O NATAL NA RUA DOS ALFENEIROS



CAPÍTULO 9

O NATAL NA RUA DOS ALFENEIROS

Os meses foram passando, e Dumbledore conseguiu garantir a fuga dos Potter. Viajando por terra, disfarçados como trouxas, pelo interior da Inglaterra, eles seguiram lentamente para Surrey, para a casa da irmã de Lílian. Antecipando uma certa reação de Petúnia, contrária à visita da irmã, Dumbledore tinha enviado uma carta garantindo a sua colaboração. Ele detestava ameaçar trouxas, mas, nesse caso, uma exceção valia a pena.
Com o início de dezembro, o tempo esfriou muito. Tudo ao redor de Hogwarts parecia coberto de neve e de geada, e as vassouras tinham que ser descongeladas todas as manhãs.
Da sua sala, Dumbledore podia avistar os treinos de quadribol, a preparação para a nova temporada. Mas todos esperavam ansiosos pelas férias de Natal. A violência da guerra contra Voldemort e seus seguidores tinha crescido. O Profeta Diário trazia, todas as manhãs, notícias que o mundo bruxo, agora, já estava acostumado: mais assassinatos de trouxas, desaparecimento de bruxos importantes, relatos de leitores histéricos, queixando-se de que Voldemort estaria atrás deles. Diante de um mundo como esse, coisas como o campeonato de quadribol da escola, a aproximação do Natal, a possibilidade das famílias bruxas estarem reunidas nessa data, davam uma sensação de normalidade à vida, que servia como esperança.
Olhando pela janela, o diretor viu chegando alguém que estava se tornando uma presença constante em Hogwarts: Severo Snape, naquele seu caminhar desengonçado, encurvado, parecendo uma aranha. Os chefes das Casas, e os professores na sua maioria, estavam se acostumando com a presença dele, e com a idéia de confiar naquela figura estranha. O diretor tinha a certeza de que, no próximo ano, ele já seria aceito como professor da escola por todos.
E, verdade seja dita, o rapaz estava se esforçando por merecer a confiança, Dumbledore concluiu, para si mesmo. Durante todos esses meses, todas as semanas, ele tinha vindo e revelado os planos de Voldemort, um após o outro. Severo cumpria uma espécie de ritual imutável: abria a porta da sala do diretor silenciosamente, cumprimentava Dumbledore, sentava-se na cadeira à sua frente e começava a falar. No início, seu autocontrole admirável deixava impossível saber o que ele estivesse pensando a respeito do que falava. Mas, gradativamente, começava a parecer um garoto nervoso, sacudindo a perna, remexendo-se na cadeira, gesticulando para se expressar melhor. Muitas vezes, parecia quase orgulhoso: do seu desempenho como espião, por saber tanto sobre Voldemort e seus objetivos. Mas, com uma freqüência cada vez maior, contava tudo com uma ponta de desconforto, certa vergonha, como um menino apanhado no erro, prestes a receber um castigo. Dumbledore suspeitava que o rapaz nunca tivesse revelado esse lado diante de Voldemort. Aquele rapaz orgulhoso nunca sonharia em parecer fraco, em se mostrar incapaz do completo controle emocional, diante do seu temido Lorde das Trevas. Apesar da preocupação, Dumbledore não pôde deixar de sorrir com o som da porta da sua sala abrindo-se. Ele tinha a sorte de conhecer um Severo que Voldemort nunca veria. O ser humano.
- Como vai, Severo?
- Bom dia, Professor. - Severo curvou-se discretamente, num cumprimento elegante.
- Aceita uma bebida?
- Não, senhor, obrigado.
- Vamos tomar um uísque de fogo hoje, para esquentar. – Dumbledore ignorou a negativa, começando a servir dois copos da bebida.
Enquanto servia, observou com atenção o rapaz silencioso à sua frente.
– O que aconteceu ontem à noite, Severo? Como foi a reunião dos Comensais com Voldemort?
- Houve um ataque, logo depois da reunião.
Dumbledore encarou o rapaz. Severo parecia mais pálido do que de costume, com olheiras escuras em volta dos olhos. Seus cabelos compridos escondiam parcialmente o que parecia ser um corte profundo no rosto.
- Você está ferido!
Severo esquivou-se.
- Está tudo bem, não foi nada. Consegui desviar do pior. Eu fui escalado para um ataque a Edgar Bones. Houve uma explosão enorme, logo de cara, então ninguém desconfiou de nada quando eu caí. E, é claro, já que eu estava machucado, não podia continuar a lutar. Assim, eles continuam me achando valente. Ao serviço do meu senhor. – Ele completou a última frase com um toque de ironia e amargura.
- O que aconteceu?
- O objetivo da missão foi alcançado. – Severo falava com voz fria, a expressão dura. – A Ordem perdeu dois, e os Comensais não tiveram nenhuma baixa entre os cinco enviados contra Edgar e a mulher.
- Eram cinco contra dois, então? Uma sombra de tristeza escureceu o olhar do diretor.
Severo acenou concordando com a cabeça, enquanto tomava um grande gole da sua bebida.
- Ah, sim, o Lorde das Trevas respeita muito os Bones. Ele sabia que Edgar não morreria sem lutar muito. Nem ele, nem a mulher. Precisaram dos outros quatro para derrotá-los, já que eu estava caído. Eles lutaram muito.
- Tenho certeza que sim. – Dumbledore respondeu, com voz grave. – Edgar Bones foi um dos melhores batedores do time de quadribol da Lufa-Lufa, na sua época de escola. E, com certeza, era um grande bruxo, um dos melhores.
Severo ficou olhando fixo para os seus joelhos, desconfortável.
- Eu não devia estar aqui. Não posso deixar de pensar que o senhor preferia que fosse eu ao invés deles.
