As serpentes voadoras





14- As serpentes voadoras


Eva não havia recebido respostas de seu pai. A única correspondência que chegou foi uma humilde carta de sua mãe, avisando-a que Augusto havia viajado, e a carta que ela mandara ainda o esperava em Stoneheaven.

O Profeta Diário noticiou que 32 pessoas morreram no ataque a Hogsmead. Contudo, o motivo ainda não havia sido constatado. Todos os atacantes conseguiram escapar, deixando mais uma vez a marca de Voldemort no céu e no interior de algumas lojas.

Duas semanas se passaram para que Hogwarts pudesse recuperar o ritmo habitual e superar o crescente pânico que se alastrava por todo o mundo bruxo. Porém, mesmo após 15 dias, o clima lúgubre persistia, em função dos alunos envolvidos no desastre e que acabaram por falecer.

O dia em questão era um sábado monótono, o tempo era seco, e o calor, insuportável. Como nas duas últimas semanas os professores “pegaram leve” nas aulas, não havia muitos deveres para serem feitos. Inclusive este era o sábado onde não haveria clube de poções. No entanto, algo quebrava a monotonia do tempo e da ausência de atividades. Algo que fazia quase todos os alunos, de todas as casas se vestirem de modo diferente, cantarem hinos inéditos e correrem de um lado para o outro carregando algum sortudo nos ombros e balançando bandeirinhas triangulares.

Seria o primeiro jogo de quadribol do ano.

No salão principal, os alunos tomavam café da manhã. Eva estava particularmente sem fome naquele dia. Nos últimos tempos suas conversam com Régulo se limitavam a “Bom dia, boa tarde e boa noite”. Com Kail não era muito diferente. Ela estava muito confusa e desnorteada. Evitava pensar no que havia acontecido em Hogsmead, mas tinha certeza de uma coisa: Não se arrependera do que fez.

Chega o correio, e, juntamente com o bando de corujas, estava Max. Ele pousava sobre a mesa, não com um pergaminho, mas com um pacote embrulhado em papel pardo. Eva libertava sua coruja da pesada carga e Max retribuía roubando-lhe um biscoito.

— Opa, opa! — Allana espantava Max, que já avançava para seu cálice de água.

— Isso é um presente?! — Aline Andrade se precipitava, pegando o pacote das mãos de Eva e rasgando o embrulho — Com sua licença.

Régulo, em meio ao assédio de seus fãs, observava Eva de longe, sem deixar que ela reparasse.

As gêmeas Andrade já estavam com o uniforme de quadribol. Elas eram batedoras, conforme a tradição dos irmãos gêmeos. Os cabelos cacheados estavam presos em um coque extremamente assimétrico. O único detalhe que diferenciava uma da outra, é que Allana usava um óculos gigantesco, escrito: “pertence ao apanhador da Lufa-lufa”.

— Pensei que fosse de comer... — Allana soltava um muxoxo, olhando para o presente que Eva recebera.

— Mas para que você quer uma máquina fotográfica?! — perguntou Aline, entregando a máquina a Eva e molhando um biscoito no chá, com a outra mão.

— Essa câmera pertence à minha irmã... Ela já deve ter sabido que precisarei de fotos para um trabalho de defesa contra as artes das trevas — Eva terminava de beber seu leite e levantava-se, com a mochila em uma mão e a câmera em outra.

— Santa Elektra! — comentava Philip, que estava sentado entre Aline e Régulo — Sempre te dando uma mãozinha... Como é bom ser irmã mais nova, não é?

— Não concordo... — Eva colocava a mochila nas costas — Os quartos maiores da casa sempre ficam para os mais velhos... Sendo que Peter e Saris nunca dormem em casa.

— Preferiria dormir no armário de vassouras a ter que ficar tomando conta da minha irmã — ele indicava com a cabeça uma garota baixinha, de rosto fino. A mesma que havia noticiado a Dumbledore a morte do professor Garner.

Eva ria, balançando a cabeça negativamente:

— Você cuida dela porque quer. Eu não me preocupo mais com meu irmão Christopher.

— Ele é um caso perdido! — bradava Allana — Lufa-lufa!! Se ao menos fosse Corvinal...

— Eva, você vai tirar as fotos agora?! — perguntou Philip.

— Sim, vou antes do jogo. Por que? Ainda não tirou suas fotos?

— Tirei, mas eu dei as minhas para Ulisses, preciso tirar novas — ele falava, meio sem jeito — Posso ir com você?

— Vamos — Eva sorria. Philip era um sonserino agradável, quase foi para Grifinória, se não fosse tão ambicioso como jogador... — Mas temos que ir logo, não quero ficar em um lugar muito longe da entrada dos jogadores.

