Obvious



Capítulo V



Acordou exausta, a cabeça ainda doendo, cansada. Decidiu que não iria trabalhar... Queria fugir; também, não estava com cabeça mesmo para isso... Hermione entenderia.

Logo que abriu os olhos, sorriu. Sirius estava sentado no sofá de couro preto, à sua frente. Ele a observava, parecia zelá-la enquanto dormia.

“Sirius”.– sentou-se. Sirius insistira pra ela dormir em sua cama, pois o quarto de hóspedes estava em reforma; ele dormiria no sofá; porém, ela não aceitou, não queria dar trabalho. – “Está aqui me olhando há quanto tempo?”.

“Eu praticamente acabei de acordar”.– Victorya arregalou os olhos discretamente, tentando desviar o olhar. Sirius estava sem camisa, apenas com um lençol cobrindo a parte de baixo. Mais uma vez o cabelo lhe cobria os olhos, ele alisava a barba rala, por fazer... Era impossível resistir. – “Fiz um café pra você. Não é nada magnífico, mas dá pra engolir”.

Victorya ficou com vergonha de levantar; Sirius emprestara uma blusa dele para ela dormir; estava com as coxas descobertas, o cabelo arrepiado.

Sirius notou que havia algo errado.

“Certo. Pode se trocar no banheiro, no quarto, onde quiser. Eu vou pra cozinha... Só não demore porque o café pode esfriar”.

Victorya fez que sim com a cabeça, levantou apressada e correu para o banheiro. Estava acabada. Os olhos com olheiras, nada que uma boa noite de sono, sem Thomas Barker na cabeça não resolvesse. Não agüentava mais chorar, na verdade não sentia mais vontade de chorar, e pelo incrível que parecesse nem de matar Thomas... Na verdade ele fazia falta, mas ao mesmo tempo ela se sentia extremamente segura sozinha. Não sabia se ia suportar ficar muito tempo sozinha com Sirius. Na verdade ele era bem quieto, na dele, calado, mas isso a excitava, instigava. A partir dali, daquele dia, daquela hora, não sabia se ia agüentar muito tempo sem entregar-se a ele. Isso talvez soasse vulgar aos ouvidos de estranhos, mas não, não era, pois era realmente impossível não pensar em fazer loucuras com Sirius Black, mesmo tendo terminado com o noivo no dia anterior, de forma tão brusca... Ta certo que também podia estar confundindo as coisas, talvez ele, Sirius Black, nunca se interessaria por ela, Victorya Hutingdon, uma reles mortal.

Olhou-se no espelho, batendo na própria cara. Como poderia estar pensando naquilo? Talvez ela fosse mais imoral do que imaginava, mas ao mesmo tempo, só uma loucura poderia apagar sua mágoa. Há tempos não agia por impulso... Mas não. Ela, quando saíra do restaurante, prometera a si mesma que nunca mais ia confiar em homem algum.

Até então não tinha reparado que era o banheiro mais bem arrumado que vira na vida. Para um homem sozinho até que ele tinha potencial, em todos os sentidos? – se perguntara, revirando os olhos.

Thomas, ao contrário de Sirius era completamente bagunceiro. Na verdade esse era um dos pontos que Victorya mais implicava com ele, disse bem, implicava. Chegara a brigar uma vez por encontrar meia em cima da mesa, e quando encontrara o quarto dele todo revirado. Roupas sujas no chão, sapato na gaveta de cuecas e calças jogadas de qualquer jeito no guarda-roupa. De bagunceira, já bastava ela, e olhe lá.

Deve ter ficado ali por um bom tempo, pois escutara uma batida na porta. A voz de Sirius parecia preocupada.

“Victorya, você está bem?”

“Ahan. Não se preocupe”.– se ouviu dizendo, quando na verdade queria dizer “Entra logo e me toma.”

Realmente, estava ficando louca.

Decidiu tomar banho logo, vestir a roupa e sair.

Quando chegou na cozinha, tivera uma surpresa maior. Na verdade o apartamento era bem aconchegante. Tudo tinha a cara de Sirius.

“Esse apartamento você montou depois de se separar?”

Sirius ergueu levemente as sobrancelhas, um pouco surpreso com a pergunta.

“Sim, sim... Pra fugir um pouco. Na verdade esse é o que eu mais gosto. Tenho mais três casas... Uma que nunca apareço, que era a casa dos meus pais, e dois apartamentos, um deles da época dos meus dezoito anos e o outro de depois de casado. Mas esse aqui é o melhor, me sinto mais à vontade e só trago pessoas de quem gosto muito pra cá”.– sorriu pelo canto da boca.

O que ele queria dizer com pessoas de quem ele gostava muito? – ela tentou imaginar, também sorrindo, mas internamente.

Era a primeira vez que ele prendia o cabelo, pelo menos na sua frente. Ai, ai... Como ficara lindo daquele jeito...

“Sente-se”.- sentou na cabeceira da mesa, tomando um gole de algo que fumegava na caneca.

Victorya ficou sem graça, afinal nem conhecia o cara, já estava louca de vontade de transar com ele, e além de tudo: mesmo não tendo nada a ver, era pai de Lindsay.

“Sente-se, fique a vontade!” – tornou a falar, notando Victorya ficar sem graça. – “Não sabia que você era tímida”.

“Obrigada” – ela tomou uma cadeira, sorrindo. – “E não sou tímida. Não mesmo”.– observava seus ombros largos, os braços fortes que ele insistia em prensar sobre a mesa.

Talvez Sirius tenha notado, pois sorriu ainda mais, mas não falando nada.

“Você está melhor? Sua dor de cabeça passou?”

“Sim, passou.” – deu um gole no café também. Estava forte, mas estava bom daquele jeito, pelo menos a manteria acordada por um bom tempo.

“Ótimo”.

Victorya fazia de tudo para se concentrar no café. Só Merlin sabia o quanto àquela tarefa era difícil.

“Você pode ficar aqui por quanto tempo quiser, ouviu?”

“Você não trás ninguém pra cá, digo, não haverá problema de ficar aqui por um tempo?”

“Não, claro que não”.– ele não pareceu triste, pelo contrário, até bem animado.

“Desculpe se fui indiscreta, mas é que não iria ficar aqui se fosse atrapalhar. Eu só preciso de uns dias, menos de uma semana para arranjar um lugar legal, um flat, sabe-se lá o que. Sabe, não queria mais encher o saco de Hermione. Eu sei que a casa também é minha, mas faço questão de passar minha parte pra Mya, quando ela ficar de maior. Por enquanto a Mione fica com a casa... Sabe, ela está passando por problemas também. É uma grande amiga, mas às vezes eu acho que vai ser melhor eu mudar de lá. Acho que prefiro algo menor, não sei... Às vezes acho que me perdi e mudei tanto que deixei de viver meus impulsos...”

“Eu entendo, mas jamais você vai sair daqui pra ir pra um flat, não vou deixá-la sozinha”.– Sirius a pegou de surpresa, ao colocar suas mãos macias, grandes e quentes sobre as dela. – “Você vai ficar aqui até que fique melhor”.

“Obrigada, mas...” – sorriu pelo canto da boca. – “Mas não sei o que posso fazer para te compensar por tudo que está fazendo por mim... – sentiu o calor da mão dele se aprofundar por todo seu corpo. - Tenho que voltar pra casa... Pensando bem, acho que Hermione está precisando de mim... Vou tentar ser forte o bastante e ajudá-la, afinal os problemas dela não se resumem a grandes traições”.– pensou melhor, pois se ficasse com certeza acabaria fazendo uma besteira, tirando a mão dela rapidamente debaixo da de Sirius.

“Não precisa agradecer. Você pode ficar aqui por quanto tempo quiser, e esqueça que sou pai de Lindsay. Na verdade eu estou...” – fora interrompido pela campainha. – “Espere um segundo”.– levantou de cara amarrada, deixando Victorya sozinha na cozinha.

Sirius voltou logo, mas agora, acompanhado por um outro rapaz. Era louro, os cabelos cacheados lembrando um anjinho. Os olhos, verdes chegavam a reluzir, de tão claros, aparentava ter uns dezessete, dezoito anos.

Pareceu envergonhado ao ver a moça sentada à mesa, que estava absorta, mexendo nos cabelos...

“Vicky, este é Ryan Landon, meu assistente. E é também como se fosse um filho. Ryan, você já deve conhecê-la de nome e fotos... Esta é Victorya Hutingdon”.– o garoto deixou as pastas caírem, distraidamente, no chão. Sirius riu.

“Desculpe”.– o garoto pegou as pastas, tentando se concentrar em não olhar pra Victorya.

“Olá”.– Victorya respondeu, sorrindo a Sirius, encontrando novamente seus olhos. Ele não estava mais com o tal lençol enrolado, pelo contrário. Estava com a mesma camiseta do dia anterior e de calça, que não chegava a ser colada, mas marcava as coxas bem definidas e fortes dele... Victorya estava quase desmaiando.

