A mui antiga e nobre Casa dos



A mui antiga e nobre Casa dos Black


Draco Malfoy ergueu as sobrancelhas, surpreso. Era a casa da família de sua mãe, os Black. Nunca estivera naquele lugar; sua mãe não o levaria para visitar aquela velha do quadro, qualquer que fosse o parentesco entre os dois.


Sirius deu um longo suspiro, e começou:


A Sra. Weasley acompanhou-os ao andar de cima de cara amarrada.


— Todos direto para a cama, nada de conversas — disse quando alcançaram o primeiro patamar — vamos ter um dia cheio amanhã. Imagino que Gina esteja dormindo — acrescentou para Hermione — portanto, trate de não acordá-la.


— Dormindo, claro — disse Fred num murmúrio, depois que Hermione desejou a todos boa-noite e eles já subiam para o segundo andar. — Quero ser verme se a Gina não estiver acordada esperando Hermione para contar tudo que foi dito lá embaixo...


- Eu estava, mas quando Hermione veio, não me contou quase nada. – bufou Gina.


- Não tinha muita coisa que contar. – disse Hermione, displicente.


— Muito bem, Rony, Harry — disse a Sra. Weasley no segundo patamar, apontando para o quarto dos garotos. — Para a cama os dois.


— Boa noite — disseram Harry e Rony aos gêmeos.


— Durmam bem — despediu-se Fred com uma piscadela.


A Sra. Weasley esperou Harry passar e fechou a porta com uma batida seca. O quarto parecia, se é que isto era possível, ainda mais úmido, frio, desagradável e sombrio do que parecera à primeira vista. O quadro vazio na parede agora respirava lenta e profundamente, como se seu ocupante invisível estivesse adormecido.


Sirius franziu a testa... aquele era o quarto em que ficava o retrato de Fineus Nigellus, seu antepassado diretor de Hogwarts. O que significava que ele podia ir do quarto para o escritório de...


- Dumbledore. – sussurrou; mas fingiu não ter percebido, e continuou a ler:


Harry vestiu o pijama, tirou os óculos e entrou na cama gelada, enquanto Rony atirava petiscos às corujas no alto do armário para acalmar Edwiges e Píchi, que estavam fazendo um estardalhaço e sacudiam as asas, inquietas.


— Não podemos soltá-las toda noite para caçar — explicou Rony, vestindo o pijama marrom. — Dumbledore não quer muitas corujas voando pelo largo, acha que vai parecer suspeito. Ah, sim... ia me esquecendo.


Ele foi até a porta e trancou-a.


— Para que está fazendo isso?


— Monstro — respondeu Rony apagando a luz. — Na noite que cheguei, ele entrou pelo quarto às três da manhã. Confie em mim, você não vai querer acordar e dar de cara com ele andando pelo quarto. Em todo o caso... — Rony entrou na cama, ajeitou-se sob as cobertas e se virou de frente para encarar Harry no escuro; Harry via o contorno do amigo à claridade do luar que se filtrava pela janela suja — que é que você achou?


Harry não precisou perguntar o que o amigo Rony queria saber.


— Bom, não nos contaram muita coisa que não pudéssemos ter adivinhado sozinhos, não é mesmo? — comentou, repassando mentalmente tudo que fora discutido na cozinha. — Quero dizer, só o que realmente nos disseram foi que a Ordem está tentando impedir as pessoas de se reunirem a Vol...


Rony prendeu bruscamente a respiração.


—... demort — disse Harry com firmeza.


— Quando é que você vai começar a usar o nome dele? Sirius e Lupin usam.


Rony fingiu não ter ouvido o comentário.


Rony ignorou a expressão de Harry.


- Você usou, no segundo capítulo. – lembrou-lhe Harry.


— É, você tem razão, já sabíamos quase tudo que nos contaram, usando as Orelhas Extensíveis. A única novidade foi...


Craque.


— AI!


— Fale baixo Rony ou mamãe volta já, já.


— Vocês dois aparataram em cima dos meus joelhos!


— Ah, bom, é que é mais difícil no escuro.


Molly fez menção de se levantar, mas viu metade do Salão a observando, e mudou de ideia no último instante. Por que eles tinham de ser tão desobedientes?


Harry percebeu os vultos de Fred e Jorge saltando da cama de Rony. As molas gemeram e o colchão de Harry afundou alguns centímetros quando Jorge se sentou nos pés da cama.


— Então, já chegaram lá? — perguntou Jorge ansioso.


— Na arma que Sirius mencionou? — disse Harry.


— Deixou escapar, é mais provável — disse Fred com prazer, agora sentado ao lado de Rony. — Não escutamos nada sobre isso com as Orelhas, não foi?


— Que é que vocês acham que é? — perguntou Harry.


— Pode ser qualquer coisa — respondeu Fred.


— Mas não pode haver nada pior do que a Maldição Avada Kedavra, pode? — perguntou Rony. — Que é que pode ser pior do que a morte?


- Oh, existem muitas coisas piores que a morte, senhor Weasley. – comentou Dumbledore, com simplicidade. – A maioria das pessoas, ingenuamente, pensam que a morte é o mais terrível dos males, mas para a mente bem-estruturada, é apenas uma próxima aventura.


Rony pestanejou, surpreso. Era a primeira vez em anos que o diretor lhe respondia.


Harry tentou não parecer zangado. Depois de todo aquele tempo, Dumbledore falara com Rony, e em nenhum momento lhe dirigira a palavra.


— Talvez seja alguma coisa que pode matar muita gente de uma vez — sugeriu Jorge.


— Talvez seja algum modo bem doloroso de matar gente — disse Rony, assustado.


— Ele já tem a Maldição Cruciatus para causar dor — disse Harry — e não precisa de nada mais eficiente.


Sirius não quis dizer que, provavelmente, existiam magias piores que a Maldição Cruciatus. Vira coisas muito traumatizantes na guerra.


Fez-se uma pausa e o garoto percebeu que os outros, como ele, estavam imaginando os horrores que a tal arma poderia perpetrar.


— Então quem é que vocês acham que já tem a arma? — perguntou Jorge.


— Espero que seja o nosso lado — disse Rony, com a voz ligeiramente nervosa.


— Se for, provavelmente está sob a guarda de Dumbledore — disse Fred.


— Onde? — perguntou Rony depressa. — Hogwarts?


— Aposto que sim — arriscou Jorge. — Foi onde ele escondeu a Pedra Filosofal.


- Hum. – murmurou Draco. – Se a tal arma estiver aqui na escola... – sussurrou, quase inaudível.


- Podemos ir lá e pegar pro Lorde... – ofegou Crabbe; mas Draco colocou a mão em sua boca.


- Às vezes, Crabbe, eu me questiono o que você está fazendo na Sonserina. Você não pensa antes de falar?


Os três amigos ficaram mudos por um instante, checando se não havia ninguém olhando.


Estavam, infelizmente, sob um Ato Contratual Mágico, e não podiam contar a ninguém onde a arma estava se descobrissem... mas talvez Draco pudesse ir pegá-la, e dá-la ao Lorde das Trevas; ele recompensaria sua família como nenhuma outra.


— Mas a arma vai ser bem maior que a pedra! — disse Rony.


— Não vejo por que — retrucou Fred.


— É, tamanho não é garantia de potência — disse Jorge. — Olhe só a Gina.


— Como assim? — perguntou Harry.


— Ela nunca lançou em você a azaração que usa para rebater bicho-papão?


Harry e outros olharam para Gina, que parecia levemente orgulhosa.


- Aprendi no ano passado. – disse, em tom de conversa, virando-se para Harry. – Não pretendia usar, até que ouvi umas pessoas falando coisas sobre você na minha frente. – completou, tentando não encarar o olhar de Molly. – Mas o nome está errado – disse Gina na direção de Al, Rose e Scorpius. – O nome é Bat Bogey Hex, algo como “Azaração Meleca de Morcego”; faz morcegos brotarem do nariz da pessoa. – explicou, com divertimento.


- Foi um erro de tradução. – explicou Rose. – Confundiram bogey, que quer dizer meleca, com boggart, que quer dizer Bicho-Papão, e pensaram que fosse um feitiço contra bichos-papões.


— Psss! — fez Fred, erguendo-se um pouco da cama. — Ouçam!


Todos se calaram. Havia passos subindo a escada.