Philip a seguia de perto. De costas, eles até podiam se passar por irmãos. Philip era quase da mesma altura que Eva, não era forte e possuía olhos azuis muito escuros. Não daria para se saber quando seria dia de jogo se dependesse dele, pois quase todos os dias em que não estava com o uniforme de Hogwarts, ele exibia suas variadas vestes de quadribol: Chudley Channons, Space Elementals, Scotich Union, etc. Mas hoje estava com seu singelo uniforme da Sonserina.

— Você tem conversado bastante com a Emily ultimamente? — Philip perguntou a Eva, quando finalmente haviam chegado ao quinto andar.

— Hum... É... Até que sim. Por quê?

— Sabe se ela está chateada comigo?!

— Chateada? — Ela estranha. Caminhavam no corredor iluminado pelas janelas colossais. Philip abria a porta da sala de música, dando passagem a Eva.

— Ah! — Ele coçava a cabeça, sem jeito — Então você não sabe... — Ele parecia constrangido. Fechava a porta, com cuidado — Bem... Emily se declarou para mim...

Eva, espantada, tirava a máquina da mochila e encarava Philip, esperando que ele prosseguisse:

— Sabe... A Emily é muito bonita, mas... Ela é muito diferente de mim. Todo aquele dinheiro... — Ele também tirava uma máquina, aproximava-se da mesa circular de dois andares, ao lado do piano, mirava e batia suas fotos.

— Eu desconfiava que ela fosse afim de você — Eva fazia o mesmo, pegava cada objeto em separado e depois fotografava-os em conjunto — Mas... Geralmente ela muda de namorado com freqüência, então...

A sala de música era ampla e confortável. As janelas, assim como no corredor adiante, eram largas e altas, aproximadamente uns quatro metros de altura.Os vidros eram retalhados em pequenas figuras geométricas da cor azul. Havia um imenso piano em mogno no canto esquerdo. À direta, uma pequena arquibancada era coberta por violinos, violoncelos e outros instrumentos de corda. Próximo à porta, havia um largo armário de portas envidraçadas, por onde se podia ver flautas, clarinetes, ocarinas e afins. Entre o piano e a arquibancada, estava a mesa circular que suportava os objetos de estudo de Eva e Philip. Exatamente iguais aos que estavam na mesa do professor Richard Goldsmith: havia bolas de vidro vermelhas, amarelas, violeta, havia objetos ovais, triangulares, quadrados, poliedros minúsculos e balões gigantescos. O azul das janelas peneirava a luz solar que entrava, dando ao ambiente uma iluminação anil suave e acolhedora. Os raios que passavam pelos objetos elementais eram refletidos como holofotes, desenhando estranhas figuras no chão e fazendo com que a sala lembrasse uma aurora recortada e transcrita exclusivamente para a colorida decoração da doce sala de música.

— Preciso tomar cuidado! — o garoto rompia o silêncio — Para que minha irmã não acabe seguindo o mesmo caminho que a Emily! — Philip pegava um cubo rosado e levava-o até a janela.

— Meline é nova ainda! — Eva observava os instrumentos no armário — Ela não namora com ninguém, não é?

— Não! — Philip pousava o cubo na mesa — Mas... Ela anda muito na companhia do Ulisses, sabe? — Ele se aproximava de Eva — Ulisses é meu amigo, eu gosto muito dele, mas eu não gosto da amizade que ele tem com a minha irmã.

— Entendo...

— Por favor, não comente isso que lhe disse com ninguém, ok? Nem mesmo com Régulo!

— Certo! — Eva sorria. “Ele não está falando comigo, mesmo”, pensava.

A porta da sala se abria, e por ela entravam o monitor da Grifinória e Susan, a amiga de Cellin. Os quatro trocaram um “oi” quase inaudível. Susan e Herbert voltaram-se para a mesa, a fim de fotografar os objetos. Eva e Philip fizeram questão de se retirar imediatamente, pois, além de serem da Grifinória, o casal ainda segurava bandeirinhas da Lufa-lufa.

— Acha que o Taylor tem alguma namorada?!

Philip ria:

— Bem... Sinceramente... Acho que ele não gosta muito de mulher! — Eles desciam as escadas, com a finalidade de sair do castelo. Porém a multidão era considerável, pois todos se dirigiam para o campo, neste momento.

