“Minha carteira. Sumiu”.

“Hummm”.– Lindsay deu pouca importância, levantando-se e seguindo em direção a Harry, que estava de costas, pegando-o de surpresa, ao cravar as unhas em suas costas.

Harry respirou fundo, tentando se controlar.

“Eu não me importo com dinheiro...” – mordeu a orelha de Harry, murmurando em seu ouvido. – “Você pode me pagar com outras coisas”.

Harry resolveu entrar no jogo.

“Como...?”

“Deixa que eu te ensino o caminho.” – Lindsay pousou os lábios, logo enfiando a língua na boca de Harry, que a empurrou com nojo, fazendo-a cair no chão. – “MAS O QUE DEU EM VOCÊ?”

“Nada”.– enxugou os lábios, respondendo como se nada tivesse acontecido.

Lindsay levantou, se recompondo.

Estava com uma saia de couro, preta, curtíssima, de bota de cano alto, uma blusa vermelha de manga, mas do mesmo jeito, decotada, segurando uma bolsa pequena, de usar de lado no corpo.

Os cabelos não tão mais lisos quanto costumavam ser, presos em um rabo de cavalo. Uma perfeita piranha, usando os termos populares.

“Você não me deseja?” – se espreguiçou, deixando a saia subir um pouco mais.

Harry fingiu pensar.

“Não”.– deu de costas e voltou ao banheiro; Lindsay o seguiu.

“Você não era assim antes. Ficou desse jeito depois que começou a namorar a vaca da Hermione”.

Harry respirou fundo.

“Que foi? Vai dizer que ela não é uma cachorra, piranha que te botou chifre?”

Harry virou-se de súbito, marcando o rosto seco de Lindsay, fazendo-a bater a cabeça na parede.

“Fora daqui. Some”.– Harry puxou-a pelo braço, pegou a bolsa dela, caída no chão, abriu a porta e a jogou no corredor. – “Pode deixar que o dinheiro eu te mando depois. Eu cumpro com meu trato. Agora some daqui e nunca mais apareça na minha frente.” – Bateu com a porta na cara da biscate.

Lindsay levantou do chão pegando a bolsa. Não chorava, apenas xingava dúzias de palavrões.

Esbarrou na porta do elevador com uma moça, quase a derrubando.

“Sai da frente trouxa”.

Harry voltou-se ao banheiro, tentando se controlar. Ele não conseguia imaginar o que tinha feito. Jamais batera numa mulher, sim, mas Lindsay não era uma mulher.

Respirou fundo novamente, tentando manter a calma, ao escutar o barulho da campainha outra vez. Abriu a porta, já pronto pra botar cachorro pra correr, quando se surpreendeu com quem estava lá...

“Sua va... Luna? O que faz aqui?” – a loura olhava ainda a porta do elevador.

“O que aconteceu aqui? Aquela não é Lindsay Kirke? Ou Lindsay Black... sei lá”.

“Essa mesmo. Entre...” – deixou Luna intimidada, pois ele ainda estava de toalha. – “Eu vou trocar de roupa... Já volto”.– fechou a porta, falando pra loura sentar.

Luna observou tudo, do chão ao teto. Nunca vira um homem ao vivo, daquele jeito...

Respirou fundo, estava nervosa, até mesmo se esqueceu do assunto que a levara até o hotel.

Harry saiu logo do banheiro, usando uma jeans surrada e camiseta preta, vestes de trouxa. Ainda enxugava o cabelo.

“Desculpe vir sem avisar, é que você esqueceu sua carteira na mesa”.– sorriu, sem nem ao menos olhar pra ele. Ela achava que se o encarasse desmaiaria... Como ele conseguia mexer tanto com ela? Mudara muito, desde que “terminara” com Rony. Nunca mais saíra com ninguém, nem ao menos beijado alguém.

“Tudo bem, obrigado. Eu estava procurando isso mesmo”.– jogou a carteira na cama desarrumada, não dando muita importância.

Luna ficou calada, até se levantar e falar que ia embora.

“Já? Fica mais...”

“Não, eu tenho que trabalhar”.

“Depois você trabalha. Quer sair?” – Luna quase teve um colapso nervoso.

“Sair? Quando?”

“Agora.” – disse Harry, arrepiando o cabelo ainda mais. – “Vou me encontrar com Sirius, mas você pode vir junto. Não tem problema”.

Por um momento pareceu pensar.

“Não, obrigada. É sério, eu preciso descansar... Amanhã acordo cedo.”

