A CAMINHO DE GODRIC’S HOLLOW



“Ele tinha os olhos verdes, iguais aos seus...”.
Essa frase ainda ecoava na mente de Lílian, desde a estranha e surpreendente revelação que Dumbledore lhes fizera, há alguns meses atrás. Devagar, ao longo dos dias de preparação para a festa do aniversário de Harry, e também da inevitável partida deles de Hogwarts, ela tivera algum tempo para digerir todas aquelas informações novas. Ou, pelo menos, era o que ela achava, até começar realmente a viajar. Agora, diante da realidade da viagem, ela tentava lembrar dos detalhes exatos daquela conversa, e com isso, conseguir assimilar totalmente o que tinha ouvido.

- [FLASHBACK] -

Já era tarde da noite quando eles receberam o patrono de Dumbledore chamando-os para conversar. Mesmo assim, em poucos minutos, ela e Thiago, levando um Harry sonolento nos braços, tinham chegado até a sala do Diretor. Porém, até aquele momento, nenhum dos dois tinha a menor idéia do verdadeiro motivo da conversa.

- Lílian! Thiago! É sempre bom ver vocês e o pequeno Harry... Aqui e em segurança, devo acrescentar. – Dumbledore cumprimentou-os de modo caloroso, apesar de aparentar cansaço evidente.

- Boa noite, professor! – Thiago, que não tinha sossegado um instante pensando nos seus amigos distantes, e na possibilidade de reuni-los no aniversário de Harry, não conseguiu segurar a ansiedade. - Confesso que eu já estava ansioso... Viemos lhe falar sobre a questão do aniversário do Harry há umas duas semanas atrás, eu estava aguardando uma resposta...

- Ah, sim... Claro, Thiago! Não esqueci da nossa conversa! Pensei muito a respeito e quero propor uma sugestão a vocês, que me parece a melhor.

- Diga, Professor, por favor!

- Para a segurança de vocês, eu proponho que vocês fiquem por aqui até o aniversário. No dia da festa, algumas horas antes, eu mesmo providenciarei para que os seus amigos sejam avisados e venham para comemorar conosco o primeiro aniversário do Harry. Podemos fazer uma boa festinha secreta, aqui no castelo mesmo, na Sala Precisa! Os elfos do castelo terão o maior prazer em preparar guloseimas especiais para a ocasião...

- Sala Precisa? Onde é isso? – Ela tinha perguntado intrigada. Conhecia tão bem o Castelo, depois de tantos anos, e nunca tinha escutado falar naquela sala.

- Tenho certeza de que Thiago terá o maior prazer em lhe contar tudo sobre essa sala especial do castelo, Lílian! – Dumbledore sorriu malicioso na direção de Thiago, que também sorria. – E aí, vocês concordam?

- Claro! – os dois responderam, animados, ao mesmo tempo.

- Bem, então está combinado. Podemos passar para o outro tópico da nossa conversa.

Os dois olharam confusos para o diretor. Que outro tópico?

- Ah, sim, deixe-me explicar. Eu tenho pensado muito sobre a situação de vocês e aquela minha idéia de encontrar um local definitivo e seguro para vocês morarem. Pensei numa solução que me pareceu perfeita, mas, tive que tomar uma série de providências antes de falar com vocês. Agora, finalmente, acho que está tudo resolvido. Tomei uma decisão e acho que tenho condições de resolver a questão e contar algumas coisas para vocês.

- Desculpaí, professor, mas nós não estamos entendendo!

- Bem... Sentem-se. Preciso, antes, contar uma historinha rápida para que vocês possam entender. Alguns segredos que me foram confiados e eu decidi que agora está na hora de serem revelados. Sobre a sua família, Lílian.

Os dois se sentaram em silêncio, aguardando. Dumbledore respirou fundo e começou, com voz pausada, a contar.