— Mamãe — disse Jorge e, sem mais demora, ouviu-se um forte craque e Harry sentiu um peso sumir dos pés de sua cama. Segundos depois, os garotos ouviram as tábuas do soalho rangerem do lado de fora da porta; sem disfarces, a Sra. Weasley estava escutando à porta para verificar se conversavam. Edwiges e Píchi piaram tristemente. As tábuas tornaram a ranger e os dois meninos a ouviram subir mais um andar, para verificar Fred e Jorge.


— Ela não confia nadinha na gente, sabe — lamentou Rony.


- E faço muito bem. – disse Molly entredentes.


Harry estava certo de que não conseguiria adormecer; a noite fora tão cheia de informações sobre as quais refletir que ele não duvidava de que iria passar horas acordado tentando digeri-las. Queria continuar a conversar com Rony, mas a Sra. Weasley fez as escadas rangerem na descida, e depois dela Harry ouviu distintamente outros virem subindo... na realidade, criaturas de muitas pernas galopavam para cima e para baixo do lado externo da porta, e Hagrid, o professor de Trato das Criaturas Mágicas, ia dizendo “Umas lindezas, não são? Este semestre vamos estudar armas...”, e Harry viu que as criaturas tinham canhões em lugar de cabeças e estavam manobrando para enfrentá-lo... ele se abaixou…


Harry observou seu sósia do futuro, Al, mas este não pareceu querer dar respostas. Sentiu-se constrangido; a maioria dos seus sonhos eram assustadores, mas aquele fora apenas sem sentido.


- Vocês – Hermione dirigiu-se a Al e Rose. – vocês descobriram o porquê de...


- Não podemos dizer – disse Rose, em tom sentencioso. – Vocês têm de descobrir ao longo da leitura. 


A próxima coisa de que teve consciência foi que estava enrolado como uma bola, aquecido sob as cobertas, e a voz forte de Jorge enchia o quarto.


— Mamãe falou para vocês se levantarem, que o café da manhã está na cozinha, e que depois ela precisa de todos nós na sala de visitas, tem um número muito maior de fadas mordentes do que ela imaginou, e que encontrou um ninho de pufosos mortos embaixo do sofá.


Meia hora depois, Harry e Rony, que se vestiram e tomaram café, apressados, chegaram à sala de visitas no primeiro andar, um aposento comprido de teto alto, com paredes verde-oliva cobertas por tapeçarias sujas. O tapete soltava nuvenzinhas de poeira cada vez que alguém pisava nele, e as longas cortinas de veludo verde-musgo zumbiam como se nelas houvesse enxames de abelhas invisíveis. A Sra. Weasley, Hermione, Gina, Fred e Jorge estavam agrupados, todos com caras estranhas, pois usavam um pano amarrado sobre o nariz e a boca. Cada um deles segurava um garrafão de líquido preto com um esguicho no bocal.


— Protejam o rosto e apanhem um borrifador — disse a Sra. Weasley a Harry e Rony no instante em que os viu, apontando para mais dois garrafões cheios de um líquido preto, em cima de uma mesa de pernas finas. — É Fadicida. Nunca vi uma infestação tão séria: o que será que o elfo doméstico desta casa andou fazendo nos últimos dez anos...?


O rosto de Hermione estava semioculto por uma toalha, mas Harry notou perfeitamente o olhar de censura que ela lançou à Sra. Weasley.


Hermione franziu a testa pensativa, e trocou um olhar com Rose, como se tentasse perguntar sem palavras como aquilo poderia estar descrito. Mas Rose limitou-se a manter o olhar, sem dizer nada.


— O Monstro está muito velho e provavelmente não pôde...


— Você ficaria surpresa com o que o Monstro pode fazer quando quer, Hermione — disse Sirius, que acabara de entrar na sala trazendo uma saca ensanguentada que parecia conter ratos mortos. — Estive alimentando o Bicuço — acrescentou em resposta ao olhar indagador de Harry. — Guardo-o lá em cima no quarto da minha mãe. Em todo o caso... essa escrivaninha...


Ele largou a saca de ratos em uma poltrona, depois se curvou para examinar o armário trancado, o qual Harry reparava pela primeira vez que estava vibrando.


Sirius deu uma risada.


- Imagino o que minha querida mãe diria se soubesse que seu aposento virou um curral para um hipogrifo.


Mas Cornélio Fudge não riu.


- O hipogrifo de Hagrid! – exclamou. – O que fugiu... você! – apontou para Sirius. – Roubou um animal que ia ser executado... fugiu de Hogwarts montado nele, não foi?


Sirius lançou um olhar rancoroso ao ministro e disse:


- Queria que eu fizesse o quê? Que eu montasse num dementador?


Uma salva de gargalhadas se seguiu, enquanto Fudge contorcia o rosto, contrafeito. Não podia retrucar contra um homem recentemente inocentado.


— Bom, Molly tenho certeza de que isso é um bicho-papão — disse Sirius, espiando pelo buraco da fechadura — mas talvez fosse bom o Olho-Tonto dar uma espiada antes que o soltemos: conhecendo minha mãe, pode ser coisa muito pior.


— Você tem razão, Sirius — disse a Sra. Weasley.


Ambos se falavam em um tom intencionalmente leve e educado, que deixou muito claro a Harry que nenhum dos dois esquecera o desentendimento da noite anterior.


- Claro que eu não esqueci. – disse Sirius, em alto e bom tom.


Uma campainha forte e ressonante tocou no térreo, seguida imediatamente pela cacofonia de berros e guinchos que na noite anterior haviam sido provocados por Tonks ao derrubar o porta-guarda-chuvas.


— Vivo dizendo a eles para não tocarem a campainha! — exclamou Sirius exasperado e saiu correndo da sala.


Ouviram-no descer com estrondo as escadas, ao mesmo tempo que os guinchos da Sra. Black ecoavam mais uma vez por toda a casa.


“Símbolos da desonra, mestiços sórdidos, traidores do próprio sangue, filhos da imundície...”


— Por favor, feche a porta, Harry — pediu a Sra. Weasley.


Harry demorou o máximo que ousou para fechar a porta da sala de visitas; queria ouvir o que estava acontecendo lá embaixo.


Sirius obviamente conseguira fechar as cortinas que cobriam o retrato da mãe, porque ela parara de berrar. O garoto ouviu os passos do padrinho no corredor, depois o tinido da corrente da porta de entrada e, por fim, a voz grave que ele reconheceu pertencer a Kingsley Shacklebolt:


— Héstia acabou de me substituir, a capa de Moody ficou com ela, mas eu gostaria de deixar um relatório para o Dumbledore...


Cornélio Fudge virou-se para Kingsley, mas o bruxo não parecia disposto a lhe dar respostas.


Harry e os amigos olharam direto para Al, Rose e Scorpius, que apenas sacudiram as cabeças negativamente.


Mas Draco, longe dali, observara pensativo uma coisa: eles estavam com plantas de algum lugar; e agora, revezavam-se em alguma missão que necessitava de uma Capa de Invisibilidade.


Repetiu isso para Crabbe e Goyle, que precisaram de instantes para entender.


- Se estão se revezando, escondidos, quer dizer que, provavelmente, estão vigiando algo. Deve ser a tal arma.


Sentindo o olhar da Sra. Weasley em sua nuca, Harry, penalizado, fechou cuidadosamente a porta da sala e tornou a se juntar ao grupo de limpeza.


A Sra. Weasley curvou-se para consultar a página sobre as fadas mordentes no Guia de pragas domésticas de Gilderoy Lockhart, aberto sobre o sofá.


Harry e Rony fizeram uma careta. Da última vez que haviam visto Gilderoy Lockhart, ele tentara apagar suas memórias e fazê-los parecerem loucos, para esconder a fraude que ele era.


- Eu sei que ele era um farsante... – falou Rose. – mas as informações do livro eram bem úteis.


- Ah, foram. – disse Al. – Lembra quando a vovó nos fez...


Mas o garoto se calou imediatamente, quando percebeu o que ia revelar.


— Certo, meninos, vocês precisam ter cuidado, porque as fadas mordentes mordem e os dentes delas são venenosos. Tenho um vidro de antídoto aqui, mas preferiria que ninguém precisasse usá-lo.


Ela endireitou o corpo, tomou posição bem diante das cortinas e fez sinal para os garotos avançarem.


