Digníssima Flaubert



17- Digníssima Flaubert

Mais de dois meses se passaram. Eva havia se afastado de Régulo e de seus colegas. Dificilmente respondia às cartas de sua família. Tinha contato constante com Richard, as gêmeas Andrade e a sala dos espelhos. Ela agora lia todos os Profetas que lhe eram enviados, apesar de a maioria das notícias importantes serem as manobras defensivas do ministério. Só falava com Cellin quando, por um acaso, se encontravam no banheiro. As vezes passava por Kail no corujal, mas sempre escapava, pois tinha em mente apenas um mantra: tenho que me dedicar aos estudos agora!

Naturalmente que muitos estranhavam seu novo comportamento. Mas com todas as transformações que ocorriam no mundo bruxo neste tempo, uma mudança a mais, uma mudança a menos, poderia ser apenas mais conseqüências das transformações cotidianas. E assim foi-se dando início a nova vida de Eva: mais solitária, mais agressiva, mais centrada, mais ambiciosa, mais obcecada e muito, muito mais Sonserina.

O lugar em que Eva estava agora lhe trazia ótimas recordações. O doce aroma de folhas secas, a neve sobre o telhado acinzentado, os pássaros, escondidos em suas árvores encolhidas, o barulho do apito do trem, que conduziria os alunos de volta às suas casas no feriado mais agradável de todos, o Natal.

─ Quer ajuda com suas malas, Eva?

─ Professor? O que o Sr. faz aqui? ─ perguntou Eva, encarando Richard Goldsmith.

─ Bem... ─ pigarreou Richard, enquanto pegava o malão de Eva ─ Segurança. Três aurores e eu faremos a guarda do trem! ─ ele riu, encarando a aluna ─ Minha nossa, quantos livros!

─ Não penso em parar de estudar, acredito que este feriado será extremamente desagradável ─ Eva acompanhava o professor, entrando no trem ─ Longe da biblioteca, longe da Sala...

─ Da Sala dos Espelhos? ─ completou Richard.

─ Como o Sr. sabe? ─ ela perguntou, envergonhada.

Richard riu, sonoramente:

─ Nunca subestime os seus mestres, minha cara aluna! ─ ainda ria ─ O vagão de Régulo está logo ali, aproveite enquanto ainda não está cheio, estão apenas ele e Estephanie Mainz.

─ Estephanie Mainz?! ─ perguntou ela, com uma legítima expressão de nojo.

─ Sim, algum problema?

─ Todos! ─ ela parecia incrédula ─ Não me sento com pessoas medíocres ─ ela deu meia volta ─ Vou procurar outro vagão! Até logo professor e obrigada pela ajuda com as malas.

─ Disponha ─ respondeu ele, ainda com um sorriso nos lábios.

Eva, decepcionada, caminhou com seus pertences pelo corredor ainda vazio do trem. Fazia algumas semanas que não conversava com Régulo, estava realmente disposta a sentar-se com ele, mas fora frustrada pela presença do que agora para ela não passava de uma sangue-ruim. Porém para Eva, nem todos os sangues-ruins eram desprezíveis, decidiu-se então procurar pela segunda pessoa por quem tinha saudades, Cellin Vicker.

E novamente fora desapontada, pois Cellin também tinha companhia.

Ao identificar a voz de Cellin, Eva olhou de esguelha porta adentro e viu que havia uma mão nos ombros de sua amiga, uma mão que só poderia pertencer a Irvine Lifford.

Eva resolveu sentar-se sozinha em um vagão, antes que o trem começasse a se encher e ela fosse obrigada a se sentar com Estephanie Mainz.

Enquanto Eva estava sozinha se acomodando em seu vagão, o vagão em que Cellin e Irvine se encontravam recebeu mais dois integrantes. Um deles vestido com trajes trouxas e o outro elegantemente vestido, usava uma calça branca, botas brancas e o que lembrava muito um quimono, amarado ao tronco, além de uma altiva capa branca. O homem era mais alto que todos que ali estavam, seus cabelos eram muito curtos e escuros, suas mãos enluvadas estavam atrás de suas costas, dando a ele uma postura serene.

─ Bom dia a todos!

─ Tio! ─ Cellin levantava-se e abraçava com força o homem que chegara.

Irvine, por educação, também se levantara para saudar o auror, James Vicker. Kail, atrás, colocava sua mala no compartimento acima. Após todos se cumprimentarem e se acomodarem, James conjurou alguns copos de chocolate quente.

