O Ministério da Magia



– Capítulo VII – O Ministério da Magia.


- Vamos ver a audiência do Harry Potter agora? – indagou Antônio.


- Você vai ter de ler para descobrir – disse Rose categórica, e o garoto começou:


Harry acordou às cinco e meia na manhã seguinte tão brusca e definitivamente como se alguém tivesse gritado em seu ouvido. Por alguns instantes, continuou deitado e imóvel, enquanto a perspectiva de uma audiência disciplinar invadia cada partícula do seu cérebro, depois, incapaz de suportar, ele pulou fora da cama e pôs os óculos. A Sra. Weasley arrumara suas jeans recém-lavadas e sua camiseta aos pés da cama. Harry vestiu-se depressa. O retrato vazio na parede deu uma risadinha debochada.


Sirius ergueu as sobrancelhas; Fineus Nigellus era um dos retratos mais desagradáveis da casa. Era óbvio que Dumbledore colocara Harry naquele quarto, onde seu tetravô podia vigiá-lo e ir até seu sósia no escritório do diretor, para contar tudo a Dumbledore.


Rony estava esparramado na cama, com a boca escancarada, dormindo profundamente. Sequer se mexeu quando Harry cruzou o quarto, saiu para o patamar e fechou a porta suavemente ao passar.


- Eu queria ter dito boa-sorte, só que... – começou Rony.


- O Rony não sabe acordar cedo – debochou Gina.


- Cala a boca! – resmungou Rony. – É, é isso mesmo.


Tentando não pensar na próxima vez que veria Rony, quando talvez já não fossem colegas de Hogwarts, o garoto desceu silenciosamente a escada, passou pelas cabeças dos antepassados do Monstro e se dirigiu à cozinha.


Tinha esperado encontrá-la vazia, mas quando chegou à porta ouviu um ressoar suave de vozes no outro lado. Abriu-a e viu o Sr. e a Sra. Weasley, Sirius, Lupin e Tonks sentados ali, quase como se estivessem à sua espera.


Todos estavam inteiramente vestidos, exceto a Sra. Weasley, que trajava um roupão de acolchoado roxo. Ela se levantou no momento em que o viu entrar.


— Café da manhã — disse ao mesmo tempo que puxava a varinha e corria para o fogão.


— B-bom dia, Harry — bocejou Tonks. Esta manhã seus cabelos estavam amarelos e crespos. — Dormiu bem?


— Dormi — disse Harry.


— P-p-passei a noite acordada — informou a bruxa, dando mais um bocejo de estremecer. — Venha se sentar...


Draco Malfoy levantou uma sobrancelha; sua “prima” estivera acordada naquela noite, provavelmente vigiando a tal arma.


Ela puxou uma cadeira e ao fazer isso derrubou a que estava ao lado.


— O que você quer, Harry? — perguntou a Sra. Weasley. — Mingau? Bolinhos? Arenque? Ovos com bacon? Torrada?


— Só... só torrada, obrigado.


Lupin olhou para Harry e em seguida perguntou a Tonks:


— Que é que você estava dizendo sobre o Scrimgeour?


— Ah... sim... bem, precisamos ter um pouco mais de cuidado, ele tem feito a Kingsley e a mim perguntas engraçadas...


Fudge arregalou os olhos; Scrimgeour estivera ali minutos antes, e não lhe contara nada disso. Talvez porque não desconfiasse tanto deles.


Olhou de relance para Kingsley, que estava cautelosamente impassível.


Harry se sentiu vagamente grato por não ter de participar da conversa. Suas entranhas se contorciam. A Sra. Weasley colocou umas torradas com geleia à frente dele; tentou comer, mas era como mastigar tapete. A bruxa se sentou a seu lado e começou a mexer em sua camiseta, pôs a etiqueta para dentro e alisou os vincos nos ombros. Ele desejou que a Sra. Weasley não fizesse isso.


— ... e terei de dizer ao Dumbledore que não posso fazer o turno da noite amanhã, estou simplesmente cansada d-d-demais — concluiu Tonks dando novamente um imenso bocejo.


Então, pensou Draco, furtivo, Ninfadora estivera realmente em uma missão. E com certeza, vigiando a arma, fosse o que fosse.


Ele olhou a garota, pensativo. Nunca conhecera aquela prima; mas era filha de um membro renegado da família, então não devia estar perdendo nada.


— Eu cubro o seu turno — ofereceu-se o Sr. Weasley. — Estou bem, de qualquer modo tenho um relatório para terminar...


Ele não estava usando vestes de bruxo, mas calças de risca de giz e um velho blusão de aviador. Virou-se de Tonks para Harry.


Harry e Hermione se entreolharam, rindo. As roupas de trouxa de Arthur Weasley não eram as mais combinantes, mas eram melhores do que as que a maioria dos bruxos escolhiam.


— Como é que você está se sentindo?


Harry encolheu os ombros.


— Vai terminar logo — disse o bruxo encorajando-o. — Dentro de algumas horas você estará inocentado.


Harry não respondeu.


— A audiência é no meu andar, na sala da Amélia Bones. É a chefe do Departamento de Execução das Leis da Magia, e é quem vai interrogá-lo.


— Amélia Bones é legal, Harry — disse Tonks, séria. — É justa, e vai escutar tudo que você tiver a dizer.


Hannah Abbott se virou para a colega Susana Bones.


- Amélia Bones não é sua tia?


- É – respondeu Susan, timidamente. – Ela me disse uma coisa inacreditável, sabe.


- O quê?


