DECISÕES DE UM VELHO BRUXO



CAPÍTULO 11

DECISÕES DE UM VELHO BRUXO


Vários meses se passaram sem que as coisas se modificassem. A guerra contra as Trevas, cada vez mais sangrenta, estava mantendo os membros da Ordem da Fênix muito ocupados. Dumbledore tinha destacado pequenos grupos para garantir a segurança de lugares, postos e pessoas estratégicos, usando as informações fornecidas por Severo. Isso fazia com que a maioria do grupo estivesse em trânsito constante.
O inverno rigoroso forçara os Potter a se manter dentro do esconderijo improvisado da Casa dos Gritos. Não tinham muito a reclamar, na verdade, porque os elfos domésticos de Hogwarts se esmeravam para que os três tivessem o máximo de conforto possível e as melhores comidas e guloseimas da cozinha da escola. Mas, com a chegada da primavera, foi ficando cada vez mais difícil manter o pequeno Harry, que agora engatinhava e ensaiava os seus primeiros passos, o tempo todo dentro de uma cabana pequena. Era uma época muito perigosa, Dumbledore era obrigado a frisar inúmeras vezes, e os três só tinham permissão para ficar na área protegida em volta do castelo e longe dos olhares dos alunos. Isso reduzia o espaço permitido às proximidades da cabana de Hagrid e a margem da Floresta Proibida, mas já era suficiente para muita diversão. Não dava para saber quem estava gostando mais dessa novidade, se era o bebê ou o seu novo companheiro de brincadeiras, Hagrid.
Dumbledore conseguia aproveitar alguns desses momentos de descontração para observar de longe. Era muito bom, reconfortante, mesmo, saber que, mesmo num momento difícil como aquele, uma criança tão especial, correndo tanto perigo, podia crescer em relativa paz e normalidade, cercado pelo amor dos pais, e brincar alegre, junto com gente amiga e confiável, como Hagrid. Era um consolo, na verdade, diante de todas as preocupações e notícias tristes que o diretor recebia diariamente. Sentado na sua sala, observando a imagem de Harry Potter brincando ao lado dos pais e de Hagrid, através do janelão, Dumbledore suspirou e tomou um último gole do seu conhaque. Não podia se dar ao luxo de demorar mais tempo ali. Tinha que ir, um membro da Ordem tinha sido assassinado. Pegou uma chaleira, entre os seus inúmeros pertences, apontou sua varinha para ela e disse:
- Portus!
E, com apenas um toque na Chave de Portal recém-criada, seguiu rumo ao seu destino.

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Enquanto o diretor observava de longe, Lílian e Thiago, sentados juntos na soleira da porta da cabana de Hagrid, acompanhavam de perto as brincadeiras do filho. Depois de tantos meses de frio e reclusão, era ótimo aproveitar um pouco do sol gostoso de primavera.

- Olha só o Harry tentando andar com o Hagrid, Thiago! Olha que graça!

- Hã? Ah, é...

Lílian desviou a atenção do bebê para o seu marido. Thiago tinha levado as cartas que recebera dos amigos na última semana para ler ao ar livre. Mas a leitura o tinha enchido de tristeza e preocupação.

- O que foi, amor? O que eles contam?

- Hmm... Sem grandes novidades...

- Thiago! Falaí, “Pontas”, eu te conheço! E depois, eles são meus amigos também, não são? Qual é o problema?

Thiago deu um suspiro:

- Ah, Lil... Na verdade, eu não sei o que pensar. Os três têm nos mandado carta praticamente todo dia. Os três dizendo que estão morrendo de saudades da gente, perguntando muito sobre o Harry... Eu, sinceramente, não consigo acreditar que um deles é traidor! E eles estão tão solitários, tão baixo-astral... Imagine você que eles não se encontraram mais desde o Natal! Desde aquela reunião na sede da Ordem, depois daquela noite em que Dumbledore deixou bem claro as suspeitas que tem... Eles não se encontraram mais!

- Mas... E o que eles dizem?

