Guarda Costas



Capítulo 9. Guarda Costas


- Serpente é uma palavra de origem latina que é normalmente substituída por "cobra". Na maioria das culturas a serpente é importante elemento mítico - Igor Karkaroff passou os dedos pela barcicha e lançou um olhar à jovem sentada a sua frente. Ela suspirava de tédio, sem o menor interesse em suas palavras. - A serpente é um antigo deus da sabedoria no Médio Oriente e na região do mar Egeu. É um símbolo da ressurreição na mitologia Maya. Nehebkau, o deus-serpente egípcio, guarda a entrada do mundo subterrâneo. As serpentes são figuras proeminente em muitos mitos gregos: o mito de Laocoonte, a Hidra de Lerna, o oráculo de Delfos.


- Isso tem algum objetivo ou você só quer me fazer dormir? - indagou Bellatrix, com os olhos semi-cerrados, contendo um bocejo com a mão.


- Eu achei que você queria saber o que exatamente é o caduceu de Shesha - resmungou Igor, mal humorado.


- Eu quero. O que eu não quero é essa sua enrolação de serpentes e deuses idiotas - ela cruzou os braços e o mirou por cima da enorme pilha de livros sobre a mesa que os separava.


- É isso que eu quero explicar, só estou fazendo uma introdução teórica, posso?


- Você pode é responder objetivamente ao que eu pergunto, se sabe o que é melhor pra você.


Karkaroff ignorou a ameaça dela e começou a mexer nos livros. Ao achar o que procurava, abriu-o diante de Bella, revelando um rebuscado desenho de um bastão com duas serpentes entrelaçadas em sentido oposto na parte superior.


- Isso é o símbolo dos curandeiros - fez Bella, sem se impressionar nem um pouco com a figura do livro.


- Não, não é! - exclamou Igor, impaciente. - Os curandeiros usam o símbolo de Asclepius, onde uma única serpente envolve o cedro. Esse é o caduceu de Hermes. Temos aqui duas serpentes diferentes, na verdade adversárias. Representam simbolicamente o diurno e o noturno, o benéfico e o maléfico. As asas sobre o cedro são identificadas como asas mensageiras.


- E o que tem isso? - Bella arrancou o livro das mãos de Igor para dar uma olhada mais atenciosa à figura. - O que deuses gregos têm a ver com o caduceu de Shesha?


- Bom, o caduceu de Shesha é um objeto meio que lendário - explicou Igor, fazendo caixinhos na barbicha com os dedos. - Desapareceu há muitos séculos na Índia e a Alemanha é seu último paradeiro conhecido.


- Hum... sei, o Mestre já me falou disso algumas vezes.


- Shesha foi uma bruxa indiana - Karkaroff recomeçou a mexer nos papéis. - Ela foi provavelmente o ser vivo que chegou mais perto da imortalidade. Criou um caduceu e guardou nele o poder que pretendia usar para se tornar imortal.


- Pretendia usar? Ela não usou?


Igor achou o que estava procurando e mostrou a Bella o desenho de uma bruxa morena, de longos cabelos negros, com uma serpente enrolada no pescoço.


- Ela não conseguiu. Parece que precisava do sacrifício de um ser humano para conseguir fazer funcionar e, por isso, Shesha foi perseguida e morreu antes de usar o caduceu.


- Certo, então vou procurar o caduceu para Voldemort para que ele descubra como pode usar seu poder. Sabe de mais alguma coisa além disso? Que tipo exatamente de sacrifício é necessário para a coisa funcionar?


- Bem, por a serpente tirar sua pele, ela é um símbolo universal da renovação, e a regeneração que pode conduzir para imortalidade. Assim, posso supor algumas formas de sacrifício que fariam sentido de acordo com a visão mística. Quero dizer, não sacrifícios de morte, mas de energia...


Bellatrix abriu a boca num longo bocejo e Igor desistiu.


~~~


- Um dos nossos melhores homens partirá em dez dias para a Alemanha para procurar o último elemento que me falta para uma de minhas experiências - a voz fina de Voldemort ecoava como um sibilo no salão com um teto imensamente alto.


As paredes estavam cobertas de tapeçarias, com brasões e cenas macabras que, vez por outra, mudavam de posição. Uma comprida mesa ocupava o centro da sala, feita de madeira de lei, com cadeiras luxuosamente estofadas de camurça verme-musgo. Quase todos os lugares estavam ocupados por bruxos encapuzados usando máscaras brancas. O chão todo era um rico mosaico em mármore preto e branco. Cristaleiras e estantes enfeitadas com cintilantes objetos de prata completavam a decoração.


- Por muito tempo pensei se valia a pena investir tão alto nisso, mas um de meus servos acabou me convencendo a ir em frente - Bellatrix sorriu, embora ninguém pudesse ver isso.


Voldemort andava vagarosamente pela sala, como um professor lecionando:


- Mas, é claro, não quero nenhum dos meus caindo nas mãos dos aurores alemães que, os senhores devem saber, mantêm uma íntima relação com o Ministério da Magia inglês. Portanto quero que alguém da minha completa confiança cuide da segurança daquilo que estou procurando e da pessoa que mandarei na busca. Bella - ele mirou Bellatrix com seus brilhantes olhos ofídios sem íris -, só posso confiar a uma pessoa essa missão. E essa pessoa é você.


Bellatrix alargou o sorriso por trás da máscara e apoiou o queixo na mão displicentemente, numa atuação de calma e controle digna da bruxa que era. Ela sabia perfeitamente de tudo que viria a seguir, assistira milhares de vezes ao ensaio daquele discurso, com o Mestre tomando todo o cuidado para não falar nem uma vírgula a mais que o necessário.


- Pela excelência de seus serviços prestados - continuou Voldemort -, Bella conduzirá meu enviado para buscar aquilo que me tornará literalmente invencível e digno do meu nome.


Voldemort fez um sinal para os sentinelas que guardavam as portas duplas de carvalho do salão e por ela entrou outro bruxo, encapuzado e mascarado. Bellatrix não conseguiu deixar de ficar decepcionada quando ouviu Voldemort falar o nome do bruxo estaria sob sua guarda na viagem para a Alemanha. Isso era a única coisa do discurso que ela não sabia antecipadamente e a revelação do rosto que se escondia por debaixo da máscara não tinha nenhuma relação com o que ela imaginara.


Esperava que fosse um daqueles senhores experientes que escrevia tratados meticulosos sobre a purificação, alguém cuja presença inspirasse enorme sabedoria e destreza e que fosse digno da confiança de Voldermot para conduzir tão preciosa busca.


Mas o rapaz que lhe foi apresentado como responsável pela missão, não passava de "um protótipo de bruxo, metido e machista", nas próprias palavras de Bella.


- Um bruxo da minha confiança, Rodolfo Lestrange, foi instruído para trazer para mim o caduceu de Shesha - falou Voldemort.


