¤ Um aviso sinistro...



Harry voltou, quase correndo, para o Salão Comunal da Grifinória. Lá, encontrou Hermione, aparentemente muito feliz. A garota correu para Harry, os cabelos densos e castanhos esvoaçando para todos os lados.



-- Rony está melhor! Finalmente! -- A garota relanceou um olhar para o amigo ruivo -- Pelo menos agora consegue conversar mais de três frases sem babar constantemente! Deve ser um avanço, não acha? Ahn.... Harry... você está corado... o que foi?



-- A Cho.... de novo.... eu beijei... -- Disse Harry, ofegante, porém com um insistente sorriso estampado no rosto. Hermione revirou os olhos para o teto e suspirou, porém parecendo contente com o amigo.



-- Isso é bom, Harry... mas, por favor, não se empolgue demais, você sabe como aquela garota é constante, e eu realmente não quero viver com um Harry estressado como no ano passado. Falando nisso.. quem te dá o direito de me deixar falando sozinha!? Eu estava tentando te ajudar!



Harry ainda sorria.



-- Ah, me desculpe, Hermione, eu não estava muito bem... mas, enfim.... tem mais coisas que eu preciso contar. Rony já sabe que a Gina está namorando o Draco?



-- Han... eu tentei falar com ele sobre isso, mas não sei se deu muito resultado... ele ficou puxando os meus cabelos depois que eu contei e fazendo caretas, então não acredito que ele tenha ouvido uma só palavra do que eu disse, não acha? -- A garota suspirou -- Enfim, não acho que faça muita diferença agora. O que você tem para me contar?



Harry narrou todo o seu diálogo com Malfoy, não omitindo nem as partes em que os dois se xingaram constantemente (nessas horas, Hermione simplesmente suspirava, apoiando a cabeça na mão), e tudo sobre o acordo que fizeram. Quando mencionou Sarah Pennyfeather, uma sobrancelha grossa da menina se levantou em sua testa.



-- Harry... você tem que parar de pensar nessa garota... ela não quer te fazer mal algum, ela é só...



-- Estranha? Maquiavélica? Assassina? -- Sugeriu Harry. A garota riu.



-- Na verdade, eu ia sugerir "sozinha". Sabe... -- a garota abaixou o tom de voz, a medida que voltavam para as poltronas que mais gostavam. Rony estava sentado em uma delas, brincando distraído com um furo na superfície aveludada do assento -- Sarah é puro sangue, mas... quero dizer, ela é muito.. ah... distante, por assim dizer, da família.... o pai dela morreu, a mãe tem paradeiro desconhecido... por obra de.. ah.. Lord Voldemort.



-- O pai dela morreu nas mãos de Lord Voldemort? -- Cochichou urgentemente Harry.



-- É o que dizem. -- Comentou Hermione, sacudindo os braços.



Pela primeira vez desde que se conheceram, Harry sentiu uma profunda simpatia por Sarah Pennyfeather. Mal sabia que logo iria acabar.



*




No dia antecedente do baile, Harry encontrou Sarah pelos corredores, e sorriu para a garota. Sarah levantou uma sobrancelha, semicerrou os olhos e piscou ameaçadoramente. Harry estremeceu, mas foi tomar café. Foi quando tudo começou a acontecer, vertiginosamente rápido.



O garoto sentiu uma agulhada feroz na cicatriz; há muito tempo não sentia uma dor tão intensa, nem tão terrível. Não consegui manter-se em pé; escorregou, escada abaixo, só ouvindo o grito aterrorizado de Hermione ao seu lado. Sua cabeça explodiu; seu corpo todo tremia, como se estivesse mergulhado em água congelada, e uma brisa passasse insistentemente em volta dele. Sentiu-se frio e suado... algumas pessoas o ajudaram a levantar... sem força alguma nas pernas, Harry quase caiu de novo; desta vez o ampararam antes de bater com a cabeça no chão, mas desmaiou assim mesmo. Um negror terrível apossou-se de sua mente e ele não pensou em mais nada.



Então ele ouviu... aquela voz terrível, aguda, dentro de si mesmo... tão enregelante que sentiu-se com gelo nas veias, e não sangue...



"Achou que iria se livrar de mim, meu pequeno Harry...? mas não... estou o mais perto possível de você... dentro de você, sugando seus pensamentos mais aterrorizantes e divertidos, tristes ou emocionantes... eu estou aqui, Harry, um pedaço de sua alma... e você não vai se livrar de mim, minha perdição... estou mais perto do que você imagina, tenho pessoas muito próximas, e muito fiéis, a seguir-lhe por Hogwarts... e dessa vez, a última, você não me escapará.... ah, não.... você agora é parte de mim, Harry... e terá que conviver com isso até o seu sórdido fim..."



Harry abriu os olhos. Estava na enfermaria, diversos pares de olhos o observando, alguns curiosos, outros veementes; Hermione, que estava sentada em uma cadeira muito próxima de Harry, ao vê-lo acordar, berrou por Madame Pomfrey.



-- Harry, como você está? -- Perguntou a garota, aflita. Uma menininha, de olhos muito grandes, quase se dependurava no pescoço de Mione para enxergar melhor a cena; a amiga virou-se, enfurecida.



-- QUEREM FAZER O FAVOR DE SAIR? -- Gritou Hermione, e a multidão que quase lotava a enfermaria se dispersou quase completamente. Madame Pomfrey saiu de sua salinha, muito agitada.



-- Mas que gritaria é essa, aqui na ala hospitalar... srta. Granger, faça-me o favor, temos muitos pacientes aqui, será que pode falar mais baixo?



