CORAÇÃO DE LEÃO



CAPÍTULO 10
CORAÇÃO DE LEÃO


(With a Little Help from my Friends - Beatles)

"What would you do if I sang out of tune?
Would you stand up and walk out on me?
Lend me your ear and I’ll sing you a song
And I’ll try not to sing out of key

Oh, I get by with a little help from my friends
Oh, I get high with a little help from my friends
Gonna try with a little help from my friends

What do I do when my love is away?
(Does it worry you to be alone?)
How do I feel by the end of the day?
(Are you sad because you’re on your own?)

No, I get by with a little help from my friends
Oh, I high by with a little help from my friends
Gonna try with a little help from my friends"



- [FLASHBACK]- 01/SETEMBRO/1971

Antes que a turma de alunos do primeiro ano saísse completamente do controle, a Professora McGonagall foi até eles e tentou acalmá-los, explicando brevemente o que iria acontecer. Mas era uma missão quase impossível. A bruxa alta e magra, vestida de verde esmeralda, tentava fazer sua voz sobrepor-se ao murmúrio geral:
- ... A Seleção é uma cerimônia muito importante... Existem quatro Casas nessa escola, criadas pelos quatro fundadores. Sua casa será uma espécie de família em Hogwarts. Vocês assistirão às aulas com os alunos de sua casa, dormirão no dormitório da casa... Cada Casa tem a sua história honrosa... Seus símbolos animais representam sua virtude característica principal: a mente aguçada da Águia representa a inteligência da Corvinal... o Leão, a coragem da Grifinória...
Os alunos novatos, ansiosos, não conseguiam ouvir mais do que uns fiapos da explicação, mas isso não fazia a menor diferença.
- Quietos, agora! Façam uma fila bem organizada, por favor! Sugiro que vocês se arrumem o melhor que puderem enquanto esperam. – Concluiu a professora, lançando um olhar severo na direção de um grupinho especialmente barulhento de meninos. Pouco a pouco, toda a turma foi fazendo silêncio, conforme a expectativa crescia. Depois de um intervalo, que pareceu de horas, a professora Minerva finalmente voltou e os colocou em fila para a entrada no salão. Imediatamente, o medo e a ansiedade de todos foram substituídos pelo deslumbramento.
Mesmo para aqueles que, sendo filhos e parentes de bruxos, já tinham ouvido falar muito sobre Hogwarts, a primeira visão do Salão Principal era uma emoção de tirar o fôlego. Havia de ser inesquecível aquela sensação, as portas se abrindo pela primeira vez. O Salão muito amplo, iluminado por milhares de velas flutuando no ar. O pé-direito muito alto, terminando num teto enfeitiçado para parecer, sempre, um lindo céu de noite enluarada. As quatro mesas muito compridas, onde os alunos mais velhos já estavam sentados, aguardando a cerimônia, cheios de expectativa. As mesas postas com pratos e talheres dourados. Misturados aos alunos, dezenas de fantasmas, brilhando feito uma névoa prateada. E, lá na frente, a mesa comprida e solene dos professores.
Enquanto os calouros admiravam, boquiabertos, todo aquele espetáculo, a professora tinha colocado um banquinho diante do primeiro da fila. Sobre o banquinho, ela colocou com cuidado um chapéu de bruxo, muito velho e remendado, que, para a surpresa da maioria dos novatos, começou a cantar. Assim que acabou, foi saudado por uma explosão de aplausos.
- Quando eu chamar seus nomes, vocês devem pôr o chapéu na cabeça e se sentar no banquinho para a seleção. Abbott, Helen!!

- LUFA-LUFA! – anunciou o chapéu, depois de uma pequena pausa.

- Black, Sirius!
- É a minha deixa, meninas... – sussurrou o garoto moreno, com ar galante, na direção das meninas logo atrás dele na fila.
Ao sentar-se, porém, ele perdeu o ar displicente. Fechou os olhos com força, apertou as bordas do banquinho e pensou “Sonserina, não, Sonserina, não!”

“Hmmm… Mas, que interessante! Sonserina, não, hein?- a vozinha sussurrou imediatamente em resposta. – Toujours pur ... A nobre e mais tradicional família Black... Você pode ser grande, você faz parte de uma longa tradição, você sabia, não é?”
“Sonserina, não! Eu odeio isso! Eu odeio essa mania de pureza! Sonserina, não, por favor!” – o garoto pensou, já tremendo de ansiedade.
“OK, então. Vejo que você tem muita coragem, meu rapaz... Tem uma mente aguçada... Tem muita vontade de provar seu valor... É capaz de tudo por um amigo… e há de ser implacável com os inimigos... Ah, com certeza, você vai ficar melhor na...”

GRIFINÓRIA!! – foi o só o que o resto do Salão ouviu depois de uma pausa longa.

Ao invés da explosão de aplausos, fez-se um silêncio cheio de espanto. Sirius se ergueu ainda trêmulo do banquinho e olhou de relance para a mesa da Sonserina, onde todos estavam boquiabertos. Sentiu o olhar penetrante da prima Bellatriz, um misto de desaprovação, espanto e curiosidade, dirigido a ele. O professor Slughorn, Chefe da Sonserina, sentado na mesa dos professores, parecia ter sofrido uma punhalada pelas costas. Mas Sirius estava tão feliz e aliviado que nada o incomodou. Nem a fraca recepção dos ainda espantados companheiros da Grifinória. Enquanto isso, a seleção continuou:
- Boot, John!!

CORVINAL!!

- Avery, Thomas!!

SONSERINA!!

E assim foi indo. Sirius, nervoso no seu canto e ainda desentrosado, aplaudia as escolhas.
- Lupin, Remo!!

“Você tem uma grande sede de conhecimento, eu posso ver isso. E um senso de justiça que seria muito adequado à Lufa-Lufa... Mas há muita coragem no seu coração… sim, coragem para encarar as dificuldades, o preconceito... Sim,! Com certeza, é isso o que eu mais sinto em você. Sem dúvida, seu lugar vai ser…” - a vozinha murmurou na cabeça dele, concluindo em voz alta:

GRIFINÓRIA!!

