Legilimência



Sombras do Passado
escrito por BastetAzazis


Sumário: Outra tragédia na família Malfoy, e Isabelle acaba fazendo um pedido a Severo, ou talvez sejam dois ...

DISCLAIMER: Os personagens, lugares e muitos dos fatos desta história pertencem à J. K. Rowling, abaixo são apenas especulações do que pode ter acontecido com alguns de nossos personagens favoritos!

BETA-READERS: Ferporcel e Suviana – muito, muito, muitíssimo obrigada!

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Capítulo 18: Legilimência

A semana seguinte ao Festival de Wall foi, por muito tempo, lembrada como a semana mais triste em Hogwarts pelos seus alunos. Os exames foram cancelados, e muitos pediram para voltar para casa mais cedo. Ninguém queria continuar longe da família depois de presenciar um ataque tão violento de Você-Sabe-Quem e seus Comensais da Morte. A morte de uma ex-professora e do atual monitor da Lufa-lufa eram desculpas suficientes para Dumbledore dispensar os alunos mais sensíveis.

Remo Lupin, embora não tivesse presenciado os acontecimentos em Hogsmeade, parecia um dos mais afetados com tudo. Entretanto, seus amigos sabiam que o que mais aturdia o amigo lobisomem era o fato de que ele quase atacara um aluno da escola. Não importava que fosse o Ranhoso, ele jamais se perdoaria se condenasse outra pessoa a viver a mesma vida que ele. Com isso em mente, ele seguiu até o escritório de Dumbledore na primeira oportunidade e largou seu distintivo de monitor na mesa do Diretor.

Dumbledore apenas o olhou curioso, então ele explicou:

– Eu não posso ser responsável por toda a minha Casa se sou um perigo para a escola. Não quero nem pensar no que teria acontecido se...

– Não foi sua culpa, Remo – Dumbledore o interrompeu.

– Foi sim – ele respondeu. – O senhor confiou em mim quando permitiu que eu freqüentasse Hogwarts, e eu traí essa confiança. Eu contei a Sirius e Tiago sobre o esconderijo, e isso quase nos levou a uma tragédia. Eu não mereço esse distintivo.

Dumbledore assentiu com a cabeça.

– Eu entendo. Entretanto, esta é a última semana de aula, e muitos alunos já partiram para casa. Eu vou comunicar aos demais professores que outro aluno da Grifinória deverá ser considerado quando nos reunirmos para decidir sobre os próximos Monitores-Chefes.

Remo assentiu com a resposta do Diretor e pediu para se retirar. Não lamentava ter que desistir de seu título de monitor, não achava certo que um monstro como ele fosse visto como um aluno modelo.

Quando chegou à biblioteca para encontrar seus amigos, viu Tiago sentado em outra mesa com Lílian Evans. Desde a morte de Diggory os dois pareciam mais próximos. Lílian estava grata pelo que ele e Sirius fizeram, conduzindo-a de volta à Hogwarts por uma passagem secreta e longe dos olhares curiosos dos seus colegas da escola. Desde então, ela começou a se aproximar cada vez mais deles, e Tiago parou de se comportar como um moleque impossível, surpreendendo-a com a maturidade que exibia nas ocasiões em que estavam juntos. Talvez os acontecimentos que testemunharam fizeram com que eles amadurecessem antes do tempo, como o chapéu seletor já havia previsto há muitos anos, mas que apenas o Diretor Dumbledore entendera.

*-*-*-*-*-*-*-*

Na sala comunal da Sonserina, o mesmo clima melancólico pesava entre seus alunos. Nem todos souberam com antecedência do ataque à Hogsmeade no final de semana, e muitos não sabiam que o grupo vestido de preto que atacara Diggory era formado por seus colegas de Casa.

Isabelle e Severo voltaram a se falar, mas não era como antes. Ambos sabiam que haviam perdido a chance que alguma vez no passado tanto esperaram para atravessar a linha que separava sua amizade de algo ainda mais profundo. Ambos haviam magoado um ao outro e agora permaneciam por perto numa tentativa vã de que um dos dois finalmente reconhecesse seu erro e voltasse atrás. Feito praticamente impossível, já que o orgulho dos Malfoy ou a teimosia dos Snape sempre falava mais alto.