- Bem, na verdade, essa história não é tão rápida assim. Ela começa há muitos anos atrás. Há uns mil anos, para ser um pouco mais exato. Por isso, eu vou precisar de um pouco de paciência e atenção de vocês. Pode não parecer a princípio, mas isso tudo que eu vou contar é muito importante. Tenho certeza de que logo tudo vai ficar muito claro...

E então ele começou a narrar, quase como se estivesse lendo em um livro, a história dos dois garotos de uma vilinha sem nome, no centro do País de Gales. Dois meninos bruxos, amigos desde o nascimento, mas que seguiram caminhos bem diferentes ao crescer. O nome de Godric Gryffindor foi muito fácil de identificar, é claro. Mas Lílian nunca tinha ouvido falar de Gwydion Myrddin, o menino que cresceu para se tornar o druida da vila, que mais tarde receberia o nome de Godric’s Hollow.
A história continuava misturando-se um pouco com a própria história da fundação de Hogwarts. Lílian já conhecia alguma coisa, por ter lido, meio por alto, o livro “Hogwarts, Uma História”. Mas nada daquilo dizia respeito à família dela, uma família trouxa! Aí então, a história começou a tomar um novo rumo, mais pessoal, sobre a família de Gwydion e seus descendentes. Os Potter estavam entendendo cada vez menos qual a relação deles com tudo aquilo, até que Dumbledore finalmente chegou aos tempos mais atuais, com o nascimento de Catherine Jones, a primeira descendente aborto de Gwydion, depois de várias gerações.
“Epa... Catherine Jones? Esse era o nome de solteira da minha mãe...” foi o pensamento de Lílian, meio lentamente. E então, tudo ficou... Surpreendente! A Catherine Jones da história ERA MESMO a sua mãe, a moça que se casara com Arthur Evans em Londres!
Percebendo o espanto, Dumbledore achou melhor fazer uma pequena pausa. Lílian e Thiago silenciaram, boquiabertos, com o que tinham acabado de ouvir. Dumbledore deu um suspiro profundo e esperou, encarando-os com os olhos azuis brilhando por detrás dos oclinhos em meia-lua.

- Mas... Mas, Professor... Minha mãe... Quer dizer que...

- Professor, o senhor está dizendo que a mãe da Lílian, a minha sogra, a Catherine Evans que nós conhecemos, não era trouxa? Ela era, na verdade, um aborto? Um aborto de uma família meio importante de bruxos celtas? É sério?

- Exatamente isso, Thiago. Você entendeu perfeitamente! – Dumbledore cumprimentou-o, como se ele tivesse respondido certo uma questão na prova dos NOMs.

Lílian ainda sacudia a cabeça, incrédula, segurando firme o bebê adormecido.

- Mas isso não é possível, Professor! Eu saberia... Ela teria me contado...

- Pois é, Lílian... Aí vem a outra parte dessa história. Sua mãe sofreu muito com tudo isso. Não tanto com o fato de ser um aborto. Ela tinha sido criada como trouxa, muito amada pelos pais, tinha um marido trouxa que a amava. Acho que ela era feliz do seu jeito. Mas ao saber da história da família, ela criou expectativas em relação aos filhos. Afinal, havia a possibilidade de que seus filhos fossem bruxos! Quando sua irmã Petúnia nasceu, seus pais vibraram de ansiedade e expectativa. Durante vários anos, expuseram a pobre menina a sustos e testes, na tentativa de identificar possíveis poderes mágicos nela. Mesmo sem ter nenhum sinal, eles esperaram, chamaram parentes distantes para vê-la, sempre na esperança de que ela fosse bruxa.

Dumbledore fez uma pequena pausa dramática, observando atentamente a reação de Lílian à história. Limpou os óculos, serviu-se de um cálice de conhaque e só então continuou.