- Que Harry Potter sabe fazer um Patrono.


Hannah arregalou os olhos, incrédula para a amiga, que reafirmou com um aceno de cabeça.


Harry concordou com a cabeça, ainda incapaz de pensar em alguma coisa para dizer.


Harry se virou, consternado, para Al e Rose. O texto descrevia impecavelmente o que ele estava sentindo. Mas eles continuavam impassíveis a perguntas.


— Não perca a calma — disse Sirius, de repente. — Seja educado e se atenha aos fatos.


Harry tornou a acenar com a cabeça.


— A lei está do seu lado — disse Lupin em voz baixa. — Até bruxos menores de idade podem usar magia em situações em que há risco de vida.


Alguma coisa muito fria escorreu pela nuca de Harry, fazendo-o pensar por um momento que alguém estivesse lançando nele um Feitiço da Desilusão.


Então percebeu que a Sra. Weasley estava atacando seus cabelos com um pente molhado. Ela pressionou com força no alto da cabeça.


— Eles não baixam nunca? — perguntou desesperada.


Harry fez que não.


Harry riu; a Sra. Weasley devia achar que ele ficava despenteado por vontade própria.


Era estranho estar lendo sobre sua audiência, como se não soubesse como ela terminaria.


O Sr. Weasley verificou o relógio e olhou para o garoto.


— Acho que temos de ir agora. Estamos um pouco adiantados, mas acho que será melhor você esperar no Ministério do que aqui.


— O.k. — disse Harry automaticamente, largando a torrada e se levantando.


— Vai dar tudo certo — disse Tonks, dando-lhe uma palmadinha no braço.


— Boa sorte — desejou Lupin. — Tenho certeza de que tudo correrá bem.


— E se não correr — disse Sirius muito sério — pode deixar que cuido da Amélia Bones para você...


Harry e os amigos riram, mas alguns alunos pareceram assustados.


- Essa gente não tem senso de humor – bufou Sirius.


Harry deu um sorrisinho. A Sra. Weasley abraçou-o.


— Estamos todos fazendo figa.


— Certo — disse o garoto. — Então, até mais tarde.


Ele acompanhou o Sr. Weasley até o térreo e ao longo do corredor, ouviu a mãe de Sirius resmungar durante o seu sono atrás das cortinas. O Sr. Weasley destrancou a porta e eles saíram para a madrugada fria e cinzenta.


— O senhor normalmente não vai para o trabalho a pé, vai? — perguntou Harry, enquanto caminhavam apressados pelo largo.


— Não, em geral aparato, mas obviamente você não pode, e acho que é melhor chegarmos de maneira inteiramente não-mágica... passa uma impressão melhor, já que você está sendo disciplinado por...


O Sr. Weasley manteve a mão dentro do blusão enquanto caminhavam. Harry sabia que segurava a varinha. As ruas decadentes estavam quase desertas, mas quando chegaram à pequena e desconfortável estação do metrô já a encontraram repleta de passageiros madrugadores. Como sempre acontecia quando se via muito próximo dos trouxas em seus afazeres cotidianos, o Sr. Weasley mal conseguia controlar o seu entusiasmo.


— É simplesmente fabuloso — sussurrou, indicando as máquinas de vender bilhetes. — Fantasticamente engenhosas.


Draco Malfoy fez uma careta, e seus colegas o imitaram; o garoto não conseguia acreditar que fosse parente daquele homem.


— Elas não estão funcionando — disse Harry, apontando para um cartaz.


— É, mas mesmo assim... — disse o bruxo sorrindo, carinhoso, para as máquinas.


- Imbecil – murmurou Draco.


- Incomodado com o seu “primo”, Draco? – desdenhou Blaise. Draco não respondeu.


- Ele não é nada meu – rosnou Draco, entredentes. – E se ele tem algum parentesco comigo, aposto que tem com você também, Blaise. Ou você só tem trouxas e Sangues-Ruins na sua linhagem? 

Blaise ficou indeciso no que responder.


Eles compraram os bilhetes de um guarda sonolento (Harry cuidou da transação, porque o Sr. Weasley não era muito esperto quando lidava com dinheiro dos trouxas), e cinco minutos depois estavam embarcando no trem subterrâneo que saiu sacolejando em direção ao centro de Londres. O Sr. Weasley não parava de verificar e tornar a verificar, ansioso, o mapa do metrô acima da janela.


— Mais quatro paradas, Harry... Faltam três paradas agora... Duas, Harry...


Desceram em uma estação no coração de Londres, e foram carregados do trem por uma onda de homens e mulheres, de ternos e terninhos, segurando suas maletas. Subiram a escada rolante, passaram pelos torniquetes (o Sr. Weasley ficou encantado ao ver seu bilhete ser engolido pela fenda de introdução) e saíram finalmente em uma rua larga, ladeada de edifícios imponentes, em que o tráfego já era intenso.


— Onde estamos? — perguntou o Sr. Weasley, perdido, e, por um instante em que seu coração parou, Harry pensou que tivessem descido na estação errada, apesar das contínuas consultas do bruxo ao mapa; mas um segundo depois o Sr. Weasley exclamou: — Ah, sim... por aqui, Harry — e seguiram por uma rua lateral. — Desculpe, mas nunca venho de metrô, e tudo parece diferente quando se olha da perspectiva dos trouxas. Aliás, eu nunca usei a entrada do Ministério para visitantes antes.


