A Vidente Entreouvida



Sombras do Passado
escrito por BastetAzazis


Sumário: Severo recebe uma nova missão: seguir Dumbledore.

DISCLAIMER: Os personagens, lugares e muitos dos fatos desta história pertencem à J. K. Rowling. Abaixo estão apenas especulações do que pode ter acontecido com alguns de nossos personagens favoritos!

BETA-READERS: Ferporcel e Suviana – muito, muito, muitíssimo obrigada!




Capítulo 23: A Vidente Entreouvida

Aquele foi um dia cansativo para Severo Snape. Isabelle decidiu carregá-lo para compras justamente no dia em que o Lorde das Trevas precisaria dele para um ataque exatamente onde ela estaria. Ele passara a manhã inteira tentando produzir uma chave de portal que vencesse o escudo que ele produziria, para garantir a segurança dela. Se alguma coisa acontecesse a Isabelle, ele jamais se perdoaria. Depois que conseguiu entregar a chave de portal para ela, pôde finalmente se dedicar à criação e manutenção do escudo que prevenia o uso da Aparatação no Beco Diagonal, para que os planos do Lorde de diminuir o número de membros da Ordem da Fênix pudesse ser executado sem interrupções indesejadas.

O uso prolongado de um feitiço das Trevas exigiu mais dele do que imaginara, e ele já estava exausto antes mesmo de alguns membros da Ordem descobrirem o que estava acontecendo e correrem até ele para tentar impedi-lo. Mais tarde, procurou em sua mente alguma lembrança do que acontecera aos seus amigos, mas ele estava num estado de semi-consciência quando Meadowes, Fenwick e Moody se aproximaram. Roberto lhe contou que os dois tentaram desarmá-lo, mas Paulo e Evan o defenderam. Depois disso, seguiu-se uma enxurrada de maldições dos dois lados, Evan atacou Moody, que acabou perdendo um olho na batalha, Paulo e Roberto se ocuparam dos outros membros da Ordem, que resistiram por pouco tempo. Entretanto, Alastor Moody não era considerado o melhor auror de seu tempo à toa; mesmo ferido, enfrentou os três Comensais sozinho, derrubando Evan e depois Paulo. Outros aurores perceberam a confusão e correram para onde eles estavam. Entendendo que ficaria em desvantagem, Roberto desarmou Severo para que o encanto acabasse e fez os dois desaparatarem o mais rápido possível. A única coisa que Severo se lembrava era dos corpos dos seus dois amigos, Paulo Wilkes e Evan Rosier, sendo levados por aurores, como se fossem dois trouxas quaisquer.

Ver seus amigos mortos pelas mãos de membros da Ordem da Fênix o abalara profundamente, mas ele ainda teve que lutar contra todas suas emoções para que o Lorde das Trevas não percebesse sua fraqueza. Após o ataque, os Comensais sobreviventes foram convocados e estiveram reunidos por mais tempo do que Severo gostaria. O Lorde queria punir aqueles que considerara responsáveis pelos erros daquela tarde na frente de todos, como exemplo. Mesmo conseguindo diminuir o número de adeptos à força de resistência de Dumbledore, eles haviam perdido dois Comensais da Morte, e mais dois – Karkaroff e Dolohov – foram capturados. Quando a seção de tortura acabou e Severo pensou que estaria livre para se recuperar dos últimos acontecimentos, o Lorde ainda pediu que ele permanecesse e discutissem seus próximos passos. Finalmente Severo recebera a ordem para agir: ficar de olho nas vizinhanças de Hogwarts e tentar descobrir o que estava acontecendo dentro da escola para, assim, obter o maior número de informações possíveis sobre Dumbledore e a Ordem da Fênix.

Quando o Lorde finalmente o liberou, ele não sentiu vontade de voltar para casa. Sentia-se como se todas as suas forças tivessem sido drenadas do seu corpo, culpado pela morte dos amigos e por não estar junto com eles e Roberto na hora em que foram atacados. Sabia que Isabelle estaria esperando por ele e não queria ter que lhe dar aquela notícia, não quando ela se mostrou tão preocupada com a segurança dele, sabendo que ele poderia estar no lugar de seus amigos agora... Definitivamente, ele precisava de um lugar sossegado para refletir sobre tudo o que lhe acontecera. Sem ter exatamente para onde ir, Severo resolveu aparatar na vila bruxa de Hogsmeade. Desde que deixara Hogwarts que ele não voltara lá; quem sabe se fosse ao bar que sempre freqüentara com os amigos nos finais de semana de folga a sensação de vazio que sentia em seu peito diminuísse e ele pudesse dormir em paz naquela noite.