Ela ainda não entendia porque o Diretor Dumbledore fingira que não vira Tiago e Sirius em Hogsmeade. Quando ela chegou no castelo, Sirius a esperava perto da estátua da bruxa de um olho só com a capa da invisibilidade, e ambos saíram correndo para a biblioteca, onde Tiago já estava, fingindo ter passado a tarde inteira copiando frases. Assim que ocuparam seus lugares, Filch e o Diretor entraram na biblioteca, mas Dumbledore apenas os avisara que estavam liberados da detenção e que podiam seguir para suas salas comunais. Apesar de terem fugido de uma detenção e deixado o castelo sem a autorização de um professor, Dumbledore parecia ter considerado que a visão de uma guerra de verdade e das suas conseqüências fora um castigo mais que suficiente para que os três aprendessem sua lição. Sentada à mesa da Sonserina, tomando seu café da manhã, Isabelle imaginava que talvez o Diretor estivesse correto. Olhando de relance para a mesa dos professores, percebeu que Dumbledore a considerava com um sorriso no rosto. O que esse velho tolo quer de mim? Mas não teve tempo de imaginar uma resposta, pois uma enxurrada de corujas entrou pela janela, inclusive a sua, entregando-lhe uma carta do irmão.

Ela pegou a carta e alimentou a coruja com um pedaço de torrada do seu prato. Lúcio afirmava que estava bem depois do ataque à Hogsmeade e que a verdadeira razão daquela carta era a repentina melhora da mãe. Ela estava falando, ainda com alguma dificuldade, e pedia desesperadamente pela presença da filha. Como muitos alunos já haviam sido dispensados da última semana de aula, Lúcio também escrevera para o Diretor Dumbledore pedindo que liberasse Isabelle para voltar para casa mais cedo, mesmo sabendo que os demais alunos partiriam no dia seguinte.

Isabelle levantou os olhos do pergaminho com uma expressão esperançosa. Explicou em poucas palavras o que acontecera a suas amigas e correu para seu dormitório arrumar o malão. Antes do almoço já estava partindo para casa.

*-*-*-*-*-*-*-*

Severo estava em Hogsmeade naquele dia, junto com os demais alunos que já haviam completado dezessete anos e agora esperavam ansiosos a hora de fazer a prova para ganhar a autorização para aparatar pelo Ministério. Lamentou não ter encontrado Isabelle antes que ela partisse para casa, mas estava feliz com a notícia da recuperação da mãe dela. Desde que a conhecera que ele sabia como ela se preocupava com a mãe, e mesmo sem nunca ter lhe dito qual era o problema, ele sabia que era alguma coisa muito grave, pois a mãe de Isabelle ficara presa a uma cama por mais de seis anos. No dia seguinte, ele também deixou Hogwarts, fazendo planos com seus amigos para retornarem às programações das férias passadas.

Entretanto, no sábado de manhã, seu primeiro dia de férias, seu avô o acordou cedo dizendo que deveriam partir logo para a Mansão Malfoy. A Sra. Malfoy, depois de uma melhora súbita, falecera naquela madrugada, e os funerais ocorreriam logo pela manhã. Severo levantou-se rapidamente e correu para se arrumar. Ele se sentia na obrigação de encontrar Isabelle e ver como ela estava, afinal, foi a ela que ele recorrera quando descobrira que sua mãe fora morta por um bando de trouxas.

Quando chegaram à mansão, Severo cumprimentou Lúcio e Narcisa Malfoy e foi até Isabelle. Ela parecia abatida, não havia nenhum brilho no olhar, mas ao mesmo tempo, ela permaneceu impassível durante toda a cerimônia. Aquilo o fez lembrar do funeral da sua avó; assim como seu avô anos atrás, nenhum membro da família Malfoy derrubou uma lágrima na frente de seus visitantes, eles não demonstravam seus sentimentos em público. Entretanto, quando chegou perto dela, ela o abraçou fortemente sem dizer uma palavra, mas como se não quisesse mais largá-lo. Ele retribuiu o abraço, e os dois ficaram ali, Severo consolando-a em silêncio por um momento eterno, até que ela o soltou e murmurou simplesmente em seu ouvido:

– Obrigada.