- Ah, você pode imaginar... O Remo fala pouco, você conhece o cara... Quando ele tem um problema, quando está triste, fala menos ainda. Bem, ele está mais reservado e tristonho do que nunca. Procurando um emprego fixo, na maior dificuldade por ser lobisomem, ainda mais nos dias de hoje... Ele está amargurado, acho que tem medo de que a gente esteja desconfiando dele, já que todo mundo sempre desconfia de lobisomem... Dá até pra perceber, lendo nas entrelinhas, que ele tem as suspeitas dele. Acho que ele suspeita do Sirius! Já o Sirius, por sua vez, é o oposto, como sempre: escreve páginas e mais páginas contando absolutamente TUDO o que ele acha sobre TUDO... Ele está descontrolado, furioso e triste com a morte da Dorcas, com a nossa fuga, com a possibilidade de um dos três ser um traidor... Ultimamente, ele jura que vai PROVAR que o culpado de tudo é o Remo! E o Pedro... Ah, pobre Rabicho! Esse, coitado, está completamente perdido... Está sozinho, morto de medo, de preocupação por todos, inseguro, desamparado com a falta dos amigos... Triste de dar dó!

- Ai, Merlin... Nunca pensei que isso fosse acontecer! Quero dizer, a gente sempre soube dos riscos da guerra, do perigo de ser membro da Ordem... Já escapamos por um triz do próprio Voldemort... Enfrentar as Trevas, lutar pelo que é certo, tudo bem... Mas viver um clima de suspeita assim, desse jeito, entre os nossos melhores amigos de toda a vida? Nunca podia imaginar!

- É isso que me incomoda, Lil! Eu não consigo enxergar nenhum deles como traidor e não me conformo deles desconfiarem uns dos outros! Eles três não têm família, como nós. Nós temos sido a família uns dos outros desde sempre... E eles estão passando por toda essa coisa de missões secretas, batalhas, atentados... toda essa guerra horrorosa... sozinhos!

Os dois ficaram em silêncio, perdidos em pensamentos e preocupações, vendo o filhinho brincando. Alheio a tudo, Harry dava seus passinhos desengonçados segurando no dedo enorme de Hagrid, os dois felizes com a brincadeira. Lílian e Thiago não puderam evitar um sorriso com a cena.

- Um dia tão lindo, esse céu azul, solzinho gostoso... a gente aqui, vendo nosso filho, assim, crescendo, brincando alegre, saudável... A gente precisa de tão pouco pra ser feliz, na verdade, não é? O duro é que esse pouco é, ao mesmo tempo, tão frágil... – Ela sussurrou, pensativa. Depois concluiu com um suspiro: - Não sei se dá pra entender o que eu estou querendo dizer...

- Entendo, sim, meu amor...- Thiago abraçou a mulher com carinho e deu um beijo nos cabelos dela. – E concordo plenamente com você. A gente tem muita sorte, Lil... A gente tem tanta sorte de ter um ao outro, ter o Harry! Eu acho que minha vida estaria perfeita agora se não fosse por essa história dos nossos amigos...

- Perfeita? - Lílian sorriu, divertida. Retribuiu o beijo com um nos lábios, de leve, segurando o rosto do marido com ternura. Depois, olhando firme nos olhos dele, completou:

- Ah, esse meu marido... É um otimista, mesmo! Nós estamos no meio de uma guerra, que por sinal estamos perdendo... Estamos fugindo, escondidos, sem-teto... Metidos numa cabaninha mixuruca e provisória... Perseguidos e jurados de morte pelo pior vilão de todos os tempos... a vida do nosso filhinho bebê correndo perigo por conta de uma Profecia que diz que ele é quem vai enfrentar o tal bruxo vilão... e você ainda diz que a vida está QUASE perfeita? Não quero nem ver quando você achar que nós temos problemas...

Thiago riu e respondeu:

- Mas é verdade, Lílian, pensa! A gente está nessa guerra desde os tempos de escola... Essa coisa de guerra não me impede de te amar loucamente, nem de ser imensamente feliz por ter você do meu lado! Não me impede de admirar a maravilha extraordinária que é ter um filho como o Harry, perfeito... – deu uma risada maior porque sabia que o filho era a sua cara. - ... Saudável, alegre, esperto... Sou incrivelmente feliz de poder acompanhar e curtir o crescimento do nosso filho do seu lado...

- Mas...

- Ah, Lil, eu sei o que você vai dizer. Eu não sou bobo. Nem maluco. Eu sei do perigo que a gente corre. Mas aprendi... Como é mesmo que o professor Binns falava?

- Professor Binns?- Lílian deu uma grande risada. – Eu nunca soube que você prestasse a mínima atenção nas aulas de História da Magia, Thiago!
- Eu sou um homem de inúmeros talentos, minha cara... Ui! – Ele se esquivou por pouco de uma cotovelada divertida da mulher. - Ei! É sério! Ah, lembrei... “Carpe Diem”... “Aproveite o dia”... Há muito tempo eu aprendi a aproveitar o presente...