~~~


- Então a senhorita Black será a responsável por cuidar de mim - fez Rodolfo, sorrindo irônico para a bruxa mascarada que permanecera sentada à mesa de reunião depois que todos os outros já tinham sido dispensados e partido.


Num gesto de impaciência, ela tirou a máscara, revelando o rosto pálido de feições serenas e os magníficos olhos escuros.


- Não vou cuidar de você, serei sua segurança - ela resmungou, olhando feio para Rodolfo. Não se sentia tão contrariada desde os tempo de Hogwarts, quando o mesmo Rodolfo testara toda a sua força de vontade para permanecer no Movimento.


- Então, quando vamos partir? - indagou ele.


- Antes do Dia das Bruxas - respondeu ela, se erguendo da poltrona e recolocando a máscara. - Vamos pegar um navio direto para Amsterdã - e dizendo isso, se encaminhou para as portas de carvalho, com o barulho seco de seus saltos batendo com força no piso ecoando no salão.


~~~


- Vai partir hoje ainda? Não vai ficar para o Dia das Bruxas? - murmurou Verônica Lestrange, vendo Rodolfo conferir a mala que levaria em sua missão. Ela não sabia aonde ele estava indo nem o que ia fazer. E preferia que fosse assim. Ficaria mortificada se soubesse que o filho estava novamente partindo para fazer algo perigoso.


Rodolfo sorriu acenando positivamente e fez um gesto de varinha para que a mala se lacrasse.


- O que devo dizer a Ilse?


O rapaz fez um movimento para pegar a mala, mas parou no meio para fitar a mãe. Ilse Nott fora a noiva escolhida para ele por seu pai antes de morrer, há três anos. Era uma jovem bonita, ruiva de olhos azuis. Estava cursando o último ano em Hogwarts e o casamento dos dois estava marcado para agosto do próximo ano.


Ele suspirou e mirou os sapatos, sem vontade de entrar numa nova discussão antes de partir. Não tinha nada contra Ilse, simplesmente achava que ela não merecia a vida que ele levava. Não achava que ela pudesse ser capaz de entender suas convicções e seus objetivos de vida, nem de concordar com eles. Rodolfo esperava mais de uma companheira que uma reprodutora submissa que fosse capaz de representar bem o nome da família em eventos sociais.


- Ilse vai ficar bem, mãe. Se eu não voltar até agosto, diga a ela que não precisa mais me esperar - falou, em um tom tão categórico que estava claro que ele não daria as caras até agosto e estava transferindo à mãe a missão de desfazer seu compromisso com Ilse.


Verônica suspirou resignada e deixou o filho a fim de ver como andava o serviço da casa. Só voltou a vê-lo à noite, quando ele foi procurá-la, já pronto para partir.


Quando Rodolfo Lestrange deixou a casa da família, na noite de 30 de outubro de 1980, sua mãe o acompanhou até a soleira da porta. Ela o abraçou com força e pediu que tomasse cuidado.


Olhando o filho seguir para um lugar seguro para aparatar, Verônica Lestrange suspirou aflita para o elfo doméstico, com um ar de quem fazia uma profecia:


- Sinto que nunca mais o verei de novo.


~~~


Faltavam poucos minutos para o fim daquele dia quando Marjory Berkley e Edward Muldoon - as identidades temporárias de Bellatrix e Rodolfo - ocuparam uma cabine na primeira classe do navio Ketteridge, que partia em direção ao porto de Amsterdã. De lá, pretendiam pegar um trem para Berlim, de onde partiriam em suas investigações à procura do que Voldemort queria. Não, era, evidentemente, o caminho mais curto, mas parecia o mais seguro.


Os dois se mantinham muito calados, mal tinham se falado desdese encontraram no porto. Bella olhava inquisidoramente para tudo, como se achasse que nada ali estava à sua altura. Rodolfo se mantinha concentrado em um livro de capa azul muito velho, com o título completamente ilegível.


Entretanto, quando o navio deu um solavanco e iniciou sua viagem, ao mesmo tempo em que o relógio de parede badalava a meia noite, o rapaz foi surpreendido por um toque delicado em seu ombro e uma mão de dedos muito finos lhe estendendo uma taça de champanhe.


- Feliz dia das Bruxas - Bellatrix disse, visivelmente tentando fazer parecer que não se importava com o que estava fazendo. - Eu sei que não é a mesma coisa que cerveja amanteigada, mas até que não é ruim.

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