Eles apenas se olharam, palavras não eram necessárias.

Severo a deixou com os outros amigos da família que vieram deixar seus pêsames e seguiu seu avô. Não conseguiu mais falar com Isabelle até a hora que o Sr. Prince o chamou para saírem.

Alguns dias se passaram sem que Severo tivesse notícias de sua amiga. Enquanto se arrumava com algumas roupas trouxas, ele pensou que talvez devesse mandar uma coruja para ela e visitá-la no dia seguinte. Ainda sentia-se mal por ter usado seus talentos de Legilimência nela, mas sabia pelo que a amiga estava passando, e por mais que ela o odiasse pelo que fizera na noite do Festival de Wall, ela precisaria de um amigo por perto, assim como ele precisou dela uma vez.

Aparatou num beco escuro na Londres trouxa, onde ele e seus amigos costumavam aparecer quando ainda precisavam de uma Chave de Portal para se transportar. Evan e Roberto já estavam lá, esperando pelos outros.

– Paulo já deve estar chegando com as meninas – Roberto comentou depois que se cumprimentaram.

– Meninas? – Severo perguntou.

– Sim – Evan respondeu. – Eu chamei a Ana – ele e Ana Goyle, uma sonserina também do sexto ano, começaram a namorar algumas semanas antes do final do ano letivo –, e ela acabou convidando as outras meninas. Como nem elas e nem o Paulo podem aparatar, virão com uma Chave de Portal.

Assim que Evan terminou sua explicação, o restante do grupo apareceu. Seu amigo Paulo Wilkes, Ana Goyle e suas colegas de quarto, incluindo Isabelle Malfoy. Ela cumprimentou Severo com a mesma indiferença com que cumprimentou os outros e então seguiu à frente do grupo, abraçada a Paulo, os dois visivelmente bêbados.

Severo observava a cena com uma sobrancelha levantada. Ana saiu de perto do namorado e o alcançou.

– A Belle está muito estranha depois de... você sabe – ela disse baixinho para Severo. – Ela me disse que precisa tomar poções para dormir todos os dias e agora, bebendo desse jeito... Eu sei que você é o único capaz de controlá-la, então, por favor, não a deixe fazer nada que possa se arrepender depois, tá?

– Eu... – Severo queria responder que não mandava em Isabelle, que não era nada dela, mas Ana já havia voltado para o lado de Evan. Deixou-o refletindo se ele realmente não se importava com ela. Ele se importava, sim; e muito.

Quando Isabelle e Paulo chegaram à porta do pub para onde todos estavam se dirigindo, Severo observou com olhos arregalados que ela e as outras meninas já eram bem conhecidas no lugar. Não era apenas ele que gostava de se divertir em Londres, então. Mas o que fez seu queixo cair foi a Isabelle Malfoy que apareceu à sua frente assim que ela tirou o sobretudo preto que a cobria. Ela estava vestida, ou talvez quase despida, apenas com uma mini-saia, um top curto que realçava ainda mais seus seios abundantes, e uma bota com salto finíssimo até a altura dos joelhos. Acostumado a vê-la apenas com o uniforme da escola ou outras vestes de bruxa, ele jamais imaginaria que todo aquele pano escondia um corpo como aquele. A visão era tão estonteante que ela nem precisava de uma poção para envelhecer para que permitissem sua entrada, os porteiros do pub ainda a admiravam de boca aberta enquanto permitiam a entrada de todos os seus amigos.

Mas Severo só se deu conta que sua noite não seria tranqüila quando a observou seguir para o meio da multidão na pista de dança, junto com suas amigas. Ele observava os trouxas que se aproximavam delas, os mesmos olhares que ele mesmo já dispensara a outras garotas. Mas eram garotas anônimas, trouxas, sem importância. Isabelle Malfoy não era para ser observada com aqueles olhares maliciosos, mesmo que fosse impossível deixar de olhar para um corpo daqueles. Uma fúria inexplicável apoderou-se dele assim que viu um grupo de rapazes trouxas cochichando alguma coisa no ouvido dela. Atravessou a muralha de pessoas que se amontoavam na pista de dança e a agarrou pelo braço, levando-a até uma mesa num canto escuro do pub.

– O que você pretende, Isabelle? – ele gritou com ela, irritado.

