Visitas Inesperadas



Sombras do Passado
escrito por BastetAzazis


Sumário: Nos meio das suas férias de verão, o jovem Severo Snape recebe duas visitas inesperadas: uma coruja e, pela primeira vez em onze anos, o seu avô.

DISCLAIMER: Os personagens, lugares e muitos dos fatos desta história pertencem à J. K. Rowling, abaixo são apenas especulações do que pode ter acontecido com alguns de nossos personagens favoritos!

BETA-READERS: Ferporcel e Su_Snape – muito, muito, muitíssimo obrigada!

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Capítulo 1: Visitas Inesperadas


O dia amanheceu tranqüilo na Rua da Fiação, anunciando mais uma manhã quente de verão em meados de julho. Seria uma vista linda, não fosse pela chaminé da fábrica, já a pleno vapor naquela hora da manhã, e pelo rio sujo e mal cheiroso que carregava os dejetos da mesma fábrica no fim da rua. Severo Snape abriu os olhos, agradecendo por ainda estar no meio das suas férias de verão. Não precisaria correr dos valentões da escola, nem ouvir os comentários maldosos dos seus colegas sobre sua mãe, Eileen Snape.

Eileen era uma bruxa. Uma bruxa de verdade, mas ninguém sabia disso. Severo nunca entendeu por que sua mãe havia abandonado sua família bruxa para casar-se com o seu pai, Tobias Snape. Talvez porque mal conhecera o seu pai, que falecera prematuramente quando ele completara cinco anos, Severo jamais entenderia a ligação entre seus pais e a razão por sua mãe ter decidido esconder seu filho da sua família bruxa. Depois da morte do seu pai, era lógico para Severo que sua mãe deveria ter procurado pelos pais dela, seus avós maternos. Mas não, Eileen decidiu sobreviver com a pequena pensão herdada do marido e, nos momentos mais difíceis, da venda de remédios caseiros, perfumes e poções afrodisíacas que ela própria fabricava no porão da casa. As pessoas normais, como Severo chamava àqueles que não tinham poderes mágicos, adoravam as poções e pomadas preparadas por sua mãe; mas Severo sabia que pelas costas, eles não gostavam de ser vizinhos de uma curandeira, feiticeira e demais insultos que ele sempre escutava sobre sua mãe.

Um toc, toc insistente no vidro da janela do seu quarto interrompeu seus devaneios. Olhando em direção a janela, observou com os olhos arregalados a primeira visita inesperada daquele dia: uma coruja branca enorme, segurando no seu bico o que parecia ser um envelope. Severo levantou-se rapidamente da cama e correu para abrir a janela. Pegou o envelope que a coruja segurava pelo bico e leu seu nome e endereço naquele papel estranho. Não era um envelope comum, e estava lacrado com um selo de cera, igual ao que vira em filmes de época. Severo ficou embasbacado, olhando para seu nome escrito em letras elegantes, e nem notou a coruja ir embora, piando indignada pela sua falta de consideração.

Será que aquilo era o que estava pensando? Uma carta da sua família bruxa? Quem sabe convidando-o para passar o resto da suas férias com eles, para que pudessem finalmente se conhecer? Severo tinha tanta certeza que esse era realmente o conteúdo da carta, que nem abriu o envelope. Correu para a cozinha, onde sua mãe já preparava o café da manhã.

– Mãe, olhe só! – Severo apareceu das escadas, mostrando o envelope para sua mãe com um sorriso de canto a canto das orelhas, como Eileen jamais vira em seu filho.

– Bom dia, Severo – ela repreendeu o filho. – Seja lá qual for a boa notícia, não esqueça seus modos.

– Bom dia, mãe. – O sorriso quase desaparecendo do rosto, quase. – Uma coruja apareceu na minha janela hoje. Ela me deu essa carta. Tem o meu nome nela.

Severo entregou o envelope para a mãe. Eileen já sabia do que se tratava. Ela também já tinha recebido uma carta igual àquela quando tinha onze anos.

– Você ainda não leu? – sua mãe indagou ao perceber que a carta ainda estava lacrada, estranhando a falta de curiosidade do filho.

Severo, então, percebera como tinha sido estúpido. Como tinha chegado a uma conclusão tão rápido e até feito planos para o resto das suas férias, se ainda nem tinha certeza do conteúdo daquela carta? Envergonhado, olhou para sua mãe e mentiu:

– Eu achei que deveria mostrá-la a você, antes.