“ Lufa-lufa, Lufa-lufa, naturais campeões

Sempre pela justiça lutam, e ganham com perfeição

Sem trapaças, sem tramóias, sempre em frente, com fervor

Das Serpentes Voadoras ganharão, sim Senhor”

A canção podia ser ouvida por qualquer canto do castelo. Era cantada por grifinórios e lufanos eufóricos. Até mesmo os diretores das casas se envolviam nas torcidas que rumavam para o campo de quadribol. O guarda-caças, o zelador, Otto Candle, Paul Cardiff, Minerva, Flitwick e até mesmo aqueles professores mais afastados, de matérias menos estudadas, como Oclumência, Adivinhações e Trato das criaturas mágicas caminhavam agora pelo jardim, para acompanhar a partida entre a casa de Salazar Sonserina e Helga Lufa-lufa. Quem estivesse agora na torre de astronomia, poderia admirar a multidão, como se fossem formiguinhas espalhafatosas e desalinhadas. Ainda faltavam alguns minutos para se iniciar a partida e até mesmo alguns pais e amigos chegavam ao castelo para se unir aos residentes no evento esportivo.

Eva se uniu aos seus companheiros, logo ao lado do local por onde entrariam os jogadores de sua casa. Sentou-se entre Jack Forestson e Taylor Partinkson, pois Philip e Régulo faziam parte do time, e estavam agora nos bastidores, preparando-se para a partida.

— Já terminei o dever... — Taylor se esforçava para conversar com Judith, em meio aos gritos dos torcedores ansiosos — Mas mesmo assim, não sei se vou ao clube de xadrez desta vez...

— Eu vou, quero ganhar do Ulisses novamente! Aquele trapaceiro — Judith ampliava sua voz com a varinha — A propósito, o que vocês acharam do novo professor?! — ela se virava para Eva e Jack.

— Sensacional — respondia Jack, de boca cheia.

— Hum... — Eva fazia uma careta — Nos encheu de trabalho...

— Pelo menos acredito que este não morre fácil, parece ágil — Judith sorria, fitando os colegas — Aliás... — acrescentava ela — Estive pensando e cheguei à conclusão de que somente um aluno poderia ter assassinado Garner.

— Impossível — Taylor encarava-a, falava em tom de escárnio — A monitoria no primeiro andar é severa, sempre tem algum monitor lá! Alguém teria visto o assassino!

Todos tiravam os olhos de Taylor, para prestar atenção na voz estridente que dominava toda a extensão do campo:

— Em fim, o primeiro jogo ano! — gritava a voz, seguida por gritos e aplausos de aprovação, que vinham de todas as arquibancadas — A novidade é que eu, Charles Lewis, sou o novo locutor — Apenas a arquibancada da Corvinal aplaudia — E também teremos um novo juiz — sua voz era exageradamente animada — O professor...

“Richard Goldsmith”

O mestre de defesa contra as artes das trevas entrava no campo, acenando para os espectadores e segurando o pomo de ouro na mão direita.

— E olha lá eles chegando — o locutor apontava para os jogadores da Sonserina, que surgiam ao lado da arquibancada onde Eva estava sentada. Ela esperou para que Régulo segurasse em sua mão, como habitualmente fazia, mas este passou direto, sem ao menos encarar os torcedores que gritavam seu nome — O capitão Ulisses Apalache, seguido pelos outros dois artilheiros, Philip Greenhouse e Régulo Black... Milene Greenhouse, a goleira, Aline Andrade e Allana Andrade, as batedoras, e a novidade do ano... A nova apanhadora... Sue Ellen Flaubert!

— Polpe-nos de explicações — Judith criticava o locutor, sussurrando para Taylor.

Sue Ellen Flaubert possuía um rosto feminino, porém extremamente hostil. Ela entrava por último, puxando uma bandeira decorativa e jogando para a torcida frenética. O professor Cardiff, diretor da Sonserina, sorria satisfeito de seu acento discreto, enquanto que Alvo Dumbledore analisava a aluna, com cautela.

— É estranha a quantidade de irmãos no time, não?! — o primeiro mau comentário do locutor, que recebia sua resposta quase que instantaneamente. Ulisses avançava para o local onde Charles estava. O menino abaixou-se, abraçado ao microfone, quando Apalache finalmente desviou, escapando por um fio de derrubar o locutor arquibancada a baixo.

— Sem contestações a respeito da forma como dirijo meu time... Novato — Ulisses virava-se e voltava a voar tranqüilamente pelo campo.

Poucos haviam entendido a discussão, mas a verdade era que a família Apalache mantinha o monopólio do time a anos, mantendo sempre os mesmos sobrenomes nos integrantes. Aparentemente, todos podiam participar dos testes, mas a realidade era outra... E ai de quem se metesse na tradição da casa!

