Falando a verdade, finalmente



Eles estavam prontos para travar seu primeiro combate naquele quarto.

Ela sabia que não sairia dali sem pelo menos dizer algo a ele. Que fizesse com que ele pensasse nela, ou que desistisse dela. Mas, que enfim, decidisse. Que saísse daquele marasmo, daquele gosta-não gosta insuportável, que a fazia chorar de ansiedade.

- Eu tenho um papel que acredito ter algo muito importante contido nele. Eu queria muito saber o que você acha do conteúdo desse bilhete, Ron. Preciso de sua opinião.

Ela segurava um pergaminho amassado nas mãos. Ele, lerdo, nem percebeu, até pegá-lo e reconhecer os próprios garranchos.


“Mione,

não me pergunte onde encontrei essa coragem que agora, nesse momento, brota de dentro de mim. Eu não tenho como escrever tudo o que eu quero dizer nestes poucos momentos que temos antes de desembarcar.
Só quero dizer que depois de tudo o que passamos nestes anos, e especialmente nestes últimos dias, tenho medo.
Medo de nunca mais poder dizer o que guardo dentro de mim há tempos... sem saber.
Venha para A Toca o quanto antes. Quem sabe assim reúno a coragem que preciso para te falar o que quero, preciso... Conto com você, como sempre.

Ron”

Ele percebeu o que ela queria. Finalmente falar sobre aquilo que não tinha mais como fugir. Ele ficou roxo de vergonha, corou muito, começou a gaguejar.

- É que... é que eu...

- Fala de uma vez Ron. Faz isso logo. Como está não dá mais, eu não agüento...

Ele olhou para ela. Não havia traços de nervosismo ou implicância naquelas palavras. Havia só uma certeza, muito grande, muito forte... Ele tinha, pelo menos uma vez, que falar ao invés de deixar que qualquer outra bobagem o impedisse de dizer o que ele havia descoberto só no enterro de Dumbledore... ele tinha que provar a si mesmo que era homem de verdade, e o que ele sentia não tinha nada a ver com orgulho nem machismo.

Olhou pra ela com muita firmeza. Respirou fundo.

- Eu sei que sou burro, Mione. Sei que você pode ter o que quiser na vida porque é inteligente, sempre é tão esforçada, admiro tanto isso em você!

Era difícil falar, mas ele tinha que continuar, agora que já havia começado.

- Eu sou pobre também. Não tenho nada pra oferecer a ninguém, a não ser eu mesmo. Tenho muita vergonha de ser pobre, mas muito orgulho da minha família. E sei que não sou lá essas coisas, não há nada em mim que ninguém ache bonito, ou atraente... Não sou um Harry Potter. Você sabe.

- Mas, Ron...

- Não, Mione. Me deixa terminar, antes que eu seja dominado pelo nervosismo, ou pelo que eu sinto... preciso colocar tudo isso pra fora, antes que meu peito arrebente. Antes que eu arrebente.

Ela consentiu com o silêncio que ele devia continuar.

- Conheço você há quantos anos? Mais de seis... Eu conheço cada olhar, cada suspiro seu, a forma como você anda quando fica nervosa, a cara que faz quando está concentrada nos estudos, a forma como suas mãos se dobram quando você está ansiosa, como seu rosto se ilumina quando descobre alguma coisa importante... Como agora.

- Eu conheço tantas coisas sobre você, gosto tanto de passar meu tempo com você, até mesmo das nossas briguinhas, porque você fica tão linda quando está nervosinha, as bochechas vermelhas, os punhos cerrados, pronta pra brigar...

Ela tremia da cabeça aos pés. Nunca pode pensar em ouvir algo tão sincero, justo da boca dele. Nunca soube com tanta certeza o que sabia agora, ouvindo-o dizer tudo aquilo... Ele engoliu seco, mas continuou.

- Eu nunca fui uma pessoa muito esperta, nunca fui muito atento. E não vejo como você vai reagir depois do que vou dizer, mas preciso tentar. Porque estou preso dentro de mim, ao que sinto quando ouço sua voz, sinto seu cheiro, sua respiração... Estou preso às lembranças que tenho de você, de nós, desde nossa primeira viagem juntos no Expresso de Hogwarts, quando achei que você era a menina mais metida, CDF, mimada e irritante que eu já conheci... nossos anos se passando, e você crescendo, se transformando na mulher mais linda que eu já conheci, invadindo meus sonhos à noite, me tirando o sono e o sossego...

Lágrimas grossas escorriam pelo rosto dela. Ela sentia o corpo todo aceso, queimando, chamando por ele... começou a chegar mais perto dele, encarando-o de frente. Ela olhava direto nos olhos dele agora.

- Eu amo você, Hermione Granger. Desde o primeiro dia em que te vi. Amo cada parte de você como se fosse uma extensão do meu próprio corpo, eu te amo Mione, eu...

Ele já não conseguia mais falar. Chorava, com todo sentimento que havia dentro dele. Ela também chorava muito, os olhos dos dois se encontraram.

- Você não sabe há quanto tempo eu tenho esperado ouvir isso de você, Ronald Weasley. Eu tenho muito pra te falar também, você...

As palavras dela foram caladas pelos lábios quentes de Ron, as lágrimas ainda correndo pelo rosto dele. Ela então retribuiu-lhe o beijo, levantando-se na pontinha dos pés, abrindo a própria boca para enroscar sua língua na dele, extravasando todo o desejo que consumia ambos há tempos...

Ele passava a mão nos cabelos, no rosto dela, sentia o corpo dela tão colado no dele, estava sem fôlego, as pernas bambas, com cuidado foi puxando ela para mais perto, abraçando-a forte. Encostou-a contra a parede, tal como ela havia sonhado, sentindo o cheiro gostoso da pele dela, a maciez dos lábios dela que o provocavam, um beijo que não queria que acabasse jamais, as mãos dele percorriam o corpo dela, com cuidado, mas muito desejo...

Ela passava as mãos no peito dele, beijava-o também com muito desejo e ansiedade... Sentia um arrepio percorrendo-lhe o corpo todo, sentia cada músculo do corpo dele fazendo pressão contra o dela, como ela havia sonhado com aquele momento! O cheiro dele era ainda mais incrível tão de perto, sentia o calor que se desprendia do corpo dele, os braços fortes abraçando-a com carinho e firmeza...

Ainda envolvidos pela emoção dessa explosão de sentimentos, com relutância separaram seus lábios e corpos, muito suados e emocionados.

Foram se abaixando juntos, devagarinho, sentando-se no chão, ambos de frente um para o outro. Olhavam-se com curiosidade e timidez agora. As mãos dos dois estavam entrelaçadas.

- Eu te amo também Ron, há anos. E nunca me senti tão feliz em toda minha vida!

- Então Mione, prepare-se. Porque você vai ser a mulher mais feliz no mundo se depender de mim. Quero ser seu namorado. Quero ser seu marido. Quero ser o que você quer que eu seja pra você...

Ainda tonto, invadido por uma sensação tão forte de alegria e contentamento, ele puxou-a para perto de si. Disse no ouvido dela:

- Eu te amo, eu te amo, eu te amo...

Os dois corações batiam descompassados, juntos e felizes.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.