Laços Invisíveis



Capítulo II

Laços Invisíveis

Gina sentou-se rapidamente na cama, sentindo o suor escorrer por sua testa. Seu coração batia acelerado e sua mente passava uma a uma as lembranças do pesadelo que tivera.

A mulher assustou-se quando viu dois vultos aproximarem-se dela, deitarem-na na cama e colocarem um pano gelado em sua testa. Em questão de segundos reconheceu os vultos como sendo de Lupin e sua mãe.

-Aconteceu de novo, minha filha.- Molly falou, com um tom pesaroso.

-É o Draco, mãe...

-São apenas pesadelos, meu amor...

-NÃO SÃO APENAS PESADELOS!

-Podem não ser apenas pesadelos, mas não é a realidade.

-Vocês não entendem...- ela sussurrou, permitindo que as lágrimas escorressem livremente por sua testa- ...NUNCA VÃO ENTENDER!- ela gritou e quase que instantaneamente curvou-se contra o próprio corpo, sentindo uma pontada forte na barriga.

-Gina, minha filha, se acalma...- Molly tentou se aproximar, mas Gina a repeliu.

-Sai daqui, mãe...por favor...- ela pediu, com a voz baixa, mas expressando muita dor- Remo, meu amigo, fica...- Molly, relutantemente, saiu.

Remo fechou a porta assim que a mulher saiu e em seguida sentou-se ao lado de Gina na cama, fazendo com que ela se deitasse e ele continuasse com as compressas geladas.

-Você está bem, Gina?- ele perguntou, parecendo muito preocupado.

-Minha barriga dói...e eu estou com medo...- ela começou um tanto calma, mas não se conteve e abraçou Remo, chorando intensamente no ombro dele.

-Se acalma, Gina...por favor...tente se acalmar. Se não por você, faça pelo seu filho.- ele falou, abraçando-a com força, protegendo-a.

-Eu não consigo, Remo. Eu não consigo me acalmar...

-Mas precisa. Por favor não me obrigue a te dar novamente aquele calmante, eu não quero e sei que você muito menos.

-Você acredita em mim?- ela sussurrou, ainda abraçada a ele- acredita que não podem ser apenas pesadelos? Acredita que eu sei o que aconteceu com Draco, por mais que a história pareça absurda? Acredita que eu sei onde ele está agora?- Remo afastou Gina do seu corpo e olhou fundo nos olhos dela.

-Eu não acreditaria se não soubesse o que é isso, Gina. Eu te consideraria louca se eu não soubesse que isso se chama amor e que apenas um amor eterno é capaz de fazer isso que está acontecendo com você. Apenas esse amor infinito que você tem pelo Draco poderia manter entre vocês laços invisíveis.

-Mas minha mãe não acredita...ela é muito tradicional e cheia de crenças...ela não acredita em mim... e eu vi tudo, Remo, desde o princípio. Faz quase um mês que eu venho tendo estes pesadelos, e a cada dia é algo novo, uma angústia nova que eu sinto com ele. Eu vi como ele descobriu sobre a poção do amor, eu senti quando aquela vaca o acertou com o taco, eu sofri quando ele sofreu. E eu estou sofrendo agora.

-Nós vamos dar um jeito nisso tudo, Gina, mas eu preciso que você se acalme, OK? Você disse que sabe onde ele está. Viu isso hoje? Pode descrever o local?

-Tem muita água, é o que mais me lembro...

-Azkaban?- Remo tentou.

-Não...era algo estranhamente conhecido...eu acho que era...mas não pode ser...

-Acha que era o quê?

-Não seria possível, seria?- ela parou um instante, sentindo Remo secar algumas lágrimas de seu rosto- O cemitério...

-Você não está querendo dizer...

-Sim...o local para onde Voldemort me levou naquela época e onde ele foi destruído...

-Mas por que lá, Gina? Não seria óbvio demais?

-Não se pensarmos bem. Depois daquela batalha o cemitério foi alagado e perdeu-se sob a água, mas...há muita magia lá, que impede que o local se perca totalmente...eu sei que há cavernas lá, ou algo do tipo...e para transformar uma daquelas tumbas em um local de cativeiro não é difícil...

-Isso parece sórdido demais, não acha?

-Sim, mas venhamos, qual acontecimento na minha vida que não é sórdido demais e foge aos padrões comuns? Tirando a minha vida, só a do Harry mesmo, porque apenas nós temos, de alguma forma, uma ligação com...- mas Remo a impediu de continuar.

-Você tem razão...sobre tudo aliás...e às vezes eu me assusto com essa ligação que você tem com o Draco, e mesmo com o Peter.