– Me larga, Mestiço – ela exigiu. – Quem é você para cuidar da minha vida?

Severo não respondeu. Ela estava certa, ele não tinha o direito de se meter na vida dela, mas só de pensar nela com outro o machucava, agora ele via que não conseguia livrar-se dessa doença.

Isabelle sentou em cima da mesa e o enlaçou com as pernas, obrigando-o a aproximar-se ainda mais dela. Ela alcançou a nuca dele com uma das mãos e fez a cabeça dele inclinar-se até sua boca e o beijou. Não era um beijo apaixonado, ele sentia a língua dela explorando sua boca, mas era mais como uma tentativa desesperada de alcançá-lo, de tocá-lo.

– Você estava com ciúmes, não estava? – ela perguntou assim que soltou seus lábios. – Se você ainda me quer, essa é a sua chance, Mestiço. Eu cansei de ser certinha. E se você não quiser, eu encontro outro que queira.

Ela ficou olhando para ele desafiadoramente, esperando sua próxima reação. Severo não disse nada, mas a agarrou pelo braço novamente e a fez segui-lo até a saída. Ele a arrastou até o beco onde havia aparatado algumas horas antes sem dizer uma palavra. Quando finalmente pararam, ele a encostou na parede, apoiando-se nos dois braços para prendê-la.

– Você tem certeza que é isso o que quer? – ele perguntou com os olhos fixos nos dela.

Isabelle não respondeu, estava assustada com o comportamento de Severo. Ela tentou virar o rosto, mas ele segurou seu maxilar, obrigando-a a encará-lo.

– Você está agindo como uma vagabunda trouxa.

– Eu não me importo – ela respondeu, algumas lágrimas começando a brotar em seus olhos. – Eu cansei de agir me preocupando em nunca “desonrar o nome da família”. Pra quê? Eu provavelmente sou a única virgem em Hogwarts!

Severo recuou com o que acabara de ouvir. Ele tinha certeza que ela e Sirius... Mas isso não importava agora, Isabelle devia estar realmente bêbada para lhe fazer confissões tão íntimas. Ele soltou o rosto dela e também se afastou um pouco, dando-lhe mais espaço.

– E por causa disso você tem que vir se oferecer para um bando de trouxas?

Ele viu o rosto dela corar e as lágrimas caírem numa enxurrada. Isabelle jogou-se nos seus braços e, chorando, pediu para que ele a levasse para casa.

Severo vestiu-a com o sobretudo que pegara na saída do pub e abraçou-a fortemente para aparatá-la até o quarto dela na Mansão Malfoy. Quando a soltou, ela ainda estava chorando. Eles se olharam por um momento em silêncio até que Isabelle finalmente falou, sem conseguir encará-lo:

– Eu estraguei sua noite, não foi? Me desculpe. E obrigada por me trazer para casa.

Severo sorriu e levou uma mão ao queixo dela, fazendo-a levantar o rosto para ele.

– Você não tem que se desculpar – ele disse. – Eu deveria saber que você precisaria de um amigo nesses dias. Eu já passei por isso.

Isabelle sorriu de volta para ele, e os dois ficaram novamente naquele silêncio embaraçoso.

– Eu... é... – Isabelle balbuciou meio sem jeito. – Acho melhor eu trocar de roupa.

– Claro – Severo respondeu. – Eu vou embora, então.

– Não – ela respondeu rapidamente.

Severo a considerou com as sobrancelhas levantadas, e ela continuou, mordendo os lábios:

– Eu vou ser rápida. Você só precisa se virar e prometer que não vai espiar. – Ela tentou fazer uma piada, mas saiu ainda mais estranha.

Severo continuou observando-a, também não se sentia a vontade com aquela situação.

– Eu não vou conseguir ficar mais uma noite sozinha aqui – ela acrescentou num tom suplicante.

– Mas e o seu irmão? E a mulher dele? – ele perguntou.

Isabelle não disse nada, apenas continuou encarando-o, implorando com os olhos. Ela não precisava responder. Ele sabia o que ela queria dizer. Ele sentia o mesmo com relação ao seu avô. Deu um suspiro e caminhou até uma escrivaninha no outro lado do quarto, ficando de costas para ela.