Quanto mais andavam, menores e menos imponentes os edifícios se tornavam, até que finalmente chegaram a uma rua em que havia vários prédios de escritórios de mau aspecto, um bar e uma caçamba transbordando lixo. Harry esperara um local mais atraente para o Ministério da Magia.


- A entrada precisa ser o mais discreto e menos chamativo possível – explicou Arthur Weasley. – para que não chame a atenção dos trouxas. Uma rua como esta não desperta muito a curiosidade.


- Como se fosse preciso – disse Pansy Parkinson às amigas. –, os trouxas são muito burros, nunca percebem nada debaixo do nariz deles.


- Se eles não percebessem, não existiriam obliviadores. – sussurrou Tracey Davies consigo mesma.


- Disse alguma coisa, Tracy?


- Nada. – disse a garota, rapidamente.


— Chegamos — disse o Sr. Weasley animado, apontando para uma velha cabine telefônica vermelha, em que faltavam vários vidros nos caixilhos e que fora instalada em frente a uma parede toda grafitada. — Primeiro você, Harry.


O Sr. Weasley abriu a porta da cabine.


Harry entrou, imaginando o que seria aquilo. O bruxo apertou-se ao lado dele e fechou a porta. Quase não deu; Harry ficou entalado contra o aparelho de telefone que pendia torto da parede, como se algum vândalo tivesse tentado arrancá-lo. O Sr. Weasley esticou o braço à frente de Harry para apanhar o fone.


— Sr. Weasley, acho que isso também não deve estar funcionando.


— Não, não, tenho certeza de que está perfeito — respondeu, segurando o fone no alto e espiando o disco. — Vejamos... seis... — discou ele — dois... quatro... e mais um quatro... e mais um dois...


- Magic! – disse Arthur.


- O quê? – indagou Molly.


- As teclas que discamos para acionar a entrada de visitantes – explicou ele. – dois, quatro, quatro, dois... as letras presentes nas teclas formam a palavra Magic... foi uma coisa curiosa que o criador da entrada deixou.


- Aposto que era um bruxo da Corvinal. – disse Luna Lovegood, sonhadora. – Ele quis deixar uma pista criativa para que os curiosos percebessem.  


Quando o disco voltou suavemente à posição inicial, ouviu-se uma voz tranquila de mulher, dentro da cabine, não no fone que o Sr. Weasley segurava, mas uma voz alta e clara como se houvesse uma mulher invisível ali ao lado deles.


— Bem-vindos ao Ministério da Magia. Por favor, informem seus nomes e o objetivo da visita.


— Hum... — começou o Sr. Weasley, visivelmente inseguro se devia ou não falar com o fone. Decidiu-se por encostar o ouvido no bocal: — Arthur Weasley, Seção de Controle do Mau Uso dos Artefatos dos Trouxas, estou acompanhando Harry Potter, que foi convidado a comparecer a uma audiência disciplinar...


— Obrigada — disse a voz tranquila de mulher. — Visitante, por favor, apanhe o crachá e prenda-o ao peito de suas vestes.


Ouviu-se um clique e um rumorejo, e Harry viu alguma coisa sair pela ranhura de metal por onde normalmente saem as moedas excedentes. Apanhou-a: era um quadrado prateado em que se lia Harry Potter, Audiência Disciplinar. Prendeu-a ao peito da camiseta, e a voz feminina tornou a falar.


— Visitante ao Ministério, o senhor deve se submeter a uma revista e apresentar sua varinha, para registro, à mesa da segurança, localizada ao fundo do Átrio.


Harry sentiu um frio no estômago, ao se lembrar da sensação de impotência que sentia quando estava sem a varinha. Pensou, então, o que sentiria se seu grupo de Defesa Contra Artes das Trevas fosse descoberto: todos os envolvidos experimentariam aquela sensação, para sempre. 


O piso da cabine telefônica estremeceu e eles começaram a afundar lentamente. Harry observou com apreensão a calçada ir subindo pelas vidraças da cabine e, por fim, a escuridão se fechar sobre suas cabeças. Então não conseguiu ver mais nada; ouviu apenas um ruído abafado de trituração, enquanto a cabine continuava a entrar pela terra. Decorrido mais ou menos um minuto, embora parecesse a Harry muito mais, uma claridade dourada banhou-lhe os pés e foi se ampliando, subindo pelo seu corpo até bater em cheio no rosto e ele precisou piscar para os olhos não lacrimejarem.


— O Ministério da Magia deseja ao senhor um dia muito agradável — disse a voz feminina.


- “Mesmo que daqui a pouco a gente quebre a sua varinha” – ironizou Gina; e Harry, surpreso, não conseguiu não rir.


A porta da cabine telefônica se escancarou e o Sr. Weasley saiu, acompanhado por Harry, cujo queixo caíra. Estavam parados a um extremo de um saguão muito longo e suntuoso, com um soalho de madeira escuro e extremamente polido. O teto azul-pavão era entalhado com símbolos dourados que se moviam e se alternavam como um enorme quadro celeste de avisos. As paredes de cada lado eram forradas de painéis de madeira escura e lustrosa, e nelas havia, engastadas, muitas lareiras douradas. A intervalos de segundos, bruxos e bruxas emergiam de uma das lareiras à esquerda com um suave ruído de deslocamento de ar. Na parede da direita, iam se formando diante de cada lareira pequenas filas de gente que aguardava o momento da partida.


