Uma lembrança de Natal



Apesar de esperarem pelo pior, Krum melhorou algumas horas depois e não quis denunciar Hermione dizendo à Madame Pomfrey que apenas batera a cabeça. Harry temeu por Hermione depois disso, mas Krum nunca mais foi agressivo com ela. Ele havia finalmente entendido que Mione não era realmente a garotinha indefesa que parecia. Os dias foram passando e se transformando em semanas e as semanas transformaram-se em um mês, quando o inverno chegou para eles.
As flores das árvores foram dando lugar à neve fofa e alva. Agora, o telhado de Hogwarts estava completamente branco, completando uma paisagem maravilhosa.
Havia ainda o lago. Com a água congelada e os arbustos ao seu redor cobertos pela neve, a paisagem ali era mais do que maravilhosa, era mágica... e romântica. Numa das noites, Harry saiu para contemplar o lago. Ali perto, encostados numa das árvores, Harry e Hermione se beijaram há um ano atrás numa noite inebriante. Um noite de alegria... seguida pelos piores momentos que os dois já viveram.
Harry ficou muito tempo ali, esperando que Hermione aparecesse, pois sabia que ela amava aquele lugar, mas ela não apareceu.
Harry repetiu aquele gesto dia após dia, até que o natal chegou.

Com a aproximação do natal, Hogwarts estava em polvorosa. Dumbledore não quis fazer nenhum baile, fazendo apenas um jantar especial de natal, uma semana antes, já que muitos estudantes passariam o natal em casa.
Hermione estava radiante naquele dia. Estava contente por Krum finalmente ter dado uma trégua e feliz por estar com Rony e Harry naquela noite especial.
Tudo transcorria maravilhosamente bem para Harry quando a porta do salão principal se abriu e Percy Weasley entrou esbaforido, correndo em direção à Krum.
Harry apurou os ouvidos para ver se escutava alguma coisa, mas Percy apenas cochichou nos ouvidos de Krum. Krum e Harry se estreolharam e, neste momento, o rapaz viu o medo refletido nos olhos do Ministro da Magia.
Krum levantou-se e cochichou algo no ouvido de Dumbledore e os dois se levantaram e seguiram Percy pelo corredor de volta.
Krum parou exatamente onde Harry estava e, com os dentes serrilhados, falou:
- Sr. Potter, poderia vir conosco, por favor! – disse Krum, num tom forçadamente polido.
Sob os olhares e burburios dos outros alunos, Harry se levantou e seguiu a Percy, Krum e Dumbledore até o gabinete geral do Ministro da Magia.
- Os comensais estão pressionando! Mandaram-me uma carta nos ameaçando! – disse Krum para Dumbledore e Harry (Percy já havia saído). – Eles querem Hermione, ou vão atacar Londres. Os gigantes vão atacar os trouxas montados em Dragões. Vai ser o fim de nosso mundo. Haverá pânico e muitos irão morrer se não lhes dermos o que querem.
- Ah! Você não está pensando em entregar Hermione numa bandeja de prata, está? – perguntou Harry, decepcionado com Krum.
- E eu tenho escolha, Potter? – disse Krum – Diga: eu tenho escolha?
- Teremos que entregar Hermione! – disse Dumbledore que tinha uma expressão mórbida no rosto, para total estarrecimento de Harry. – Não podemos deixar os trouxas entrarem em pânico. Eles podem ser limitados, mas tem muitas coisas que podem fazer um grande estrago em nosso mundo. Não os quero usando bombas atômicas e nem usando armas biológicas para acabar com bruxos, criaturas mágicas, gigantes e Dragões.
- MAS NÃO PODEMOS ENTREGAR HERMIONE, ASSIM! – Harry gritou, sem acreditar no que ouvia.
- Harry! – disse Dumbledore, com paciência, num tom ameno – Eu sei como se sente, mas eu não acho que eles machucarão Hermione. Talvez ela fique bem. E assim, ganharemos tempo.
- Não! Eu não aceito isso! – disse Harry olhando para Krum – Ataque! Ataque, antes que os malditos Comensais achem que podem nos dominar. Se entregar Hermione assim, eles vão pensar que estamos fracos e que não podemos resistir. Aí sim, será o nosso fim.