“Vicky, gostaria que viesse com a gente”.

Victorya achou estranho. Na verdade seus planos mudaram completamente, ainda mais depois do gesto de carinho de Sirius que ela com certeza estava confundindo com outra coisa... Como podia ser tão depravada e idiota? – pensava.

“Acho que você vai gostar... Tenho uma surpresa pra você”.– olhou de Ryan a Victorya. Na verdade, Ryan não sabia onde colocar a cara. – “Ela não morde Ryan”.– Sirius sorriu maroto.

Ryan ruborizou.

Victorya levantou da cadeira e seguiu até a porta, estendendo a mão para cumprimentar Ryan.

“Exato. Eu só arranco pedaço”.– sorriu, deixando Sirius incomodado. Pelo menos sua feição mudara de um segundo para outro. Reparou que ele coçou a cabeça rapidamente. – “Pra onde vai me seqüestrar Sirius?” – perguntou curiosa.

“Você vai ver”.– disse em tom misterioso e conclusivo.

Victorya tomou o resto do café, não comendo nada.

Voltou à sala, onde dormira, pra pegar a bolsa e a varinha.

Logo, Sirius estava na porta, já a esperando.

“Vamos?”.

Ela assentiu, passando por Ryan, e saiu pela porta, deixando um Sirius louco de vontade de dizer e fazer algo que já devia ter feito na noite anterior.

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“Yuan”.- Hermione descia as escadas correndo e olhando no relógio de pulso. Estava atrasada. – “Ajude Ruth a dar café pra Mya, não quero que ela saia sem comer. Não esqueça de chamar o motorista para levá-la à escola, mande o jardineiro cuidar da grama; eu deixei a lista de compras com Mary, se precisar de mais alguma coisa peça pra ela comprar; Lindsay chegou?” – disse apressada, correndo de um lado pro outro.

“Não madame”.– Yuan anotava tudo o que tinha que fazer.

“Não???” – disse, parando de correr, e quase derrubando as pastas que estava em suas mãos.

“Não madame. Sabe madame, eu acho que...”

“Por favor Yuan, agora você não acha nada, ok? Sei muito bem o que vai falar de Lindsay. Eu sei onde estou pisando. Cadê Victorya? Estamos atrasadas. Quando ela descer, diga que vou demorar um pouco pra chegar no escritório.”

“Madame Vicky também não está em casa. Não vem aqui desde que saiu com o Sr. Thomas”.

Hermione parou novamente. Que tipo de amiga era ela para não notar que Vicky não estava em casa? Será que acontecera alguma coisa? Onde será que tinha se metido?

“Por favor, Yuan, peço para quando Lindsay chegar, mande-a imediatamente para o meu escritório. Ela sabe perfeitamente o caminho”.

“Sim madame”.

“Não esqueça de nada Yuan!”.

“Sim madame”.

“E tem mais uma coisinha Yuan”.– parou pela terceira vez, quase derrubando Yuan, que a seguia pra todos os lados.

“O que madame?”

“Pare de me chamar de madame!” – disse irritada, forçando um sorriso.

“Sim mad...”

Hermione lhe lançou um olhar mortal, e saiu batendo a porta, de tão excitada. Ela não poderia falhar, de jeito nenhum. Teria que deixar a tristeza de lado e enfrentar seu próximo desafio: Acabar com Rita Skeeter.

A manhã não estava tão fria. Apenas um vento seco batia de leve.

Ela chegou ao carro, colocando as pastas, a bolsa e a maleta no banco traseiro.

“Droga!” – esqueceu-se da varinha no quarto. Fechando rapidamente a porta, voltou correndo a casa, quase tropeçando na grama no jardim.

Subiu as escadas, e ao chegar no corredor de onde ficavam os quartos, viu a porta do quarto da filha aberta. Espiou, e Mya não estava lá. Ao chegar em seu quarto, vira que a menina estava sentada no chão, em frente a uma gaveta, onde costumava guardar fotos antigas.

A garota olhava absorta para um álbum de couro, que tinha fotos da época de Hogwarts. Em uma das mãos, o pingente que usara no dia anterior estava preso, apertado por entre os dedos.

“Amelia?” – estranhou, assustando a menina.

“Mãe!” – arregalou os olhos, com medo de que a mãe brigasse por mexer em suas coisas.

“O que faz mexendo na minha gaveta a essa hora da manhã Mya?” – eram sete e meia da manhã.

Vendo que a menina estava assustada, foi até ela e deu-lhe um beijo na testa.

“Diga, o que está fazendo mexe...” – parou, ao ver uma foto em que beijava Harry. Olhando do álbum à filha.

A menina voltou a arregalar os olhos verdes.

“Desculpe mãe... Eu só queria...”.

“Shh... Tudo bem. Não tem problema”.– engoliu em seco.

“Eu estava pensando”.

“Pensado em quê?” – perguntou preocupada. Nunca vira a filha daquele jeito.

“Nele”.– apontou para a foto de Harry com sua mãe.

Hermione ficou em silencio. Harry...

“Vocês eram namorados né mãe?”.

“Sim...”.

“Ele é o Harry Potter né?” – disse, virando para a próxima página do álbum. Harry e Hermione acenavam sorridentes para a menina. Estavam sentados, no que parecia ser um balanço. Rony estava logo atrás, pendurado no pescoço dos dois.

“Ahn?” – Hermione não lembrava de ter dito o sobrenome dele nunca na vida, pelo menos não na frente de Mya.

“Eu já escutei você e a madrinha falarem dele”.– revirou os olhos, fazendo Hermione pigarrear nervosa.

“Como?”.

“Mãe, posso fazer uma pergunta?”.

“Pode Mya”.– sentou-se ao lado da filha, ali, no chão, segurando a cabeça com a mão esquerda e passando levemente a outra no cabelo preso.

“Eu sei que você não gosta de falar, mas quem é meu pai? Eu sempre sonhei que meu pai fosse igual a ele, olha!” – apontou para Harry novamente. – “Eu queria conhecer meu pai mãe. Todas as minhas amigas têm pai”.

“Você também tem pai Mya”.

Hermione a observava com pena. Estava chegando a hora de todos saberem que Harry era pai de sua filha, mas... Ela se sentia insegura. Se contasse, tinha medo de que Harry reagisse pior do que fora, mas não podia privar a filha de conhecer o próprio pai.

“Enh mãe? Quem é meu pai?”.

Hermione olhou nos olhos tristes da filha. Estava quase chorando.

“Mya...” – segurou as mãos da menina, olhando no relógio.

“Não fuja mãe, por favor!” – suplicou.

“Se eu te dissesse quem era seu pai, você não ia insistir em vê-lo? Digo, é claro que você vai ver o seu pai, mas por enquanto ele não pode saber que você é filha dele, entende? A mamãe sabe que é egoísmo da parte dela, mas a mãe não quer nem machucar ao papai e nem a você. Ele logo vai saber que você é filha dele, mas não dá pra contar justamente agora”.– seus olhos lacrimejavam.

“Mãe, não chora”.– a menina largou o álbum e a abraçou. - “Sempre vou estar com você... Eu prometo mamãe.” – Hermione retribuiu o abraço. Por um momento as lágrimas correram incessantes e dolorosas.

“Mya, o Harry é seu pai”.

Amelia se separou da mãe. Os olhos verdes também se encheram; o pingente, ainda preso em sua mão, ela apertou ainda com mais força, se era possível. Mas seu choro era de felicidade.

“É verdade?” – tentou sorrir, ainda chorando, olhando de súbito as fotos.

“É, é sim”.– Hermione levantou-se do chão, e sentou na cama.

Não gostaria que Mya a visse chorando. Tentou limpar as lágrimas nos próprios punhos, mas não conseguia parar de chorar, se sentindo culpada, mas ao mesmo tempo aliviada por tirar pelo menos parte do peso de suas costas. Se Mya contasse, ela não poderia culpá-la. Era uma criança ainda, e não podia pagar pelos erros da própria mãe, que por orgulho, infantilidade, e idiotice, fizera questão de criá-la sozinha.

Teve medo de assumir que errou...

“Mãe!” – Mya levantou sorrindo. Os olhos verdes, vermelhos de tanto chorar também. Mas deu um sorriso enorme, de extrema felicidade. – “Não chora, eu prometo pra você. Eu não vou contar ao papai nem a ninguém”.– era tão estranho escutar a filha chamando alguém de pai.

Hermione a agarrou. A coisa que mais lhe importava na vida... Nem parecia que ainda ia fazer cinco anos... Talvez fosse superdotada ou apenas filha de Harry Potter e Hermione Granger... Isso não era pouca coisa.

“Mya, olha, mamãe tem que trabalhar agora... Se eu pudesse, eu ficava aqui com você, mas não dá. Tenho um assunto muito importante para resolver”.

“Ta momy”.– continuou sorrindo. – “Sinto falta de você em casa”.