Interrompeu a sua fala, emocionado, perdido naqueles olhos muito verdes fixos nele, cheios de amor. A doçura daquele olhar o fez perceber que sabia o que tinha que fazer:

- Lil, é isso, está decidido! Vamos dar um jeito de reunir os amigos para comemorar o aniversário de 1 ano do Harry... Vamos falar com Dumbledore, pensar num jeito... Nós temos que resolver essa situação. Eu tenho que conversar com esses caras, pessoalmente. Cara a cara, tirar a limpo as suspeitas... Tirar a dúvida. Se um de nós é traidor, tenho que descobrir quem é. E, de qualquer maneira, reunir os Marotos de novo!

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“Ah, isso só pode ser o inferno”, pensou Alastor Moody. O céu mais limpo e azul que ele já vira, a grama mais incrivelmente verde, os lírios florescentes deixando um delicioso perfume no ar... Até uns malditos passarinhos cantando! Uma manhã perfeita como aquela, e eles reunidos ali para ver Angélica Fenwick deitar as primeiras flores sobre o túmulo recém coberto do seu marido Benjo. Um bruxo de 25 anos...
Até mesmo as pedras das tumbas pareciam brilhar ao sol daquela manhã maravilhosa de maio. Estavam todos lá. Membros de uma mesma irmandade, unidos ali, sentindo-se como uma espécie em extinção. Dédalo Diggle, mais atrapalhado do que nunca, fungando muito, ao lado de Elifas Doge, usando aquele seu chapéu ridículo e inconfundível. Uma mulher esquisita, mal vestida e cheirando a gato e repolho, que Moody reconheceu como sendo a Arabela Figg, logo atrás. Na frente deles, a figura imponente, mesmo estando muito abatido, de Alvo Dumbledore, ladeado por Minerva McGonagall e um grupinho de bruxos mais jovens. Encolhidos, cabisbaixos, quietos, lá estavam Sturgio Podmore, Kingsley Shackelbolt, Emmelina Vance, Hestia Jones, e o trio, que agora parecia ser de ex-amigos: Sirius Black, Remo Lupin e Pedro Pettigrew.
Nesse instante, uma espécie de gemido alto quebrou o silêncio. No começo parecia algum lamento ininteligível, mas logo em seguida o conteúdo ficou mais claro:

- Eles o mataram! – era Angélica, a viúva, quem gritava. – Os Comensais da Morte mataram meu marido! Torturaram e mataram... Só sobraram pedacinhos dele! É tudo por causa da Ordem! Porque ele fazia parte da Ordem da Fênix, como todos nós... Eles estão nos caçando, um por um...

“Ah, cale essa boca, mulher, pelo amor de Merlin!” Alastor Moody pensou furioso. Tudo bem, um enterro era uma cerimônia particular, mas cemitérios são espaços públicos, sabe-se lá quem podia estar ouvindo esse desabafo de Angélica... Alastor Moody podia compreender a dor e o sofrimento alheio, mas isso nunca o fazia esquecer do dever, nem da segurança do grupo. “Vigilância constante!” ele vivia repetindo.
Algumas mulheres se aproximaram e a abraçaram, tentando consolar a jovem viúva. Angélica, então, acabou desabando num choro silencioso, amparada pelo pequeno grupo.
“Bem... é hora de dizer umas últimas palavrinhas inúteis de simpatia para a família e sair daqui. Voltar ao trabalho” pensou Moody. Hora de sair à caça do miserável que tinha torturado o companheiro, um bruxo tão jovem e talentoso. Hora de lutar pela justiça contra quem o reduziu a pedacinhos. Hora de descobrir quem foi o canalha que fez isso.

- Eu acho que podemos deixar Angélica em paz, Alastor. Acho que Emmeline e Héstia estão fazendo um ótimo trabalho ao lado dela, agora.
Moody se voltou na direção da voz inconfundível de Dumbledore.

- Ah, então você está aí?

- Eu estava aqui o tempo todo... – Dumbledore respondeu suavemente.
- Mas eu não vi você se aproximando...

- Eu não queria chamar a atenção. Não quero impor a minha presença, não depois do que Angélica disse...

- Hmpf... – Moody resmungou em resposta, sombrio.

- Bom, até mais, Alastor! Vou voltar para o castelo.