Enquanto Isabelle trocava de roupa, vários frasquinhos de poções com o selo do St. Mungus na escrivaninha dela chamaram a atenção de Severo. Pela quantidade de frascos vazios, ela estava tomando muito mais que a dose recomendada. Ele olhou com pesar a fila de frascos vazios: Poção Calmante e Poção para Dormir; Isabelle estava realmente com dificuldade em aceitar a morte da mãe. Ele passou os olhos novamente pela fila de frascos fechados e encontrou o que procurava: Poção Celina. Também servia como uma Poção para Dormir, mas era mais fraca e não faria mal se ingerida junto com álcool.

Sentiu uma mão em seu ombro e então se virou. Isabelle estava parada à sua frente, vestida com uma camisola e um robe de seda. Ele a observou caminhar até a cama e indicar para que ele fosse até ela. Intimamente, Severo se perguntou como conseguiria se controlar com Isabelle o tentando, mesmo que involuntariamente, tantas vezes num mesmo dia. Ele sentou-se na beira da cama e, sem saber o que dizer, entregou-lhe o frasco com a poção.

– Tome. Vai fazer você dormir melhor.

Ela pegou o frasco da mão dele e tomou num gole só. Severo tirou o frasco então vazio da mão dela e o colocou na mesinha de cabeceira.

– Obrigada – ela disse, observando-o cuidar dela com tanta atenção. Então, mordendo os lábios, ela lhe pediu: – Você vai ficar aqui comigo, não vai?

Severo sorriu, acariciando-a no rosto. Depois, com um beijo na testa, respondeu:

– Está bem, eu fico até você dormir.

Ela sorriu para ele e então disse:

– Você deve estar me achando uma criança, não é? Mas é que esses últimos dias foram tão complicados... Eu acho que finalmente entendi que estava fazendo tudo errado e agora eu não sei mais o que fazer. Essa noite eu só queria esquecer...

Ela terminou a frase com um suspiro. Severo achou que ela não falava coisa com coisa porque já estava sob o efeito da poção.

– É melhor você se deitar – ele começou.

– Por que você está fazendo isso tudo comigo? – ela perguntou de repente, sem lhe dar ouvidos. – Por que você tem que ser tão bom comigo depois de tudo que eu fiz pra você? Você deveria me odiar...

– Eu não odeio você, Isabelle – ele respondeu. – Você é minha amiga, talvez minha única amiga. Eu jamais vou odiá-la.

– Mas... – ela recomeçou, olhando fixamente para Severo. – Então por que você me rejeitou hoje? Você não gosta mais de mim, não é?

Severo passou a mão no cabelo dela e sorriu carinhosamente antes de responder:

– É justamente porque eu ainda gosto de você. Se nós ficarmos juntos, eu quero que você se lembre de mim quando acordar no dia seguinte.

Isabelle sentiu um frio na barriga quando ouviu aquilo, mas não conseguia mais raciocinar direito. Sentia o corpo mole por causa de todo o álcool que ingerira, ou talvez por causa da poção, ou talvez ainda por causa do que acabara de ouvir. Incapaz de formular uma frase coerente, ela simplesmente deitou-se embaixo das cobertas com um sorriso de ponta a ponta no rosto e fechou os olhos.

Severo sorriu para si mesmo. Ele tinha Isabelle exatamente onde sempre quis. Agora sabia que jamais a esqueceria, que sempre estaria por perto para protegê-la, e que ela sentia o mesmo por ele. Inclinou-se para beijá-la no rosto e então sentiu que ela o segurava pelo braço.

– Por favor – ela balbuciou de olhos fechados –, fique aqui comigo.

Severo deitou ao lado dela, e ela aninhou-se nos seus braços enquanto ele usava um feitiço para escurecer o quarto. Ela dormiu, e Severo permaneceu em silêncio, mas não conseguiu dormir. Ele tentava reprimir toda a excitação que tomava conta do seu corpo. Estava com Isabelle em seus braços, e seu corpo implorava para que a beijasse e a abraçasse com mais força. Mas sua mente lhe dizia para esperar, que ela era diferente, que não devia se aproveitar desse momento. E pela primeira vez, ele obedeceu sua mente, mesmo sem entender o que era aquele sentimento que colocava Isabelle acima de todo o seu querer ou suas prioridades.

