Reflexos da alma



16- Reflexos da Alma

Durante uma semana, Eva pesquisou sobre Maximillian Flaubert através dos meios que tinha à sua disposição. Mandou uma carta ao endereço que constava atrás de um dos livros que lera e recebeu gratuitamente um material exclusivo de artes das trevas. Sua encomenda fora barrada na entrada pelos aurores, mas Paul Cardiff, após analisar o conteúdo do livro, se responsabilizou pelas conseqüências da correspondência.

Foi a semana mais atarefada que Eva tivera em toda a sua vida. Colocou como meta obter conhecimentos a respeito de tudo que a cercava, começando pela história de Maximillian Flaubert e também pelo estudo das artes elementais. Começou a valorizar as aulas de história da magia e, principalmente, de defesa contra as artes das trevas.

Reconheceu que sua tarefa sobre os elementais estava indigna e decidiu refaze-la por completo. Com o auxílio de Judith, uma das melhores alunas de toda Sonserina, Eva concluiu seu trabalho. Para o espanto de todos os setimoanistas, o trabalho de Eva foi cotado como o melhor que o professor Richard Goldsmith vira dentre todos os que tinha avaliado em Hogwarts.

A ausência de ataques da parte dos comensais e de Voldemort aliviaram a situação da escola, pois os aurores limitavam-se a monitorar o exterior do castelo, de modo que a liberdade dos alunos ia sendo restituída aos poucos. Em relação ao novo livro que Eva havia ganhado: Raridades do mundo negro, ela já tinha absorvido muitos conhecimentos. Por incrível que pareça, o livro relacionava os perigos que a lágrima de Maximillian poderia causar a um bruxo e trazia técnicas e feitiços para conseguir extrair as flores adultas do solo.

O salão comunal da Sonserina estava tranqüilo e quase desabitado, a não ser pela presença de alguns alunos do segundo ano e Jack Forestson, que estudava, sonolento, sobre a luz oriunda da única janela que tinha as cortinas abertas. Alguns quadros pareciam ter seus personagens ausentados também, dando ao local um clima de solidão e calmaria.

— Oi, Rookwood — Estephanie arrumava suas meias, enquanto tentava andar em direção à escrivaninha onde Eva estava estudando — Você não vai ao clube de poções?! — Eva parecia não ouvi-la — Hei!! Eu estou falando com você!

— Vou, vou... — Eva balançava a mão, como se estivesse espantando uma mosca, sem tirar os olhos do livro que lia.

— Recebeu algum tipo de ameaça da sua família ou coisa assim? Não para de estudar nem um segundo! Até o Régulo você está deixando de lado! — Estephanie se erguia e ajeitava sua camisa.

Eva fechava o livro bruscamente fazendo um “baque” seco ecoar pelo salão quase deserto:

— Você está muito curiosa, não acha?! — disse Eva, com desdém — e se eu falo ou deixo de falar com Régulo, é um problema exclusivamente meu — Concluía ela, ao se levantar.

Estephanie, com as sobrancelhas contraídas, analisou Eva de cima a baixo, jogou seus longos cabelos cacheados para trás.

— Existem muitos garotos da Sonserina que gostam de você, que te acham bonita... — Estephanie tentava prolongar a conversa — Por que você tem que escolher logo o Régulo?

Eva, respirando fundo, olhou para Estephanie com uma expressão de poucos amigos e respondeu, secamente:

— Porque ele me pertence.

Estephanie ficara atônita. Não estava acreditando no que ouvia.

— O que está havendo com você? Que mau humor é esse? — ela segurava o ombro de Eva.

— Estephanie... — Eva encarava sua companheira de classe — Sempre nos demos muito bem. Não quero que isso mude. Por tanto, não toque no nome de Régulo na minha frente, ok?

— Tem certeza de que você está bem?

Eva desviou seu olhar para um quadro distante, que estava vazio. Esboçou um sorriso irônico e voltou a encarar os olhos castanhos da monitora:

— Nunca estive melhor.