Ele se acomodou ao lado do garoto moreno que tinha provocado a maior comoção da cerimônia ao ser escolhido para a Grifinória. Com o coração batendo forte, ele recebeu uma acolhida animada do colega.
- Oi! Eu sou o Sirius Black... Mas não deixe que isso conte pontos contra mim... – o garoto completou rindo.
- Ah, oi! Eu sou o Remo... – o outro riu também. Já se sentia quase tão feliz do que quando tinha recebido a confirmação de que poderia, mesmo, ir para Hogwarts
- Pettigrew, Pedro!!
Um menino gordinho, o mais baixo de todos, engoliu em seco. O garoto tímido caminhou com as bochechas muito coradas até o banquinho e se sentou, com o Chapéu Seletor quase afundando na cabeça. Mas o que o Chapéu enxergou foi uma coisa muito diferente.
“Hmmm... Mas que interessante! Muito interessante!! Você vai fazer parte de algo grande, garoto! Você terá que fazer escolhas de muita coragem... Para o bem ou para o mal... Para trazer as Trevas, ou a Ordem... Escolhas muito, muito importantes! Você tem muita coragem, por incrível que pareça! Afinal, é preciso coragem para escolher, para lutar ou trair... Pode parecer estranho, mas seu lugar é na...”

GRIFINÓRIA!!

O garoto desceu do banquinho, ainda suando, para se juntar aos colegas que aplaudiam entusiasmados, com uma única certeza: nunca diria a ninguém o que o chapéu tinha lhe dito.
- Potter, Thiago!!

“Ah! Vejo que o garoto Black vai ter um parceiro à altura! Você tem a mente aguda da águia, uma inteligência privilegiada, garoto! Vejo muito talento em você! Poderia se dar muito bem na Corvinal, sem dúvida… Muito orgulhoso, também... Mas tem o coração de ouro... leal e justo... tem a coragem do leão! Com certeza, seu lugar é na...”

GRIFINÓRIA!!

Os quatro garotos sorriram e se cumprimentaram. Felizes e famintos, os quatro começaram a atacar o banquete, enquanto conversavam animados. Nenhum dos quatro nunca tinha se sentido tão feliz na vida.

- [FIM DO FLASHBACK] – MADRUGADA DE 24 DE DEZEMBRO/ 1980

- Vocês… vocês… Eu não posso acreditar! Você, Lil, suspeita dos nossos amigos? Dos nossos amigos, Lil?? Professor Dumbledore?
- Ah... Thiago! - Ela começou a chorar, as lágrimas brilhando nos seus cílios compridos. – Realmente, eu não sei mais...
- Calma,Thiago, veja bem! Nós temos que encarar os fatos, temos que pensar em tudo!
- Mas, professor... Me desculpe, mas é muito difícil acreditar nessa história...
- Eu sei disso. – Dumbledore respondeu com gentileza. – Mas nós precisamos analisar a situação objetivamente... Veja bem: Voldemort sabia exatamente onde vocês estavam escondidos. Se não fosse pela intervenção de Severo, a casa da irmã de Lílian teria sido atacada essa noite, sabe-se lá o que poderia ter acontecido...
- Mas, professor, quem disse isso foi o Ra...SNAPE!! Ele sempre odiou a gente. Parece até a vingança perfeita: finalmente, ele vai conseguir o que sempre quis, desunir os Marotos, semear a desconfiança entre nós... Aquele cara é que não merece confiança... Eu ainda não consigo acreditar que o senhor confie nele... Ele sempre foi desprezível, fala sério! E os meus amigos... Eles não fariam isso... Isso é ridículo! Nenhum dos nossos amigos iria nos trair!
- Thiago! Eu já te pedi pra não falar assim do Severo! Lílian zangou-se.
- Thiago, você não está me ouvindo. – Dumbledore tentava acalmá-lo, chamando-o à razão. - Severo trabalha para nós! Ele é da minha máxima confiança, deu provas disso. E ele não teria como saber a localização de vocês se a informação não tivesse vazado. Isso é muito sério! Vou repetir: esse assunto é muito sério!
- Ah, se o assunto é “sério”, deveríamos chamar o “Sirius”... – Thiago deu uma risadinha. Depois da piada infame, ele esperava, quem sabe, aliviar o clima. Mas, nem Dumbledore, nem Lílian sorriram. O diretor lançou-lhe um olhar penetrante, cheio de gravidade, os olhos muito azuis faiscando por cima dos óculos. Thiago compreendeu o significado, imediatamente:
- SIRIUS NUNCA NOS TRAIRIA! – ele gritou furioso. - Tenho certeza de que Sirius preferiria morrer a nos trair! Ele é mais do que um irmão para mim! Eu confiaria a minha vida a ele! Confiaria a vida do meu filho!
Lílian começou a chorar baixinho, segurando o bebê adormecido no colo.
- Eu sei… - Dumbledore respondeu gentilmente. – Eu sei que você pensa assim. Mas estamos diante de uma situação muito perigosa.Temos que descobrir quem é o traidor, antes que seja tarde demais... Eram muito poucos que sabiam do esconderijo de vocês, Thiago. Quatro pessoas, para ser exato. Julgo desnecessário afirmar que não fui eu quem passou a informação adiante. Assim, para descobrir quem é o traidor, infelizmente... temos que procurar entre aqueles que são muito próximos a vocês.
- Sirius nunca me trairia! – Thiago repetiu.
- O Remo também nunca faria uma coisa dessas... – Lílian garantiu, sem hesitar.
- Nem o Pedro! – resmungou Thiago.
Os três ficaram um instante em silêncio, pensativos. Então Thiago voltou a falar em voz alta aquilo que ficava martelando em sua cabeça:
- O Pedro nunca faria isso... nem o Remo... A não ser que o senhor queira... O senhor não vai querer insinuar alguma coisa só porque ele é um lobisomem, vai?
- Thiago! Você me conhece bem! – Dumbledore censurou. – De maneira nenhuma! Pois se fui eu mesmo que permiti que ele viesse estudar aqui!!
Dumbledore parecia muito triste e cansado. Com um suspiro, continuou a falar, num tom paternal:
- Eu sei o quanto isso é difícil e doloroso. Eu mesmo tenho muita dificuldade em acreditar que um deles seja o traidor. Mas essa discussão é inútil sem nenhuma pista, sem nenhuma prova. O que é mais importante agora é que vocês conseguiram escapar e estão em segurança. Infelizmente, não posso mantê-los aqui no castelo. Vocês precisam de um lugar para ficar, para se esconderem. O inverno está muito rigoroso, não é seguro que vocês façam viagens longas agora. Proponho que vocês fiquem provisoriamente... Vocês entraram pela passagem da Casa dos Gritos, não foi? Vocês podem ficar lá, por um tempo... Ela está vazia há muitos anos, abandonada... E ninguém se aproxima de lá, por causa das lendas sobre fantasmas e assombrações... Ficarão seguros lá. E posso fazer alguns feitiços, enviar elfos domésticos do castelo, para que ela fique razoavelmente confortável... Pelo menos até a primavera, para que possam viajar.
Thiago não pôde conter um sorriso irônico diante da sugestão. Dumbledore não fazia a menor idéia do que aquela casa representava para ele...