- Ele tem certa razão, Victor! – disse Dumbledore, repensando.
- Vocês estão loucos? – disse Krum. – Não podemos atacar. Não temos nem um Ministério, que dirá Aurores! Nós estamos mesmo fracos e se tentarmos resistir, morreremos todos de uma vez.
- Não, se eles não souberem que iremos resistir! – disse Harry, enquanto sua cabeça trabalhava a mil – Mande-lhes uma carta, dizendo que concordamos em entregar Hermione. Marque um ponto e os atacaremos então.
- Isso não vai dar certo! – Krum retrucou.
- Pode dar! – exclamou Harry. – Olha. Nós ganhamos a batalha no ano passado, pois Voldemort não achou que eu usaria os estudantes na batalha... eu o surpreendi. Por isso ele perdeu. Além do mais, ele não sabia que possuíamos uma arma secreta.
- Que arma? – Krum perguntou, um pouco confuso.
- Você mesmo já provou dessa arma! – disse Harry, arqueando as sombrancelhas e disfarçando um sorriso no canto dos lábios.
- HERMIO-NI-NE! – disse Krum, seu rosto sendo iluminado pela possibilidade da vitória.
- Hermione se transformou numa exímia legitimens. – disse Dumbledore. – Sim, é uma chance. Podemos tentar.
- Sim, sim! – disse Krum, concordando. – Mas... usaremos estudantes?
- Não! – disse Harry, antes que Dumbledore pudesse dizer algo. – Iremos apenas com os aurores. Se formos ao encontro dos Comensais com estudantes, eles saberão que iremos resistir.
- Certo! Eu prepararei tudo! – disse Krum. – Prepare Hermio-ni-ne. Cuide dela, Potter.
Krum nem precisaria dar esse conselho. Faria o que tivesse que fazer para salvar a vida de Mione.


Harry voltou ao salão principal depois da conversa com Krum e Dumbledore. Rony e Hermione já haviam partido para as aulas de Poções com o Professor Snape.
Snape não perdeu a oportunidade de chacotear com Harry por ele ter se atrasado novamente:
- De novo. Potter, eh? – disse Snape, erguendo ainda mais seu nariz torno e arrogante. – Espero que tenha, ao menos, feito a redação sobre poções DIMENTOR.
“Opa? Redação?”, pensou Harry, tentando achar uma desculpa rapidamente.
- Eh, bem... professor... será que eu posso falar com o senhor só por um minuto? Em particular... – acrescentou Harry quando viu que Snape não tinha intenção de conversar.
- Está bem, Potter! – disse o professor, irritado – Venha ao meu escritório.
O escritório de Snape ficava no final de sua sala de aula. Era ali também que ele mantinha seu grande estoque, de onde Hermione roubara araramboia e outras coisas para fazer a poção polissuco cinco anos atrás.
- Fale! O que é? – perguntou Snape. – Se me trouxe aqui, apenas para dizer que não fez a redação eu juro que...
- É por outro motivo, professor! – disse Harry, dizendo uma meia-verdade. É claro que a conversa com o professor poderia ter ficado para o final da aula, mas era também um ótimo motivo para a falta de sua redação. – Preciso de sua ajuda!
- Fale! – continuou o professor.
- Preciso que entre em contato com a Ordem. Dumbledore não poderá ir até Grimmald pois estará ocupado com os aurores do Minitério. Eu quero que entre em contato com Lupin, Tonks, Moody, Schakebolt e os outros.
- Por que? – disse o professor, expressando o medo. – O que aconteceu? Meu Deus, não é um outro ataque a Hogwarts, é?
- Não! Ao contrário – disse Harry. – Vamos atacar os Comensais!
- Atacar os Comensais? Em nossas condições? Isso é suicídio! Está certo que Aquele-que-não... VOLDEMORT está morto (acrescentou Snape quando viu a cara de Harry), mas isso não é motivo para sairmos atacando os comensais. Eles se reproduziram durante as férias, Potter! Eu sei disso, pois sou um espião de Dumbledore. Eu não sei se você sabe, mas existe uma profecia que...
- Eu já soube da profecia!
