Depois da Tempestade



Capítulo IV

Depois da tempestade

“Hei, amor...- Draco aproximou-se da cama de Gina e segurou a mão dela, fria e pálida.

Gina mantinha os olhos fechados e inconscientes. Sua face estava pálida, embora seus lábios, estranhamente rosados, mantivessem um sorriso fino e singelo.

Já há vários dias que ela estava desacordada. Draco sabia que cedo ou tarde ela abriria os olhos e retomaria a consciência, mas cada segundo que ela mantinha-se imóvel era doloroso.

“Luna disse que você vai acordar em breve, e isso me alegra muito. Ela me falou algo muito superficial sobre o Mortis Vitta e disse que talvez você saiba mais sobre isso do que qualquer outra pessoa. Ela me explicou que não é algo bom, que pode parecer assustador, mas dependendo dá para reverter.

Draco apanhou a varinha, girou-a no ar algumas vezes e fez aparecer um buquê de flores, o qual substituiu o antigo num vaso sobre a mesinha ao lado da cama.

“Mas eu não quero falar sobre coisas ruins agora. Eu nem mesmo sei se você está me ouvindo, espero que esteja e, de algum modo, se lembre disso quando acordar. Eu não vou te pedir desculpas agora, não é justo com você e muito menos comigo. Aprendi que se quisermos mesmo a confiança de alguém e quisermos fazer esse alguém feliz, é preciso sempre falar olhando nos olhos, porque isso transmite confiança. É, eu sei que eu estou parecendo uma criança agora, um garotinho assustado que não se parece nada com um Malfoy, mas eu sei também que eu não sou simplesmente um Malfoy, porque você me faz ser algo muito maior do que um Malfoy, e por isso eu sou capaz de expor meus sentimentos e meus medos pra você.

Por algum tempo Draco ficou calado, admirando a face de Gina que, apesar de tudo, continuava bela. Estava serena, com o semblante calmo e não parecia estar em coma ou algo do tipo. Parecia, sim, estar dormindo, e tendo um sonho bom.

Uma chove fina começou a cair do lado de fora, mas logo se tornou intensa, transformando-se em uma tempestade. Parecia querer castigar a todos lá fora, com raios e trovões, que ecoavam ao redor.

“Acho que Peter está com raiva de mim. Ele não quis em nenhum momento ficar comigo, e quando vem te ver pede que eu saia. Ele me lembra a mim mesmo quando eu tinha a idade dele. Digo, ele age como eu agia com as pessoas que eu não gostava. E ele sempre traz um presente pra você, seja uma rosa, um quadro ou um chocolate. Peter se parece muito com você, Virgínia e precisa muito de você.

Ele remexeu em alguns papéis sobre a mesinha, entre eles pergaminhos, cartas de amigos, exemplares mais novos do Profeta onde, num deles, estava estampada a foto de Cho Chang e alguns comensais, presos por Harry e outros Aurors.

“Sabe o que chegou pra você? Uma carta falando sobre a sua exposição, naquele Museu de Arte do Harry Potter de não sei das quantas. Foi adiado por causa dos acontecimentos e será remarcado assim que você acordar e decidir qual será a melhor data. Também chegou a carta da Escola de Medicina Bruxa, ou algo parecido, requerendo inscrição imediata. Não se preocupe, eu fiz sua inscrição e sua vaga está guardada, em nome de Virgínia Molly Weasley Malfoy. Eu mantive o meu sobrenome, não tem problema, não é?

Draco parou na frente da janela do quarto, admirando a chuva torrencial do lado de fora, escutando vagamente o barulho da água. Apesar de uma cena forte, numa espécie de demonstração de ira da natureza, não deixava de ser bela, bonito e, de certa forma, acolhedora, já que, na sua opinião, “chuva” sempre significara “limpeza”, ou “purificação”

“O sobrenome é nosso, Draco.

O homem pareceu não ouvir, ou simplesmente ignorou as palavras, achando que fosse fruto de sua imaginação ansiosa para que Virgínia acordasse.

“O sobrenome é nosso, Sr. Malfoy.

Dessa vez Draco virou-se e se deparou com um par de olhos castanhos muito vivos fitando-o com atenção.

Na face de Virgínia, o mesmo semblante calmo, a mesma serenidade e o mesmo sorriso maroto, ao mesmo tempo inocente e intenso.

“Virgínia, você...

Ele sorriu e foi até ela, limitando-se, primeiramente, a verificar se estava tudo bem e se aquilo não seria apenas um devaneio de sua mente.

“Você está bem...?

“Estou pronta pra outra.- ela disse, com certa graça.