- [FLASHBACK] – MARÇO/ 1975
- Ei, Aluado! Vem cá, eu preciso te mostrar uma coisa!
Remo não tinha visto Thiago tão animado desde a final do campeonato de Quadribol no ano anterior. Seguiu o amigo, cheio de curiosidade, até a Sala Precisa. Lá dentro, ele viu apenas um cachorro grande e preto, pulando e correndo em círculos. Depois de alguns minutos de silêncio sem entender nada, Remo finalmente exclamou:
- Sirius?
O cachorro deu um pulo ainda maior, abanando a cauda todo feliz. Remo se aproximou para examinar melhor o cachorro, quando alguma coisa macia o cutucou pelas costas. Ele se virou e viu-se de frente a um cervo, enorme e imponente.
- Thiago! Isso é incrível! - Ele sussurrou cheio de admiração. – Mas… cadê o Pedro?
Imediatamente ele sentiu alguma coisa puxando suas vestes. Olhando para baixo, pôde ver um rato gorducho e, se é que isso é possível, parecendo ofendido.
- Desculpaí, Pedro! Eu não tinha visto você... Você também ficou ótimo!
Imediatamente, os três amigos voltaram à forma humana, com um barulhinho suave de “pop”.
- SURPRESA!! – os três gritaram juntos, animados.
- Aposto que você não esperava, não é? - Sirius exclamou.
- Ah, Sirius, você está estragando tudo! Você tem que esperar a apresentação oficial primeiro! – Pedro zangou-se.
Thiago deu um passo à frente e, com ar solene, curvou-se numa reverência elegante, dizendo:
- Senhor Aluado, como presente pelo seu décimo quinto aniversário, nós temos o orgulho de lhe apresentar os sensacionais Senhores... Rabicho! Almofadinhas! E… Pontas!
Os três bateram palmas e curvaram-se para agradecimentos conforme o ensaiado. Remo estava boquiaberto.
- Mas... Vocês disseram que não iriam conseguir antes da Páscoa... – Remo balbuciou, em choque.
- Pois é... Mas resolvemos realmente usar a cabeça e acelerar um pouco as coisas... – Sirius respondeu, fazendo um ar fingido de pouco caso.
- Vocês são malucos! Os três! – Remo exclamou, recuperando-se, maravilhado da surpresa. – Vocês são completamente, maravilhosamente, irrecuperavelmente... malucos! Vocês não sabem que isso é extremamente perigoso… e… ilegal?
- É!! Os três gritaram em resposta, na maior alegria.
- Não é o máximo? Totalmente radical! Pedro exclamou, com as bochechas coradas de euforia.
- O maior barato! Sirius concordou.
- Foi só uma demonstração... Agora estamos prontos, quando a lua cheia chegar a gente vai encontrar com você na Casa dos Gritos! Você vai passar a sua primeira Lua cheia acompanhado, cara!!
- Não tem melhor presente de aniversário que esse, tem?
Remo engasgou, com os olhos brilhando cheios de lágrimas.
- Caras, vocês não tem noção do que isso representa pra mim...
Sua vontade era a de abraçar os amigos. Mas os três riram e Sirius brincou, revirando os olhos:
- É claro que se for pra você se derreter, feito um bebê manhoso, em cima da gente, podemos mudar os planos, não é, Pontas? Blargh...
- Ah, seus bestas!! Eu adoro vocês, seus pestes!

- [FIM DO FLASHBACK] – MADRUGADA, 25 DE DEZEMBRO DE 1980

- Thiago!
- Hã? Ah! Sim, professor…
- Então está tudo acertado?
- Ah, sim... Claro. Tudo certo!
- Eu preciso de um pouco mais de tempo para pensar... Quero encontrar um bom lugar para vocês se instalarem em definitivo. Um lugar que seja seguro e confortável, que Harry possa brincar à vontade... Vocês podem, - melhor dizendo, DEVEM - depois de instalados no esconderijo definitivo, fazer um Feitiço Fidelius. Eu me ofereço para ser o Fiel do Segredo. Bom, mas isso é para depois, para outra hora... Agora, vocês precisam ir descansar... Você, eu tenho certeza, pode mostrar a Lílian como passar pelo Salgueiro Lutador... – Dumbledore sorriu, com os olhos brilhando cheios de insinuações divertidas. – Eu tenho que ir, agora. Tenho uma reunião extraordinária da Ordem, vou me ausentar do castelo por algumas horas...
- Alguma novidade, Professor? Quer que a gente vá também?
- Não! Ninguém deve saber onde vocês estão, pelo menos por enquanto. Assim que eu voltar, eu prometo que trago notícias para vocês. Vão! Vocês devem estar exaustos!
- Obrigada, Professor! - Lílian abraçou o diretor, que se emocionou com o gesto.
O casal se acomodou debaixo da capa de invisibilidade, Lílian segurando o bebê com todo o cuidado no colo, e saiu caminhando pelo jardim da escola, rumo ao Salgueiro Lutador. Em poucos minutos, estavam na Casa dos Gritos, onde elfos domésticos do Castelo já haviam deixado tudo arrumado: cama, berço, lareira acesa e comida quente. Dumbledore ficou olhando pela janela por alguns minutos, enquanto eles partiam, para depois seguir também, rumo ao esconderijo da Ordem.


XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX


Já estava amanhecendo quando Dumbledore finalmente chegou na sede da Ordem. Apesar do horário, o pequeno grupo de bruxos e bruxas da resistência às Trevas estava todo reunido ali, espremido na sala de reuniões da sede. Alguns tentavam disfarçar o cansaço e o sono, enquanto outros distribuíam xícaras de café e poções.
- Dumbledore chegou! – Alastor Moody, o Auror, que estava chefiando a reunião enquanto todos aguardavam a chegada do diretor, anunciou. – Começamos a reunião agora a pouco, Alvo.
- Boa noite a todos! Não sei se é adequado, mas em todo o caso, feliz Natal! – Dumbledore sorriu para a platéia abatida à sua frente. Depois, compenetrado, voltou-se para o bruxo ao seu lado. – E então, Alastor, quais são as notícias até agora?
- As notícias não são nada boas, Alvo. Houve um ataque, há dois dias atrás. Os McKinnions foram encontrados assassinados dentro de casa, pela polícia trouxa. A Marca Negra estava sobre a casa...
Um silêncio pesado se abateu sobre todos. Moody continuou:
- E, agora a pouco, ainda hoje, soubemos que Dorcas Meadows foi assassinada. Pelo que contaram os primeiros Aurores que chegaram ao local, havia indícios de que o próprio Voldemort...
Um murmúrio de desconforto percorreu a assistência ao ouvir o nome do bruxo. Moody, assim como Dumbledore, não pareceu se importar com a reação.
- Como eu estava dizendo... Parece que ela foi assassinada pelo próprio Voldemort.
Dumbledore olhou para a platéia, procurando entre os presentes o rosto de Sirius. Dorcas tinha sido colega dele na escola, e era sua namorada há alguns meses. O rapaz estava sentado, cercado pelos seus dois amigos, extremamente abatido. Os olhos vermelhos denunciavam que ele tinha chorado. O diretor sentiu o coração apertar de tristeza. Aqueles garotos eram ainda tão jovens… o mundo para eles era tão duro, difícil, doloroso...
- Aquela menina era uma bruxa e tanto! Uma grande perda para a Ordem... – Moody comentou em voz alta, tirando Dumbledore dos seus pensamentos. O Auror deu um suspiro alto e prosseguiu. – Logo em seguida da descoberta do assassinato, e logo antes da nossa reunião, todos os Aurores foram convocados para uma reunião extraordinária no Ministério...
- E qual foi o objetivo?
- Bartô Crouch, na qualidade de Chefe do Departamento de Execução das Leis da Magia do Ministério, baixou novas medidas de emergência. Medidas de Segurança para o Combate ao Terror, é como ele chamou a coisa toda… Bom, em primeiro lugar, ele determinou que Aurores, Bruxos do Serviço Secreto e Dementadores devem trabalhar em conjunto, agora; todas as informações conseguidas nas investigações de qualquer departamento do Ministério devem obrigatoriamente ser compartilhadas com a Força-Tarefa de Segurança Bruxa.
Em segundo lugar, o que mais nos chamou a atenção: os direitos civis foram revogados. Não existe mais o direito a Hábeas Corpus, os bruxos considerados suspeitos que forem detidos pelo Serviço de Segurança podem ser presos sem julgamento, podem ser interrogados sem advogado, podem ser condenados após julgamento sumário. E, o pior de tudo: Aurores e Bruxos do Departamento de Segurança estão OFICIALMENTE autorizados a empregar QUALQUER método na captura de bruxos das Trevas. Inclusive Maldições Imperdoáveis! E ninguém será responsabilizado por qualquer ferimento causado num suspeito durante uma prisão, perseguição ou interrogatório. Em resumo: podemos prender sem julgamento, podemos matar ao invés de prender...
Houve uma nova agitação, um murmúrio geral na platéia, seguido de um princípio de tumulto. Aparentemente, as medidas anunciadas dividiam as opiniões, mesmo entre os membros da Ordem.

- Silêncio! SILÊNCIO!! – Dumbledore se levantou, sua figura imponente se destacando no meio da confusão e pediu silêncio para falar ao grupo.
- Eu sei que este é um momento muito difícil para todos nós da Comunidade Bruxa. Eu acredito que estejamos enfrentando um dos momentos mais difíceis e sombrios da nossa história. Muitos nesta sala já perderam parentes e amigos nas mãos de Lorde Voldemort e seus seguidores. Muitos de vocês já sofreram pessoalmente nas mãos dos Comensais da Morte. Muitas famílias têm sido destruídas pelos atos cruéis desses bruxos...

Um murmúrio de aprovação inundou a platéia. Dumbledore fez um gesto pedindo silêncio novamente e continuou:

- Num momento como esse atual, surge a tentação, como alternativa que parece ser o melhor, o único jeito para lidar com o horror, de ceder ao impulso de usar as mesmas armas dos nossos oponentes. Combater a violência desenfreada com mais violência! Acabar com a injustiça, agindo com uma ausência ainda maior de justiça! Isso não é a solução para o caos, é ilusório! Não podemos ceder e compactuar com a violência desenfreada, com a perda da garantia dos direitos individuais a um julgamento justo, ao direito de defesa, ao esclarecimento da verdade, à necessidade de apresentação de provas irrefutáveis antes de uma condenação apressada! Tenham certeza: Não sou ingênuo, nem santo. Quero a punição exemplar dos culpados de tanto horror e sofrimento! Quero o fim dessa guerra sangrenta. Mas quero que os verdadeiros culpados sejam encontrados e punidos com justiça!