“Infelizmente não posso ficar em casa, sua madrinha me proibiu”.– sorriu, conseguindo secar a última lágrima. – “Eu te amo viu? Nunca se esqueça”.

“Eu também”.

Hermione deu um beijo na filha, pegou a varinha e quando ia saindo do quarto...

“Mãe, posso ficar em casa hoje?” – olhava os álbuns.

“Pode Mya”.

“E posso ficar aqui no seu quarto? Prometo não fazer bagunça. Saio quando as empregadas vierem arrumar... Eu só queria ficar vendo esses álbuns... Ver você, meu pai, tio Ron, a Tia Vicky...”.

“Tudo bem anjinho”.– jogou um beijo no ar e saiu de casa novamente.

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Gina acordou. Os olhos inchados, o corpo pesado. Tinha feito tudo para destruir sua própria felicidade...

I'm not a perfect person

There’s many things I wish I didn't do

But I continue learning

I never meant to do those things to you

And so I have to say before I go

That I just want you to know

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Draco nem conseguira dormir. Não sabia mais por onde procurar Gina e seu filho. Ele a queria de volta, sentia sua falta, dos fios rubros e sedosos de seu cabelo roçando em seu peito; das noites que passavam juntos, da vida que ela proporcionava àquela casa. Perdera totalmente a razão.

I've found a reason for me

To change who I used to be

A reason to start over new

And the reason is you

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A ruiva levantou da cama. Havia uma coruja parda à sua espera na janela. Na verdade pegara no sono fácil, de tanto chorar.

Não se espantou ao ver o remetente da carta, estampado com letras negras no envelope levemente amarelado.

“Oi Gina... Espero que estejam bem, onde estiverem. Você não sabe como eu estou me sentindo vazio sem você, mas você sabe que eu jamais diria isso a outro alguém, ou se não fosse verdade. Você fez mágica comigo, e foi por você que me tornei um homem mais digno, melhor... Em você conheci a razão de viver e aprendi a conviver com meus erros, que são inúmeros, mas quem não erra, não é mesmo?”.

Estou magoado, triste, sozinho. Como você disse, não sei se poderei suportar essa traição, mas o que você fez foi demais pra mim... Eu disse que queria um tempo pra pensar, não queria que você fosse embora, levando nosso filho, se afastando de mim. Eu não quero me separar de você. É difícil escrever esse tipo de coisa, assim, numa carta, mas eu a amo incondicionalmente, mesmo com você tendo cometido esse erro, mesmo estando grávida de outro cara... Sem você eu não vou conseguir sobreviver...

O que me fez ter mais certeza do que estou dizendo é que você não voltou... Foi digna, e eu acredito sim que você me ama, e tenho muitas razões para isso.

A única coisa que peço, é que volte para casa, eu não sei viver sem te ter, sem tocar sua pele, você já faz parte de mim... É a mulher que eu amo, é a mãe do meu filho. Veremos depois o que acontecerá.

Ache que isso é bobagem, que eu digo isto num ato desesperado, no fundo é mesmo, mas não vou sossegar enquanto não tiver você e Tom ao meu lado. A única coisa que tenho certeza é de que nada é demais para afastar você de mim. Eu preciso que vocês voltem, eu amo você, e se não fizer o que eu estou suplicando, nem que eu tenha que ir até o inferno se você estiver lá, mas eu vou te encontrar.”


I'm sorry that I hurt you

It's something I must live with everyday

And all the pain I put you through

I wish that I could take it all away

And be the one who catches all your tears

That's why I need you to hear


I've found a reason for me

To change who I used to be

A reason to start over new

And the reason is you


I'm not a perfect person

I never meant to do those things to you

And so I have to say before I go

That I just want you to know


I've found a reason for me

To change who I used to be

A reason to start over new

And the reason is you


I've found a reason to show

A side of me you didn't know

A reason for all that I do

And the reason is you


Gina ficou atônita. Não sabia realmente o que fazer... sentia muita falta dele, de sua vida. As poucas horas que passara ali foram suficientes para descobrir o que realmente queria fazer. Tinha errado, tinha e muito. Draco era e sempre seria o homem dê sua vida.

Fleur entrou no quarto, sorrindo.

“Que bom que acorrdou”.– Sentou-se na cama, ao lado da cunhada. – “Enton... Poderria me contarr o que estã acontecendo? Ficamos prreocupados com você, digo, eu e Gui”.

Gina respirou fundo... Não tinha contado pra Gui nem pra Fleur o verdadeiro motivo de fugir pra casa deles.

“Você e Drraco brrigaram?”.

“Eu estou grávida de outro...” – abaixou os olhos.

Fleur arregalou os olhos.

“Came assim?”.

“Bem... Não é novidade nenhuma que volta e meia eu e ele brigamos, mas desta vez foi diferente. Eu estava bêbada, com raiva... Achava que ele estava realmente me traindo, então... Fiz essa besteira”.– disse, as lágrimas voltando a correr pelo rosto.

“Porr Merrlin!” – Fleur pareceu pensar – “Mas você ten cerrteza disso? Querro dizerr... Você foi ao medico?”.

“Não...”

“E de quantos meses estã?”.

“Três.”

“Gina! Você non ten barriga nenhumã! Cãme pode terr tanta cerrteza que estã grrávida?”.

“A gente sabe, sempre sabe...” – disse desanimada. – “E são três meses, até ai quase não aparece”.

“Non. Eu vou chamarr meu medico aqui”.

“Não Fleur... Não se preocupe comigo”.

“Sim sanhorra! E clarro que vou me prreocuparr. Seja o que forr que tenhã acontecido você non merrece sofrerr desse jeito”.– beijou Gina na testa e saiu apressada do quarto.

Tom entrou logo em seguida.

“Mamãe, você está grávida?”.

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Draco esperava a resposta o quanto antes. Ele não podia saber se era longe ou não, afinal, ela não contara onde estava. Pensara em ir à casa dos pais dela, mas não... Eles não gostavam muito dele, e duvidava um pouco que Gina realmente fora pra casa deles. Desde que se casara escondido com Draco, Gina não era tão mais bem recebida em casa, mesmo o pai tendo perdoado, não demonstrava muito carinho pelo neto, Tom, e afeição nenhuma a Draco.

Draco sabia que Gina tomava suas dores e volta e meia discutia com os pais por sua causa...

Talvez estivesse na casa de Victorya e Hermione, mas disso também duvidava. Seria óbvio demais. Só não fora à casa de Rony porque ele não tinha o que se poderia chamar de casa. Era um apartamento pequeno, que provavelmente uma só pessoa podia entrar por vez.

Gina tinha mais dois irmãos, os quais ele mais simpatizava, que eram Gui e Carlinhos. Gui morava temporariamente na França e era casado com Fleur Delacour; o outro, Carlinhos, morava na Romênia e vivia para estudar dragões. Draco achava pouco provável que ela fosse se esconder em um dos dois paises, ou não?

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Dentro do carro...

“Sirius, não seria mais fácil aparatar? Digo, não seria mais rápido?” – perguntou Victorya entediada dentro do carro.

“Sim, poderíamos se não fossem por dois motivos, número um: Ryan não passou no teste de aparatação e número dois: O lugar aonde vamos está bloqueado por magia, ou seja, lá não poderemos aparatar nunca.”

“Hogwarts?”.

“Não, não Hogwarts”.– assim não disse mais nada.

Ryan volta e meia olhava pra trás, onde Victorya estava sentada cantando alguma coisa que ele tentava entender.

“Sex Pistols? Eu adoro Sex Pistols”.

Victorya virou a cabeça, abismada, pra ele.

“Até que enfim uma pessoa me entende”.– resmungou – “Ainda mais da sua idade”.

O garoto apenas sorriu. Aparentava ser tímido demais para ter dezessete anos.

“Sirius, o que vocês fazem exatamente no Departamento de Mistérios?”

“Isto é um mistério até pra minha própria sombra”.– disse rindo, deixando Victorya intrigada.

“E Ryan também não sabe o que faz?” – dirigiu-se ao garoto.

“Eu faço o que dá pra fazer, o que me pedem pra fazer...”

“Uau! É bom falar com gente tão objetiva assim”.– disse sarcástica.

“Pois é. Digamos que estudamos fenômenos da natureza bruxa e da própria trouxa”.

“Fenômenos sobrenaturais?”

“Digamos que o sobrenatural nos circunda, mas não somos específicos nessa área. Costumamos trabalhar com fatos concretos”.

“Mas o Ryan não é muito novo?”

“Não para certas coisas”.– Sirius respondeu por ele, talvez por receio que dissesse demais.

“Hummm...” – parou, voltando a pensar em Thomas e voltando a se calar.

Após um tempo Sirius estacionou o carro em frente a uma casa enorme. Na verdade lhe era bem familiar. Pra Victorya, não era uma casa qualquer, mas ela não conseguia discernir o que a fazia se sentir tão vulnerável...