- Você pode imaginar a frustração da pequena Petúnia quando todos perceberam que ela, afinal de contas, não era bruxa, e pararam de dar atenção a ela... Nessa época, ela estava já com mais ou menos uns cinco anos, você nasceu. Uma menina muito viva, diferente, desde o berço. Petúnia se encheu de ciúmes, fez birra, ficou doente. Seus pais ficaram tão preocupados com ela que abandonaram por um bom tempo a história de poderes mágicos na família. A cada vez que a frágil Petúnia ouvia falar em magia, dava um chilique, tinha crises de choro até perder o fôlego, ataques de alergia, desmaios... Isso, é claro, afastou definitivamente os parentes bruxos da sua família... Até que você completou 11 anos...

- Até que eu recebi a carta de Hogwarts... – Lílian murmurou, completando o pensamento em voz alta.

- Isso mesmo. Até que ficou claro, sem sombra de dúvidas, que VOCÊ era bruxa. Uma descendente da linhagem de Gwydion Myrddin. O que, na opinião pessoal, era meio evidente desde que você nasceu...

- Como assim, Professor?

- Pelas características físicas comuns aos bruxos da família, Lílian. Pelos traços comuns... Cabelos avermelhados, traços celtas... Mas principalmente os olhos! Gwydion tinha os olhos verdes, amendoados, dessa tonalidade esmeralda, iguais aos seus... Esses mesmos olhos inconfundíveis!

- Mas como o senhor sabe disso?

- Ah, em Godric’s Hollow existe um retrato belíssimo dele, você vai ver... Muito bem pintado, bem realista... Mas não só por isso. Hogwarts tem recebido seus descendentes através das gerações, e eu pude ver esses mesmos olhos verdes amendoados, essa mesma tonalidade rara e brilhante de esmeralda, algumas vezes, por mim mesmo. – Dumbledore encarou-a por um momento, e, com um suspiro, voltou a atenção para a história. – Pois bem... Antes de você vir, para o início das aulas do primeiro ano, recebi uma carta de sua mãe. Na carta, sua mãe contava mais ou menos essa mesma história que eu estou contando aqui, e me pedia para que nada sobre o passado da família dela fosse revelado a você. Um dia, ela dizia, ela mesma contaria tudo a você. Embora eu não concordasse muito com a maneira da sua mãe encarar a situação, respeitei o seu pedido. Nunca disse nada nem deixei que nenhuma pista transparecesse...

- Mas... Eu não entendo. Por que todo esse segredo? Por que esconder tudo desse jeito? Por que não deixar que eu soubesse da história da família?

- Por sua irmã, Lílian. Sua irmã, na visão da sua mãe, tinha sofrido, e ainda sofria muito com tudo isso. E sua mãe se culpava pela infelicidade dela. Quando você veio para cá, tornou-se uma bruxa talentosa, feliz, realizada... Fez amigos, arrumou vários namorados e fãs, tornou-se bastante popular... – Dumbledore olhou para Thiago, divertindo-se com a cara ciumenta que ele fazia ao ouvir isso. – Era feliz, enfim. Sua mãe interpretou, erroneamente a meu ver, que você era forte e feliz, não precisava saber de tudo isso. Ela quis proteger a filha que considerava mais necessitada. Acho que ela pretendia contar, um dia. Mas infelizmente morreu antes de ter essa chance.

- Então era isso... – Lílian começou a compreender, de repente, o temperamento obsessivo da irmã, todo o horror que ela sempre demonstrava em relação à magia e ao mundo bruxo. Sentia uma mistura confusa de emoções, um pouco de raiva da mãe, um pouco de pena da irmã, uma vaga sensação de perplexidade com tudo... Olhou para o bebê dormindo sossegado no seu colo e uma parte dela compreendeu a decisão da mãe.

- Mas por que o senhor está contando tudo isso pra gente agora, Professor?

- Bem... Porque um tio-avô seu, Gawain Myrddin, faleceu há poucos anos atrás, deixando em testamento os seus bens para a filha bruxa de sua mãe. Ele não tinha herdeiros diretos e, mesmo sem ter podido conhecer você, intuiu que alguma filha de Catherine seria, sim, bruxa. E queria que essa filha pudesse ser incluída na velha linhagem, que conhecesse o passado da família... Nada melhor para isso do que lhe deixar de herança uma casa e alguns bens em Godric’s Hollow...