Sua mãe, lisonjeada pela atitude do filho, sorriu e disse:

– A carta é para você. É você quem deve abri-la. – E devolvendo o envelope ainda lacrado para o filho, disse: – Tome, é toda sua.

Severo olhou mais uma vez para o envelope, observando o selo do lacre. Um brasão contendo quatro animais diferentes: um leão, uma águia, um texugo e uma cobra. Ao centro do brasão, a letra H elegantemente desenhada. H? A família do meu avô não é Prince? Severo começou a suspeitar que alguma coisa não estava certa. Olhou novamente para o que estava escrito no envelope:

Severo Snape
Rua da Fiação, 45, quarto do sotão
Distrito Industrial
Sheffield


Sem dúvida, a carta era para ele. Com um frio na barriga, Severo rompeu o lacre e retirou os papéis, que mais tarde ele chamaria corretamente de pergaminhos. Leu o que estava escrito no primeiro deles:

ESCOLA de MAGIA e BRUXARIA
de HOGWARTS

Diretor: Alvo Dumbledore
(Membro da Confederação Internacional dos Bruxos)


Prezado Sr. Snape,

Temos o prazer de informar que V.Sa. tem uma vaga na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Estamos anexando uma lista dos livros e equipamentos necessários.

O ano letivo começa em 1º de setembro. Aguardamos sua coruja até 31 de julho, no mais tardar.

Atenciosamente,

Minerva McGonagall
Diretora Substituta


– O quê? Escola de Magia? Você nunca me disse que existia uma Escola de Magia, mãe. – Severo olhou para sua mãe, franzindo a testa. Seus profundos olhos pretos eram um misto de dúvida e desapontamento.

– Eu sei, meu filho – sua mãe explicou. – Eu preferi esperar a chegada desta carta.

Então, fazendo um sinal para seu filho sentar-se à mesa, Eileen explicou-lhe, enquanto servia o café da manhã, sobre Hogwarts e todo o sistema educacional do mundo bruxo. Falou das disciplinas que ele teria que cursar, dos N.O.M.s e N.I.E.M.s, das quatro casas em que os alunos de Hogwarts eram divididos, e em como ela esperava que Severo fosse para a Sonserina. Também lhe contou sobre o jogo de Bexigas, e seus dias como capitã do Time de Bexigas de Hogwarts. Ao que pareceu a Severo, as melhores recordações da sua mãe em Hogwarts estavam relacionadas àquele jogo, que aliás, lhe parecia muito mais interessante e inteligente que aquele jogo tonto de quadribol. Qual era a graça de ficar arremessando bolas encantadas para um gol, se quem ganhava o jogo era o único bruxo que conseguia agarrar uma bolinha fugitiva e estúpida! Severo não tinha a menor pretensão de sair por aí, dando piruetas montado numa vassoura.

Mãe e filho passaram boa parte da manhã conversando sobre a rotina no mundo bruxo. Entretanto, Eileen não se atreveu a contar nada a respeito da sua família, ou do preconceito de alguns bruxos contra as pessoas não-bruxas. Severo estava encantado demais com o mundo que se abrira à sua frente para ter uma decepção tão grande. Ainda era cedo para tocar em assuntos tão complicados. Ela confiava na educação que dera a seu filho, e tinha certeza que ele saberia lidar com isso mais tarde.

O relógio cuco da parede anunciou dez horas e Eileen fora arrancada de suas lembranças e preocupações num salto.

– Já são dez horas? Eu preciso tirar a poção da Sra. Norman do fogo ou terei que começar tudo de novo!

– Posso ajudá-la, mãe? – Severo sempre ajudava sua mãe a preparar os ingredientes que ela usava para suas poções. Era a única coisa que o fazia lembrar que sua mãe era uma bruxa.

– Agora não, Severo. Termine de arrumar as coisas do café. Você precisa entregar as poções que preparei ontem para a Sra. Tullman. A casa dela fica do outro lado da cidade e eu prometi que as entregaria antes do almoço.

Severo levantou da mesa, reclamando. Ajudar sua mãe com as poções não significava ser o garoto de entregas. Isso não deveria ser trabalho para um bruxo! – pensou. A idéia de ter uma vassoura lhe parecia bem mais interessante agora.

******************

Severo passou o resto do dia imaginado como seria sua vida a partir de setembro. Estudando numa escola bruxa, com certeza conseguiria obter mais informações sobre a família da sua mãe. Será que tenho primos da minha idade? Tios ou tias? Severo sempre foi uma criança solitária, seu pai era filho único, assim como ele, e seus avós paternos não se sentiam muito confortáveis na presença dele, ou da sua mãe. Assim, seus onze anos e meio de vida se resumiam às lembranças que tinha da pequena casinha na Rua da Fiação, perto do rio que beirava a fábrica onde seu pai trabalhara.