-Como você mesmo disse, meu amigo, são laços eternos. Nossos laços eternos que por mais que sejam fisicamente desfeitos, o amor os manterá... uhm... eternamente...

-Você está mais calma, isso é bom.

-Obrigada, Remo, por estar aqui comigo.

-Estarei sempre, Gina, como estive da primeira vez que precisou de mim.- Remo a abraçou e ela sentiu-se ainda mais agradecida.

-Eu me lembro, Remo, e sempre me lembrarei disso. Obrigada de novo, por tudo.- ela suspirou algumas vezes, sentindo a dor em sua barriga passar aos pouco, e o cansaço a invadindo, fazendo com que ela adormecesse.

Remo colocou-a numa posição confortável na cama e embrulhou-a em seguida. Apanhou um pequeno frasco de poção em suas vestes e fez com que ela tomasse, mesmo estando adormecida. Aquilo faria com que ela se sentisse melhor pela manhã.

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Gina acordou cedo, quando o sol ainda estava nascendo. Não conseguia dormir mais. Assim que abriu os olhos deparou-se com o olhar carinhoso de Remo fixo nela.

-Bom dia, está melhor?- ela sorriu.

-Sim, e sem pesadelos dessa vez. Obrigada pela poção.- ele fez uma cara de confusão- Eu não me lembro de você ter me dado a poção, mas sei que deu, do contrário eu não teria acordado tão bem disposta hoje, teria tido pesadelos, e não estaria afim de me levantar dessa cama para ir atrás do Draco.

-Você não vai...

-Ah vou sim.- ela o interrompeu- Se você está pensando que eu ficarei nessa cama enquanto mandam pessoas inúteis atrás do Draco, você está totalmente enganado, Remo. Sem mim ninguém vai encontrá-lo, acredite no que digo.

-Mas, Gina, o seu estado...

-Nada de mas nem meio mas, Remo. Eu posso estar grávida, mas não estou morta nem inútil, e se eu tenho uma certeza nessa vida, é que eu vou recuperar o Draco, e ele vai saber que vai ter um filho, e nós voltaremos a ser uma família feliz. Aconteça o que acontecer, que demore a eternidade, nossos laços durarão até lá, nossa felicidade esperará até lá, nosso amor sobreviverá até lá!- ela disse num fôlego só e com uma firmeza e certeza que assustou tanto a ela como a Remo- e nós vamos até lá agora!

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Aquele era o mesmo cemitério para o qual Harry e Cedrico tinham sido levados durante o torneio Tri bruxo. Era o mesmo para onde Gina fora levada por Voldemort, e onde este fora derrotado. Com uma única exceção: estava agora alagado.

No entanto, o aspecto pantanoso era sombrio como o de qualquer cemitério. O vento soprava por entre as árvores lodosas e transmitia um som agonizante, um grito de medo ou algo muito parecido. O cheiro de podridão infestava o lugar, e se o efeito já era horrível em pessoas em seu estado normal, era ainda pior em Gina.

Voltar àquele lugar depois de tanto tempo era no mínimo doloroso. Lembranças de um passado faziam questão de invadirem sua mente, lembrando-a de tanto sofrimento que julgara ter esquecido.

“-Voltamos a nos encontrar, doce Gina...- a garota tentava se soltar das cordas que a prendiam, mas era inútil.- Doce Weasley... será que teu querido e amado Potter virá salvar-te? Ah, não, talvez aquele parvo Malfoy venha... é com ele que namoras, não?

Voldemort aproximou-se de Gina, que sentiu seu corpo tremer. Ela olhou para os lados, observando os corpos caídos de seus amigos, se mortos ou desmaiados, ela não saberia dizer.

As mãos pálidas e frias do bruxo tocaram seu rosto, acariciando-o de uma maneira quase obscena e possessiva. Ela sentiu-se enojada, querendo mais do que tudo que aquele martírio acabasse.

-És bela, Virgínia, muito bela...- um sorriso fino e malicioso surgiu na face cadavérica do bruxo, e Gina sentiu medo, mais do que em qualquer outra fase de sua vida.

Ela sentiu as mãos dele percorrerem seu rosto e seu pescoço, passando pelos ombros e pelo colo, descendo à curva dos seios. Ela sentiu seu corpo retrair-se, assustado. O medo crescente a fazia desejar morrer, somente isso. Morrer.

-Ao primeiro salvarás, e este será tua fortaleza, tua vida- Voldemort sussurrou ao ouvido dela, descendo suas mãos pela barriga dela e parando em sua cintura- O segundo não chegarás a ver. Já ao terceiro, nada se pode dizer, vitória perdida.- o bruxo fitou os olhos castanhos da garota, e aproximou seu rosto do dela, até que seus narizes se tocassem- O quarto será concebido durante os desconexos de uma noite- ela sentiu as lágrimas escorrerem pelo seu rosto no momento em que Voldemort levava a mão à calça dela e desabotoava-lhe o botão- E a este, chamarei de meu filho.