“Ok”.– assentiu com a cabeça. – “Então vamos? O Sirius me mata se eu chegar atrasado”.

Harry pegou a carteira, abriu a porta, e saiu com Luna.

Victorya dirigia pelas ruas de Londres. Não sabia por onde estava indo, andava sem rumo. Era a quinta vez que cruzava aquela avenida.

Sua vontade era de bater o carro, de morrer. Era a terceira vez que nada dava certo... O homem que ela realmente amou era um cachorro. Nem sabia o que fazer perante àquela situação.

Quando Thomas contou toda a verdade, ela não disse nada. Apenas pegou a bolsa e saiu andando do restaurante trouxa. Pela primeira vez não sentiu vontade de fazer nada. Antes deixá-lo na mesa, falando sozinho do que continuar a escutar o quanto foi tola e burra durante o tempo todo. Ela estava certa, ele não era perfeito.

Não tinha vontade de falar com ninguém, nem mesmo com Hermione, que àquela hora já devia estar de saco cheio.

Observava através do vidro do carro, as luzes coloridas da cidade que pegava fogo. Conseguiu reconhecer até um grupo de bruxos que andavam disfarçados por ali.

Chorava, chorava. Lágrimas silenciosas. Seu conto de fadas se transformada numa caça às bruxas. Pela primeira vez em sua vida não sabia o que fazer e como agir.

This is the last time

that I´m ever gonna come here tonight

this is the last time - I will fall

into a place that fails us all - inside


I can see the pain in you

I can see the love in you

but fighting all the demons will take time

it will take time

As mãos trêmulas seguravam o volante. De súbito, ela começou a entrar em ruas menos movimentadas e a acelerar o carro. Queria fugir, de tudo, de todos. Começou a ofegar. Sua vontade era de gritar e gritar. De tanto nervoso, tinha quebrado a varinha no meio. Estava a ponto do desespero, não vendo nem o homem que ia atravessando, quando ela, nada lúcida, o atropelou, fazendo-o cair no chão.

Brecou o carro, assustada, tremendo. As mãos suavam frio... Será que ela tinha matado alguém? Como pudera ser tão estúpida?

Saiu rapidamente do carro. As poucas pessoas na rua se aglomeraram. A olhavam com indignação.

Victorya se ajoelhou ao lado do homem, que se mexeu e conseguiu levantar... Era impressionante, porque uma pessoa normal com certeza estaria em coma com a batida, ou melhor, poderia ter morrido. A moça ficou pasma, e levantou-se, sem graça, pedindo desculpas, pois não sabia o que fazer.

O homem, de cabelos compridos e negros, que cobriam os olhos, jogou o cabelo pra trás, ficando levemente surpreso ao ver a motorista.

As pessoas começaram a se dispersar.

“Victorya Hutingdon”.– passou a língua pelo lábio inferior a deixando transtornada, tanto quanto no dia em que o conheceu.

“Sirius Black...” – disse sem graça.

“Pra onde ia com tanta pressa?” – disse calmo, limpando as vestes negras com a mão.

Victorya virou o rosto, tentando enxugar as lágrimas que persistiam em molhar suas bochechas.

“Eu vinha distraída e...”

Sirius notou que a garota chorava. Garota não, ou melhor, mulher. Desde que conhecera Victorya ficara encantado, mesmo ela tendo a idade de sua filha. Era extremamente bela e determinada, coisa que faltava em sua ex-mulher, determinação. Separaram-se por causa da filha, Lindsay. A situação tinha se complicado, na verdade, Sirius não a considerara como filha nunca.

Conhecera seu avô, Robert, na época em que lutavam contra o surgimento de Voldemort, quando seu melhor amigo, Thiago, ainda vivia. Robert fora fundamental para várias batalhas. Era um grande auror. Prendeu o maior número de Comensais e outros capangas de Voldemort, e morreu lutando, quando os comensais invadiram sua casa de forma covarde.

Sentiu um impulso, colocando de leve, a mão no queixo de Victorya, e virou seu rosto, molhada de lágrimas salgadas, para ele.

“Por que está chorando?” – perguntou preocupado, observando cada detalhe do rosto da moça. A boca dela estava marcada, de tanto pressionar os lábios, um contra o outro. Os olhos avermelhados, os cílios molhados; parecia uma criança insegura, assustada. Do cabelo preso escorriam mechas, que grudavam no rosto. Deixou Victorya novamente atormentada. Talvez fosse errado, por ela estar noiva de Thomas Barker, que Sirius certamente não ia com a cara nenhum pouco, tendo o mesmo sido responsável pelo estágio no Departamento de Mistérios, que era diretamente ligado, relacionando informações com o Quartel General dos Aurores.