Ele permaneceu deitado ao lado dela o restante da noite, os pensamentos viajando através das lembranças que tinha dela, do toque dela, dos beijos desastrados, das suas tentativas vãs de esquecê-la através de uma sósia. Franziu a testa com a última lembrança e então, certificando-se que Isabelle dormia calma e profundamente, levantou-se e desaparatou para o seu próprio quarto.

*-*-*-*-*-*-*-*

No dia seguinte, Severo acordou com as batidas insistentes de uma coruja em sua janela. Já era tarde, mas seu avô sempre o deixava dormir até mais tarde quando ele saía com seus amigos sonserinos. Ele esfregou os olhos enquanto levantava da cama e sorriu ao reconhecer a coruja. Isabelle – pensou.

Era um simples bilhete. Ela o agradecia pela noite passada e gostaria de saber se poderia visitá-lo na Mansão Prince nesta noite, uma vez que sabia que o irmão dela e o avô dele não estariam em casa. Severo respondeu prontamente, e o resto do seu dia foi uma espera exaustiva até a hora do jantar, quando seu avô partiria para se encontrar com o Lorde das Trevas, e Isabelle poderia, então, aparecer na lareira.

Ele estava no quarto, deitado na cama, fingindo ler atentamente um livro que pegara da biblioteca do avô e checando a lareira de minuto em minuto. Finalmente as chamas tornaram-se esverdeadas, e no instante seguinte, a figura de Isabelle formou-se nas chamas, e ela pisou em seu quarto.

– Olá, Mestiço – ela cumprimentou parecendo um pouco nervosa. – Eu disse que vinha, não disse?

Severo lutou para parecer indiferente, mas não conseguiu impedir o sorriso que se formou em seu rosto. Ele caminhou até onde ela estava e parou na frente dela, sem saber o que fazer ou dizer. Foi Isabelle quem quebrou o silêncio:

– Desculpe aparecer assim – ela começou meio sem jeito, mordendo os lábios e tentando desviar o olhar –, mas eu precisava lhe pedir um favor.

Severo levantou uma sobrancelha, fechou o sorriso, mas não disse nada.

– Aquela noite, no Festival de Wall – ela continuou –, você usou Legilimência. Eu quero aprender isso, e quero aprender a me defender disso também.

– Isabelle, eu não...

– Por favor, Severo – ela suplicou. – Eu preciso. Eu sei que você aprendeu com o Lorde das Trevas, mas eu não posso pedir isso para ele. – Ela estava quase chorando.

Novamente aquela sensação de que deveria proteger Isabelle o invadiu, e ele passou um braço pelas costas dela e a levou para sentarem-se na cama. Mais uma vez ela frustrara suas expectativas, mas isso não tinha importância, ele estava realmente preocupado com ela.

– Primeiro – ele começou sério –, você vai ter que me explicar o que pretende com isso.

Isabelle balançou a cabeça, fitando o chão.

– Eu não posso ensiná-la Oclumência ou Legilimência se você não confiar em mim – ele continuou.

– Eu não posso – ela respondeu. – É uma promessa que eu fiz para minha mãe antes dela morrer. Eu não posso contar. – As lágrimas finalmente começaram a escorrer dos olhos dela. – E eu também não sei se vou conseguir fazer o que ela me pediu, não sem aprender a controlar a minha mente.

Severo a fez levantar o rosto para encará-lo, e só então falou:

– Isabelle, eu quero ajudar você, mas você sabe que eu vou acabar entrando na sua mente novamente. Eu não devia ter feito isso aquele dia e não vou mais fazer isso se você não me der um bom motivo.

– É uma Dívida de Morte, Mestiço – ela respondeu. – Você sabe o que é isso? Eu não posso contar o que é e eu não tenho escolha senão fazer o que ela me pediu.

