Um bilhete?



Um bilhete?


Ginny acordou no dia seguinte muito sonolenta. Não tivera uma boa noite de sono. Sonhos estranhos perturbaram-na durante a madrugada. Tinha fundas olheiras nos olhos e uma cara visivelmente cansada. Passara os últimos dias na ala hospitalar, e no único dia que acidentalmente adormeceu no lugar, algo inusitado acontecera.

A garota arregalou os olhos e se lembrou. Como poderia ter esquecido? Ela havia beijado Draco Malfoy. Uma mistura de ansiedade e angústia passaram por Ginny. Estava tão absorta tentando relembrar seus esquisitos sonhos, que não recordara do beijo. Um beijo caloroso e frio ao mesmo tempo. Sensações estranhas. Sentimentos estranhos. Ela se lembrou e fechou os olhos. Assistia à cena pela milésima vez em mente. Havia sido estranho, porém, diferente. Mesmo sendo inusitado, ela havia gostado. E muito. Apenas fingia não assimilar tal sentimento. Esboçou um fraco sorriso, tentando fazer com que isso a acordasse, mas foi impossível. Seu humor estava péssimo.

Arrumou-se rapidamente e desceu as escadas do dormitório em direção ao Salão Comunal da Grifinória. Olhou de esguia para o lado direito e encontrou Harry, olhando a garota descaradamente. Ginny sentiu seu rosto corar e apressou o passo em direção ao quadro da Mulher Gorda, mas foi impedida. Alguém tocou em seu braço, e ela parou instantaneamente. Uma voz doce invadiu seus ouvidos, mas ela não soava do mesmo jeito que antes. Ela não reparou.

- Bom dia, Ginny. Será que eu poderia falar com você? – perguntou Harry. O verde de seus olhos brilhava fortemente, e fez com que a ruiva quase se perdesse com tamanha intensidade do olhar. Seu estômago revirou. Não estava certo.

- Bom dia... Pode falar, Harry – respondeu a garota, ainda corada. Apesar de estar sendo educada, ela não esquecera o que o garoto havia feito. Tinha desperdiçado seus sentimentos, e isso Ginny não tolerava. Lutava com todas as suas forças para que se mantesse calma. Havia algo errado nele - ou nela...

- Bom... eu queria avisar... – havia algo estranho, ele estava cauteloso com as palavras. Parecia pensar muito no que dizia, muito sutilmente, – que... os treinos de quadribol serão transferidos para os sábados. – completou, um tanto desapontado. A ruiva olhava-o sem emoção alguma, o que parecia ter constrangido Harry.

- Ah, é? Bom, por mim não tem problema – pensou um pouco Ginny, antes de responder. Analisava o garoto, tinha um olhar tão... – Espero que isso não atrapalhe seu namoro com a Chang, não é mesmo? – completou, um pouco assustada com o que ela mesma havia acabado de dizer. Estava um pouco constrangida, mas não mostrou tal fraqueza a Harry.

A expressão no rosto do garoto era indescritível. Ele não sabia como ela teria conseguido tal informação. Antes que o moreno pudesse rebater Ginny, a mesma esboçou um falso sorriso. O estômago de Harry revirou-se brutamente. Ele não havia percebido, ela já não estava mais lá.

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Ginny entrou como uma bala pelo Salão Principal. Passou pelas mesas rapidamente e pôde ver vários pares de olhos seguindo-a. Sentou-se e começou a comer seu café da manhã, ou melhor, empurrá-lo para o estômago. Estava completamente sem fome. Não prestava muita atenção na conversa de Rony e Mione, quando sentaram ao seu lado. Mexia lentamente o mingau de aveia, fazendo cara feia para a comida.

- Ginny? Alôôô! Acorde! – falou uma Hermione um tanto desesperada. Ginny virou-se bruscamente e encarou a garota. – Você sabe o que aconteceu com Harry? Ele está tão... estranho – completou, angustiada. Rony observava a irmã, esperando alguma reação diferente.

Para o espanto do garoto, a ruiva deu de ombros. Mione e Rony se entreolharam, incrédulos. Como assim, ela parecia não se importar? Estavam mesmo falando com Virginia Weasley, a garota mais apaixonada por Harry Potter? Aquela que sempre fez de tudo e mais um pouco pelos dois, mesmo quando ele se ausentava, alegando estar envolvido com Voldemort e seus planos? Aquilo não parecia real.

- Ginny, Você est... – começou Hermione, mas foi interrompida por uma garotinha muito loira, que chegava ofegante, esbarrando em seu mingau de aveia. Mione fez cara feia, e se limpou.

A loirinha era do 1º ano da Sonserina, e exibia um sorriso radiante, diferente dos elementos da própria casa. Estendeu o braço para Ginny, revelando um pergaminho impecável nas mãos da sonserina.