— Já que você não quer que eu toque mais no assunto Régulo. Vou dizer o que eu penso de uma vez por todas — Estephanie parecia escolher as palavras — Ele não é a pessoa certa para você, sabe?! — Ela tentava explicar sua opinião — Régulo precisa de uma garota inteligente...Não que você não seja! Mas... Ele precisa de alguém para enfrentar estas mudanças que estão acontecendo no mundo bruxo, mudanças que você nem ao menos sabe do que se tratam.

Eva cerrava os punhos, suas mãos pareciam coçar, ela esfregava sua capa com o punho, como se estivesse tentando se controlar, sentia as formas de sua varinha através do tecido fino e suave.

— Eu sei que ele é muito bonito e que você gosta dele há muito tempo, mas... Ele é demais para você.

Antes que Eva percebesse já havia tirado sua varinha rosada da capa e disparado o feitiço negro de explosão em seu tinteiro que se encontrava em cima de sua escrivaninha. Em cerca de segundos o pequeno objeto era arremessado em pedaços a uma velocidade impossível de ser acompanhada pelos olhos humanos. Os segundoanistas que estavam distantes, Estephanie e Jack Forestson estavam completamente manchados de tinta preta. Por sorte, ninguém se machucara, mas o estado em que o salão comunal estava era assustador. Era impressionante o estrago que um tinteiro tão pequeno podia fazer quando aliado a um feitiço das trevas.

— E antes que fale mais alguma coisa — Eva se aproximava perigosamente de Estephanie — Acho melhor você ficar de boca fechada, e limpar isto aqui rapidinho, ou...

— Ou..?! — perguntou Estephanie, tentando manter a postura de monitora, mas não conseguindo esconder o medo que estava sentindo.

Emily Vincent havia acabado de entrar no salão comunal, não havia presenciado o feitiço, mas logo percebera o que havia acontecido e estava incrédula. Lembrando-se das palavras de Emily na discussão que ouvira há uma semana atrás, Eva teve a idéia que salvou sua pele e evitou que o caso fosse passado ao diretor da Sonserina:

— Ou contarei a todos que você é uma sangue-ruim!

Eva havia conseguido o efeito desejado. Imediatamente Estephanie pareceu esquecer do caso. Os segundoanistas e Jack se afastavam de mansinho, pareciam não querer arrumar encrenca com uma “amiga” de Régulo Black e Ulisses Apalache.

— Emily, você vai à aula do clube de poções?! — perguntou Eva, como se nada tivesse acontecido.

Emily balançou a cabeça positivamente e as duas saíram rumo às masmorras de poções.

— A propósito — disse Eva, já na saída — Desculpe Jack, não tive a intenção de sujá-lo.

O Sonserino respondeu com um sorriso tímido e acenou para Eva, que já havia sumido porta a fora.

— É... Então você também sabe que a Estephanie Mainz é mestiça, Eva?! — perguntava Emily, tentando quebrar o gelo — Não ligue para ela, vive dizendo que eu não combino com o Philip! Se sente alguma coisa só porque o pai dela trabalha em Azkaban, mas a mãe dela não passou de uma trouxa!!

Eva já estava se irritando com o papo monótono de Emily, gostaria que Judith estivesse ali, pois era sua colega mais sensata e fácil de se conviver. Ao chegar à sala destinada ao clube de poções, Eva se surpreendeu ao ver quem estava sentado numa das bancadas destinada aos alunos:
— Acho que o Sr. se confundiu, professor Goldsmith. Aqui é o clube de poções!

— Oras... Por que me confundi?! — perguntou Richard, brincalhão — Não tenho o direito de participar?!

Eva abriu um enorme sorriso:

— O Sr. está hilário sentado numa carteira de aluno! — ela ainda ria.

— Você ouviu, Cardiff?! — perguntou o mestre de defesa ao mestre de poções — Minha aluna favorita está dizendo que eu estou hilário!

— Devia lhe dar pontos por ser tão sincera — Cardiff apressava Eva e Emily, pois a sessão iria começar — Vamos, procurem lugares vagos.