O espanto de Lílian não parecia ter limites. Então ela era dona de uma casa, em um lugar que nem sabia que existia até poucos minutos atrás? Herança de um parente, de uma família, que ela nem sabia que existia?

Dumbledore inclinou-se um pouco para frente, encarando-a de um jeito carinhoso.

- Eu estive lá em Godric’s Hollow, conferi pessoalmente a casa, a vila toda. A casa está em ótimas condições, é um sobrado bem gostoso, acho que pode ser o lugar perfeito para vocês ficarem e criarem Harry em segurança e com conforto. A vila é escondida e sossegada o suficiente para que vocês se instalem sem alarde... Mas, mesmo assim, acho que temos que tomar algumas medidas extraordinárias de segurança, porque ainda não descobrimos quem é o traidor. Assim que vocês chegarem e estiverem instalados na casa, devem fazer um Feitiço Fidelius. Eu...

- Sirius!

- Como?

- Sirius vai ser o fiel do segredo, Professor. Desculpe, mas tem que ser ele.


- [FIM DO FLASHBACK] -

“Ele tinha os olhos verdes, iguais aos seus...”, Lílian pensou novamente. Agora, olhando seu filhinho alegre, batendo palminhas encarapitado nos ombros do pai, ela se sentia orgulhosa. Seu bebê também tinha os mesmos olhos verdes, um pouco das características físicas comuns aos bruxos da família. Os mesmos olhos inconfundíveis!
Tinham decidido viajar no final do verão, e viajar boa parte do trajeto como trouxas. Isso serviria bem como camuflagem, não deixando nenhum rastro de magia ligando-os a Godric’s Hollow.

- Ei, Ruiva, que tal o passeio, hein? – Thiago, vermelho e suado pelo esforço de correr com o filho nos ombros, sorriu para ela. – Às vezes eu até acho que os trouxas sabem se divertir, afinal...

Lílian sorriu, dando um beijo na bochecha do marido. Viajar desde Hogwarts, no norte da Escócia, até Godric’s Hollow, no meio do País de Gales, significava atravessar a Grã-Bretanha. Para um bruxo, isso nada significava: bastava concentração e o treino para aparatar no lugar desejado. Mas para um casal de trouxas, viajando com um bebê de 1 ano, era uma experiência totalmente diferente. Especialmente para alguém criado entre bruxos, como Thiago, sem nenhuma experiência com a vida sem poderes mágicos. Era divertido, com certeza. Eles estavam fazendo a viagem como se fossem jovens mochileiros, por trilhas menos freqüentadas, parando em pequenas pousadas ao longo do trajeto. Evitavam as cidades maiores. Assim, podiam aproveitar a paisagem, que era ainda mais bela nessa época do ano.
Voltando a prestar atenção no presente, Lílian parou para observar um pouco o marido e o filho. Thiago tinha resolvido soltar Harry na grama e correr com ele, aproveitando o trecho de planície do vale em que estavam. Não dava para saber quem estava se divertindo mais: o bebê bamboleante, que ria e batia palmas, dando gritinhos de “Papa! Papa!”, ou o pai, que fingia correr ao lado, com os cabelos rebeldes espetados ao vento, as bochechas coradas e o sorriso orgulhoso.
- Ei, Lil, tive uma idéia! Espera só um minuto. – Thiago gritou, já pegando o bebê no colo, que protestou imediatamente, e correu com ele na direção de uma pousadinha que avistou de longe.
Sem ter idéia do que o marido ia aprontar, Lílian resolveu esperar quieta, sentando na beira da trilha, admirando o ambiente ao seu redor. Era uma paisagem atemporal: o campo, as margens dos lagos, nascentes de rios e encostas de montanhas, passando por monumentos pré-históricos misteriosos e cidadezinhas rurais.
Distraída, ela só notou que os dois já estavam de volta quando Thiago gritou de novo:

- Ei, Ruiva! Olha só pra gente aqui!! – Ele estava trazendo duas bicicletas com eles. Deixando uma delas no chão, tentava se equilibrar pela primeira vez na outra, ensaiando as primeiras pedaladas com um Harry felicíssimo na cestinha.