A ruiva agradeceu e se retirou, com o pergaminho em mãos. Apertava-o fortemente, apreensiva. Seu coração estava a mil quando saiu do Salão. Encostou em uma pilastra, e soltou um suspiro cansado - era dele...


Venha até a ala hospitalar, depois das aulas.
M.

“Ele é idiota ou não tem cérebro?” pensou Ginny, incrédula. “Acho que os dois”, completou. Sua expressão era de total desentendimento. Draco Malfoy pedindo para ela ir até a ala hospitalar para vê-lo? Algo estava errado. Muito errado. Nunca seria atitude de qualquer Malfoy pedir a um Weasley qualquer coisa que fosse. Eram tão... inimigos!
A ruiva espantou-se por pensar demais no assunto. “O que tem de mais?” pensou, ingênua. Porém, sabia que algo estava por trás disso. Ela tentou se convencer que não era por causa do beijo, mas não viu motivo mais óbvio “Com certeza, ele irá dizer que tudo não passou de alucinações, causadas pelas poções que ele tomou para se recuperar” e, tentou assim, sustentar essa hipótese até o final das aulas daquele dia.

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A ruiva caminhava lentamente, sem pressa alguma, em direção à ala hospitalar. Remoeu a pequena frase do pergaminho o dia todo, sua curiosidade atiçada desde o momento em que o recebera. Porém, além de apreensiva, estava um tanto angustiada. Chegou a conclusão que Malfoy era mais inconstante e imprevisível do que todos os Weasleys juntos. Ela não estava errada.

Entrou na ala, sem nem ao menos fazer barulho. Os passos eram abafados pelo barulho que vinha do lado contrário da sala. Madame Pomfrey estava discutindo em alto e bom som com um garoto da Lufa-Lufa. Ginny apenas pensou de súbito o por quê do escândalo, já que para que a enfermeira estivesse aos berros, algo bem fora do comum havia acontecido. Logo seus olhos se voltaram à cama mais distante de todas. A ruiva sentiu seu rosto esquentar, a medida que se aproximava, sempre sem som algum.

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- Por que, raios, eu fui escrever aquela merda de bilhete? – Draco murmurava para si. Fuzilava seus pensamentos, que eram totalmente voltados à burrice que havia cometido. Uma coisa era tentar agarrar Ginny Weasley somente para ter uma diversão a mais, outra era ficar mandando bilhetes. Uma sensação estranha percorreu o corpo, já recuperado, do garoto. Estaria, Draco Malfoy...

- Malfoy? – disse Ginny, incerta, surgindo entre o corredor mal iluminado. O garoto pulou de susto.

- Weasley! – Draco disse, quase aos berros. Seu coração havia disparado loucamente, mas ele tratou de se acalmar. Por que, diabos, tinha levado tamanho susto? “Devo estar doente ainda... só pode ser” concluiu em pensamentos. Suspirou cansadamente.
Fitou a garota por poucos segundos. O tom dela era de preocupação, mas ele sentiu algo diferente em sua voz. Um certo desprezo.

- Se a minha presença te faz levar sustos, Malfoy, melhor eu aparecer sempre – falou, sarcástica, era visível o olhar de indiferença da ruiva.

- Como você é generosa, Weasley, quer receber um trocado por isso? – retrucou friamente. O loiro adorava provocar os outros. Ainda mais quando se tratava de Weasleys.

Ela riu sombriamente. Parecia estar tentando esconder alguma coisa do garoto, que na hora reparou em tal semblante da ruiva. Ela ruborizou até a ponta das orelhas, ficando da cor de seus longos cabelos. Draco, de repente, reparou em seus cabelos - como contrastavam com a pele branca de Ginny... eram muito lisos, presos em um alto coque. Mechas caíam em sua face, fazendo-a ficar muito diferente. Na visão de pessoas normais, ela parecia um anjo. Na visão de Draco, ele sabia que não.

- Qual é, doninha, perdeu alguma coisa? – a ruiva fez o garoto acordar de seu transe. Ela o encarava duramente, apesar de continuar corada. Um brilho intenso passou pelo olhar da garota, mas Draco não percebeu.

- Se enxerga, Weasley – retrucou friamente. Ignorou totalmente a cara de indignação que ela fizera.

- Fica quieto e fala logo o por quê de ter me chamado aqui – Ginny parou e pensou

- Ora, não me dê ordens, sua pobretona. – Draco, definitivamente, havia esquecido seus bons modos - esquecidos sempre que aparecia um Weasley para ele humilhar.

- FALA LOGO, IMBECIL – esbravejou a garota. Estava tão vermelha quanto seus cabelos, suas sardas nem apareciam. O loiro jurou que havia visto uma fumaça saindo de suas orelhas.