No meio do saguão havia uma fonte. Um grupo de estátuas de ouro, maiores que o tamanho natural, estavam dispostas no centro de um espelho de água circular. A mais alta era de um bruxo de aparência aristocrática, com a varinha apontando para o ar. Agrupados a seu redor, havia uma bela bruxa, um centauro, um duende e um elfo doméstico. Os três últimos olhavam com adoração para o casal de bruxos. Das pontas de suas varinhas, saíam jorros de água cintilante, bem como da ponta da flecha do centauro, da ponta do chapéu do duende e de cada orelha do elfo doméstico, de tal modo que o silvo e o tilintar da água que caía se misturavam aos pops e craques dos bruxos aparatando e ao ressoar dos passos de centenas de outros, a maioria com a cara de poucos amigos de quem acabara de acordar, dirigindo-se a uma fileira de portões dourados no fundo do saguão.


Hermione fechou a cara.


- Essa fonte é ridícula – disse ela, em voz alta. –, um duende e um centauro jamais olhariam com adoração para um bruxo.


Harry, Rony e Gina olharam para a amiga surpresos.


- A Fonte dos Irmãos Mágicos é um patrimônio da comunidade bruxa. – disse Fudge, ofendido. – Que é que você entende da relação entre bruxos e criaturas mágicas?


- Bem mais do que os bruxos que construíram essa fonte – afirmou Hermione. – Centauros são orgulhosos, e não se submetem aos humanos; e duendes e bruxos vêm entrando em conflitos há séculos.


- Conheço muitos duendes – disse Gui Weasley. –, e todos eles amaldiçoariam essas estátuas se as vissem.


- A Fonte representa os ideais de nosso governo – disse Dumbledore, sentencioso. – É uma representação fidedigna de como nossos governantes enxergam outros seres.


Fudge crispou os lábios, sentindo que estava sendo incluído naquilo.


— Por aqui — disse o Sr. Weasley.


Eles se juntaram à multidão e continuaram a caminhar entre os funcionários do Ministério, alguns dos quais carregavam pilhas instáveis de pergaminhos, outros, maletas surradas; e, outros ainda liam o Profeta Diário enquanto andavam. Ao passarem pela fonte, Harry viu sicles de prata e nuques de bronze brilhando no fundo da água. Um pequeno cartaz ao lado da fonte informava:


TODO O DINHEIRO RECOLHIDO NA FONTE DOS IRMÃOS MÁGICOS SERÁ DOADO AO HOSPITAL ST. MUNGUS PARA DOENÇAS E ACIDENTES MÁGICOS


- Pelo menos para isso essa fonte serve – admitiu Hermione, de má vontade.


Se eu não for expulso de Hogwarts, vou jogar dez galeões aí, Harry se apanhou pensando com desespero.


— Aqui, Harry — disse o Sr. Weasley, e eles se separaram do fluxo de funcionários do Ministério que se encaminhavam para as portas douradas.


Sentado a uma mesa à esquerda, sob a placa Segurança, um bruxo mal barbeado de vestes azul-pavão parou de ler o seu Profeta Diário e ergueu a cabeça quando os dois se aproximaram.


— Estou acompanhando um visitante — disse o Sr. Weasley, indicando o garoto.


— Venha até aqui — disse o bruxo com voz entediada.


Harry se aproximou e o bruxo ergueu uma longa vara dourada, fina e flexível como uma antena de carro, e correu-a pelo corpo do garoto, de alto a baixo, de frente e costas.


- Que é isso? – perguntou Tonks a Kingsley.


- Deve ser um Detector de Segredos, para checar se ele tem suspeito – arriscou Kingsley. – Ou talvez um Detector de Varinhas.


— Varinha — grunhiu o segurança para Harry, baixando o instrumento dourado e estendendo a mão.


Harry apanhou a varinha. O bruxo largou-a em cima de um estranho instrumento de latão, que lembrava uma balança de um único prato. A coisa começou a vibrar. Uma tira fina de pergaminho foi saindo instantaneamente de uma ranhura na base. O bruxo destacou-a e leu o que estava escrito.


— Vinte e oito centímetros, cerne de pena de fênix, em uso há quatro anos. Correto?


- Um Examinador de Varinhas. – murmurou Antônio, curioso, antes de voltar a ler:


— Correto — respondeu Harry, nervoso.


— Fico com ela — disse o bruxo, enfiando a tira de pergaminho em um pequeno espeto de latão. — Eu a devolvo depois — acrescentou, apontando a varinha para o garoto.


— Obrigado.


— Um momento — disse lentamente o bruxo.


Seus olhos correram do crachá prateado de visitante no peito de Harry para sua testa.


— Obrigado, Érico — disse o Sr. Weasley com firmeza e, segurando o garoto pelos ombros, afastaram-se da mesa e reingressaram na torrente de bruxos e bruxas que cruzavam o portão dourado.


- Preferi que Harry não perdesse tempo sendo incomodado pelo Érico – disse Arthur à Molly.


- E fez muito bem – aprovou a esposa, com um sorriso.


Meio empurrado pela multidão, Harry acompanhou o Sr. Weasley, atravessou o portão e saiu em um saguão menor, onde havia no mínimo vinte elevadores por trás de grades douradas ornamentadas. Os dois se juntaram às pessoas paradas diante de um dos elevadores. Perto, havia um bruxo corpulento e barbudo segurando uma grande caixa de papelão que emitia um ruído de raspagem.


— Tudo bem, Arthur? — perguntou o bruxo, cumprimentando-o com um aceno de cabeça.


— Que é que você traz aí, Beto? — quis saber o Sr. Weasley olhando para a caixa.