Isabelle explicou-lhe então que, quando sua mãe estava prestes a morrer, ela a fez prometer que terminaria uma tarefa que a mãe ficou impossibilitada de realizar. Ele não sabia, mas a Sra. Malfoy era profunda conhecedora de magia antiga e usou o amor que unia mãe e filha para garantir que seu pedido fosse cumprido. A Dívida de Morte era semelhante ao Voto Perpétuo, que eles haviam aprendido no ano passado, com a diferença de que não precisava de um avalista e só funcionava entre pessoas que se amavam incondicionalmente, e quando uma delas estava à beira da morte. Outra diferença era que a pessoa que recebia a dívida era obrigada a cumpri-la, não porque estava ameaçada de morte, mas simplesmente porque ela era compelida a realizar o último desejo de um ente querido. Severo não entendeu muito bem esta última parte, mas lembrou-se do que Dumbledore uma vez comentara sobre o amor ser uma forma muito poderosa e antiga de magia.

– Então – ele concluiu assim que ela terminou de explicar –, você precisa aprender Legilimência e Oclumência para terminar essa tarefa?

Ela apenas assentiu com a cabeça.

– Muito bem, então. – Ele sentou-se na cama de pernas cruzadas, e ela o imitou, ficando de frente para ele. Severo continuou, assumindo o tom explicativo como sempre fazia quando tentava ensinar-lhe sobre os procedimentos nas aulas de Poções. – Acho que é mais fácil começarmos com a Legilimência. O encanto é fácil, Legilimens, mas você tem que olhar fixamente nos meus olhos e se concentrar bastante. Seria mais fácil você tentar numa mente mais fraca antes, como o seu elfo doméstico, mas vamos ver o que você consegue fazer.

Ela olhou em dúvida para ele e se concentrou no encanto. Severo a encarava com seus olhos pretos, certo de que ela jamais conseguiria quebrar suas defesas. Afinal, ele conseguira enganar o próprio Lorde das Trevas, escolhendo as informações que permitiria que ele visse. Estava certo que, se quisesse, seu mestre jamais entraria na sua mente; mas ele era esperto, e não deixaria que o Lorde pensasse que ele podia estar escondendo alguma coisa dele.

– Eu não consigo. – Ele ouviu a voz de Isabelle.

Severo considerou por um instante e depois sugeriu:

– Tente lançar o feitiço em voz alta. Eu já sei que você vai usá-lo em mim mesmo, e você ainda não tem muita prática com ele para usá-lo na forma não-verbal.

– Está bem – ela disse. – Legilimens!

Severo se concentrou nos olhos cinza que o encaravam. Agora ele sentia que eles tentavam vasculhar a sua mente, procuravam alguma coisa, qualquer coisa, apenas para terem confiança de seguir em frente com as lições. E agora ele tinha certeza, ele amava aqueles olhos. Ele amava a dona daqueles olhos, que era capaz de irritá-lo com um apelido tolo e ele era incapaz de revidar. A quem ele gostava de irritar com seus comentários irônicos ou seu sorriso falso. Agora ele entendia o aperto no peito que sentia toda vez que a via junto de Sirius, ou o frio na barriga quando ela se aproximara tanto dele na noite passada. Como ele lamentava aquele beijo ousado, anos atrás, que a fizera fugir assustada, e que agora, o deixava receoso de tentar mais uma vez. Como ele lamentava ter tentado esquecê-la no último ano, quando tudo o que ela queria era se aproximar dele novamente. Como ele lamentava ter invadido a mente dela há algumas semanas, apenas por ciúmes, fazendo-a se sentir usada, violentada.

Então, ele percebeu que essas coisas vinham espontaneamente na mente dele e lembrou-se que Isabelle estava à sua frente, aprendendo Legilimência. Com esse pensamento, ele sentiu que seus olhos estavam livres para se desviar, e Isabelle não o encarava mais.

Ele olhou para ela, livre do feitiço. Isabelle continuava sentada de frente para ele, olhando para baixo, sem coragem de enfrentá-lo.

– Me desculpe – ela disse baixinho. – Eu devia ter parado assim que percebi que estava na sua mente. Eu...

– Parece que você conseguiu sua vingança – ele a cortou irritado, sentindo-se usado como tantas vezes acontecera antes. Levantando-se da cama, apenas a dispensou. – Você pode ir agora.

– Não! – ela gritou desesperada, agarrando o braço dele. – Eu não tive a intenção. Eu juro. – Ela também estava de pé, e ele viu os olhos dela suplicando para que acreditassem neles. – Eu sei que você tem todos os motivos para acreditar que eu fiz isso de propósito, mas não é verdade. Eu também amo você. Eu só fugi de você esse tempo todo para protegê-lo da minha família, mas eu não agüento mais. – Novamente as lágrimas voltaram a escorrer daqueles olhos, mas Severo não queria deixar-se convencer. – Eu não agüento mais ficar longe de você.