A sala destinada ao clube de poções era ampla e mal iluminada. Várias bancadas circulares, com um caldeirão de ferro acoplado eram dispostas ao longo do salão. Na bancada do mestre, havia frascos e mais frascos. Alguns armários bem trancados ladeavam a sala, além de haver capas manchadas em porta-chapéus. Havia um quadro largo bem de frente para a porta, com a imagem de Salazar Sonserina e Rowena Ravenclaw travando um duelo em um amplo campo sombrio. Tinha também algumas poucas janelas, que mais pareciam desenhos nas paredes, pois quase nunca eram abertas. O professor Paul Cardiff, vestido formalmente como sempre, apressava todo o grupo a assumir um local para que ele pudesse dar início ao debate. Os cabelos cor de terra de Cardiff pareciam quase pretos devido à má iluminação da sala.

— Na última sessão, dei a vocês algumas das opções de estudos para hoje. Espero que vocês tenham uma opção específica em mente — Cardiff rodeava por entre as mesas dos alunos — e então, Srta. Lineck?!

A aluna da Grifinória fitou o mestre:

— Bem, eu gostaria de ver hoje a sétima opção, senhor. Referente à poção da cura.

— Muito bem, alguém discorda?! — Paul já estava se dirigindo à sua bancada, para pegar os ingredientes para a poção da cura, quando identificou a mão de Eva erguendo-se no ar — Pois não, srta. Rookwood?!

— Na verdade, senhor, eu já sei fazer a poção da cura, pois nós vimos uma prévia no sexto ano. Todas as opções que o senhor nos deu são muito fáceis. Eu gostaria, se não fosse nenhum incomodo, de ver algo mais... Complicado. — concluiu Eva.

Régulo, que estava sentado na mesma bancada que Ulisses, ergueu o pescoço para vê-la melhor.

— E... Que tipo de poção complicada a srta. sugere?! — questionou Cardiff, já muito perto de Eva.
— Por que não... — Eva fitava Richard, que estava sentado em sua bancada — Uma poção elemental?!

O pedido despertara murmúrios em toda sala. Régulo e Ulisses pareciam ter saltado da bancada, eles sorriam como aprovação e aguardavam a resposta do mestre.

— Ótima idéia! — respondeu finalmente Cardiff, deixando os alunos afobados — Silêncio! — gritou — Vamos dar início então a uma poção glaciomaga, a poção que tem o poder de congelar por inteiro aquele que a bebe.

Régulo deixara um Ulisses sozinho em sua bancada e fora se sentar ao lado de Eva. Richard, percebendo que se encontrava no lugar errado, resolveu deixar os jovens sozinhos e rumou para a bancada onde Eleanora Lineck e outra aluna da Grifinória estavam sentadas.

— Genial, eu não poderia ter sugerido melhor — elogiou Régulo.

— Obrigada! — respondeu Eva. Mas desta vez sua resposta não era carregada de felicidade, era uma resposta carregada de orgulho e pompa. — Vai mesmo deixar Ulisses sozinho?!

— Logo ele vai se sentar com a Emily — respondeu Régulo, vendo que Emily também estava sozinha em uma bancada — Está emburrado, porque vai ter que ir com Irvine Lifford até a floresta recolher ervas para o Cardiff, por causa daquela detenção do dia do jogo — Régulo olhava a sua volta — Onde está a Estephanie?!

— Sofreu um pequeno acidente com um tinteiro — respondeu ela — Se sujou toda.

Conforme Paul Cardiff iniciava sua explicação a respeito da poção elemental, Eva ia deixando Régulo de lado para prestar atenção em seu mais novo assunto favorito: elementais e seus incríveis poderes. Régulo, em vez de sentir-se excluído, ficava feliz ao ver que a garota estava se esforçando para mudar. Richard Goldsmith dava constantemente umas olhadelas ao casal e sorria para si mesmo, enquanto auxiliava seu colega de trabalho a ministrar a aula extra que poucos alunos faziam questão de ter no final de semana.