— Não temos muita certeza — respondeu o bruxo muito sério. — Achávamos que era uma galinha-do-brejo comum até ela começar a soltar fogo pelas fossas nasais. Agora está me parecendo uma séria violação da Proibição de Criar Animais Experimentalmente.


- Deve ser um cruzamento de galinha com quimera – arriscou Jorge.


- Ou com um explosivin – disse Fred.


Com uma barulheira de ferragens, um elevador desceu diante deles; a grade dourada se recolheu, Harry e o Sr. Weasley entraram no elevador com os demais, e o garoto se viu esmagado contra a parede dos fundos. Vários bruxos e bruxas o olharam com curiosidade; ele encarava os próprios pés e alisava a franja para evitar encontrar o olhar das pessoas. As grades tornaram a fechar com estrondo e o elevador subiu lentamente, as correntes se entrechocando, enquanto a mesma voz tranquila de mulher que Harry ouvira na cabine telefônica tornava a falar:


“Nível sete, Departamento de Jogos e Esportes Mágicos, que inclui a Sede das Ligas Britânica e Irlandesa de Quadribol, o Clube de Bexiga Oficial e a Seção de Patentes Absurdas.”


- Seção de Patentes Absurdas?! – exclamou Hermione, confusa.


- É onde registram invenções mirabolantes – explicou Arthur. – A maioria das coisas registradas lá não é de muita utilidade, mas os funcionários de lá dizem que se divertem com a criatividade das pessoas que chegam lá.


As portas do elevador se abriram. Harry deu uma olhada rápida no corredor de aspecto sujo, onde havia vários cartazes de times de Quadribol pregados tortos nas paredes. Um dos bruxos no elevador, que carregava uma braçada de vassouras, desvencilhou-se com dificuldade e desapareceu pelo corredor. As portas se fecharam, o elevador retomou sua subida acidentada e a voz feminina anunciou:


“Nível seis, Departamento de Transportes Mágicos, que inclui a Autoridade da Rede de Flu, o Controle de Aferição de Vassouras, a Seção de Chaves de Portais e o Centro de Testes de Aparatação.” 


- Sua mãe não trabalha lá? – perguntou Cho a Marietta, que fez que sim, tensa. Pensar na mãe, que trabalhava fielmente para o Ministério, era angustiante. Se descobrissem que ela estava envolvida em um grupo ilegal...


Mais uma vez as portas do elevador se abriram e quatro ou cinco bruxos desembarcaram; ao mesmo tempo, vários aviõezinhos de papel entraram voando no elevador. Harry ficou olhando os aviões planarem preguiçosamente acima de sua cabeça; eram violeta-claro, e ele leu as palavras Ministério da Magia estampadas no bordo das asas.


— São apenas memorandos interdepartamentais — murmurou o Sr. Weasley. — Costumávamos usar corujas, mas a sujeira era inacreditável... excrementos caindo sobre as escrivaninhas...


- Sabe, os trouxas costumam usar telefones, e são bem mais práticos do que estes memorandos. – afirmou Hermione, com ousadia.


- É mesmo? – interessou-se Arthur. – Aqueles aparelhos que mandam nossa voz de um canto a outro? Seriam úteis no Ministério.


- Mas talvez não funcionem lá – disse Hermione. – Em lugares onde há muita magia, os aparelhos dos trouxas não funcionam. 


Quando recomeçaram a subir, os memorandos ficaram flutuando em torno da lâmpada do elevador.


“Nível cinco, Departamento de Cooperação Internacional em Magia, incorporando o Organismo de Padrões de Comércio Mágico Internacional, o Escritório Internacional de Direito em Magia e a Confederação Internacional de Bruxos, sede britânica.”


Percy Weasley engoliu em seco, lembrando-se do Sr. Crouch; ainda se perguntava como não percebera que o chefe estava sendo controlado por um Comensal da Morte.


Quando as portas se abriram, dois memorandos saíram voando ao mesmo tempo que mais bruxos e bruxas desembarcavam, mas outros tantos memorandos entraram voando, de modo que a luz piscou e lampejou com o movimento dos aviõezinhos ao seu redor.


“Nível quatro, Departamento para Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas, que inclui as Divisões das Feras, Seres e Espíritos, Seção de Ligação com os Duendes, Escritório de Orientação sobre Pragas.


— Licença — pediu o bruxo que levava a galinha venta-fogo, e saiu do elevador seguido por um pequeno bando de memorandos. As portas fecharam mais uma vez com estrépito.


“Nível três, Departamento de Acidentes e Catástrofes Mágicas, incluindo o Esquadrão de Reversão de Mágicas Acidentais, Central de Obliviação e Comissão de Justificativas Dignas de Trouxas.”


- Minha tia trabalha na Central de Obliviação – disse Tracey Davis. – Ela vive dizendo que os bruxos descuidados sempre dão muito trabalho a ela.


- Bem, o meu pai sempre tem negócios com o Esquadrão de Reversão de Mágicas Acidentais – disse Pansy. –, sempre consegue que eles livrem amigos dele que causam, sabe, “acidentes” com trouxas – e sorriu maliciosa à menção da palavra “acidente”.


Todos desembarcaram do elevador nesse andar, exceto o Sr. Weasley, Harry e uma bruxa que estava lendo um pergaminho tão longo que arrastava pelo chão. Os memorandos restantes continuaram a flutuar em torno da lâmpada, e o elevador continuou sua agitada subida, então as portas abriram e a voz anunciou:


“Nível dois, Departamento de Execução das Leis da Magia, que inclui a Seção de Controle do Uso Indevido da Magia, o Quartel-General dos Aurores e os Serviços Administrativos da Suprema Corte dos Bruxos.”