Desceu no carro, andando lentamente em direção ao portão de ferro, coberto de ferrugem e gasto com o tempo. A grama não estava aparada, havia um matagal intenso. Era como um terreno abandonado; Havia só o mato e uma grande casa de parede de pedra bruta. A hera da casa estava quase caindo, as janelas fechadas, lembrava exatamente um castelo medieval se não fosse pela falta de torres gigantescas.

Aquilo a estava atormentando. Ela não sabia quando estivera ali, mas sabia que estivera de alguma forma. Aquilo a assustava. Desconhecer o conhecido...

A casa parecia estar sugando suas lembranças, mas não só as boas... Parecia se alimentar de sua alma e sua memória. Ela via sua vida passar como num flashback, só que de trás pra frente, quase como se estivesse em meio a um mar de dementadores.

“Entre”.– Sirius pousou suas mãos nela, a abraçando e guiando-a. Aos poucos parecia que tudo ia voltando ao normal, Sirius era um anjo (e que anjo!) que a protegia. Se não tivesse tão absorta, saberia que Ryan, que abrira o portão com a varinha murmurando centenas de feitiços para a fechadura, estava os observando atento.

Caminhavam os três pelo mato. As pernas de Victorya, mesmo de calça, chegavam a pinicar irritantemente.

Chegaram à porta da casa, que era de mogno, acabada e arrasada pelos cupins.

Sirius abriu-a também com vários feitiços de segurança; Victorya tentou imaginar se um chute naquela porta não faria o mesmo efeito, mas pra um pedaço de madeira que aparentava estar podre, bem que parecia bem resistente; ela, ao entrar, sentiu o peito se encher de excitação, medo, esperança e desespero. As mesmas coisas que sentira quando tivera aquele pesadelo do dia anterior.

A casa era a mesma, o cenário era o mesmo. Ela podia até sentir a presença de comensais por toda a parte, andando pelos corredores, quebrando móveis e portas... Sirius notou como ela estava, e então, a guiou para uma poltrona próxima e desocupada e a fez sentar-se.

Mas ao contrário do sonho, a decoração era bem diferente, e julgando pela situação externa da casa não se podia imaginar o que poderia haver dentro.

Haviam aquários, tubos de ensaios. A grande sala que era apenas dividida por colunas bem trabalhadas, lembrando esculturas gregas, tudo tingido de preto era ocupada por várias mesas, armários que iam do chão ao teto alto, que se observasse bem poderia lembrar uma torre. Garrafas com líquidos de colorações diversas se destacavam por trás do vidro dos armários, relógios, haviam muitos deles, o sons de tic-tac acompanhando os passos que quaisquer que fossem. Havia também uma parede adornada e ocupada somente por recortes de jornais, onde se destacavam as palavras: assassinato, Azkaban, comensais, maldições imperdoáveis... Tudo chegava a ser assustador.

Bruxos e bruxas andavam arqueados, concentrados e atrapalhados pra todos os lados. Alguns lançavam olhares desconfiados para Victorya, sendo ela uma jornalista.

“Sirius, acho que não sou muito bem vinda aqui.”

“Pois é... Mas como eu sou o chefe eles têm que confiar em quem eu confio. Você eu tenho completa certeza que não vai ficar procurando informações sobre quaisquer assuntos... Deixe-os pra lá. É que temos que cuidar do sigilo de nossas informações e aqui só entra quem está acompanhado por alguém que trabalhe aqui... Em todo caso, você não está em nenhum setor secreto e de suma importância... Aqui não é exatamente o cérebro, mas é onde ficamos pra fazer relatórios, esse tipo de trabalho mais burocrático”.– se limitou a dizer.

Victorya observou que alguns deles andavam com aparelhos que lembravam muito walk-talk nas mãos. A um canto, ela não pôde deixar de notar, uma moça morena, de cabelos presos displicentemente em algo que lembrava uma piranha rosa e prateada. Estava com uma prancheta nas mãos, anotando coisas atentamente, do painel de recortes da parede.

Levou um susto com o que viu quando a moça virou. A outra praticamente correu ao outro lado da sala, onde Victorya estava. Sorria pelo canto da boca, ajustando os óculos de aro pink e deixando a prancheta em cima de uma mesa qualquer.

Victorya se levantou, ficando frente a frente com ela...

“Mas o que você está fazendo aqui?” – olhou de Sirius para Bree.

“Uau! Se importando comigo como sempre... Eu estou muito bem Victorya, e você?” – riu sarcasticamente, abraçando Vicky a pegando de surpresa... – “Eu estava sem emprego quando Sirius entrou em contato comigo. Na verdade ele queria a casa e eu queria mudar de país, mas a grana tava curta... Você sabe, papai não colabora mais comigo”.

“Ele está certo”.– disse Victorya sadicamente.

“Nossa, como você é má!” – riu, tomando como brincadeira.

“O Oscar está me chamando... Com licença”.– Sirius passou por trás de Victorya, cruzando para um outro canto do aposento e indo falar com um velho baixinho. Ryan, que ficara só observando até então, o seguiu.

“Agora fala sério Bree, o que faz aqui?”.

“Eu já disse, estou trabalhando”.– revirou os olhos.

“Deixa-me ver se entendi: Você criou juízo? É isso mesmo? Enfim acho que posso acreditar em milagres”.

A xerox de Victorya sorriu novamente.

“Não sabia que estava na Inglaterra, e muito menos que estava aqui com o Sirius”.

“Sim, sim... na verdade ele achou que essa casa era apropriada para uma segunda sede do Departamento de Mistérios, tendo acontecido um crime aqui com nosso avô Robert e tudo mais... ai eu fiz um acordo com ele, tava precisando de grana e agora, enfim, to aqui!” – voltou os olhos para estudar Victorya por inteiro. – “Você está muito diferente... Esses terninhos de executiva...” – riu.

Victorya também riu.

“Está mais séria, mais chique... deixou até fechar o furo do piercing! Mas não é isso que está me deixando intrigada... Você está triste. Sendo você minha irmã gêmea, acho que te conheço bem”.

“Seção análise agora é? Por favor,... Não quero falar disso”.– olhou para o outro lado da sala; Sirius a observava.

“Ele só falava de você”.

“Quem?”.

“Sirius, quem mais? Uau... esse homem mexe com meus hormônios”.

Victorya arregalou os olhos, voltando-se para a irmã.

“Você deixou de ser adolescente faz tempo”.

“Mas não deixei de ter bom gosto, e garanto que você também está caidinha por ele... Tá achando que eu não me lembro de como você ficava quando o via?”

“É, não posso negar. Ele é muuuito bom realmente”.– mordeu o lábio inferior.

“Hahaha! Ta pintando um clima entre os dois ou é só impressão? Ele não para de olhar pra você”.

“Bah... Deixa pra lá. Se rolar, rolou... ainda é muito cedo pra falar alguma coisa”.

“É V, você mudou muuuito. Espere, você não está mais com aquele Thomas não né?”

“Não, é claro que não!” – revirou os olhos, contando o que aconteceu, a burrada que ia fazer se casasse com Thomas.

“Uau... Você tem um ímã pra atrair canalhas não é?”

“É”.– disse desanimada – “E você?”

“Você tem uma sobrinha”.

“Tenho?” – perguntou incrédula.

“Camille tem dois anos. É linda... Moreninha, cabelos negros, olhos negros...”

“E o pai?”.

“Foi numa aventura que tive lá no Caribe... Produção independente”.

“E eu achando que você tinha criado juízo”.

“Não mais que você que abandonou a família, só pegou o que tinha de dinheiro e partiu pra um negócio que não sabia se ia dar certo ou não”.

“Mas deu. E fico muito orgulhosa, pois foi com o meu suor, o de Hermione e o de Norah”.

“Sim, claro... mas pra mim não precisa muito. Só quero ter como criar minha filha dignamente”.

“E nossos pais? Tem falado com eles?”.

“Papai me deserdou... A você não sei... Ele sempre te adorou”.

“Não depois que eu recusei a ajuda dele, mas sabe, é melhor assim, não faz falta alguma”.

“Bom,...” – Bree olhou para o lado – “Mike está me chamando... tenho que trabalhar. Nos encontramos mais tarde? Podíamos sair juntos. Eu, você, Sirius e Ryan”.– sorriu.

“O Ryan acho que ficou um pouco pasmo quando me viu... talvez pela semelhança com você, não sei...”.

“Nem é. Ele é apaixonado pela sua amiga, Hermione. Talvez viu em você a chance de conhecê-la... Mas sabe que eu ainda tenho esperanças em laçar esse garoto?” – piscou.

“E eu achando que você tinha tomado juízo...”

“Quem tinha, jogou no vaso sanitário e deu descarga foi você. O homem ta caidão ali Victorya Hutingdon... Lembre-se de quando éramos cheerleaders em Nolux: ‘be agressive! Be, be agressive!’” – virou-se novamente, voltando ao seu trabalho e fazendo careta para seu supervisor.

