Nova Ousadia



Nova Ousadia


— Não acredito! — Bellatrix atirou com raiva o pergaminho na lareira acesa.

O pedido de visita e o de levar comida regularmente para Lestrange feito por Bellatrix fora recusado. Ela só havia recebido autorização para visitá-lo no Natal. Frustrada, ela empurrou com violência para o chão todos os papéis e livros que estavam sobre a mesa. Snape e Elise apenas miraram-na atônitos - nunca tinham visto Bellatrix perder a serenidade daquela maneira.

— Calma, Bella — falou Elise. — O Natal não está tão longe assim.

— Não está tão longe assim? Lestrange vai ser julgado no dia vinte. Antes do Natal ele já pode estar sendo deportado! — ela exclamou, apoiando as mãos fechadas na parede como se quisesse derrubá-la.

— Bom... ainda temos dez dias até o julgamento — arriscou Snape.

Bellatrix fechou os olhos e pareceu contar até dez antes de se voltar para seus colegas, subitamente calma e recomposta:

— Se ninguém pode evitar que Lestrange seja julgado e deportado, só há uma coisa a ser feita: ele não pode ser julgado.

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Bartolomeu Crouch em pessoa havia assumido a missão de ir a Bucareste interrogar um suposto preso inglês suspeito de integrar o grupo dos Comensais da Morte. Logo ao chegar, foi avisado do estado do preso:

— Ele está meio... hum, desorientado — falou o agente do Ministério romeno enquanto conduzia Crouch à cela de Rodolfo. — Nada do que fizemos adiantou muito. Ele nem mesmo admitiu que morava na casa onde o prenderam, apesar de os testemunhos dos vizinhos provarem isso sem sombra de dúvida. Nunca vi nada parecido.

Crouch ficou sinceramente impressionado com o que encontrou na cela: um homem magro, pálido, completamente apático, quase desfalecido, estendido no chão de pedra e com os olhos desfocados voltados para o teto.

— Senhor Berghner... Meu nome é Bartolomeu Crouch. O Ministério inglês recebeu a informação de que o senhor desejava se comunicar conosco — começou Crouch, falando em inglês e tentando inspirar alguma confiança.

— Não pedi para me comunicar com ninguém — respondeu o preso num romeno carregado, sem tirar os olhos do teto. - O senhor veio aqui para me interrogar?

— Não, não estou aqui para interrogá-lo, o senhor tem toda a liberdade para responder apenas ao que quiser. Mas se espera algum tipo de ajuda nossa, será necessário identificá-lo como cidadão inglês.

— Sinto muito, senhor... Crouch? Estou sendo torturado há semanas nessa prisão e até hoje nunca revelei rigorosamente nada. Por que o senhor acha que eu lhe diria algo assim de bom grado?

Crouch suspirou longamente imaginando que aquele estava destinado a ser um longo dia.

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Bellatrix olhava fixamente para os dois pergaminhos desenrolados sobre sua mesa. Seus olhos escuros faiscavam de expectativa.

Desviou então a atenção para o pulso esquerdo, onde brilhava uma espécie de tatuagem em formato de caveira com a boca escancarada. Por entre os dentes se esgueirava uma cobra.

Olhando para aquela marca, hoje tão clara e viva quanto naquele dia em que Voldemort a tocara com sua varinha para fazê-la, ela sorriu de orgulho. Pressionou a caveira bem na boca com a ponta da unha comprida, sentindo as ondas de poder se espalhando para longe e quase pôde ver o sorriso de seu mestre ao receber o sinal afirmativo.

Apontou a varinha para a lareira e, quase que instantaneamente, seus jovens colegas Comensais em atividade na Romênia começavam a se materializar por entre as chamas, espalhando cinzas.

Ela os recebeu com um enorme sorriso e, sem rodeios, anunciou:

— Temos outro Ministério da Magia para invadir.

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— Senhor Berghner, já disse que posso ajudá-lo! — exclamou Bartolomeu Crouch exasperado ao se deparar mais uma vez com um "vocês não terão nem uma única vírgula de mim" do suposto prisioneiro de nacionalidade inglesa.
O preso esboçou um sorriso irônico e apenas respondeu:

— Não sou inglês. Não tenho nenhum motivo para esperar ajuda do Ministério inglês, mas... — o preso fez uma pausa, inspirou profundamente e acrescentou: - mas qualquer um que possa interceder para que libertem esse professor inocente será de grande ajuda.

— O senhor teria algum parente na Inglaterra a quem queira pedir ajuda? — insistiu Crouch.