- Eu não penso isso, Severo.
- Não acredito no senhor.
- Mesmo assim, é verdade.
Severo torceu a boca num muxoxo.
- Ah, é claro, eu esqueci. Eu sou ÚTIL. O senhor não pode perder o seu precioso espião. – respondeu, irônico.
- Isso é verdade. – Dumbledore respondeu calmamente. – Nós precisamos de você. Eu não sei se existiria alguma esperança de resistirmos sem a sua ajuda.
- Eu não ligo a mínima.
A aparente agressividade era um progresso perto da frieza de antes. Um brilho de triunfo iluminou os olhos muito azuis do velho bruxo. Aquela era mais uma demonstração da verdade. A Oclumência podia esconder sentimentos e emoções, mas não era capaz de fabricá-los.
- Eu disse ao senhor, quando aceitei isso: eu não lhe devo nada. Eu odeio todos vocês. Cada um de vocês da Ordem. Nenhum nunca me trouxe nada a não ser dor.
- Até a Lílian?
A expressão de Severo congelou. O rapaz o encarou em silêncio por um longo instante, e então virou-se para a janela.
- Eu tinha Edgar na minha mira, sabia? Quando eu estava lá, caído no chão, fingindo que estava inconsciente. Eu podia tê-lo acertado, ele nem ia me ver chegando. Há um ano atrás, eu teria feito isso, sem pensar duas vezes. Eu teria matado mais um sem hesitar.
Dumbledore encarou o bruxo à sua frente, e os olhares se encontraram. Quantos anos ele tinha? Vinte? Vinte e um? A vida o estava forçando a amadurecer muito rápido.
- Muita coisa mudou em um ano.
- Era muito mais fácil, antes.
Severo voltou a olhar para os próprios joelhos, sua voz perdeu o tom desafiador.
- Emma gritou quando foi atingida. E depois ficou lá, deitada, e continuou gritando, de dor, de preocupação com os filhos. Os filhos caíram... um depois do outro... Edgar estava lutando, ele não podia fazer nada... Pareceu demorar tanto tempo... até que ela finalmente ficou em silêncio...
Dumbledore fechou os olhos e não disse nada.
- Eu fiquei lá, parado, no chão, vendo todos morrerem, um depois do outro. Fiquei escutando Emma gemer, até se calar. E naquela hora, tudo que eu consegui pensar foi que eu preferia estar no lugar dele. Mesmo que isso significasse estar morrendo, em agonia. Eu preferia ter tido a vida dele, suas memórias, família, amigos. – Severo deu um suspiro e levantou o olhar para Dumbledore. – Eu podia tê-lo salvado. Eu poderia ter salvado todos eles. Nós três juntos... Eu acho que nós teríamos tido uma chance contra os outros quatro. Eu fiquei pensando nisso, enquanto estava lá, deitado, fingindo.
- Você fez o que tinha que fazer, Severo. Você esperou que o pessoal da Ordem chegasse. Você não podia se revelar. Você nos avisou da possibilidade do ataque, os Bones sabiam do perigo, os membros da Ordem estavam de prontidão...
- Ah, é... Eu esqueci. Eu tenho que permanecer em segredo, não é mesmo? Eu tenho que ficar assistindo as pessoas morrerem ao meu redor. Eu tenho que assistir os outros serem heróis... Tenho que ser desprezado por aqueles a quem estou tentando ajudar... enquanto traio quem ainda me considera parceiro... Mesmo os Comensais da Morte, pelo menos são honestos. Eles não estão traindo seus companheiros. Traindo seus únicos amigos, feito eu...
Severo falava cheio de sarcasmo e amargura. Fez uma pequena pausa e, então, continuou, em voz mais baixa:
- Tem uma coisa... O senhor precisa saber. O Lorde das Trevas já sabe onde os Potter estão. Ele sabe que os três estão em Surrey, na casa da irmã trouxa de Lílian.
- Mas... Só eu e os amigos mais próximos fomos avisados... – Dumbledore ficou pensativo, uma ruga se formando entre as suas sobrancelhas.
- Pois é, senhor… Pelo visto, entre os… Marotos… existe alguém ainda mais desprezível do que eu. Alguém que está mantendo o Lorde das Trevas informado de cada passo do casal. – Severo tinha recuperado a ironia na voz.
Dumbledore encarou-o com gravidade.
- Vá avisá-los, Severo. Fale com ela, tenho certeza de que ela vai ouvi-lo.
Severo não conseguiu disfarçar o espanto. Arregalou os olhos para Dumbledore, empalidecendo ainda mais.
- Como é?
- Você está tentando salvar as vidas deles, não é? É justo que eles saibam disso.
- Mas... professor… eu…
- Thiago sabe que eu confio em você. E sabe que foi você quem me contou sobre a escolha de Voldemort, se é essa a sua dúvida.
Severo continuava imóvel, encarando-o sem dizer nada.
- Avise-os. E me dê notícias assim que possível.
- Sim, senhor.
Severo curvou-se em reverência e saiu, obediente.
- Por que você o mandou lá, Dumbledore? Não teria sido mais fácil enviar um recado pelo seu patrono? Armando Dippet, do seu retrato, não pôde conter a curiosidade, assim que o rapaz saiu da sala.
- Porque ele tem razão, Armando. Ele precisa que pelo menos os Potter o respeitem pelo que ele está tentando fazer.

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- Nossa, eu estou com tanta fome que seria capaz de comer um hipogrifo... ou dois! Sirius reclamou, enquanto entrava na casa.