- Ah, não! Espere um instante, Alvo! Eu também já ia voltar ao trabalho, mas isso pode esperar. Precisamos trocar umas palavrinhas antes...

- OK, então. Já que está perto da hora do almoço, podemos dar um pulo no Caldeirão Furado...

- Ótimo! Vamos antes que sejamos vistos.

Moody deu uma rápida olhada em volta. Estavam todos concentrados, depositando flores cuidadosamente sobre o túmulo. Aproveitando o momento, os dois bruxos desaparataram discretamente, com um ruído suave de “pop”.
Reapareceram alguns segundos depois na porta do Caldeirão Furado. O lugar estava quase deserto. Dumbledore e Moody escolheram uma mesinha discreta num canto mal iluminado e fizeram seus pedidos. Assim que Tom se afastou, deixando os pratos e as bebidas na mesa, Moody finalmente começou a conversa, em voz baixa:

- Algumas notícias ruins são as mesmas de sempre... O Caradoc Dearborn, esse continua desaparecido... nem sinal do homem! Com certeza os Comensais o pegaram. Só não demos a notícia oficialmente para a família ainda... Bem, mas, em compensação, eu consegui, graças às dicas do seu espião, prender, pessoalmente, dois Comensais: Travers e Mulciber, aqueles dois ratos nojentos! Isso me leva ao assunto mais importante que queria tratar com você, Alvo. Eu fiquei sabendo de uma coisa que interessa a você, eu acho... O Ministério iniciou uma investigação, por enquanto sigilosa, por conta de algumas denúncias... Bem, vão indiciar o Severo Snape.

Dumbledore levantou o olhar do prato na direção do amigo, mas não disse nada. Alastor Moody esperou alguns instantes, avaliando a reação do diretor. Sem conseguir chegar a uma conclusão, ele finalmente acabou perguntando, no seu jeito franco:
- Você confia mesmo nesse rapaz?

Dumbledore sorriu e respondeu apenas:

- Confio, sim, Alastor. Plenamente.

- E aí, o que você pretende fazer a respeito?

- Tomar as medidas necessárias, meu amigo...

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Duas semanas depois, Severo estava do lado de fora do Décimo Tribunal, esperando a sua audiência.

- Senhor...? – O jovem bruxo tentou perguntar, enquanto caminhava de um lado para o outro pelo corredor de pedra do Ministério, ainda mais pálido do que o habitual, suas vestes negras esvoaçando atrás dele.

- Vai dar tudo certo, Severo. – Dumbledore respondeu a pergunta não formulada. – Pense que, depois do depoimento de hoje, ninguém mais vai poder mexer com você no futuro.

- Mas e se o Ministro Crouch decidir me mandar para Azkaban mesmo assim?

- Ele não vai fazer isso. – a voz de Dumbledore soou firme e determinada, como que para por um fim a qualquer dúvida. – Eu vou testemunhar a seu favor, vou empenhar minha palavra em seu nome. Você vai descobrir que a minha palavra tem muito peso...

As pesadas portas do tribunal foram abertas nesse instante e um bruxo magricelo saiu e anunciou, numa voz sem emoção:

- A Suprema Corte chama Severo Snape para ser ouvido agora.
Severo respirou fundo e fez um esforço para consertar a sua postura. Em seguida, entrou caminhando com passos firmes e cabeça erguida, decidido, rumo ao centro do salão.

Dumbledore seguiu logo atrás dele, observando-o com uma ponta de admiração. Aquele que há poucos segundos atrás era só um rapaz assustado, tinha se transformado, num instante, diante dos seus olhos, num bruxo adulto firme, decidido, orgulhoso... Até mesmo um tanto arrogante! Dumbledore sabia que ninguém no tribunal era bom legilimente, mas mesmo assim, tentou conferir uma entrada na mente de Severo. Nada. Onde antes havia um tumulto de emoções era agora uma tela em branco. O diretor surpreendeu-se com a firmeza e o autocontrole daquele jovem bruxo, de apenas 22 anos.
A sala estava praticamente na penumbra. A única iluminação vinha de archotes pendurados ao longo de toda a extensão das paredes de pedra. Várias fileiras de bancos estavam dispostas em níveis sucessivos ao longo de todo o salão e todos os bancos estavam lotados de bruxos e bruxas. O secretário indicou uma cadeira para que Dumbledore se acomodasse, ao lado de Severo, no centro do salão.
À frente de todos, destacando-se dos demais bancos, estava uma espécie de mesa comprida de mármore preto polido, em formato de uma lua crescente. Atrás dela, acomodados em cadeiras de espaldar alto, estavam os doze bruxos membros da Suprema Corte, vestidos com seus trajes oficiais mais solenes, negro e escarlate.
Apesar da multidão que parecia lotar o tribunal, reinava um silêncio pesado lá dentro. Todos os olhos estavam voltados para o bruxo pálido e magricelo, de longos cabelos pretos ensebados, sentado no centro do tribunal.

