PRIMAVERA



Pronto... demorei mas aí vai mais um capítulo. Antes, de novo quero agradecer os elogios, mandar beijos para Belzinha e Sally Owens, vocês são ótimas, meninas, muito obrigada! Continuem lendo e palpitando sempre, espero que continuem gostando...
E agora, capítulo novo:


CAPÍTULO 4

"PRIMAVERA"

Os dias de inverno passaram, lentamente dando lugar às manhãs de sol suave e às noites perfumadas de primavera. A guerra continuava intensa, com muitas perdas dos dois lados. Mas, embora a resistência continuasse valente, Voldemort ia ganhando cada vez mais poder. Com isso, cada vez mais bruxos o procuravam, abertamente ou em segredo. Eram tempos cada vez mais sombrios. Nem a chegada da primavera parecia melhorar o clima.
Respondendo a um chamado do seu Mestre, Severo tinha se dirigido rapidamente para a mansão. Ao chegar ao portão, notou a forte segurança ostensiva. A idéia, Severo tinha certeza, era demonstrar poder. As medidas de segurança realmente importantes eram invisíveis, ele não se iludia: feitiços cada vez mais poderosos para identificar cada um dos visitantes. Severo passou por eles discretamente, quase sem ser percebido pelos bruxos à porta.
Tinha hora marcada e o Lorde das Trevas estava sentado, esperando por ele, numa grande poltrona na sala principal da casa. Snape curvou-se, na reverência costumeira, cumprimentando seu chefe.
- Severo, meu servo fiel! Estava mesmo à sua espera...
- Sim, Lorde...
- Alguma novidade?
- Tenho uma reunião marcada com Dumbledore para hoje à noite, Senhor.
- Ótimo, ótimo! Quero ser informado sobre tudo, assim que o encontro terminar!
- Com certeza, Senhor!
- Mas tenho outra... tarefa para você, Severo. Nada que exija dedicação tão grande quanto sua missão principal, claro...
Severo encarou-o curioso, sem dizer nada, esperando. Depois de uma pequena pausa, Voldemort continuou, com uma expressão indecifrável:
- Como você já deve saber, Karkaroff e Dolohov foram capturados e mandados para Azkaban. Rosier e Wilkes, seus colegas em Hogwarts, foram mortos por Aurores.
- Sim?
- Temos algum espião entre nós, Severo. Um traidor. Não tenho dúvidas quanto a isso. E nem me surpreende, na verdade. Do mesmo modo como temos espiões infiltrados na Ordem, era de se esperar que acabássemos enfrentando o mesmo entre os nossos... A questão é saber: quem?
Severo continuava em silêncio, esperando. O Lorde levantou-se e, olhando pela janela, voltou a falar, num tom de voz sussurrante:
- Severo, você conhece bem os Malfoy?
- Superficialmente...
- Você sabia que a esposa de Lucio está grávida?
Lúcio Malfoy era um Comensal da Morte como ele. Cerca de seis anos mais velho do que Severo, tinha uma figura imponente: cabelos longos e loiros, alto, porte altivo. Descendia de uma família bruxa tradicional e aristocrática. Muito ricos, os Malfoy residiam numa grande mansão, que pertencia à família a várias gerações. Severo conhecia um pouco melhor a esposa de Lúcio, Narcisa. Um ano mais nova do que ele, era irmã de Bellatriz Black. Não podia haver duas irmãs mais diferentes. Bellatriz era morena, enquanto a irmã era muito loira. Bellatriz tinha sido uma garota marcante na escola: dona de uma beleza expressiva e de muita vivacidade. Narcisa era seu oposto: nem bonita, nem feia, pálida e dona de olhos azuis muito claros, tinha sido uma menina apagada, até mesmo um pouco tímida. Só uma coisa era idêntica nas duas: o insuportável ar de superioridade.
