O depois



O depois


Ginny entrou correndo no Salão Comunal da Grifinória. Faltava ar para respirar. Ela estava mais do que atordoada. Pensamentos embaralhados. Angústia. Aquilo não podia ter acontecido... “um pesadelo Virgínia, daqui a pouco você acorda...” murmurava para si. Mas a garota sabia que não, porém, queria se convencer do contrário. O que fora aquela cena na ala hospitalar? Porque ele havia feito aquilo? Só podia estar doido, enlouquecido. O remédio deveria ter sido muito forte para ele agir de tal maneira. Um beijo que poderia mudar o destino de muitas vidas – assim como a dela. Porém, a ruiva sentia nojo de si. Nojo de ter beijado lábios calorosos, porém, de uma das pessoas que mais odiava. Ódio? Não parecia no momento do beijo. Um retribuía o outro. Fora uma mistura de emoções e sentimentos nunca trocados antes. Isso havia mexido – e muito – com Ginny.
Sentou-se em uma poltrona na frente da lareira, já apagada. “Que horas...” pensou, quando olhou a parede, encontrando um relógio velho e sujo. Duas horas da manhã. Ginny afundou-se na poltrona, cansada e ansiosa. Teria aula no dia seguinte, mas não estava com sono. Passara as noites passadas em claro, se culpando pela queda de Draco. Malfoy. Ele estava tomando grande parte dos pensamentos da ruiva. Ela queria esquecer de tudo aquilo, principalmente da cena que havia acontecido há poucos minutos. “Pare com isso Virgínia Molly Weasley! Aquele Malfoy foi um idiota” pensava, com raiva. Como a ruiva tinha se deixado levar pelo loiro? Nem ela sabia a resposta. Estava confusa. Ela não sabia, ou não queria aceitar, que um sentimento despertara em seu coração.

A garota se levantou e olhou mais uma vez para o relógio. Duas e meia. Ginny soltou um muxoxo e caminhou em direção as escadas. Parou por um instante e suspirou. Levou a mão aos lábios e tocou-os, suavemente. Fechou os olhos e lembrou da cena pela milésima vez.

“Ginny caiu na realidade. Empurrou Draco e se afastou, ofegante. Levantou, mesmo ciente que poderia cair, de tão bambas que suas pernas estavam. Estava tão vermelha quanto seus cabelos, se é que isso era possível. Olhares se encontraram e um sorriso falso se formou nos lábios dele. Uma onda de raiva e ódio passou por Ginny. O que fora aquilo?”Por Merlin, essa doninha ME PAGA” pensou a ruiva, se enfurecendo. Ele não era ninguém para lhe roubar um beijo. Mesmo muito bem dado, por sinal. Ela sentiu seu que seu coração saltava dentro de seu peito.

– Seu estúpido! Quem você pensa que é? – berrou em alto e bom som, fazendo Draco tampar os ouvidos. “Nossa, que raivosa” pensou, debochando da ruiva.

- Draco Malfoy, o garoto mais atraente de Hogwarts. – sorriu marotamente, se divertindo com a expressão de Ginny. “Como é boba...” disse em pensamento “Bom... nem tão boba” corrigiu, se lembrando da cena. Seus olhos brilharam.

- Oras, cale sua boca imunda! – respondeu a garota, carrancuda. Fuzilava os olhos cinzentos que tanto insistiam em brilhar para ela.

- Você bem que gostou da minha boca imunda, Weasley. Aliás, soube calá-la muito bem... – rebateu Draco. Seu olhar frio penetrava no rosto ruborizado da garota.

- Chega, seu... idiota! EU TE ODEIO! Nunca, NUNCA MAIS chegue perto de mim! – berrou ainda mais alto. Estava com tanta raiva que pensou que fosse explodir.

- Não preciso, você virá até mim – disse o garoto, arrogante.

- Nem em sonhos, Malfoy – respondeu a ruiva rispidamente, baixando o tom de voz. Estava se sentindo cansada de tanto gritar.

- Em sonhos... – Draco deu uma boa olhada em Ginny, o que a fez ficar mais envergonhada – você faz muito pior. – concluiu ao ver a expressão da garota. Decididamente, adorava vê-la assim.

O garoto gargalhou abertamente, fazendo da ruiva uma completa boba. Ele adorava ver a cara de sonso dos outros. Tinha valido a pena beijar Ginny só pelas caras de indignação que fez para Draco.

Ginny parou e observou a cara de triunfo do loiro. “Vai ter volta, Malfoy... Ah se vai” retribuía em sua cabeça, que estava quase explodindo. O loiro parou repentinamente e a encarou. Um súbito desejo de ambas as partes reacenderam, mas nenhum deles fez qualquer tipo de movimento. Apenas se miravam, um tanto afastados “Para minha segurança” agradeceu Ginny, que foi mais rápida, se virando e dando as costas, saindo da enfermaria, pisando duro. Draco fez uma careta, atitude muito infantil, para a ruiva que já havia sumido na escuridão do corredor. Não negava uma atração por ela, porém, seu orgulho era maior que qualquer tipo de sentimento que havia no coração. Pelo menos, até o momento...”

Ginny sentou ao pé da escada e encostou sua cabeça em uma pilastra. Só podia ter sido um pesadelo.


