A Conversa



Já fazia duas semanas desde a última conversa que tivera com Gina, na qual confessou seu amor por Harry. E depois disso, ela não perguntou mais para a amiga sobre o que ela queria lhe falar. Sentia que Gina não queria tocar nesse assunto. Preferiu deixar que a amiga tomasse a iniciativa de lhe contar o que era.
Gina continuava sonhando com Harry, mas a palavra que melhor se encaixava para isso era pesadelo. Ela via Harry, corria para abraçá-lo, mas quando se virava para ver ao redor, encontrava Hermione, de olhos arregalados, chorando.
- "Preciso contar pra ela" - pensava Gina - "Antes que eu faça uma besteira" - a garota decidiu que daquele dia não passaria. Iria contar a Hermione tudo o que sentia por Harry.

O sol estava bem forte, e havia algumas nuvens no teto do Salão Principal. Gina avistou Hermione sentada ao lado de Harry, e de frente á Rony, ouvindo aquela piada sem graça que o pai deles tinha contado durante as férias.
- "É agora" - pensou Gina - Bom Dia.
- Bom dia - responderam os três, quase em coro.
- Mione... Você podia vir comigo? - ela perguntou.
- Aconteceu alguma coisa, Gina? - perguntou Hermione, virando-se para a amiga.
- Não, não aconteceu nada. Por quê? - Gina deu uma risada esganiçada, e Rony olhou torto para a irmã.
- Por nada, ué - disse Hermione, levantando-se - Boa aula pra vocês - falou ela para Rony e Harry, que tinham dois tempos de Adivinhação como primeiras aulas naquela manhã.
Ela e Gina foram andando em direção ao dormitório feminino. Hermione mal podia esperar pra saber o que tanto a amiga escondia, mas Gina tinha medo do que teria que contar pra ela. As duas entraram no quarto, e Hermione sentou-se em sua cama, que ficava de frente para a de Gina. Ela ficou procurando as palavras certas, mas elas não vieram.
- Pode falar, Gina - disse Hermione desconfiada.
Gina olhava para o chão. Por que era tão difícil dizer que ela simplesmente também amava Harry, a muito mais tempo do que a outra poderia imaginar, e que a qualquer momento poderia se declarar á ele?
- Mione... - começou.
- Diz logo, você está me matando de curiosidade! - disse Hermione, sorrindo.
O coração de Gina estava apertado. Ela brincava com as mãos, fazendo a amiga quase gritar para que ela falasse logo.
- Com que roupa você acha que eu devo ir ao Baile de Inverno?
Hermione olhou pasma para Gina. E era isso o que ela queria lhe dizer? Porque não disse na frente de Rony e Harry? Isso não era, definitivamente, o que ela queria falar.
- Gina, você não me trouxe aqui apenas para perguntar isso. É claro que não - disse Hermione - O que você está me escondendo?
Pronto. Não havia mais como esconder. É lógico que ninguém tiraria outra pessoa do café da manhã simplesmente para perguntar com que roupa deveria ir á um baile.
- Eu... Hermione, já faz um tempo que eu estou sentindo isso. Quer dizer, faz muito tempo que eu sinto isso, mas eu estava escondendo de todo mundo. Do mesmo jeito que você não queria contar para ninguém o que me contou, eu tentava esconder também. Mas agora, que está ficando tudo mais forte, resolvi que deveria contar para alguém. Mas daí você veio, e contou a mesma coisa que eu queria te dizer, e...
- A mesma coisa que eu queria te dizer? – interrompeu Hermione.
- É, bem, Mione...
- Você também gosta do Harry, Gina? - interrompeu-a novamente.
- É, sim, Mione. Eu o amo, do mesmo jeito que você o ama, mas tem medo de lhe falar. Mas comigo os motivos são diferentes!
- Diferentes como? - Hermione não estava brava, mas definitivamente não estava feliz com aquela notícia. Tinha quase certeza de que se Gina contasse o que sentia para Harry, este começaria a olhá-la com outros olhos, e, futuramente quem sabe, até amá-la. Isso se já não estava acontecendo debaixo de seu nariz.
- Eu tenho medo de me declarar á Harry e não ser correspondida. Me passar de idiota, como quando Rony lhe disse, no segundo ano de vocês, que eu o amava - Hermione não encarava mais Gina. Passava os olhos pelo chão inteiro, mentalizando tudo o que a amiga tinha dito - Só sei que a gente ainda tem que ser amiga. O Harry não pode estragar isso - finalizou ela. Hermione olhou para ela. A amiga estava certa. Não seria um menino que poderia estragar uma amizade tão grande como a delas.
- Ah, Gina... Foi bom você ter me contado - disse Hermione, levantando-se para abraçar a amiga.
Não foi preciso dizer, e também seria muito chato comentar. Gina não queria desistir de Harry, porém não queria magoar a amiga. Hermione também pensava assim, mas queria deixar as coisas como estavam. Se fosse para ela, ou Gina, ficar com Harry, isso aconteceria, independente ou não da outra.