— E vamos aos jogadores da Lufa-lufa! — Charles recuperava o fôlego — O capitão Irvine Lifford e o outro batedor Cilas MacAndrew. No gol... Robie Turner... Os artilheiros Marvin Doyle, Ann Hilton e Clemence Lionel… E finalmente o apanhador... Kail Nesbit!

A torcida da Lufa-lufa vibrava. Christopher Rookwood lá estava, balançando sua bandeirinha e sorrindo para os jogadores, buscando chamar-lhes a atenção.

Os balaços foram libertados... Richard cumprimentava os capitães... Os jogadores se encontravam em suas posições, e... O pomo tomava os ares!

— E tem início a partida!! — gritava Charles — Me parece que os dois apanhadores estão emparelhados... Injusto com Nesbit, se eu fosse ele preferiria olhar para Sue Ellen — Mas o que ela está fazendo?!

— O que é que ela está fazendo?! — Irvine rebatia o balaço e estreitava os olhos, fitando Sue Ellen.

— Está encrencado! — Ulisses passava raspando, ao seu lado.

— Me parece que a situação se reverteu! É Sue quem prefere ver Kail... Ela está... Girando em volta dele sem parar... — O locutor, não acreditando no que via, se apoiava no parapeito, para observar melhor — Mas que velocidade! Nesbit está preso! Se ele se mover, pode jogar a garota longe!

— Isso não é trapaça?! — Jack virava-se para Judith.

— Na verdade... Não é não! — ela ria — Ulisses é péssimo no xadrez, mas tenho que admitir que esta idéia é genial... Lufa-lufa não pode pegar o pomo! Ela tem vantagem agora!!

— Ora, ora... Mas enquanto Sue gira loucamente em torno de Kail, Marvin rouba a goles de Black e ruma livre para os aros... Meline se posiciona em frente ao aro central, Marvin passa a goles para Ann, que voa em direção ao aro esquerdo. Meline agora circula os aros, Ulisses tenta tomar a goles de Ann, mas ela repassa para Marvin e... Dez pontos para Lufa-Lufa!!! — a torcida gritava o nome de Marvin Doyle — Ele marcou no aro central!!

“Mas é inacreditável... Marvin já tem a posse da goles novamente, e me parece que Clemence ainda não conseguiu se libertar dos ataques constantes das batedoras da Sonserina!! Enquanto elas concentram fogo apenas em Clemence Lionel, Marvin e Ann continuam dando um show frente ao gol de Meline... A dupla se prepara novamente, eles passam a goles um para o outro... Ann voa por baixo de Régulo, deixando-o tonto, e passa a goles para Marvin que lança de longe... E... É atingido por um balaço de Allana!! Mas foi gol!! Mais dez pontos para a Lufa-lufa!!!”

Irvine não conseguia se concentrar no jogo. Sua mente buscava lembrar de todas as regras de quadribol... Deveria haver um jeito... Alguém vai acabar sendo ferido se Sue Ellen não parar com esta loucura:

— Professor Cardiff — gritava ele — Isso é injusto, Sue Ellen está prejudicando meu apanhador!!

Ulisses pousava ao seu lado:

— Nada disso! — ele encarava Irvine ameaçadoramente — Não existem regras que restringem esse tipo de ofensiva.

Richard apenas estendia os braços, como quem diz “Não posso fazer nada, ele tem razão”.

Eva, juntamente com a turma da Sonserina e Corvinal, aplaudia a apanhadora. Ela, analisava a garota com uma certa particularidade... Sue Ellen... Flaubert...

Régulo e Aline, acima de todos, tocavam as mãos, em comemoração ao triunfo sobre o apanhador. Preparavam-se para a virada triunfal...

— Finalmente a goles volta para mãos sonserinas... Greenhouse voa direto para o goleiro lufano, enquanto que Régulo e Ulisses dão cobertura, atraindo os balaços de Irvine e avançando para os artilheiros adversários! É isso ai!! Philip marca 10 pontos para Sonserina!! 20 a dez para a Lufa-lufa!

Kail se encontrava em uma situação de completo risco, estava parado e completamente inutilizado. Sue voava a toda velocidade ao seu redor. Mal se via o rosto da garota, podia-se ver apenas um borrão verde circular, como se fosse o anel de um planeta. E o pior é que a garota não se cansava nunca!! Alvo Dumbledore franzia o cenho. Minerva parecia estar inquieta a tal ponto de querer interferir na partida...

— Paciência, professora... Paciência... — o diretor acalmava Minerva.

Se Kail se movesse poderia se machucar e machucar Sue também... Mas tinha que arriscar...