- Bici’teta! Bici’teta!!

Ela não resistiu a uma gostosa gargalhada vendo o marido penando para manter o equilíbrio sobre duas rodas, fazendo um trajeto completamente tortuoso. Montou rápido na bicicleta extra, e saiu suavemente pedalando, ultrapassando os dois num instante.

- Mama! Mama! – Harry aplaudiu, com uma expressão que insinuava a sua vontade de mudar de carona.

Thiago não titubeou. Sacando a varinha do bolso, fez um gesto bem discreto sem dizer nada e a guardou de novo. Imediatamente, seu equilíbrio ficou ótimo e seu ritmo na bicicleta mais rápido. Lílian, que não tinha percebido o feitiço não-verbal, elogiou:

- Parabéns! Você pegou o jeito super rápido! Eu já devia imaginar, do jeito que você voa bem na vasso...

Mas ele nem chegou a completar a frase. Ao ser ultrapassada, ela percebeu que ele agora nem disfarçava usando os pedais. Seguia bem folgado, sorrindo, com os pés só apoiados nos pedais, enquanto a bicicleta continuava a deslizar, ganhando cada vez mais velocidade. E, no momento em que ela fazia o elogio, a bicicleta dele deu um leve tranco, levantando vôo, graciosa, com Harry novamente batendo palmas e dando gritinhos de felicidade.

- Aê, filhão, dá tchauzinho pra mamãe!

- Thiago! Isso é trapaça!! Você ia conseguir sem mágica num instante... – Não aguentou a zanga e continuou a gritar, rindo. – Parece até um filme que eu assisti há muitos anos atrás, ET... Ou então, a motocicleta voadora... – Depois, com um estalo de compreensão, completou: - Você é mesmo competitivo demais, bem que Sirius fala! Aposto que fez isso só pra garantir a preferência do Harry...
A bicicleta do marido inclinou-se de leve e pousou suavemente ao seu lado, e os dois deram as mãos, sorrindo sem dizer mais nada.
Dava quase para esquecer os tempos difíceis e pensar só em aproveitar o momento, a companhia um do outro e curtir o filho pequeno. Mas não dava para esquecer tudo. Tudo o que acontecia com eles, de alguma maneira os fazia lembrar dos amigos.
A cada parada, Thiago mandava uma coruja para cada um deles, e recebia logo as respostas dos três, contando as novidades da Guerra, alguma coisa sobre cada um deles, e a queixa comum de saudades.
Os cinco não viam a hora de poder se reunir de novo, apesar de tudo.


~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Longe dali, enquanto os Potter viajavam, Sirius vivia imerso na sua obsessão em descobrir o traidor entre eles. Ou melhor, em provar que Remo era o traidor. Com a fuga do casal de amigos, a morte de Dorcas e a possibilidade de um Maroto ser um traidor, Sirius tinha se tornado solitário, irritadiço, paranóico. Isolava-se nas reuniões da Ordem, prestando mais atenção no comportamento dos outros do que no que era falado.
Mas a saudade era inevitável. Saudades dos tempos de brincadeiras e camaradagem, ou mesmo do início da Guerra, as missões compartilhadas com coragem e bravura entre os amigos.
Tinha recebido uma coruja de Thiago naquela manhã, o que tornava a saudade ainda maior. Thiago insistia para que ele desse a Remo o benefício da dúvida, que todo mundo era inocente até que se provasse o contrário. Contava também que estavam quase chegando ao seu destino e que, assim que estivessem instalados, mandariam nova coruja com endereço para que Sirius fosse o primeiro a visitá-los. Falava muito das gracinhas de Harry, das brincadeiras dos 3 juntos. As novidades eram ótimas, mas tinham deixado Sirius com o coração apertado, dividido entre a culpa por condenar um amigo sem provas, a saudade dos tempos de escola e um pouco de inveja pela felicidade evidente de Thiago, apesar de tudo. Com tudo isso na cabeça, tinha resolvido procurar Remo.
Chegando à porta do apartamentinho de Remo, tocou a campainha com o escarcéu que era a sua marca registrada. Esperou uns minutos, sem resposta.