Sirius esperou Victorya voltar a se sentar e foi novamente em sua direção.

“Agora consigo entender porque me trouxe aqui”.

“Sim, sim... Sua irmã estava com saudades de você, e outra que você também é dona da casa”.

“Sim, e sabe o que eu descobri?” – estendeu a mão para ele.

Agora estavam ali, um de frente pro outro, um olhando nos olhos do outro. Victorya sorriu e Sirius fazia carinho em sua mão.

“Estou curioso”.

“Que estava também com saudades... Minha antiga vida está voltando como num fashback constante”.

“Isso é bom? Digo, não gostaria de voltar a viver minha vida antiga”.

“Sim... isso creio eu, vai ser bom pra mim. Como você disse tenho que procurar esquecer os sofrimentos e as dores... Mas agora tem uma coisa a mais que faz disso uma vida nova e muito melhor.”

“O quê?”.

“Você...”.

*******************************************************

Hermione subia pelo elevador horrendo e velho. Fedia igualzinho à fumaça do cachimbo de Mundungus...

Não queria saber de mais nada. Tentava esvaziar sua cabeça de mais problemas e estava determinada a cumprir sua missão, ali, no prédio do “Profeta Diário”.

Na verdade era uma redação bem diferente da sua, que ainda contava com suporte trouxa e diversos outros recursos. Realmente dos últimos anos pra cá, o Profeta decaíra, a população realmente sã, não mais confiava em suas fontes e muitos deixaram de comprar, para comprar o da concorrência, o qual era o de Hermione.

O prédio era um lixo, teias de aranha pra todo lado... Parecia uma casa abandonada, e contando com o tipo de gente que trabalhava ali, mal assombrada.

Ao chegar a um corredor mal arrumado, várias pilhas de jornais velhos se estendiam pelo longo corredor. Havia uma sala sem porta, apenas deixando um feio buraco sem batente. Lá havia apenas uma mesa, onde papéis se amontoavam um em cima do outro, havia um bruxo gordo, com a banha esparramada pelo sofá. Lia alguma revista em quadrinhos de quadribol, ou fingia ler, pois roncava feito um porco.

A sala, sem porta, Hermione adentrou, ficando de frente à mesa, empurrando todos os papéis empilhados no chão, bagunçando tudo e deixando as folhas voarem pela janela.

A mulher que se escondia atrás dos papéis não ficou surpresa nem assustada, apenas levantou levemente a sobrancelha.

“Demorou 345 horas a mais que o esperado”.– sorriu cinicamente.

O gordo roncou mais forte...

“Sim, mas vim nisso aqui que insistem em chamar de redação. O Ministério parou de apoiar esse grande lixo não?” – sorriu vitoriosa. – “Quero conversar com você A SÓS!” – disse com extremo nojo de estar naquele lugar.

Rita abriu ainda mais o sorriso.

“Jack, deixe-nos”.– disse, não fazendo muito efeito – “JACK SEU GORDO ESTÚPIDO LEVANTA AGORA!”

Jack levantou da poltrona de uma vez só. Acordara assustado, e achando ruim por seu sono ter sido interrompido.

“Sente-se”.– Rita parecia um pouco apreensiva, mas tentava disfarçar bem. – “Uau, invadindo redações. Vou ser obrigada a concluir que a brilhante Hermione Granger está querendo roubar furos de reportagem. Seria uma manchete fantástica, garanto que sua empresa junto com a intragável da Hutingdon iria pro brejo”.

“Não Rita, eu me recuso a sentar nesse pulgueiro. E pra falar a verdade eu acho que é bom você não se preocupar com isso. Os únicos furos que poderia encontrar aqui são os que as traças estão fazendo neste lugar... Francamente”.

“Isso é bom. A sempre espirituosa Granger!” – disse sarcástica.

“Acho que devo tomá-lo como elogio”.– sorriu tão falsamente quanto a outra. – “Mas voltando ao assunto que me trouxe aqui, sim por que você não acha que eu realmente estou aqui para visitá-la não é mesmo? Escuta aqui: Quem você acha que é para se meter na minha vida e divulgar calúnias tão mal escritas e totalmente infundadas?” – Rita ia abrindo a boca pra falar, mas Hermione a interrompeu antes mesmo de dizer um “A” – “Tsk, tsk, cala a boca! Você já falou merdas demais por uma vida inteira, e agora quem fala sou eu. Escuta bem: Ou você retira o que disse sobre minha filha, ou eu te esmago”.– disse nervosa, amassando um papel largado em cima da mesa.

“Uau! Hermione Granger perdendo o controle, isso mesmo Hermione! Seja você mesma, se revele! Agora escuta aqui você sua fedelha enxerida: Quem sobe rápido, desce rápido. Essa é a real. É isso que vai acontecer com você e com a outra Srta. Prepotência Hutingdon. Ah! E mesmo que eu quisesse desfazer minha fabulosa manchete, jamais aceitariam publicar uma coisa dessas aqui no Profeta Hermione”.

“Veremos”.– Hermione largou a bolinha de papel no chão, como se estivesse pronta pra atacar. Volta e meia enfiava a mão na bolsa grudada ao corpo. Jogou em cima da mesa de Rita, o jornal na página da manchete calúnia.

“O que é isto?” – arregalou os olhos.

“Um jornal, ou será que não está vendo?” - cruzou ameaçadoramente os braços.

Rita se deparou com trechos grifados em detalhes que Hermione considerou relativamente importantes.

“Uau! Vejo que você é uma leitora assídua de minhas reportagens e colunas”.– disse sarcástica com um sorriso escarninho nos lábios. – “Mas é claro que jamais vai chegar aos meus pés como jornalista ou como qualquer coisa que queira”.

Ela observou levemente curiosa, as linhas vermelhas que grifavam trechos do texto.

“Ahan, principalmente de suas blasfêmias e consideráveis falhas”.– também sorriu – “Como, por exemplo, como poderia Greg Lavigne, afirmar que Amelia Granger não é sua filha, sendo que ele já está morto?” – fingiu-se interessada. – “Anda entrevistando almas perturbadas do além Rita? Também não é por menos né... o Profeta está falindo”.– novamente Rita arregalou os olhos, agora, surpresa – “De graças a Merlin que seus leitores não costumam prestar muita atenção no que você escreve, mas vejamos: Quem é Greg Lavigne?” – revirou os olhos se fazendo de entediada.

Rita por um breve momento ficara apreensiva, levantando da cadeira e ficando frente a frente com Hermione. Ela segurava os braços como se quisesse controlá-los.

“A partir de agora é seu amante, com quem você traiu Harry Potter e é sim o pai de sua filha.” – disse, a boca enchendo de saliva, como se fosse veneno escorrendo de dentro de seu corpo.

“Ah é?” – Hermione se aproximou ainda mais. – “Prove”.

“Sim Granger. Não há como voltar atrás. E não se faça de santa, porque todos sabem que você o traiu mesmo...” – estava ficando nervosa – “Provar? Greg pode aparecer a qualquer instante, é só você me provocar mais um tantinho...”.

“Humm... Continue”.– procurava olhar nos olhos de Rita, mas isso parecia a irritar, pois a todo instante ela procurava outros pontos da sala para fugir dos olhos de Hermione.

“O quê?”.

“E se eu encontrasse esse Greg, o que ele faria?”.

“Isto, se depender de mim, jamais acontecerá, sabe... Eu realmente não quero deixá-la em maus lençóis. E bem, Granger, um bom jornalista nunca entrega o ouro tão fácil”.

“Humm...” – fingiu prestar muita atenção – “Vou anotar isso pra quando você estiver pagando pra alguém ler o que escreve. Pra quando estiver no olho da rua ou até com sua licença cassada por suas calúnias e difamações. Seus disparates têm limite Skeeter”.

“Juro que você está me surpreendendo. Nunca imaginei que a fedelha dentuça intrometida teria tamanha coragem de me enfrentar. Sabe Hermione, eu sei que você sempre amou Harry, pra mim não é novidade alguma, e sabemos muito bem que você é inocente mais uma vez, mas só nós sabemos... Acho que você ainda não entendeu que quem faz o jogo agora sou eu. Você faz as suas burradas e eu as aproveito para aumentar o número de leitores do jornal, não me leve a mal, mas isto é necessário. A culpa disso é absolutamente sua. Você criou as armas para eu usar contra você, claro, nada contra a sua pessoa, mas negócios são negócios.”

Hermione finalmente desviou o olhar, não fazendo nenhum comentário sobre o que a outra dissera...

“Nos veremos em breve Rita. Eu, você e Greg Lavigne”.

Hermione enfiou a mão na bolsa aberta e seguiu para o corredor segurando o choro. Não podia fraquejar justamente agora que estava tudo dando certo.