─ Então, Sr. Vicker, conte-nos as novidades do ministério. ─ iniciou Irvine.

─ Bem ─ James pousou seu copo ─ O que mais tem acontecido é a descoberta de traidores, muitos bruxos que eram fiéis ao ministério se revelaram servos de Vocês- Sabem- Quem, bem... de Voldemort! ─ ele tinha uma voz jovial e falava cada palavra com um toque de empolgação.

─ Sabe alguma coisa sobre a família Black?!

─ Nunca deixou de ser uma família sombria e misteriosa e por isso sempre alvo dos repórteres, mas até então não temos nada contra eles ─ James respondeu prontamente ─ Inclusive, recentemente estive conversando com Alice Longbotton, uma auror que se formou comigo, e ela me disse que Sirius Black goza de grande confiança de Dumbledore.

─ Bom, isso não nos ajuda em nada ─ concluiu Irvine.

─ E sobre Ulisses Apalache?!

O gato de Cellin surgira do nada e pousara no colo de sua dona. Cellin, que não piscava se quer o olho, começou a acariciar o gato sem se dar conta.

─ No caso da família Apalache ─ James bebericou seu copo de chocolate ─ É uma família completamente suspeita. O pai de Ulisses possui uma loja de artigos de quadribol. A loja foi investigada recentemente, porém nada foi encontrado, nada que houvesse artes das trevas, nem tampouco qualquer coisa que ligue a família a Vol...

─ E quanto à residência deles? ─ insistiu Kail.

James respirou fundo.

─ Estamos tentando conseguir uma autorização para entrar na mansão, mas todas as nossas tentativas foram frustradas, o ministro afirma que devemos manter as famílias influentes a nosso favor e não contra nós.

─ Mas será que o ministro é cego?! ─ desabafou Irvine ─ Imbecil, são as famílias influentes que mais odeiam e desprezam trouxas, eles são os mais prováveis de se juntarem ao lado das trevas!

─ Algo sobre os Rookwood?! ─ disse Cellin, num tom baixo e tímido.

─ Querida, não sei de onde tirou esta idéia de que os Rookwood são suspeitos ─ James balançava a cabeça negativamente ─ Augusto Rookwood é um inonimável, trabalha no ministério e nos fornece informações muito preciosas. É uma família influente e pode confraternizar com famílias suspeitas, mas daí a estar ligada a Voldemort ─ ele fizera uma pausa ─ Fique tranqüila, a família de Eva não está sob suspeita.

Irvine parecia tenso, seu copo de chocolate estava intocado.

─ Sei que Apalache está envolvido, existe alguma coisa rondando em Hogwarts.

─ Este é um assunto que devemos tratar com muito cuidado. Lembrem-se de que sou um auror e a última coisa que eu deveria estar fazendo é ajudá-los em suas investigações, mas... ─ ele engoliu em seco ─ Tenho uma idéia, que parece absurda, mas pode funcionar.

Irvine se animara:

─ Qual idéia?!

─ Sei que os Apalache passam o natal com os Prewet, a mansão estará vazia ─ ele encarava seus companheiros, analisando suas reações ─ A mansão Apalache foi comprada a menos de dois anos, é uma das residências bruxas mais antigas e foi leiloada na data em questão.

─ E...?

James reenchia seu copo de chocolate com um toque de varinha.

─ E a planta da mansão é mantida em um museu ─ disse ele, com um olhar insinuador.

─ Está sugerindo...?

─ Tio!!! Isso é um absurdo! ─ Cellin questionara, incrédula.

─ Não, Cellin, a mansão estará vazia, porque não? ─ respondeu Kail ─ Acha que o Sr. consegue uma cópia da planta?

James levou as mãos aos bolsos e retirou um pergaminho acinzentado:

─ Tenho certeza!

─ Ótimo! Em fim iremos entrar em ação. ─ disse Irvine, olhando entusiasmado para Cellin, que parecia discordar ─ Precisamos preparar tudo com muito cuidado.

─ Antes de entrar em detalhes, preciso saber se algum de vocês tem alguma notícia de Medaline Emburgo...? ─ falou Cellin.

─ Bem, ouvi de Luciene Chrystal que Medaline passa bem, mas que não voltará à escola. ─ respondeu Kail, coçando a cabeça.

Cellin parecia triste.