- Poupe meus ouvidos, como se não bastasse ontem! – rebateu, com certo descaso. Isso foi o suficiente para que Ginny berrasse o mais alto que podia.

- NÃO MENCIONE O QUE ACONTECEU ONTEM – sua voz era mais forte do que ela mesma imaginava.

- Para de gritar – o loiro tampou os ouvidos, tentando, em vão, abafar a voz esguinançada de Ginny. A irritação começou a tomar conta dele.

- FALA LOGO, SEU BOSTA, COMENSAL INÚTIL! – gritara tanto que os ouvidos de Draco só faltavam explodir. Não tinha outra saída senão tratá-la da mesma forma.

- OLHA COMO VOCÊ DIRIGE A PALAVRA COMIGO – agora, ele que se alterara. Ginny não era ninguém para se meter desse jeito em sua vida, e muito menos chamá-lo de comensal. “Eu não sou comensal, sua idiota” respondia em pensamentos. Não esclareceu em voz alta por que seria uma desonra declarar isso a um Weasley.

A ruiva parou no mesmo instante em que ouviu a voz alterada de Draco. Ele havia gritado tão alto quanto ela. A expressão do garoto se alterara por um breve instante, mas Ginny não reparou.

- Ótimo Malfoy, isso só comprova o quanto você é ridículo. Não fale mais comigo.

- Para quê? Afundar minha reputação? Suma... – as palavras saíram naturalmente, mas ele percebeu que havia feito errado. “Controle-se, Draco, senão, desse jeito você não conseguirá nada” mas pensou melhor “Talvez um tapa na cara” completou, achando graça. A garota viu sua face formando um sorriso e ficou tão rubra quanto antes. Estaria ele rindo de Ginny?

- Morra, Malfoy... – ela virou rapidamente, dando as costas para o garoto, pronta para sair de lá o mais rápido que pudesse. Porém, ele foi rápido e tocou seu braço. Segurou levemente, sem muito esforço - afinal, a garota parou instantaneamente.

- A não ser que... – ele tentou, fazendo sua voz sair mais agradável possível. Porém, sua expressão não mudara.

- Me largue, seu imbecil. Tire essas mãos IMUNDAS de mim – vociferou, voltando-se e olhando fixamente em seus olhos. Os nervos a flor da pele da garota impediam que seus pensamentos formulassem alguma resposta melhor.

Draco se fuzilou. Por que estava tentando mais uma vez agarrar a pequena Weasley?
Ela deu uma última olhada para ele, e reparou em seu travesseiro. Uma pequena parte de um caderno muito bonito estava a mostra. Ela arqueou as sobrancelhas e tentou pensar “Esse caderno...” mas foi interrompida. Malfoy havia percebido que ela estava fixada em seu travesseiro e procurou esconder o caderno o mais rápido que pôde.

- SUMA! – o loiro disse com todo o ódio que tomava conta de si. Ele detestava com todas as suas forças os Weasleys, e Ginny não estava fora disso. “Que idéia maluca de chamá-la para devolver isso sendo que ela só me ataca? Não irei devolvê-lo” pensou, observando Ginny sair furiosa da ala hospitalar. Mas não sem antes perceber que ela ficava realmente muito bonita quando a provocavam.


...


“Idiota, idiota, IDIOTA! Porque você foi até lá, Virgínia Weasley?” a pergunta não parava de surgir em sua mente “Claro, porque você é burra” a resposta se materializava automaticamente. Percebia-se que sua auto-estima não era das melhores.
Sua cabeça latejava. Ela sabia que uma forte dor de cabeça estava por vir. Estava tão furiosa que não se importou em sair esbarrando em quem passasse. Odiava tanto Draco Malfoy quanto ele a odiava. Ele e sua família imprestável de comensais, e agora o loiro estava tirando sarro da cara da garota. Um sorriso brotou nos lábios dela - “Isso não ficará assim... não mesmo”. Parou por um instante e apoiou suas costas na parede fria do corredor do 2º andar. Andara tanto que era capaz de estar perdida. Uma pergunta óbvia tornou a incomodá-la, mas desta vez, ela não sabia a resposta. “Afinal, porque ele me chamou até lá?” Jurou a si mesma que descobriria, nem que tivesse que encará-lo de novo, mas não iria mandar bilhetes. Ginny era esperta suficiente para saber que Malfoy não aceitaria bilhete nenhum de algum Weasley. Uma luz acendeu em sua cabeça e uma idéia brilhante veio em mente.

- Virgínia? – uma voz rompeu o silêncio do corredor. Ginny virou os olhos em direção ao som.






N/A: Peço miiiiiil desculpas pela enorme demora, gente, desculpeeee >.< minha criatividade estava igual a zerooo!
Responderei os comentários, podexá, ando um pouco sem tempo, mas eu não abandono minha fic não, ok? Adoro ela =]
Beijos e obrigada pelos comentários!

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