— Quando eu mandar, comecem a borrifar imediatamente. Elas vão voar pra cima de nós, imagino, mas segundo as instruções do Fadicida, uma boa esguichada pode paralisá-las. Quando isto acontecer é só atirá-las neste balde. A Sra. Weasley saiu cuidadosamente da linha de fogo dos garotos e ergueu o próprio garrafão.


— Muito bem — agora!


Harry estava borrifando havia alguns segundos quando uma fada mordente adulta saiu voando da dobra da cortina, vibrando as asas reluzentes como as de um besouro, os dentinhos afiados à mostra, o corpo coberto de espessos pelos pretos e os quatro punhos miúdos apertados com fúria. Harry acertou o Fadicida em cheio na cara da fada. Ela parou no ar e caiu sobre o tapete puído que cobria o chão, com um baque surpreendentemente forte. Harry recolheu-a e atirou-a no balde.


— Fred, que é que você está fazendo? — perguntou a Sra. Weasley com aspereza. — Borrife logo e jogue essa coisa fora.


Harry se virou para olhar. Fred segurava entre o indicador e o polegar uma fada que se debatia.


— Certo — respondeu Fred animado, borrifando depressa a cara da fada para fazê-la desmaiar, mas, no instante em que a Sra. Weasley virou as costas, ele a enfiou no bolso com uma piscadela.


— Queremos testar o veneno das fadas mordentes para o nosso kit Mata-Aula — murmurou Jorge para Harry.


Fred e Jorge se entreolharam. Molly se limitou a sacudir a cabeça em desaprovação: quantas faltas daqueles dois ela descobriria até o final?


Borrifando com perícia duas fadas que voavam para o seu nariz, Harry se aproximou de Jorge e cochichou pelo canto da boca:


— Que é um kit Mata-Aula?


— Um kit com docinhos para deixar o aluno doente — sussurrou Jorge, mantendo um olho preocupado nas costas da Sra. Weasley. — Não é doente para valer, entenda, só o suficiente para o cara sair da sala de aula na hora que quiser. Fred e eu estivemos fazendo experiências nessas férias. São de mastigar e têm extremidades de cores diferentes. Se o cara come a metade laranja da Vomitilha, ele vomita. Na hora em que for levado depressa para a ala hospitalar, ele engole a metade roxa...


—... que “restaura o seu bem-estar e lhe permite curtir a atividade que escolher durante aquela hora que, do contrário, seria ocupada por um tédio inútil”. Pelo menos é como estamos anunciando — cochichou Fred, que havia se aproximado para fugir da linha de visão da Sra. Weasley e agora ia varrendo algumas fadas dispersas e guardando-as no bolso. — Mas ainda é preciso um pouco de pesquisa. No momento, os nossos provadores ainda têm achado meio difícil parar de vomitar o tempo suficiente para comer a parte roxa.


- Ministro! – sussurrou Umbridge. – O senhor viu isso? É por isso que temos que manter o controle sobre esta escola...


- Eu... eu acho que temos coisas mais importantes no momento, Dolores – murmurou Fudge, vacilante. Não podia cometer mais faltas; seu cargo estava em jogo.


- Quando vão abrir a loja? – perguntou Simas Finnigan.


- Em breve! – disseram juntos os gêmeos, piscando para Harry.


— Provadores?


— Nós — explicou Fred. — Nós nos revezamos. Jorge provou as Fantasias Debilitantes, nós dois experimentamos o Nugá Sangra-Nariz...


- Esses dois vão acabar se envenenando. – murmurou Molly em desgosto. Arthur ficou indeciso no que dizer à esposa. Achava os filhos criativos, mas não aprovava que eles se arriscassem com experiências em si mesmos.


— Mamãe pensou que a gente tivesse andado duelando — disse Jorge.


— A Loja de Logros e Brincadeiras ainda está valendo, então? — murmurou Harry, fingindo ajustar o esguicho do borrifador.


— Bom, ainda não tivemos chance de arranjar um local — disse Fred, baixando ainda mais a voz, enquanto a Sra. Weasley enxugava a testa com a echarpe para voltar ao ataque — por isso estamos operando na base de remessas postais, por enquanto. Pusemos anúncios no Profeta Diário na semana passada.


— Tudo graças a você, cara — disse Jorge. — Mas não se preocupe... mamãe não tem a menor ideia. Ela não lê mais o Profeta Diário porque anda contando mentiras sobre você e Dumbledore.


Harry riu. Obrigara os gêmeos Weasley a aceitarem o seu prêmio de mil galeões pela vitória no Torneio Tribruxo, para ajudá-los a realizar a ambição de abrir uma loja de logros e brincadeiras, mas continuava satisfeito que a Sra. Weasley não soubesse de sua contribuição para incentivar os planos dos gêmeos.


- O QUÊ?!


Desta vez, Molly Weasley não se conteve.


- Harry. – disse Arthur. – Você realmente...


Harry olhou constrangido dos gêmeos para os pais deles, e assentiu com a cabeça.


- Eu não acredito – murmurou Molly. – Harry, querido, você tem ideia do que...


- Molly. – sussurrou Arthur. – Temos que continuar ouvindo. Resolvemos isso depois.


- Foi uma ótima ideia, Harry! – disse Sirius, antes de continuar a ler:


Ela achava que dirigir uma loja de logros e brincadeiras não era uma carreira digna para os dois filhos.


- O Ministério não parece tudo isso agora. – brincou Jorge, olhando para Fudge, desafiador.


- Nem nada disso. – completou Fred, ao som de risadas.


A desfadização das cortinas ocupou a maior parte da manhã. Já passava de meio-dia quando a Sra. Weasley finalmente tirou a echarpe que a protegia, deixou-se cair em uma poltrona com as molas afundadas e de repente levantou-se outra vez, soltando um grito de nojo, pois se sentara em cima da saca de ratos mortos.


Sirius deu uma gargalhada maldosa, ignorando o olhar feiíssimo de Molly.


As cortinas haviam parado de zumbir; pendiam moles e úmidas com o intenso borrifamento. No balde aos pés deles, jaziam amontoadas as fadas mordentes paralisadas, ao lado de uma bacia com seus ovos negros; Bichento agora os farejava e Fred e Jorge lançavam olhares de cobiça.


Draco Malfoy batia os pés, impaciente, perguntando quando o livro lhe passaria mais informações úteis; estava tão imerso nesse pensamento que mal notou o garoto do futuro de cabelo platinado o observando, curioso.


— Acho que vamos cuidar daqueles depois do almoço.


A Sra. Weasley apontou para os armários de portas de vidro empoeiradas a cada lado do console da lareira. Estavam abarrotados com uma estranha variedade de objetos: uma coleção de adagas enferrujadas, garras, uma pele de cobra enrolada, algumas caixas de prata oxidada com inscrições em línguas que Harry não reconheceu e, o mais desagradável de todos, uma garrafa de cristal lapidado com uma grande opala engastada na rolha, contendo o que Harry tinha certeza que era sangue.


- E é. – murmurou Sirius, sombriamente. – Minha casa está cheia de objetos das Trevas; esse nem de longe é o pior deles.


A campainha barulhenta da porta tornou a soar. Todos olharam para a Sra. Weasley.


— Fiquem aqui — disse ela com firmeza, agarrando a saca de ratos na hora em que recomeçavam os gritos da Sra. Black no andar de baixo. — Vou trazer uns sanduíches.


Saiu da sala, fechando cuidadosamente a porta ao passar. Na mesma hora, todos correram à janela para espiar a entrada. Viram o cocuruto de alguém de cabelos ruivos e malcuidados e uma pilha de caldeirões precariamente equilibrados.


— Mundungo! — exclamou Hermione. — Para que será que ele trouxe todos aqueles caldeirões?


— Provavelmente está procurando um lugar seguro para guardá-los — disse Harry. — Não era isso que estava fazendo na noite em que devia estar me seguindo? Apanhando caldeirões suspeitos?


— É, você tem razão! — disse Fred, quando a porta de entrada foi aberta; Mundungo entrou com o carregamento de caldeirões e desapareceu de vista.


— Caramba, mamãe não vai gostar disso...


Ele e Jorge foram até a porta e pararam para escutar. Os berros da Sra. Black haviam parado.


- O que é que você faz se aliando com esse sujeito, Dumbledore? – indagou Fudge, num sussurro rosnado.


- Ele é um informante útil. – explicou Dumbledore. – Tem muitos contatos, que foram muito úteis durante a Primeira Guerra contra Voldemort. Em tempos como este, todo aliado é bem-vindo.


