Surpresa tenebrosa



Capitulo 12


Alguns dias depois num sábado de manhã…


- Ei Harry! – Rony chamava um pouco mais atrás no corredor em direcção à saída do Castelo, acompanhando a maioria dos alunos que se dirigiam para as carruagens, que partiam para Hogsmead dali a minutos.


- Sim? – Harry se voltou com um ar verdadeiramente atarantado.


- O que se passa com você?- perguntou enquanto o fitava. - Parece incomodado e mal falou durante o pequeno-almoço. Alguma coisa que eu possa ajudar?


- Sonhos estranhos… - murmurou alquebrado.


- Com o…”Você – sabe – quem”?


- Não. – Enrubesceu só de lembrar.


- Algo assustador ou que exija preocupação?


- Também não…


- Você parece perturbado – Rony insistiu.


- Oiça…você nunca teve sonhos em que tudo lhe parece demasiado real? Como as pessoas , o cheiro, o toque, o …


- Bom… - Rony coçou a cabeça - …há sonhos que eu adoraria que fossem verdadeiros, mas depois desperto e me deparo com a chocante realidade…. Mas porque está perguntando isso ?


- Faz meses que venho tendo sonhos…ou visões , nem sei como decifrar ou planejar como surgem… são sempre iguais todas as noites… - Harry fez uma pausa - …acordo perturbado…porque me parecem cada vez mais autênticos.


- Como assim?


- É como se eu os tivesse vivido numa outra existência…é como…se eu soubesse que aquilo se passou…mas que de acordo com as minhas memórias saudáveis e credíveis não se passou… - Concluiu baralhado.


- Não estou entendendo nada Harry – o amigo confessou apatetado – Mas você sonha com o quê exactamente?


Harry corou violentamente.


- Eu…eu… ainda não me sinto muito à vontade para lhe dizer. Talvez seja uma fase passageira…me dê um tempo 0k?


- A julgar pelo seu embaraço – Rony riu divertido – Prevejo algo perverso e ousado.


- O que vocês dois vêm cochichando aí, que até se esqueceram das horas? – Mione perguntou aos dois, enquanto aguardava á porta do Castelo.


Os dois garotos trocaram um olhar vacilante.


- Conversa de garotos. – Explicou Rony avançando até ela.


- Imagino. - Ironizou Mione desconfiada, olhando o semblante inquieto de Harry.


- Acho melhor nos apressarmos senão as carruagens partem sem nós…


- 0.k… cá vamos nós… - Rony respondeu impaciente.



Tudo transcorreu dentro da normalidade. Desde a visita habitual à loja dos doces e aos outros estabelecimentos comerciais, que alegravam e aliciavam os visitantes ao consumo. Até aos passeios pelas ruas apinhadas de gente.


Por diversas vezes o Trio se cruzou com Gina , Colin , Luna e Neville, que pareciam muito animados com as diversões da localidade.


Harry lembrou que no ano anterior, fora ele quem acompanhara Gina nesse passeio descontraído e não se sentia muito satisfeito por ter sido trocado por Colin, que demonstrava ciúmes sempre que o via por perto. Um facto que o deixava também irritado, era a forma ultrajada e dolorosa como a sua mente e o seu corpo se comportavam, sempre que algum garoto estava perto de Gina. Uma emoção de possessibilidade, como se tivessem a macular aquilo que era dele. Eram doentias as reacções que se despoletavam no seu interior, face a alguém que apenas se tinha aproximado dele, numa das passagens da sua vida e que agora se afastara.


Harry buscava na sua consciência o porquê dessa sensação com que ficara depois da recuperação da jovem Weasley. Tendo como agravante alguns lapsos de memória e de momentos que tinha vivido nessa altura. Mas o que se estava a passar com ele?


Ainda tinha pensado em falar com Dumbledore, mas tal acto obrigava a revelar os seus sonhos e visões demasiado complicados e embaraçosos, que vinha tendo ultimamente.


Ele se sentia num caminho sem saída.


- Harry ! – Mione chamou aborrecida a seu lado enquanto escolhia uma pena nova com tinteiro de mogno para a escola.


- Desculpe – respondeu atarantado – Estava distraído.


- Não ouviu nada do que eu estava a dizer pois não?


- Não. – Confessou sem jeito.


- Estava contando que Luna nos convidou para irmos beber uma cerveja amanteigada com eles , lá no “Três vassouras”. Parece que é o aniversário dela.


- E Colin?


- O que tem ele? – Mione perguntou.


- Bom…ele parece não gostar muito que nos juntemos ao grupo.


- Impressão sua.


- Harry tem razão… - Rony falou nas costas deles – …esse cara anda se atirando a minha irmã e já pensa que é seu dono.


- Vocês são loucos! Gina não gosta dele dessa forma. – Ralhou zangada. – E depois foi Luna quem nos convidou!


- Sim é verdade. – Concordou Harry.


- Então é melhor irmos andando. Daqui a pouco está na hora de regressar a Hogwarts.