Thiago deu uma risada. Era véspera de Natal, e Lílian tinha saído com a irmã e o sobrinho Duda para algumas compras de última hora, tendo deixado Thiago e o pequeno Harry sozinhos em casa. Petúnia tinha recomendado milhares de vezes para que o cunhado não abrisse a porta, não deixasse ninguém entrar, nem deixasse os vizinhos perceberem a sua existência. O marido dela, Valter Dursley, tinha preferido fazer hora extra na fábrica de brocas a ficar em casa com Thiago. Ele só ia voltar à noite, para a ceia.
- Isso é o que você ganha por ficar bebendo com Pedro e Remo nesses bares de beira de estrada, dormindo até tarde e pulando o café da manhã...
Sirius gemeu. Os dois entraram na casa, seguidos por Pedro e Remo. Os quatro estavam vestidos como trouxas, mas era impossível não chamar a atenção da vizinhança mesmo assim. Parecia um grupo de roqueiros punk.
- Você não está sendo muito legal comigo, Pontas, levando-se em consideração que estamos escondidos por sua causa... Já que a sua cunhadinha não nos deixa freqüentar a casa...
Thiago ficou em silêncio. Com certeza, essa estadia na Rua dos Alfeneiros estava sendo muito mais difícil do que ele imaginara. Os Dursley eram trouxas extremamente preconceituosos com relação à magia. Medievais, mesmo. Thiago, um bruxo puro-sangue que nunca tivera qualquer contato com o mundo dos trouxas, tinha muita dificuldade em entendê-los, ou a adaptar-se às regras da cunhada. Depois de alguns dias de convivência, Thiago achava surpreendente que Petúnia tivesse aceitado recebe-los como seus hóspedes, mesmo sendo irmã de Lílian. Ele suspeitava que aquilo tivesse tido a intervenção de Dumbledore, de alguma forma.
- Essa é a casa da irmã da Lílian, hein? Pelas barbas de Merlin! Parece uma exposição de móveis para trouxas! Pelo menos a comida é boa? - Sirius entrou direto na cozinha, disposto a assaltar a geladeira.
- Ei, Pontas? É tão... limpinha sua cunhada, né? - Pedro olhava em volta, espantado com a limpeza e arrumação impecável, que fazia a casa não parecer sequer habitada. Quase como para garantir nas possíveis visitas uma sensação de desconforto... que Thiago também tinha sentido. - Essa casa parece um... mausoléu, sei lá. Até para trouxas, eu acho...
- Por favor, não mexam em nada! Se ela descobre que eu deixei vocês entrarem, minha vida vai virar um inferno....
“Se é que dá pra ficar pior...”, ele completou, desgostoso, em pensamento.
- Não vai me dizer que você tem medo da cunhadinha, Pontas?
- Você sabe que eu não conheço a palavra “medo”, Aluado!
- Bem, vocês sabem que o Pontas aqui não conhece um MONTE de palavras, na verdade... – Sirius rebateu na hora com uma gargalhada.
- Não entendi... resmungou Pedro.
- Honestamente, Rabicho, se você fosse mais devagar andaria pra trás... – Sirius rebateu, levantando a sobrancelha.
Pedro ficou imediatamente vermelho. Os quatro riram alto por alguns minutos, como antigamente.
- Você está bem, Thiago? Você parece, sei lá, exausto. - Remo notou, observando o amigo.
- Estou ótimo. Foi bom ter vindo para a casa da irmã da Lílian. Com tudo isso acontecendo, ela queria passar esse Natal com a família... ou o que sobrou da família, depois que meus sogros morreram. – Deixou escapar um suspiro e continuou. - Só estou um pouco cansado...
Sirius virou-se para encarar o amigo, observando-o com atenção.
- Você tem certeza?
- Claro!- Thiago deu um sorriso forçado. “Se a gente levar em conta o efeito de saber que o meu filho é o escolhido da profecia, eu estou ótimo...”, ele pensou.
- Vou aproveitar pra dar uma olhadinha no Harry, tá? - Remo disse, subindo a escada na direção do quarto.
- Cara, você está começando a se parecer com o Remo, sabe? Abatido, com olheiras profundas, face encovada... – Sirius caçoou, aproveitando a ausência do amigo.
- Por falar nisso, o que há com o Remo, hein? – Pedro falou, em voz baixa, num tom de fofoca, os olhos brilhando com insinuação.
Thiago encolheu os ombros, meio surpreso com a pergunta.
- O Remo? Não sei... Sei lá... Por quê?
- Não sei... Eu não quero ser fofoqueiro, nem desconfiado, mas... Ele tem estado pouco estranho... E ele parece... não sei. Distraído? Um pouco temperamental.
- Nhm... eun nãrnhac notrnhei nanhamda... Sirius respondeu, de boca cheia.
- Isso é totalmente nojento, Almofadinhas! Não basta encher a boca desse jeito, tem que mastigar de boca aberta, falar de boca cheia... Sem contar que nós vamos ter que limpar tudo depois... – Thiago ralhou, tentando disfarçar a risada, antes de responder - Ah, Rabicho, acho que deve ser porque está chegando a lua cheia... Pra ele tem sido ainda mais difícil do que pra todos nós, você sabe...
Pedro concordou com um aceno de cabeça, mas ainda com cara de dúvida.
- Pode ser. Mas também ... poderia... ser alguma outra coisa, não é?
- O que, Pedro?
Pedro lançou-lhe um olhar cheio de significado, mas só respondeu:
- Não sei.
- Ei, caras, vocês tomam café?- Sirius ofereceu, de novo indo na direção da cozinha. - Vai lá chamar o Remo, vai, Rabicho!
Assim que o amigo subiu as escadas, Sirius serviu duas xícaras de café e perguntou:
- Fala aí, Pontas, como você está levando?
- Cara, é mais difícil do que eu imaginei! Irmãos... Depois de analisar os últimos acontecimentos: você e Régulo... a Lílian e a Petúnia... Nossa, eu dou graças aos céus de ser filho único!!