O Cabeça de Javali continuava igual desde a última vez em que estivera nele. Talvez apenas um pouco mais vazio, já que muitas pessoas estavam com medo de sair de casa nos últimos tempos. Assim que entrou, dirigiu-se ao balcão e pediu uma dose dupla de uísque de fogo. Bebeu o conteúdo num gole só, esperando que a sensação amarga do líquido quente descendo em sua garganta fosse capaz de afastar das suas lembranças a imagem dos seus amigos mortos. Ficou sozinho, ouvindo ao longe os comentários sobre o último ataque de Você-Sabe-Quem. As pessoas estavam cada vez mais amedrontadas, e muitas ainda faziam comentários sobre o último ataque na vila, anos atrás, no fim de semana do Festival de Wall. Severo pediu outra dose e começou a repensar sobre sua posição como Comensal da Morte. De repente, estar do lado do Lorde das Trevas não lhe garantia proteção nem imunidade. Talvez esta fora a primeira vez que Severo entendera realmente que estava no meio de uma guerra, que suas ações não teriam volta e que, talvez, eles pudessem não sair vencedores dessa briga.

Seus pensamentos foram interrompidos com as risadas numa mesa próxima à entrada. Uma bruxa magricela de cabelos desgrenhados e enormes óculos nos olhos acabara de entrar, segurando com dificuldade uma bola de cristal numa das mãos e uma pequena valise na outra. Os ocupantes da mesa deviam ter feito alguma brincadeira de mau gosto com ela, pois a mulher caminhou desengonçadamente até o balcão e perguntou por um quarto, visivelmente desconcertada.

– São dois galeões para uma noite – o atendente disse rudemente, como se duvidasse que ela teria dinheiro suficiente para pagar. – Pagamento adiantado – completou estendendo a mão.

– Eu não pretendo ficar por apenas uma noite – ela respondeu desafiando o rapaz. – Eu vou receber a visita do Diretor Dumbledore amanhã para discutirmos assuntos relacionados a Hogwarts. Você pode me garantir discrição?

Ao ouvir o nome de Dumbledore, Severo começou a examinar a mulher com mais atenção.

– É claro, madame – o rapaz do balcão respondeu. – Dois galeões – repetiu com a mão ainda estendida e os olhos estreitos, desafiando-a a pagá-lo – e o restante na saída.

– É senhorita – ela o corrigiu mexendo em sua valise. Quando pegou o dinheiro, entregou-o ao atendente. – Srta. Sibila Trelawney. E eu teria mais cuidado se fosse você, essa sua linha da vida – ela continuou alheia aos risos incrédulos a sua volta – é muito curta para um rapaz da sua idade. A Visão Interior nunca se engana – ainda acrescentou numa voz fantasmagórica.

Sibila Trelawney pegou a chave que lhe foi oferecida e subiu para o quarto, deixando o rapaz atrás do balcão de olhos arregalados, num misto de medo e divertimento. Severo aproveitou para obter mais informações sobre a mulher que acabara de confessar que se encontraria com Alvo Dumbledore no dia seguinte.

– Figura estranha, não? – disse com um sorriso irônico para o atendente. – Aposto que você lhe deu o pior quarto daqui.

– Você está louco? – ele respondeu. – Se o Sr. Aberforth descobrir que eu não deixei o melhor quarto para alguém que vai receber o irmão dele, eu posso esquecer de achar outro emprego aqui em Hogsmeade.

– Então – Severo continuou casualmente –, alguém chega aqui fazendo presságios agourentos sobre o seu futuro e você ainda lhe dá o melhor quarto da pousada? Aposto que ela ganhou uma sacada e a vista para rua – especulou.

– É o único quarto com uma ante-sala para receber visitantes – o rapaz respondeu. – Eu não poderia deixar o Prof. Dumbledore entrevistar alguém naqueles quartinhos dos fundos...

