É bom ser mau



Todos os personagens desta insanidade pertencem (em sua forma sã, ou não...) à escritora britânica JK Rowling, sendo minha única pretensão te arrancar algumas risadas.


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As desventuras de Snape no parque encantado!


É bom ser mau!


- Você é louca. Todos vocês são loucos! – bradava Snape enquanto tentava livrar-se das barras de ferro que um trouxa estúpido tinha baixado sobre seu corpo, tentando lembrar de como conseguiram empurrá-lo lá dentro.


Resumindo: ele era um bruxo adulto perfeitamente convicto de que o último lugar em que deveria e gostaria de estar era numa minúscula câmara, junto de trouxas que ele agora sabia que iriam pôr suas cordas vocais para trabalhar ao máximo daqui a alguns instantes.


Ele se sentia ridículo. E estava, mesmo.


- Hã... Sev...


- Pois para mim já chega! – continuou, levantando desajeitadamente a última barra – Quero sair daqui agora.


- Mas... você precisa saber de uma coisa...


Snape ignorou essa e todas as outras frases, abrindo violentamente a lateral da câmara, precipitando-se para fora do brinquedo.


Seu pé direito não encontrou o chão; ele já se encontrava a uns bons metros de distância a essa altura e ainda se distanciava lentamente, pois foi incrível como a bainha da calça de Snape pareceu ganhar vida própria e se prender a uma saliência metálica pontiaguda, deixando o homem branco feito cera, pendurado de cabeça pra baixo num dos braços mecânicos, que agora dava um de seus terríveis giros.


Foi nesse momento que todo mundo começou a berrar e Snape mandou sua pose de malvadão reservado ir pastar no quinto dos infernos.


- MAMÃÃÃÃÃÃÃEE!


- Sinto que vou fazer uma coisa – disse Snape, já na segurança da terra firme outra vez, com seriedade (ou o máximo de seriedade que é possível, quando se tem a pupila direita querendo fazer uma visita à esquerda, e o ponto de encontro é o nariz). Ele tentava em vão encará-la, porque estava vesgo.


- Se eu por acaso fizer esta coisa, espero que fique só entre nós, entendido? – continuou, agora tentando focar a visão nos bruxos que escolhiam a próxima maldita direção.


- Prometo, Sev -


- Ótimo – cambaleou um pouquinho – e não me chame de Sev – cambaleou mais um pouquinho – agora, com licença – cambaleou de novo e desmaiou de vez.


Snape agora aproveitava a distração dos outros na fila dos ingressos, prontos para torturarem-no mais uma vez nas alturas, e desta vez o objeto macabro era uma roda imensa, com vários banquinhos colocados a intervalos de alguns metros uns dos outros. Snape poderia resumir tudo isso com apenas duas palavras: era alto.


Furtivamente, foi esgueirando-se atrás de carrinhos de pipoca, picolé e algodão-doce, totalmente determinado a continuar com a idéia de que o lugar do chão era bem abaixo de seus pés e não o contrário, até o sujeito que mexia numa caixa de ferro com algumas alavancas e botões, controlando a tal roda. Tentou buscar nas profundezas de sua mente, escondidos no mais abissal recanto de seu subconsciente, a sequência de palavras para parecer um sujeito simpático.


- Oi – disse com esforço.


O operador da máquina retribuiu com um sorriso meio bobo, e voltou a atenção aos banquinhos que subiam e desciam.


Aproveitando a distração do trouxa, examinou alguns fios dentro da caixa.


Snape não entendia patavina de mecânica, mas ficou bastante curioso em saber o que aconteceria se, por puro acaso do destino, aqueles fios saíssem do lugar.


******


- Poderia me lembrar porque mesmo estamos aqui em cima, mestre?


- Incrível! Daqui de cima posso ver o carros... – Voldemort bateu o olho na expressão curiosa de Rabicho – digo, daqui dá para se ter um vislumbre completo da área que pretendo aterrorizar...


Quando eles estavam chegando ao ponto mais alto da roda gigante, decidiram olhar diretamente para baixo.


Foi uma péssima idéia. O chão estava longe demais. Em silêncio esperaram que aquilo descesse de uma vez, para que pudessem saltitar felizes e atormentar pessoas mais felizes ainda, em terra firme.


E esperaram. Esperaram... e esperaram mais um pouquinho, até que se deram conta de que a roda havia paralisado, com eles lá em cima.


Nessas ocasiões, Voldemort sabia exatamente o que fazer: deu um grito agudo e se agarrou em Rabicho.


******


Então, como se usa essa coisa? – perguntou Sírius, diante de uma barraca que tinha bonequinhos que se moviam num tipo de esteira e atrás deles, em suportes de madeira, um monte de coisinhas fofinhas (outras nem tanto), examinando a réplica de uma espingarda. O único porém é que ele não sabia disso.