Os dois caíram na risada, só interrompendo ao ouvir o ruído de pessoas chegando.
- Rabicho! Aluado! Rápido!
Os três se esconderam no armário debaixo da escada. De lá, espremidos, eles não podiam ver nada, mas podiam ouvir a conversa.
- Ei, porque nós temos que ficar os três espremidos aqui?
- Almofadinhas, você conseguiu arrumar a cozinha depois de comer?
Sirius deu uma olhada rápida na direção de Remo e sorriu:
- Taá, eu sei que geralmente eu não ajudo a arrumar as coisas, mas isso não quer dizer que eu não SAIBA fazer, não é?
- Ah, quer dizer que não é uma questão de incompetência, é folga mesmo... – o amigo riu em resposta.
- Silêncio, caras! Ou a trouxa maluca vai perceber que a gente está aqui e fazer um escândalo.
- E você tem medo dela, é, Rabicho?
- Dela, não. Tenho medo do Pontas, que ia esfolar a gente vivo se isso acontecesse...
- Vamos ficar só mais um pouco, daqui dá pra escutar o Pontas fazendo papel de bobo pra esses trouxas...
- Você quer dizer de MAIS bobo do que o normal...
De novo, Sirius e Remo começaram a rir, enquanto Pedro suava de medo.
A porta se abriu, e duas mulheres entraram. Uma ruiva e outra loira. Duas irmãs, mas completamente diferentes. Petúnia Dursley, dois anos mais velha do que Lílian, era alta e magra, com um pescoço muito comprido. Tinha uma cara de cavalo e era toda ossuda. Enquanto a irmã era a perfeição em forma de garota, mesmo vestida com roupas de trouxa, pensou Thiago. Desde que as duas eram adolescentes, Petúnia ressentia-se do fato da irmã ser bruxa, e dos pais delas admirarem essa “aberração”, como ela definia. Com o casamento, Petúnia estava decidida a esquecer que tinha uma irmã, e a fingir que não existia essa coisa de “bruxaria” no mundo. Mas agora, ela estava sendo obrigada a encarar a realidade, com a vinda da irmã, o cunhado e o sobrinho.
- Bem, Lílian, eu agora vou ferver água para o banho do Dudinha. Por favor, não me acompanhe. Vou colocar máscara esterilizada, não posso ficar com ... com ... alguém como você por perto. Antes, claro, deixe que eu mesma coloque o peru para assar. O Valter não comeria se soubesse que foi você que cozinhou.
Lílian não disse nada, apenas sorriu. Alcançou o marido, dando-lhe um beijo leve nos lábios e sussurrou:
- E aí, tudo tranqüilo, Pontas?
Pelo comentário, e o brilho do seu olhar, Thiago percebeu que ela sabia. Petúnia, fazendo força para ignorar a presença de Thiago, dirigiu-se a Lílian, num tom falsamente informal:
- Válter vai chegar daqui a pouco. Isso vai nos dar uns... quarenta minutos para o peru terminar de assar e podermos servir o jantar. Farei petit gateau para a sobremesa, que pode ser assado na hora.
Assim que a irmã entrou na cozinha, Lílian perguntou num sussurro:
- E aí, onde é que eles se esconderam?
Thiago sentiu as bochechas queimando. A mulher conseguia realmente enxergar através dele.
- No armário, embaixo da escada.
Lílian riu baixinho, divertida. Bateu de leve na porta do armário.
- E aí, rapazes, tudo bem? Confortáveis aí dentro?
A porta se abriu um pouco, sem ruído, e os três começaram a gemer:
- Ai, Lil, você bem que podia ter um pouco de pena da gente, não é? Essa sua irmã não pode ser compreensiva? A gente só queria ficar com vocês no Natal, oras...
- Eu sei... É difícil para nós também. Mas estamos aqui de favor, escondidos, fugitivos... Vocês têm que sair. Amanhã, quem sabe, a gente se encontra em algum lugar perto daqui, OK?
Os três fizeram uma reverência cômica, dizendo “seu desejo é uma ordem!” e aparataram. Lílian abraçou o marido. Sabia o quanto era duro para ele ficar separado dos amigos.
Quinze minutos depois, Válter Dursley, marido de Petúnia, estava chegando em casa. Valter era a pessoa mais trouxa que Thiago jamais tinha conhecido na vida. Era um homem gorducho, quase sem pescoço, que usava um bigodinho que parecia encerado. Trabalhava numa fábrica de brocas, pelo que Thiago tinha entendido. O que Thiago não conseguia entender realmente era o QUE ERAM essas tais brocas de que ele tanto falava. Todas as noites, desde que eles tinham chegado a Surrey, ele entrava, olhava com desprezo para Thiago e Lílian, sem cumprimentá-los, e gritava:
- Querida, cheguei! Onde está o meu Dudinha?
E logo começava a reclamar do clima, do trânsito, ou de qualquer outra coisa chata. Nessa noite, mesmo sendo véspera de Natal, não era diferente.
- O frio está um horror lá fora. Dizem que vai nevar a noite toda... O trânsito na cidade está infernal! Essa gente que deixa para fazer as compras de Natal em cima da hora...
Ele falava meio que para o nada, fingindo ignorar a presença de Lílian e Thiago, enquanto entrava para trocar de roupa e lavar as mãos. Exatamente igual a todas as noites.
Petúnia andava de um lado para outro, atarantada. Pendurava enfeites, conferia o jantar na cozinha, arrumava a mesa. Lílian e Thiago se ofereceram para ajudar, mas ela não aceitou, com uma careta. Quarenta minutos depois de elas terem chegado, precisamente, o jantar estava pronto para ser servido.
Em silêncio, os quatro sentaram-se à mesa, deixando os dois bebês nos carrinhos.