— Olhem aquilo! Me parece que Kail Nesbit conseguiu se libertar!! — o locutor quase caía da arquibancada de ansiedade.

— Desgraçado!! — Régulo gritava, entre dentes — Como foi que ele conseguiu?!

Kail tentava chegar ao alto, para se garantir que Sue não mais fosse prende-lo, mas alguma coisa o atingiu em cheio... Ou teria sido alguém?

— Eu não acredito que Régulo fez isso! — queixava-se Taylor, a Judith — Que imbecil, não tem juízo, agora é falta!!

Eva contemplava a cena, com os nervos a flor da pele. Sabia que Régulo havia derrubado Kail não por ele ter se libertado... Era uma forma de denunciar a raiva que havia sentido quando viu que fora ele quem acompanhava Eva em Hogsmead... Ela só não sabia se sentia-se feliz pela atitude de Régulo, ou triste pelo golpe que Kail havia levado, sem merecer...

— E é falta para a Lufa-lufa — anunciava Charles — E me parece que quem irá cobrar é Ann!!

Eva agora podia ver Sue com perfeição. Ela era mais nova do que imaginava. O rosto esperto e malvado sorria para as arquibancadas sonserinas, repletas de faces raivosas. Sue sobrevoava os aros, sem se preocupar muito com a falta que seria cobrada. Ela denotava confiança, não em Meline, a goleira, mas em si própria. Seu olhar era brilhante, como se o pomo já estivesse seguro em suas mãos. Estava agora sentada de pernas cruzadas na vassoura, os cotovelos apoiados no cabo e a cabeça segura pelas mãos... Encarava a artilheira lufana com um olhar de desdém.

— E atenção! — recomeçava Lewis — Ann se prepara para marcar a falta. Meline assume sua posição! Ann desata a voar, parece que irá tentar no aro direito... Ela freia e lança!! Mais dez pontos para Lufa-lufa! Essa foi por pouco!!

— Ahhhhhhh — a platéia sonserina expressava seu desgosto.

Grifinória e Lufa-lufa recomeçava a cantar a música em favor do time de Irvine. Kail, já recuperado do golpe que recebera de Black, agora abraçava Ann e incentivava seus amigos a cantar mais alto.

O jogo recomeçava. A ofensiva era de Sonserina. O time formava um “S” no ar, que lembrava realmente uma serpente. No meio estava Philip, com a posse da goles. À sua frente, havia Régulo, que ameaçava com seu próprio corpo qualquer um que tentasse roubar a goles de seu amigo, assim como Ulisses, que ficava atrás de Philip. Ao lado direito de Régulo vinha Aline, com o bastão preparado para rebater qualquer balaço destinado aos artilheiros. E também Allana, que ficava à esquerda de Ulisses.

— Impressionante!! — Charles comentava, quase sem fôlego!

— Não precisa manifestar a sua opinião, imbecil! Restrinja-se à narração do jogo — Cardiff sentava-se ao lado do locutor, para poder acompanhar melhor a partida.

— A Sonserina contra-ataca em uma linda exibição da mascote da casa em pleno ar... Impossibilitados de lançar os balaços nos artilheiros, Irvine e Cilas ficam na cola de Sue... Ela mergulha em uma queda vertical — o tom agora era infinitamente empolgado — Ela atravessa a formação da Serpente Voadora e quase se enterra no gramado... Mas ressurge... Acho que o capitão não gostou muito dessa... Ou será que... Não! Aposto que adorou!... Sue Ellen pegou o pomo! A vitória é de Sonserina!

Luzes verdes e fagulhas azuis emanavam de centenas de varinhas voltadas para o céu. A gritaria era geral...

Emily, Estephanie, e até mesmo a intelectual Judith pulavam da arquibancada para descer ao campo e cumprimentar os jogadores. Eva mantinha-se acuada, por mais que tivesse vontade de abraçar Régulo, não sabia como seria recebida. Além de ainda estar sentida pelo golpe que Kail levara. Não é possível que eu esteja relevando os sentimentos dele. Ela pensava.

— Hihihi — zombava Ulisses, que planava ao lado de Irvine — Não foi desta vez, meu caro. Dizem que o sangue trouxa acaba por influenciar no talento de um jogador...

— Por que não para de meditar a respeito do talento alheio e se concentra em lembrar quais foram as últimas palavras do nosso querido professor Garner — Irvine encarava a carranca feia de Ulisses — Seria muito útil para o Ministério.

Ulisses pulava da vassoura, em meio a uma ira incontrolável:

— Sangue ruim miserável — ele tirava a varinha de sua capa e apontava para Irvine — Petrificus Eternum!