Thomas tinha raiva de Sirius por achar que Black tinha tentado dificultar sua entrada no Q.G., tendo total autonomia lá dentro.

“Eu... Eu não quero falar disso agora”.– desviou o olhar, logo depois que ficar estática perante a cruza de olhares com Sirius. Era ao mesmo tempo assustador, sublime, excitante. Sentiu-se segura com ele ali, mesmo não o conhecendo muito.

“Venha comigo”.– Sirius tirou a capa, deixando amostra os músculos bem definidos de seus braços, e colocou nas costas de Victorya, que tremia, achou ele, de frio, mas na verdade era apenas a insegurança por tudo que estava acontecendo. – “Quer que eu dirija?”

Se não estivesse tão atormentada ela certamente acharia que Sirius estava lhe passando uma cantada.

“Se não se incomodar... Não estou me sentindo muito bem”.- disse ainda insegura, mas ao mesmo tempo, sentindo que com ele poderia ir até o inferno, que seria, no caso, o lugar ideal. Era a antítese personificada.

Quando entraram no carro, ele tinha cheiro de morango com champagne. No banco traseiro havia de tudo, desde almofadas de pelúcia e brinquedos da afilhada, até garrafas e garrafas de vodca, vazias.

“Pra onde vamos?” – Vicky virou de lado, ainda não acreditando no que estava acontecendo, encostando o corpo, no banco reclinável.

“A chave?” – ela não sabia como ela tinha o dom de fazer aquela mágica. Imaginou se aquele homem não era ser de outro mundo... Como poderia ser pai da imprestável e mau caráter da Lindsay?

Sirius meio que sorriu daquele jeito misterioso e sexy, mas isso só deu pra perceber porque Victorya não desgrudava os olhos de cada parte da anatomia perfeita de Sirius. Os cabelos lisos e negros escorriam pelo rosto de homem bem definido. – “Vou te mostrar um lugar especial... espero que se sinta melhor”.

Victorya não disse nada, apenas o fitando de cima a baixo, confusa com tudo que vinha acontecendo. Rony a beijara, Thomas a traíra e agora Sirius Black aparecendo daquela forma pra ela? Sentiu-se culpada por trair o próprio sentimento, daquele jeito. Por mais que Thomas fosse um cachorro, sabia que seria marcante pro resto de sua vida, afinal ela o amara de verdade, e não conseguia apagar nem as brigas, nem o fim e muito menos o início de toda sua história com ele, na sua memória. Só de pensar que um dia chegou a imaginar que era com ele que passaria o resto de seus dias! Realmente ela mudara muito desde seus dezessete anos, quando queria viver sua vida, sem se prender a ninguém, apenas curtir bons momentos e buscar sua tão sonhada independência. Puft! Doce ilusão...

Ficou calada o caminho todo, apenas continuou olhando pra Sirius tolamente, e ele nem parecendo se importar.

Nem notou quando o moreno parou o carro e abriu a porta pra ela sair. Estavam em uma rua relativamente agitada, onde nunca estivera na vida. Na verdade, não era bem como Sirius disse. Não parecia muito especial de se ir quando estava de cabeça cheia, em todo caso, confiou no que ele dissera e o seguiu, pelo que parecia, pra dentro de um bar.

Na verdade aquilo não era NADA especial. Um monte de homens jogando sinuca, fedendo à fumaça; um bar trouxa; havia meninas que ela podia se dizer com tamanha certeza, de que se tratavam de menores de idade, bebendo vodca, jogando baralho e fumando maconha. Lembravam chaminés alopradas.

Sirius parecia conhecer o balconista do bar muito bem. Passou pelo balcão vermelho, descascado, molhado de álcool, acompanhado de Victorya, acenando ao rapaz loiro que enchia vários copos com uma bebida de coloração esverdeada. Abriu a porta dos fundos, guiando Victorya com a mão nas suas costas.

Victorya estava ocupada demais pensando em tudo o que se passou. E que maldita idéia era aquela de sair com Sirius? Não notou que Sirius estava com a mão apoiada em sua cintura. Começaram a subir uma escada, as paredes com cheiro de mofo, podridão e muita sujeira.

Chegaram ao terraço. Estava mais frio que o normal. Sirius pegou na mão de Victorya. Parecia entender e saber tudo o que se passava.

Levou-a para o outro lado do terraço... Victorya já conseguia entender o que ele queria dizer com um lugar especial.