– Entrevistar, você disse? – De repente, Severo percebeu que seu trabalho como espião acabara de começar. – Dumbledore costuma fazer entrevistas para a escola aqui?

– Algumas vezes – foi a resposta eventual. – Professores desempregados não têm condições de pagar aposentos melhores. Eles se hospedam aqui, e o Diretor vem entrevistá-los após as nove, quando as atividades em Hogwarts já estão encerradas.

Severo assentiu com a cabeça e não importunou mais o jovem rapaz com perguntas, não queria parecer intrometido. Pagou pelas doses de uísque e deixou o bar, sabendo que voltaria no dia seguinte, quando Dumbledore também estivesse lá.

Quando aparatou em casa, já passava da meia-noite. Ele suspirou aliviado quando encontrou Isabelle dormindo no sofá, segurando firme o relógio de bolso que ele lhe dera. Severo caminhou até onde ela estava deitada e se abaixou para observá-la de perto. Vê-la em segurança trazia conforto ao seu coração, e ele começou a se sentir culpado por tê-la deixado esperando tanto tempo sozinha. Inclinou a cabeça para lhe dar um beijo na testa antes de levá-la para uma cama, mas ela estava com o sono tão leve que despertou facilmente.

– Severo! – ela disse ainda sonolenta, agarrando-se nos braços dele. – Eu fiquei com medo que você não voltasse. – Severo pode sentir algumas lágrimas molhando seus ombros enquanto ela ainda o apertava fortemente no abraço. – Você demorou tanto...

– Shhhh – ele a acalmou, acariciando seus cabelos e a embalando levemente. – Eu estou aqui agora. Volte a dormir.

Sentiu Isabelle soltá-lo aos poucos e cair inconsciente no sono de novo, agora em seus braços. Ele a pegou no colo e a levou até seu quarto, para que ela pudesse descansar adequadamente. Não conseguiu dormir naquela noite, o sentimento de culpa pela morte de Paulo e Evan ainda o assombrava. Ficou deitado ao lado de Isabelle, observando-a dormir. Pela primeira vez ele percebeu que estes tempos de guerra pareciam afetá-la também; ela não tinha um sono tranqüilo e acordara várias vezes na noite com pesadelos ou murmurando coisas sem sentido, algumas vezes chamando pela mãe. Aquilo apertava seu coração; incapaz de aliviar o sofrimento de Isabelle, ele sentiu-se ainda mais perdido quanto ao rumo que sua vida tomava. Mas então, ao vê-la aninhada em seu peito, procurando inconsciente pela sua proteção, ele sorriu e decidiu que não havia do que se arrepender. Suas escolhas eram as únicas capazes de levarem-no para os braços da mulher que amava, e ele não se arrependeria enquanto estivesse com ela.




No dia seguinte, Severo já havia terminado seu café da manhã quando Isabelle apareceu na sala de jantar. Ela ainda usava as vestes do dia anterior, estava pálida e com olheiras e, quando o viu, suspirou aliviada e veio correndo em sua direção.

– Eu estava com medo que tivesse sido um sonho... Quando acordei e não vi você... Eu não sei o que faria se você não tivesse voltado.

Ela sentou-se à mesa ao lado dele, e Severo ofereceu-lhe uma xícara de chá.

– Eu também fiquei preocupado com você – ele respondeu sério. – Mas você não devia ter ficado até tão tarde. Você sabe como podem fazer comentários maldosos a seu respeito.

Isabelle encarou Severo incrédula.

– Comentários maldosos? – ela repetiu rindo. Severo só podia estar brincando. – Nós estamos noivos! – argumentou.

– Exatamente – ele respondeu sem nenhum sinal de que estava brincando. – Em breve você será minha esposa, e nós temos que mostrar que seremos uma família tão respeitável quanto qualquer outra.

Isabelle abriu a boca para responder, mas decidiu não dizer mais uma palavra. No mesmo instante, Severo pegou o exemplar do Profeta Diário, que uma coruja acabara de entregar, e começou a ler, indiferente à presença dela na sala. De repente, foi como se ela tivesse uma visão do pai dela nos cafés da manhã da sua infância, ou do seu irmão e Narcisa. Ela o observou com olhos tristes e estreitos, o cenho franzido, até que Severo terminasse a leitura do jornal e, quando ele o descansou sobre a mesa, perguntou séria:

– Aconteceu alguma coisa grave ontem, não foi? Por isso você chegou tão tarde.

