Estranhos sentidos



CAPITULO 11

Onze meses e alguns dias depois…


Naquela tarde Mione , Rony e Harry acabavam um trabalho para a aula de Transformação , quando Gina entrou sorridente de conversa com Colin e se sentaram animados , no outro lado da sala comunal junto à lareira.


Rony olhou acerbo para os dois e depois para Harry, que tentou disfarçar a sua observação silenciosa.


- Você e minha irmã se afastaram de novo este ano corrente. Pareciam tão próximos durante a falta de memória dela e do sofrimento provocado pela invasão psicológica do senhor do mal. Eu até cheguei a pensar e a dizer a mim mesmo que vocês se iriam acertar e que…


Harry suspirou agitado, interrompendo abruptamente o amigo.


- Sua irmã se aproximou de mim…porque durante a amnésia eu era a única pessoa que ela não estranhava e não a assustava. Depois vieram os pesadelos e as alucinações mórbidas e aterradoras , que cruelmente Voldemort lhe incutia no cérebro…Esse período frágil nos aproximou. Contudo não fazia mais sentido depois de ultrapassada a crise. Sua irmã é uma pessoa forte e voltou à vida normal dela e aos seus legítimos amigos.


- Você fez questão que assim fosse. - Mione acentuou incisiva.


- Não comecem de novo com isso . Gina não tem futuro comigo. Se esqueceram da Profecia e do meu destino?


- Não , não esquecemos. – Rony interpôs. – Só não entendo porque você teima e se recusa a ser feliz!


- Que disparate ! - Harry olhou para Mione na tentativa de receber uma resposta acolhedora.


- Lamento Harry mas tenho que concordar com Rony- ela desferiu com ar grave. – Todos nós estamos destinados a morrer. Uns mais cedo , outros mais tarde. E embora você saiba que vai ter que enfrentar o Senhor do Mal no futuro, jamais deveria desistir da alegria e das pessoas que gostam de você. Pois quedar-se a esse vaticínio , é sem dúvida sinónimo de fraqueza e talvez dum trajecto mais rápido para a morte.


- Falar é fácil Mione.


- Não Harry. Desistir da sua existência social, dos afectos e do carinho que podia partilhar , isso é degradante. O tornará numa pessoa solitária , fria e sem nada para se agarrar à vida ou lutar por ela.


- Eu…preciso pensar…- Harry passou a mão trémula pelos cabelos negros em desalinho.-…me sinto perdido e…sem esperança…


- Nós sabemos amigo…- Rony assentiu compreensivo.


- Então …se não se importam…eu vou subindo até meu quarto. Preciso descansar, faz tempo que não ando a dormir muito bem. – murmurou tentando fugir ao assunto.


- Fique à vontade. - Mione acedeu com um sorriso complacente. – Mas não deixe que a profecia o engula.


- Está bem…- falou abatido enquanto guardava o material escolar e se dirigia para as escadas.


A noite já ia alta, quando Harry saiu devagar do seu dormitório, evitando acordar os colegas. Porém estacou no limiar das escadas , ao perceber que não o único a estar acordado aquela hora. Mas logo avançou descontraído ao reconhecer a garota de cabelos cor de fogo brilhantes.


A sala comunal da Grifinória estava quase silenciosa. A quieta melancolia , só era quebrada pelo leve retenir da tesoura , talhando os materiais , que a jovem utilizava para fazer as ilustrações dos cartões que habilmente manufacturava.


Dotada dum talento artístico espectacular, Gina era conhecida pelos seus cartões mágicos originais. E tudo levava a crer, que no ano que ela ingressara em Hogwarts, lhe enviara um cartão daqueles no Dia de S. Valentim. Porém Harry não tinha bem a certeza , pois o mesmo não viera identificado e o Duende impertinente responsável para o entregar , também não tinha referido a sua autora. Mas no 3º ano, quando Harry sofreu um acidente ao cair da vassoura, durante uma Partida de Quadribol por causa dos Dementadores, Gina o visitara na Ala Hospitalar e lhe oferecera um Cartão de Melhoras, feito por ela, que cantava estridentemente e só se calava , quando ele o colocava de baixo do jarro de sumo.


A garota estava tão imersa no que estava a fazer, que se assustou com os passos atrás dela e se voltou atónita.


- Harry! – murmurou supresa.


- Ei Gina, que está fazendo levantada até esta hora.- ele se aproximou observando os cartões e os materiais para a sua confecção em cima da mesa.


A jovem respondeu retomando a sua tarefa:


- Estou finalizando uns cartões que me encomendaram para o aniversário de Parvati amanhã.- ela explicou cruzando o seu olhar com o dele.- E você que está fazendo aqui em baixo?


- Pesadelos…- ele respondeu sério, sentindo o aroma do perfume dela, cuja fragrância tinha começado a despertar nele uma sensação inebriante e estranha, fazia alguns meses.


- Entendo…- murmurou afectada.-… os seus pesadelos não desapareceram com aquele feitiço milagroso de Dumbledore. Mas comigo sim…foi rápido…


- De facto uma simples poção de sonolência e o contacto das minhas mãos , e da junção das mãos de Rony e Mione, me surpreenderam pelo efeito eficaz e de instantânea regeneração.