- Severo Snape, você foi intimado a comparecer para prestar depoimentos à Corte Suprema do Ministério da Magia, para responder à acusação de ser um Comensal da Morte. – a voz forte e ríspida de Bartô Crouch ecoou pela sala. – O que você alega?

Severo se levantou da cadeira, tremendo quase que imperceptivelmente e encarou Crouch com firmeza:

- Eu não tenho nada a esconder perante essa Corte, senhor Ministro. Eu me declaro culpado da acusação!

Um murmúrio geral percorreu a sala do tribunal. Crouch foi obrigado a gritar pedindo ordem no tribunal, e a bater seu martelo por três vezes, para que a platéia se acalmasse e fizesse silêncio de novo.
Antes que a audiência continuasse, o professor Dumbledore se levantou e pediu a palavra, dirigindo-se à corte.

- Ministro Crouch! – Ele disse. – Meu nome é Alvo Percival Wulfric Brina Dumbledore. Eu estou aqui para fazer a defesa de Severo Snape.

- O que você tem a declarar perante essa corte, Dumbledore, já que o próprio réu se declarou culpado?

- Eu estou aqui para testemunhar em nome dele, para garantir com a minha palavra a credibilidade de Severo Snape. Eu testemunho aqui, sob juramento, que ele veio me procurar, há alguns meses, de livre e espontânea vontade, declarando seu arrependimento por ter seguido o caminho das Trevas e querendo desertar dos Comensais da Morte. Apesar de se expor a um enorme risco pessoal, no entanto, ele concordou com a minha proposta de se tornar um espião na minha cruzada contra Lorde Voldemort...
Um novo burburinho percorreu a sala, e Dumbledore esperou que o silêncio voltasse para continuar:

- Eu o nomeei meu novo Professor de Poções em Hogwarts, no lugar do Professor Slughorn, que vai se aposentar. Ele se mudou para o castelo há 1 semana. Eu o tenho na minha maior estima e confiança. Declaro aqui perante todos vocês que confiaria minha própria vida a Severo Snape.

Bartô Crouch parecia extremamente aborrecido com o testemunho de Dumbledore. Vários outros membros da corte remexiam-se em suas cadeiras, num evidente desconforto com a situação. Mas a Ministra da Magia, Millicent Bagnold, uma velha bruxa de ar circunspecto e grave, pediu a palavra:

- Diante desse testemunho, eu proponho que o conselho vote a moção de manter o bruxo Severo Snape sob supervisão e vigilância de Alvo Dumbledore, liberando-o das penalidades cabíveis. Quem for a favor dessa decisão levante a mão.

Praticamente todos os bruxos do conselho levantaram a mão. Apenas Bartô Crouch e uma bruxa baixinha ao lado dele não votaram a favor.

- Muito bem. – o Ministro Crouch retomou a palavra. – Severo Snape, é decisão aprovada por esse Conselho que você seja mantido sob supervisão de Alvo Dumbledore. Ele assume a garantia do cumprimento da sua palavra. Se em algum momento soubermos que você voltou à sua antiga vida, você será capturado e mandado para Azkaban para prisão perpétua, sem necessidade de novo julgamento. Eu fui claro?

- Perfeitamente, senhor! Severo respondeu.

- Então, eu declaro essa sessão da Corte oficialmente encerrada.