Fudge não replicou; sentia-se mais e mais acuado. Se Dumbledore e os outros não o considerassem útil, ele perderia seu lugar.


— Mundungo está conversando com o Sirius e o Kingsley — murmurou Fred, franzindo a testa concentrado. — Não consigo ouvir direito... Vocês acham que podíamos arriscar as Orelhas Extensíveis?


— Talvez valha a pena — disse Jorge. — Eu podia ir escondido até lá em cima e apanhar um par...


Mas naquele exato momento ouviram tal explosão sonora no térreo que as Orelhas Extensíveis se tornaram dispensáveis. Todos puderam ouvir exatamente o que a Sra. Weasley estava berrando a plenos pulmões.


— NÃO ESTAMOS OPERANDO UM ESCONDERIJO PARA OBJETOS ROUBADOS!


- Claro que não é! – disse Molly, sem corar. – Mundungo devia ficar lá fora, que é o lugar dele. Sempre que está por perto, traz consigo aquela aura de desonestidade; escreva o que eu digo, Arthur, não vou aturar aquele homem mais do que preciso aturar.


— Adoro ouvir mamãe gritando com os outros — disse Fred, com um sorriso de satisfação no rosto, abrindo uma fresta na porta para permitir que a voz da Sra. Weasley entrasse melhor pela sala — é muito bom para variar!


—... COMPLETAMENTE IRRESPONSÁVEL, COMO SE NÃO TIVÉSSEMOS O BASTANTE PARA NOS PREOCUPAR SEM VOCÊ TRAZER CALDEIRÕES ROUBADOS PARA DENTRO DA CASA...


— Os idiotas estão deixando ela ganhar impulso — comentou Jorge, sacudindo a cabeça. — É preciso cortar logo o papo dela, senão vai se enchendo de vapor e não para mais. E anda doida para ter uma chance de desancar o Mundungo, desde que ele saiu escondido quando devia estar seguindo você, Harry... e lá vai a mãe do Sirius outra vez.


- Pelo menos, eu tinha um bom motivo. – resmungou Molly, lançando um olhar de censura a Fred e Jorge.


A voz da Sra. Weasley foi abafada pelos novos guinchos e gritos dos retratos no corredor.


Jorge fez menção de fechar a porta para abafar o barulho, mas, antes que pudesse fazê-lo, um elfo doméstico esgueirou-se para dentro.


Exceto pelo trapo imundo amarrado como uma tanga nos quadris, ele estava completamente nu. Parecia muito velho. Sua pele dava a impressão de ser maior do que o corpo e, embora fosse careca, como todos os elfos domésticos, uma boa quantidade de pelos brancos saía de suas orelhas enormes como as de um morcego. Seus olhos injetados eram de um cinzento aquoso e seu nariz, bulboso, grande e meio trombudo.


O elfo não prestou a menor atenção em Harry nem nos demais. Agindo como se não pudesse vê-los, avançou arrastando os pés, o corpo curvado, mas lenta e decididamente, para o fundo do aposento, resmungando baixinho numa voz rouca e sonora como a de uma rã-touro.


Sirius bufou.


- Só me faltava essa... já não era preciso gastar tantas páginas com essa casa, agora vão gastar páginas com o Monstro. – resmungou, cuspindo a palavra “Monstro” com desprezo.


—... cheira a esgoto e ainda por cima criminoso, mas ela não é melhor, traidora perversa do próprio sangue com esses pirralhos que emporcalham a casa da minha senhora, ah, minha pobre senhora, se ela soubesse, se soubesse a ralé que deixaram entrar em sua casa, que é que ela diria ao velho Monstro, ah, que vergonha, sangues ruins e lobisomens e traidores e ladrões, coitado do velho Monstro, que é que ele pode fazer...


Sirius contorceu o rosto de raiva; a última coisa que queria era repetir as pragas de Monstro.


Al, Rose e Scorpius continuavam estranhamente quietos, como se não quisessem chamar atenção.


— Olá, Monstro — disse Fred em voz muito alta, fechando a porta com um estalo.


O elfo doméstico ficou imóvel, parou de resmungar, e encenou um sobressalto muito forte e pouco convincente.


— Monstro não viu o jovem senhor — disse, virando-se e fazendo uma reverência para Fred. Ainda com os olhos no tapete, acrescentou, em tom perfeitamente audível: — É um pirralho desagradável e traidor do próprio sangue, sim.


— Desculpe? — disse Jorge. — Não entendi essa última parte.


— Monstro não disse nada — repetiu o elfo, com uma segunda reverência, e acrescentou em um claro murmúrio: — e aqui temos os gêmeos, ferinhas desnaturadas que são.


Harry não sabia se ria ou não.


- Harry! – murmurou Hermione com raiva.


- Lá vem ela. – desdenhou Rony, ignorando o olhar de censura da amiga.


Ninguém notou que Al e Rose se entreolhavam, ansiosos.


O elfo se endireitou, olhando-os malignamente e, pelo jeito, convencido de que os garotos não podiam ouvi-lo continuou a resmungar.


—... e olhem a sangue ruim, parada ali insolente, ah, se a minha senhora soubesse, ah, como iria chorar, e tem um garoto novo, Monstro não sabe o nome dele. Que é que ele está fazendo aqui? Monstro não sabe...


- E você defende essa coisa. – disse Rony, com desdém; mas Hermione não cedeu.


- Rony, você não entende...


— Este é o Harry, Monstro — disse Hermione, hesitante. — Harry Potter.


Os olhos claros de Monstro se arregalaram e ele resmungou mais depressa e mais furioso que nunca.


— A sangue ruim está falando com Monstro como se fosse minha amiga, se a senhora de Monstro o visse em tal companhia, ah, o que iria dizer...


— Não chame Hermione de sangue ruim! — disseram ao mesmo tempo Rony e Gina, muito zangados.


— Não tem importância — sussurrou a garota — ele não bate bem da cabeça, não sabe o que está...


— Não se engane, Hermione, ele sabe exatamente o que está dizendo — falou Fred, encarando Monstro com grande aversão.


Monstro continuava resmungando, com os olhos fixos em Harry.


— É verdade? Esse é o Harry Potter? Monstro está vendo a cicatriz, deve ser verdade, foi o garoto que deteve o Lorde das Trevas, Monstro queria saber como foi que ele fez...


- Todos nós queremos. – afirmou Ernesto MacMillan. – Trata-se de um dos maiores mistérios da História dos Bruxos.


Harry sentiu um desagrado: nunca contara a mais ninguém como a mãe se sacrificara por ele. Era uma coisa muito pessoal. Ernesto era muito sem tato de tocar naquele assunto.


— E não queremos todos, Monstro? — falou Fred.


— Afinal que é que você está querendo? — perguntou Jorge.


Os enormes olhos de Monstro voltaram-se depressa para Jorge.


— Monstro está limpando — respondeu, fugindo à pergunta.


— Dá mesmo para acreditar! — disse uma voz atrás de Harry. Sirius voltara; da porta, olhava aborrecido para o elfo. O barulho no corredor diminuíra; talvez a Sra. Weasley e Mundungo tivessem transferido a discussão para a cozinha. Ao ver Sirius, Monstro mergulhou em uma reverência ridiculamente profunda que achatou o seu nariz trombudo no chão.


— Fique em pé direito — disse Sirius impaciente. — Agora, que é que você está aprontando?


— Monstro está limpando — repetiu o elfo. — Monstro vive para servir a nobre casa dos Black...


— Que está ficando cada dia mais preta, está imunda.


— Meu senhor sempre gostou de brincar — disse Monstro, curvando-se outra vez, e continuando a murmurar. — O senhor sempre foi um porco mau e ingrato que partiu o coração de sua mãe...


Draco se viu surpreso; nunca vira um elfo doméstico insultar seu senhor; não era da natureza deles. Mas afinal, seu próprio elfo ajudara Potter, que fizera o favor de libertá-lo. 


— Minha mãe não tinha coração, Monstro — retorquiu Sirius. — Sobrevivia de puro rancor.


Monstro tornou a se curvar e falou:


— O que o senhor disser — resmungou furiosamente. — O senhor não é digno de limpar a lama das botas de sua mãe, ah, minha pobre senhora, que diria se visse Monstro servindo esse filho, que odiava tanto, que desapontamento teve com ele...