-- Desculpe-me, Madame, mas é que o Harry acordou e eu....



-- Ele acordou? Deixe-me vê-lo!!! -- A enfermeira empurrou Hermione sem cerimônia para o lado, e começou a examinar Harry de todas as maneiras; colocou a mão em sua testa, puxou a língua do garoto para fora de sua boca, conferiu as pupilas do menino, deu uma olhada em seus tímpanos. Quando achou, em sua gavetinha, um instrumento semelhante a um estetoscópio e pediu para Harry retirar as roupas, o garoto se embrulhou nas cobertas. Hermione corou ligeiramente.



-- ESTOU MUITO BEM AGORA! -- Informou Harry, mas Madame Pomfrey aproveitou que o garoto se levantara da cama e começou a dar soquinhos nas costas do menino, para conferir sua respiração e o movimento de seus pulmões, de modo que as palavras foram saíndo em pedaços: P-O-D-E- M-E- D-E-I-X-A-R- S-A-I-R- D-A-Q-U-I-!-!-! Argh! -- O garoto exclamou quando conseguiu se livrar dos punhos de Madame Pomfrey. -- Eu estou bem, só preciso dormir....



-- Nada disso, você vai ficar internado aqui, pelo menos até a tarde, para conferir se você está bem!



-- Ah, não... -- Pediu Harry, e enviou um olhar sugestivo para Hermione.



-- Han... Madame Pomfrey? -- Hermione cutucou levemente o braço da enfermeira, que parecia explodir. -- Ahh... eu posso ficar olhando o Harry, se a senhora quiser.. veja como a enfermaria está apinhada de gente, acho melhor ele vir... além disso, logo vai sair o alomoço, ele poderá comer bem e melhorar...



-- Ah... -- Madame Pomfrey ainda parecia muito contrariada -- Ahh, está bem! Só vou permitir isso porque a ala hospitalar está muito cheia! Vá, senhor Potter e srta. Granger, podem ir!



Assim que saíram da enfermaria, Hermione soltou um jorro de sermões.



-- Sabe, eu realmente concordo com ela, o jeito que você desmaiou, Harry... você devia ficar internado lá, por dias! Você não está bem!



-- Eu não tive esse desmaio porque estou doente, Hermione... foi um aviso! Dele.



Hermione guinchou horrorizada.



-- O que foi, Harry? O que ele disse? Vamos, fale!



Harry repetiu o que conseguiu se lembrar das palavras de Voldemort; lembrou-se de quase tudo, e tinha certeza de que não ia esquecer aquele episódio muito rápido.



-- Céus... então alguém está agindo por ele, aqui, em Hogwarts? Quem pode ser? Definitivamente é um adulto... ah, não me olhe assim, Harry, você sabe que é absolutamente improvável que Snape tenha cometido algo do tipo! Ele está aqui a anos, e Dumbledore tem total confiança nele... -- Os dois entraram no Salão Comunal da Grifinória, esperando pelo almoço, apesar de Harry não se sentir nem um pouco faminto naquela manhã de domingo. Então, viram alguém levantando-se das poltronas que geralmente usavam, e vinha ao seu encontro. -- Rony? -- Exclamou a garota, de repente.



Rony estava parado, olhando para os dois, e sorria; não da maneira que vinha sorrindo há dias atrás, abobalhado e perdido; dava um sorriso confiante, e parecia bastante recuperado. Seus olhos estavam enfeitados com olheiras profundas, seu rosto tinha um ar um tanto cansado, mas ainda assim, parecia completamente recuperado de seus delírios.



-- Então, o que eu perdi? -- Perguntou o garoto, no tom mais natural de voz que uma pessoa, antes delirante, poderia usar. Harry quase sorriu, e teria rido se não estivesse tão preocupado. Todos os seus temores estavam de volta, novamente. Não conseguia pensar em outra coisa, e o baile de Formatura do Sétimo Ano parecia tão irreal e banal perto de tudo o que passava agora... os três se sentaram em suas poltronas e conversaram a tarde toda, até a noite, sem comerem no Salão Principal (Hermione conjurou algumas cestas de alimentos e almoçaram no próprio Salão Comunal; Rony comeu como se não visse comida há dias... o que de fato aconteceu). Então, Hermione resolveu contar para Rony o que sucedera com ele depois de tocar na pedra encharcada de poção; Harry mais ouviu do que falou, agora definitavemente perdido em pensamentos.. quando recuperou a conversa, foi quando Hermione citou o seu nome, e aparentemente já estavam terminando de comentar o assunto.



-- ... e então eu deixei você aqui, esperando que você se recuperasse, e fui ver o que tinha acontecido com Harry...



-- É, pelo jeito eu perdi bastante coisa... e vem cá, como fui que eu troquei de roupa todos esses dias? Porque eu definitivamente não estou com a mesma roupa de uns dois dias atrás -- comentou Rony, mirando sua suéter.



Hermione resolveu desviar do assunto, por alguma razão, parecendo corada agora.



-- E então, Harry, de quem você suspeita?



O garoto não estava nem um pouco animado em discutir aquilo novamente; mas deu sua opinião, pensando que assim intimidaria perguntas:



-- Na verdade, eu não tenho a menor idéia de quem seja, e não estou nem um pouco curioso para descobrir. Afinal, eu sei que, quem quer que for, vai acabar caindo sobre mim. Dito isso, correu para seu dormitório e caiu na cama, exausto e imóvel. E assim dormiu a noite toda...



**************




As coisas estão começando a esquentar.... não percam! E comentem ;-)

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