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Poucos minutos depois, Dumbledore e Severo estavam de volta a Hogwarts, à sala do diretor. Dumbledore parecia muito satisfeito com o desfecho de tudo. Tinha conseguido que a audiência fosse marcada para uma semana depois da mudança de Severo para Hogwarts, tornando-o, assim, oficialmente professor da escola e sob sua proteção, mesmo antes da saída definitiva de Slughorn. Tinha avisado Severo com tempo suficiente para que ele fosse procurar Voldemort e contasse a ele sua estratégia de defesa. O rapaz estava seguro agora. Pelo menos dos perigos externos.
Severo, no entanto, ainda estava sombrio. Observando Dumbledore em silêncio, enquanto o diretor abria seu armário e preparava, tranquilamente, dois copos de conhaque para um brinde, ele fazia força para sufocar e manter sob controle as suas emoções. Caminhou até a janela lateral e ficou observando o lado de for a do castelo. Já estava anoitecendo, mas o céu nublado não permitia ver o pôr do sol com nitidez. Ele não sabia porque, mas isso o entristeceu. Ele tomou a liberdade de abrir a janela, querendo um pouco de ar fresco. Enquanto respirava fundo, sentindo a brisa leve, ele tentava refrescar a memória com o porquê de estar ali.
“Eu devo ser mesmo um completo idiota, traindo o lado vitorioso da guerra, me unindo a esse caso perdido”, pensou Severo. A única coisa de que ele tinha certeza, no início de tudo, era a necessidade de salvar Lílian Evans. Era vital para ele fazer tudo o que fosse preciso para garantir que ela sobrevivesse. Tinha sido por esse motivo que ele aceitar ser um espião. E embora parecesse uma completa estupidez, embora fosse extremamente perigoso, arriscado, trabalhar assim como um agente duplo, ele sabia que não voltaria atrás nunca mais. Ele não sabia identificar direito o motivo, nem para si mesmo. Afinal, há muito tempo ele tinha deixado de se importar com a opinião dos outros sobre ele. Ele também não pensava no que é certo ou errado, ele não achava que aquilo era uma espécie de segunda chance para ele ou algo assim. Ele não se importava realmente com relacionamentos, com amizade ou confiança. Certamente não se importava em conquistar a confiança de um velho bruxo bondoso e crédulo. Quase ingênuo.
Ele balançou a cabeça numa negativa muda e irritada. Mas mesmo assim, ele tinha certeza de que faria todo o esforço, energia e talento naquele trabalho. Era agora a sua missão. Para quê, afinal? Não teve tempo de pensar na resposta.

- Então, Severo, vamos fazer um brinde ao sucesso da audiência! Saúde!
- Obrigado, senhor! – Severo fez um leve aceno de cabeça enquanto brindava também.

- Ora, ora, Severo, eu também tenho que agradecer por tudo o que você tem feito!

- Não glamurize os fatos, senhor. O senhor precisava de um espião, um traidor, e eu concordei em fazer o trabalho...

- Eu precisava de um guerreiro. A arma certa no lugar certo. Isso é uma guerra, para lutar precisamos de todo o tipo de soldados.

- Por sorte, o senhor podia contar comigo, esperar que eu fosse desprezível o suficiente para me aliar aos Comensais... e ainda mais para traí-los. – Severo respondeu, cheio de ironia e amargura.
Dumbledore encarou o rapaz com seriedade.

- Eu sabia do tamanho da raiva e da angústia que você carregava, Severo. E Tom sabe jogar com esses sentimentos muito bem. Você, melhor do que eu, sabe que poucos entre aqueles que servem ao Lorde Voldemort o fazem por amor à sua causa. Muitos se aliaram a ele porque querem poder, ou porque ele lhes dá a oportunidade de satisfazer seus próprios desejos cruéis. Mas a maioria acaba se unindo a ele para escapar do medo, da revolta – ele manipula esses sentimentos para atrair no início, e depois eles sabem que não podem mais escapar.
A resposta surpreendeu Severo, que ficou mais pálido e seu olhar assustado. Dumbledore deu um suspiro pesaroso e continuou:

- E eu não consegui impedi-lo. Não consegui impedir nenhum deles de se tornar um Comensal. Eu não pude impedir Tom de recrutar seus primeiros seguidores. Eles já eram adultos o suficiente para que eu já não tivesse influência sobre eles. Eu deveria ter feito mais... Se pelo menos eu tivesse me tornado diretor uns 10 anos antes... As outras pessoas acabam pagando pelos meus erros, e eu tenho falhado com muita freqüência...
Ele levantou o olhar e voltou a encarar Severo.

- Acho que esse deve ser o preço de aceitar o cargo. Você sempre vai falhar. Você pode no máximo esperar que os seus acertos superem em número e importância os seus fracassos...

Dumbledore fez uma pequena pausa, mas Severo continuou calado, olhando para ele.