- Você aceita um copo de vinho? – perguntou Petúnia, dirigindo a palavra a Thiago pela primeira vez no dia.
- Ah, sim, claro. Muito obrigado! Thiago agradeceu, tentando parecer o mais educado possível.Já que ela tinha resolvido falar com ele, Thiago achou que podia fazer uma tentativa de agradar, puxando uma conversa casual – Petúnia, ainda não tive oportunidade de comentar, mas... Que linda a sua decoração de Natal!
- Eu não ponho muito enfeite, junta muita poeira, pode estragar o papel de parede, o Dudinha pode ter alergia e... Muito obrigada. Foi bem cara.
- Ah, na minha casa, meus pais me deixavam fazer a nossa própria decoração... eu desenhava e recortava hipogrifos com gorros vermelhos, e...
Os Dursley fizeram uma careta e se entreolharam. Seguiu-se um novo silêncio desconfortável e Thiago, sentindo-se responsável pelo ambiente estranho, tentou puxar conversa de novo:
- E então, Valter, como é que vai o trabalho?
- Muito bem! Eu fui promovido recentemente. Sou o novo diretor da fábrica de brocas agora, não sei se você sabe... – Ele e Petúnia trocaram um olhar orgulhoso.
Lílian sorriu para o marido, admirando seu esforço. Animado, Thiago continuou:
- O que eu não consigo, na verdade, é entender o que SÃO brocas... Eu não fiz o curso de Estudos de Trouxas em Hogwarts, sabe? Eu sempre preferi matérias com mais... ação, sabe como é? Do tipo Defesa contra as Artes das Trevas, Feitiços... Ah, é claro, eu era bom mesmo no Quadribol...
Petúnia e o marido se entreolharam, abismados. Válter começou a ficar vermelho, a veia do pescoço saltando, como se ele estivesse prestes a explodir. Thiago percebeu que tinha feito alguma coisa errada, porque Lílian mantinha o olhar fixo no prato de comida, com uma expressão indecifrável. Ele suspirou, imaginando se fosse Sirius que estivesse em seu lugar, se o amigo teria esse grau de autocontrole. Provavelmente não. Ah, mas a melhor saída para sobreviver ao tormento com a família de Lílian era manter a mente aberta e a boca fechada. Almofadinhas ficaria orgulhoso da maturidade do amigo, Thiago pensou, num esboço de sorriso.
Os Dursley resolveram voltar ao comportamento habitual desde que os hóspedes tinham chegado. Isso queria dizer: ignorar a presença deles completamente. Começaram a conversar, como se estivessem os dois sozinhos na mesa. Válter ia começar a contar algo sobre uma grande venda, ou algo assim, quando bateram na porta.
- Quem pode ser, a essa hora, numa noite como hoje? Você está esperando visitas, querida?
- Não, é claro. Não convidaria ninguém com ... eles... aqui.
- Provavelmente alguém esperando ser convidado para a ceia, vindo assim tarde numa noite como hoje.
Valter levantou-se da mesa extremamente mal-humorado para atender a porta. Nada que saísse da programação o agradava.
- O que o senhor deseja? Eu não quero ser rude, mas é véspera de Natal e... – Valter começou, num tom de voz que realçava a rudeza em cada sílaba.
- Boa noite. Não quero incomodar, senhor, mas preciso falar com os Potter.
- Co...co..como é? PETÚÚNIIAAAA!!
Por um momento, todos ficaram perplexos ao ouvir esse sobrenome. Lílian deixou cair a jarra de suco, que se espatifou no chão com estrondo. Petúnia paralisou, ao ver sua linda jarra de cristal quebrada, e ouvir o marido, prestes a um colapso, chamando-a na porta. Thiago, sem pensar muito, sacou sua varinha do bolso, num gesto rápido.
- Evanesco!
A poça de líquido amarelo do chão imediatamente desapareceu sem deixar vestígios. Thiago, então, apontou a varinha para os cacos de vidro no chão.
- Reparo!
A jarra de cristal imediatamente voltou à velha forma, consertada.
- Accio jarra! Thiago invocou a jarra, pegando-a e entregando-a para a cunhada, num gesto gracioso. Mas, ao invés de vê-la feliz com a sua ação, ele percebeu que ela estava pálida, os lábios muito apertados, pequenas linhas de contrariedade em volta da boca e dos olhos.
- PARE COM ISSO! NÃO QUERO ISSO NA MINHA CASA!
Valter tinha parado de gritar chamando a mulher. Virou-se para o visitante e perguntou, agressivo:
- E quem é o senhor? Quem deu esse endereço para o senhor? Como ousa aparecer, assim na porta da minha casa? PETÚÚÚNIIIAAAA!!
- Eu sou Severo Snape.
- SNAPE?? Lílian e Thiago deixaram escapar um grito de espanto.
- Com sua licença, senhor, mas é realmente perigoso ficarmos aqui fora. – Severo disse, com voz educada e firme.
Lílian recobrou a calma primeiro, e resolveu tomar a iniciativa, antes que o ambiente degenerasse de vez.
- Severo, mas que surpresa! O que você veio fazer aqui? Como soube que estávamos aqui?
- QUEM É ESSE... ESSE... Petúnia não conseguia se decidir como completar a frase, enlouquecida de fúria. Lançou um olhar cheio de nojo, desprezo e indignação na direção de Severo.
Ah, Severo conhecia muito bem aquele olhar. Aquele era o olhar que o seu pai dirigia a ele. Era o olhar que o fizera odiar trouxas. E também, o olhar de muitos colegas da sua época, quando o encaravam.
- Como vai, Lílian? – Ele dirigiu-se à única pessoa que o interessava ali, ignorando o resto.
- Como vai, Severo? Aconteceu alguma coisa? Foi Dumbledore quem o mandou aqui?