— Protego — retrucava Lifford, após sacar a varinha rapidamente e saltar também de sua vassoura — Estupefaça!

— Expelliarmus — Judith protegia Ulisses, que fora pego de surpresa pelo inesperado ataque de Irvine.

— Parem já com isso! — Cardiff chegava correndo, recolhia a varinha de Irvine do chão e encarava os rapazes com um olhar fuzilante — Sr. Apalache, será que não consegue se controlar? Não ficou satisfeito por garantir uns pontos a mais com a vitória e já quer perde-los? — Ulisses fazia menção de responder, mas Cardiff fazia sinal para que ele permanecesse calado — Pois então, conseguiu! 50 pontos serão tirados de Sonserina, infelizmente! — agora voltava seu olhar para Irvine — Quanto ao sr., sr. Lifford... Um dos alunos mais elogiados do sétimo ano... Acaba de perder 50 pontos para Lufa-lufa também...

Os rapazes mantinham seus rostos virados para o chão, enquanto todas as arquibancadas, agora em silêncio, acompanhavam a conclusão do espetáculo que havia sido aquele pequeno duelo.

— E tem mais! — Cardiff acrescentava — Detenção! — ele arregalava os olhos.

Ulisses e Irvine se fitavam, com uma careta que dizia claramente: Não acredito que ficarei em detenção com você!

O desprezo era mútuo.

A derrota parecia não ter afetado muito o humor de Irvine. Assim que se libertou dos sermões de Paul Cardiff, ele se dirigiu aos porões, onde se localizava o salão comunal da Lufa-lufa e tomou uma longa ducha gelada. Vestiu-se e foi ao encontro de sua namorada, a única coisa que realmente alterava seu humor:

— Tem idéia de onde fica o salão comunal da Sonserina?! — Ele perguntava a Cellin, em seu ouvido, com os braços firmes na cintura da garota e um sorriso evidente nos lábios.

— Nãaaaaao — ela respondia, fazendo careta — Vamos soltar meu gatinho perto da sala de poções... Não deve ser longe, não é?!

— Hum... O seu salão comunal fica perto da sala da MacGonnagal?

— Está, por acaso, tentando descobrir onde fica o meu salão comunal?!

— Não... Estou apenas testando o seu argumento — mentia ele.

— Sei! — respondia ela, irônica — Para a sua informação... A sala da Minerva fica no primeiro andar... E eu não subo aquele monte de escadarias só para despistá-lo, sr. Irvine Lester Lifford!

— Ahn… Quer dizer que seu salão comunal fica em alguma torre?!

— Eu não quis dizer nada — ela retrucava, denunciando-se — Mudando de assunto! Que coisa mais feia! Duelando em pleno campo de quadribol!!

— Aquele preconceituoso! Ele quem começou!

— Não seja infantil — bronqueava ela — Devia ter ignorado! Agora pegou uma detenção, além de ter conquistado a antipatia do professor Cardiff! — Cellin abraçava o gato que estava em seus braços.

— E acabei é ferrando com os pontos da minha casa — ele soltava um muxoxo — Agora Corvinal está na frente.

— E Grifinória em segundo lugar — ela sorria, dando um provocante selinho em Irvine — Não seja bobo, sabe que se Lufa-lufa estava ganhando, com certeza era em parte por sua causa! Você recupera estes pontos rapidinho...

— Estou ouvindo passos? — ele pegava o gato que estava nas mãos de Cellin e encostava-se na parede de um corredor escuro — Venha — sussurrava — Pendure o quadro no pescoço do Alvo, rápido!

Uma gritaria desafinada se aproximava pelo corredor vizinho. Sombras gigantescas podiam ser vistas de onde o casal se escondia:

— Não! Não é o sétimo ano! São calouros — ela apontava, amarrando um pequeno retrato oval no pescoço de Alvo com a outra mão — Bem... A Eva ainda não está falando completamente comigo... Mas o amuleto vai dar uma mãozinha... Sem dúvidas ela vai recolher o Alvinho...

— Esse amuleto me dá arrepios... Parece mais um artefato das trevas...

— Credo, Irvie — Exclamava ela — Que horror!! Não fale assim... Está muito enganado!

— Só estava brincando — ele observava os calouros, que pareciam desaparecer na escuridão — Sei que se veio de você, só pode ser coisa boa... — ele sorria — Mas... Me explique como funciona, exatamente.

— É simples... Na verdade é um medalhão em forma de asa... Existe a minha, que é esta que fica no meu pescoço — ela puxava do decote comportado uma correntinha prateada, que segurava o pingente cor-de-rosa — E a da Eva... Funciona como um contrato mágico... Não pode ser quebrado, apenas passado para outra pessoa...