Rita a observava com um sorriso sádico no rosto. Não havia piedade em seu olhar.

Ao entrar no elevador, apertou o botão para o térreo, mas antes, através do vidro da porta do elevador, mostrou à Rita um gravador.

Sorriu tentando sustentar a mentira de que estava no controle da situação... – “Tchau besourinho”.– disse acenando ainda com o gravador na mão, e não vendo a reação de Rita, pois o elevador já estava descendo. Apesar disso, deu pra ter uma grande noção da reação da outra com o grito cortante e agudo que escutara cinco andares abaixo.

Na verdade isto que fizera seria motivo pra comemorar, mas não, ela estava mal com tudo aquilo e ficara pior ainda com o que Rita lhe dissera por último. Tudo aquilo era verdade, ela sabia, Rita sabia, Vicky sabia, Gina sabia, Rony sabia, Mya sabia, mas Harry não. Nem Harry e nem mais ninguém; mas também não podia negar que negócios eram negócios e era isso que ela ia fazer, apenas pensar em negócios. Nos últimos dias sua cabeça já tinha se ocupado demais com Harry.

Pegou o carro estacionado na rua de trás e arrancou direto para o escritório.

***

Na verdade, seus olhos não viam muita coisa claramente. Seus óculos racharam ao tocarem o chão quando desmaiara no meio da rua.

Luna estava sentada ali, no bar trouxa. O local estava vazio, àquela hora da manhã.

Sentia-se estranha e confusa, na verdade, o “barman”, um velho bêbado com cara inchada e cabelos desgrenhados, sorria mostrando os dentes podres e amarelados. Luna procurava não olhar para não ficar com vontade de vomitar.

Não tomava nada, não tinha dinheiro trouxa em sua bolsa, pois jamais poderia imaginar que um dia estaria fugindo do Ministério da Magia. Burra! Não tinha vontade de levantar dali. Era uma fracassada, encalhada, e agora assassina, talvez, uma versão bem comédia de Christiane F, Drogada e Prostituta, mas ao contrário da analogia, não catava nem tronquilho, quanto mais homem.

Era estranho lembrar que tinha matado alguém, que na verdade merecia morrer, mas ela não tivera a intenção de matar. Fora um clarão que dera em sua mente, ela de repente não sabia mais nada. Uma voz perturbadora ecoava em sua mente: avada kedavra... Avada kedavra... AVADA KEDAVRA!...

Mas o mais estranho era que o Ministério não dera sinal sobre o assunto até então.

Olhava no relógio, o tempo passava devagar, e ela ali, parada.

“E aí neném, vai querer alguma coisa?” – o velho atravessou o balcão do bar e agora estava ali, ajustando as banhas na calça rasgada e suja, cutucando os dentes com palito.

Neném? Nem seu pai a chamava assim quando vivo...

Luna o olhou de cima a baixo. O cheiro que ele exalava era de uma grande proporção de colônia barata, misturada com água do esgoto mais podre que se podia imaginar. Aquilo fazia um bolo grande tampar sua garganta, a estava enojando...

“Sim, que me deixe em paz, é possível?”

“Certo baby, não falo mais nada. Já volto”.– deu uma espiada antes de se dirigir para o fundo do bar, passando as mãos sujas e encardidas no cabelo, alá John Travolta em Grease, nos tempos da brilhantina.

Luna saiu antes mesmo do barman voltar. Já um pouco mais sã, depois de parar num poste de luz e “botar os bofes pra fora”, decidiu procurar a única pessoa que parecia tentar entendê-la; Harry Potter.

*******************************************************

Harry pegou um táxi. Tinha que falar com Hermione, mesmo correndo o risco de quebrar o nariz com uma porta na cara. Rony lhe ensinara como chegar a casa dela, pois não podia simplesmente aparatar.

Na verdade se assustou com o tamanho da casa. Nunca achara que Hermione fosse chegada a tanto luxo... Aquilo definitivamente tinha a cara de Victorya.

Pagou o táxi com dinheiro trouxa e desceu, arrumando a camisa, de certa forma, esperançoso.

Ao chegar na porta nem precisou dar o nome. Provavelmente o segurança era bruxo, pois sorriu como quando uma criança vê um doce extremamente grande através de uma vitrine.

Atravessou o jardim observando as árvores e um pequeno lago do outro lado do canteiro de flores que começavam a murchar.

Bateu na porta, esperando com as mãos nos bolsos, logo, um japonês abriu a porta.

Yuan deu um pulo pra trás, se assustando e assustando a Harry também...

“Sr. Potter!” – se endireitou, erguendo a coluna e sorrindo de orelha a orelha.

“Olá... Hermione está?”.

“Não senhor, nem Madame Hermione e nem Madame Victorya... Mas Cherrie Amelia está”.– mantinha o sorriso – “Entre”.– fez uma reverencia extremamente exagerada, fazendo floreios com as mãos pelo ar...

Harry sorriu, não se conteve... Entrou. Tudo era branco demais...

“Cherrie?” – riu.

Na verdade quando Yuan ia abrir a boca, Amelia já estava lá embaixo, ao seu lado. Os cabelos flamejantes escorrendo pelo rosto.

“Pa... Harry?” – sorriu surpresa.

“Fi... Amelia”.– Harry foi pego de surpresa tanto quanto a garotinha, que pulou em seus braços, dando com um abraço apertado. – “Tudo bem?” – afagou os cabelos da menina, que o beijou na bochecha. Surpreendeu-se ao ver uma lágrima escorrer pelo rosto pálido da filha.

“O que houve Cherrie?” – Yuan perguntou preocupado, esticando a cabeça feito uma tartaruga.

“Yuan...” – Mya olhou pro mordomo suplicante. Ele entendeu e deixou-a sozinha com Harry.

“Calma, o que houve?” – Harry a colocou sentada no sofá. Sorria tolamente... Era assim que os homens se sentiam quando sabiam que eram pais? – “Por que estava chorando?”.

“Nada...”.

“Eu queria ver você e falar com sua mãe...”.

“Momy?” – ela levantou o rosto.

“Sim, tenho um assunto pra resolver com ela”.

A campainha tocou.

Yuan apareceu novamente e Ruth descia as escadas.

Harry se assustou ao ver Lindsay ali, parada na porta com a roupa rasgada. Na verdade seu supercílio sangrava, ela segurava a varinha quebrada na mão direita, enquanto se apoiava no batente da porta com a outra. Sua testa estava toda arranhada, ela parecia acabada...

“Cruzes!” – Yuan pulou assustado.

Mya desatou a um ataque de risadas e Harry levantou, levemente sobressaltado e interessado...

“Lindsay? Mas o que aconteceu?” – Harry não conteu as risadas.

Ela apenas o fitava com raiva.

Amelia levantou do sofá, ficou a observando com olhos arregalados.

“O que foi fedelha? Sai da frente Yuan, não enche”.

“Bons empregados entram pela porta dos fundos”.– Yuan baixou o tom de voz.

“Bons empregados calam a boca na hora certa!”.

Yuan deu de costas.

“Madame falou pra quando chegasse ir imediatamente para o escritório dela”.– disse de costas, e saiu da sala.

“Eu quero que a madame se...”

“Hey! Cala a boca Lindsay”.– Harry olhou pra Mya.

“Que cena mais patética Harryzinho”.– continuava encostada na porta. Parecia derreter como cera quente... A julgar por seu estado, com certeza, na noite anterior algo de muito bom, digo, de muito ruim deveria ter acontecido.

“Patética é você”.– dirigiu-se até a porta, antes, dando um beijo no rosto de Mya. – “Vejo você outro dia. Eu prometo que volto...” – ao emparelhar com Lindsay, Harry sorriu pelo canto da boca – “A grana ta curta então resolveu voltar à antiga função?” – zombou.

“Idiota”.– passou quase atropelando Ruth e subiu as escadas batendo os pés.

Harry deu uma ultima olhada na filha e desceu o pequeno lance de escadas, mas Mya correu para o jardim. Estava descalça, seus olhos voltaram a brilhar.

A mão da menina estava gelada, ele conseguia sentir o coração dela pulsar...

“Você ama minha mãe?”.

“O quê?”.

“Você ama a mamãe?”.

“Hermione?” – perguntou sem graça, fazendo a menina revirar os olhos, afinal, que mãe seria?

Harry observou cada traço de Mya, passando a mão pelo rostinho dela e se curvando um pouco para falar com ela...

“Por que pergunta?”.

“Por que vocês namoraram, eu sei”.

Harry olhou pros lados e por cima do ombro de Mya.

“Se passou muito tempo Mya... Mas eu gosto muito dela”.

“E? Perguntei se ama minha mãe”.

“Ok, ok... eu não sei se ainda amo sua mãe”.

Amelia fechou o sorriso.

“Não fique assim, olha...” – pigarreou e se calou.

Harry ergueu a coluna novamente e deu uma última olhada na casa.