- Esse elfo deve estar maluco. – comentou Pansy. – O seu não fazia isso, não é, Draco?


- Claro que não! – respondeu Draco. – Esse Monstro servia os pais do Sirius Black, e ele é contra tudo que eles pregavam; o elfo deve odiar Black tanto quanto a família o odiava. – concluiu, interessado.


— Perguntei o que estava aprontando — falou Sirius com a voz cortante. — Todas as vezes que você aparece fingindo que está limpando, esconde alguma coisa no seu quarto para não podermos jogá-la fora.


— Monstro nunca tiraria nada do seu lugar na casa do senhor — disse o elfo, e então murmurou depressa: — A senhora jamais perdoaria Monstro se a tapeçaria fosse jogada fora, faz sete séculos que está na família, Monstro precisa salvá-la, Monstro não vai deixar que o senhor e os traidores do próprio sangue e seus pirralhos a destruam...


— Achei que talvez fosse isso — respondeu Sirius, lançando um olhar desdenhoso à parede oposta. — Ela deve ter posto mais um Feitiço Adesivo Permanente atrás da peça, não duvido nada, mas se houver um jeito com certeza vou me livrar dela. Agora, vá embora, Monstro.


Al, Rose e Scorpius se entreolharam, furtivos; haviam chegado tarde demais. Não, ainda podiam resolver isso, pensaram, quando viram os outros olhando.


- O que... – começou Rony, mas Al disse:


- Não podemos falar nada, lembram?  


Aparentemente Monstro não ousava desobedecer a uma ordem direta, contudo o olhar que lançou ao passar por Sirius arrastando os pés era do mais profundo desprezo, e ele saiu resmungando sem parar.


- Será que podemos pular as maluquices desse elfo idiota? – indignou-se Sirius.


- Sirius!


- Hermione, acredite em mim, escutar os resmungos do Monstro vai ser a coisa menos importante desses livros.


Ninguém percebeu que Al, Rose e Scorpius se remexiam, inquietos.


—... volta de Azkaban dando ordens a Monstro, ah, minha pobre senhora, que diria se visse a casa agora, habitada por uma ralé, tesouros atirados no lixo, minha senhora jurou que ele não era mais seu filho, mas ele voltou, dizem que também é assassino...


— Continue a resmungar e vou virar mesmo assassino! — disse Sirius irritado, batendo a porta na cara do elfo.


— Sirius, ele não está com o juízo perfeito — Hermione defendeu-o.


— Acho que não tem consciência de que podemos ouvi-lo.


— Ele passou tempo demais sozinho — disse Sirius — recebendo ordens malucas do retrato de minha mãe e sem ter com quem falar, mas sempre foi safado...


- Está explicado por que esse elfo é doido. – disse Draco, pensativo. Se o elfo servia aos Black e sua mãe pertencia à família, talvez o elfo lhe pudesse ser útil algum dia...


— E se você o libertasse — sugeriu Hermione esperançosa — quem sabe...


- Hermione, você não se lembra da Winky? – lembrou Gina. – não se lembra de como ela ficou quando foi libertada?


Hermione balançou a cabeça.  


- Isso foi um caso; devem existir muitos elfos que gostariam de ser libertados...


- O Monstro, não. – interrompeu Sirius, e voltou a ler:


— Não podemos libertá-lo, ele sabe demais sobre a Ordem — disse Sirius secamente. — De qualquer modo, o choque o mataria. Proponha a ele ir embora dessa casa, e veja a reação.


Sirius atravessou a sala até onde estava pendurada a tapeçaria que Monstro tentara proteger, ocupando toda a parede. Harry e os outros o seguiram. A tapeçaria parecia imensamente velha; desbotada e, pelo aspecto, as fadas mordentes a haviam roído em alguns pontos. Mesmo assim, o fio de ouro com que fora bordada conservava brilho suficiente para mostrar uma enorme árvore genealógica que remontava (até onde Harry pôde ver) à Idade Média. Bem no alto da tapeçaria, lia-se em grandes letras:


A Mui Antiga e Nobre Casa dos Black


“Toujours pur”


- O que quer dizer isso? – perguntou uma garota da Corvinal. – Toujour...


- “Sempre puro”. – respondeu Sirius, com indiferença. – O lema da minha adorável família; lembrando a todos de que seu sangue era sempre puro... sem contar, é claro, os incontáveis traidores de sangue que eles geraram. – Sirius balançou a cabeça com amargura.


— Você não está aí! — admirou-se Harry, depois de examinar a parte inferior da árvore.


— Costumava estar aqui — respondeu Sirius, apontando para um buraquinho redondo e carbonizado na tapeçaria, que lembrava uma queimadura de cigarro. — Minha meiga e querida mãe me detonou depois que fugi de casa – Monstro gosta muito de resmungar essa história.


- A tradição da minha querida família. – disse Sirius. – Sempre que alguém minimamente decente surgia, era queimado dela.


— Você fugiu de casa?


— Quando tinha uns dezesseis anos. Já estava cheio.


— Aonde você foi? — perguntou Harry, mirando o padrinho.


— Para a casa do seu pai — respondeu Sirius. — Seus avós foram muito compreensivos; meio que me adotaram como um segundo filho. É, eu acampava na casa do seu pai durante as férias escolares, e quando fiz dezessete anos montei casa própria. Meu tio Alphard me deixara um bom dinheiro, ele também foi removido da tapeçaria, provavelmente por essa razão, em todo o caso, a partir daí cuidei de mim mesmo. Mas eu era sempre bem-vindo na casa dos Potter para o almoço de domingo.


Sirius parou, sentindo um vazio dentro de si. Sua família infeliz já era um assunto ruim o bastante; pensar em James era destrutivo.


Olhou para a mesa da Grifinória, e viu que recebia olhares caridosos de Harry, dos amigos, dos Weasley, e dos três visitantes que haviam surgido. Sentiu-se um pouco melhor, e continuou:


— Mas... por que você...?


— Saí de casa? — Sirius sorriu com amargura e passou os dedos pelos cabelos longos e maltratados. — Porque odiava todos eles: meus pais, com a mania de puro-sangue, convencidos de que ser um Black tornava a pessoa praticamente régia... meu irmão idiota, frouxo suficiente para acreditar neles... olhe ele ali.


Sirius suspirou, com amargura. 


Sirius enfiou um dedo bem na base da árvore, indicando “Regulus Black”. Uma data de falecimento (há uns quinze anos) seguia-se à do nascimento.


— Ele era mais novo e um filho muito melhor do que eu, meus pais não se cansavam de me lembrar.


— Mas ele morreu — disse Harry.


— Morreu. Um idiota... juntou-se aos Comensais da Morte.


- Podíamos pular esse assunto? – murmurou Sirius; não queria pensar em seu irmão perdido.


— Você está brincando!


— Ora vamos, Harry, você já não viu o suficiente nesta casa para saber que tipo de bruxos era a minha família? — disse Sirius irritado.


— Eles eram... os seus pais, Comensais da Morte também?


- Aquela mulher do retrato era má o suficiente para ser. – Harry ouviu Lilá Brown comentar.


— Não, não, mas pode acreditar, eles achavam que Voldemort estava certo, eram totalmente a favor de purificar a raça bruxa, de nos livrar dos nascidos trouxas e entregar o comando aos puros-sangues. E não estavam sozinhos, havia muita gente antes de Voldemort mostrar sua verdadeira cara, que acreditava nele... se acovardaram quando viram a que extremos ele estava disposto a ir para assumir o poder. Mas aposto que meus pais achavam que Regulus era o perfeito heroizinho quando se alistou logo no começo.


— Ele foi morto por um auror? — perguntou Harry tentando adivinhar.


— Oh, não. Ele foi morto por Voldemort. Ou por ordens de Voldemort, o que é mais provável; duvido que Régulo tenha se tornado bastante importante para ser morto por Voldemort em pessoa. Pelo que descobri depois de sua morte, ele acompanhou o movimento até certo ponto, então entrou em pânico com o que lhe pediam para fazer e tentou recuar. Bem, ninguém simplesmente entrega um pedido de demissão a Voldemort. É um serviço para a vida toda.


Sirius parou de ler, sentindo uma sensação amarga dentro de si. À mesa da Sonserina, havia alunos silenciosamente pensativos.


Draco Malfoy procurava parecer indiferente; mas não estava. Achava que só precisaria observar em segurança, enquanto os Comensais da Morte dominavam a comunidade bruxa; não pensara que fosse precisar se alistar. Preferia não pensar nisso.