Com um baque seco de frio, o céu azul turbulento piscava em várias partes. Estrelas pereciam se agregar mais e mais, a medida quem piscavam os olhos. Sirius sentou-se no chão, a chamando para sentar-se ao lado dele.

“Por que me trouxe aqui...?” – mordiscou os lábios.

“Porque sempre quando estou assim, como você, venho pra cá. É incrível... às vezes a natureza nos entende mais que nós mesmos”.– disse, observando o céu absorto.

Victorya levantou os olhos também... Uma das estrelas parecia brilhar pra ela.

the angels they burn inside for us

are we ever

are we ever gonna learn to fly

the devils they burn inside of us

are we ever gonna come back down

come around

I´m always gonna worry about the things that could make us cold


this is the last time

that I´m ever gonna give in tonight

are there angels or devils crawling here?

I just want to know what blurs and what is clear - to see

“Sabe... Hoje eu descobri que nunca minha vida fez sentido. Eu sempre fui fútil e descobri ainda que fui completamente idiota em acreditar que Thomas estava apaixonado por mim... Achei que ele me amava.” – Sirius escutava com toda atenção. – “Eu na verdade não sei o que fazer... Não quero voltar pra casa. Hermione já tem problemas demais pra resolver, ainda mais com Harry aqui...” – não percebeu que poderia estar falando demais, mas mesmo assim, Sirius não fez nenhuma observação, o que foi bem melhor.

“Eu acho que vivi pra nada... Não sei se você consegue me entender, digo, eu achei que pela primeira vez na minha vida eu tinha encontrado alguém que realmente me aceitasse e me quisesse do jeito que eu sou, e no fim... Eu acabei desse jeito”.– sentiu uma lágrima correndo pelo seu rosto.

Sirius não mais olhava pro céu, e sim pra ela.

“Você não acabou”.– se aproximou ainda mais, enxugando a lágrima que corria morna. – “Você está recomeçando sua vida a partir de agora. Olhe”.– apontou para o céu novamente. – “Essas estrelas são mutantes. A cada dia, a cada hora, a cada segundo elas têm um brilho diferente. Pra ser sincero eu nunca gostei do Thomas, um dos motivos de pegar muito no pé dele, enquanto estagiava comigo. Talvez ele me odeie, e com razão. Eu também o odeio a partir do momento que ferrou com você”.

Victorya sorriu entre lágrimas.

“Você nem me conhece direito e já tah tentando me ajudar de um jeito que ninguém nunca fez antes”.

“Não me julgue por Lindsay. Ela é louca como a mãe”.

Levantou, passando a mão pela barba por fazer, deixando Victorya mais uma vez alterada.

Mesmo assim, Vicky conseguiu reparar que o braço dele sangrava. Levantou, andando atrás dele, assustando-o um pouco ao pegar no braço dele. Ela engoliu em seco...

“Seu braço está sangrando. Foi da queda eu acho”.– disse nervosa, desviando o olhar. Queria que alguém lhe dissesse que braços eram aqueles que segurava. Pelo que lembrava, só ele tinha essa poder sobre ela. Esqueceu-se dos problemas ao lembrar novamente de seu primeiro encontro com Sirius. Estava um gato naquela jaqueta de couro preta.

Sirius fixou novamente seu olhar nela, tão frágil e vulnerável ali na sua frente... É claro que não podia ser errado. Estava começando a achar que era coisa do destino ter sido atropelado por ela, mesmo acreditando que era ele quem o fazia.

still I can see the pain in you

and I can see the love in you

and fighting all the demons will take time

it will take time


the angels they burn inside for us

are we ever

are we ever gonna learn to fly

the devils they burn inside of us

are we ever gonna come back down - come around

I´m always gonna worry about the things that could break us

“Não tem problema”.– sua vontade era de pegá-la em seus braços e provar que sua vida mudaria dali em diante.

“Tem sim!” – soou preocupada, tentando se concentrar no corte.

Sirius olhou o relógio rapidamente.

“Eu já volto”.– apertou levemente os lábios, respirando fundo, e desceu novamente pela escadaria mal cheirosa, deixando Victorya sozinha no terraço, olhando as estrelas que pareciam querer dizer alguma coisa boa.

“Ao menos mudarei minha vida daqui por diante”.– chorou – “Sem Thomas e seguindo meu co-coração”.– soluçou. – “Eu prometo”.

Quando Sirius chegou ao andar de baixo, Harry já o esperava lá, sentado, olhando pacato, o movimento.

