¤ Trombada!



Harry olhou, tenso, para o caldeirão à sua frente. Era aula de Poções, e seu caldeirão emanava uma fumaça densa e intensamente vermelha, que quase o impedia de respirar. Procurando algum tipo de ajuda, Harry olhou para os lados.




Um suave vapor cor-de-rosa saía de dentro do caldeirão de Hermione, e até poderia se dizer o mesmo da mistura de Rony, porém a base do caldeirão do amigo parecia derreter inevitavelmente. Harry olhou para o seu colega de mesa; a poção de Neville parecia estar tão ruim quanto a dele, emanando um tipo de vapor gelado e verde, malcheiroso e desagradável.




A voz grave de Snape reboou pela sala.




-- Vocês deverão levar a mistura da Poção da Ternura para seus dormitórios, pois existem ingredientes a serem adicionados no meio da noite, e não pretendo conviver com alunos invadindo meu escritório no meio da madrugada, clandestinamente. -- Seu olhar lampejou na direção de Harry, que apressou-se a formar uma expressão serena em seu rosto. -- Espero que não quebrem seus frascos no meio do caminho, se bem que acho que isso será difícil de acontecer, tendo em vista que temos poucos casos de debilidade mental grave nesta sala, ainda bem. -- Seus olhos perversos encontraram Neville, agora. O garoto, em vez de abaixar a cabeça, porém, sustentou seu olhar gelado com determinação. A A.D. deveria estar fazendo real bem para ele, pensou Harry. -- Podem se retirar.




Encontrando grande dificuldade em colher algum líquido dentro de seu caldeirão, já que a fumaça era tão densa que agora embaçava seus óculos, Harry ficou mais tempo do que pretendia na sala de Snape, mas não olhou para o professor ao sair da sala. Ainda apressado, Harry arrolhou a poção e saiu correndo da sala. Rony e Hermione estavam muito a frente dele na massa compacta de alunos que se deslocavam pelo corredor, então deu a volta para o pátio e começou a correr. Porém, quando já os alcançava, trombou irresistivelmente com Draco Malfoy, espalhando todo o conteúdo do frasco de poção na roupa e pele do sonserino. Malfoy levantou-se rapidamente e limpou a roupa com fúria, já disparando palavrões.




-- Potter, olhe o que você fez, seu cego, seu... sujou minhas vestes! Novíssimas! Vou lhe esganar, vou lhe triturar em mil pedacinhos...




A mão de Malfoy já encontrara o pescoço de Harry quando um grito ecoou pelo corredor, chamando a atenção dos dois.




-- Pare com isso! Largue o Harry!




Harry sentiu um assomo de vergonha ao reconhecer a voz de Gina Weasley, que passara sermão em Malfoy. Para a sua surpresa, porém, Draco largou a gola de suas vestes, jogando-o pesadamente no chão, e passou a encarar Gina com um olhar quase maníaco. Harry já estava pronto para socar Malfoy se ele falasse alguma coisa sobre a garota ou pulasse em seu pescoço, mas se sentiu um tantinho decepcionado ao perceber que Malfoy não iria fazer isso. Parecia pregado ao chão, olhando para Gina como se nunca a tivesse visto antes.




-- Posso saber por que você está me encarando dessa maneira? -- Prontificou-se Gina a perguntar, quase suavemente.




O sonserino parecia mais abobado que qualquer um de seus asseclas, mas conseguiu responder, um tanto vagamente e sonhador:




-- Porque... porque você é uma Weasley...




-- E? O que tem isso? -- Os olhos da garota lampejaram, seus cabelos flamejantes balançaram sobre os ombros.




Draco pareceu recuperar a sua antiga rabugice.




-- E... e você me enoja! Sua nojenta! Saia de perto de mim, sua... sua...! E você também, Potter! -- O garoto empurrou os dois para os lados quando atravessou o corredor, por algum motivo muito corado. Harry simplesmente rosnou como um cão raivoso para a nuca de Malfoy, mas Gina simplesmente o observou com muita atenção, como se quisesse ler o que se passava na cabeça de Draco. Em seguida, dirigiu seu olhar astuto para Harry.




-- Harry... o que foi aquilo, que você deixou cair em Malfoy?




Toda a confusão apagara a poção da mente de Harry; agora o garoto se realizara que tirara mais uma nota 0 no trabalho do dia de Snape. Sentiu-se furioso consigo mesmo, ao ver a perspectiva da reação de Snape e de seus comentários quando narraria o acontecido; devia ter imaginado que Malfoy poderia muito bem ter trombado nele para deixá-lo derrubar a poção, e assim continuar indo mal na matéria do seu tão odiado professor. Pensando ainda se estava se tornando neurótico, Harry resolveu responder à amiga.




-- Foi... era uma tentativa de Poção da Ternura.




-- Você disse "tentativa de poção"? Por que, ela não deu certo?




-- Não... -- disse Harry, lamentando-se interiormente -- parece que eu coloquei pétalas de rosa demais... é, foi isso mesmo, foi o que Mione me disse quando lhe mostrei que todos os seres vivos com menos de cinco centímetros morriam ao chegar perto do caldeirão.. -- Disse Harry, indagando-se porque estava conversando com Gina sobre Poções, no meio do corredor. Mas a garota tornou-se subitamente muito vermelha, seu rosto mais flamejante que seus cabelos, e também se retirou, apressadíssima, alegando que estava atrasada para a aula, aparentemente imersa em seus próprios pensamentos.




Harry olhou no relógio. Já se atrasara 15 minutos para a aula de História da Magia! Correu, segurando ainda o frasco da não mais presente Poção da Ternura, e, depois de murmurar uma desculpa esfarrapadíssima para Binns, tratou de se sentar entre Rony e Hermione na mesa coletiva que ocupavam. Rony parecia absorto demais, contando as poeirinhas que entravam na sala em apenas um raio de luz, e Mione o olhava, os olhos faiscando em censura. Harry resolveu, então, contar o que atrasara. Apesar de Rony meramente sacudir os ombros e convidar o amigo para uma partida de forca no canto do pergaminho (o que poderia ter deixado a amiga mais irritada ainda), Hermione pareceu muito interessada no assunto.




-- E Malfoy ficou vermelho? Você jura? -- Perguntou a garota, séria.




-- Juro, Mione, juro para você. Já lhe contei isso.




A garota apoiou a cabeça no braço, pensativa, até exclamar, em choque, e tapar a boca com as mãos, um som de riso abafado saindo delas. Assim que a sineta anunciou a chegada da hora do almoço, Hermione correu para a biblioteca, alegando que "precisava ajudar um amigo". Rony e Harry se dirigiram para a grande mesa da Grifinória e começaram a almoçar, tranquilamente, até ver uma cena que os fez exclamar o mais alto possível e arregalar os olhos até as órbitas.

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