Crabbe e Goyle não pensaram muito naquilo; estavam ansiosos para terem a chance de ser Comensais da Morte, e torturar quem quisessem.


Theodore Nott tinha os olhos baixos, sem demonstrar emoções. Aprendera desde cedo a não demonstrar suas intenções, e não chamar atenção. Mas no fundo, pensava com apreensão: seu pai já era velho, e se ele não pudesse mais continuar ou fosse pego, o Lorde das Trevas poderia exigir que ele tomasse seu lugar. Não conseguia deixar de pensar naquilo; nunca vira o Lorde das Trevas, mas não parava de imaginar um bruxo ameaçador chegando a ele, avisando que deveria assumir o lugar do pai, e marcando-o com a Marca Negra. Era desagradável.


— Almoço — anunciou a voz da Sra. Weasley.


Ela vinha empunhando a varinha bem no alto, equilibrando na ponta uma enorme bandeja carregada de sanduíches e bolos. Estava com a cara muito vermelha e ainda parecia zangada. Os outros se aproximaram, ansiosos para comer, mas Harry continuou em companhia de Sirius, que se curvou para a tapeçaria.


— Faz anos que não olho isso. Veja o Fineus Nigellus, meu tetravô... o diretor menos querido que Hogwarts já teve... e Araminta Melíflua... prima de minha mãe... tentou aprovar à força uma lei ministerial que tornava legal a caça aos trouxas... e a querida tia Eladora... deu início à tradição familiar de decapitar os elfos domésticos quando ficavam velhos demais para carregar as bandejas de chá...


Hermione fez uma careta de desagrado.


é claro que sempre que a família gerava alguém razoavelmente decente, ele era repudiado. Estou vendo que Tonks não está aqui. Talvez seja por isso que Monstro não recebe ordens dela: a obrigação dele é atender a tudo que alguém da família pedir...


— Você e Tonks são parentes? — perguntou Harry surpreso.


— Ah, claro, a mãe dela, Andrômeda, era minha prima favorita — disse, examinando a tapeçaria com cuidado. — Não, Andrômeda também não está aqui, olhe...


E apontou para mais uma queimadurazinha redonda entre dois nomes, Bellatrix e Narcissa.


— As irmãs de Andrômeda continuam aí porque fizeram casamentos belos e respeitáveis com puros-sangues, mas Andrômeda se casou com Ted Tonks que nasceu trouxa, então...


Draco arregalou os olhos. Sirius, então, era seu primo; e Tonks, também. Não gostava disso; não precisava saber que tinha parentes traidores de sangue tão próximos.


Sirius encenou o detonar da tapeçaria com a varinha e riu amargamente. Harry, porém, não achou graça; estava ocupado demais examinando os nomes à direita da queimadura de Andrômeda. Uma linha dupla de ouro ligava o nome de Narcisa Black com Lúcio Malfoy e uma única linha vertical que saía dos seus nomes ao nome de Draco.


— Você é parente dos Malfoy!


Todos à volta de Draco voltaram-se para ele, que os ignorou, pensativo: se ele era descendente direto dos Black, e estava presente naquela tapeçaria, talvez Monstro lhe obedecesse...


— As famílias de puro-sangue são todas entrelaçadas — declarou Sirius. — Se alguém deixar os filhos e filhas casarem apenas com puros-sangues, a escolha fica muito reduzida; sobram muito poucos. Molly e eu somos primos por casamento e Arthur parece que é um primo em segundo grau. Mas não adianta procurá-los aqui: se um dia houve uma família de traidores do próprio sangue foram os Weasley.


- Você é parente do Sirius Black?! – perguntou Simas Finnigan a Arthur Weasley.


- Minha mãe era uma Black. – explicou Arthur. – Cedrella; foi tirada dessa tapeçaria quando se casou com meu pai, Septimus Weasley.


- Mas – disse Rony. – isso quer dizer que... que nós somos parentes dos Malfoy?!


Draco sentiu-se nauseado; a cada momento descobria mais parentescos com traidores do sangue; os Weasley eram o mais desagradável de se saber.


Mas Harry agora estava lendo o nome à esquerda da queimadura de Andrômeda: Bellatrix Black, que era ligada por uma linha dupla a Rodolphus Lestrange.


— Lestrange... — disse Harry em voz alta.


Harry engoliu em seco; observava o amigo, Neville Longbottom, empalidecer.


O nome despertara alguma coisa em sua memória; ele o conhecia de algum lugar, mas por um instante não conseguiu lembrar de onde, embora tenha tido uma sensação estranha e sorrateira no fundo do estômago.


— Estão em Azkaban — disse Sirius brevemente.


Harry mirou-o com curiosidade.


— Bellatrix e o marido Rodolfo foram junto com Bartô Crouch júnior — esclareceu Sirius, no mesmo tom brusco. — O irmão de Rodolphus, Rabastan, também.


Então, Harry se lembrou. Vira Bellatrix na Penseira de Dumbledore, o estranho objeto em que era possível guardar pensamentos e lembranças: uma mulher alta e morena de pálpebras caídas, que se levantara no julgamento e declarara sua lealdade inabalável a Lord Voldemort, o orgulho que sentira em procurá-lo depois de sua queda e sua convicção de que um dia seria recompensada por essa lealdade.


- E o pior é que ela estava certa. – murmurou Sirius. – Voldemort vai adorar saber que ela não desertou, ao contrário de metade dos seguidores dele.


Harry viu o rosto redondo de Neville contorcer-se; não conseguia pensar como ele se sentia. Reparou que Al e Rose tinham a mesma expressão pesarosa para Neville, mas Scorpius não parava de olhar para a mesa da Sonserina.


— Você nunca disse que ela era sua...


— Faz diferença se é minha prima? — retrucou Sirius. — No que me diz respeito, nenhum deles é minha família. E ela menos de todos. Não a vejo desde que tinha sua idade, a não ser que se conte a visão de relance quando chegou a Azkaban. Você acha que tenho orgulho de ter uma parenta como ela?


Devia ser desagradável para o padrinho ter laços de sangue com aquelas pessoas, pensou Harry.


— Desculpe — disse Harry depressa. — Eu não quis... fiquei surpreso, foi só...


— Não faz mal, não precisa se desculpar — disse o padrinho num murmúrio. Afastou-se então da tapeçaria, as mãos enterradas nos bolsos. — Não gosto de ter voltado — disse olhando pela sala. — Nunca pensei que voltaria a ficar preso nesta casa.


Harry entendeu perfeitamente. Sabia como iria se sentir quando crescesse e achasse que tinha se livrado da casa dos Dursley para sempre e precisasse voltar a viver na Rua dos Alfeneiros número quatro.


Dumbledore suspirou, observando Harry. Precisava conversar com o garoto quando aquilo terminasse.


— Naturalmente é perfeita para uma sede — continuou Sirius. — Meu pai instalou nela todas as medidas de segurança conhecidas na bruxidade, quando morávamos aqui. Não é localizável, por isso os trouxas nunca podem aparecer para visitar, como se algum dia tivessem querido fazer isso, e agora que Dumbledore acrescentou novas medidas de proteção, seria difícil encontrar uma casa mais segura no mundo. Dumbledore é o Fiel do Segredo da Ordem, sabe, ninguém pode encontrar a sede a não ser que ele diga pessoalmente como fazer; aquele bilhete que Moody lhe mostrou, ontem à noite, era de Dumbledore... — Sirius deu uma risadinha curta. — Se meus pais vissem para que está servindo a casa deles agora... bom, o quadro da minha mãe já pode dar a vocês uma ideia...


Ele amarrou a cara por um momento, em seguida suspirou.


Dumbledore olhou para Sirius, pesaroso. Sabia que ele se sentia mal naquela casa, mas agora que enxergava por aquele ponto de vista, era muito pior do que imaginara.


— Eu não me importaria se pudesse ao menos sair de vez em quando para fazer alguma coisa útil. Já perguntei a Dumbledore se posso acompanhar você à audiência, como cachorro, é claro, para poder lhe dar algum apoio moral, que é que você acha?


- Eu lamento, Sirius. – murmurou Dumbledore, discretamente, para o homem, que pareceu muito surpreso.


- Dumbledore?!


- Lamento tê-lo deixado preso naquela casa. – suspirou Dumbledore. – Podemos conversar mais tarde?