─ Mais um mistério. Espero que desta vez não tenha nada a ver com Régulo Black.

.............................................................................................................................................

Eva lia concentrada em seu vagão, o trem já começara a se mover havia quinze minutos e o estomago de Eva dava claros sinais de que era hora do carrinho de doces passar. Constantemente ela dava olhadelas à porta, para ver se a mulher do carrinho estava passando, mas se surpreendeu ao ver um rosto familiar encarando-a.

─ Ah... Olá! ─ disse ela, receosa.

─ Como vai, Rookwood, estou sem vagão. Posso?

─ Sim.

─ Que livros são esses?!

Eva entregou os livros a ela.

─ Então você se interessa por artes das trevas?

─ Sim, me interesso ─ suas respostas eram curtas e objetivas.

─ Interessante ─ disse Sue Ellen ─ Conheço muitas coisas sobre artes das trevas. Livros mostram apenas os feitiços que permitem defesa, sabe? ─ ela fitava Eva, com seus olhos castanhos e intensos ─ É a verdade! Os feitiços eficazes não possuem contra feitiço, estes você não encontrará em nenhum tipo de livro ─ Sue Ellen sorria, orgulhosa.

Eva sentia-se invadida, realmente estava gostando da idéia de viajar sozinha. Mas estava se interessando pelo assunto de Sue Ellen.

─ E que tipo de feitiço é esse?

─ Eu conheço um ótimo! ─ ela levantava-se, desamassando seu uniforme da Sonserina ─ Tentei ensinar à sua irmã Saris uma vez, mas o talento dela envolve outras áreas de magia oculta.

─ Conhece Saris?!

Sue ficara constrangida, imediatamente tirara sua varinha da capa e encarava Eva.

─ O feitiço é simples, mas extremamente potente. Ele tem o incrível poder de ampliar o efeito de qualquer outro feitiço. Por exemplo ─ ela dobrava as mangas de sua capa ─ Se você usar o feitiço Accio em uma casa, ou uma árvore, sem dúvidas não funcionará.

─ Certamente ─ respondeu Eva.

─ Mas, com um toque de artes das trevas, tudo é possível. O feitiço em questão chama-se Luvrio, você deve pronunciá-lo antes do feitiço principal.

─ Luvriu?─ Eva desacreditava ─ parece muito simples, e a última coisa que artes das trevas é, é simples.

Sue Ellen gargalhava, voltando a emanar desdém.

─ Apenas lembre-se disso, Eva Rookwood, Luvriu é o feitiço mais útil em artes das trevas.

Em vários momentos do diálogo Eva teve vontade de perguntar a Sue Ellen se ela era parente distante de Maximillian Flaubert, mas achou que não seria prudente, pois não possuía intimidade suficiente com a garota. O tempo foi passando e as paisagens se transformando, as densas florestas davam lugar a grandes campos verdejantes, o clima parecia estar cada vez mais frio. A mulher dos doces passara, Eva pode em fim comer alguma coisa. Não demorou para que ela pegasse no sono e tivesse sonhos muito perturbadores:

Sonhou que seu próprio corpo se tornava negro. Pedia ajuda ao seu reflexo no espelho, mas ele apenas dizia que ela estava condenada para sempre, que jamais deveria ter se aproximado da Lágrima de Maximillian. Ela estava desesperada, correu em busca de Cellin pelo castelo, mas encontrou apenas Medaline Emburgo, abraçada com Régulo, ela tinha uma rosa negra nas mãos e estava entregando a ele. Eva tentava impedir, mas não conseguia correr, Régulo estava prestes a se condenar, como ela própria havia se condenado.

Acordara.

Estava suada e seu coração batia a mil por hora. Respirou fundo, olhou para os lados, Sue Ellen Flaubert não se encontrava mais no vagão. Eva estava sozinha e desesperada.

─ Não é por menos ─ pensou ela ─ Já chegamos, estamos em Londres.

─ Hei, o que está fazendo ai? Estávamos procurando por você!

─ Christopher?!

─ Venha, eu ajudo com as malas.

Eva, ainda confusa e deslocada, descia do trem logo atrás de seu irmão. Não havia mais nenhum aluno no trem, exceto os dois, e nenhum sinal de Sue Ellen. Por outro lado, a plataforma estava repleta de bruxos. Alunos e suas famílias se encontravam. A discreta decoração de natal parecia deixar o ambiente mais caloroso e apropriado para reencontros. Eva pode notar o semblante de sua irmã a metros de distância. Saris estava com o braço enlaçado ao de um homem alto e imponente, os cabelos e olhos muito pretos, óculos de ouro, mãos enluvadas.