Ao final do que pareceu ser apenas alguns minutos, mas que na verdade foram mais de duas horas, os alunos se despediam das masmorras e se dirigiam cada um para a parte do castelo onde se encontrava seu salão comunal. Eva passou no banheiro que ficava nas masmorras para lavar seu rosto e tomou o caminho que conduzia às escadarias. Quando estava no meio do corredor artificialmente iluminado por archotes, viu algo que lhe pareceu uma ilusão: um dos pilares que ficava em um hall próximo parecia ter girado sem emitir o menor som. Eva passou pelo pilar, ignorando-o, mas quando avistou as escadas, pensou duas vezes.

— O que há com você? — perguntou para si mesma — Não está louca! O pilar realmente girou! — ela deu meia volta e tateou o local, percebeu que havia uma fenda, que mais parecia uma ratoeira e, com os olhos fechados, enviou a mão na parte de dentro do buraco. Seus dedos encontraram o que parecia ser uma corda, ela agarrou-a e puxou-a. O pilar girou, revelando uma passagem vertical e uma escada presa à parede escura.

A curiosidade era muito superior ao medo. Eva encarava o buraco escuro e a base escorregadia e lodosa com receio, como se seu corpo não acompanhasse o forte desejo de sua mente.

O mais sensato seria dar meia volta e ir direto ao salão comunal. Mas isto seria o que ela teria feito antes, não agora. Não agora que ambicionava com tanta angústia e tanto anseio o conhecimento, não agora que descobrira um novo sentido para aquilo que a cercava.

Antes mesmo que se desse conta, seus sapatos perfeitamente lustrados se apoiavam nos degraus enferrujados, suas mãos seguravam com firmeza os lados da escada escondida. Seus olhos sentiam a ausência da luz, sua respiração começava a ficar ofegante. Eva saltou do último degrau, analisou a dimensão da câmara onde se encontrava, passou as mãos pela capa e arrumou seu cabelo.

─ Lumus! ─ sussurrou.

A pequena câmara logo ficou com um brilho amarelado. O local era úmido e sombrio, porém conservado, como se por ali fosse comum a passagem de uma ou outra pessoa. Eva pensou em que tipo de pessoa poderia escolher um local como aquele para utilizar como atalho, mas logo se surpreendeu ao imaginar em qual local do castelo o único corredor que ali havia poderia conduzir.

─ Talvez a algum corredor próximo à sala do diretor ─ pensou ─ onde dê para ouvir tudo o que se passa ali dentro ─ começou a caminhar corredor à frente.

Não demorou muito até chegar a um ponto do corredor onde houvesse archotes. Eva guardou sua varinha e parou quando identificou o que parecia ser som de vozes.

Seu coração começou a bater mais rápido. Eva havia prendido sua respiração. Uma sonora voz feminina se manifestava não muito longe de onde estava.

─ Sabe muito bem que estamos muito próximas da sala do Cardiff, e ele já nos pegou aqui uma vez!

─ E não fez nada, se esqueceu?

─ Não me refiro a ele, mas... E se Dumbledore ou alguém estiver na sala dele fazendo uma visita! Não podemos deixar a cautela de lado, Lana.

Lana?! Então...

Eva ficara aliviada ao concluir que eram as gêmeas Andrade. Quando sua respiração se normalizara, apressou o passo para encontrar as amigas. Quando estava chegando perto das vozes,viu o fim do corredor e nenhuma gêmea.

─ Não é possível! Será?! ─ Eva, confusa, começou a tatear as paredes em busca de uma passagem secreta. Não seria lógico um corredor que conduzisse a nada ─ Não cheguei até aqui para isso! ─ exclamou Eva, irritada.

Já estava a pouco de desistir, quando tropeçou violentamente no que parecia ser uma aldavra presa ao chão. Levantou-se, esfregou seus joelhos doloridos e voltou-se para o que a fez cair.

─ Um alçapão! Como não?! ─ puxou a aldavra e logo ouviu claramente a voz esganiçada de Aline Andrade num túnel iluminado localizado abaixo.

─Acho que temos visita!

─ Vamos nos esconder atrás do espelho da mentira, rápido!!!

─ Nem pensem nisso! Venham aqui me ajudar a descer! ─ gritou Eva, do lado de cima.