“Você não perde o seu senso de humor.- ele falou, ainda timidamente- Desde quando está acordada?

“Eu não sei. Não sei o quanto da sua conversa eu ouvi e absorvi. Mas eu ouvi claramente quando você falou meu nome completo.- ela estendeu a mão para ele e o fez chegar mais perto, de modo que ela pudesse abraça-lo.

Foi um abraço intenso e cheio de carinho, sem qualquer vestígio de rancor ou até mesmo lembranças de um ano tenebroso. Havia apenas anseio, admiração, amor reprimido e retraído.

Draco sabia que, por meio daquele abraço, Gina queria apenas o conforto e a proteção de seus braços. Ela ainda estava assustada com tudo o que ocorrera, e só agora podia demonstrar isso. Por isso ele a apertou com força em seus braços, confortando e protegendo-a como apenas ele sabia fazer.

“Vai ficar tudo bem agora, meu amor.

Durante vários minutos Gina chorou no ombro de Draco, sendo abraçada por ele. Chorou simplesmente porque precisava chorar, precisava desabafar tudo o que estava preso. Chorou por ter ficado longe de seu marido durante quase um ano, sem saber o que, efetivamente, tinha ocorrido. Chorou pelo que acontecera no cemitério, pela forma como encontrara Draco, pela lembrança do Mortis Vitta lançado pela Chang. E, no final, chorou por finalmente estar de volta nos braços de Draco.

Do lado de fora a tempestade se acalmava, quase ao mesmo ritmo que as lágrimas de Gina cessavam.

Ao fim, a mulher acabou por dormir nos braços de Draco, que se sentia, agora, aliviado por ela estar bem e ter acordado.

“""""""""""""""""""""""""""

“Ela vai ficar bem agora, não vai, Luna?

“Sim, Draco. Agora que ela acordou a recuperação será bem mais rápida. Inclusive, em dois dias acredito que ela poderá voltar para casa. No entanto, por agora, deixe-a dormir mais um pouco.

“""""""""""""""""""""""""""

Draco girou a chave da porta e deixou que Gina entrasse em casa. Ela parou assim que deu um passo do lado de dentro e ficou observando, atentando-se às mínimas mudanças ocorridas no local.

“Quanto tempo eu fiquei desacordada?

“Quase um mês.

“Sério?- ela deu um sorriso maroto, certificando-se de que, apesar de sua ausência, tudo estava bem, ou mesmo que ficaria bem.

“Sente-se feliz em casa?

“Sim, mas ficarei mais ainda assim que conversarmos melhor, Draco.- ele apontou o sofàindicando que ela sentasse, para que pudesse conversar.

Durante alguns minutos ambos ficaram em silêncio. Olhando-se mutuamente, como se lesses o que os olhos de cada um queria dizer, lendo no brilho do olhar todas as desculpas que Draco queria pedir e todos os perdões que Gina queria dar.

“Virgínia, eu...

“Eu sei de tudo, Draco.

“Sabe? Mas...como?

“Você me disse, com os seus olhos você pôde me dizer tudo há algum tempo e pôde me confirmar agora.

“Você sabe da poção, então?

“Sim, e de todo o resto que possa haver.

“Então...- Gina aproximou-se de Draco, fitando-o de uma forma intensa. Encostou o seu nariz no dele, suas respirações se misturando num pequeno espaço entre seus lábios.

“Eu amo você, Draco Malfoy, e se a culpa não é sua, não tem porque eu renunciar a você. Não tem porque eu me afastar da minha felicidade. Eu só te peço que tenha calma, que me dê um tempo para que eu me acostume novamente com tudo isso.

“Você lembra do que eu te disse há muito tempo, Virgínia? Quando ainda éramos namorados?- ela mostrou um fino sorriso de compreensão- Eu te respeito acima de tudo, te admiro, te amo e te desejo, e é por isso que será como e quando você quiser. Aliás, eu viveria eternamente na castidade se eu soubesse que eu fosse viver eternamente com você, desfrutando de cada momento silencioso, mas infinitamente prazeroso, ao seu lado.- ela sorriu e o abraçou com força e amor, sabendo que nunca mais sairia do lado do homem de sua vida.

“""""""""""""""""""""""""""

“Eu não quero falar com você. Eu não vou falar com você. Eu não gosto mais de você.

“Peter, filho, eu sei que você tem milhões de motivos para me odiar, mas você não deve levá-los em consideração.

“É sério? Fazer a minha mãe sofrer durante quase um ano não é motivo suficiente para eu deixar de gostar de você? Abandonar a gente para ir morar fora com aquela mulher chata também não é motivo?