— E em que consiste esse contrato? — Ele sentava-se no chão.

— Basicamente... Na amizade eterna, na verdade absoluta e na repulsão aos maus impulsos... Eu dei este amuleto a Eva quando voltamos a Hogwarts, no segundo ano... No final do primeiro ano ela fez uma tentativa frustrada de me apresentar aos Rookwood... Mas Jane Rookwood quase me atacou quando descobriu que meus pais eram trouxas...

— Maus impulsos?!

— Más influências... — explicou ela.

— Acho que não funciona — brincava ele — Como se Black não fosse má influência... E Elektra Rookwood, e... Como é mesmo... Julietta Gallo?

— Não me refiro a este tipo de impulso... Refiro-me a magias negras... Como por exemplo... O feitiço imperius...

— Sério?! — ele parecia impressionado — Inacreditável!

— Mas não é forte o bastante para combater certas coisas... — ela estava pensativa.

— Como o quê, por exemplo?

— Como uma poção dos sonhos, por exemplo! — ele franzia o cenho — Como rosas negras malucas que podem transformar ódio em magia e magia em ódio!

— Agora! — ele soltava o gato, ao reconhecer a silhueta de Eva se aproximando, ladeada por Taylor e Philip.

Alvo avançava para o meio do corredor, miando agudamente, enquanto Irvine e Cellin se afastavam de mansinho.

Eva estava prestes a dobrar o corredor, quando sentiu alguma coisa suave roçar em suas pernas. Ela parou de caminhar, fitou o gato branquinho e pegou-o no colo:

— Mas o que você está fazendo aqui?— ela acariciava o pescoço do gatinho — Fugiu do salão comunal, é?! — ela afinava sua voz, como se estivesse dirigindo-se a um bebê recém-nascido.

— Que gato bonito! — Philip se aproximava — De quem é?

— Não venha com esta coisa para perto de mim, eu sou alérgico — Taylor tomava distância.

— Cellin Vicker... — ela agora apertava o amuleto, com a mão livre — Eu vou leva-lo comigo... Direi que é de alguém da Corvinal... Philip, eu sei que não vai desmentir... E Taylor, se disser a verdade, eu coloco ele na sua cama a noite!

— Tudo bem — apoiava Philip...

Os três entraram no salão. Eva deixara Alvo no seu dormitório, em baixo de sua cama, sobre um confortável vestido de inverno. Após tomar banho, ela recolheu as fotos que havia tirado de manhã e fora para a escrivaninha comum para selecionar as que colocaria em seu trabalho.

Não muito tempo depois, um coração alado de papel pousou sobre o pergaminho onde o rascunho de seu relatório estava escrito. Sem conter o riso, Eva recolheu o origami enfeitiçado e abriu-o. Nele havia a seguinte mensagem:

“Não vai me parabenizar pelo jogo?”.

Ela virou para trás e seu olhar se cruzou com o de Régulo, que estava sentado confortavelmente em uma poltrona isolada, em frente à lareira. Ela largou seus materiais como estavam e foi para perto dele, com uma certa timidez:

— Achei que estivesse chateado comigo... — iniciou ela.

— Não consigo ficar chateado com você por muito tempo... Acho que alguém tem me dado uma poção do amor, sem que eu perceba...

Ela ria, abertamente.

— Ah! Levaram a outra poltrona que estava aqui... Esses baderneiros! — ele lançara um olhar de esguelha a Philip, que dançava sobre uma poltrona idêntica à dele, a alguns metros de distância.

— Não tem problema, eu fico em pé.

— Seria uma falta de cavalheirismo de minha parte... — Ele se apertava em um canto — Senta aqui ao meu lado... É apertado, mas cabe... Só não levanto porque estou só o pó...

— O jogo nem durou muito! — ela o encarava, com descrença — Você é que fica fazendo charme!

— Ei! Minhas costas doem!!! Você deveria ser boazinha e fazer uma massagem para mim... — Ele agora debruçava-se sobre ela, esticando as pernas sobre o encosto da poltrona. Estava praticamente deitado.

— Ok, Ok... — ela respondia, com um muxoxo. Esticou os braços para os ombros dele, apertando-os em movimentos circulares.

— Não estou sentindo nada... — ele reclamava — Põe força nas mãos!!

Ela cruzava os braços:

— Além de fazer, você ainda reclama! Folgado!

Ele se levantava:

— Deixe-me mostrar como um mestre faz!! — desta vez era ele quem estendia os braços para os ombros dela, após erguer as mangas da camisa e estalar os dedos, com um olhar de superioridade.