─ Rookwood?! ─ se espantou Allana.

─ Não! Cardiff! ─ continuou a gritar ─ Por que este não tem escada?!

─ Silêncio ─ sussurrou Aline, enfática ─ Onde acha que estamos, no Pólo Norte?! A sala do professor Cardiff fica logo ali ─ apontou para o teto, à sua direita, ao se aproximar do alçapão, revelando seu rosto esperto e felino.

─ A escada está invisível! Coloque seus pés para baixo, vai sentir os degraus.

─ O quê?! Descer estas escadas já é quase impossível, agora desce-las invisíveis! Quem foi o imbecil que teve essa idéia?! ─ questionou Eva, fazendo uma careta involuntária.

─ Fomos nós ─ respondeu Aline ─ Venha logo e pare de frescuras. Se chegou até aqui então já deve saber da Sala dos Espelhos.

─ Da o quê?! ─ indagou Eva, enquanto se pendurava, tentando localizar os degraus.

─ Venha, vamos mostrar ─ concluiu Allana, ao sumir de vista.

Eva, após muita dificuldade, conseguiu descer a escada. Toda suja, seguiu o caminho por onde Allana havia sumido e se deparou com uma porta entreaberta. Mas não era uma porta comum.

Era uma porta imensa, de bronze, decorada com escrituras em runas antigas. De dentro podia-se ver uma luz azulada. Eva se aproximou com cautela, apontou sua varinha para a porta colossal e iluminou-a melhor para que pudesse ler seu conteúdo.

“Um presente a Hogwarts foi dado
Por aquela que por seu bem zela
Alguém que esconde segredos
Hoje presos nesta humilde cela

A um grande amigo seu segredo dedica
Através de uma arte velha e rica
Revelando sua mágoa intensa e contida
Por conflitos e erros nela vivida”

─ Rowena Ravenclaw! ─ disse Allana, ao puxar Eva pelo braço para dentro da cela ─ Bem vinda, Eva, ao segredo de Corvinal!

─ Do que é que você está falando? ─ questionou Eva, atônita.

─ Rowena Ravenclaw era sangue-puro ─ respondeu Aline ─ Uma linhagem muito nobre, por sinal. Quando Salazar Sonserina rompeu com os outros três fundadores, na verdade ele estava rompendo apenas com dois.

─ Do que é que vocês estão falando...?! ─ repetiu Eva.

─ Veja ─ respondeu Allana.

Foi então que Eva se deu conta do lugar em que estava. Um labirinto. Mas não um labirinto comum.

Um labirinto de Espelhos.

Era amplo e azulado, o teto era espelhado por pedaços minúsculos de vidro. Parecia não haver chão, pois o chão também era um espelho, e refletia o teto, que era composto por milhares de espelhos, que por sua vez refletiam o chão, e assim infinitamente, numa seqüência interminável de deformações e reflexos que proporcionavam uma complexa sensação de que se estava muito próximo da razão da existência de todas as coisas. A luz azulada estava presente em todas as paredes. Qualquer pessoa poderia facilmente morrer de loucura em um ambiente como aquele, não havia começo, nem fim. Não havia razão, emoção, lógica. Apenas um estado indefinido, uma mera sensação de tudo e nada, de antagonismo, de auto-conhecimento e desconhecimento. De vida e de morte.

Eva já estava a muito hipnotizada. Não conseguia parar de admirar cada pedaço da sala infinita. Estaria perdida se tentasse visualizar tudo o que fosse possível, pois tudo era tudo e não havia tempo naquele local. Mas a voz de Aline a fizera perder a visão. Eva, desesperada, começou a gritar que estava cega, suas pernas não a obedeciam, seu corpo parecia não mais existir.

─ Pare!─ gritou Aline ─ sua voz ecoando pela cela─ Isso, isso, isso, isso. Apenas ouça-me-me-me-me ─ a voz ia ficando mais baixa ─ Rowena...

─ Rowena tinha muitos segredos.

─ Segredos?! ─ Eva ouvia sua própria voz ─ Quais? Por quê?