- Severo... – e Voldemort virou-se encarando-o firmemente. – quero que você se aproxime dos Malfoy. Visite-os, inicialmente em meu nome, mas depois vá estreitando laços com eles... Descubra mais sobre eles e, é claro, me mantenha informado. Nem preciso dizer que isso exige sigilo absoluto, não é?
- Com certeza, Senhor. Pode contar comigo.
- Confio em você, Severo. Quero notícias do seu encontro com Dumbledore. E vou falar com Lúcio, darei um pretexto qualquer para que você faça uma primeira visita a eles em meu nome. Agora vá.
- Sim, Mestre.
Severo cumprimentou-o cerimoniosamente e se foi. Aparatou diretamente para Hogsmeade e foi se hospedar no Três Vassouras. Sozinho no seu quarto, fez um inventário mental do seu encontro com Lorde Voldemort. O Mestre suspeitava da existência de um espião entre eles. Suspeitava, não, tinha praticamente certeza. O que isso teria a ver com a sua tarefa de aproximar-se com os Malfoy? Será que o Lorde das Trevas suspeitava de Lúcio? E a notícia de que Narcisa estava esperando um bebê, o que significaria? Seria deles o bebê da Profecia?
Ainda era cedo, e ele só ia se encontrar com Dumbledore, em Hogwarts, à noite. Resolveu, então, sair um pouco, dar uma volta pelo vilarejo, quem sabe até fazer algumas compras. Subiu a rua, distraído e pensativo, como de costume. E, de repente, ele a viu. Fazia tanto tempo... Ele sentiu que o ar tinha sumido, e que tudo se movia em câmera lenta ao seu redor. O coração apertado parou por um segundo, e logo em seguida disparou, martelando na cabeça. Lílian Evans. Era ela, do outro lado da rua, saindo da Dedosdemel. Linda, iluminada, os mesmos cabelos vermelhos brilhando ao pôr-do-sol, o mesmo sorriso. Os mesmos olhos amendoados incrivelmente verdes, inconfundíveis. Parecia sonho. Era quase a mesma imagem dos sonhos que ele sempre tinha. Só que, nos seus sonhos, era para ele que ela sorria. Nos seus sonhos, Lílian Evans não estava grávida. E, com certeza não estava de mãos dadas com Thiago Potter, como agora, ele pensou, interrompendo a fantasia com irritação. Sentiu um aperto desconfortável quando pensou novamente que ela estava grávida. Podia estimar pelo tamanho da barriga, mais ou menos... quantos meses? Uma idéia meio vaga e desagradável passou pela cabeça de Severo, mas ele a reprimiu, cheio de horror. Parado ali na esquina, apoiado na parede, ele torceu para não ser notado. Podia ouvir um esboço da conversa do casal.
- Lily, você tem comido tanto caldeirão de chocolate que desse jeito o menino vai acabar nascendo com cara de caldeirão... ria Thiago.
- Larga de ser bobo, Thiago! Lílian censurou, engasgando de rir.
Depois, recuperando o fôlego, com olhos brilhando ainda mais, disse:
- Sabe de uma coisa? Tenho certeza de que nosso filho vai ser a sua cara...
Thiago sorriu para ela, parecendo transbordar de felicidade, mas respondeu com um ar fingido de desgosto:
- Espero que ele não tenha esse azar...
Lílian riu, enquanto ele complementava:
- Bom, ele pode herdar o meu charme, claro... ou o meu talento no quadribol... mas tomara que tenha os seus olhos...
Eles se afastaram, brincando e trocando beijos, e Severo não conseguiu ouvir mais nada. Parado ali na rua, ficou alguns minutos sem ação até se recuperar e conseguir resolver o que fazer em seguida. Era melhor caminhar até os portões de Hogwarts. Estava adiantado, mas assim ia ter um tempo para se recuperar, esquecer...