- Pois bem! Essa profecia... que menciona sua amiga Granger... deu muita força aos comensais. Eles aproveitaram para fazer novas alianças. Veja! V-voldemort queria um ataque rápido e não utilizou tudo o que tinha, mas os comensais estão mais prudentes agora... e vão utilizar tudo o que tem: GIGANTES, DEMENTADORES, DUENDES, DRAGÕES... E outras tantas criaturas.
- Já estou sabendo disso também, professor, mas assim mesmo atacaremos. – disse Harry, tentando por um fim a discussão, fazendo menção em deixar a sala.
- E quem é você para decidir isso? – perguntou Snape, com irritação.
Harry virou-se para o professor.
- O senhor nunca gostou de mim, não é mesmo?
- Eu tenho os meus motivos!
- Está bem! Pode não gostar de mim, mas eu não decidi isso apenas porque me deu vontade. Eu decidi isso porque é a única coisa que podemos fazer agora. Os comensais querem Hermione e eu não estou afim de entregá-la de mão beijada. Não depois de ela ter se sacrificado por mim.
- Esse é o problema das mulheres dos Potters! – resmungou Snape, mas Harry escutou.
- O que disse?
- Nada!
- Agora vai ter que falar! – disse Harry, aproximando-se do professor.
- Que se dane! Você já é bem grandinho para eu te proteger da verdade. Lily sempre se sacrificou por James. Eu queria me casar com ela.... e se assim eu o fizesse, talvez ela estivesse viva hoje, por que Potter era orgulhoso demais para pedir ajuda quando se viu encurralado pelo Lord das Trevas e ela era cega de amor pelo petulante do seu pai! Ela se sacrificou por ele! Maldito seja! Sua mãe está morta por causa do seu pai... e se não se afastar de Hermione, é o mesmo destino que ela terá!
O silencio se abateu sobre o escritório de Snape quando ele cuspiu a última palavra. Harry sentiu o corpo todo retesado e sentia muito o impulso de socar o professor, mas se conteve. Mas ele não se conteve simplesmente porque Snape era seu professor e Harry lhe devia respeito, mas se conteve porque havia uma vozinha... lá no fundo da sua consciência que lhe dizia que Severo tinha razão.
Triste e abatido, Harry girou nos calcanhares e abandonou a sala.


O natal em Grimmauld Place foi tranqüilo e triste para Harry. Ele não revelou a Hermione a verdade, nem mesmo a Malfoy, Rony, Gina e o restante dos Weasleys, com exceção do Sr. E Sra. Weasleys, é claro. Assim todos se divertiram bastante na véspera e o no dia de natal. Harry é claro ficou em silêncio a maior parte do tempo, preocupado com a missão e remoendo o que Snape lhe dissera, e por mais que refletisse, não sabia o que mais lhe doía.
Krum manteve-se afastado e só veio para Grimmauld Place no dia de natal a noite, afinal, a troca entre os Comensais e o Ministro ocorreria naquela noite, meia noite em ponto.
Faltava meia hora para a meia noite quando Harry entrou em seu quarto para se preparar. Ele queria ficar um pouco sozinho para se concentrar, mas seus planos foram quebrados quando escutou alguém bater à porta.
- Entre! – disse, imaginando se era Rony, Malfoy ou os Gêmeos.
- Eu só vim agradecer pelo presente. Não pude agradecer o dia inteiro, Gina estava no meu pé... e depois foi Krum, mas ele ficou lá em baixo. Disse que precisava conversar com os outros aurores e Dumbledore. Eu acho que eles estão aprontando alguma coisa. Os gêmeos estão tentando ouvir a conversa. Malfoy, Rony e Gina estão com eles, assim, aproveitei para vir vê-lo. – disse Hermione de uma só vez. Ela parecia nervosa.
- Ah... Hermione... não precisa agradecer... – disse Harry. Aquela não era uma boa hora. – Amanhã nós conversaremos.
- Eu preciso conversar agora, Harry. – disse Hermione, aproximando-se. – Tem tanta coisa acontecendo. Eu acabei me afastando. Eu só queria dizer que...
Hermione colocou a mão sobre o pingente que usava no pescoço. Além do frasco brilhante que continha a poção da cura temporária, Hermione usava um pingente com uma pedra vermelha lapidada na forma de um coração.