Peter sentou-se na cama, de costas para o pai, abraçado aos joelhos. A verdade é que ele estava com raiva do pai, queria manda-lo para fora de casa e dizer que, sem ele, sua mãe estava muito melhor, quando eram apenas mãe e filho na casa.

“Sai daqui, eu quero ficar sozinho! Não quero que você entre no meu quarto.- o garotinho falou, friamente. Draco abaixou a cabeça, sentindo seu coração apertar diante do desprezo do filho.

“OK, Peter, faça como quiser. Só não faça nada que magoe a sua mãe, já que, imagino, é o que você menos quer.

Draco virou-se para sair do quarto, mas Peter pareceu considerar as palavras do pai.

“Eu não pretendo magoar a minha mãe.- ele falou, levantando-se e tomando a frente do pai- Eu vou dormir no quarto com ela, se o senhor quiser pode dormir no sofá.- sem esperar resposta, Peter foi até o quarto da mãe e deitou-se ao lado dela, que estava adormecida há algum tempo.

Draco ainda ficou parado por algum tempo, tentando absorver cada palavra cortante e fria de Peter. Mais uma vez o modo como o filho agiu fez com que ele se lembrasse de sua infância e toda a sua arrogância. No entanto. Draco não culpava o filho, pois sabia que de uma forma ou de outra ele tinha todas as razões do mundo para odiá-lo.

“""""""""""""""""""""""""""""""""

“Será mesmo que precisa?
Já vi tanta gente pedindo provas de amor que fico pensando, precisa de motivo pra amar alguém, amar é algo que se pensa em dizer, ou simplesmente seu coração dispara de tal modo que chega a doer no peito?
Dizer eu te amo é apenas uma tentativa de tentar por pra fora aquele sentimento de pura felicidade que você sente só de chegar perto da pessoa amada.
Dizer eu te amo é apenas uma chave para abrir o coração do outro, para compartilhar segredos, para selar confiança mútua.
Dizer eu te amo é somente aquela pequena seqüência de 3 palavras que pode levar alguém as lágrimas.
Dizer eu te amo é apenas tudo que eu tenho vontade de ficar repetindo pra você, mas se fosse assim, eu não poderia dizer pra mais ninguém que estou plenamente feliz de estar contigo, pois só teria palavras pra você, só teria "eu te amo".
Pode ser que eu consiga um dia transmitir algo que supere o "eu te amo" mas até làeu vou continuar repetindo N vezes essas 3 palavrinhas que tão bem fazem ao seu coração.

Felicidade é pra se mostrar pro mundo, não pra se guardar dentro de uma caixa, felicidade precisa de espaço pra crescer, e quero que a minha cresça e envolva todos os que gosto, deixando-os felizes também.

Virgínia Malfoy, eu te amo!

Draco Malfoy”

Virgínia enrolou o pergaminho e, quase que instantaneamente, sentiu os braços de Draco envolverem-na por trás e o queixo dele apoiar-se em seu ombro.

“Obrigada, Draco.

“Pelo quê?

“Pelo seu amor.

“Você não tem o que agradecer, meu amor. Foi você quem me ensinou a amar. E eu gostaria de ter dito isso mais vezes pra você. Eu te amo.

Gina deu um longo suspiro e estampou sua face com um belo sorriso. Sentia-se aliviada por estar novamente com Draco, que seria para sempre o seu grande amor.

“Você se lembra da primeira vez que ficamos assim? Parado na frente da janela, olhando uma fina chuva cair nos jardins e o pôr do sol atrás dos vales?

“Na torre mais alta de Hogwarts. Nós estávamos fugindo do Rony, que estava desconfiando que eu estivesse ficando mesmo com o Dino Thomas e queria acertar as contas. Fora o fato de seu pai ter descoberto tudo e querer que você me deixasse.

“E você se lembra do que eu disse no final?

“Como eu poderia esquecer?

“Pois eu repito agora, Virgínia, que depois dessa tempestade, este será apenas o primeiro pôr do sol que apreciaremos juntos. Este é apenas o primeiro momento que eu fico assim com você, sussurrando ao pé do seu ouvido, prometendo proteger a sua felicidade.

Gina aconchegou-se mais nos braços de Draco, sentindo a respiração lenta dele em seu pescoço.

Do lado de fora a chuva fina dava lugar a um belo pôr do sol e um maravilhoso arco-íris.

Os dois ainda ficaram bastante tempo naquela posição, apreciando a lua cheia que começava a surgir no céu. Admiraram as estrelas e conversaram um pouco mais, silenciosamente com seus pensamentos, pois palavras não eram necessárias para ambos demonstrarem o quanto estavam felizes e o quanto se amavam.

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