O Bar estava sempre cheio. E só tinha lugar quem reservasse mesa com antecedência. Luna acenou lá do fundo quando eles entraram.


- Eu vou ao banheiro e não demoro.- Informou Harry para os dois amigos que se afastaram ao encontro dos outros colegas.


Contudo de forma inesperada as luzes se apagaram e uma brisa gelada invadiu o ambiente de forma perturbadora. Harry foi acometido por uma náusea já habitual , que irremediavelmente era conectada pela presença de Dementadores. E de forma rápida segurou a varinha entre os dedos. Percebendo no meio da escuridão as vozes assustadas dos presentes, que saíam como sussurros desesperados e inquietos. Porém entre elas sobressaíram outras bem mais graves e intratáveis, situadas a poucos metros dele. E Harry concluiu que pelo menos dois Comensais da morte marcavam também presença.


- Procurem a mais pequena! Ela está no grupo daquela aluna bizarra de olhos protuberantes. O Senhor instruiu que a capturem! Aproveitem antes que os Guardas Feiticeiros de serviço a esta rua regressem… - impôs uma voz fria e macabra - …espreitei agora á pouco pela janela e o Potter também não estava por perto. Temos que ser rápidos antes que ele apareça!


- Mas o Senhor do Mal também o quer apanhar…


- Cale a boca idiota! Não vê que o Potter é muito esperto e poderia nos escapar? Ele virá à procura da garota e nessa altura sim , ele terá que enfrentar o nosso Senhor e morrer nas suas mãos.


- Tem razão. – o outro individuo riu duma forma desagradável.


Aquelas palavras ecoaram na mente de Harry, despertando nele as lembranças da noite fatídica no Ministério da Magia. E sem pensar em mais nada tentou se guiar no meio da cegueira obrigatória. E se surpreendeu ao encontrar o caminho, seguindo o aroma do perfume de Gina para a localizar. Num impulso tapou a boca da jovem que para sua surpresa se encontrava junto ao balcão. Ela pulou assustada ao ser abordada daquela forma e seu gritinho foi abafado pelos dedos de Harry.


- Por favor não grite! Sou eu Harry… - ele segredou no ouvido dela, deixando cair no chão uma espécie de chapéu que Gina trazia na cabeça. - … Acho que é você que eles procuram. – Explicou enquanto lhe segurava o braço e a orientava nas sombras em direcção ao banheiro – Temos que arranjar um jeito de sairmos daqui, antes que os Dementadores e os Comensais da morte nos detectem.


- Sim… - Ela murmurou trémula.


- Você aí… fique onde está! – Gritou uma voz áspera apontando uma lanterna incandescente para o homem do balcão , que se preparava para escapar também.


- Mas eu não sou o gerente…


- O seu gerente só chegará daqui a meia hora, quando o feitiço de imobilidade que lhe aplicamos perder o efeito. Por isso não se arme em espertinho e não saia daí!


- S…s…sim Senhor – gaguejou o homem.


Harry entrou no banheiro empurrando a jovem assustada.


- Meu Deus, o que eles querem de mim? – Gina tremia descontrolada.


- Não pense nisso agora… - Harry falou calmamente -… vamos tentar sair pela janela.


- Es…tá bem – assentiu abalada.


- Venha, eu ajudo.


Ambos abriram os batentes, sentindo a aragem do entardecer lhe tocar as faces. Depois Harry a segurou pela cintura, fazendo com que ela passasse pela abertura estreita.


- Harry tenho medo de cair! Devemos estar a uns 10 metros do chão…- falou amedrontada.


- Não temos outra saída Gina. Veja se consegue se segurar nalguma coisa.


A jovem salivou abalada e depois olhou o exterior do edifício.


- Vou tentar me segurar no beiral. – Ela falou com voz trémula esticando os braços e se agarrando à balaustrada exterior, enquanto Harry a auxiliava a passar as pernas para o lado de fora e os pés dela tocavam um dos frisos das paredes para se amparar. – Pronto já está.


- 0.K. Agora é a minha vez… - ele acrescentou saindo rapidamente atrás dela, se equilibrando no algeroz e com uma das mãos empunhando a varinha , enquanto formulava um feitiço em direcção da janela , que se fechou como se nunca tivesse sido aberta.


- E agora? – Gina perguntou num fio de voz.


- Consegue deslizar até ao parapeito do edifício seguinte?


- Vou tentar. – Ela acatou observando o terraço do prédio seguinte a poucos metros dali.


Devagar e temendo cair, a jovem caminhou de forma tácita, seguida por Harry , cujo rosto sério denotava preocupação.


Quando atingiram a extremidade da parede, os dois saltaram para o terraço de forma resoluta.


- Venha! – Ele falou agarrando a mão dela, prosseguindo por uma escada lateral que dava acesso à rua principal. – Precisamos encontrar os seguranças de Hogsmeade.


- Sim…- ela assentiu conturbada parando para respirar.


Foi nesse momento que Harry se deu conta , do quanto a Gina estava pálida. E sem tentar perceber o que o levou a fazer aquilo. A abraçou com impetuosidade contra o seu corpo.