─ Rowena gostava de ser sangue puro. Tinha orgulho de sua família. E ia muito além... ─ Não era mais possível identificar quem falava, se era Allana ou se era Aline.

─ Ela concordava com Slytherin sobre o fato de que Hogwarts deveria excluir todos os sangues ruins. Mas, não apoiou Slytherin quando ele mais precisou. Eles eram muito amigos, sabe? E foi por ele que ela construiu esta cela! Ele é o amigo o qual ela se refere em seus versos. A arte velha e rica é magia negra! Sei que pode sentir Eva, pois já a usou, não é? Hoje mesmo, no salão comunal.

─ Por que Rowena não apoiou Slytherin?! ─ perguntou Eva, mais calma, porém ainda sem a visão.

─ Ah! Nossa mais recente descoberta! Rowena estava apaixonada, loucamente apaixonada. E sua paixão a convenceu do contrário.

─ Griffindor?! ─ sugeriu Eva.

─ Muito, muito esperta ─ respondeu uma das vozes ─ por Griffindor. Rowena se arrependeu loucamente de seu feito, havia brigado com seu grande amigo por um amor não correspondido. Mas não havia mais volta, Salazar havia sumido no mundo e Rowena era pouco corajosa para abandonar Hogwarts e correr atrás de sua verdade.

─ E esta sala. Esta sala em que estamos agora contém o inferno que foi a vida de Rowena em seus anos infelizes em Hogwarts. Aqui ela pode revelar quem realmente era, e inteligente o suficiente para manipular artes das trevas sem ser manipulada. Criativa, viva, audaciosa, porém pouco corajosa. Trancou a cela com seus segredos. Segredos aos quais nós conseguimos desvendar.

Uma das gêmeas faz um feitiço que devolve a visão à Eva.

─ Vá com calma. Todos os que conseguiram chegar aqui, enlouqueceram e nunca puderam revelar ao mundo a maravilha que saiu da mente de Rowena.

─ Então o segredo não é indecifrável? ─ questionou Eva.

─ Você já deve ter aprendido em Runas que não há segredo ou código indecifrável. Mas, o segredo não está em como chegar até a cela, pois você mesma pôde chegar até aqui com muita facilidade. A consistência do segredo está em ─ fez uma pausa ─ Como sair dela.

─ E como podemos sair dela?! ─ perguntou Eva, com certo medo.
─ Cada um é responsável por sua própria saída. Você deve encontrar o seu segredo. O espelho que lhe diga a verdade, ele será a chave para que possa sair daqui.

─ Vá, não vamos deixá-la ─ agora Eva pode identificar que era Allana quem falava.

Eva começou a andar, e por cada espelho lateral que passava, ouvia algum comentário inesperado.

─ Você é Eva Ravenclaw, não é? ─ disse seu reflexo.

─ Claro que não! ─ respondeu outro reflexo ─ Esta é Eva Black.

─ Hahahahahahaha ─ gargalhava ainda outro reflexo ─ Me poupem! Esta é a pobre Eva Emburgo!

Eva estava começando a entender. Sentia-se mais confiante, pois era obvio que nenhum deles falava a verdade.

─ Mas que belos olhos roxos você tem! ─ Eva ia passando pelos espelhos ─ Não são roxos, são vermelhos! ─ Pareciam intermináveis ─ Você odeia seu irmão? ─ os reflexos vestiam roupas diferentes, tinham cabelos diferentes, pareciam mais velhas, mais novas ─ Você está morta, não está? ─ aquele reflexo havia dado arrepios em Eva ─ No Natal, sua família a estranhará.

─ Me estranhará, por quê? ─ Eva não se contera.

O reflexo se assustou. Era Eva mais velha, usava uma boina, seu cabelo estava na altura do queixo, parecia confiante, tinha um sorriso irônico.

─ Seja bem vinda! Eu sou o seu lado negro ─ Eva identificava um cordão no pescoço do reflexo ─ Não é bonito? ─ o reflexo segurava o pingente ─ É uma pétala da Lágrima de Maximillian ─ o reflexo sorria ─ Você não vai agüentar sua família no Natal, eles acham que você é apenas uma menininha. Mas você não é. EU NÃO SOU ─ gritava ─ fuja, fuja, FUJA!