-Snape! - Thiago sentiu o sangue ferver, levantando-se da mesa com a varinha na mão. – Pensei que você ia se juntar aos amigos de Lúcio Malfoy numa data como essa... Você não faz parte daquela corja?
- Eu fiz. Mas depois eu cresci, amadureci. Coisa que vejo que não aconteceu com você. –Snape não pôde deixar de responder, com uma careta de desprezo.
- Ora, cale essa boca imunda, Snape! O que você veio fazer aqui, seu Ranhoso filho &% *$#@?
- Vejo que educação não é realmente o forte do seu marido, Evans... – Severo comentou, com um brilho de ironia no olhar, frisando o sobrenome de solteira de Lílian. – Eu vim a mando de Dumbledore. Vim numa missão que diz respeito à segurança de vocês.
- Cale a boca, Ranhoso! Você não tem o direito de dirigir a palavra a Lílian! Quantos iguais a ela você já ajudou Voldemort a matar, hein?
Severo ficou muito pálido, mas não respondeu. Lílian observava os dois, e resolveu intrervir:
- Thiago, chega! Severo, por que Dumbledore mandou você aqui? O que aconteceu?
- Ah, é verdade, parece que Dumbledore acredita numa história de que o Ranhoso, aqui, se arrependeu, se... redimiu... abandonou aqueles velhos hábitos... Pois a mim você não engana! Dumbledore é bom demais, otimista demais... confia demais. Vai, vai, Snape, volta lá pros seus companheiros, os Comensais da Morte! Nós não precisamos de você aqui!
- CHEGA, THIAGO! - Lílian, exasperada, tentava separar os dois bruxos que se encaravam em desafio e desprezo mútuo no meio da sala.
Os Dursley estavam encolhidos, em pânico. Esse era o pior pesadelo que eles podiam ver materializado. Lílian, então, dirigindo-se a eles, e ao marido, disse, tentando ensaiar uma voz calma:
- Petúnia, por favor, vá com o Valter e o Duda para a cozinha um instante. Leve o Thiago com vocês, ele precisa respirar um pouco. Enquanto isso, eu e Severo podemos conversar.
Lílian lançou um olhar enérgico para o marido, do tipo que não admite contestação. A irmã, ainda chocada, de olhos fechados, resmungou:
- Vo..você não espera que eu... eu...fale com ele, não é? Você e esse seu marido... e faça o seu bebê tirar o brinquedo do Dudinha da boca! Vou ter que esterilizar tudo de novo!
- Vá, Petúnia!
- Lil, eu não posso deixar você sozinha com ele! Eu não confio nele!
Severo, muito pálido, respondeu:
- Você pode não concordar, Potter, mas o diretor de Hogwarts parece achar que minha colaboração é benvinda.
- Ah, claro. Até que você o traia, apronte alguma armadilha e acabe, quem sabe, matando-o com suas próprias mãos! Nós já perdemos muita gente da Ordem, Ranhoso!
- Thiago, chega! Vá lá pra cozinha com os Dursley, esfrie a cabeça. Eu sei me defender se for preciso. Mas se Dumbledore confia nele, eu também confio. E quero saber o que é tão importante que ele tem a dizer que o fez vir aqui, e enfrentar esse seu ataque de macho.
Furioso, Thiago seguiu os Dursley rumo ao interior da cozinha. Não sem antes advertir:
- OK. Mas eu volto em cinco minutos.
Lílian esperou até que o marido e os cunhados saíssem para virar-se de novo para Severo.
- E então, Severo, o que aconteceu?
- Eu vim avisar vocês de que o Lorde das Trevas sabe que vocês estão aqui. Vocês precisam ir embora. Eu esperei até hoje para vir, porque imaginei que você... que vocês quisessem passar o Natal com a sua família, e... Mas ele convocou uma reunião para essa noite, daqui a pouco. Tenho quase certeza de que planeja um ataque a vocês, hoje ou amanhã.
- Mas... mas... Como isso é possível? Como?
- Não sei, mas um dos amigos de vocês é um traidor. Um deles informou o Lorde das Trevas de cada passo dessa viagem de vocês.
- Quem? - Lílian estava muito pálida agora, seus olhos assustados cheios de lágrimas. Encarou Severo por um breve instante, e ele se sentiu afogar. Mas logo em seguida correu para o carrinho e pegou o filho no colo.
Só então Severo percebeu a presença do bebê ali. Curioso, aproximou-se e olhou para ele. Imediatamente teve que sufocar o furacão de emoções que a imagem daquele bebê produziu nele. Uma miniatura de Thiago! Igualzinho ao pai... com exceção dos olhinhos muito verdes, como a mãe.
- O Lorde das Trevas não contou a ninguém a identidade do espião. Tenho tentado descobrir... – Severo se deu conta do que estava dizendo e, tentando disfarçar o desconforto, completou, num tom irônico.- Como você vê, seu marido tem uma certa razão de querer me entregar aos Dementadores, Lílian. Graças a esse papel que represento, continuo ligado aos Comensais da Morte. Continuo participando de reuniões com o Lorde das Trevas, de ataques e assassinatos...
- Mas você não gosta! Senão, não teria procurado Dumbledore, não teria mudado de lado...
- Eu não vim buscar absolvição, Lílian. Não sei se eu mereço ser absolvido. Talvez no final eu mereça mesmo Azkaban e o beijo dos Dementadores... – Severo abaixou um pouco seu rosto, escondendo-o debaixo da sua cortina de cabelos. Era impossível não lembrar da profecia, do seu papel naquilo tudo.