“Eu sem você não tenho porque
Porque sem você não sei nem chorar
Sou chama sem luz, jardim sem luar
Luar sem amor, amor sem se dar
E eu sem você sou só desamor
Um barco sem mar, um campo sem flor
Tristeza que vai, tristeza que vem
Sem você, meu amor, eu não sou ninguém...”
Vinicius de Moraes
....................................

Dumbledore, sentado em sua sala, observava, pensativo, o lindo por-do-sol. Os últimos dias tinham sido intensos, por assim dizer. Notícias de mortes, desaparecimentos e ataques chegavam de toda a parte. Batalhas eram travadas todos os dias. Mas, além das preocupações do dia-a-dia da guerra, uma coisa o perturbava. A lembrança da Profecia de Sibila Trelawney não lhe saia da cabeça.
Ele não era um homem que acreditasse, de modo geral, em coisas como previsão de futuro ou profecias. Na sua opinião, as conseqüências das nossas ações podiam ser tão complexas, tão diversas, que prever o futuro era praticamente impossível. A Professora Trelawney, bendita fosse, era a prova viva disso- ele pensou, com um sorriso maroto. Mas as conseqüências de uma previsão como aquela, tendo sido ouvida por um seguidor de Voldemort, eram imprevisíveis. E com certeza, perigosas para todos os envolvidos.
O professor sentiu uma sombra de preocupação ao pensar nos bebês que estavam para nascer em julho. Eram dois, ambos filhos de membros importantes da Ordem da Fênix. Frank e Alice, dois Aurores; Lílian e Thiago, dois Inomináveis. De quem seria o bebê da Profecia?
Dumbledore voltou seu olhar para Fawkes, a bela fênix que dormia sossegada na gaiola sobre a mesa. Estava aguardando um encontro com Severo Snape. O pedido de emprego, os dois sabiam que era inútil. Mas Dumbledore estava curioso a respeito de Severo. Esperava ser um legilimente hábil o suficiente para descobrir o quanto o bruxo tinha escutado naquela noite.
Ouviu uma batida na porta.
- Entre! Disse Dumbledore, interrompendo seus pensamentos.

Severo entrou sem ruído. Seu rosto estava muito mais pálido do que o habitual, num contraste mais intenso com suas vestes e sua capa, tudo muito preto. Dumbledore percebeu a palidez, mas não demonstrou nada. Com um sorriso amistoso disse:
- Boa noite, Severo! Não quer sentar?
- Obrigado.
- Posso lhe oferecer uma bebida?
- Aceito, por favor.

Com um gesto discreto com a varinha, uma garrafa empoeirada e dois copos apareceram sobre a sua mesa. Ele serviu a bebida, ergueu o copo como se brindasse e então falou:
- Prove este hidromel... é o melhor hidromel envelhecido em barris de carvalho por Madame Rosmerta, sem dúvida.
Tomou um gole, apreciando a bebida, e só então voltou novamente sua atenção para o seu convidado:
- Então, Severo... a que devo a sua visita?

Apesar de estar preparado para a conversa, Severo sentia-se, agora, um pouco intimidado. E ficava irritado por ter que admitir isso, mesmo que só para si mesmo.
Podia perceber,por trás do sorriso,o olhar penetrante do professor fixado nele, tentando ler alguma coisa dos seus pensamentos. Recuperando o controle com dificuldade, fechou a mente e respondeu:

- Vim procurá-lo para solicitar uma vaga de professor. Como eu havia dito antes, naquela noite em que nos encontramos no Cabeça de Javali, soube que vocês estão precisando de um professor de Defesa contra as Artes das Trevas...
- Ah, quer dizer que você quer voltar a Hogwarts, Severo? E o que você tem feito desde que saiu da escola?
- Tenho prestado serviços, professor...

Dumbledore ergueu as sombrancelhas.