Hermione foi para o Salão Comunal da Grifinória. Queria utilizar os tempos livres que teria antes de uma aula para fazer um dever. Gina foi para a sua aula, sentindo-se um pouco mais leve do que uma hora atrás.
Harry e Rony estavam na aula da professora Trelawney. Ela falava demasiadamente depressa sobre umas previsões grotescas que ela dizia ter feito num corredor de Hogwarts, há quinze anos.
- Eu vi um clarão - dizia ela, de olhos arregalados para o teto - E então vi uma pessoa. Eu a conhecia, era uma garota que estudava em Hogwarts nessa época. Eu a vi entrando no Salão Principal, carregando uma mochila roxa, quando tropeçou no último degrau da escada, e fora parar nos braços de um professor, por sinal muito bonito... Quero dizer, ela fora parar nos braços de um professor, e este lhe perguntou se estava tudo bem. Uma semana depois estava eu lá, saindo da mesa dos professores para ir para a minha sala, quando vi esta garota descendo as escadas. Ela passou pelo último degrau normalmente, mas logo depois um garoto, o qual era muito bonito também - e então ela deu uma risadinha abafada - Esbarrou sem querer nela, deixando seus livros caídos por todo o chão, fazendo-a cair sobre eles. E eu ouvi, com clareza, ele lhe perguntando se estava tudo bem - terminou a professora, com os olhos mais arregalados do que nunca, olhando fixamente para um ponto qualquer.
- Rony, você acha que devemos nos levantar, bater palmas, e depois irmos cumprimentá-la por essa maravilhosa previsão? - disse Harry.
- Acho que se batêssemos palmas estaria ótimo demais - respondeu Rony sob a risada de Harry.


A aula do professor Snape era a última do dia.
- Tentem não se meter em encrenca, nem tirar mais nenhum ponto da Grifinória - dizia Hermione para os dois - Estamos em terceiro lugar por enquanto.
- A gente? Se metendo em encrenca? - respondeu Harry. Não havia como não rir. Até falando de coisa séria ele arranjava um jeito de fazê-la sorrir, e era por isso que Hermione gostava tanto dele.
Nem Harry, nem Rony, muito menos Hermione tiraram pontos da casa, mas dessa vez quem o fez foi Neville, que na hora de entregar a poção á Snape, tropeçou no pé de Malfoy - como se o pé dele estivesse lá por acaso - fazendo-o derrubar tudo sobre as coisas do professor, e, principalmente, no próprio professor.
Os três saíram da aula e se encaminharam para o Salão Comunal, na esperança de encontrá-lo vazio, para que pudessem descansar antes de começar a fazer todos os deveres.
Estava quase no horário da aula de Hermione quando Gina entrou no Salão Comunal. Ela e Hermione tratavam-se normalmente mesmo depois daquela conversa, mas no fundo as coisas tinham mudado.
- Oi, Mione - disse Gina.
- Oi, Gina - respondeu educadamente.
- Está indo pra aula de teatro?
- Na verdade estou. Você não? - disse Hermione, que estava pegando suas coisas.
- Daqui a pouco.
- Tudo bem - respondeu ela - A gente se vê depois.
Hermione foi a primeira a chegar à sala. A garota gostava de cumprir os horários, mas não na aula de Trelawney. Logo ela começaria a falar das asneiras que ela sempre falava, pensando que a aluna gostasse de ouvi-las.
- Boa tarde, Srta. Granger - disse a professora.
- Boa tarde, professora.
- Então... Está gostando do seu papel?
- Sim, é muito legal fazer o papel de Marry - a professora concordou com a cabeça.
- E você acha que o Sr. Malfoy tem jeito para o papel de Richard Stallman? - perguntou ela, com os olhos maiores do que o normal.
- E-eu acho que sim - gaguejou Hermione. Não era fácil responder á perguntas sob aquele olhar da professora.
- Ah... Isso é bom, muito bom. Acho que a Srta. e o Sr. Malfoy ficaram melhor em seus respectivos papéis do que o Sr. Longbotton e a Srta.
- Professora... - disse Hermione.
- Sim?
- Porque a senhora escolheu o Malfoy ao invés de Neville, se ele não conseguia ler nada direito na aula? - a professora sorrira, e esta era a primeira vez que Hermione a via sorrindo, tão amigável.
- Eu tive uma previsão.
- Uma... Previsão? - disse Hermione - "É claro" - pensou - "Quem em sua sã consciência escolheria Malfoy ao invés de Neville para um papel tão importante?”.
- Eu vi um destino ser mudado. Eu senti que era o Sr. Malfoy quem eu deveria escolher.
- Como assim, um destino iria ser mudado se a senhora não escolhesse Malfoy? - Hermione parecia um pouco mais interessada.
- O destino á quem me refiro é... - mas nessa hora alguém bateu na porta - Entre! - Malfoy abriu a porta, seguido de mais alguns outros alunos.
Hermione sentiu uma pontinha de raiva de cada um que tinha entrado. Agora ficara curiosa para saber sobre o que a professora estava falando, então deveria chegar mais cedo na próxima aula.
Malfoy agia como se fosse Richard Stallman, de verdade. O medo de Hermione agora era que ele se tornasse o melhor aluno em vez dela. Mas Hermione também estivera progredindo nessas aulas com Malfoy. Algumas vezes surpreendia-se consigo mesma quando estava contracenando com ele.
A aula havia terminado, e os dois esperavam, do lado de fora, que a professora saísse da sala. Não havia necessidade de explicá-la que os dois estavam ensaiando além das aulas normais, correndo o risco dela se sentir magoada. Não que isso importasse, mas sendo os melhores alunos da sala, eles não queriam uma professora mal-humorada com eles. E eles viram, novamente, a professora carregando seus inúmeros xales, e seus vidrinhos com cheiro de xixi, falando baixo pelos corredores.

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