- Hã... certo. – e voltou a ler, ainda surpreso.


Harry sentiu o estômago despencar e atravessar o tapete empoeirado. Não pensava na audiência desde o jantar da noite anterior; com a excitação de estar outra vez com as pessoas de quem mais gostava, de receber informações sobre tudo que estava acontecendo, a audiência fugira completamente de sua lembrança.


Ao ouvir as palavras de Sirius, porém, a sensação esmagadora de pavor tornou a invadi-lo. Olhou para Hermione e os Weasley, todos devorando sanduíches, e pensou o que sentiria se voltassem a Hogwarts sem ele.


- Seria horrível. – afirmou Hermione. – Eu me sentiria praticamente culpada de estar vindo para Hogwarts sem você.


- Idem. – resumiu Rony, e Gina, Fred e Jorge concordaram com a cabeça.


— Não se preocupe — disse Sirius. Harry levantou a cabeça e percebeu que Sirius estivera observando-o. — Tenho certeza de que vão inocentá-lo, decididamente há alguma coisa no Estatuto Internacional de Sigilo em Magia que prevê o uso da magia para salvar a própria vida.


- A menos que sejam mentiras. – comentou Umbridge em voz alta.


A maioria dos alunos e professores encararam a professora com desagrado; mas àquela altura, estava desesperada para desacreditar aquela farsa.


- Vamos, vocês não acreditam nisso, não é? – questionou ela. – Ministro?!


Mas Fudge não conseguiu falar. Sentia que quanto mais questionava, mais desacreditado ficava.


— Mas e se eles me expulsarem? — perguntou Harry em voz baixa. —Posso voltar para cá e morar com você?


Sirius sorriu com tristeza.


— Veremos.


— Eu me sentiria muito melhor sobre a audiência se soubesse que não precisaria voltar para a casa dos Dursley — Harry pressionou o padrinho.


Dumbledore olhou Sirius e Harry, com tristeza. Eles estavam desenvolvendo um forte vínculo, e ele infelizmente os separaria. Harry precisava voltar à Rua dos Alfeneiros ao fim daquele ano; era necessário para que ele ficasse seguro, concluiu, resignado.


— Lá deve ser bem ruim para você preferir este lugar — disse o padrinho sombriamente.


— Andem logo, vocês dois, ou não vai sobrar comida — chamou a Sra. Weasley.


Sirius deu mais um grande suspiro, lançou um olhar mal-humorado à tapeçaria, então ele e Harry foram se juntar aos outros.


O garoto fez o possível para não pensar na audiência, enquanto esvaziavam os armários de portas de vidro naquela tarde. Felizmente para ele, era uma tarefa que exigia concentração, porque um grande número de objetos ali dentro parecia muito relutante em deixar as prateleiras empoeiradas. Sirius aguentou uma mordida séria de uma caixa de rapé de prata; em poucos segundos sua mão se cobrira de uma crosta desagradável que lembrava uma grossa luva marrom.


— Tudo bem — falou, examinando a mão com interesse antes de lhe dar um toque de varinha e restaurar a pele ao normal — deve ter pó de fura-frunco aí dentro.


- Nada de mais, comparado a outras coisas de lá. – comentou Sirius.


Atirou a caixa no saco em que estavam depositando os escombros dos armários; pouco depois, Harry viu Jorge enrolar a mão com todo o cuidado e esconder a caixa no bolso, já cheio de fadas mordentes.


Eles encontraram um instrumento de prata de aparência desagradável, algo semelhante a uma pinça de muitas pernas, que subiu como uma aranha pelo braço de Harry e, quando o garoto quis apanhá-la, tentou furar sua pele. Sirius agarrou-a e a esmagou com um livro pesado intitulado A nobreza natural: uma genealogia dos bruxos.


- É um livro interessante. – comentou Scorpius. – Quer dizer, eu sei que foi feito pelos puristas. – acrescentou ele, vacilante. -, mas conta a história de muitas famílias bruxas, e sua influência na História do Mundo Mágico.


Ele sentiu o rosto corar; sabia que estavam confusos com o que ele quisera dizer. Mas Rose e Al o olharam bondosamente.


Havia uma caixa musical que emitiu uma toada tilintante ligeiramente sinistra quando lhe deram corda, e eles logo descobriram que estavam ficando curiosamente fracos e sonolentos, até que Gina teve o bom senso de bater a tampa da caixa;


- Alguém tinha que agir, né? – comentou Gina. – Antes que o Rony começasse a roncar.


um medalhão pesado que ninguém conseguiu abrir;


Al, Rose e Scorpius arregalaram os olhos, aflitos. Scorpius fez uma expressão indagadora, mas Rose fez um gesto negativo discreto, e ele e Al aceitaram que, infelizmente, teriam de esperar.


vários selos antigos e, em uma caixa coberta de pó, uma Ordem de Merlin, primeira classe, que fora concedida ao avô de Sirius por “serviços prestados ao Ministério”.


— O que significa que deve ter doado a eles um carregamento de ouro — disse Sirius com desprezo, atirando a medalha no saco de lixo.


- Pelo menos, eles não podem cassá-la – disse Sirius, encarando Fudge. -, a menos que ele tenha pedido o dinheiro de volta.


Fudge não respondeu.


Várias vezes Monstro entrou timidamente na sala e tentou contrabandear alguma coisa sob a tanga, murmurando maldições terríveis sempre que alguém o surpreendia no ato. Quando Sirius tirou à força da mão dele um grande anel de ouro com o brasão dos Black, Monstro chegou a debulhar-se num choro furioso e abandonou a sala soluçando baixinho e xingando Sirius de nomes que Harry nunca ouvira.


- Aposto que aquele demoninho conseguiu contrabandear alguma coisa. – murmurou Sirius entredentes. – Ele tem talento de passar despercebido, quando quer.


— Pertenceu ao meu pai — disse Sirius atirando o anel no saco. — Monstro não era tão dedicado a ele quanto à minha mãe, mas ainda assim eu o apanhei abraçando uma calça velha do meu pai na semana passada.


Hermione sentiu um surto de pena de Monstro, e encarou Sirius; ele não conseguia entender o que Monstro sentia.


A Sra. Weasley os fez trabalhar muito pesado durante os dias seguintes. A sala de visitas levou três dias para ser descontaminada.


Por fim, as únicas coisas indesejáveis que restaram foram a tapeçaria com a árvore da família Black, que resistiu a todas as tentativas de baixá-la da parede, e a escrivaninha desconjuntada. Moody ainda não aparecera na sede, para se certificarem do que havia lá dentro.


Eles passaram da sala de visitas para uma sala de jantar no andar térreo, onde encontraram aranhas do tamanho de pires escondidas no armário (Rony saiu da sala apressado para fazer uma xícara de chá e só voltou uma hora e meia depois).


Gina, Fred e Jorge viraram-se para Rony.


- Que foi? – perguntou Rony. – Eu nunca escondi que detesto aranhas.


- Mas nós tivemos que arrumar aquele quarto sozinhos. – disse Gina. – Você já não entrou numa floresta cheia de aranhas gigantes?


- É, para salvar o pessoal que tinha sido petrificado. – replicou Rony. – Enfrentar aquelas aranhas não ia salvar ninguém.


Sem a menor cerimônia, Sirius atirou a porcelana com o brasão e o lema dos Black no saco, e deu o mesmo destino a uma coleção de velhas fotos com molduras de prata oxidadas, cujos ocupantes soltaram guinchos agudos quando os vidros sobre as fotos se partiram.


Snape talvez se referisse ao trabalho deles como “uma limpeza”, mas, na opinião de Harry, o fato é que estavam travando uma guerra com a casa que resistia bravamente, ajudada e acobertada por Monstro. O elfo doméstico não parava de aparecer quando estavam todos reunidos, seus resmungos cada vez mais ofensivos quando tentava retirar o que pudesse dos sacos de lixo.


- Aposto que a casa estava realmente resistindo à limpeza. – disse Sirius. – Está impregnada com a essência da minha família, não se renderia tão fácil. – concluiu, secamente.


Sirius chegou até a ameaçá-lo com roupas, mas Monstro fixou-o com um olhar lacrimoso e disse: “O senhor deve fazer o que desejar”, antes de se afastar resmungando muito alto, “mas o senhor não vai mandar Monstro embora, não, porque Monstro sabe o que estão tramando, ah, se sabe, ele está conspirando contra o Lorde das Trevas, ah, sim, com esses sangues ruins e traidores e gentalha...”