“Quanto tempo”.– levantou, abraçando o padrinho. Ambos dando tapinhas nas costas um do outro, felizes em se reencontrar. – “Voltou hoje do centro do Departamento de Mistérios?” – perguntou mais baixo, se sentando novamente.

“Sim. Voltei”.– respondeu ainda sorrindo.

“O que fazia lá em cima?” – perguntou curioso.

“Longa história, resumindo: Fui atropelado antes de chegar aqui e tive a impressão de que vou mudar minha vida a partir de hoje”.

Harry levantou as sobrancelhas.

“Esqueça, depois falamos disso. E você, como está?” – continuou ali, nem ligando pro corte.

“Bem... Sirius, você tem notícias da Lindsay?”

O padrinho fechou a cara na hora.

“Não. Por favor, podemos falar de outra coisa?”

“Ok, ok... Mas é importante o que tenho pra te contar”.

“Fala”.

“Hoje eu descobri que a filha de Hermione é minha filha”.

“O quê? Como assim? Você está me dizendo que ela mentiu pra você? É isso?”

“Sim... Eu não sei o porquê. Isso é o que mais me incomoda”.

“Vá atrás dela e procure saber”.

“Ir atrás dela? Mas ela foge de mim... Não sei se quero que ela saiba que eu ainda a amo”.

“Mas ela o ama, disso eu tenho certeza, e olhe, tenho fontes seguras de que ela sofre muito por sua causa”.

“Ah é?” – disse interessado – “Quem?”

“Não interessa. Mas faça o que tiver que fazer pra descobrir por que ela mentiu. Não perca seu tempo. Corra atrás dela antes que seja tarde”.

Harry cruzou os braços e ficou calado. Talvez Sirius tivesse razão, e era isso que ele iria fazer. No dia seguinte iria à casa de Hermione... Era estranho isso, mas ele estava realmente louco para rever a garotinha... Sua filha.

Gina estava no quarto da casa de seu irmão, Carlinhos. Ele e Fleur haviam se casado e moravam na França. Decidiu que viajar seria a melhor opção pra proteger a si, e a seu filho.

A única coisa que queria fazer era ficar ali, chorando, mesmo que não desse em nada. Mesmo que não fizesse o tempo voltar atrás e ela pudesse não ter feito a burrada que fez. Sentia vergonha de si mesma, por nem saber o nome do pai do outro filho que ia ter.

Queria saber como estaria Draco, o verdadeiro amor de sua existência, por quem ela chorava, suspirava e vivia, naquele momento. Conhecer como ela o conhecia, tinha certeza de que estaria arrasado. Tinha completa certeza de que ele a amava mais que tudo nessa vida.

Abriu álbuns de quando namoravam, ainda adolescentes. Lembrou que naquela época ainda brigavam, discutiam e odiavam a barreira entre seus sobrenomes e classes. Lembrou também de seu primeiro beijo, de seu casamento. Sentia-se ligada ainda mais a Draco quando lembrava do amor eterno que juraram pra antes, hoje e sempre, e ela não cumprira o juramento.

Sentia-se uma completa idiota e burra ao jogar fora todo amor que pulsava em seu peito. Sua vontade era de sair correndo e voltar pra Inglaterra, ficar ao lado dele, onde era seu lugar, mas ela não tinha o direito de fazer aquilo. De desgraçar a vida dele. Se fosse preciso, se mataria, mas jamais voltaria sem o perdão dele.

Tom brincava no andar debaixo, com Steffi, filha de Carlinhos e Fleur. Temia a reação do filho ao saber que teria um irmão, ainda mais de outro. Sem os dois homens de sua vida ela não era nada, era vácuo, não existia.

“Ruth, cadê Lindsay?” – Hermione estava deitada no sofá, pensando na vida, grudada com Mya. Ficara o dia inteiro assim. Sentiu novamente a sensação de que o mundo ou iria desabar ou ela ia morrer ali, paralisada, sem forças pra lutar. Ela agora tinha mais certeza que nunca que Harry sabia que Amelia era sua filha. Então o que tinha a temer?

Ela podia muito bem contar a verdade. Contar que sentiu medo, que não queria falar que estava grávida, com medo que ele a deixasse. Que queria que ele vivesse a vida, sem se prender a ela, por mais que isso custasse.

Sempre fizera questão de dizer a filha o quanto o pai dela era um homem maravilhoso, e era. Não era mentira alguma.

“Desde ontem não voltou Hermione.”

“YYYYYYYYYYYYYUUUUUUUUAAAAAAAAAAAAANNNNNNNNNNNN!!!” –Hermione gritou, o mordomo aparecendo rapidamente na sala.