Também não tinha muitos amigos na escola. Foi taxado de estranho pelos colegas assim que descobriram quem era a sua mãe. Os professores o tinham como um garoto-problema, uma vez que vivia retraído e várias vezes foi pego brigando com outros alunos, defendendo a sua mãe. Seria um alívio não ter que voltar para lá, encontrar com os mesmos colegas inúteis e sem futuro, ou com aqueles professores desiludidos, que usavam seu poder sobre os alunos apenas para reprimir seus anseios.

Sim, Severo Snape era um garoto amargo para a sua idade. A solidão e o preconceito que vivenciara estes anos contribuíram para isso. Mas a visita daquela coruja nesta manhã havia lhe dado uma pontinha de esperança. Esperança de sair dali e ir para um lugar melhor, onde não seria visto como um estranho, uma aberração. Um lugar onde todas as mães eram bruxas e podiam usar sua magia a qualquer momento, sem medo de serem descobertas.

Severo estava sentando a beira do rio, olhando o mato do outro lado e imaginando como seria recebido pelos Prince, se um dia aparecesse à porta deles. Estava tão perdido em seus pensamentos que não notou um grupo de garotos, mais velhos que ele, aproximando-se. Quando percebeu que estava cercado, era tarde demais. Dois garotos o seguraram pelos braços e outros dois pelas pernas. O que parecia ser o líder permaneceu em pé, à frente de Severo.

– Olha só se não é o Seboso Snape – o menino o provocou. – Pensando em finalmente tomar um banho, Severo? Não tem chuveiro na sua casa?

– Cala a boca, Dino – Severo respondeu. – Mande eles me soltarem, ou então...

– Ou então, o quê? – o menino, Dino, interrompeu. – Você vai chamar a sua mãe para nos cozinhar no caldeirão? – Dando uma risada debochada, acrescentou: –, Não seja tolo, Seboso. Não tem ninguém por perto. Só um seboso como você para gostar de tomar banho nesse rio fedorento!

Terminando a frase, Dino acenou para seus companheiros e Severo foi lançando ao rio. As risadas dos meninos em volta era abafada pelo barulho da fábrica. Severo nadou até a beira do rio, mas os meninos já estavam longe. Se ele já tivesse aprendido alguma azaração... aqueles meninos estariam mortos! Ou pelo menos muito arrependidos...

Severo saiu da água e esperou até se secar com o calor da tarde. Mesmo estando em pleno verão, a sombra das casas e da fábrica logo atrás obstruíam o sol, e sua roupa continuou úmida por muito tempo. Não agüentando a sensação de sujeira em seu corpo, foi caminhando para casa, pensando que ao chegar em Hogwarts precisaria encontrar um feitiço para acabar de vez com a oleosidade do seu cabelo, dando um fim àquele apelido ridículo.

Chegando em casa, achou melhor não entrar pela porta da frente. Sua mãe ficaria uma fera se ele sujasse a sala. Deu a volta na casa, entrando cuidadosamente pela porta da cozinha. Agradeceu por ter tido essa idéia, pois parecia que sua mãe estava na sala com mais uma visita inesperada.

Severo aproximou-se da porta, espiando as duas figuras na sala. Sua mãe estava sentada numa poltrona segurando uma xícara de chá, e em pé, próximo à lareira, ele viu um homem alto, mais velho e vestindo roupas estranhas. Roupas parecidas com as que sua mãe usava quando viajava pela lareira para buscar ingredientes para suas poções. Então aquele homem só pode ser um bruxo! Severo aproximou-se ainda mais para escutar a conversa deles.

– Eu sei que quando você saiu de casa muitas coisas foram ditas, Eileen – o homem falava com uma voz grossa e perturbadora. – Se você se sentiu magoada, saiba que eu e sua mãe também não gostamos das coisas que você nos disse aquele dia. Ninguém cria um filho pensando que receberá uma apunhalada nas costas vinte anos mais tarde.

– Se você acha que meu casamento com o Tobias foi uma apunhalada nas suas costas, o que você quer com o meu filho? Ele também é um Snape. – Sua mãe levantou a voz. – É um mestiço! Como você sempre fez questão de me jogar na cara.

Severo teve que levar as mãos à boca para segurar um grito de espanto. Aquele homem na sala, perto da lareira, é meu avô? Mas por que ele só apareceu agora? E o que ele está fazendo aqui? Estaria procurando por mim?