— É conosco, Harry — disse o Sr. Weasley, e eles acompanharam a bruxa por um corredor ladeado de portas. — Minha sala é do outro lado do andar.


— Sr. Weasley — perguntou Harry, ao passarem por uma janela pela qual entrava o sol — nós não estamos mais embaixo da terra?


— Estamos. As janelas são encantadas. A Manutenção Mágica decide todo o dia qual é o tempo que vai fazer. Tivemos dois meses de furacões, da última vez que estivemos reivindicando um aumento de salário... É virando aqui, Harry.


Umbridge fungou.


- Tínhamos mais o que fazer do que ter mais gastos com esses subalternos – resmungou ela, que sugerira à manutenção mágica que programasse furacões enquanto houvesse alguém reclamando de salários.


Dobraram um canto, passaram por pesadas portas de carvalho e saíram em uma área aberta subdividida em cubículos, que fervilhava de conversas e risos. Os memorandos entravam e saíam dos cubículos como foguetes em miniatura. Um letreiro torto no cubículo mais próximo informava: Quartel-General dos Aurores.


Harry espiou disfarçadamente pela porta ao passar. Os aurores haviam coberto as paredes de seus cubículos com tudo que se pode imaginar, desde retratos de bruxos procurados e fotos de suas famílias a pôsteres dos seus times de Quadribol preferidos e artigos do Profeta Diário. Um homem de vestes vermelhas, com um rabo-de-cavalo mais comprido que o do Gui, estava sentado com as botas em cima da escrivaninha, ditando um relatório para sua pena. Um pouco adiante, uma bruxa com uma venda sobre um dos olhos conversava por cima da divisória do seu cubículo com Kingsley Shacklebolt.


— Bom dia, Weasley — cumprimentou Kingsley, descontraído, quando o bruxo se aproximou. — Ando querendo falar com você, tem um segundo?


— Tenho, se realmente for um segundo — disse o Sr. Weasley. — Estou um pouco apressado.


Harry se lembrou, surpreso, de como os dois bruxos haviam fingido muito bem que não se conheciam.


- Tinha de parecer convincente – disse Kingsley, descontraído. – afinal, para todos os efeitos, Arthur e eu não éramos próximos.


Falavam como se mal se conhecessem, e quando Harry abriu a boca para cumprimentar Kingsley, o Sr. Weasley lhe deu uma piscadela. Eles acompanharam Kingsley até o último cubículo do corredor.


Harry teve um ligeiro choque; piscando para ele de todas as direções, havia o rosto de Sirius. Recortes de jornal e velhas fotos – até aquela em que ele aparecia como padrinho do casamento dos Potter – forravam as paredes. O único espaço em que não havia Sirius estava ocupado por um mapa-múndi em que brilhavam alfinetes vermelhos como pedras preciosas.


— Tome — disse Kingsley bruscamente ao Sr. Weasley, enfiando um rolo de pergaminho em sua mão. — Preciso do máximo de informação possível sobre veículos voadores dos trouxas avistados nos últimos doze meses. Recebemos informação de que Black talvez continue usando sua velha moto.


Kingsley deu a Harry uma enorme piscadela e acrescentou em um sussurro:


Fudge olhou de Kingsley para Arthur Weasley para Umbridge, balbuciando coisas sem sentido.


Tonks e Remo, ao lado, tentavam não rir do ministro.


— Dê essa revista a ele, talvez ache interessante — então, retomando o tom normal: — E não demore muito, Weasley, o atraso no relatório sobre as pernas de fogo paralisou as nossas investigações por um mês.


— Se você tivesse lido o meu relatório saberia que o termo é armas de fogo — disse o Sr. Weasley tranquilo. — E receio que terá de esperar pelas informações sobre motocicletas; estamos ocupadíssimos no momento. — Baixou a voz: — Se você conseguir sair antes das sete, Molly está preparando almôndegas.


- Pernas de fogo?! – repetiu Dino Thomas. – Sério que eles confundiram armas com pernas?!


- Os bruxos não são muito espertos quanto aos nomes das coisas de trouxas – disse Hermione.


E fazendo sinal a Harry, deixaram o cubículo, passaram por outras portas de carvalho, saíram em outro corredor, viraram à direita para um corredor mal iluminado e ainda assim visivelmente encardido, que terminava em uma parede-cega, mas havia uma porta entreaberta à esquerda deixando à mostra o interior de um armário de vassouras, e uma porta à direita com uma placa de latão oxidado com os dizeres: Mau Uso dos Artefatos dos Trouxas.


A sala escura e suja do Sr. Weasley parecia ligeiramente menor que o armário de vassouras.


- Como é que uma seção do Ministério pode ser tão pequena?! – indagou Dino Thomas.


- O Ministério da Magia tem prioridades maiores em outros departamentos – afirmou Fudge, mal-humorado.


- Mas a Seção do Sr. Weasley deveria ser mais amparada do que a Seção de Patentes Absurdas – desafiou Hermione, de braços cruzados. – Quero dizer, são os responsáveis por cuidar de acidentes mágicos com trouxas; devia ser tão importante quanto a Central de Obliviação ou a Comissão de Justificativas Dignas de Trouxas.


Fudge não respondeu. Umbridge olhou com desagrado para Hermione; sentia que aquela menina nascida-trouxa era perigosa, por alguma razão.