─ Evinha!!! ─ gritou Saris, ao ver Eva, com sua voz esganiçada.

─ Ah, oi! ─ Respondeu Eva, sem graça, tentando dar conta dos livros que carregava.

Saris abraçava a irmã, com alvoroço. A semelhança entre elas era clara, apesar de Saris ser mais magra, menor e se comportar de maneira diferente.

─ Por favor ─ se precipitou o acompanhante de Saris, César de Merton ─ Deixe-me ajudá-la, Srta. Rookwood ─ o homem pegava os livros e ajudava Christopher a carregar uma das malas.

─ Por que não colocou os seus livros dentro da mala? ─ Saris pegava um dos livros das mãos de César e abria a mala que estava com Christopher, porém, ao ver que já estava repleta de livros, estranhou ─ Mas?! Se os seus livros de Hogwarts estão aqui, que livros são estes?!

─ São os livros que não são de Hogwarts, oras ─ respondia Eva, como se estivesse dizendo algo muito obvio ─ Olá César, como vai?

─ Absolutamente bem ─ respondeu ele ─ Não parece muito contente em estar de folga, não é?! ─ ele tinha nos lábios um sorriso curioso.

─ Sempre compreensivo... ─ disse Eva, enigmática.

Eva avistava Cellin a poucos passos de onde estava. Com o olhar se despediu da amiga, sem deixar que a irmã notasse. Cellin retribuía o olhar, porém com certa tristeza, Kail sorria para ela.

Christopher trocava algumas palavras com Saris e César, enquanto Eva se voltava aos seus amigos da Sonserina para se despedir:

─ Espero que tenham um bom Natal ─ dizia ela, de forma séria e objetiva.

─ Mande um abraço a todos em sua casa ─ falou Régulo, acenando para Saris e César, de onde estava ─ Se puder entrar em contato... ─ Régulo parecia desconcertado.

─ Não vou ficar longe tanto tempo assim, Régulo ─ Eva fazia questão de demonstrar que não estava nada satisfeita por ter viajado longe dele.

Mas antes que Régulo pudesse retrucar, uma garota muito masculina, cabelos pretos e curtos, rosto agressivo, se aproximava do grupo de alunos, na plataforma.

─ Ah, ainda não apresentei vocês ─ disse Ulisses, com seu típico gingado arrogante, surgindo logo atrás da garota masculina ─ Esta é Laura, a minha irmã mais velha.

De fato, tudo que Ulisses falava sobre sua irmã, os atos de vandalismo, as atitudes vulgares, absolutamente tudo o que parecia absurdo poderia ser comprovado simplesmente ao se aproximar de Laura Apalache. Parecia um garoto trouxa fantasiado de bruxa para o Halloween. Era grande e forte, tinha tantos brincos nas orelhas quanto era possível suportar, extremamente maquiada, passaria despercebida por uma festa punk cheia de adolescentes bêbados.

─ Muito prazer ─ Eva parecia querer manter distância, mas ainda esperava, pois não havia se despedido de Judith e Phillip.

Não demorou para que Judith e Phillip logo se envolvessem no grupo e trocassem as últimas palavras antes do Natal. Após as despedidas, Eva pode atravessar a parede entre as plataformas bruxa e trouxa, e caminhar tranquilamente ao lado dos irmãos e do cunhado.

─ Bom, a Srta. não me enviou mais nenhuma carta, posso saber por quê? ─ questionou Saris, com um tom de ordem.

─ Porque eu tinha coisas mais importantes para fazer ─ Eva encerrava a conversa, deixando claro que definitivamente não estava disposta a conversar e fazendo com que seus irmãos ficassem pensativos e estranhassem seu humor.













N/A: Uffa!!! Aos poucos as coisas vão caminhando.... Gente, estou me esforçando bastante.
Vou repetir novamente os agradecimentos a: Elenissima, Isis Blαck. Anah Whigs, Igor Muxfeldt, M..., Mary Black (seus palpites estão bem perto da verdade), Kristina Gaunt (estou adorando a sua fic), Sils. E a todos os outros que estão acompanhando a fic, ou que pelo menos tentam, pois eu reconheço que ela está ficando muito grande!!!!


Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.