Alguns na platéia acenavam com a cabeça, outros ameaçavam aplaudir. Dumbledore respirou fundo, e continuou no mesmo tom inflamado e contegiante:

- Nós estamos em menor número, sim. Mesmo assim, nós podemos resistir e impedir o avanço do terror e a vitória das Trevas. Mas só poderemos lutar se nos mostrarmos firmes, se mantivermos forte o nosso vínculo de amizade e de confiança.
Nesse momento, depois de uma olhada geral na platéia, Dumbledore voltou a atenção, encarando com firmeza, o canto onde estavam Sirius, Remo e Pedro. Mantendo o olhar fixo neles, Dumbledore continuou:
- Perdemos, na noite de hoje, uma jovem bruxa, uma garota ainda... Uma moça exemplar: boa, corajosa, leal, justa, cheia de vida e de talento... Uma jovem que morreu só por estar, de algum modo, atrapalhando os planos egoístas de poder de Lorde Voldemort. Dorcas Meadows morreu por um ideal. Morreu porque, diante da necessidade de escolher entre o que é o certo e o que é fácil, ela escolheu resistir. Ela acreditou, como eu mesmo acredito, que existem verdades na vida que são tão importantes que vale a pena morrer por elas...
Alguns na platéia aplaudiam, outros começavam a chorar discretamente, outros se remexiam desconfortáveis nas cadeiras.

- Nós podemos resistir. Nós podemos lutar. Nossa prioridade número um, agora, deve ser garantir a segurança uns dos outros, manter a união e buscar alianças. Temos que nos manter unidos e continuar lutando pelo que é certo. Essa Guerra pode demorar muito, mas ela será vencida por nós, senhores, não tenham dúvidas! A Luz sempre vence a Treva, é uma verdade que não há como refutar. Ainda temos muita coisa pela frente, tempos difíceis a encarar. Quando precisarem de uma razão para continuar, lembrem-se de Dorcas Meadows! Lembrem-se de Marlene McKinnion! Lembrem-se dos irmãos Prewetts, de Edgar Bones!! Lembrem-se daqueles companheiros, amigos e parentes que deram a vida por uma causa justa, julgaram que é melhor morrer pelo que se acredita do que viver numa mentira! Vamos honrar Dorcas Meadows com nossa luta!

Nesse instante, a platéia emocionada explodiu em aplausos. A reunião foi considerada oficialmente encerrada, alguns bruxos saíram, e alguns pequenos grupos se formaram para comentar em particular o discurso, os últimos acontecimentos, ou tomar decisões sobre missões especiais. Minerva McGonagall aproximou-se de Dumbledore:
- Dumbledore!
- Sim, Minerva?
- Quero aproveitar a reunião aqui, longe da escola, para perguntar uma coisa que está me incomodando...
- Sim?
- Você acha realmente prudente colocar Severo Snape como professor de Hogwarts no próximo ano letivo, devido às... você sabe... atuais circunstâncias? Tem havido uma série de denúncias de que ele talvez seja um... Comensal da Morte!
Dumbledore encarou a bruxa, sorrindo divertido.
- Ah, Minerva, eu lhe agradeço por expressar, repetidas vezes, a sua preocupação! Mas pode ficar sossegada! Eu posso lhe garantir que o rapaz é MESMO um Comensal da Morte...
Dumbledore alargou o sorriso diante da expressão horrorizada de espanto da professora. Mas, antes que a bruxa o considerasse completamente louco, ou tivesse um ataque cardíaco, ele logo continuou, explicando com seriedade:
- É um Comensal arrependido, Minerva, é o que quero dizer! Ele me procurou há algum tempo, deu provas do seu arrependimento verdadeiro, tem demonstrado diversas vezes a sua lealdade... E é um espião realmente útil para a Ordem! Posso garantir que confio plenamente nele!
A professora se afastou, cheia de dúvidas. Nesse momento, Remo, Sirius e Pedro se aproximaram do diretor.
- Professor Dumbledore!
- Sim? – Dessa vez os olhos de Dumbledore faiscaram ao encarar os três amigos ansiosos à sua frente. Focalizando um de cada vez, o diretor tentava escanear as mentes e, quem sabe, obter a resposta às suas dúvidas.
- E Thiago e Lílian, professor? O senhor tem notícias deles? Soubemos que eles fugiram da casa da família da Lílian, mas não tivemos mais nenhuma notícia deles depois...
- Eles estão bem. Estão em segurança, é tudo o que eu posso dizer por enquanto.
- Mas...
Dumbledore cortou-os com uma expressão enérgica:
- Se vocês querem o melhor para seus amigos, e eu acredito que é isso que querem... Tenham paciência. Assim que for possível, eles farão contato.
E se virou, rapidamente, para a saída, não dando chance a mais perguntas. Os três ficaram ainda alguns minutos parados ali, surpresos. Então, devagar, Sirius sussurrou, quase como se falasse para si mesmo:
- Ele suspeita de nós... Dumbledore suspeita de nós...
- O quê? Pedro imediatamente retrucou, as bochechas coradas.
Remo ficou em silêncio, muito mais pálido do que o habitual. Sirius continuou, no mesmo tom:
- É claro... Por isso ele olhava para nós naquele trecho do discurso. E é por isso que ele escolheu manter Thiago e Lílian escondidos de nós...
Os três voltaram a ficar em silêncio, remoendo as conclusões. Por fim, com a sala praticamente vazia, e Alastor Moody encarando-os com ar de interrogação, Pedro puxou os dois amigos para fora, quebrando o silêncio:
- Ei, vamos embora! Alguém quer tomar um uísque de fogo pra afogar as tristezas?
- Ah, não, Rabicho... desculpa. Eu estou realmente mal com isso tudo: a morte da Dorcas, a história da fuga do Thiago... Acho que é melhor ficar sozinho um pouco... – Sirius fungou, enxugando uma lágrima que teimava em cair.
- Eu também... Quero ir pra casa, descansar um pouco... – Remo completou, com voz rouca.
- Então, OK...
- Tchau! A gente se fala... - Sirius montou na motocicleta e saiu voando dali.
Os outros foram caminhando juntos ainda um pedaço em silêncio.
- Remo? Pedro falou, quebrando o silêncio.
- Sim?
- Você às vezes fica apavorado, com a guerra e tudo o mais?
Remo parou para olhar para o amigo. Pela primeira vez, ele percebeu que Pedro parecia muito mais cansado do que de costume. Ele parecia ter ganhado umas linhas de expressão na testa, como rugas precoces. E parecia estar perdendo cabelo. Não pôde deixar de sentir um pouco de pena dele. Afinal, estava sendo muito difícil para todos, e Pedro era mais fraco, tinha menos talento, menos forças para lidar com todo aquele horror. E parecia sentir vergonha por não se julgar à altura dos amigos.
- Às vezes? Sempre, o tempo todo, Rabicho! - Remo respondeu, com um sorriso amargo.
- Você, às vezes, não deseja que, talvez, sei lá... – o amigo interrompeu e hesitou. Ele estava obviamente desconfortável com alguma coisa.
- Talvez o quê? – Remo tentou ajudar o amigo a se abrir, gentilmente.
- Ah, deixa pra lá... – Pedro respondeu. Em seguida, sacudiu a cabeça como se para espantar esses pensamentos, e continuou a falar num tom diferente:
- Diz uma coisa... você não acha que Sirius estava meio... esquisito hoje?
- Esquisito? Pedro, tenha dó, a namorada do cara foi assassinada pelo Voldemort em pessoa, o melhor amigo é um fugitivo de quem não se sabe o paradeiro... e Dumbledore desconfia da lealdade dele... É um bom motivo pra alguém ficar esquisto, não é, não?
- Não é isso que eu quis dizer, Remo... é claro que eu entendo... é dureza pra todos nós, não é? Mas eu achei que ele foi meio... distante. Sei lá, pode ser só impressão. – Em seguida sorriu, encerrando a conversa e despedindo-se:
- Aluado, essa é a minha deixa, como diria o Sirius. Eu fico por aqui. Amanhã a gente se fala...
- Falou! Vou tentar descansar um pouco, faz isso também, Rabicho… Até mais.