“Desculpe Mya, eu tenho que ir... preciso falar com sua mãe ainda hoje”.

“Certo”.

“Hey! Não fique assim... eu...” – realmente não sabia o que dizer.

“Tudo bem”.– Mya conseguiu sorrir e voltou correndo para dentro de casa.

Harry passou pelo portão, seguiu por uma rua perpendicular a casa e aparatou no Gringotes, o bando dos bruxos. Precisava trocar mais dinheiro.

Pelo visto, este seria um daqueles dias que demoram séculos pra passar...

*******************************************************

Hermione chegou no escritório e se jogou na cadeira; Lindsay ainda não havia chegado; sua cabeça estava a mil. O cérebro tentava maquinar para chegar a uma resposta óbvia: se dependesse da colaboração de Rita estava encrencada... Não, é claro que não estava! Ela tinha a fita. A fita que escutara durante todo o caminho da ida para o escritório, do outro lado da cidade. A voz da loura desbotada retumbava em sua mente, flashes de Mya e Harry em sua vida passavam como borrões, mas ela não estava parada, sua alma parecia lutar pra sair de dentro da cela que seu corpo se tornara.

Nunca precisara tanto de Victorya. Onde aquela louca estaria?

Pegou uma pena que estava a sua frente e começou a rodar entre os dedos, entediada. O barulho do tic-tac do relógio retumbando em sua cabeça, tornando-se cada vez mais alto e perturbador... Realmente não era um bom dia para trabalhar.

Na ponta da mesa havia uma foto de Mya enquanto bebê. Contorceu o rosto, assustada, ao virar a cara para a porta que era aberta por Victorya.

“Vicky! Onde você estava? Nunca mais faça isso! Você me deixou preocupada!”.

“Oi, desculpe. Eu não estava planejando vir hoje, mas preciso me ocupar com algo produtivo, que não use calça, não tenha barba por fazer e muito menos que... Ai que ombros! Por Merlin...” – delirava mais para si, do que para Mione.

Hermione achou estranho o comportamento da amiga... Nem olhara pra cara dela, e parecia incrivelmente ríspida, exceto pelo fato de que parecia pensar em algo realmente bom... Ficou confusa, levantando da cadeira e se dirigiu ao outro canto na sala.

“Você está bem?”

“Por que não estaria?” – voltou a manter a rispidez. Sentia que tinha que fazer alguma coisa pra não sofrer, mas por outro lado, também, estava de saco cheio de sua vida. Não queria conversar com Hermione, na verdade, durante todo o trajeto, no carro, ao lado de Sirius, que se mantivera calado durante um bom tempo.

Na verdade, quando descera do carro de Sirius, fora como se tivesse levado um banho de gelo. Esperava ao menos não encontrar Thomas tão cedo. Ai sim ela seria capaz de matá-lo... Enfim parecia que tudo tinha digerido, mas ainda estava lá dentro. Ela precisava aliviar...

“Porque...” – Hermione não soube como dizer.

“Por que descobri que fui traída durante os anos mais felizes da minha vida? Não Hermione, eu estou muito bem”.– respondeu sarcástica.

“Sinto...”.

“É, eu também.” – pegou um maço de cigarros de dentro da gaveta de sua mesa, tirou um e acendeu com a varinha, que balançava ameaçadoramente para os olhos de Hermione.

Hermione arregalou os olhos e tossiu.

“Tire isso da minha frente”.– andou com passos largos, em direção à janela. Olhou através da persiana... Os carros inundando a cidade. A cada segundo o tráfego parecia crescer de forma assustadora... – “Onde você passou a noite?” – perguntou curiosa, virando-se devagar e observando Victorya se apoiar na mesa, com um braço cruzado e o outro apoiado na mesa, segurando o cigarro e soltando fumaça pela boca.

“Na casa de um amigo”.

“Amigo?”.

“É Hermione, amigo. Sabe aquela pessoa que você pode confiar, que está sempre falando TODA a verdade pra você, que sempre está ali nos momentos mais difíceis e que não te esconde NADA?”

“Mas Vicky, eu...”.

“Não precisa falar nada Hermione! Eu só achei que você era minha amiga. Pela primeira vez eu acreditei que minha vida era perfeita, que eu tinha amigas, que tinha um cara ali, do meu lado, que me amava de verdade! Dá pra você entender que não é só questão de contar ou não?”.

“Eu queria dar uma chance ao próprio Thomas. Achei que teria sido menos doloroso”.

“Não! Não foi! Se você tivesse me contado eu já teria matado aquele desgraçado! Não estaria sentindo o que estou sentindo agora”.

“Vicky! Me perdoa, eu achei que seria melhor...”.

“Me diz? O que você entende sobre ser traída? Você traiu a confiança da pessoa que diz que mais ama nessa vida! Por querer se livrar da culpa de não ter deixado o Harry viver a vida dele você mentiu! Por acaso você nem se deu ao luxo de perguntar pra ele o que ele queria da vida dele! Você foi egoísta! Deu pra entender?” – ia aumentando cada vez mais o volume da voz.

“Cala a boca Victorya! Você não sabe do que está falando!” – Hermione sentiu uma angustia enorme apertar sua garganta. Ela queria chorar, nunca brigara com Victorya na vida, e agora, ela estava ali, morrendo de raiva e mais uma vez com toda a razão, por mais que não quisesse admitir.

“Cala a boca você! Eu passei esses anos todos ao seu lado, eu ajudei você a criar sua filha e agora você me retribui escondendo isso de mim?”.

“Mas você descobriu Victorya! O que eu poderia fazer? Eu não podia chagar pra você e contar! Ah! Vicky vi seu noivo se agarrando com a mulher dele, sabe, a mãe dos filhos dele! Eu não podia fazer isso droga! Eu não queria que você sofresse desse jeito. Se eu pudesse voltar atrás eu arrumaria tudo o que ajudou a ferrar com a minha vida. Eu amo você, eu prezo a nossa amizade e não quero perder isso! Ainda mais por culpa daquele verme do Thomas!”.

Victorya estava ereta, olhava para o chão, amassando o cigarro no cinzeiro da mesa. Os olhos enchiam de lágrimas de raiva, desespero, infelicidade... estava se sentindo culpada, não podia ter dito aquilo.

Hermione abraçou-a, fazendo-a apoiar a cabeça em seu ombro.

Victorya, enfim soltou as lágrimas presas desde o dia anterior...

“Desculpa... eu não devia ter dito aquilo”.

“Shh... Eu sei que você está com raiva, eu entendo... Eu juro que não queria ver você assim, nesse estado. Você sempre foi tão forte, tão franca e sincera comigo... Eu queria ajudar, mas como sempre deu tudo errado”.

Ficaram ali. O silêncio sendo cortado apenas pelos soluços das duas. Victorya sentia-se culpada e amargurada por tudo que estava acontecendo. A vontade de chorar tinha voltado, Hermione, apesar da mesma idade, era como uma segunda mãe pra ela. Estava sempre ali, ao seu lado... Não devia ter feito a besteira que fez.

A porta se abriu. Hermione ainda abraçava a amiga, que logo levantou bruscamente de cima da mesa e ficou paralisada, ali, olhando para Harry, que tinha acabado de entrar na sala.

“Vicky, o que foi...?” – Hermione também se assustou ao virar.

“O que faz aqui?” – perguntaram Victorya e Hermione, ao mesmo tempo.

“Eu preciso falar com você.” – observou Victorya por um instante...

“Eu vou sair.” – Vicky pegou o maço de cigarros e a bolsa que deixara em cima de sua cadeira confortavelmente reclinável.

“Não! Você fica.”

“Não, eu saio. Tchau enh.” – Victorya limpou as lágrimas e saiu o mais rápido que pôde da sala.

Harry se despediu desconcertado, algo naquela cena o havia perturbado.

Hermione se inclinou corretamente e respirou fundo.

“Seja rápido.”

“Você não costumava ser assim...”

“As coisas mudam, o que quer?” – tentava ser o mais racional possível.

“Não vou ocupar muito seu tempo, eu só queria lhe fazer uma pergunta.”

“Quem te disse que meu escritório era aqui?” – perguntou, remexendo dos manuscritos e documentos embaralhados em cima da mesa de Victorya, sem nenhum interesse.

“Rony.”

Hermione fechou os olhos, como se contasse até dez. lembraria de matar Rony quando o encontrasse...

“Seja breve.”

Harry a observava atônito, por trás dos óculos. Passou um dedo pela barba que estava crescendo e voltou a se concentrar no assunto principal.

“Eu passei na sua casa antes...”

Aquelas palavras soaram como rufos de tambores na cabeça de Hermione. Mya, Amelia estava lá.

Harry pareceu ler os pensamentos de Hermione.

“Mya estava lá... me recebeu com carinho. Sua filha é linda.”

“É, eu sei, mas com certeza você não quer falar de Mya, não agora né Harry? Eu estou, estava, tentando trabalhar.”