Duas escrivaninhas tinham sido apertadas ali e mal havia espaço para contorná-las, por causa dos arquivos abarrotados que ocupavam as paredes, com pilhas de pastas por cima. O pouco espaço de parede disponível testemunhava as obsessões do Sr. Weasley: vários pôsteres de carros, inclusive o de um motor desmontado; duas ilustrações de caixas de correio que pareciam ter sido recortadas de livros para crianças trouxas; e um diagrama mostrando como pôr fio em tomada.


- Pirado – debochou Draco.


- Completamente louco – murmurou Pansy, em concórdia com Draco.


Por cima de sua apinhada caixa de entrada, havia uma velha torradeira que soluçava em tom desconsolado e um par de luvas de couro que girava dois dedos vazios. Ao lado da caixa havia uma foto da família Weasley. Harry reparou que aparentemente Percy abandonara a foto.


Molly olhou de longe para Percy, que não conseguia olhar para a família; em vez disso, olhava para os próprios pés.


Quando haviam conversado, ele não falara muito; só dissera que prometia se reunir a eles em algum momento.


Percy não imaginava como se reuniria à família.


— Não temos janela — desculpou-se o Sr. Weasley, despindo o blusão de aviador e pendurando-o no espaldar de sua cadeira. — Pedimos, mas pelo visto eles acham que não precisamos de uma. Sente-se, Harry, parece que Perkins ainda não chegou.


Harry apertou-se na cadeira ao lado da mesa de Perkins, enquanto o Sr. Weasley folheava rapidamente o maço de pergaminhos que Kingsley Shacklebolt lhe entregara.


— Ah — comentou sorrindo, ao puxar do meio um exemplar da revista O Pasquim — sim... — Folheou-a. — Sim, ele tem razão, com certeza Sirius vai achar muito engraçado... Ah, meu Deus, que é isso agora?


Um memorando acabara de disparar pela porta aberta e pousar em cima da torradeira soluçante. O Sr. Weasley abriu-o e leu em voz alta:


Recebemos informações de um terceiro vaso sanitário regurgitando em banheiro público em Bethnal Green, queira investigar imediatamente.


Antônio não conseguiu continuar, porque inúmeros alunos começaram a dar gostosas gargalhadas. Segurando o riso, tentou continuar a ler:


— Isto está ficando ridículo...


— Um vaso sanitário que regurgita?


— Brincadeiras de gaiatos antitrouxas — disse o Sr. Weasley, franzindo a testa. — Tivemos dois na semana passada, um em Wimbledon, um em Elephant and Castle. Os trouxas acionam a descarga e em vez das coisas desaparecerem... bem, você pode imaginar. Os coitados ficam chamando os... encadores, acho que é o nome que dão... sabe, os homens que consertam canos e coisas do gênero.


A turma de Draco Malfoy gargalhou junto com a maioria dos alunos; mas Harry e seus amigos acharam uma idiotice.


- Que tipo de pessoa ocupa seu tempo fazendo isso? – perguntou Hermione, enojada.


— Encanadores?


— Exatamente, mas é claro que eles não sabem como explicar. Só espero que a gente consiga pegar quem anda fazendo isso.


— Os aurores é que vão pegá-los?


— Ah, não, isto é banal demais para aurores, será uma patrulha normal para Execução das Leis da Magia... ah, Harry, esse é o Perkins.


Um velho bruxo, encurvado e tímido, de cabelos brancos e fofos, acabara de entrar na sala, ofegante.


— Ah, Arthur! — exclamou desesperado, sem olhar para Harry. — Que bom, eu não sabia o que seria melhor, se esperar ou não aqui por você. Acabei de despachar uma coruja para sua casa, mas é óbvio que você já tinha saído: chegou uma mensagem urgente há uns dez minutos...


— Já sei, do vaso sanitário que regurgita — disse o Sr. Weasley.


— Não, não é o vaso sanitário, é a audiência do menino Potter... mudaram a hora e o local... agora vai começar às oito horas e vai ser no velho Décimo Tribunal...


- Décimo tribunal?! – exclamou Susana Bones. – Mas minha tia disse que lá foram julgados criminosos realmente perigosos.


- Julgaram o Harry Potter num tribunal de criminosos?! – exclamou Ernesto MacMillan.


Houve exclamações e reclamações por todo o Salão, que fizeram Fudge e Umbridge se encolherem. 


— No velho... mas me disseram... pelas barbas de Merlim!


O Sr. Weasley consultou o relógio, deixou escapar um grito e pulou de sua cadeira.


- O horário da audiência foi mudado? – perguntou Lisa Turpin.


- Foi – respondeu Harry, seco.


- Por que não avisaram o Harry Potter? – perguntou novamente Lisa.


- Mandamos uma coruja para ele pela manhã – disse Fudge, a voz vacilando. 


— Depressa, Harry, devíamos ter chegado lá há cinco minutos!


Perkins se achatou contra os arquivos para deixar o Sr. Weasley sair correndo da sala com Harry em seus calcanhares.


— Por que é que eles mudaram a hora? — perguntou Harry sem fôlego, ao passarem desabalados pelas salas dos aurores; as pessoas se esticavam e paravam para olhar a correria dos dois.


Harry teve a sensação de que deixara as entranhas na mesa de Perkins.


— Não faço a menor ideia, mas foi bom termos chegado aqui tão cedo, se você perdesse a audiência, teria sido uma catástrofe.


- Não acho que tenham mudado sua audiência sem mais nem menos por acaso – disse Hermione, mordaz.


- Também não acho – disse Harry, olhando para Al e Rose.  