Ele apertava com uma certa força os músculos tensos da garota, com um toque de carinho. A sensação era extremamente relaxante e confortável. Em poucos minutos, ela havia inclusive esquecido que se encontrava no tenso salão comunal pós-vitória de quadribol. As gritarias cessaram. Só podia sentir as fortes mãos de Régulo a acariciarem seu pescoço. Ele aproximava seu rosto do dela, com suavidade. Ela podia sentir sua respiração quente, os lábios agora tocavam seu queixo...

— Régulo? Trouxe um wisky de fogo para você! — uma voz engrolada quebrava o momento romântico.

— O que? — ele perguntava, desnorteado e irritado.

— Só quero brindar! Tradição, rapaz! — Ulisses parecia já estar para lá de Bagdá...

— Ah... Claro... — ele pegava o cálice, sorrindo sem graça para Eva, que não conseguia parar de rir da situação.

— Um brinde às serpentes voadoras — Ulisses erguia à taça.

— Um brinde às serpentes voadoras — repetiam os baderneiros.

Aquela cena havia lembrado a Eva o último jantar que tivera na mansão Gallo... “Um brinde à nova família seguidora”.... Nova família seguidora... O que será que Michelangelo queria dizer com aquilo...?

— O que havia na carta que você recebeu com urgência? — Régulo perguntava a Ulisses...

— Minha irmã se deu mal, cara...Hic...— ele soluçava — Ela levou o fantasma que assombra a minha casa para uma festa trouxa de Halloween...Hic... O Ministério pegou pesado com ela desta vez... — Ele virava-se para os malucos que dançavam sem parar — Temos que brindar ao fracassado do Irvine Lifford...Hic... Aquele escroto!

Eva reparara que o gato de Cellin havia saído de seu dormitório. Iria logo pega-lo antes que alguém reparasse. Mas primeiro teria que se despedir de Régulo, para evitar que ele a pegasse de surpresa em seu dormitório novamente. Mal sabia ela que Alvo não ficaria em seu quarto por muito tempo, pois este seguia de perto cada passo que Ulisses dava, além de manter-se bem longe dos olhares de sonserinos desavisados.

— A propósito... Antes que eu me esqueça... Por que foi a Hogsmead com aquele sangue-ruim?!

— Gosto dele... — ela mexia em uma mecha de seu cabelo.

— Ah!... Então você... Gosta dele? — perguntava Régulo, sarcástico.

— Não seja bobo! Só não consegui me desfazer do convite, foi isso!

— Hum! — Ele escondia sua raiva através de um tom desconfiado.

— Vou dormir! — ela sorria, esperando que ele sorrisse também.

— Malvada! Está fugindo de mim!

— Não é verdade... Estou realmente com sono!

— Ok... Não vai conseguir escapar por muito tempo... — ele virava as costas — Sonhe comigo! — e se retirava, juntando-se aos baderneiros, que já estavam a ponto de fazer um strip sobre a poltrona.

Eva se retirou sorridente, foi para seu dormitório, onde Judith e Estephanie já dormiam. Pegou o seu diário, e:

— Lumus — sussurrou.

“Querido diário,

Ganhamos! Acabamos com a Lufa-lufa em uma placar de 160 a trinta. Graças a Sue Ellen, a nova apanhadora. Confesso que não a conheço. Ela é do terceiro ano, apesar de parecer ser mais velha do que eu... Esta garota me intriga... O sobrenome dela é o mesmo de Maximillian... Flaubert... Será possível que ela seja sua descendente?

Andei observando-a, ela me parece ser normal, a não ser por aquele olhar de superioridade. Merecido, por sinal... Ela é bonita e popular, além de ser uma ótima jogadora... Espero que Régulo não concorde comigo...

Quase nos beijamos hoje no salão comunal... Foi tão natural... Nem acreditei... Se não fosse o bêbado do Ulisses... Aliás... Philip que se cuide, por que tenho certeza de que Meline não escapa dele... Pobre Judith (ela está roncando aqui do lado , neste exato momento), ela disfarça, disfarça, mas sei que ela tem uma quedinha por ele...

Essa não! Me esqueci do gato da Cellin... Bem, acho que ela perdeu o Alvo por ai, e ele acabou por cair nas minhas mãos...Ele está no salão comunal agora, preciso pega-lo...”


N.A: Eu gostaria de agradescer àqueles que estão acompanhando a fic. Principalmente à Allana, Pedro e Elena P. Krum.
E existe um comentário especial o qual eu gostei muito, foi o de Nohara Tonks. Obrigada! As gêmeas logo chegarão, a final esta fic foi feita para elas!!

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