— Já disse que sou búlgaro e não tenho nenhum parente na Inglaterra.

Crouch já havia entendido que o prisioneiro estava aproveitando o interrogatório para tentar ganhar tempo, sabia que enquanto o depoimento durasse, as torturas não recomeçariam. Nas últimas horas, tinha tentado manter com ele uma conversa neutra, como o frio que o inverno estava trazendo e o fato de a cela não ter nem mesmo uma manta, à procura de uma brecha em que o preso deixasse escapar alguma coisa.

Mas, mais uma vez, se deparava com a frustração. Nem mesmo quando Crouch dizia que o Ministério romeno já sabia de tudo e tinha provas para condená-lo, o suposto Comensal parecia se abalar.

Já era fim de tarde quando Bartolomeu Crouch resolveu que já era hora de deixar a prisão, sem ter conseguido arrancar do prisioneiro uma única palavra sobre o Movimento Comensal.

— Ouvi um dos guardas dizer que o seu chefe caiu, é verdade? — ele ainda perguntou a Crouch antes deste sair.

— Meu chefe? — o chefe do Departamento de Execução das Leis da Magia do Ministério inglês pareceu confuso. - Ah, você quer dizer o Ministro da Magia! Sim, é verdade. Ele entregou o cargo essa manhã.

— Suponho que o motivo seja aquele Lord Voldemort — o sorriso do preso era tão estranho e indecifrável que Crouch sentiu um arrepio.

— Por que você quer saber? É mesmo partidário direto daquele bruxo insano?

O prisioneiro apenas alargou o sorrindo e assumiu um ar um tanto quanto maníaco em resposta. Crouch acabou concluindo que não havia mais nada a dizer e seguiu seu caminho. Se a lei não conseguiria manter o prisioneiro encarcerado por muito mais tempo, pior para a lei, porque ele sabia que o Ministério romeno daria um jeito de aquele preso não incomodar mais ninguém.

Ele não poderia imaginar que, naquela mesma noite, uma jovem de cabelos negros e olhos sombrios comandaria uma invasão para a libertação de Lestrange.

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Bellatrix e Rodolfo estavam trancados na cabine do velho trem, seguindo para Sofia, capital da Bulgária.
O rapaz estava um tanto quanto abatido e visivelmente fraco. Estava muito mais magro que o habitual, tinha profundas olheiras e seus lábios estavam inchados, com vários cortes ainda abertos - sinal claro de que haviam tentado tirar informações dele com uso de poderosa magia negra.

Bellatrix não perguntara ainda se ele tinha falado algo. Na verdade, desde que tinham embarcado no trem trouxa, não haviam trocado uma palavra sequer, com exceção daquela frase dita por ele em tom de deboche: "Assim você vai ficar especialista em invadir Ministérios!".

No dia 13 daquele mês, temendo que Lestrange fosse deportado logo após o julgamento e ela não tivesse a chance de vê-lo no Natal como lhe havia sido permitido, Bellatrix resolveu tomar uma atitude extrema: escreveu à alta cúpula dos Comensais na Inglaterra pedindo que lhe fosse passado o comando dos militantes na Romênia.

Em 15 de dezembro de 1978, Bellatrix Black foi promovida a chefe de operações e recebeu duas importantes cartas.

A primeira vinha da Escola de Magia e Bruxaria de Durmstrang. A instituição se colocava à disposição para receber a ela e Lestrange quando atravessassem a fronteira com a Bulgária. A segunda era do próprio Lord Voldemort, e a instruía no sentido de selecionar meia dúzia de militantes e orientá-los para a perigosa missão de repetir seu feito e invadir outro Ministério da Magia, dessa vez o romeno.

Agora Rodolfo tinha virado para o lado da janela e, coberto com uma capa marrom emprestada de Bellatrix, dormia profundamente, alheio aos solavancos do vagão e às preocupações da jovem. Ela tinha quase absoluta certeza de que agentes de dois Ministérios da Magia (o inglês e o romeno) estavam, no exato momento, seguindo os passos dos dois. E ela não podia fazer nada a não ser desejar com todas as forças que o trem atravessasse a fronteira com a Bulgária de uma vez e os eles finalmente ficassem em segurança.

Porém, quando faltava muito pouco para que o desejo de Bellatrix se realizasse, o trem todo tremeu e parou subitamente com um solavanco que arrancou as malas dos bagageiros, ao mesmo tempo em que as luzes todas se apagaram de uma só vez.

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