Mas nenhum dos quatro Marotos dormiu naquele dia, nem nos que se seguiram. Além da tristeza com a perda de companheiros da Ordem, o medo e a insegurança com relação ao futuro, agora também uma sombra da desconfiança tinha se abatido sobre eles. E, sem conseguir evitar, cada um dos quatro passava o tempo a relembrar os passado, os melhores momentos juntos, as brincadeiras e piadas dos tempos de irresponsabilidade, as conversas entre eles...

- [FLASHBACK] - 1974 –

- E aí, Senhor Potter, diga sinceramente... como você se sente sendo rejeitado mais uma vez pela senhorita Evans? Como é isso para você? – Sirius, sentado na cama, perguntou, assim que ao amigo entrou no dormitório.
- Um lixo... – Thiago respondeu, simplesmente, deitando-se pensativo.
- Hmm, entendo... – agora o amigo Sirius fazia de contas que tomava notas, numa imitação perfeita de psicanalista trouxa, sentando na cabeceira da cama do amigo. – E você acha que isso talvez o faça temer futuras rejeições dela? – Ele coçou uma barba imaginária, fazendo cara muito séria. Os outros faziam a maior força para segurar o riso.
- Não.
- Ah... sei, sei... Então, trata-se de um caso clássico de falta de autocrítica... ou de auto-estima, talvez... Serei forçado a recomendar a Ala de Problemas Mentais do St. Mungus...
Os outros dois explodiram na gargalhada com o comentário.
- Ah, não me amola, Almofadinhas! – Thiago reclamou em resposta, levantando-se e jogando o travesseiro no amigo.
Foi o que bastou para que Sirius começasse também a acertar o amigo com o seu próprio travesseiro. Os dois começaram uma animada guerra de travesseiros. Thiago pulou da sua cama para a de Sirius, depois, de uma para a outra, numa defesa estratégica.
Remo gargalhava com a cena, mas Pedro parecia realmente preocupado com a segurança dos amigos:
- Ei, caras, não se matem, por favor! Cuidado!
- Ah, caro Rabicho, tarde demais... – Sirius havia conseguido render Thiago, e fazia uma pose cômica imitando o gesto de sufocá-lo com o travesseiro.
Pedro ficou pálido de puro terror. Thiago e Sirius se entreolharam e resolveram parar a brincadeira, pelo bem da saúde de Pedro, enquanto Remo se acabava de rir, rolando no chão.
Assim que eles se recuperaram, Thiago pensou alto:
- De que tipo de flores será que a Lílian gosta?
Os outros se entreolharam e não responderam. Balançaram a cabeça, concluindo que Thiago era mesmo um caso perdido...
- Se a gente fosse planta, que tipo de planta será que a gente seria? - Pedro se animou a perguntar, aproveitando a deixa para tentar mudar de assunto e falar bobagem.
- Algum tipo de planta carnívora bem selvagem... - Remo imediatamente respondeu, sem hesitação.
- Uma planta peluda... será que existe? Ei, Sirius, você sabe se as mandrágoras têm pelos? - Thiago palpitou.
- Eu acho que eu seria um Salgueiro Lutador. - Sirius logo se candidatou, fazendo pose heróica.
- Eu acho que, nesse caso, eu seria... uma batedeira... - Pedro respondeu, pensativo.
- Batedeira não é planta, Rabicho! Batedeira é um eletrodoméstico, uma daquelas máquinas que os trouxas usam na cozinha... pra fazer coisas tipo bolos, eu acho... - Remo explicou, calmamente. Ele era o único meio-trouxa dos quatro, o único que tinha alguma noção do mundo dos trouxas.
- Mas pode ser uma planta também... - insistiu Pedro, resmungando.
- Não, não pode. - Remo respondeu.
- Quem disse que não? - Sirius logo entrou na conversa.
- É, isso mesmo! Quem garante? Você pode provar que não?
- Bom, não aqui, agora. Não existe nem eletricidade, nem lojas de aparelhos eletrodomésticos nas redondezas de Hogwarts...
- Ah, desculpas, desculpas, meu amigo... você está dando desculpa... Sem uma evidência que comprove o que você diz, o Conselho Maroto declara que podemos considerar que "batedeira" pode, sim, ser uma planta! Todos que forem a favor digam "SIM"!
- "SIM"!! Pedro, Sirius e Thiago gritaram bem nas orelhas de Remo que, injuriado, não se conformava com o rumo absurdo da conversa.
- Não pode, gente! Uma coisa é uma coisa, não pode ser outra...
- Tarde demais, senhor Aluado! Não, não, não... O Conselho Maroto acaba de aprovar por aclamação, o decreto número...hmmm, se não me engano... 978: batedeira é uma planta!
Imediatamente, Thiago voltou provocar Sirius com o travesseiro, querendo recomeçar a guerra.
- Ah, eu desisto! Remo riu, entrando na brincadeira. - Só não vá escolher um buquê de batedeiras para dar para a Lílian, eu garanto que isso não vai melhorar sua imagem com ela... Não vai parecer muito romântico...