Snape aproximou-se devagar, olhando para os lados como quem não quer nada. O sujeito que tomava conta daquilo estava ocupado demais atendendo outro cliente.


- Você está segurando isso da forma errada – informou - Esse negócio longo e fino tem que ficar apontado para você.


- Assim?


- Isso, assim.


- Não é estranho o fato de haver dois buracos voltados para mim?


Snape havia se entregado à tarefa de assobiar de forma desinteressada.


Sírius deu de ombros.


Segundos depois, ouviu-se um estampido alto e seco.


Silêncio.


O grupinho de bruxos na fila da montanha russa olhava boquiaberto os dois homens ali perto. Eles nunca viram um desenho animado que acaba de levar um tiro no meio da cara e sai com ela toda manchada de negro e com o cabelo apontando para todas as direções, para comparar, infelizmente. O que os deixava pasmos era que, pela primeiríssima vez na vida, Snape estava tendo um ataque de riso. E esse era dos bons.


******


- Alguém já lhe disse o quanto fica deslumbrante com essa roupa? – dizia Voldemort, uma hora depois de ter ficado preso no alto de uma roda gigante, esquecendo-se completamente de que podia aparatar, aproximando-se de uma mulher em trajes negros e grotescos, com um chapéu pontudo esfarrapado e caindo de um lado.


- Hã... mestre...


- Onde foi que você a comprou? – a suposta bruxa continuou calada.


- Milorde... – e Voldemort sentiu um insistente puxão nas vestes.


- Ora, dê-me um tempo, comensal inútil. Pra quê eu te pago se você não me deixa em paz?


- Mas o senhor não me paga, mestre.


- Ih, é mesmo... – e voltou suas atenções para a bruxa – e por acaso já citaram sobre a formosura do seu nariz?


Ela tinha um nariz grande e curvo, com uma verruga bem visível na ponta, fazia uma careta horrenda e continuava a ignorá-lo. O puxão insistente voltou.


- O que diabos você quer, Rabicho?


- É que Vossa Maleficência das trevas está dando em cima de uma estátua decorativa de um dos brinquedos, senhor. Achei que deveria saber.


Voldemort olhou com mais atenção, sentindo o peso de mais uma desilusão amorosa. Havia figuras de coisas que ele gostaria de ter como bichinhos de estimação, junto com Nagini, sua minhoquinha afável de cinco metros de comprimento, decorando uma fachada em que se lia "Trem fantasma". Os tais trens eram na verdade carrinhos pequenos e decrépitos, que sacolejavam um bocado.


É fato conhecido no mundo trouxa e principalmente pelos donos dos parques em geral que caveirinhas sem graça, tarântulas de plástico e vampiros desdentados fingindo sair de seus respectivos lugares quando se passa em certa velocidade por eles não assusta mais nem suas tataravós.


Preocupados com a insatisfação do público, acabaram criando um sistema revolucionário em que sensores neurais eram colocados na cabeça do sujeito, bagunçando sua mente até achar coisas realmente interessantes e que metessem medo, ou, pelo menos, planos que deram catastroficamente errado na vida do indivíduo e que irritassem bastante.


Foi por isso que quando Voldemort e Rabicho estavam devidamente sentados no carrinho que balançava de forma desagradável, tiveram uma espécie de capacete de metal com fiozinhos, baixados sobre suas cabeças assim que entraram nas sombras.


- Mestre, será possível que estas coisas acima de nossas cabeças sejam na verdade, sensores neurais que bagunçam nossas mentes até achar coisas que nos metam medo ou, pelo menos, planos que deram catastroficamente errado e irritem bastante? – indagou Rabicho, preocupado.


- Não seja estúpido, Rabicho. Até os trouxas são mais racionais que você.


Foi nesse momento que bonequinhos de madeira com óculos fundo de garrafa e cabelos negros desgrenhados surgiram do nada e acompanhavam, com uma vozinha esganiçada, a música de fundo: "I will survive..."


E isso foi só o começo.


******


- Não é formidável?


- É uma gracinha.


- Bonitinho.


- É patético.


Havia barquinhos em forma de cisnezinhos cor-de-rosa que deslizavam por águas calminhas, entrando em túneis escuros e compridos. O funcionamento do negócio, Snape percebeu, consistia basicamente em pessoas dentro deles, aos pares, cada uma treinando uma expressão estúpida para a outra.


- É nisso que vão me obrigar a ir agora? – Snape lembrou que sabia de cor todas as instruções do seu manual de bolso "torne-se você também um espião", e começou a pôr em prática uma de suas lições mais eficientes, a tática evasiva nº 47, "Para situações indesejáveis, finja que a sua marca negra está ardendo".