Severo levantou os olhos para Isabelle, ela o encarava exigindo uma resposta. Ele respondeu com um suspiro:

– Karkaroff e Dolohov foram presos – começou –, e Evan e Paulo estão mortos.

– O quê? – Isabelle levou uma mão aos lábios e o encarou incrédula. Sem palavras, levantou-se da mesa e foi até a janela. Observar os jardins da mansão, de algum modo, fazia a notícia ser digerida mais facilmente. – Como? – ela balbuciou de costas para Severo, tentando segurar o choro.

Ele também se levantou e caminhou até a janela onde Isabelle estava. Quando chegou perto dela, abraçou-a protetoramente e explicou:

– Eles foram atacados por membros da Ordem da Fênix. Mas não se preocupe, eles não viveram tempo suficiente para comemorar.

Ouvindo aquilo, Isabelle virou-se para ele, os olhos em lágrimas, e o abraçou aninhando o rosto em seu peito. Ela mesma escapara por pouco ontem, tentando salvar Lílian. Não queria pensar nas conseqüências se algum dos Comensais da Morte a tivesse reconhecido ao lado dos Potter.

– Quando isso vai acabar? De repente parece que todos a nossa volta estão desaparecendo – lamentou, pensando nos amigos sonserinos.

Severo não soube o que responder. Não havia o que responder. Sacrifícios eram necessários quando se lutava por uma causa, mas Isabelle parecia não se importar mais com isso desde que voltara para a Inglaterra, o que para ele era um alívio; não sabia se agüentaria se ela estivesse ao lado dele no dia anterior, lutando e tendo que se defender de aurores ou dos membros da Ordem, correndo o risco de ir para Azkaban ou ainda pior.

– Não há nada no Profeta Diário – ele disse finalmente. – Acho que as famílias conseguiram abafar a história por um tempo. Se você quiser, nós podemos ir até os Rosier e os Wilkes para uma visita.

Isabelle apenas assentiu com a cabeça, ainda enxugando as lágrimas.

– Eu vou voltar para casa para me arrumar. Você me encontra lá? – ela disse assim que se recompôs.

Severo concordou com um aceno e se despediu com um beijo leve. Mais tarde eles seguiram, junto com Lúcio e Narcisa, para levar as condolências às famílias Rosier e Wilkes. Foi mais um dia difícil, mas a determinação das duas famílias em vingar a morte dos filhos deu a Severo ainda mais forças para continuar a tarefa designada pelo Lorde das Trevas. Ele iria descobrir um ponto fraco na Ordem e, assim, acabar de vez com a única resistência contra o domínio de Voldemort.




Assim que cumpriu com suas obrigações sociais com os Wilkes e os Rosier, Severo seguiu para o Cabeça de Javali no início da noite, como se isso fizesse parte de sua nova rotina. Era uma noite fria e chuvosa, e o lugar estava mais vazio que o esperado; apenas alguns poucos bêbados insistiam em afogar suas mágoas nas mesas sujas do bar. Ele ficou sentado no balcão, bebendo vagarosamente sua dose de uísque de fogo, até que, finalmente, Dumbledore chegou. Observou atentamente quando o Diretor de Hogwarts se dirigiu ao atendente da pousada e, depois de uma breve conversa, subiu as escadas para se encontrar com a estranha Sibila Trelawney. Severo aguardou alguns instantes para evitar suspeitas e se levantou com a intenção de seguir ao banheiro. Quando chegou à porta, um relance para o bar lhe disse que ninguém o observava, e ele mudou sua direção e seguiu até as escadas.

O segundo piso do Cabeça de Javali conseguia ser ainda mais deplorável que o bar. A escada de madeira velha rangia a cada novo degrau que ele pisava, e o hall que seguia a escada estava tão escuro que era quase impossível visualizar os números de cada quarto, pintados nas portas com a pintura descascada. Dentre as quatro portas à sua volta, apenas em uma era possível visualizar uma luz saindo do vão inferior. Aquele era o único quarto ocupado e se encaixava perfeitamente na descrição que o atendente lhe dera na noite anterior.