- [ FLASHBACK] - JUNHO DE 1978
– CASAMENTO DE LÍLIAN EVANS E THIAGO POTTER –

- E aí, como é que você está, Pontas? Tudo tranqüilo? – Remo entrou na sacristia, dando um tapinha amistoso no ombro do amigo.
- Beleza, tudo tranqüilo! – Thiago se apressou em concordar, mas com um tom de voz tão ansioso que os amigos não resitiram e começaram a rir.
- Bom, quer dizer que... então é isso... – Sirius começou.
- É o grande dia... – Remo continuou, concordando com o amigo.
- O primeiro a se amarrar! – Pedro concluiu, pensativo.
Thiago fez uma careta e, num impulso, enlaçou os amigos num abraço emocionado:
- Obrigado, caras! Vocês são mais do que amigos pra mim...
Depois de um rápido instante, Thiago soltou o abraço e, ansioso, começou a perguntar:
- E aí? Será que está tudo certinho? Vocês já deram uma checada geral nas coisas...
- Está tudo perfeito, cara! – Sirius interrompeu, segurando o amigo pelos ombros. - Relaxa! Está tudo lindo, organizado, perfeitamente em ordem, e qualquer coisa mais que eu precise dizer pra garantir que você não entre em pânico...
Thiago fez uma pausa, franzindo a testa e tentando se controlar. Mas logo em seguida, não se segurou:
- Remo, você não quer dar uma olhada na Lílian? Ver se ela está bem, se está tudo bem? Se a família dela está... ah, sei lá, eles são trouxas, você entende mais de trouxas do que eu...
- Ah, ela está maravilhosa, Thiago, fica frio. Eu encontrei com ela e o pai logo na entrada. Ela está linda! Quero dizer, muito mais do que de costume... – Pedro e Sirius cutucaram Remo ostensivamente, mas ele continuou falando, compenetrado. – Ah, claro, o pai dela estava lá, sabe... dizendo que não é tarde demais pra ela mudar de idéia, que é pra ela pensar bem, essa coisa de casamento é muito séria, e ...
Thiago foi ficando pálido, arregalou os olhos, escandalizado:
- O QUÊ??
Os três caíram na gargalhada. Só aí Thiago percebeu que os amigos estavam curtindo com a cara dele. Remo continuou falando, agora meio engasgado com a risada:
- Eu vou lá fora com o Rabicho, Thiago, pode deixar... Eu vou tentar convencer a Lílian a não desistir... Afinal, não se pode desperdiçar uma boa festa... Enquanto isso, o Rabicho distrai o seu futuro sogro...
Remo e Pedro saíram, ainda rindo. Thiago e Sirius ficaram sozinhos na sacristia, dando os últimos retoques nas suas vestes de gala, enquanto agüentavam as críticas ranzinzas do espelho mágico de lá. De repente, Thiago virou-se para o amigo, tomando fôlego e disse:
- Sirius... Quero te pedir uma coisa.
- Não sendo beijo na boca, cara... - o amigo respondeu, gozador.
- Ei, pára, eu estou falando sério. Quero que você me faça uma promessa. A gente está no meio de uma guerra, a coisa está feia, pessoas morrendo... a gente se arrisca fazendo parte da Ordem, com as missões e tudo mais... Prometa pra mim uma coisa...
- Ai, fala, rei do drama...
- Prometa que, se acontecer alguma coisa comigo, você vai tomar conta da Lílian por mim. Você vai cuidar pra que ela fique bem, fique segura...
-Ei, ei... pára com isso, cara! – Sirius interrompeu o amigo, ainda divertido. – Que papo é esse? Não vai acontecer nada com ninguém, certo? A gente é invencível, esqueceu a regra número um do Código dos Marotos?
- Eu estou falando sério, cara. Prometa pra mim. Eu não posso me casar, tirar a Lílian da família dela, sem essa promessa...
Sirius, finalmente não disfarçando a emoção, segurou o ombro do amigo, encarando-o firme, denunciando seus olhos cheios de lágrimas.
- Thiago Potter, você é o meu melhor amigo, o melhor amigo que alguém pode ter na vida. Você me acolheu na sua casa, me recebeu como um irmão... Eu considero você mais que um irmão, cara. Nem precisaria pedir uma coisa dessas: eu prometo mais. Prometo que vou defender você e a Lílian com a minha própria vida. E, se um dia, sei lá, alguma coisa sinistra acontecer... é claro que eu vou cuidar da Lílian! Eu prometo!
Os dois se abraçaram. Logo em seguida, Sirius continuou a falar, mas agora com uma expressão inconfundível de divertida malícia:
- Inclusive... sabe aquela coisa sobre beijo na boca? A restrição não vale pra Lílian... caso isso seja necessário, eu me prontifico...
Foi interrompido por um tapão não tão divertido do noivo;
- Ah... Mais respeito com a minha noiva, Almofadinhas!