─ Eva! ─ disse Aline ─ Você encontrou, este é o espelho da verdade. Venha conosco, a porta está aberta para você agora.

Eva andou o mais rápido que pôde, sem tirar os olhos da mulher elegante que estava no espelho. Com a boca aberta, mal pode contemplar novamente a beleza do portal, e quando se deu conta, já estava novamente em frente à sala onde ocorreu o clube de poções. Estava completamente suja e despenteada. Apenas seu estado a conscientizava e a fazia crer que fora real e não apenas um sonho.

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O campo de quadribol estava repleto de orvalho, o tempo já era frio e ventava bastante. Quem voasse por ali podia notar que a sala onde os jogadores se preparavam tinha uma luz acessa. E caso algum curioso se aproximasse poderia ouvir nitidamente vozes ansiosas e cúmplices e identificar a presença de alunos que não estavam exatamente onde deveriam estar.

─ Não, não tem desculpas! Não devia ter ouvido o quadro sozinha! ─ reclamava uma voz entusiasmada.

─ Não podia esperar! Não tenho culpa se vocês não podem entrar em meu salão comunal.

─ Não seja egoísta, Cellin!

─ Não fique bravo, Irvie!

Kail, com sua coruja no ombro apenas observava entediado a briga do casal de amigos. Estava com um pequeno quadro em mãos. Sentou-se em uma mesa oval, olhou atentamente o homem que estava no quadro e perguntou:

─ Sr. Vicker, o que foi que o senhor descobriu afinal?

Cellin e Irvine pararam imediatamente de brigar.

─ O jovem garoto bêbado, aquele que tem olheiras profundas.

─ Ulisses Apalache!─ respondeu Irvine, prontamente.

─ Exato! ─ disse o quadro ─ Tudo o que pude ver foi que este rapaz disse que o professor Ártemis Garner já estava incomodando os servos de Voldemort há muito tempo e que estava mais do que na hora de ele ser eliminado.

Cellin olhara para Irvine, aguardando sua reação. Kail levara a mão à boca, assustado. Irvine andava de um lado para o outro, sem parar.

─ Falem alguma coisa ─ exigiu Cellin, mexendo nervosamente em seus cabelos castanhos.

Irvine bateu violentamente com o punho na mesa, fazendo Kail pular instantaneamente.

─ Droga! O pior é que não temos como provar! Aquele assassino!

─ E Eva convivendo com eles tão próxima. ─ disse Kail, com um claro tom de preocupação ─ Temos que fazer alguma coisa, vamos falar com Dumbledore!

─ Não! ─ disse Cellin ─ Irvine está certo, não temos nenhuma prova. E ele brigou recentemente com Ulisses, seria muito fácil para ele se defender. Temos que contar ao meu tio o mais rápido possível, os aurores sempre têm um meio de encontrar provas ─ concluiu ela, confiante.

─ Sim, estes assassinos não permanecerão impunes ─ Irvine finalizara a reunião, apagando a luz e apontando para o relógio.






N/A: Gostaria de agradecer a todos que estão acompanhando a fic: Elenissima (que me apóia a um bom tempo), Lulu (que sempre me dá dicas do que gosta ou não), Jeanny (que escreve uma fic que eu estou gostando bastante!!), Kristina Gaunt (que escreve outra fic que eu estou gostando bastante), Aninha Evans C. (que escreve uma terceira fic que eu estou gostando bastante :) )....rs...

Obrigada a Deborah, M..., Bruna Moreira, Gabriel S. Black, Maria Clara, Sils, Gustavo Gallo, Alice, Phillip (meu amor), Jô, Gáh Blanchett, Black-chan [Julia Potter] !!!!

E obrigada tbm a todos aqueles que lêm e não deixam seus nomes marcados nos comments :D

Espero que gostem!!

Aliás, um agradecimento especial à Amanda, minha nova Beta!!


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