“Na verdade é sobre ela sim. Eu apenas quero que você olhe nos meus olhos e me responda uma coisa: Amelia é minha filha?”

Hermione fez exatamente o que Harry pediu. Ela estava olhando em seus olhos. Já estava quase afundando...

“Hermione! Eu estou falando com você!” – ela não sabia exatamente há quanto tempo estava se perdendo nos olhos dele. Há anos que ela sonhava com aquele momento. Na verdade ele estava bem diferente do dia da festa. Parecia até menos agressivo e frio...

Sentiu a mão quente de Harry em seu queixo, ele parecia tentar reanimá-la. Na verdade, ela estava no chão, deitada no chão...

“Anh?”

“Você desmaiou.” – Harry parecia preocupado.

“Anh?”

“Você! Venha... Sente-se aqui.” – ele tentou ajudá-la a se recompor, mas logo ela voltou a si e se afastou um pouco do toque dele. Só de sentir a respiração morna e o cheiro de perfume cítrico que vinha dele, era capaz que desmaiasse novamente.

“Não, tudo bem...”

Harry olhou para os lados. Sentia-se encurralado.

“Então... me responda.”

“O que quer saber mesmo?” – perguntou Hermione um pouco extasiada, tonta.

Harry ia perguntar novamente de Mya, mas lembrou-se da pergunta da menina... A pergunta que não queria calar...

“Você ainda me ama?”

“O QUÊ?” – Hermione fez cara de indignação. – “Você veio aqui pra me perguntar isso?”

“Na verdade Amelia, SUA filha, me perguntou se eu ainda a amava...” – Harry deu um leve sorriso, que para Hermione perpassou despercebido.

“Harry, escuta aqui.” – já não tentava manter distancia e levantou, emparelhando com ele. E os olhos... – “Você me trata com indiferença num dia, depois me aparece no meio do Beco pra salvar a nossa filha e no dia seguinte vem ao meu escritório perguntar se eu ainda o amo?” – Hermione se alterou. A cada palavra seu tom de voz ia aumentando e aumentando... E a boca... Seu estado era tão crítico que ela nem reparara na besteira que acabara de cometer. E o cheiro...

Harry sorria, talvez o sorriso mais demente que dera na vida.

“Eu disse alguma palhaçada aqui?” – Hermione revirou os olhos, estressada, indignada e confusa.

Harry continuava sorrindo. Aquela era a confirmação...

“Hermione, você acaba de me fazer o homem mais feliz dessa vida.”

“O quê?”

“Você acabou de me confirmar o que eu sempre soube.”

Hermione pareceu pensar. Ou ela estava lesa, ou não sabia realmente o que estava acontecendo.

“O quê?”

“Você disse NOSSA filha!” – era um sorriso nervoso, desesperado. Na verdade seus lábios não se esticavam o bastante para o quanto ele queria sorrir. Aquele era seu momento, o momento especial.

“Eu? Quê? É claro que não, eu...” – Hermione estava mais confusa que antes.

“Disse! Disse que eu escutei perfeitamente.” – agora era ele quem tentava entrar em sua alma, na verdade era o que ela mais queria.

Fora muito melhor do que em seus devaneios...

We started as friends

But something happened inside me

Now I'm reading into everything

But there's no sign you hear the lightning, baby

Como um flashback de seus dezessete anos. Na varanda, atrás do arbusto, em sua cama. Como o primeiro e único. Antes era seu melhor amigo, e agora era o seu homem. Sempre estivera ali, ao seu lado e ela o perdera...

You don't ever notice me turning on my charm

Or wonder why I'm always where you are

Havia anos que sua boca não era tocada por nenhum homem, não daquele jeito. Hermione precisava daquilo e Harry tentava a mostrar que sabia, que sentia o mesmo. Ambos eram errados, ambos não conseguiam ver o que era realmente óbvio.

I've made it obvious

Done everything but sing it

(I've crushed on you so long, but on and on you get me wrong)

I'm not so good with words

And since you never notice

The way that we belong

I'll say it in a love song

Era diferente, agora era diferente. Não conseguiam pensar em mais nada.

I've heard you talk about

(Heard you talk about)

How you want someone just like me

But everytime I ask you out

(Time I ask you out)

We never move pass friendly, no no

And you don't ever notice how I stare when we're alone

Or wonder why I keep you on the phone

Ali estava a prova do amor que um sentia pelo outro. Um amor ferido, magoado e cheio de decepções, mas ela não ligava, eles não ligavam.

Não era delicado, não era terno, era apaixonado.

Nenhum dos dois se importou com o que caia da mesa de Victorya, ou deixava de cair. Harry, sobre Hermione, pressionava suas costas contra o vidro da mesa. Os lábios chegavam a tremer, cada vez mais ia imprimindo força. Os lábios quentes, línguas molhadas, macias que dançavam ao som da música que só eles podiam escutar...

I've made it obvious

Done everything but sing it

(I've crushed on you so long but on and on you get me wrong)

I'm not so good with words

And since you never notice

The way that we belong

I'll say it in a love song

Yeah...

Eles apenas se beijavam, não existia nada na atmosfera. Suas mãos iam se movendo à medida que seus impulsos aumentavam...

You are my very first thought in the morning

And my last at nightfall

You are the love that came without warning

I need you, I want you to know

I've made it obvious

So finally I'll sing it

(I've crushed on you so long)

I'm not so good with words

And since you never notice

The way that we belong

I'll say it in a love song

Não era nada comparado a um amor adolescente, era maduro, seguro, que ambos fizeram se tornar real...


And sing it until the day you're holding me

O beijo parecia que nunca fosse acabar, e era exatamente o que desejavam...

I've wanted you so long but on and on you get me wrong

Mas não bastava só querer, ainda tinham vários assuntos a resolver, a começar pelas mentiras.

I more then adore you but since you never seem to see

E nada que é muito bom dura pra sempre.

But you never seem to see

I'll say it in this love song

A porta novamente se abriu e o porta-canetas de vidro caiu com estrépito no chão. Cacos voaram pra todos os lados e Hermione acabou se desequilibrando com o susto e caiu no chão.

Lindsay estava ali, com sua habitual pasta, cheia de papelada, pronta para o serviço, mas não. Não era para ela estar ali.

Queria ter em mãos um caco de vidro daqueles estirados no chão. Sentiu-se rasgada por dentro, aquela não era a primeira vez.

Doía, doía demais para ela continuar ali, se humilhando.

Ninguém disse nada; Lindsay largou as pastas no chão e saiu da sala, batendo a porta com força, fazendo a parede tremer.

Dava pra se escutar barulhos de coisas explodindo, era Lindsay, que quando nervosa não conseguia controlar seus poderes. A morena desceu correndo pela escadaria, os dez andares que subira de elevador. Na verdade seria bem feito se tropeçasse e caísse. Quem sabe todo o inferno que estava vivendo não se dissipasse e enfim ela morreria em paz? Mas não, Merlin não seria tão bondoso com ela.

Sangue, era gosto de sangue que sentia em sua garganta. A medida de passava correndo pelos vitrôs, eles explodiam em caquinhos mínimos. Havia milhares, milhares deles. Eram eles as vítimas.

Nunca achou que pudesse sofrer tanto. Logo, a amargura se tornou puro ódio. Ela amava Harry desde sempre. Hermione teve a chance dela e não soube aproveitar, agora era sua vez.

Mais dez degraus... Tropeço, tropeço, tropeço.

Harry não podia ter feito aquilo com ela... Era traição! Sim, porque ela sabia, ele a amava, é claro que sim... Sim, a amava.

“Que eu morra, que eu morra, que eu morra...” – sua cabeça rodava e rodava, ela precisava pensar no que fazer.

Derrubou o porteiro, ao passar correndo, passando mal. Não devia ter bebido, não devia, não devia...

Na noite anterior, logo que acordou, só lembrava de um lampejo verde. Vários homens estavam ao seu redor. Na verdade ela se sentiu um osso, que todos os cachorros estavam doidos pra avançar.

Fora a noite mais terrível de toda sua vida, e ela estava ali, sua cabeça rodando de tanto ter bebido; sim, eles a embebedaram. Era como um ritual, ela não conseguia lembrar; “deve ter sido algo forte...” – pensou, colocando tudo pra fora.

Engoliu em seco, limpou a boca com as mãos e começou a andar... Ela ainda não sabia o que fazer.

Matar, matar, matar...

Lembrou-se da cena, do beijo... eles pareciam no cio.

“Não Lindsay, eles se amam...” – uma voz enjoativa ecoava em sua mente.

“Cala a boca!” – gritou em meio à rua, consigo mesma.

Ela teria que pensar, e pensar e pensar...

Não poderia ficar na casa de Hermione por mais um segundo...

Um sorriso começou a crescer no canto de sua boca podre, quase sem os dentes de trás.

Casa, Hermione... Amelia. E era isso mesmo que ia fazer...

***

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