- Eu não estou aqui para absolvê-lo, Severo, eu não posso fazer isso. Só você mesmo pode. Mas eu conheço você, lembra? Eu sempre disse que você era melhor do que eles. Que você era um bruxo brilhante. E capaz de atos de coragem, de bondade.... Eu estava certa, porque Dumbledore, que é o mais inteligente dos bruxos, confia em você. Muito obrigada pela sua ajuda. Um dia, quando tudo isso tiver passado, quando Voldemort tiver sido derrotado, eu espero que sejamos amigos de novo!
Naquele jeito impulsivo que ele conhecia tão bem, ela se aproximou dele o apertou num abraço, com o bebê no meio dos dois. Depois, afastou-se e disse:
- Mas agora eu acho melhor você ir. Como você deve ter percebido, tenho uma família trouxa, muito, muito trouxa... para acalmar, antes de fugir de novo. Obrigada, mais uma vez! Diga a Dumbledore que eu agradeço a ele também. Feliz Natal! – Ela complementou abrindo um lindo sorriso.
Ele fez uma rápida reverência e saiu porta afora, as vestes pretas esvoaçando com o vento frio. Do lado de fora, teve que se apoiar na parede da casa, recuperando-se do encontro.
Do lado de dentro da casa, Lílian colocou Harry de novo no carrinho e respirou fundo, antes de se dirigir à cozinha. Não ia ser fácil.
Quando abriu a porta, percebeu que a irmã tinha ficado de orelha colada, tentando escutar a conversa, enquanto os homens tinham se sentado, um de cada lado da mesa, mal-humorados, comendo o resto da ceia.
- O que aquele cara queria com a gente? Thiago resmungou, assim que ela entrou.
- Depois eu explico... Primeiro preciso falar com minha irmã. Vocês não querem voltar para a sala? Tenho certeza de que deve estar começando algum programa interessante na TV...
Thiago se animou um pouco. A televisão era um daqueles aparelhos de trouxa que mais o fascinava. Ignorando a má vontade do cunhado, levantou-se. Valter, temendo que aquele estranho fosse tocar na sua preciosa televisão nova, correu na frente.
Petúnia estava parada, em pé, fitando o horizonte. Os lábios tão apertados que mal dava pra ver mais do que uma linha.
- Petúnia! Precisamos conversar...
- Não vejo motivo, Lílian. Só porque você passou o ultimo mês atrapalhando o andamento da minha casa, impondo sua presença e do seu... marido anormal... Só porque você estragou a minha ceia de Natal?
- Petúnia, eu tenho que te pedir desculpas... eu preciso te contar umas coisas...
- Eu não quero saber! Eu não quero ouvir!
- Petúnia... – Lílian começou a falar, num tom de voz suave, mas firme.- Você tem lido o jornal ultimamente... assistido as notícias na televisão?
- Sim, como todo mundo.- Petúnia respondeu, nervosa.
- Então você tem visto o que está acontecendo – mortes de troux...- mortes de pessoas comuns, explosões misteriosas, colapso de prédios importantes, mudanças inexplicáveis no clima... e a lista é longa...
- Sim.
- E você já parou para se perguntar o por quê? - Lílian manteve a voz mais firme.
- Ah, essa é fácil, não é? Coincidência. Uma triste coincidência. Coisas desse tipo acontecem todo o tempo, em todo o mundo. Eu não nego que ultimamente esse tipo de coisa tem acontecido com mais freqüência... – Petúnia interrompeu-se, e seus olhos se arregalaram de terror, ao perceber onde a irmã queria chegar.
- Petúnia, têm sido tempos difíceis para todos nós. Há um bruxo muito poderoso que está determinado a controlar tudo – o mundo bruxo e o mundo dos trouxas, ou seja, o mundo dito “normal” para você. Ele é um homem perverso, e o bruxo mais maligno que jamais existiu. Os seus conhecimentos mágicos são imensos, sem comparação com ninguém. E ele tem se tornado mais poderoso a cada dia, cada vez com mais seguidores, entre os bruxos e outras criaturas terríveis.
Petúnia encarava a irmã boquiaberta, os olhos azuis demonstrando que o medo tinha vencido qualquer outro sentimento. Lílian continuou, no mesmo tom:
- Têm sido dias perigosos, Petúnia, para todos. Ninguém sabe quando poderá sofrer um ataque... Ele e os seguidores podem torturar, enfeitiçar e hipnotizar qualquer pessoas para mantê-la sob seu controle, para que ela cometa atrocidades sem nem saber... Existem alguns que parecem estar contra o lado das Trevas mas que secretamente apóiam Voldemort...
- Voldemort?
- Sim, esse é o nome do bruxo das Trevas que lhe falei. Seus seguidores mais leais e malignos se chamam Comensais da Morte...
- E Dementadores? Quem são?
Lílian olhou para a irmã surpresa com a pergunta. Duas rodelas vermelhas tingiram as bochechas de Petúnia, enquanto ela se explicava:
- Eu... escutei essa palavra... eu escutei aquele rapaz horrível falando deles para você.
- Dementadores são os guardas da prisão dos bruxos. – Lílian começou a explicar compreensiva. – Os bruxos das Trevas, quando são presos, são enviados para a prisão de Azkaban. Os Dementadores são seres horríveis. Estão entre as criaturas mais horríveis que exitem no planeta. Eles infestam os lugares mais sombrios, se alimentando das emoções positivas das pessoas, sugando o que há de bom, deixando apenas o desespero. Mesmo os trouxas podem sentir a presence deles num lugar, mesmo sem conseguir enxerga-los. Aqueles que ficam presos em Azkaban, com o tempo enlouquecem, ou morrem, pelo contato com os Dementadores... a única coisa que acaba sobrando neles são suas piores experiências.