- Argh! Urgh! – começou Snape, com a mão direita sobre o braço esquerdo, executando todas as caretas que havia treinado diante do espelho – Sinto muito, Alvo... sinto muito mesmo, mas agora terei de me apresentar para mais uma terrível reunião perante o Lord das Trevas... Argh! – gemeu, agora com uma das mãos no rosto, deixando uma brecha entre os dedos para olhar de soslaio para Dumbledore. Então decidiu que precisaria de um desfecho um pouco mais dramático.


- Oh, e agora quem poderá me ajudar?


- Ora essa – disse o diretor, contrariado – espere só um instante, Severus – e puxou um aparelhinho róseo das vestes, apertou a coisinha algumas vezes e encostou no ouvido – Alô, Voldemort? Hã? Secretária eletrônica? Ah, oi secretária eletrônica. Será que você poderia dizer ao Vold... quê? Aquele-que-não-deve-ser-nomeado? Sei. Então será que você poderia lembrar àquele-que-não-deve-ser-nomeado que eu já tinha combinado com ele de pegar o Snape emprestado, e que ele deixe de ser estraga prazeres? Ah, sim. Muito obrigado. Tchau.


Olhou para Snape e deu mais um de seus sorrisos amáveis.


E os bruxos foram se organizando em duplas. Dumbledore tratou de se acomodar junto com uma caixa de isopor cheia de picolés de limão e geléia de amora, seus doces favoritos no mundo inteiro, aos quais ele tinha jurado amor eterno. Sírius havia se escondido às pressas num dos barcos bem atrás do de Snape, não iria perder o bruxo conhecendo o significado da palavra "assédio" de jeito nenhum. O fato é que neste mesmo barco havia sentado outra pessoa, com capuz e um longo manto negro, que não escondia um par de pantufas verdes bem fofas, em formato de cabeças de cobrinhas, com as linguinhas de fora.


Os trocinhos começaram a se movimentar, e tendo uma admiradora digna de uma camisa de força na ala especial do Saint Mungus agarrada a seu braço direito, Snape achava que a tarefa de lixar as unhas era mais interessante.


- Sevinho lindo e maravilhoso, amor de minha vida!


Agora ele tinha achado a ocasião propícia para proferir uma gíria trouxa bastante comum.


- Saco.


Foi aí que aconteceu. Ela virou seus olhos afilados e brilhantes para encarar Snape, que tinha realmente se dedicado a lixar as unhas. Uma frase se insinuou delicadamente para os ouvidos do bruxo.


Eu também odeio Harry Potter.


Ele se virou, julgando ter ouvido a frase mais romântica de todos os tempos. De repente, o mundo ganhou vários tons de preto, flores negras espalhadas pelas margens desabrocharam; todo tipo de passarinhos negros pousaram nas extremidades do laguinho e piaram belas canções e até o coração que foi se formando atrás dos dois era negro.


Eles se aproximaram, a câmera foi baixando para acompanhar seus movimentos e...


- Ei, o quê vocês estão olhando aí, seus indecentes?


Os barcos foram avançando calmamente no interior do túnel...


Duas cabeleiras ruivas faziam esforços sobre-humanos para não serem vistas, escondendo-se atrás da decoração de flores, anjinhos e coraçõezinhos dentro do túnel.


- Tudo certo agora, Fred?


- Tudo ok agora, Jorge.


Os dois irmãos examinavam cheios de orgulho a sua mais nova "experiência", e a ocasião exigia roupas a caráter.


- Chegue mais para lá, Fred, suas asinhas cor-de-rosa estão me atrapalhando.


- A idéia de colocar asinhas de cupido foi sua, e as minhas estão combinando bem mais.


Os dois tiraram de suas aljavas presas às costas duas flechas douradas, com dizeres em alto relevo: "Super Love Shaft, seu cupido particular!"


- A qualquer momento agora. Desta vez ele não nos escapa.


- Segundo meus cálculos, uma flecha basta para causar o efeito desejado em um ser humano plausível.


Eles se entreolharam, maldosos.


- E o que acontece se acertarmos duas?


- Vai saber... isso nunca foi testado, mesmo.


- Pois testamos agora – eles esfregaram as mãos, sentindo falta apenas da risada maléfica – Snape nunca foi um ser humano plausível.


- É agora, mano! – anunciou Jorje.


E na escuridão, ouviu-se o barulho de dois irmãos puxando o elástico de um arco...


As flechas cortaram o ar com a destreza e a precisão de uma cobra-cega bêbada. É raro uma flecha ricochetear, mas os gêmeos assistiram as duas setas ziguezaguear pelas paredes e decorações do túnel em ritmo alucinante. Resumindo, elas acertaram tudo, menos o alvo desejado. O fato é que, certeiras ou não, uma hora elas teriam de parar.


Dentro de um barco surgido das trevas, alguém disse


- AI!

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