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Do outro lado do castelo, encontrava-se um Draco Malfoy um tanto atormentado. Sentia-se estranho. Ele sabia a resposta para sua inquietude, mas, não a aceitava de maneira alguma. Sentou-se na cama, com muito esforço, apoiando seu peso nos cotovelos, até ficar reto, encostando de leve as costas no travesseiro macio. Encarou o teto, pensativo.

O que havia feito-o agir daquela maneira? Dessa vez, ele não tinha a resposta. Nos pensamentos, vieram possibilidades de que ele tivesse gostado da situação, “Não seja ridículo, Draco Malfoy, ela é uma Weasley babaca” murmurou para si. Ele queria agir como um perfeito sangue frio, sem sentimentos. Até conseguia, mas não por muito tempo, e aquela garota abalara essa pose que ele tanto privilegiava. Por algum razão inexistente, Draco não parava de retomar a cena em sua cabeça.

Passaram minutos, horas talvez, até que teve uma idéia, brilhante na opinião do loiro. Virou o pescoço lentamente, com medo de sentir mais dor, e encontrou, em cima de um criado mudo ao lado da cama, sua varinha. Esboçou um sorriso de falsa felicidade e estendeu a mão para pegá-la. Pensou bem antes de realizar o feitiço, já que era arriscado alguém vê-lo.

-Accio diário! – murmurou baixo, para que não escutassem - “Não iriam ouvir, senão o castelo inteiro já estaria acordado por causa dos gritos daquela louca” fuzilou os próprios pensamentos “Tire essa idiota da cabeça, Draco Malfoy” e fechou a cara.

Segundos depois, um pequeno livro veio voando em alta velocidade na direção do loiro, que estava agora com cara de satisfação. O livro pousou lentamente sobre o colo do garoto e ele começou a folheá-lo. Sentia leves arrepios quando passava por trechos muito melosos. Tornou a fechá-lo, aborrecido. Olhou a capa, e ficou minutos analisando-a. Era bonita e trabalhada. Muito rosa, na opinião do garoto. Alguns desenhos enfeitavam as bordas do livro. “Desenhos... aceitáveis” completou, ao passar os olhos por uma linda flor de cor vermelha, muito chamativa, no canto direito. Percebeu que, em algumas partes, algo havia sido tirado, como uma foto arrancada. Percorreu o desenho que estava centrado na capa. O garoto fez uma careta, desgostoso. Nela, havia uma Ginny Weasley muito corada, abraçada fortemente com um garoto de olhos muito verdes, com uma cicatriz à mostra, Harry Potter. Os dois acenavam freneticamente, como um casal bobo e apaixonado.

Draco desviou o olhar daquele desenho, um tanto inquieto. “Óbvio, a Weasley sempre gostou do Cicatriz” pensou, entediado. Tirou o livro do colo, pensativo. Estava quase desistindo de folhear o livro pela milésima vez, quando lhe ocorreu um pensamento. Ele tinha deixado de ler um trecho. Pegou-o novamente, abriu na primeira página e leu:

“Diário de Ginny Weasley”

Sorriu internamente. Adorava lê-lo. Era realmente muito interessante fuçar a vida dos outros, na opinião do garoto. Ele estava com o diário em mãos desde um dos primeiros dias de aula e não pode deixar de assumir que dava altas gargalhadas com as besteiras que a ruiva escrevia. “Francamente, ela é tão ingênua, chega a me dar pena” mas seus pensamentos de deboche logo varreram da sua mente quando ele chegou à página desejada. A última escrita por ela. Encarou por instantes a letra caprichada de Ginny. Soltou um muxoxo.

“1º de setembro, 1996, Hogwarts

Querido diário,

Hoje, primeiro dia de aula do 5º ano e eu já estou endoidando. Todos os professores falando dos NOM’s, estou com medo. Mas... não é isso que mais me aflige.

Eu não sei o que está acontecendo, o que eu estou fazendo de errado...
Tudo parece estar fugindo do meu controle. Nada mais era como antes.
Eu o amo tanto, por Merlin, por que ele está fazendo isso?
Pior eu não posso estar... Triste, abalada. Não estou em perfeito juízo.
E para completar, aqueles porcos sonserinos me tirando do sério. Ah, mas amanhã eles vão ver. Ainda mais aquele Malfoy arrogante. Por Merlin, ele deveria se explodir!

Bom, chega de reclamações... estou confusa demais para escrever. Estou pensando em conversar com Harry, mas não sei se ele irá me ouvir. Bom, veremos o que acontece.

Ginny.”

Respirou fundo e releu. Riu baixinho para não fazer barulho. Afinal, quem garante que a garota ainda não estava pelos arredores da ala hospitalar? “Patética, fica se derretendo para esse Potter nojento. Se merecem, isso sim” pensou, com um sorriso falso nos lábios. No fundo, estava constrangido com o que acabara de ler. Sem motivos. Fitou o diário da garota por mais um instante, observando a foto que se movia no canto. Ginny e Harry trocando alguns beijos tímidos, aparentemente muito bem um com o outro “Não mais” concluiu Draco. Fechou violentamente o diário e tornou a pensar na cena que ocorrera. Um sorriso se formou nos lábios do garoto. “Até que aquela Weasley não é tão idiota, serviria para passar o tempo” pensou, com triunfo por ter chegado a uma conclusão “brilhante”. Queria sentir a garota perto novamente somente para se gabar “Claro, eu sou irresistível” disse para si, arrogante. O plano estava feito.

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