- Eu espero que, um dia, você possa me perdoar por ter deixado as coisas seguirem o rumo que seguiram, Severo. Espero que, um dia, você possa me encarar com menos rancor. Eu sou um homem velho, e já sou velho há muito tempo... Eu muitas vezes me esqueço do que é ser jovem e solitário. Do que é sentir-se um excluído. E ao mesmo ser muito, muito brilhante, inteligente, talentoso. Os problemas de sala de aula muitas vezes parecem tão pequenos vistos da sala do diretor... os meus próprios problemas como aluno foram há tanto, tanto tempo atrás! Tantas outras batalhas acabam tomando minha atenção...
Ele sorriu com tristeza.

- Veja agora, por exemplo. Eu espero que uma inocente criança pequena, quase um bebê, cresça para ser o herói que pode destruir Voldemort. Veja que destino horrível para se desejar para uma criança! E mesmo assim, eu farei tudo o que puder para garantir que isso aconteça... Que tipo de pessoa faz coisas como essa?

- Mas o senhor só faz porque isso pode representar o fim do Lorde das Trevas, o fim desse horror...

- Sim! É isso mesmo. O fim desse horror! E assim, eu faço o que tem que ser feito. Apesar de ainda não conseguir enxergar nenhuma luz no fim do túnel, pelo menos não num futuro próximo.

Ele tomou mais um gole da sua bebida e ficou em silêncio. Severo finalmente resolveu falar:

- Eu sou muito grato ao senhor por confiar em mim, professor. Mas ao mesmo tempo isso me aflige. E se nem eu mesmo souber se sou digno de confiança?

Dumbledore encarou o jovem e sorriu:

- Acho que você pode acreditar no julgamento de um velho experiente, Severo.

- Mas, professor... Pelo menos o senhor pode me prometer que não irá confiar tão facilmente. Nem em mim, nem em ninguém, mesmo os mais próximos. Se o senhor conseguiu ter um homem junto ao círculo mais íntimo do Lorde das Trevas, ele também pode estar fazendo a mesma coisa! O senhor parece às vezes... tão ingênuo, disposto a acreditar no melhor das pessoas!

Dumbledore abriu um sorriso largo.

- Pensei que você confiasse um pouco mais na minha inteligência, Severo!

- Não se trata disso, senhor...

- Eu sei do que se trata. Mas pode acreditar: a confiança é a melhor política.

- Não é, se isso acabar levando o senhor a ser morto! O senhor quer que eu continue vivo, que eu sobreviva a tudo isso, não é? Tem feito tudo para me salvar. Então o senhor tem que me prometer que também vai tomar cuidado, que vai sobreviver!

Um brilho de triunfo passou pelos olhos de Dumbledore.

- Não é uma promessa fácil para um homem da minha idade, e na minha posição, cumprir. Mas eu prometo que vou tentar. Apesar de saber que, nessa guerra, qualquer um de nós pode ser chamado a se sacrificar por um bem maior. Com certeza, eu daria minha vida, se isso fosse necessário para a nossa causa, em algum momento. Mas eu vou tentar me manter vivo, Severo, eu prometo. Agora vá descansar. O dia de hoje foi muito desgastante... Vá! Boa noite, Severo.

- Boa noite, senhor.

Severo saiu rapidamente e em silêncio da sala. Dumbledore continuou tomando o resto da sua bebida, sorrindo sozinho. Aquele rapaz era melhor do que ele próprio imaginava.

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Já era bem tarde da noite quando Dumbledore resolveu chamar os Potter para conversar em sua sala. Em poucos minutos, Lílian e Thiago, levando um Harry sonolento nos braços, estavam à sua frente.

- Lílian! Thiago! É sempre bom ver vocês e o pequeno Harry... aqui e em segurança, devo acrescentar.

- Boa noite, professor! Confesso que eu já estava ansioso... Viemos lhe falar sobre a questão do aniversário do Harry há umas duas semanas atrás, eu estava aguardando uma resposta...

- Claro,Thiago! Não esqueci da nossa conversa! Pensei muito a respeito e quero propor uma sugestão a vocês, que me parece a melhor.

- Diga, professor, por favor!

- Para a segurança de vocês, eu proponho que vocês fiquem por aqui até o aniversário. No dia, algumas horas antes, eu mesmo providenciarei para que os seus amigos sejam avisados e venham para comemorar conosco o primeiro aniversário do Harry. Podemos fazer uma boa festinha secreta, aqui no castelo mesmo, na Sala Precisa! Os elfos do castelo terão o maior prazer em preparar guloseimas especiais para a ocasião...

- Sala Precisa? Onde é isso?