“Madame, Cherrie”.– se curvou a Hermione e Mya. – “O que desejam?”

“Deixa de bobagem Yuan, você sabe que não precisa disso. Eu só queria saber se você não viu Lindsay por ai”.

“Não madame”.– torceu o nariz. Definitivamente não gostava de Lindsay.

“Certo”.– Yuan ia voltando pra copa, quando Mya o chamou.

“Sim, Cherrie”.

“Tem torta de abóbora?” – Mya fazia carinho no gato de Victorya.

“Sim, Cherrie”.

“Trás pra mim, pra Ruth e pra mamãe?”

“Não Mya, não precisa, eu não quero Yuan, obrigada”.– Hermione disse. Estava enjoada. – “Vou pra biblioteca. Se Lindsay chegar falem que eu quero falar com ela”.

Victorya estranhou a demora de Sirius. Será que ele fora embora e a deixara ali, sozinha? Não, ele não faria isso... Resolveu esperar mais um pouco pra descer.

E estava certa, Sirius não tinha a deixado desamparada.

“Desculpe...”

“Não, tudo bem. Foi bom. Eu fiquei tentando repensar minha vida e você tem razão. Vai ser difícil ter que conviver com essa raiva que eu to sentindo agora, mas eu vou superar...”

“É assim que se fala”.– colocou as mãos nos bolsos.

A voz dele soava como música aos seus ouvidos. Era grave, rouca, sexy, a fazia tremer por inteira, mas ao mesmo tempo lhe passava tamanha segurança, como se nunca mais fosse estar desamparada.

if I was to give in - give it up

- and then

take a breath - make it deep

cause it might be the last one you get

be the last one

that could make us cold

you know that they could make us cold

I´m always gonna worry about the things that could make us cold

“Eu não tenho onde ficar essa noite. Não quero voltar pra casa de Hermione tão cedo, sabe... tem outras coisas que eu não contei pra você. Eu não quero esbarrar com o Rony. Ele... bem, eu não sabia até ontem, mas ele é e sempre foi apaixonado por mim... Ele quase matou o Thomas hoje à tarde e sei que não descobriria tão cedo se não fosse por ele. Eu devo muito a ele, mas não quero que ele confunda as coisas...”

Victorya notou uma leve ruga de preocupação ao falar sobre Rony.

“O que houve? Disse algo que não devia falar?” – disse confusa.

“Não, não... Eu estava pensando aqui... Nunca imaginei que Rony gostasse de alguém”.

“Hummm... é”.– disse sem graça.

“Se você quiser, pode ficar no meu apartamento. O tempo que quiser”.– passou as mãos pelo cabelo, o afastando do rosto.

Coisas malucas passavam pela cabeça de Victorya, como: “Que olhos, que boca!”

Os dois desceram em silêncio. Sirius estava pensativo e Victorya ocupada em tentar tirar aqueles pensamentos loucos de sua cabeça.

Talvez fosse até imprudência, mas ela ia aceitar o convite de Sirius. Mesmo correndo o risco de não agüentar a pressão. Ela não entendia o porque dele estar sendo tão legal com ela, mas mesmo assim sabia que podia confiar. Harry, por mais traste que fosse, em sua opinião, era no fundo, BEM NO FUNDO, uma boa pessoa, e sempre falara bem de Sirius.

Ela mesma não conseguia entender tamanha raiva por Harry. Talvez fosse implicância mesmo.

Seus pensamentos foram tomados pela voz de Sirius.

“Você deve estar pensando o porquê de eu estar fazendo isso”.

Victorya arregalou os olhos. Como ele tinha esse dom de prestar tanta atenção em pequenas coisas?

“Pra falar a verdade, sim”.

Sirius pelo incrível que parecesse, apenas sorriu. Sorriu daquela forma em que sorria em qualquer sonho de uma garota completamente sã, que tivesse Sirius Black como homem ideal.

“Vamos, eu dirijo.”

Hermione se trancou na biblioteca. Tentava imaginar como a conversa de Thomas com Victorya havia se saído; entre outras coisas essa era a que mais a preocupava. Pelo que conhecia de Victorya, ela devia ter feito um escândalo, eu ficado extremamente mal, a ponto de se matar...

Sentou à escrivaninha. O jornal de duas semanas atrás estava na mesa.

Lembrou-se do que teria que fazer no dia seguinte. Essa era sua missão: Descobrir quem era Greg Lavigne...

Riu ao tentar imaginar a cara de Rita, quando ela visse a surpresinha que estava preparando.