Uma das mãos do bruxo acariciou a curva do pescoço de Gina. A mão dele era fria e cortante, passava-lhe uma sensação de angústia, desespero e dor. E então, como se a dor a consumisse, ela fechou os olhos, e não sentiu mais nada.”

-Nós podemos voltar, Gina, se quiser...- ela segurou a mão de Remo, buscando apoio para não cair.

O cheiro a estava deixando tonta e cheia de enjôos, mas o que a mantinha ali era a sensação de estar mais perto de Draco do que imaginava.

-Eu não vou voltar, Remo, não enquanto eu não estiver com o Draco.

-Mas, Gina...você viu como sua mãe ficou...totalmente alterada...seu pai...Rony teve que ficar com eles...

-Ele virá daqui a pouco, você sabe disso, Remo...e virão também Harry e se duvidar todos os meus irmãos...e a Ordem ídem! Vocês não encontrarão o Draco sem mim, Remo...porque eu sei que só eu poderei achá-lo no meio disso tudo...

Em questão de segundos Harry aparatou atrás deles, seguido de Fred, Jorge, Carlinhos, Kim, Tonks e mais alguns aurores.

-Gina...- Harry começou.

-Não adianta.- Remo interrompeu- Ela não vai embora até encontrar o Draco. Ela é uma Weasley, deveríamos nos acostumar com eles. Teimosos para toda a vida.

-Ali.- Gina apontou para um local mais pantanoso e sombrio, e sem esperar que alguém a acompanhasse, ela seguiu sozinha.

-Hei, menina, onde pensa que vai sozinha?- Remo a segurou pelo braço. Gina apoiou-se em Remo para não cair, não agüentando todo o mal estar que sentia- Vamos voltar, Gina. Definitivamente eu não posso deixar você nesse local.

-Não, Remo...por favor...eu preciso que você me leve até lá...- ela apontou novamente para o local.

Remo acenou para Harry e os outros e acompanhou Gina até onde não havia água, e o mais perto possível do local para onde ela apontara. Ela pegou sua própria varinha dentro das vestes e apontou:

-Caminho.- ela disse e, naquele local, a água se partiu ao meio e mostrou, para surpresa de todos, um breve caminho que estendia-se até uma escada, que levava para baixo da água.

-Como você sabia, Gina?- Fred perguntou.

-Eu não sei, eu só senti...eu vi pelos olhos do Draco quando ele passou por isso...um mês atrás...- e Fred ia perguntar alguma coisa novamente.

-Não pergunte, apenas faça o que ela manda.- Remo falou- Confie nela, OK?

-Mas, Remo, isso não é lógico.

-Para ela é, Fred, então não discuta.

As escadas tinham degraus pequenos e incertos, em níveis e tamanhos diferentes. O caminho era escuro, e apenas uma pequena luz ao fundo, bem longe, os guiava para algum lugar.

-Tem pessoas à esquerda.- ela falou assim que constataram que a luz dava para um corredor mal iluminado por tochas grudadas às paredes de barro. O cheiro era ainda pior ali, e os Aurores fizeram feitiços de ‘desolfação’ em cada um ali.- Elas têm varinhas e...eu não sei o que mais...são várias...estão guardando a cela de Draco.- ela deu um longo suspiro e encostou a cabeça no ombro de Remo- Harry e os outros que tiverem capa de invisibilidade podem atacar de surpresa. Desse modo eles não terão tempo de pensar em atacar. Podem dar um sinal verde quando acabar?

Harry, Kim, Tonks e mais três aurores esconderam-se debaixo das capas e rumaram pelo corredor à esquerda. Não se foi ouvido nada durante muito tempo, até que uma luz verde tomou conta do corredor, indicando que eles poderiam ir sem problemas.

O aspecto daquele corredor era ainda mais sombrio e, se algum deles pudesse sentir algum cheiro, perceberiam que era insuportável, mais do que em qualquer outro lugar do cemitério.

Gina reparou que as coisas não estavam bem como o planejado. Se era para ser um ataque surpresa, os estado de Harry demonstrava o contrário. Gina tomou forças para ir até o corpo caído do amigo.

-Harry...- o homem fitou os olhos castanhos dela. O rosto dele estava, aparentemente, queimado, bem como os braços e o tórax. Sua roupa estava quase que completamente rasgada.

-A Chang fugiu, Gina...me desculpa...- ele falou.