– Ele pode ter o sangue daquele trouxa nas veias, mas ele também é seu filho. E meu neto.

Do que seu avô havia chamado seu pai? Trouxa? Por quê? O que ele quer dizer com isso? Snape começou a sentir um frio na barriga. Talvez o motivo da separação da sua mãe com seus avós fosse realmente o seu pai. Mas por quê? Será que era porque ele não era um bruxo?

Seu avô continuou:

– Não é certo deixá-lo vivendo no meio de trouxas, Eileen. Não agora que ele vai para Hogwarts.

– Não é certo fazer ele crescer odiando trouxas, pai. – Eileen levantou-se da poltrona e andou em direção a lareira, encarando seu pai. – É isso que vai acontecer se ele for morar com vocês. Ele é meu filho e é filho de um trouxa também. Eu sou a responsável pela educação dele. Severo vai para Hogwarts, não se preocupe quanto a isso, mas a casa dele continuará sendo aqui. É para cá que ele vai vir durante os feriados e passará as suas férias. Vocês serão bem-vindos para visitá-lo, mas é só.

A cabeça de Severo dava voltas. Meu avô quer que eu vá morar com ele? No mundo bruxo? Isso seria maravilhoso! Mas então sua mãe disse que eles não sairiam daqui. Não é justo! Ele não queria passar o resto da sua vida ali. Por que nós não podemos morar com os meus avós? Sua mãe não podia negar-lhe isso!

Seu avô também pareceu inconformado com a resposta. Andou por um tempo em volta da sala, inspecionando o lugar.

– É nesse casebre, rodeado de pobreza, que você pretende criar o meu neto?

– Seu neto já tem onze anos, pai – sua mãe respondeu. – Por que essa preocupação apenas agora?

Severo observou seu avô limpar com um lenço o assento da poltrona em frente à que sua mãe ocupara antes, e sentar-se. Apanhou a xícara de chá que estava servida na mesa em frente e respondeu:

– Você sabe que, provavelmente, ele entrará para a Sonserina.

– Isso não responde a minha pergunta – Eileen o interrompeu.

– Não, mas deixe-me prosseguir. – O Sr. Prince tomou um gole de chá e continuou: – Você já deve ter imaginado como vai ser difícil para ele, sendo filho de um trouxa, conviver com os demais sonserinos. Ele precisa aprender a se defender de...

– Você não conhece o seu neto, pai – Eileen o cortou novamente. – Isso não vai ser um problema para ele.

– É claro que não! – seu pai se irritou. – Ele é filho de uma Prince. Nenhum Prince jamais teve problemas em ascender em Hogwarts, ou qualquer outra instituição bruxa. Nossa família é muito respeitada, mesmo depois dos seus deslizes – disse isso dirigindo um olhar reprovador à sua filha.

Eileen apenas bufou com o comentário do pai. Como ele continuava arrogante! Os anos apenas pioraram suas características mais marcantes.

– O que eu quero dizer é – o Sr. Snape continuou, inclinando-se para frente na poltrona –, todos vão saber quem ele é, Eileen. As coisas estão mudando. – Se Severo conhecesse melhor o seu avô, teria estranhado o tom paternal, raro naquela figura aristocrática, com que ele se dirigiu à filha. – As famílias de sangue puro não estão mais aceitando tão cordialmente essa invasão de nascidos-trouxa. Muitos estão se unindo para...

Ele não continuou a frase. Sabia que não adiantava lutar contra a teimosia da filha. Balançando a cabeça, simplesmente mudou de assunto de repente e perguntou:

– Como você pretende pagar pelos estudos dele? E os livros, varinha e toda a lista de materiais? Eu não vou admitir que meu neto, sendo ele filho de um trouxa ou não, arruíne o nome da família. – Após uma pausa, acrescentou: – Eu não quero ver um Prince andando em Hogwarts com vestes de segunda mão e livros usados, envergonhando meu nome.

Eileen deu um sorriso falso. – Então é isso? Sempre o maldito nome da família.

– Eu não vou mais perder meu tempo com você, Eileen. Você é tão cabeça dura quanto a sua mãe. – Seu pai levantou-se novamente, aproximando-se da filha. – Se você não vai permitir que seu filho venha morar conosco, ao menos nos deixe pagar pelos estudos dele.