Lílian fez uma pausa para respirar e continuou:
- Mas, voltando a Voldemort... ele e os seus seguidores estão atrás de nós, estão procurando por Thiago e eu. Nós temos fugido desde que Harry nasceu. Nós somos membros de uma organização de resistência, um grupo de bruxos e bruxas que luta contra Voldemort. A Ordem da Fênix. Os membros da Ordem têm sido procurados, caçados...
- Como é? Você veio aqui, ficou na minha casa, e está sendo perseguida por esse... por esse... – Petúnia estava vermelha, engasgada de fúria e de horror.
- Sim, eu vim aqui não só para visitar vocês. Eu e Thiago viemos nos esconder...
- Fora daqui!
- Petúnia... por favor...deixa eu acabar de falar...
- FOR A DAQUI!! VOCÊ E ESSE SEU MARIDO ANORMAL!

A gritaria fez com que os homens corressem para a cozinha. A conversa entre eles também não tinha seguido um caminho agradável. Depois de ligar a televisão e sentar-se na poltrona favorita, Válter tinha anunciado, do seu jeito rude:
- Aproveitando que estamos só nós dois, quero deixar bem claro: não vou querer a aproximação dos nossos filhos. Não quero amizade entre eles... Filho desse tipo de gente... com essa aberração, só Deus sabe como a laia de vocês se reproduz...
- Do mesmo jeito que a sua. – respondeu Thiago. Seu autocontrole recém-adquirido tinha limites.
Nesse momento, os dois ouviram Petúnia gritar e correram.

- FORA DAQUI!
- Petúnia, me escute...
- CALE A SUA BOCA! FORA DAQUI, SUA ABERRAÇÃO ANORMAL!
- Você é minha única irmã e nem ao menos se importa conosco, não é?
- Eu tinha uma irmã. Mas essa irmã saiu de casa aos 11 anos, foi viver num outro mundo, um mundo de esquisitices... e ela morreu! Você não é a minha irmã! Agora, você vem de repente na minha casa, estraga o meu Natal, o primeiro Natal do meu Dudinha... com essas esquisitices, com essas coisas horríveis... o seu marido estranho e vagabundo... e com esse bruxo horrível e perigoso atrás de vocês!! Você não é minha irmã... vocês todos são umas... ABERRAÇÕES! ABERRAÇÕES PERIGOSAS!!
- Eu acho que você não se importa com nada, você não é capaz de sentir nada! Você vive só para as aparências. Você me chama de anormal? Pense bem, Petúnia! Você é que é a anormal aqui! Você não é humana! Você e suas milhares de regras... a sua água fervida duas vezes para o banho do bebê... sua máscara esterilizada para lidar com ele... seus móveis impecáveis com capa de plástico... os milhares de brinquedos do Duda que ninguém pode encostar... o seu ridículo carro novo... as ridículas brocas...
As duas estavam gritando a plenos pulmões, sem pausa para respirar, lágrimas de raiva nos olhos.
- E NÃO CHAME AS BROCAS DO VÁLTER DE RIDÍCULAS!
- Vamos embora, Thiago. Pegue o Harry. Petúnia, é uma pena. Eu esperava contar com você, apesar de tudo, mas vejo que eu me enganei. O laço de sangue não é suficiente. Fica tranqüila, eu nunca mais vou procurar você de novo!
- FORA DAQUI! É bom mesmo! Eu nunca mais quero ver vocês dois na minha vida, entendeu bem? NUNCA MAIS!
Lílian abraçou firme o bebê adormecido e aparatou imediatamente. Thiago seguiu-a, mas só depois de fazer a cabeça do cunhado ficar totalmente verde. Não ia durar mais do que duas horas, mas era o mínimo que um Maroto podia fazer...
Petúnia seguiu para a sala, respirando fundo. A primeira coisa que viu foi a jarra de cristal que Thiago tinha consertado com mágica sobre a mesa. Estava linda, limpa e perfeita como nova. Pegou a jarra com força, num movimento incomum, e foi arremessa-la com toda a força no lixo, fazendo com que ela se estraçalhasse em milhares de cacos.


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Aê, galera, espero que gostem do capítulo, que ficou super enorme... bem Grope mesmo...
Obrigada a todos que tem deixado comentário! Fico muito feliz de saber o que vocês estão achando, que estão curtindo eacompanhando o que eu escrevo! Beijos a todos, adoro todos vocês!
Alguns especiais:

Sally: você sabe que eu ADORO o que você escreve, né? É sempre uma alegria ver os comentários que você deixa pra mim! Espero que continue acompanhando e curtindo! Estou pensando naquele seu pedido de escrever o "depois"... acho que, pelo menos, o "Enigma do Príncipe" eu tenho vontade de escrever na ótica do Severo...hehehe

Belzinha: nem sei o que te falar menina! Você me elogia tanto, faz tanta propaganda desde o começo, que eu fico até sem graça... espero que continue curtindo, escreva sempre, adoro esses comentários longos... e que fique cada vez mais viciada na fic!!

Bernardo: adoro o que você escreve, estou adorando o QUADRIBOL, pra mim é um prazer ler seus comentários aqui! Sim, Severo Snape é desprezível... até ele mesmo disse isso nesse capítulo, viu? Pus essa fala em sua homenagem...hehehe... Mas acho que até você vai acabar se convencendo de que ele não é tão ruim assim...

Sorcerer: menina, fiquei surpresa como nossos pontos de vista são parecidos! Espero que curta essa fic, assim como estou curtindo a sua! Pois é, nós acreditamos que por trás daquela figura dark e amarga do Severo, tem um outro cara... ;-) Beijão!

Morgana: que bom que você está gostando da fic! eu sempre tive vontade de dar a minha versão do que aconteceu nessa época da Profecia... continue acompanhando e comentando sempre, é um prazer!!

Beijos a todos e super obrigada!! Ah, claro COMENTEM!! ;-)

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