- Eu nunca vou esquecer o que fez por mim, Harry.
- Não foi nada!
- Esse não é um pingente comum não é mesmo, Harry? – disse Hermione, seus lábios tremiam e seus olhos marejaram. – Você sabia que hoje é o último dia em que posso tomar a poção. Eu morreria se você não tivesse me dado a cura. Esse pingente foi lapidado a partir da pedra filosofal... não é?
Harry olhou para Hermione. Ele mesmo tinha que se controlar para não agarrá-la e beijá-la ali mesmo, mas ainda assim, precisava manter-se distante.
- É só um pingente comum, Hermione! Uma lembrança de natal... só isso!
- É mesmo! Então porque eu me senti melhor desde que a coloquei nesta manhã. Eu deveria estar morrendo agora. E você, meu querido, estaria desesperado agora se não soubesse que eu estava curada. Fale alguma coisa, Harry. Fale alguma coisa!
Hermione se aproximou de Harry e socou o seu peito diversas vezes. Harry ficou calmo, apesar da vontade quase insuportável de abraçá-la. Hermione desistiu depois disso e se afundou nos braços de Harry, deixando as lágrimas rolarem livremente.
- Você tinha a cura esse tempo todo e não me disse! Esperou até o último momento! Como você pôde fazer isso! Viu meu desespero durante todo esse tempo.
Harry a agarrou pelos braços e a ergueu para que ela o encarasse.
- E eu poderia, Hermione? – disse Harry, sustentando um olhar gélido – Esse pingente é só uma lasca da pedra filosofal que foi destruída há seis anos atrás. Esse pequeno pedaço é o suficiente para mantê-la viva e bem, enquanto o usar... mas não servirá de nada, se acaso você quiser fazer mal uso dela... para ressuscitar seu pai!
- Meu Pai! Meu Pai? – disse Hermione, tentando desvencilhar-se de Harry, em vão, pois ele não a soltou – Do que está falando? Meu Pai está morto! Você o matou!
- Eu tenho minhas dúvidas, querida... sempre tive. É por isso que esperei até o último minuto. Você precisaria estar desesperada para usá-la. E agora... não poderá jamais tirar essa corrente ou morrerá. Não poderá usá-la para outro fim...
Hermione juntou as forças e se desvencilhou de Harry caindo sobre a cama.
- Você é um monstro, Harry! – disse ela, enxugando as lágrimas. – Você fica aí me julgando, achando que o monstro sou eu, mas você deveria olhar para seu próprio nariz. Desde o ano passado você vem fazendo coisas. Me machucando, me magoando... como se quisesse me proteger...
- É mesmo para a sua proteção, Hermione!
- Eu não preciso da sua proteção... eu posso me defender sozinha! – disse Hermione, levantando-se da cama e caminhando em direção à porta.
- Ainda não! – disse Harry, agarrando o braço de Hermione e a puxando de volta para ele.
- Me larga! – disse ela, irritada. – Me larga... me larga ou eu...
- Vai me legitimentar? – disse Harry, enquanto fazia um cachinho nos cabelos longos de Hermione, beijando levemente seu pescoço.
- Me larga, Harry... – ela disse, mas não resistiu... e apesar de estar irritada ela se virou e os dois se beijaram...
Harry a abraçou, puxando-a ainda mais para ele. Ele segurou seu rosto enquanto provava de seus lábios, enquanto aquele momento parecia interminável até que...
- O QUE SIGNIFICA ISSO? – berrou Krum, escancarando a porta.
- Não finja que está escandalizado! – disse Harry, irritado, enquanto Hermione se afastava e se sentava na cama, tentando restabelecer a respiração.
- Você deveria ao menos fingir! – disse Krum, num tom (pasme!) ameno. – O que os outros diriam se os pegasse aqui? Eu seria ainda mais ridicularizado do que já sou.
- Sinto muito! – disse Harry, solidarizando-se pelo Ministro.
- Ao menos, você já disse a ela o que vai acontecer?
- O que vai acontecer? – perguntou Hermione, olhando curiosa de Harry para Krum e de Krum para Harry. Foi então que ela viu nos olhos de Harry um brilho estranho... um brilho que dizia que algo muito importante aconteceria... dali a poucos minutos.

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