Eileen tinha vontade de expulsar seu pai da casa. Depois de tantos anos sem se falarem, ele aparece de repente, como se nada tivesse acontecido, pedindo para levar o neto para sua casa. Neto que ele nunca fizera questão de conhecer. Mas ele estava certo, já não seria fácil para Severo pertencer a Sonserina pelo fato de ser mestiço, ainda mais aparecendo com vestes e material de segunda mão, que era o que ela poderia, com muito custo, comprar. Sem contar nos custos para mantê-lo em Hogwarts. Sendo neto de Edward Prince, a escola jamais concordaria em lhe oferecer uma bolsa.

Dando-se por vencida, Eileen respondeu, baixando a cabeça:

– Você tem razão, pai. Eu vou mesmo precisar de ajuda para mantê-lo em Hogwarts.

Um brilho de vitória surgiu nos olhos de Edward Prince. – Excelente! Passarei aqui amanhã após o almoço para levá-lo até o Beco Diagonal.

– O quê?

– Quero ter certeza que você educou esse garoto direito. Além disso, não posso comprar o material dele sem levá-lo junto.

Sem mais palavras, pegou um punhado do pó brilhante acima da lareira e desapareceu dentro dela, deixando sua filha ainda mais preocupada.

– Pode sair agora, Severo – ela disse depois de uns instantes. – Eu sei que você ouviu tudo.

Severo estava com tanta raiva da sua mãe que nem se importou mais em aparecer na frente dela, sujo e molhado do jeito que estava.

– Por que você fez isso comigo? Por que me deixar aqui, nesse lugar horrível, quando eu podia ter ido com ele?

– Severo, esse “lugar horrível” é a sua casa. Não tinha nada de errado com ela até hoje de manhã.

– É claro que tem! Será que você não percebe que todo mundo aqui nos odeia? Por que eu tenho que ficar preso aqui, enquanto tem um monte de gente igual a nós em... – Ele parou para pensar no que falar, quando percebeu o quanto conhecia pouco o mundo bruxo. – Eu nem sei onde! Porque você sempre me escondeu tudo isso!

– Severo, acalme-se – sua mãe suplicou, indo até ele para abraçá-lo. – Eu não estou prendendo você aqui. Em setembro você vai para Hogwarts, não vai? Até lá, será que é muito pedir para você ficar comigo? A gente vai se ver tão pouco depois disso... Eu vou morrer de saudades. O que você acha?

Severo nem conseguia raciocinar as palavras da sua mãe, só pensava na oportunidade de conhecer melhor sua família e o mundo bruxo, que lhe foi tirada. Só porque ela vai ficar com saudades?

Desvencilhou-se dos braços da mãe e, encarando-a, disse simplesmente:

– Eu te odeio! – Subiu as escadas correndo em direção ao quarto. Não desceu para o jantar naquela noite. Nem sua mãe apareceu em seu quarto mais tarde para acalmá-lo.

Amanhã ele conheceria propriamente o seu avô, e iria comprar seu material para a nova escola. Só precisaria agüentar um pouco mais de um mês e, em breve, estaria livre daquele monturo de... Como é que seu avô tinha dito antes? Trouxas? É, realmente, não tem palavra melhor para descrever esses... trouxas.

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N.A.: Esta é a minha primeira fic. Nasceu da curiosidade em saber o que realmente aconteceu com Severo e os Marotos durante o primeiro reinado de terror de Voldemort. Espero que todos gostem. Não deixem de mandar reviews; sugestão e comentários serão sempre bem-vindas!

Segundo o HP-Lexicon (http://www.hp-lexicon.org), a casinha na Rua da Fiação “parece estar numa área decadente de uma cidade industrial ao norte da Inglaterra”. Essa descrição me fez lembrar do início do filme “Tudo ou Nada” (The Full Monthy) de 1997, onde um grupo de ex-operários do distrito industrial decadente de Sheffield monta um show de strip-tease para poder sobreviver. As cenas iniciais, onde o personagem principal conta como a cidade era próspera antes das indústrias irem a falência, me pareceram muito semelhante às descrições do segundo capítulo de Harry Potter e o Enigma do Príncipe. Na minha opinião, o jovem Severo Snape passou sua infância ali, enquanto o bairro ainda era povoado pelos funcionários da fábrica. Muitos anos depois, com a falência do setor industrial e demissão da maioria dos funcionários, o bairro decadente seria perfeito para o futuro Professor Snape isolar-se do mundo bruxo sem levantar suspeitas de algum trouxa intrometido.

Mais uma vez, obrigada a Ferporcel e Su_Snape. Não posso deixar de agradecer também a Claurabelo. Foram nossas longas discussões e diversas teorias sobre HP que fizeram esta fic nascer!

A seguir: Severo visita pela primeira vez o Beco Diagonal...

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