- Aqui na Rua ninguém nos fará mal. – Ele se surpreendeu a falar meigamente com o queixo entre os cabelos da jovem. – Eu sei que está apavorada, mas agora preciso da sua energia para procurar ajuda.


- Está bem… – ela falou devagar, enquanto se afastava de Harry e o fitava com um brilho estranho nos olhos. Um lampejo de familiaridade que se cruzou com o dele de forma penetrante.


- Então vamos. – Ele pigarreou achatado, retomando apressado o andamento sem soltar as mãos da jovem.


A dois quarteirões dali encontraram finalmente os Seguranças, que atenderam o relato dos dois com apreensão.


- Espero que tenham razão. Ainda há pouco fomos chamados a um incidente que não passava duma fraude. Quando lá chegámos era alarme falso.


- Penso que foi para afastar a atenção dos senhores do “Três Vassouras”. – Harry explicou. – Eu e Gina tivemos que fugir pela janela do banheiro.


- Agora estou a reconhecer …você é Harry Potter… - um dos seguranças falou com firmeza observando a sua cicatriz. – E você é a filha de Artur Weasley!


- Sim. – Harry assentiu ansioso.


- Por favor se apressem, o meu irmão e os nossos amigos ainda lá estão!


- Claro menina! Vamos já tratar do assunto. – disse um deles começando a correr decidido.
- Avisem os nossos colegas que estão a cem metros daqui, para nos virem auxiliar. – pediu o outro homem seguindo o mesmo percurso do companheiro.


- Sim , vamos já. – Harry prometeu decidido.


E não foram necessárias mais instruções. Dali a minutos outros dois seguranças se juntavam aos colegas e entravam de avançada sobre Dementadores. E sucessivamente os Comensais da morte que apanhados desprevenidos, foram aprisionados e levados amarrados, debaixo do olhar da clientela que aplaudiu efusiva. Um dos comensais lançou um olhar feroz aos dois jovens e Harry colocou uma mão sobre o ombro de Gina dum jeito protector. Enquanto Mione, Luna , Rony e Colin corriam ao seu encontro com um olhar assustado.


Rony abraçou a irmã.


- Ainda bem que eles não a encontraram. – declarou aliviado – você estava ao balcão pedindo as bebidas e eles nem deram por isso.


- O chapéu de Luna me ocultou um pouco…- ela declarou devagar - … mas isso de pouco serviria , senão fosse Harry me ajudar a fugir pela janela do banheiro.


Todos olharam surpreendidos para Harry, inclusive Colin cujo rosto endureceu.


- Eu…eu… - gaguejou um pouco ao perceber que ainda tinha o braço por cima do ombro de Gina e o retirou de forma apatetada. - … as luzes apagaram antes de ter chegado ao banheiro.


- E como conseguiu encontrar Gina no escuro? – Mione perguntou com um sorriso perplexo.
– E como os Comensais da morte e os os Dementadores que estavam mais perto não a detectaram primeiro?


- Eu…Foi por acaso… - ele enrubesceu - … eu avancei no meio das sombras tentando encontrar vocês e percebi…que ela estava ali…não sei explicar…


- Ela estava com o chapéu de Luna na cabeça… - Colin insistiu altivo - … até mesmo com luz isso poderia confundir um pouco, mas você não fazia ideia que ela o trazia , nem dela ter ido buscar nossas bebidas…


Harry suspirou irritado e optou pela verdade:


- O aroma do perfume de Gina. Foi isso que me orientou. – Declarou sem reservas, embora levemente embaraçado.


- Ena…você conhece o aroma de minha irmã na obscuridade?!...- Rony cutucou malicioso, lançando um olhar triunfante a Colin.


- É preciso ter muito bom olfacto para sentir a fragrância à distância e saber que era de Gina. – Reforçou Luna com os olhos escancarados pelo espanto. – Um poder espantoso.


- Bom não interessa isso agora. – Harry falou incomodado. – Gina esteve quase a ser apanhada pelos cúmplices de Voldemort. E isso é bem mais confrangedor e diabólico. Principalmente porque hoje Hogsmead parece ter deixado de ser um lugar seguro.


De repente o grupo caiu numa surdina de preocupação.


- Você tem razão. – Concordou Nevile rompendo o silêncio com ar agitado.


- Mas o que eles queriam de Gina? – Perguntou Colin aturdido.


- Uma boa pergunta…- Rony despistou a resposta, cruzando o olhar preocupado com o de Harry.


- É melhor nos apressarmos, são horas de regressar a Hogwarts. – Mione falou consultando o relógio. – as carruagens estão à nossa espera.


(continua…)


[ Ainda vamos saber o que aconteceu à onze meses atrás entre Harry e Gina…mas achei que seria evidente demais , fazer logo um capitulo na hora sobre isso…afinal para Harry não foi uma decisão fácil…e não esqueçam do elixir que Dumbledore deu a ele para esquecer…aguardem ok? ]

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