Lutando contra a vontade de pegá-la nos braços e consolá-la, Severo a encarou com uma expressão séria e disse seco:

– Você sabe que eu tenho como verificar isso, se quiser.

Isabelle baixou a cabeça. Quando ela tivera a prova de que Severo ainda gostava dela, de que ele a amava como ela o amava, ele escapava pelos seus dedos mais uma vez. Ela não podia culpá-lo, ele estava acostumado com uma Isabelle que sempre o usara como um brinquedinho. Estava prestes a se virar para sair pela lareira quando uma certeza cruzou sua mente: ela não o deixaria escapar mais, ela sabia que ele a amava e não o perderia sem nem mesmo o ter.

– Você não vai precisar – ela disse levantando os olhos para encará-lo.

Severo não respondeu, apenas observou quando ela deu mais um passo na direção dele e o beijou. Ao sentir os lábios dela contra os seus, perdeu todo o controle sobre seu corpo. Ele a abraçou e devolveu o beijo como se suas vidas dependessem apenas daquilo. Sentia seu corpo formigar, o estômago dava voltas e o coração acelerava, enquanto Isabelle o apertava ainda mais de encontro a ela.

Ela o encarou mordendo os lábios, andando para trás, na direção da cama e puxando-o pelo braço. Severo não precisou de palavras para entender o que aqueles olhos lhe diziam, apenas os seguiu. Quando já estavam na cama, ele a beijou enquanto abria delicadamente os botões das vestes dela. Ela não fez menção de recuar, então ele soltou seus lábios e beijou todo o seu corpo enquanto a despia. De uma maneira inexplicável, ele não procurava Isabelle preocupado com o seu próprio prazer, como estava acostumado a fazer. Tudo o que queria era agradá-la, e se essa era realmente a primeira vez dela, ele queria torná-la realmente inesquecível.

*-*-*-*-*-*-*-*

Isabelle acordou na manhã seguinte com os primeiros raios de sol que atravessaram a cortina. Ainda de olhos fechados ela sentia uma sensação estranha em seu corpo, então ela entendeu o que era. Ela ainda estava nua e sentia apenas a agradável sensação dos lençóis roçando sua pele. Sorrindo, ela tentou se lembrar das últimas emoções que percorreram seu corpo. Como suas amigas podiam enganá-la daquele jeito, dizendo-lhe que a primeira vez era tão ruim? Claro, a sensação de uma coisa estranha entrando no seu corpo não era muito agradável no início, mas depois... Ah... ela não tinha do que reclamar. Mas pensando bem, passada a tensão de estar fazendo aquilo pela primeira vez, a segunda vez foi muito melhor. Ficou imaginando se suas amigas acreditariam que o introvertido Severo era capaz de provocar todas aquelas reações em seu corpo. Como ela agradecia por ter esperado por ele; agora tinha certeza que não seria a mesma coisa com Sirius, ele não a fazia estremecer toda a vez que olhava para ela, ele não a olhava como Severo a olhava. Pensou nos olhos pretos que a admiraram na noite passada e decidiu que seu terceiro orgasmo fora o melhor da noite. Talvez fosse apenas uma questão de prática, pensou. Sentiu o braço de Severo ainda pousado em sua cintura e virou-se para ficar de frente para ele. Ele estava acordado, aqueles olhos pretos desejando-a, e a única coisa que ela conseguia pensar era que precisava de uma quarta vez antes de decidir se as coisas ainda podiam ser melhores.

*-*-*-*-*-*-*-*

N.A.: A Poção Celina é uma homenagem à Magalud e sua "vila bruxa" (http://magalud.noigandres.com/mywitchtown.html). Qualquer dúvida sobre seus efeitos, composição, e onde pode ser encontrada, perguntem a ela! :P

Para acompanhar as atualizações basta acessar meu LiveJournal (link no meu profile).

A seguir: Lord Voldemort tem uma tarefa para aqueles que querem ser seus futuros Comensais da Morte.


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