- Tenho certeza de que Thiago terá o maior prazer em lhe contar tudo sobre essa sala especial do castelo, Lílian! – Dumbledore sorriu malicioso na direção de Thiago, que também sorria. – E aí, vocês concordam?

- Claro! – os dois disseram animados ao mesmo tempo.

- Bem, então está combinado. Podemos passar para o outro tópico dessa nossa conversa.

Os dois olharam confusos para o diretor. Que outro tópico?

- Ah, sim, deixe-me explicar. Eu tenho pensado muito sobre a situação de vocês e aquela minha idéia de encontrar um local definitivo e seguro para vocês morarem. Pensei numa solução que me pareceu perfeita, mas, tive que tomar uma série de providências antes de falar com vocês. Agora, finalmente, acho que está tudo resolvido. Tomei uma decisão e acho que tenho condições de resolver a questão e contar algumas coisas para vocês.

- Desculpaí, professor, mas nós não estamos entendendo!

- Bem... Sentem-se. Preciso contar uma historinha rápida para que vocês entendam. Alguns segredos que me foram confiados e eu decidi que agora está na hora de serem revelados. Sobre a sua família, Lílian.
E Dumbledore começou, com voz pausada, a contar tudo a eles. Depois de alguns minutos, fez uma pequena pausa. Lílian e Thiago silenciaram, boquiabertos, com o que Dumbledore tinha acabado de lhes contar.


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Hehe... o que Dumbledore contou, só no próximo capítulo...

Aê gente, quero agradecer a todos que têm vindo ler a minha fic, principalmente a todo mundo que tem deixado comentários, elogios...
Os comentários dão o estímulo pra gente continuar escrvendo, super obrigada mesmo!!
Antes de mais nada: minha fonte de nomes, acontecimentos e datas tem sido o site "The Harry Potter Lexicon" ( http://www.hp-lexicon.org/) Quem não conhece, vale a pena dar uma olhada. É claro que tudo que está lá é mencionado nos livros, mas o site acabou virando uma espécie de "enciclopédia sobre Harry Potter" pra consultas rápidas sobre qualquer coisa: datas, pessoas, lugares, feitiços, etc...
Bem, créditos e propaganda feita, vamos lá:

Belzinha: puts, menina, desculpe pela "intimada" que eu te dei... É que eu estou tão acostumada a ler seus comentários que estava sentindo a maior falta dele no capítulo 10... Adoro seus comentários longos, super obrigada pelos elogios, pela força, por tudo. Espero que acostume com o nome novo da fic, e que goste desse cap. também! Como eu acho que você escreve muito, muito bem, eu respeito pra caramba o que você fala! Beijão!Ah, claro, eu estou AMANDO a sua fic!!

Sally: ah, que bom que você gostou da capa! Eu aproveitei a dica da Sorcerer, o vocalista do "Nine Inch Nails" é mesmo a cara do Snape, não é? Adoro seus comentários, longos, tipo resenha mesmo. Sim, o cap. 10 foi bem sofrido, por conta do que rola com os Marotos, né? Acho que foi por isso que quiz rechear de flash backs, pra mostrar os tempos felizes deles. Concordo com você, o Código dos Marotos é A cara deles...risos... E confesso que me inspirei nos acontecimentos atuais do mundo, mesmo, pra escrever o discurso do Dumbledore na reunião. Espero que continue curtindo a fic, e comentando sempre! Super obrigada pelos elogios! Você sabe o quanto eu gosto do que você escreve, respeito muito sua opinião. Beijão!

Bernardo: ah, super obrigada pelos elogios! Sim, eu morro de dó quando escrevo alguma coisa sobre os Potters... o Pedro, pra mim, é um dos piores sacanas dessa história, com certeza. Quanto ao Snape, confesso que toda vez que escrevo um diálogo dele eu lembro de você... risos... espero que curta esse capítulo também, cheio de "Snape desprezível" E, claro, me inspirei em você, o "mestre do suspense" pra deixar no ar a revelação de Dumbledore até o próximo capítulo ...hehehe...

Pra todo mundo que passa por aqui, que lê, que acompanha... super obrigada!! E por favor, comentem!! Pode reclamar, pixar, elogiar, corrigir, discordar... Eu adoro comentários! Desculpem a demora em postar esse capítulo novo. Espero escrever o 12 e postar ainda neste feriado, pra compensar! Beijão pra todos e... aguentem a curiosidade sobre o segredo da família da Lílian até o próximo capítulo...hehehe!!


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