- [FIM DO FLASHBACK] - MADRUGADA DE PRIMEIRO DE JANEIRO/ 1981

- Feliz Ano novo, meu amor!
- Pra você também, Lil... Feliz Ano novo!
Os dois se aninharam num abraço apertado. Podiam finalmente descansar e curtir um pouco a companhia um do outro, agora que Harry tinha finalmente pegado no sono. Ficaram assim, em silêncio, por alguns instantes, até que Thiago falou, com uma seriedade maior do que o habitual:
- Eu te amo, Lílian! Eu sempre te amei, e sei que sempre vou te amar. Nunca houve outra, de verdade. Você é a mulher da minha vida. E eu vou estar sempre do seu lado, eu prometo!
- Thiago? Lílian ficou nervosa com o tom da declaração, seu corpo tremendo de encontro ao dele.
- Eu só queria que você soubesse disso, que eu te amo. E mesmo que essa profecia estúpida seja verdade, que essa guerra horrível demore anos pra acabar, que um dos meus melhores amigos seja um traidor nojento... que eu seja obrigado a confiar e a ser grato àquele...Ranhoso... inacreditável... eu não me arrependo nem por um instante da minha vida, do que sinto por você, do fato de querer passar o resto da minha vida do seu lado, ou de termos querido ter um bebê tão cedo... - Thiago murmurou baixinho, apertando-a nos seus braços.
Sentindo-se, de repente, sem ar, a única coisa que Lílian conseguiu fazer foi abandonar-se naquele abraço, unir sua boca na dele, num beijo cheio do amor mais profundo que podia sentir. Um amor que fazia a vida valer a pena, mesmo que fosse uma vida breve, ela pensou, estremecendo.
- Lil, o que foi que houve?
- Ai, Thiago...
- Ei... olha pra mim!
Lílian levantou a cabeça para encará-lo, tentando manter o controle e não demonstrar todo o medo e tristeza que estava sentindo. Thiago sorriu para ela, cheio de carinho:
- Se os nossos amigos estivessem aqui agora, sabe o que eles diriam? Essa é uma violação grave do Código dos Marotos: estamos melosos e dramáticos...
- Eu sinto tanto a falta deles...
- ah, Lil, eu também! Eu também! – Deu um suspiro e voltou a abraçá-la, dizendo: - Nós vamos ter que encontrar um jeito de voltar a conviver com aqueles malandros, Lil... Temos que enfrentar qualquer possível risco. Afinal de contas... Eu posso estar errado e Dumbledore certo, um deles pode estar nos traindo. Mas, ainda assim... Temos pelo menos três Marotos inocentes, afastados... Eu tenho você e o Harry, mas os outros... sem voltar à nossa amizade antiga, como enfrentar esses tempos de Guerra?
Lílian sorriu apoiando a cabeça no peito do marido. Esse era mais dos motivos pelos quais ela o amava tanto. O Chapéu Seletor tinha mesmo razão: acima de qualquer coisa, ele tinha o coração enorme e corajoso do leão.

(Beatles : Stand by me)

"When the night has come
And the land is dark
And the moon is the only
Light we'll see
No I won't be afraid
No, I won't be afraid
Just as long as you stand
Stand by me
And darling, darling stand by me
Oh, now, now, now,
Stand by me
Stand, stand by me..."



XXXXXXXXXXXXXXXX


Gente, desculpem a demora para postar esse capítulo... além desses dias terem sido super puxados, muito trabalho, muita coisa pra fazer e pouco tempo pra sentar e escrever, esse foi um dos capítulos que achei mais tristes de escrever. Eu me colocando na situação de Thiago, de Sirius, de Remo... doía pensar naquele momento, de verdade.
Espero que gostem... E pra quem sentiu falta do Severo Snape... ele volta com tudo no próximo capítulo... hehehe... ;-)

Obrigada a todos que leram e comentaram!! Em especial:

Sally: ah, nem sei o que falar dos seus comentários... super obrigada pelos elogios!! Adoro esses reviews que você faz! Que bom que está gostando!! Espero que goste e sofra comigo nesse capítulo 10... Eu também estou amando sua fic!! Adoro tudo o que você e a Belzinha criam e o jeito que escrevem! Não, não, meninas, eu não vivo disso.... embora confesse que um dia ainda quero escrever e publicar um livro, quem sabe... Beijão! Comente sempre!!

Belzinha: rolou de rir com a sua comparação com a história do suquinho, amiga! Foi perfeita! Espero que curta esse capítulo, acho que está cheio de "suquinho diluído" de emoção... Obrigada pelo monte de elogios, eu amo esses seus comentários longos!

Morgana: adoro tudo o que você escreve, e respeito demais a sua opinião. Então, elogios vindo de você são o máximo! continue acompanhando e comentando, eu fico muito feliz!

Bernardo: você também, cara, respeito demais a sua opinião, e ADORO a sua fic! Você escreve super bem! E elogios seus são ótimos, ainda mais porque eu sei que você ODEIA o Snape que eu sei... esse capítulo quase nem tem nada de morcegão, espero que você curta, mas prepare-se... no próximo ele volta com força total...hehehe...

A todos que passaram por aqui e leram, muito obrigada, beijos mil, continuem acompanhando e palpitando... Desculpem se esqueci de alguém nos agradecimentos pessoais, prometo que corrijo a falha na próxima... Beijos pra todos, prometo atualizar mais rápido da próxima... E, calro... COMENTEM, PLEASE!!

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.