Uma amizade especial



O Natal do quarto ano foi mais difícil. Não que nos outros anos ela houvesse se sentido querida de fato na casa do avô, mas de qualquer modo, tinha uma família para voltar. Agora, sozinha, vagabundava na neve sentindo um frio intenso, ou percorria os sombrios corredores do castelo buscando companhia, conforto e calor das pessoas. Poucos permaneciam em Hogwarts, e ela também não tinha feito tantos amigos assim. Suas “características” de trouxa lhe fechavam algumas portas, e a timidez se encarregava de algumas outras.

Numa tarde, tentava desesperadamente usar a varinha num feitiço de fogo simples, mas só conseguia produzir ondas de energia que movimentavam as coisas em volta do objetivo. Já estava ficando exasperada, com o rosto esfogueado pela concentração. Não percebeu o garoto alto que se aproximava suavemente por trás, com um sorriso condescendente nos lábios, parecendo se divertir com a cena.

- Calma, lufaninha! Deixa que eu te ajudo.

Meneou a varinha e acendeu rápido o fogo sob o pequeno caldeirão. Ela o olhou sem graça, mas a expressão suave e risonha a desarmou de qualquer constrangimento. Já o havia visto várias vezes pelo castelo nesses quatro anos. Andava sempre com outros três rapazes, todos da Grifinória, mas não se lembrava de já ter falado com ele, ou sequer que ele sabia quem ela era. De qualquer jeito, era muito bom ter alguém para conversar.

Algumas vezes ela o vira meio adoentado, mas agora estava firme ali, sorrindo, divertindo-se com a cena de uma bruxa que não sabia acender um caldeirão.

Ele lhe pareceu tão bonito com aquele sorriso aberto nos lábios, os olhos aguados, brilhantes, apesar das duas cicatrizes tênues que cortavam seu rosto de um lado a outro. Tinha planejado fazer um chá quentinho, apesar de não gostar nem um pouco de chá. Mas era difícil conseguir café ali, café trouxa. Tinha leite e chá, e o convidou para fazer e tomar com ela. Quando o viu enfiar a mão no bolso da veste e tirar um pedaço de chocolate, teve a feliz idéia de um chocolate quente. Isso ela gostava. Lembrou da mãe.

Soube que ele precisou passar o Natal em Hogwarts. Ele dissera que foi porque seus pais precisaram ir a algum lugar, mas Heloísa sabia, “sentia”, que o professor Dumbledore estava tentando fazê-la se sentir melhor, dando-lhe a companhia dele. Depois desse dia, ela e Remus Lupin tornaram-se amigos.

Sempre que havia visita dos alunos ao povoado bruxo de Hogsmeade, na vizinhança da escola, a professora Minerva McGonagall ficava em alerta máximo. Novos rumores de ataques a bruxos e trouxas com requintes de crueldade deixavam pais e professores apavorados. A regra geral era só andarem em bandos. Nenhum aluno deveria andar sozinho fora de Hogwarts.

Sabia-se que os estudantes do sexto e sétimo anos estavam sendo preparados com treinamento especial para defesa e proteção. E os que pretendiam seguir carreira de auror tinham seus estudos intensificados.

Heloísa poucas vezes fora a Hogsmeade neste ano. Era um vilarejo com casas, lojas, gente que vive e trabalha. Bruxos, mas gente com vida comum. Isso sempre a remetia às escolhas e caminhos à sua frente, na sua vida. Ela não tinha pensado com determinação a esse respeito e sentia-se perdida e angustiada, sem saber o que faria de si mesma.

Por duas vezes Remus a chamou para ir com ele a Hogsmeade, mas ela sabia que o garoto ficaria às voltas com aqueles amigos grifinórios, omitindo-se dos problemas que eles mesmos causavam, como nas vezes em que eles implicavam com Severus usando-a como desculpa para atingi-lo, mexendo com os sentimentos e a masculinidade dele. “Garotos conseguem ser bem horrorosos, às vezes”.

Tinha conhecimento que Severus revidava, mas eles eram mais, e mais seguros de si, orgulhosos de suas façanhas, talvez vindos de mundos onde eram bem aceitos. Essa rixa se estendeu anos a fora, com conseqüências desastrosas para todos.

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