Abriu a gaveta e pegou um rolo de pergaminhos. Em meio a eles, havia um desenho. Uma deles era ela, Hermione, a outra era a própria Mya e havia um rapaz... na verdade, lembrava muito Harry.

Sentiu um aperto no coração só de lembrar quando tocaram suas mãos no Beco Diagonal. Aquilo poderia parecer idiota pra muitos, mas pra ela era especial.

Lindsay caminhava pelas ruas de Londres. Estava sozinha, chamando atenção dos velhos que se embebedavam nos botecos de esquina. Carregava a varinha na bolsa, para caso de extrema emergência.

“Oi gostosa, encosta do meu que eu entro na tua”.– um rapaz de seus dezessete anos chegou nela. Estava de carro, com uns amigos. Fazia gestos obscenos com as mãos.

“Cala a boca trouxa”.– olhou simplesmente pro lado e disse.

“Do que me chamou?” – o rapaz visivelmente alterado pela bebida.

“Trouxa”.

“Entra no carro que eu te digo quem é trouxa. Tu vai cair de boca sua safada. Entra logo no carro”.– ele fez o cara que estava dirigindo parar a lata que insistia em chamar de carro.

Lindsay sacou a varinha rapidamente.

“Anda, se afasta”.

“Hahahahahahahaha! Ela acha que é bruxa. Andou lendo o que ultimamente?”

Fingiu pensar.

“O ultimo suspiro”.– pregou os olhos nele, sorrindo mortalmente.

A rua estava deserta. O boteco dos velhos já tinha passado. Lindsay teve a impressão de que os garotos a estavam seguindo a noite toda.

“Me diz o que vai fazer com essa hummm, varinha?!” – pareceu estudar o pedaço de madeira, de forma zombeteira.

“Riddiculus!”

“Anh?” - os garotos que ainda estavam dentro do carro, olharam assustados, pro raio que saiu do pedaço de madeira, fazendo seu amigo rodar pelo ar e cair no chão.

“Ah! Que descuido o meu. Isso é só pra bicho-papão”.– disse séria. – “Que seja... crucio!” – gargalhava de tanta felicidade ao ver o garoto se contorcendo de dor no chão.

Os outros garotos do carro arregalaram os olhos, com medo. Saíram correndo com o carro, deixando o amigo deles se contorcendo no asfalto, molhando sua cara com a água da chuva.

“Enfim sós. O que você disse que eu ia fazer?” – se aproximou cada vez mais. O garoto gemia de dor.

“Nada... Pára de fazer isso comigo. Eu só tava zoando”.– chorou.

“Tsk, tsk, tsk. Eu não tava a fim de brincadeira. Agora repete. O que você disse?” – ficou em pé, acima dele, abrindo as pernas fazendo a saia subir ainda mais.

“Não”.– se segurou, quase cedendo a dor.

“Eu posso fazer com que você me fale tudinho, de uma forma, digamos, não muito boa. Repete.” – torturava. Estava achando extremamente divertido.

O garoto, com medo, gaguejou...

“Pra... pra... vo-você...”

“Fala direito, anda”.– sorriu maquiavélica. – “Calma. A tia Lindsay não vai só matar você. Relaxa”.– disse, moralmente desequilibrada.

Luna odiava ter que andar por aqueles becos infelizes de Londres. Não que não gostasse de lá, mas mesmo assim, odiava ter que passar por aqueles bares horrendos, escutar piadinhas de mau gosto de um bando de bêbados encalhados, fedendo à cerveja.

Seu prédio já estava perto. Deu graças a deus por não ter usar a varinha, quando escutou uma barulheira na rua no lado.

Decidiu, por mais que fosse perigoso, ir ver o que era. Pegou a varinha, escondida na bolsa e andou de espreita, até que viu um bruxo, uma bruxa, não sabia dizer muito bem, atacando um rapaz, deitado no chão. Quando se aproximou um pouco mais, esquecera que o sapato era muito barulhento, e chamou a atenção do atacante.

O garoto, que estava deitado antes no chão, tentou correr e correr, mesmo com seu corpo todo dolorido.

“Quem é você? Saia das sombras”.– disse Lindsay, ainda sacando a varinha.

Luna apareceu, deixando Lindsay surpresa. Agora ela estava lembrando. Era Luna que esbarrara com ela no elevador do hotel de Harry.

“Foi o Harry quem mandou você vir atrás de mim?”

Luna demorou um pouco pra pensar. O que faria ali, com Lindsay Kirke ao seu encalço?