O Sr. Weasley parou derrapando diante dos elevadores e apertou com impaciência o botão de descida.


— ANDA LOGO!


O elevador apareceu sacudindo e eles entraram depressa. Todas as vezes que paravam, o Sr. Weasley xingava furiosamente e socava o botão de número nove.


— Esses tribunais não são usados há anos — disse o Sr. Weasley zangado. — Não posso imaginar por que vão fazer a audiência aqui embaixo... a não ser que... mas não...


Uma bruxa gorducha, carregando um cálice fumegante, entrou no elevador nesse momento e o Sr. Weasley se calou.


“O Átrio”, disse a tranquila voz de mulher, e as grades douradas se abriram, permitindo a Harry um vislumbre distante das estátuas de ouro na fonte. A bruxa saiu e um bruxo de pele macilenta e expressão muito pesarosa a substituiu.


— Bom dia, Arthur — disse ele, em tom sepulcral, quando o elevador começou a descer. — Não é sempre que o vejo aqui embaixo.


— Negócios urgentes, Bode — respondeu o Sr. Weasley, que se balançava para a frente e para trás nos calcanhares, lançando a Harry olhares ansiosos.


Al e Rose giraram as cabeças do livro para um ao outro, e Scorpius, que estava observando a mesa da Sonserina, virou-se para eles.


Quando viram que estavam sendo observados, disfarçaram. 


— Ah, sim — disse Bode, examinando o garoto sem pestanejar. — É claro.


Não restava a Harry quase nenhuma emoção para gastar com Bode, mas aquele olhar fixo não o fez se sentir mais confortável.


“Departamento de Mistérios”, disse a voz de mulher sem pressa e sem nada acrescentar.


— Anda, Harry — disse o Sr. Weasley, quando as portas do elevador se abriram com estrépito, e eles saíram apressados por um corredor que era muito diferente dos outros acima.


As paredes eram nuas; não havia janelas nem portas, exceto uma preta e lisa no finzinho do corredor. Harry pensou que fossem entrar, mas em lugar disso o Sr. Weasley o agarrou pelo braço e o arrastou para a esquerda, onde havia uma abertura para uma escada.


— Aqui embaixo, aqui embaixo — ofegou ele, dando duas passadas de cada vez. — O elevador nem desce até aí... por que vão fazer a audiência aí embaixo, eu...


Chegaram ao último degrau e entraram por mais um corredor, muito semelhante ao que levava à masmorra de Snape, em Hogwarts, com paredes de pedra bruta e tochas em suportes. As portas pelas quais passavam aqui eram de madeira maciça, com trancas e fechaduras.


— Décimo... Tribunal... acho... estamos quase... sim.


O Sr. Weasley parou cambaleante em frente a uma porta escura e encardida, com uma enorme fechadura de ferro, e encostou-se à parede, comprimindo a pontada que sentia no peito.


— Continue — ofegou ele, apontando a porta com o polegar. — Entre aí.


— O senhor não... não vem com...?


— Não, não, não é permitido. Boa sorte!


O coração de Harry bateu violentamente contra o seu pomo-de-adão. Ele engoliu com força, girou a maçaneta de ferro da pesada porta e entrou no tribunal.


- Terminou o capítulo – anunciou Antônio.


- Só isso?! – disse alguém da mesa da Lufa-Lufa – E a audiência?


- No próximo capítulo – informou Scorpius.


- Para que foi esse capítulo todo? – tornou a dizer Zacharias Smith. – Só mostrou o Potter andando pelo Ministério.


- O capítulo serviu para introduzir o Ministério da Magia. – explicou Rose.


- Para quê? – perguntou Zacharias. – Todo mundo conhece o Ministério. – disse, revirando os olhos. 


- Se você não tem paciência para acompanhar, pode sair – retrucou Al, mas Zacharias não se mexeu. Em vez disso, pediu para ler o próximo capítulo.


Como ele fora o primeiro a pedir, tiveram que deixar. Antônio Goldstein entregou o livro a Al, que levou-o à mesa da Lufa-Lufa, e de má vontade, entregou a Zacharias Smith.


- Espero que este tenha coisas mais interessantes – resmungou ele, antes de pigarrear e ler:


– Capítulo VIII – A audiência.






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Comentários (2)

  • Anne_Anônima

    Finalme consegui ler os últimos dois capítulos! Minha intenet pifou e demorou séculos até eu conseguir tempo pra entrar na FeB. Não quero nem ver o Zacharias Smith lendo, ele não vai parar de debochar de tudo. Nem pra narrar quadribol ele serve, imagina um livro que pode alterar o futuro! A Luna vai ler um vez? Todo mundo vai ficar sabendo dos Bufadores de Chifre Enrugado e outras loucuras,ia ser hilário! Muito bom o capítulo, inclusive deu o destaque que a Lufa-Lufa e Corvinal(minha casa) merecem e não receberam nos livros. Detalhe: quando eu marco a nota, o computador trava e a nota volta para o um, aí eu tenho que mudar mais umas cinco vezes, por isso às vezes a nota fica pequena.

    2017-06-04
  • Sonhadora Dixon

    Adorei! Ainda mais porque foram 2 capítulos juntos! Admito que estava com saudades da sua fanfic! Adorei ver o pessoal indignado com o fato da audiência ter sido mudada de local, me pergunto como ficarão ao de fato verem a audiência! Estou adorando Hogwarts também vai ler o Enigma do Principe e as Reliquias da Morte?

    2017-05-29
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