- Remo? – gritou do lado de fora.

Mais uma vez, não houve resposta. Depois de alguns instantes, ele não teve dúvidas. Sacou a varinha com um gesto rápido:

- Alohomora!

Se isso fosse há alguns meses atrás, ele não teria a menor dúvida, o menor receio de ir entrando sem cerimônia, acomodando-se como se aquela fosse também a sua casa. Mas muita coisa tinha mudado entre eles, e Sirius ainda vacilou um pouco, na beira da porta, antes de, finalmente, entrar na casa do amigo, daquele jeito.
O apartamento era minúsculo. E arrumação nunca tinha sido o forte do Aluado, pensou Sirius, dando uma olhada geral. Uma enorme pilha desordenada de papéis sobre a mesa da sala logo chamou a atenção dele. Remo sempre pareceu acumular mais papéis do qualquer outra pessoa. Isso se devia em grande parte ao fato de ele ser muito meticuloso, muito estudioso. Mas agora Sirius olhava aquele monte com outros olhos, cheio de suspeita.
Sem pensar duas vezes, Sirius atravessou a sala, indo direto mexer na papelada sobre a mesa. Ele não tinha a menor idéia do que procurar, mas tinha certeza de que saberia identificar se achasse alguma coisa importante.
Espalhando um pouco os papéis, ele logo notou que a maioria não continha a caligrafia regular e bem conhecida de Remo. Era a letra de alguém completamente desconhecido.
Mas então ele deu um pulo assustado, quando ouviu uma voz bem atrás dele. Virando-se rapidamente, ficou cara a cara com Remo, que vinha enxugando as mãos numa toalha.

- Sirius? Era você que eu ouvi me chamando?

- Hã? Emm... ah, eu toquei a campainha! Quase derrubei a campainha, na verdade. Você não respondeu, eu fui entrando... – Sirius tentava esconder o seu embaraço.

- Procurando alguma coisa?

- Não! Quero dizer… Procurando você, Aluado. Eu vim fazer uma visita, recebi uma carta do Thiago hoje...

- Eu também recebi. - Remo cortou, seco, encarando-o, desconfiado.

Sirius começou a se sentir culpado. Remo era um dos seus melhores amigos há tantos anos, não merecia ser espionado, tratado daquele jeito.

- Ah, e o que ele conta? – Sirius tentou mudar de assunto

- Falou um pouco sobre como eles estão, sobre a viagem como trouxa, sobre a Lílian e o Harry, você sabe... Provavelmente o mesmo que contou a você, não é? – Remo respondeu com uma ponta de ironia. Depois completou, com tristeza: - Na verdade, provavelmente você deve saber muito mais do que eu...

Seguiu-se um silêncio constrangedor.

- E aí, como é que você vai, Aluado? Não tenho notícias suas desde o aniversário do Harry...

- Bem. Sobrevivendo. Mas a que eu devo essa curiosidade depois desse tempo todo?

- Saudades, provavelmente.

- Ah, tá. – Remo jogou a toalha numa cadeira próxima, pegando um paletó dali. – Bem, eu tenho que sair agora, se você me dá licença...

- Sério? E onde você vai?

- Eu… - Remo parou no meio da frase, encarando Sirius. – O que você quer? O que é isso na sua mão?

- O quê?

- Na sua mão. Você estava mexendo nos meus papéis?


- Eu? Eu não! Esse papel aqui é meu!
- Não. É meu. Eu sei reconhecer minha papelada, mesmo que pareça a maior bagunça.