Ele caminhou silenciosamente até a porta e, com um feitiço simples, pôde ouvir facilmente o que acontecia em seu interior. Provavelmente ele não ouviria nada demais, apenas uma entrevista com uma pretendente ao cargo de Professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, já que a disciplina ficava sem professor a cada início de ano letivo. Para sua surpresa, e também certo alívio, a bruxa de cabelos desgrenhados que ele vira no dia anterior havia se candidatado à vaga de Professora de Adivinhação. Aparentemente, o antigo Prof. Crawley, que Isabelle tanto admirava, havia se mudado para o sul da Europa. Severo não esperava colher muitas informações daquele encontro, mas seria interessante saber como o Prof. Dumbledore escolhia seu corpo discente quando fosse a sua vez de se candidatar para Hogwarts.

Pelo que ele conseguia ouvir, a entrevista estava sendo um fracasso. A mulher parecia confiar apenas na sua descendência com a famosa Cassandra Trelawney, mas Dumbledore não agia como se isso fosse motivo suficiente para ela ser aceita em Hogwarts. Severo já estava pensando em sair dali, antes que a entrevista acabasse e ele fosse pego de surpresa por Dumbledore, quando uma terceira voz veio de dentro do quarto:

– Aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas se aproxima...

Severo aproximou-se novamente da porta. Quem estava falando do seu Lorde, quem ousava falar em vencer o Lorde das Trevas? Ele se concentrou para guardar as palavras que se seguiram:

– Nascido dos que o desafiaram três vezes, nascido ao terminar o sétimo mês...

Não era possível. Alguém estava fazendo uma previsão? Sobre o Lorde? De repente, lembrou-se de uma conversa que tivera com Isabelle sobre profecias e logo ligou os fatos. Se aquela mulher, aparentemente louca, era realmente descendente de Cassandra Trelawney e tivesse herdado algum talento da família, ela poderia realmente estar num transe profético.

– Ah! Eu sabia que você estava aprontando alguma! – Severo sentiu alguém puxá-lo pelos ombros e caiu no chão, ainda confuso com o que acabara de ouvir. – Quando o Sr. Aberforth souber que você estava importunando os hóspedes... Prof. Dumbledore! – o atendente do bar bateu na porta.

Dumbledore não respondeu prontamente, dando tempo para que Severo se levantasse, embora ainda sendo segurado pelo atendente.

– Eu... eu estava – Severo começou antes que a porta se abrisse. – Eu subi as escadas à procura do banheiro e acho que acabei me perdendo...

Era uma desculpa estúpida, Severo sabia, mas a essa altura a porta do quarto já estava aberta, e o atendente se desculpava com Dumbledore.

– Desculpe, professor. Eu peguei este malandro sorrateiramente ouvindo sua conversa.

Dumbledore olhou desapontado para o dono do braço que o atendente do Cabeça de Javali segurava.

– Sr. Snape? Severo Snape?

Severo não pensou duas vezes. Precisava sair dali. Precisava fugir e encontrar seu mestre para contar-lhe tudo que tinha ouvido. Aproveitou a distração do seu captor e, com um empurrão, libertou seu braço e saiu correndo pela escada. Saiu rapidamente do bar para a rua, onde já tinha permissão para aparatar, e desapareceu de Hogsmeade.




– Eu realmente espero que você tenha me importunado com algo muito importante, Snape. – A voz do Lorde das Trevas soava fria e mal-humorada.

– Eu arrisco dizer, meu Lorde, que o senhor não se arrependerá de ouvir o que tenho para lhe contar – Severo respondeu prostrado aos pés do seu mestre.

– Você descobriu alguma coisa sobre Dumbledore?

– Não exatamente, meu Lorde. Mas uma profecia foi feita. Uma profecia a respeito do Lorde das Trevas, e ela foi ouvida por Dumbledore.

Voldemort fez sinal para que se levantasse. Ele obedeceu e, em seguida, narrou os últimos acontecimentos. Seu mestre escutou a tudo com atenção, mas a reação dele foi muito diferente do que Severo esperava. Ele foi agarrado pelas vestes, e Voldemort o encarou nos olhos, claramente usando Legilimência para rever os acontecimentos diretamente da mente de Severo.

– Idiota! – ele vociferou jogando Severo no chão. – Você deixou que Dumbledore o visse! Crucio!