- Eu também confesso que nunca pensei que fosse tão simples me restabelecer dos pesadelos e das dores… - acrescentou convencida que teria sido assim, enquanto percebia que Harry segurava um dos seus cartões , no qual se evidenciavam dois colibris batendo as asas, segurando delicadamente no bico um coração dizendo: « Para Parvati…com um beijinho de parabéns de Lilá e Dino…».


- Lindo!- ele murmurou encantado com o movimento das imagens e depois sorriu , quando a música de aniversário se soltou ao abrir para ler a mensagem. - Como é que você consegue fazer a decoração e animação dos cartões?


- Bom… basta utilizar material produzido no mundo mágico, algumas penas de aves e retalhos de tecido que encontro nas lojas de Hogsmead , flores, pedras mágicas…e depois coloco um feitiço original…é fácil…!- rematou com um sorriso encantador.


- Fácil?...eu jamais conseguiria fazer uma fada maravilhosa como essa e muito menos fazer um poema adequado para a pessoa a quem se vai oferecer.


- Nem sempre é necessário…ás vezes basta escrever um sentimento…uma só palavra carinhosa…que fará feliz a pessoa a quem se oferece. – ela corou embaraçada perante o olhar interessado de Harry.- E depois…também não é obrigatório fazer um desenho…está vendo esse aqui…- falou retirando um postal que tinha numa pasta com a família Weasley toda reunida. – É para oferecer aos meus pais , que fazem anos de casados na semana que vem.


Harry olhou deslumbrado para a foto aureolada com lantejoulas prateadas, sobre um vermelho escuro aveludado, que combinava com as cores do pôr do sol retractado naquele passeio ao entardecer , perto das pirâmides do Egipto.


- Estou sem palavras! – ele sussurrou de forma inebriante, enquanto fitava os olhos brilhantes de Gina, sentindo um leve torpor lhe percorrer o corpo. – Vou beber um copo de água. – pigarreou assustado com o despoletar hormonal do seu corpo. E se dirigiu a uma mesa onde estava um jarro com alguns copos.


Mas de nada lhe valeu, pois enquanto bebia o liquido refrescante, não conseguia deixar de observar a jovem com atenção e de admirar a sua esmerada firmeza, ao cortar um pouco de seda fina, transparente com laivos prateados, que se espelhavam no brilho dos olhos, dum castanho claro encantador. Que por mais que os tentasse esquecer, lhe despertavam instintos particulares, privados e de partilha comum. Algo que ele próprio não conseguia explicar ou encaixar na sua consciência racional , mas que o incomodavam como uma mania febril.


Pressentindo estar a ser analisada por ele, as mãos da jovem tremeram, fazendo a tesoura resvalar e lhe cortar levemente um dos dedos. Gina deu um lamento de dor, levando automaticamente o dedo à boca para evitar que o sangue saísse.


- Você se cortou…- Harry ficou ao pé dela em dois passos. - …enrole isto à volta do golpe! - Instruiu enquanto lhe passava um dos retalhos de tecido , que estavam numa cesta de vime em cima da mesa.


- Estava mesmo a terminar o último cartão.- declarou frustrada.


- Quer que eu corte o tecido para você?


- Eu…- Gina reagiu com surpresa ao mesmo tempo que Harry puxava uma cadeira e se sentava a seu lado.-…tem a certeza que…


- Se me explicar direito como fazer claro.- ele se disponibilizou com um sorriso.


- Eu tracei o risco no tecido…basta cortar em volta ....


Harry recebeu as instruções e pegou na tesoura decidido.


- É você quem escolhe o tema ou os adornos a aplicar?


- Mais ou menos…Parvati por exemplo adora Contos de Fadas…então não foi difícil escolher a decoração.


- Entendo… e se fosse para você, o que escolheria?


- Unicórnios…eu adoro unicórnios… – ela falou com firmeza -… os de crina prateada são os meus favoritos…lindos…criaturas muito puras e meigas…reflectem serenidade…- concluiu com olhos sonhadores.


Harry absorveu as palavras dela.


- Você é muito poética.


- Desulpe…- ela enrubesceu. - … Ás vezes me deixo levar pelos meus devaneios…


- Foi fantástica a sua descrição! - Ele assentiu pousando a tesoura. - Acabei!


- Ficaram óptimas Harry muito obrigado!- ela agradeceu enquanto rectificava o dedo machucado. – E ainda bem que o sangue já parou…assim já posso continuar…


Harry a fitou com admiração.


- Tem a certeza que não precisa mais da minha ajuda?


- Não Harry, você já me auxiliou bastante. - Rematou com um sorriso amável.


- Então se não se importa eu vou subindo. A minha primeira aula da amanhã é com Snape e não convém chegar atrasado. – Harry acrescentou retribuindo o sorriso. Levantou do lugar e esticou o braço para lhe fazer um carinho nos cabelos. - Não se deite muito tarde.- Aconselhou começando a subir as escadas e se perguntando porque não tinha conseguido reprimir aquele acalentar e amimar tão dócil.


- 0.k. – ela respondeu nervosa com o gesto afectuoso, que por mais que se desenganasse lhe parecia muito familiar.


Harry entrou no dormitório, e se atirou na cama confuso. Temendo adormecer e voltar a ter uns sonhos demasiado embaraçosos, que já alguns meses lhe sacudiam a mente.


(Continua…)



[ Peço desculpa pela demora...meu PC teve que ser todo reprogramado...pois estava cheio de virus...vou tentar postar com mais regularidade..e muito obrigado a todos ;) ]

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