Ao que Sirius, não se importando com os protestos de Hermione, agarrou Monstro pela tanga e atirou-o para fora da sala.


Hermione sacudiu a cabeça agressivamente, e Al e Rose fizeram uma ligeira careta de pesar.


A campainha da porta tocava várias vezes por dia, o que era a deixa para a mãe de Sirius começar a berrar, e para Harry e os outros tentarem entreouvir o que dizia o visitante, embora pouco descobrissem nos breves relances e fragmentos de conversa que conseguiam captar, antes que a Sra. Weasley os chamasse de volta ao trabalho. Snape entrava e saía da casa com mais frequência, embora, para alívio de Harry, os dois nunca se encontrassem cara a cara; o garoto também avistou a professora de Transfiguração McGonagall, com uma aparência muito estranha usando vestido e casaco de trouxa, e pelo jeito muito atarefada para se demorar.


Harry viu inúmeros colegas da Grifinória acenarem, baterem palmas e assobiarem para a diretora de sua Casa por fazer parte do movimento anti-Voldemort.


Astoria, Derek e Reiko observaram, atentos, os colegas à volta. Nenhum deles parecia feliz que o diretor de sua Casa estivesse lutando contra as forças das Trevas. Desapontada, Astoria baixou os olhos.


- Parece que ninguém mais está orgulhoso do professor Snape. – sussurrou.


- Ou estão com medo de demonstrar que estão. – sugeriu Derek.


Por vezes, no entanto, os visitantes ficavam para ajudar. Tonks se reuniu aos garotos para uma tarde memorável, em que encontraram um velho vampiro homicida escondido em um banheiro do segundo andar, e Lupin, que estava morando na casa com Sirius, mas saía por longos períodos para realizar misteriosos mandados para a Ordem, ajudou-os a consertar um relógio de carrilhão que desenvolvera o desagradável hábito de atirar parafusos pesados em quem passava.


Mundungo se redimiu um pouco aos olhos da Sra. Weasley ao salvar Rony de uma coleção antiga de vestes púrpura que tentaram estrangulá-lo, quando ele quis removê-las do guarda-roupa.


- Admito que ele teve coragem. – disse Molly. – Mas não significa que ele mereça ser convidado para jantar.


Embora ainda dormisse mal, e ainda tivesse sonhos com corredores e portas trancadas que faziam sua cicatriz formigar, Harry estava conseguindo se divertir pela primeira vez naquele verão.


Enquanto trabalhava, estava feliz; quando a atividade diminuía, porém, e ele baixava a guarda ou se deitava exausto na cama, observando sombras difusas correrem pelo teto, o pensamento na iminente audiência no Ministério voltava a assediá-lo. O medo agulhava suas entranhas, quando se punha a imaginar o que ia acontecer com ele se fosse expulso. A ideia era tão terrível que não ousava verbalizá-la, nem mesmo para Rony e Hermione, e embora Harry os visse cochichando e lançando olhares ansiosos em sua direção, os amigos seguiam o seu exemplo e não a mencionavam.


Rony e Hermione olharam Harry, constrangidos.


- Não queríamos aborrecer você. – disse Hermione. – Você já estava estressado o bastante.


Às vezes, ele não conseguia impedir sua imaginação de produzir um funcionário do Ministério sem rosto que quebrava sua varinha e o mandava retornar à casa dos Dursley... mas ele não queria ir. Estava decidido. Voltaria ao largo Grimmauld para morar com Sirius.


Harry teve a sensação de que engolira um tijolo quando a Sra. Weasley se virou para ele durante o jantar de quarta-feira e disse em voz baixa:


— Passei as suas melhores roupas para amanhã, Harry, e quero que lave o cabelo hoje à noite também. Uma primeira impressão boa pode fazer milagres.


Rony, Hermione, Fred, Jorge e Gina, todos pararam de conversar e olharam para ele. Harry concordou com a cabeça e tentou continuar a comer a costeleta de porco, mas sua boca ficara tão seca que não conseguiu mastigar.


— Como é que eu vou até lá? — perguntou à Sra. Weasley, tentando não demonstrar preocupação.


— Arthur vai levar você para o trabalho — respondeu com gentileza a Sra. Weasley, que sorriu, procurando animar Harry defronte a ela na mesa.


— Você pode esperar na minha sala até a hora da audiência — disse o Sr. Weasley.


- Foi muita sorte termos chegado mais cedo. – comentou Arthur em voz baixa.


Harry olhou para Sirius, mas, antes que pudesse fazer a pergunta, a Sra. Weasley a respondeu.


— O Prof. Dumbledore acha que não é uma boa ideia o Sirius ir com você, e devo dizer que...


—... acho que ele tem toda razão — respondeu Sirius entre os dentes.


A Sra. Weasley contraiu os lábios.


- Eles claramente ainda estavam ressentidos um com o outro. – comentou Fred, sério.


— Quando foi que Dumbledore lhe disse isso? — perguntou Harry, encarando Sirius.


— Ele veio a noite passada, quando você já estava deitado — disse a Sra. Weasley.


A lembrança de que Dumbledore não falara com ele desceu como um tijolo em Harry; encarou o diretor, mas não obteve nenhum sinal de reconhecimento.


Sirius furou uma batata com o garfo, pensativo. Harry baixou os olhos para o próprio prato. O pensamento de que Dumbledore estivera na casa, na véspera da audiência, e não pedira para falar com ele fez com que o garoto se sentisse ainda pior, se é que isto era possível.


Sirius terminou, e olhou para Dumbledore; começava a desconfiar daquele distanciamento que estava mantendo de Harry.


Dumbledore permanecia muito sério. Esperava que Harry compreendesse na hora certa.


- Está ficando tarde – avisou ele. – Receio que tenhamos pouco tempo para ler hoje.


- Vamos ler até o capítulo oito – pediu Rose. – Continuamos os outros em outro dia.


Enquanto isso, decidiram que Antônio Goldstein leria o próximo capítulo.


Volta-e-meia, alguém lançava um olhar curioso para as pessoas do futuro, que continuavam impassíveis a perguntas. Antônio começou:


– Capítulo VII – O Ministério da Magia.



~~

SAUDAÇÕES!! De volta do limbo! Eu sinto muito pela demora, mas tive complicações para postar este capítulo, e para completar, descobri erros que tinham de ser consertados nos outros. Vou tentar não me demorar nos próximos. Obrigado a todos que me acompanham. 

Anne_Anônima: eu gostaria de responder a todas as suas perguntas, porque esse foi um dos melhores comentários que eu já recebi; o de alguém que  está se envolvendo com a história e querendo respostas do autor. Mas preciso deixar algumas questões em aberto: sim, haverá continuações com os próximos livros; ao longo da história, os personagens terão a chance de rever seus conceitos e salvar seus futuros. O pessoal do futuro vai interagir mais depois que fizerem uma pausa na leitura, porque estão lendo os primeiros capítulos em um fim de semana, e vão continuar no próximo depois do oitavo. Os detalhes de como e por que eles viajaram para o passado serão esclarecidos posteriormente. Draco vai falar com Scorpius, mas as primeiras conversas entre eles vão ser complicadas. Detalhes da relação entre Alvo, Rose e Scorpius posteriormente. O pessoal não teve muito tempo para se deslumbrar com Dumledore, porque estão ocupados com a missão; mas vão ter um tempo com Dumbledore mais adiante. Dumbledore tinha uma ideia do que estava por trás dos livros, mas só teve certeza agora; mais detalhes posteriormente. Os três conhecem a história de Snape, que é bem famoso no futuro, e a cena da Penseira vai ser bem conturbada.
Astoria está no terceiro ano, e ela tem dois amigos principais, Derek, o garoto que ficou pro Natal em PdA, e Reiko Sibazaki; eles foram criados como um outro núcleo na Sonserina que não fosse a turma de Draco.
P.S: Por favor, lembre-se de deixar uma nota no comentário, ou ele fica como se fosse nota UM e diminui a média da fanfic. Obrigado.

carolina barcelos: essa cena promete fortes emoções.

Sonhadora Dixon: obrigado, sei que demorei com este capítulo, e é sempre bom ter a sua presença. O Fudge ainda vai se envergonhar muito, prometo.

Gatinhos de Chocolate: até o fim 







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