-O que aconteceu aqui?- Gina perguntou a Tonks e Kim.

-Não foi difícil acabar com os brutamontes que estavam aqui.- Tonks começou- Mas depois Chang apareceu com mais alguns e nos atacou por trás. Aconteceu tudo tão rápido que não pudemos desviar. O feitiço dela acertou Harry e o desarmou. Ainda assim ele tentou correr atrás dela, mas foi pior porque de repente todos os feitiços se voltaram contra ele.

-Tirem ele daqui. Levem-no para um hospital e depois voltem com reforços. Há muitos restos de comensais por aqui, creio que será um achado para os aurores.- Gina segurou na mão de Remo e guiou-o mais para o fundo do corredor, sendo acompanhado pelos outros que estavam com ele, à exceção de Harry, Kim e Tonks.

-Você sabe mesmo o que está fazendo, Gininha?- Jorge perguntou.

-Indo atrás da minha felicidade, Jorge. Eu não sei porque isso tudo está acontecendo, mas se está, tem um motivo. Eu não sei como eu vim parar aqui, nem as respostas para os meus pesadelos eu tenho, mas agora eu tenho um propósito e ninguém vai me impedir de atingi-lo.

-Mas como acharemos o Malfoy nesse emaranhado de corredores?- Carlinhos questionou assim que eles chegaram a um centro, com quatro corredores ao redor.

-Tentando em cada um dos corredores.- Gina falou, soltando-se da mão de Remo e indo para o corredor à sua frente- ou confiando em mim. Eu disse que sei onde ele está, e eu sei.

Como ela era capaz de conhecer cada corredor naquele lugar, ou mesmo saber onde Draco estava preso, nenhum dos presentes poderia dizer. Aliás, nem mesmo Gina podia responder o porque de tudo o que estava sentindo. Ela apenas sentia e se guiava através disso.

No entanto, mesmo mostrando toda aquela força, Gina estava com medo. Medo de tudo dar errado e, acima de tudo, medo daquela sensação estranha que sentia em seu ventre.

E a sensação piorou quando ela se viu em frente a uma porta de ferro escuro, cheia de trancas e cadeados. ela apanhou a varinha e apontou.

-Bombarda!- a porta foi pelos ares e quando a poeira baixou, Gina viu seu mundo girar. No entanto, ainda teve forças para correr em direção ao corpo estendido e imóvel de Draco- Enervate!- ela falou, virando o corpo de Draco para si.- Enervate!- ela repetiu e sentiu um alívio enorme quando Draco abriu os olhos e fitou-a, com um brilho que só ela podia saber o que significava.

Ela sentiu os braços de Draco a abraçarem de um modo protetor e cheio de saudades e anseio, no instante em que vários vultos entravam no aposento e uma claridade impedisse que qualquer um visse alguma coisa.

-Ora, ora se não é a Weasley dando uma de heroína...- era a voz de Cho Chang, acompanha de vários barulhos estridentes e vozes ao fundo proferindo feitiços dos mais diversos- vindo salvar o seu querido Draquinho?

Gina sentiu o abraço de Draco enfraquecer e aos poucos o corpo dele se soltou do dela e se afastou. Ela tentou gritar, pedindo que ele não se afastasse e que no momento ela precisa senti-lo perto dela. Mas nenhuma voz saiu de sua garganta.

Ela tentou se levantar, mas não conseguiu. Tentou apanhar sua varinha, mas esta parecia pesada demais. Tentou levantar a cabeça para ver onde Draco estava e o que estava acontecendo, mas nem isso foi possível. Ela apenas podia ouvir.

-Você não vai encostar nela, Chang.- foi a voz de Draco, e mais uma vez ela sentiu os braços dele a envolverem e sentiu-se grata por isso.

-É mesmo, Draquinho?- ela gargalhou- Você não acha que está muito fraco para protegê-la não? Amazzare!- Gina sentiu os braços de Draco envolverem-na com mais força e, em instantes, ambos estavam sendo arremessados contra uma parede.

As costas de Draco bateram com força contra as pedras e ele não conseguiu manter-se acordado. No entanto, ainda envolvia Gina de um modo protetor.

-Agora você, Gininha...- Gina viu a varinha de Cho apontada para o ventre dela. Não teve tempo de pensar em nada- Mortis Vitta!

O feitiço atingiu em cheio o ventre de Gina e a dor era excruciante, o que a impedia de gritar. Suas forças foram se esvaindo aos poucos e ela sentia como se sua vida, ou parte dela, fosse perdida.

-Impedimenta!- ela ouviu uma voz conhecida gritar, no instante em que a dor parava e seu corpo desfalecia junto ao corpo de Draco.

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