- Ah, sim... entendo. Mas, então, me diga: se você vier ser professor em Hogwarts, como fica o seu relacionamento com aquele a quem você presta serviços? Como fica a sua situação de, segundo os boatos que correm, Comensal da Morte?
Severo ficou surpreso, não tanto com o que Dumbledore demonstrava saber, mas com a franqueza que o professor estava disposto a usar com ele.
- Meus amigos, assim como aqueles a quem eu presto serviço, seguirão tranquilamente sem mim, tenho certeza.
Dumbledore terminou sua bebida calmamente, pousando o copo vazio sobre a mesa. Endireitou-se, apoiando as costas na cadeira de espaldar alto, e uniu as pontas dos dedos, num gesto bem típico seu.
- Incrível como essa conversa é parecida com uma que eu tive aqui mesmo, há muitos anos atrás... eu não sei se você sabia, Severo, mas aquele para quem você trabalha, Lorde Voldemort, também veio um dia pedir esse mesmo emprego...
Severo empalideceu ainda mais, mas não disse nada. Dumbledore continuou:
- Sendo você um rapaz inteligente, como eu sei que é, já deve saber que eu nunca lhe daria esse emprego... portanto, minha pergunta é: O que você pretendia com a sua visita, Severo?
Os dois ficaram em silêncio por alguns minutos, encarando-se. Dumbledore observava atentamente o ex-aluno, deixando-se tomar pela tristeza. Aquele era um jovem brilhante, inteligente, um bruxo talentoso. O professor sabia das dificuldades da família, tinha uma boa idéia do sofrimento do bruxo quando menino. Isso talvez explicasse o caminho que ele escolhera. Mas sentia alguma coisa diferente agora. Não tinha conseguido acessar nenhuma lembrança sobre a profecia, mas tinha percebido algo. O bruxo que estava ali na sua frente não era aquele cheio de sarcasmo, fingimento e rancor de alguns meses atrás. Apesar de todo o tempo que ele tivera para se preparar para esse encontro, e mesmo sendo um excelente oclumente, o bruxo que estava ali na sua presença agora estava visivelmente perturbado com alguma coisa. Isso quase dava esperanças a Dumbledore. Quebrando o silêncio, Severo resolveu responder:
- Eu não sei o que o senhor está querendo dizer, professor. Mas se sua resposta final é um não, acho que não temos mais nada a conversar no momento.
Dumbledore sorriu bondosamente:
- Ah, Severo, Severo... você não é como eles, você não percebe?
- Eu volto a repetir, professor, não sei o que o senhor quer dizer com isso. Não me subestime.
- Não, Severo, nunca! Eu nunca o subestimei. Você é quem está se subestimando ao se unir a essas pessoas... você não é um assassino, Severo. Você é capaz de sentimentos que os seus companheiros desconhecem completamente... e tem muito mais coragem do qualquer um deles, até mesmo do que Tom Riddle jamais teve.
Severo estava tão surpreso com o comentário que arregalou os olhos, nem se dando ao trabalho de disfarçar. Dumbledore então acrescentou, baixinho:
- Severo, venha para o lado certo… Podemos protegê-lo.
Ao ouvir essas palavras, Severo lembrou de Thiago e Lílian, felizes, em Hogsmeade. Uma sensação conhecida, uma mistura de ciúmes, inveja e amargura, tomou conta dele. Levantou-se e respondeu, com um sorriso enviesado:
- Não sei do que o senhor está falando, Professor Dumbledore. Sinto muito. Adeus!
- Eu também sinto muito. Mas de qualquer maneira, lembre-se sempre que, se algum dia você mudar de idéia, ou se precisar de alguma coisa, venha me procurar.
Severo saiu rapidamente, fechando a porta atrás de si. Muito abalado com a conversa, que tinha seguido um rumo completamente inesperado, ele nem se deu ao trabalho de tentar espionar alguma coisa. Precisava de um tempo para colocar a cabeça em ordem, antes de voltar e prestar contas ao Lorde das Trevas.



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