Uma dor insuportável percorreu seu corpo em questão de segundos. Era a primeira vez que Severo era castigado pelo seu mestre. Pelo menos, não havia mais nenhum outro Comensal da Morte por perto para testemunhar sua humilhação.

– Como você espera que ele confie em você agora, seu estúpido? Eu pensei que você fosse mais esperto quando lhe confiei o papel de espião. Crucio!

Outra rajada de dor. Sentiu que não conseguiria levantar tão cedo, suas pernas fraquejavam com a maldição que corria em seu corpo.

– Vamos! Levante-se! – seu mestre ordenava. – Prove-me que você não é um fraco tolo, que ainda pode ser de alguma serventia.

Com estas palavras, um sentimento começou a crescer dentro de Severo. Raiva, ódio, desilusão. Ele acabara de fornecer informações vitais para o Lorde das Trevas e estava sendo castigado por isso. De repente, a dor que percorria seu corpo não era maior que a fúria que sentia; fúria que lhe dava forças e que o fez colocar-se de pé, cabeça erguida e olhos fixos em seu mestre. Em seu íntimo, sabia que aquele gesto o havia livrado da morte certa.

Quando viu Severo de pé, alheio ao sofrimento que a Maldição Cruciatus lhe impunha, Voldemort sorriu para si mesmo. Poucos de seus adeptos mostravam tanta força e determinação.

– Então – Voldemort começou a refletir em voz alta –, Dumbledore está ciente de uma profecia... Uma profecia que pode lhe dar uma arma para me derrotar. – Ele permaneceu em silêncio por alguns instantes e, então, dirigiu-se a Severo. – Temos que descobrir sobre quem é essa profecia e matá-lo antes que ela se realize.

– Sim, mestre – Severo respondeu obediente.

– Infelizmente, graças ao seu deslize, teremos que nos manter afastados de Dumbledore por um tempo, ou ele desconfiará de você. – Voldemort deu um passo em direção ao seu servo e sibilou as próximas ordens: – Finja manter-se ocupado com seu casamento enquanto procura pela profecia, mas seja discreto desta vez. Eu acredito que a Srta. Malfoy conseguiu uma posição em St. Mungus, estou certo? – Quando Severo confirmou com um aceno de cabeça, ele continuou: – Aproveite-se disso, meu caro, ela terá acesso a todos os nascidos na data indicada pela profecia.

Severo inclinou-se para seu mestre, indicando que havia aceitado a ordem que lhe fora imposta.




Nos meses que se seguiram, Severo observou quietamente os passos de todos aqueles que conhecidamente pertenciam à Ordem da Fênix, aqueles que tinham a audácia de enfrentar o Lorde das Trevas. Já era raro ouvir falar de alguém que enfrentara seu mestre apenas uma vez e ainda saíra vivo para contar a história, mas ele procurava alguém que o enfrentara três vezes... Não, isso era impossível, aquilo provavelmente era algum enigma, deveria haver algum significado obscuro por trás daquelas palavras. Profecias nunca foram famosas pela simplicidade de seus significados.

Alheia às últimas ordens de Severo, Isabelle passava cada vez mais tempo em St. Mungus. A necessidade por cada vez mais Curandeiros para tratar o número cada vez maior de feridos da guerra fazia com que o treinamento dos jovens aprendizes fosse cada vez mais rápido, e em menos de um ano, ela já cumpria plantões e assumia responsabilidades de qualquer bruxo mais experiente no cargo.

Entretanto, os nascimentos de julho daquele ano foram temporariamente ofuscados da mente de Severo e Isabelle com a chegada, no mês anterior, de Draco Malfoy à família. O pouco tempo que Isabelle passava em casa era dedicado ao novo sobrinho, principalmente depois que Lúcio anunciara que escolhera o futuro cunhado, Severo Snape, como padrinho do seu herdeiro. A maneira como Severo fora perdoado por ter sido visto por Dumbledore no dia em que ouviu a profecia fez os demais Comensais da Morte perceberem como ele era estimado pelo Lorde das Trevas, e no meio da inveja que o cercava, Lúcio decidiu que, no futuro, poderia ser vantajoso para seu filho uma relação mais próxima com o Snape.




N.A.: Obrigada a todos que estão lendo e deixando reviews! Suas opiniões são muito importantes para definir os próximos capítulos.

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A seguir: Isabelle tem uma ou duas surpresas para Severo.


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