- Bom, tá certo. Eu estava xeretando, mesmo. Mas, veja bem… - Sirius levantou o pergaminho na altura do rosto do amigo. – Essa aqui não é a sua letra. Suspeito, né? Do que se trata?

- E desde quando eu devo satisfação a você, Sirius? – Remo respondeu sufocando a irritação, enquanto olhava melhor para o documento à mostra. - É do Dumbledore. Foi ele quem me deu isso.

- Mas essa não é a letra dele. – Enchendo-se de suspeita, de novo, Sirius subiu o volume da voz, assumindo um tom acusatório. - Eu conheço muito bem a caligrafia do Dumbledore.

- Eu sei. Ele me deu para que eu checasse se essas informações são corretas.

Sirius aproveitou o momento e deu uma boa olhada no papel.

- É sobre Thiago e Lílian.

- Eu sei.

- Ei, mas… Pra mim ninguém deu nada disso!

- Bom, então, vá reclamar com Dumbledore, Sirius! – Remo agora gritava também, sem conseguir mais controlar a raiva. – Pode ser que ele tenha as razões dele pra dar essa função pra mim e não pra você! Ou então, ele esqueceu de te mandar uma cópia...

- Ah, muito engraçado!- Sirius observou Remo vestir o paletó. – Então, onde você está indo?

- Trabalho.

- Mas a gente não está de serviço hoje.

Remo virou-se e o encarou, com uma fúria evidente no olhar.

- Eu sei, Almofadinhas. Eu estou falando daquele tipo de trabalho para o qual a gente é pago. Eu sei que para alguém como você, que nunca teve que pensar em se sustentar, isso é estranho, mas gente como eu tem que arrumar uma maneira de ganhar dinheiro.

- Mas você não tem um emprego. – Sirius estava se controlando para não sacudir Remo de raiva.

- Mas eu tenho uma entrevista.

- Mas justo agora? A essa hora?

- O que que tem o horário? Ah, Sirius, não me amola! Desde quando você se interessa pela minha vida? Por acaso você está tentando me acusar de alguma coisa? Só se for de lobisomem, pobre e bagunceiro!

Silêncio.

- Você não está acima de suspeita, Remo. Ninguém está. – Sirius falou, por fim, parecendo recuperar a calma.

Remo retribuiu o comentário com um sorriso triste.

- Relaxa, cara. Tudo certo.Eu entendo. No seu lugar, acho que talvez eu tivesse a mesma reação. O lobisomem pobre é o suspeito óbvio.

- Não tem nada a ver! – Sirius resmungou, irritado, dividido entre a culpa e a suspeita.

- Bom, tudo bem. Eu tenho que ir. Se você quer continuar a olhar os meus papéis, o resto das minhas coisas... sinta-se à vontade.

Sem olhar para trás, Remo caminhou em passos rápidos e aparatou, deixando Sirius parado ali. Depois de alguns instantes, Sirius deixou o papel que estava segurando de volta sobre a mesa e saiu, furioso e frustrado.

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Bom, gente, muito, muito obrigada MESMO a todos que têm vindo ler a fic, a todos que tem comentado aqui, tem cobrado as minhas demoras e tido paciente pra esperar eu atualizar! BRIGADÃO!!
Bem, sobre esses capítulos, ficaram um pouco menores do que o habitual, eu acho, mas divididos em 2 fica mais fácil pra ler... espero que gostem, e que sintam saudades do Snape, há 2 capítulos que não falo dele!! Hehe...
Alguns comentários, em particular:

Sally: ah, menina, o que eu posso te dizer? Adoro tudo o que você escreve, sua fic, ADORO os seus comentários, fico super feliz ao lê-los!! Aliás, esse último foi super útil!! Não sei o que me deu na cabeça, eu que sou super cuidadosa em rever essas coisas de datas, nomes e tudo o mais do cânon, fiquei na idéia de que Hogwarts tinha só 300 anos! Que vergonha! Ainda bem que você falou, eu corri lá pra corrigir... Ufa! Espero que tenha gostado desses capítulos, achei que colocar tudo em um só ia ficar muito grande, divididos eles ficaram um pouco menores do que o meu Grawp habitual, mas fica mais fácil pra ler, né? Continue sempre fazendo esses super mega comentários que eu adoro sempre!! Que bom que você gostou da descrição da mansão dos Malfoy homenageando a sua!! Pois é, as escolhas erradas acabaram destruindo uma riqueza que parecia eterna no seu auge, né? Quanto à festa, confesso que usei um pouco da inspiração da festa dos vampiros, mesmo. Quis criar um clima meio parecido. Serviu, né? Quanto ao Severo... que posso dizer? ADORO o Ranhoso!! Espero que você tenha sentido falta dele... no próximo ele volta com força total, mais ranhoso e inadequado do que nunca. De novo, você vai notar que quis mostrar o Thiago e a Lílain muito felizes, mesmo fugindo, ainda mais estando às vésperas de uma tragédia. Grande beijo!!
Bernardo: Pois é, andei meio enrolada, demorando a atualizar a fic, e me sinto em dívida com você porque ainda não postei meu comentário lá na sua fic desses 2 capítulos mais recentes. Mas tenha a certeza de que adoro a sua fic, acabo até usando os seus personagens como comparação em comentários em outros lugares, estou curtindo pra caramba. E ADORO os seus comentários aqui, sucintos, diretos, mas sempre inteligentes e especiais! Hehe... Ainda vou conseguir fazer com que você enxergue o Severo um pouco melhor... Grande beijo!

Belzinha: ai, Belzinha, fico até com vergonha, mas tenho que acabar repetindo, feito a “sua” Ana: menina, você é uma fofa! Adoro o que você escreve, adoro os seus elogios, as suas sacadas ao selecionar o que mais gostou em cada capítulo me emocionam! Obrigada!! Realmente, eu me diverti escrevendo o relacionamento dos Comensais com o Severo. E a ironia dele é própria do cara inteligente e amargurado que ele é, né? A Narcisa, imaginei um jeito de ela se identificar com o Severo, sem rolar romance. Ele, tanto quanto ela, só tem um amor na vida... Você gostou do Harry bebê, espero que tenha curtido o passeio de bici’teta dele... não resisti... Muito do relacionamento do Thiago e da Lílian acaba se parecendo com a Ana e o Carlinhos, o Harry e a Gina, o Rony e a Hermione, que você e a Sally escrevem tão bem... Mil beijos!

Morgana Black: ai, desculpas, mil desculpas por ter demorado tanto!! Acho que dessa vez eu é que devia me flagelar, né? Fiquei muito feliz que você tenha curtido a festinha do Harry: eu imaginei um momento de muita emoção mesmo. E, como disse aí em cima, eu adoro escrever cenas felizes e divertidas do Harry bebê com os pais! Acho que pra compensar toda a infelicidade que ele teve depois... Só resistiu sem virar maligno porque o amor dos pais deixou uma “reserva” boa... Quanto à festa, você sacou o clima direitinho. E a Narcisa, você viu, eu imaginei uma mulher com conteúdo, com um algo mais... Casar com um Comensal da Morte só poderia ser uma roubada, né? Bem, espero que a espera por um capítulo novo tenha valido a pena, que você tenha curtido os cap. 13 e 14. Super obrigada por acompanhar com tanto entusiasmo a fic, pelos elogios e cobranças! Adoro as suas invenções morganianas, a mais famosa que adotei também foi a de enumerar os comentários... hehe... Muitos beijos!!

Charlotte Ravenclaw: que bom, caras novas comentando!! Fiquei muito feliz e agradecida com os elogios! Pois é, eu sempre desconfiei desse Shakespeare! Hehe... Espero que tenha curtido também os capítulos novos! Beijão!

Bem a todos que lêem, comentam, não comentam, muito obrigada! Espero que continuem acompanhando e curtindo! Prometo não demorar pra postar o próximo! OBRIGADA MESMO!! BEIJÃO!!

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