“Não”.– disse, sem nem mesmo comandar a própria boca.

“Não minta. Eu sei que vocês combinaram alguma coisa”.– seu rosto ficara visível à luz dos postes.

“Se sabe então por que pergunta?” – tentou ganhar tempo.

“Humpf! Di-lua. Não tente medir força comigo”.

“Vai embora daqui Lindsay”.

“Não sem antes fazer uma coisa”.– virou-se pra trás. O garoto não estava longe, e não era por menos. Estava morrendo de dor.

“Avada Ke”

“AVADA KEDAVRA!” – gritou Luna, deixando a varinha cair no chão, pegando a bolsa e saindo correndo. A varinha caiu, rolou e rolou até descer pelo esgoto.

Ficara com medo de si mesma, mas não podia deixar o garoto morrer. Tudo ficara branco em sua mente, ela não lembrava feitiço nenhum a não ser a pior das maldições imperdoáveis.

Não ficou pra ver se Lindsay tinha morrido ou não, apenas saiu correndo, não sabia pra onde, mas pra casa não voltaria tão cedo. O Ministério logo saberia que ocorrera um assassinato naquela rua. Ela teria que correr pra não ser pega... Mas por que estava temendo? Não tinha o que temer.

Estava insegura, ansiosa, não sabia o que fazer.

Foi ai que caiu dura no chão. Um forte clarão enchendo seus olhos...

N/A: AHAAAAAAA!!! TERMINEI.

ISSO MSM...

UFA! TO CANSADA GENTE

CORRI PRA DEIXAR ESSE CAPÍTULO BOM¬¬’’’

PRA MIM NAUM FIKOU, MAS TD BEM.

WELL, TENHO Q DEDICAR ESSA CAPÍTULO A MTAS PESSOAS. PRIMEIRAMENTE A MIM O

HAUAHAUAAHAUAHAU, WELL, AGORA É SÉRIO. ESSA CAPÍTULO É ESPECIALMENTE PRA CÁ MINHA BETA MAIS Q FODA, À JU A LOKA, À GIULIEEEE XD MINHA FUTURA S"CIA.

ESSAS MENINAS SAUM TD.

LOGO DEPOIS PRA TODO MUNDO QUE TAH GOSTANDO DA FIC. NAUM VOU COLOCAR O NOME DE TODAS AS REWIEWS Q RECEBI PQ VCS SABEM SE EU ESKECER ALGUÉM O POVO ME MATA.

DEMOROU PRA ESCREVER MAS TAH AKI.

ESPERO Q ESTEJAM GOSTANDO DA FIC, PQ ELA TAH DANDO MTO TRABALHO DE ESCREVER... SIM, A MADDIE TAH ENROLANDO, ENROLANDO PRA DAR LOGO 56 PÁGS HAUAHAUAAHAUAHAUAHAUAHAA, MAS NAUM É NADA DISSO NAUM GENTE, É Q EU PRECISAVA DIZER ISSO: MTO OBRIGADA MSM.

N/A2: JUUUUUUUUUUUUUUUUUUU, NO COMENTS’’’

HAUAHAUAHAAUAHAU

N/A3: COLOKEI TRÊS MUSIKAS NESSE CAPÍTULO AMO ESCREVER ESCUTANDO MÚSIK E ACHEI Q COMBINAVA AI COLOKEI XD

AS DUAS PRIMEIRAS SAUM DO BLINK 182 - SAUM S" TRECHOS, BUTZ OK LOVI TRAVIS E A ÚLTIMA EU ESKECI DE QUEM É... ACHO Q É TONY ALGUMA COISA SEI S" Q É LINDA XDDDDDDDDDDDDDDDDDDD

BJUNDAS, MORDIDAS E LAMBIDAS

REWIEWS JÁAAAAAAAAAAAAAAAAAAA

N/A da Beta: D... oi gente...

Meu deus Maddie... precisava se empolga tanto com o cap? Demora pra beta 56 paginas sabia... /

Aehauihe... mas tah...

Desculpa a demora viu gente... eh q eu to tendo q estuda... o cap jah tava pronto a um tempo... mas num deu pra beta antes...

Nhai.... isso ae... to indo... ateh o próximo... e HAHAHA... mtas surpresas nos próximos cap... iheiuaheauieha

Bjos especiais pra Maddie... e bjinhos pra td mundo q lê... D

Ahhh.... dexa eu faze uma propaganda básica aki... LEIAM A MINHA FIC.... “YOU MAKE ME FEEL”... E COMENTEM POR FAVOR, TAH...

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